Pluralidades Indígenas

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Pluralidades Indígenas BOLETIM 3X22 1822 1922 2022 N° 4 ANO 2 Quando você sentir que o céu está ficando muito baixo, é só empurrá-lo para cima. Ailton Krenak UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor Vahan Agopyan Vice-Reitor Antonio Carlos Hernandes PRÓ-REITORIA DE CULTURA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA Pró-Reitora Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado Pró-Reitora Adjunta Margarida Maria Krohling Kunsch COORDENADOR CURADORIA AGRADECIMENTOS Alexandre Macchione Saes Betty Mindlin, Franklin Cordeiro, Ailton Krenak Norberto de Assis e Xindêda Puri Andreia Duarte EQUIPE 3 VEZES 22 Betty Mindlin Ana Tiecher, Bruna Martins, DIAGRAMAÇÃO Cilaine Alves Franklin Pontes, Giovane Direnzi, Giovane Direnzi e Norberto de Assis Daniel Munduruku Lucas Fernandes, Norberto de Assis, Iram Káv Sona Gavião Rafael Pedro e Stephany Barbosa TRANSCRIÇÃO Marcos Flamínio Ana Tiecher e Bruna Martins DIREÇÃO DE ARTE Mirhiane Mendes de Abreu Giovane Direnzi, Norberto de Assis e Rosi Araujo REVISÃO Sonia Guajajara Rafael Pedro Bruna Martins e Giovane Direnzi Xindêda Puri CAPA Rafael Pedro O BOLETIM 3X22, enquanto canal de comunicação do projeto 3 vezes 22, pretende difundir suas reflexões acerca da história, cultura e produção artística do Brasil, passando principalmente pelos períodos da Inde- pendência e do Modernismo para, a partir daí, pensar sobre os dias atuais e o futuro do país. As opiniões expressas nos textos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. Todo material incluído nesta revista tem a autorização dos autores ou de seus representantes legais. Qual- quer parte dos textos da publicação pode ser reproduzida, desde que citados autor e fonte. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin: Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, São Paulo, SP CEP 05508-065 bbm.usp.br/publicacoes EMAIL [email protected] TEL: 11 2648-0310 / 11 3091 - 1154 pós termos expressado nosso Manifesto, questionado o que somos, e en- tendido o re-voltar-se, nós criamos, assim, de modo consciente ou não, a malha no qual poderíamos nos sustentar para abordar com acuidade e res- ponsabilidade sócio-histórica, os nossos Povos Originários. Este Boletim éA o resultado. Foram mais de cinco meses de preparação, desdobrados entre trocas de e-mails, mensagens de WhatsApp, gravações, conversas e aulas. Neste ínterim, conta- mos com a vital curadoria de Xindêda (Diego) Puri e Betty Mindlin. Esta, uma antro- póloga dedicada à valorização das culturas indígenas, que mergulhou em suas tradições diversas e trouxe ao mundo não-indígena, entre outras contribuições, sua Moqueca de Maridos. Aquele, mestrando em Literatura Brasileira na USP, engajado e consciente de sua atuação como indígena e acadêmico. A estes, em especial, a nossa gratidão. Agra- decemos com o mesmo apreço a artista plástica índigena Rosi Araújo que nos possi- bilitou trazer, a partir de suas obras, um pequeno esboço da riqueza artística indígena para a nossa publicação. Este é o BOLETIM 3X22: Pluralidades Indígenas. Conscientes da importância e da po- tencialidade do discurso segundo a própria experiência no mundo, priorizamos as vo- zes indígenas para comporem este Boletim. Assim, temos mais à frente Ailton Krenak com o seu Mito do Acampamento Garimpeiro, numa condensação mítica, poética, ética e política de nossa trajetória como nação até os desafios e reincidências em nossa atualidade. Em entrevista, Sônia Guajajara nos relata que a luta pela vida indígena não abarca apenas a vida indígena, mas de todos os humanos que habitam esta Terra. Contamos também com a colaboração do Prof. Iram Gavião nos apresentando o Mito da Origem da Humanidade pelo povo gavião. Por sua vez, Betty Mindlin nos introduz no percurso pelos direitos indígenas, desde o antigo SPI, o CIMI, à atividade da FUNAI e das lideranças indígenas no novo contexto sócio-político brasileiro. A Literatura e a Linguística também tiveram relevância em nosso Boletim. Afinal, a literatura foi porta-voz de discursos indigenistas que serviram para a criação de um imaginário popular que não correspondia, e nem corresponde, à realidade vivenciada pelos povos. Convidamos a profª Mirhiane Abreu para abordar o índio alencariano e a proposta modernista de Mário de Andrade; o prof° Marcos Flamínio para abordar o indianismo de Gonçalves Dias; e a profª Cilaine Alves para analisar os movimentos pendulares existentes no Romantismo Brasileiro. Nesta mesma linha, estabelecendo um diálogo entre a produção literária desses dois últimos séculos, temos Daniel Mun- duruku na entrevista A Literatura não é Salvadora da Pátria e Xindêda (Diego) Puri em texto sobre a revitalização das línguas indígenas, em especial, da língua puri. Nossos desejos: que este BOLETIM contribua para o debate acerca da história de nossos povos originários e a presença destes; que ele toque seus leitores acerca da importância da defesa das culturas tradicionais dos Povos; e que, principalmente, seja uma leitura prazerosa, instrutiva e conscientizadora. Sendo assim, estejamos juntos nestas páginas. Até mais. Franklin Cordeiro Pontes e Norberto de Assis sumário pluralidades indígenas.....................................................................06 uma introdução entrevista com betty mindlin..........................................................09 movimentos pendulares do romantismo, por cilaine alves ...............................................................................21 o indianismo de gonçalves dias, por marcos flamínio..........................................................................25 a literatura não é salvadora da pátria. entrevista com daniel munduruku.................................................28 o índio romântico não é o índio real. entrevista com mirhiane mendes de abreu......................................31 o mito do acampamento garimpeiro. entrevista com ailton krenak..........................................................37 uma luta pela vida. entrevista com sonia guajajara.......................................................47 mito de origem da humanidade na percepção do povo ikólóéhj, por iram káv sona gavião..................................................................54 línguas indígenas: permanências, rupturas e retomadas, por xindêda puri................................................................................59 arte: lugar de tensão. entrevista com andreia duarte........................................................65 PLURALIDADES Arte: Rafael Pedro INDIGENAS PLURALIDADES INDIGENAS´ UMA INTRODUÇÃO Entrevista Com Betty Mindlin antropóloga e professora, Betty Mindlin é uma das maio- res defensoras das causas indígenas brasileiras. Convida- mos-a nos dar um breve panorama sobre a pluralidade dos povos indígenas no Brasil e as lutas enfretadas por estesA nos últimos anos. Betty Mindlin: Um boletim sobre os Constituição de 1988 já se tornara nossos povos indígenas, muito mais famoso no país e no exterior, vinha de 305 se contarmos com os isolados, desde os anos 70 sendo fundamental deve ter como centro as vozes para o movimento indígena. Na indígenas. São elas as protagonistas atualidade, seus pronunciamentos que podem contar com força e emoção cresceram para atingir o que fazemos como estão sofrendo assassinatos, com a terra e a vida, denunciando, extinção, invasões, e como resistem, como parte atingida, as calamidades gigantes, minoria, grandeza. São quem de Mariana e Brumadinho. Marivelton pode expressar como vivem, qual o Baré, presidente da Federação das caráter comunitário e coletivo de seus Organizações Indígenas do Rio Negro valores e que significados atribuem à (FOIRN), publicou em fevereiro de existência humana. 2020 um artigo importante contra A maior conquista das últimas década. a mineração em terras indígenas. das, sobretudo depois da Constituição Lembremos as grandes manifestações de 1988, é como cresceram as indígenas por seus direitos, como as organizações e vozes indígenas, com anuais no Acampamento Terra Livre figuras carismáticas de mulheres e em Brasília, realizadas há 15 anos; homens. Pela primeira vez temos tantas outras como a emblemática uma deputada indígena no Congresso, convocada por Raoni Metuktire em Joênia Wapishana, e uma candidata janeiro de 2020 na Aldeia Piaraçu de à vice-presidente em 2018, Sonia Kapoto Jarina. Em São Paulo, dezenas Guajajara. Ailton Krenak, que na de pensadores e militantes Guarani 9 BOLETIM 3X22 como Jerá Guarani, Cristine Takuá, Russell, no qual Davi Yanomami Davi Popyguá, Papá Miri Poty. também falou alguns anos mais tarde. Mapulu Kamaiurá é uma das muitas Se as vozes indígenas são o principal, pajés brasileiras que falam na cidade também os aliados tiveram e têm um de seu ofício. Escritores indígenas são papel importante. Toda a sociedade cada vez mais numerosos, além dos já brasileira, bem como a internacional clássicos Daniel Munduruku, Olivio devem apoiar reivindicações dos Jekupé, Eliane Potiguara, Kaká Werá, povos. Sempre houve um embate Marcia Kambeba, Graça Graúna. entre os povos e o Estado Nacional, Ouvir e ler Cristino Wapishana, Edson mas nunca vivemos um obscurantismo Kayapó, Edson Krenak, Timóteo como o de 2019. Verá Tupã Popyguá, Yaguaré Yamá, Há alguns anos eu imaginava que a pior Kanatyo Pataxó é um aprendizado. vergonha nacional fosse o que o estado Nomes tão importantes que exigiriam faz com os Kaiowá, que há poucos anos um censo, nomear alguns apenas é disseram que iam se suicidar – forma injusto. Davi Yanomami, escritor de dizer que estavam sendo mortos. oral/escrito, Benki Ashaninka e No filme Martírio(2017), de Vincent outros representantes sem conta são Carelli vemos os Kaiowá e outros
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