A Invenção Do Índio E As Narrativas Orais Tupi
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Ivânia dos Santos Neves A invenção do índio e as narrativas orais Tupi Tese apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção de título de Doutor em Lingüística. Orientador: Prof. Dr. Wilmar da Rocha D’Angelis CAMPINAS 2009 1 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IEL - Unicamp Neves, Ivânia. N414i A invenção do índio e as narrativas orais Tupi / Ivânia dos Santos Neves. -- Campinas, SP : [s.n.], 2009. Orientador : Wilmar da Rocha D'Angelis.Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. 1.Índios Tupi. 2. Índios Suruí. 3. Índios Asuriní. 4. Índios – Brasil - História. 5. Índios Xingu. I. D'Angelis, Wilmar da Rocha. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título. tjj/iel Orientador: Wilmar da Rocha D‘Angelis. Título em inglês: The inventionTese (doutorado) of the indigenous - Universidade subject Estadualand the Tupi de Campinas, oral narratives. Palavras-chaves emInstituto inglês de (Keywords): Estudos da Linguagem.Indigenous Tupi; Indigenous – Brazil - History; Suruí-Aikewára; Indigenous Tembé; Indigenous Asuriní; Indigenous Xingu. 1.Tupi 2. Tembé 3. Suruí-Aikewára 4. Asuriní do Xingu 5. Área de concentração:Mbyá Linguística.-Gurani 6.Invenção do Índio D‘Angelis, Wilmar Rocha. II. Titulação: DoutorUniversidade em Linguística. Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Banca examinadora:Linguagem. Prof. Dr. III. Wilmar Título. da Rocha D'Angelis (orientador), Profa. Dra. Tânia Maria Alkmim, Prof. Dr. Angel Corbera Mori, Profa. Dra. Maria Cristina Fernandes Salles Altman, Prof. Dr. Antonio Dari Ramos, Profa. Dra. Mónica Graciela Zoppi-Fontana (suplente), Profa. Dra. Consuelo de Paiva Godinho Costa (suplente), Prof. Carlos Eduardoo Ornelas Berriel (suplente). e/ie l Data da defesa: 15/10/2009. Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Lingüística. 2 3 Ivânia dos Santos Neves A invenção do índio e as narrativas orais Tupi 5 Não estamos cercados (é verdade, não estamos cercados) nem por marcianos, nem por edições humanas menos favorecidas que as nossas; uma proposição que faz sentido seja qual for a “nossa” origem – a de etnógrafos, juízes marroquinos, metafísicos javaneses ou dançarinos balineses. Ver-nos como os outros nos vêem pode ser bastante esclarecedor. Acreditar que outros possuem a mesma natureza que nós possuímos é o mínimo que se espera de uma pessoa decente. A larguesa de espírito, no entanto, sem a qual a objetividade é nada mais que autocongratulação, e a tolerância apenas hipocrisia, surge através de uma conquista muito mais difícil: a de ver-nos, entre outros, como apenas mais um exemplo da forma que a vida humana adotou em um determinado lugar, um caso entre casos, um mundo entre mundos. Clifford Geertz 7 Dedico este trabalho a todos os contadores e contadoras de histórias indígenas que, apesar de toda perseguição a que foram submetidos, ainda hoje sobrevivem. Eles são o maior exemplo de resistência ao sistema colonial no Brasil. Dedico a meu pai Ivan (in memorian), que me ensinou a olhar para o céu. 9 Agradecimentos Aos índios Tembé, Suruí-Aikewára, Asuriní do Xingu, Mbyá-Guarani de Porto Alegre e Mbyá-Guarani de são Miguel das Missões, que dividiram comigo um pouco de sua memória e um pouco do seu conhecimento, o meu muito obrigada! Agradeço à Monica Cruvinel pelas leituras de Bakhtin, pelo afeto, pela companhia, pela cumplicidade, pelos incentivos, pelos cuidados e pelas fotografias que enchem de cores esta tese. Agradeço ao meu orientador. Fundamental para que este trabalho tenha chegado ao fim. Obrigada, Wilmar, por ter me escutado e me acolhido naquela tarde cinzenta, na Arcádia do IEL! Muito obrigada por ter me dado todas as chances para desenvolver minhas pesquisas e minhas análises. Poucos alunos têm a oportunidade de olhar para o seu orientador e considerá-lo um companheiro. Eu pude dividir contigo uma paixão comum pelas sociedades indígenas. ―Amigos a gente encontra / O mundo não é só aqui/ Repare naquela estrada / que distância nos levará?‖ Agradeço à Samyra Fiqueni,. Obrigada por ter me apresentado São Paulo, pelas longas conversas no Templo Zu Lai, por todas as vezes que fomos ao cinema e ao teatro, que não foram poucas. Muito obrigada por tudo! Às amigas de fé Cláudia Wanderley, Luciana Nogueira e Simone Hatigushi. Sem vocês teria sido muito difícil! Obrigada pelas lágrimas, pelo riso, pelo vinho, pela poesia, pelas discussões teóricas, pelas eternas conversas e pelo afeto. O convívio com vocês fez com que eu me sentisse menos estrangeira em Barão Geraldo. Agradeço à Bia, ao Dani, à Carol e ao Renato pelas horas compartilhadas em Campinas. Agradeço à Mónica Zoppi pela paciência, pelo acolhimento, pelas cervejas e até mesmo pelos desencontros, que tanto me fizeram amadurecer. Agradeço à Anna Christina Bentes, que praticamente me pegou pela mão e me trouxe para a Unicamp. 11 Agradeço à Universidade da Amazônia pela liberação para realizar este doutorado. Especialmente às professoras Célia Jacob, Ana Célia Bahia, Ana Prado, Alda Costa e Núbia Maciel. Agradeço à FIDESA – Fundação para o Desenvolvimento da Amazônia, pela bolsa de estudos que me possibilitou morar em Campinas. Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Linguística do IEL pelo extenso trabalho de campo realizado e pelas inúmeras participações em congressos nacionais e internacionais. À Priscila Falhauber, minha eterna professora, à Tânia Alkimim e Antônio Dari Ramos, meu muito obrigada pelas preciosas contribuições nas bancas de qualificação. Agradeço À Regina Muller pela oportunidade entre os Asuriní do Xingu. Agradeço ao Carlos e aos professores da URI pela colaboração em São Miguel das Missões. Agradeço aos meus amigos Tadeu, Expedito, Mauro, Carmen, Nina, Catarina e Lariza por terem estado comigo em Campinas e terem me dado muito incentivo para prosseguir. Muito obrigada à minha irmã Neida e ao meu irmão de coração Raimundo, por sempre terem acreditado que meus sonhos eram possíveis. Partimos juntos de Belém, no início de 2006 e nestes anos de ausência, o desejo de novamente estar juntos sempre nos alimentou. Vocês são meus companheiros de vida! Muito obrigada, Kleber (in memorian), por ter dado uma grande lição de vida no final da vida e por ter deixado a Solange e o Rodrigo na nossa família. Durante o doutorado, houve um momento em que pensei em fazer sanduíche na França. Minha mãe, inconformada e procurando uma lógica para a minha conduta perguntou se eu ainda estudava os índios e se na França havia índios. Aqui nesta tese, muitos dos meus percursos analíticos seguiram a linha de raciocínio de minha mãe. Muito 12 obrigada por tudo mãe! Por cuidar de mim e cuidar do meu filho. Você é o meu grande porto seguro nesta vida! Quando eu saí de Belém, o Mauricinho era um menino. Hoje, com tudo que vivemos neste período, com as perdas e as conquistas, ele se tornou um homem e um homem da melhor qualidade. Meu filho, muito obrigada por tudo, pela racionalidade, pela força, pelo incentivo, pelo afeto, pela sensibilidade, pelo companheirismo! Obrigada também por ter feito a capa desta tese! Filho, você materializa minha memória de futuro. 13 Resumo Esta tese está dividida em duas partes complementares. Na primeira parte, o trabalho está voltado para as representações produzidas sobre os índios. Analiso como desde as primeiras representações ocidentais sobre os índios brasileiros, as cartas e as primeiras imagens, o sistema colonial inventou discursivamente um índio genérico, selvagem, antropófago que anda nu e que não produz conhecimento. Na segunda parte, a partir de um trabalho de campo que envolveu cinco grupos Tupi: Tembé, Suruí-Aikewára, Asuriní do Xingu, Mbyá- Guarani de Porto Alegre e de São Miguel das Missões, tomo como materialidades as representações produzidas pelos povos indígenas. Analiso dois grupos de narrativas orais destas sociedades e mostro que entre elas se desenha uma memória discursiva Tupi, marcada por regularidades e dispersões. A análise das narrativas propostas aqui faz uma abordagem discursiva das línguas indígenas. A fundamentação teórica desta tese se fundamenta nos princípios da análise do discurso, mas, por sua natureza interdisciplinar, transita pelos estudos de antropologia, de história cultural e da teoria literária. Palavras Chaves: Tupi – Suruí-Aikewára – Asuriní do Xingu – Mbyá-Gurani – Tembé – Invenção do Índio Abstract The invention of the indigenous subject and the Tupi oral narratives This thesis is divided in two complementary parts. In the first, the work is focused on the representations produced about indigenous subjects. I analyze how, since the first western representations of indigenous people in Brazil, the letters and first images, the colonial system has discursively invented a general indigenous subject, wild, anthropophagous that walks naked; someone who does not produce knowledge. In the second part, based on a field work that involved five groups of the Tupi branch: Tembé, Suruí-Aikewára, Asuriní in Xingu, Mbyá-Guarani at Porto Alegre and São Miguel das Missões, I assume as historical materiality the representations produced by the indigenous people. I analyse two sets of oral narratives of these societies and show that among them there is a sketch of a Tupi discursive memory to be traced, marked with regularities and dispersions. The analysis of narratives makes a discursive approach of indigenous languages. The theoretical basis of this thesis are the principles of discourse analysis, but, by its interdisciplinary nature it transposes to anthropological studies, cultural history and literary theory. Keywords: Tupi – Suruí-Aikewára – Asuriní do Xingu – Mbyá-Gurani – Tembé – Indigenous Invention 15 Résumé L'invention du sujet indigène et les narrations oraux Tupi Cette thèse est divisée en deux parties complémentaires. Dans la première partie, le travail est consacré aux représentations produites à propos des sujets indigènes. J'analyse comment, depuis le premières représentations occidentales sur les indigènes brésiliens - le lettres et les premières images - le système colonial a inventé discursive ment un indigène générique, sauvage, anthropophage qui marche nu, et qui ne produit pas du savoir.