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Ponta Grossa Antigo edifício do Fórum

Da inauguração do prédio em 1928, até 1982, ali funcionou o Fórum de Ponta Grossa. A partir de então passou a abrigar o Museu Histórico da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Fato raro de ocorrer, na história desse edifício estão registrados os nomes de seus criadores. O projeto deve-se a Angelo Lopes, a construção a Paulo Ferreira do Valle, a carpintaria a Roberto Amado e o acabamento externo das fachadas aos mestres Rodolpho Roedel e aos irmãos Max e Alberto Wosgrau. Ocupando terreno de esquina, sem recuo das testadas, o edifício ostenta uma fachada trabalhada em massa localização: Rua Engenheiro Schamber, 654 - Centro. segundo um vocabulário diversificado, como de praxe no ecletismo em voga na época. Data da construção: 1924-1928. Sobrelevado do nível da rua por um soco, o 1° pavimento, com a fachada tratada à Autor do projeto: Engº Ângelo Lopes. bossagem, é ritmado por seqüência de vãos emoldurados por arquivolta, destacando-se a Proprietário: Estado do Paraná. entrada com uma grande porta vazada de ferro. Tombamento estadual: Processo n°14/90, Inscrição n° 105. O pavimento superior apresenta seqüência dos vãos idêntica à de baixo, mu- Livro do Tombo Histórico. Data: 03/11/1990. dando porém a forma para retângulos de cantos curvos. Destacam-se as duas janelas Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio rasgadas abertas para as sacadas sobre a entrada e na esquina. O coroamento é feito Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da por cornija denticulada e platibanda ornamentada com baixos-relevos de desenho Cultura do Paraná. geométrico. Destacam-se os frontões que interrompem as platibandas: um, triangular, pontuando o eixo da entrada do edifício; e os outros três, curvos nas extremidades e na esquina. O ritmo das fachadas é marcado por pilastras, sendo que algumas percorrem-nas da base à cornija e outras enquadram apenas os tramos do pavimento superior. São pilastras com caneluras rasas e capitéis toscanos. ESPIRAIS DO TEMPO 387

Antigo Hospital 26 de Outubro

Construído para hospital esse edifício faz parte integrante de um conjunto de imóveis da Rede Ferroviária, situados em Ponta Grossa. Inaugurado em 25 de janeiro de 1931, o prédio é uma imponente edificação implantada em centro de terreno. Originalmente havia um jardim à frente que era protegido por um interessante muro de alvenaria com aberturas em arco, vedadas por gradis de ferro, que contribuíam para valorização do edifício. Construída em alvenaria de tijolo,a edificação possui dois pavimentos e é coberta por telhado cerâmico oculto por platibanda. Localização: Rua Joaquim Nabuco, 59 Sua arquitetura é eclética e revela a influencia do neoclássico na simetria da Proprietário: Rede Ferroviária Federal. composição e no repertório ornamental. A fachada é dividida em 5 tramos, dos quais Tombamento estadual: Processo nº002/02. Inscrição nº149, o mais importante é o central. Nele destaca-se o pórtico de entrada ladeado por colunas Livro do Tombo Histórico. Data: 10/01/2004. que sustentam um balcão de dimensões generosas para o qual se abre um grande vão Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio retangular. Sobre essa abertura eleva-se um frontão de contorno retangular adornado Histórico e Artístico da Secretaria da Cultura do com molduras retangulares e curvas que envolvem um óculo de ventilação. Estado do Paraná. Os tramos laterais, enquadrados por pilastras, são vazados por grandes janelas retangulares fechadas externamente por folhas envidraças. Vale observar na fachada principal a modelagem das cornijas, cunhais, requadros e mísulas. Integra ainda o conjunto uma capela construída em alvenaria de tijolo e coberta por telhado de duas águas que é oculto por platibanda. Sua arquitetura é também eclética. Nela convivem ornamentos extraídos do repertório barroco – as volutas de contorno do frontão da fachada – com o neogótico expresso na composição das janelas laterais, veda- das por vitrais arrematados por arco ogival que foram ali instalados no ano de 1956, em comemoração ao cinqüentenário da Cooperativa 26 de Outubro. 388 ESPIRAIS DO TEMPO

Capela Santa Bárbara do Pitangui

Para manter suas atividades catequéticas, os jesuítas, alem dos Colégios e Aldeias Missioneiras, administravam no interior do Brasil fazendas dedicadas à pecuária e à agricultura de subsistência. No Paraná, a Companhia de Jesus dedicou-se a essa ativi- dade, desde o inicio do século XVIII, na Fazenda do Pitangui localizada no segundo planalto em terras que mais tarde fariam parte do Município de Ponta Grossa. Dela se tem noticia através de documento emitido pelo Capitão-mor Pedro Taques de Moraes, datado do ano de 1710, em que é concedida aos padres permissão para construção na região de um oratório em honra à Santa Bárbara. Três anos depois, com o falecimento de Pedro Taques de Almeida, seu filho, José Góis de Moraes, fez a doação da Sesmaria do Itaiacoca, também denominada Fazenda Pitangui, à Companhia de Jesus. Nos anos seguintes a fazenda prospera em sua atividade agro pastoril, havendo registro da estadia de padres provenientes do litoral, como a visita feita em 1729 pelo Padre Nicolau Rodrigues França, lotado no Colégio de Paranaguá, conforme consta dos assentos da Catedral de . Por essa época o oratório é substituído por uma capela, dedicada à Santa Bárbara do Pitangui, construída por José Tavares de Serqueira, parente de José Góis de Moraes, com recursos doados pela senhora Ana Siqueira de Mendonça, viúva de Domingos Teixeira de Azevedo, do Cambijú, com a intenção de pagar uma promessa à Santa Bárbara. Com a decisão do Marquês de Pombal de expulsar os jesuítas do Brasil, em 1759, a fazenda passa à administração dos carmelitas da Fazenda Capão Alto que ali permanecem até o ano de 1772. A Capela de Santa Bárbara está localizada à margem esquerdo do riacho São Miguel, afluente do rio Pitangui. É uma edificação singela, de alvenaria de pedra, construída com material proveniente da região, o arenito furnas, com cobertura em duas águas de telhas do tipo capa-e-canal e beiral de “cachorrada”.. Consta de uma nave de pequenas dimensões (5,60 x 10,70) e a capela-mor, de tamanho também exíguo (3,60 X 5,00). As paredes das fachadas, principal e posterior, que haviam ruído completamente, foram reconstituídas na década de 1970. ESPIRAIS DO TEMPO 389

Localização: Alagados – Estrada rural Ponta Grossa, Alagados Proprietário: Particular. Tombamento estadual: Processo nº 007/98. Inscrição nº 135, Livro do Tombo Histórico. Data: 10/10/2000. Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná. 390 ESPIRAIS DO TEMPO

Colégio Estadual Regente Feijó

Construído em 1927 e no mesmo ano inaugurado, por iniciativa do governo do estado, consolidou-se na memória da comunidade pontagrossense como marco da história do desenvolvimento da região. Situado numa das principais praças da cidade, impõe-se no conjunto pela sobriedade e imponência da sua arquitetura. É construção de dois pavimentos, implantada numa esquina, com recuo para uma das ruas. Exemplo do ecletismo da época, possui um repertório simples de ornamentos. O pavimento Localização: Praça Barão do Rio Branco - Centro. superior, arrematado por platibanda, apresenta seqüência de janelas retangulares Data da construção: 1927. com ornatos de massa, sob e sobre os vãos, segundo modelos clássicos. Proprietário: Estado do Paraná, Tombamento estadual: Processo n°13/90. Inscrição n°104. O andar inferior, com revestimento à bossagem, repete a seqüência de aberturas Livro do Tombo Histórico. Data: 03/11/1990. do pavimento superior, com janelas de vergas levemente arqueadas. Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico, Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. ESPIRAIS DO TEMPO 391

Edifício à Praça Marechal Floriano Peixoto nº129

Deve-se a iniciativa de sua construção a Guilherme Naumann, imigrante de origem alemã, que ali instalou comércio de ferragens. Em 1933 a loja foi fechada, passando então o edifício por sucessivas funções, incluindo a de sede dos serviços telegráficos e farmácia. Adquirida pelo governo do estado, foi nela instalada a Faculdade de Odon- tologia, que lá permaneceu por apenas dois anos. Depois de algum tempo sem uso, Localização: Praça Marechal Floriano Peixoto, 129. sediou por 10 anos o Departamento de Estradas de Rodagem. Com a transferência Data da construção: 1906. desse órgão para outro local, permaneceu o prédio semi-utilizado, entrando então em Proprietário: Universidade Estadual de Ponta Grossa. Tombamento estadual: Processo n° 15/90, Inscrição processo de degradação, só interrompido com a restauração realizada após sua trans- n°106. Livro do Tombo Histórico. Data: 03/11/1990. ferência para a Universidade Estadual de Ponta Grossa. Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio É uma edificação de dois pavimentos, sem recuo para a testada do terreno, com Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da paredes de alvenaria de tijolo e cobertura com telhas francesas oculta por platibanda Cultura do Paraná. abalaustrada. Na fachada os ressaltos em massa merecem especial menção pelo apuro com que foram executados. No térreo o paramento é tratado à bossagem, e no pavimento superior, liso com adornos de sobreverga em volutas. Os vãos de janelas nesse andar são rasgados, guarnecidos por guarda-corpo de balaústres. Um baIcão sobre robustos modilhões marca o centro da composição. 392 ESPIRAIS DO TEMPO

Estações de Passageiros da Estrada de Ferro de Ponta Grossa

A primeira estação foi inaugurada em 1894. Compreende dois pavimentos no corpo central, com três janelas no sobrado e três portas no térreo, ladeado por duas alas: uma com uma porta e outra com duas. Construção meramente utilitária tem nas vergas de arco abatido com chave saliente os únicos elementos ornamentais. Localização: Centro. A cobertura é em duas águas. Data da construção: 1894-1900. A segunda estação, maior e mais expressiva, foi construída quatro anos depois. Proprietário: Prefeitura Municipal. Possui também um corpo principal de dois andares, ladeado por alas de um só pavi- Tombamento estadual: Processo n° 04/90, inscrição n° 100. mento, valorizado ao centro por frontaria saliente, arrematada por frontão semi- Livro do Tombo Histórico. Data: 30/05/1990. circular, sobreposto a uma platibanda vazada, ornada com acrotérios em forma de Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio jarras nas extremidades. Essa frontaria possui, no andar superior, três janelas retangu- Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. lares com sobrevergas em forma de tímpanos, e no térreo três portas, arqueadas, de acesso à estação. Cunhais com caneluras e capitéis jônicos emolduram o andar de cima; e com aparelho à bossagem, o de baixo. De cada lado dessa frontaria seguem-se três vãos de janelas, retangulares no sobrado e arqueados em volta plena no pavimento inferior. As alas térreas são fenestradas por aberturas em arcos ogivais. A cobertura distribui-se em corpos separados de quatro águas, parcialmente ocultos pelas platibandas que circundam o corpo central e as alas térreas. Internamente vale salientar a presença de valiosas peças do mobiliário original. ESPIRAIS DO TEMPO 393 394 ESPIRAIS DO TEMPO ESPIRAIS DO TEMPO 395

Parque estadual de Vila Velha Conjunto de Vila Velha Furnas Lagoa dourada

Há aproximadamente 60 milhões de anos a crosta terrestre começou a sofrer profundas transformações, as quais, de certo modo, caracterizam seu relevo atual. Iniciadas no transcorrer da Era Paleozóica — duração presumível de 500 milhões de anos e caracterizada pela presença fóssil de invertebrados marinhos, dos primeiros anfíbios e plantas terrestres —, alteraram o ritmo dos levantamentos ocorridos no período terciário da Era Cenozóica, que se lhe seguiu, e provocaram, na América do Sul, a orogenia do sistema andino e o abaixamento da borda continental Leste do Brasil: a orla Atlântica. Vila Velha, da mesma forma que o Monument , no Arizona, EUA, que lhe é contemporâneo, é conseqüência dessas modificações. Situada no segundo planalto paranaense, numa altitude média de 900m, em região de sedimentos paleozóicos e mesozóicos, nela foram encontrados todos os teste- munhos fósseis de importância para a determinação de sua antiguidade, que remonta ao período devoniano, último da Era Paleozóica. Na capa desse sistema devoniano afloram as camadas mais resistentes do arenito subglacial que foram modelados nas escarpas dos estratos pelos sistemas fluviais existentes no primitivo declive, sistemas esses criados por movimentos epirogênicos e que foram os responsáveis, também, pela existência dos rios subterrâneos, cursos d’água e boqueirões atuais. De topografia ondulada, com declives médios que não ultrapassam 10%, alterna-se essa região em fundos de vale e espigões sem formação de planos, e faz parte do que se convencionou chamar de “correspondente às rochas sedimentares da Bacia do Paraná”, na qual dois conjuntos de rochas assumem grande importância — os arenitos da Formação Furnas e os de origem periglacial da Formação Itararé. Enquanto em áreas de solo mais pobre ou mal drenadas são encontradas formações de campos ou estepes, em outras ocorreu seu rejuvenescimento, o que propiciou a formação de florestas. Junto aos rios, vertentes e lagos, são encontradas as formações de mata de galeria. Entretanto, a partir da colonização, esse quadro começou a ser alterado, por força de agentes externos, entre eles o desmatamento. Vila Velha— como, aliás, todo o município de Ponta Grossa— está localizada na zona subtropical, caracterizada pelas baixas temperaturas no inverno e verões brandos, e faz parte dos chamados “Campos Gerais”, em terreno dominado pelo arenito da Formação Furnas. Toda a região é constituída de rochas com ótima permeabilidade e porosidade, o que permite intensa infiltração das águas pluviais, cuja conservação e percolação são boas; tal fato provoca, outrossim, o afloramento de água em muitos pontos, o que alimenta o nível estático das Furnas e da Lagoa Dourada. A água é de excelente qualidade, de baixo teor de salinidade e de fácil obtenção, por conseqüência, muitos são os riachos e ribeiros que correm para as áreas mais baixas. 396 ESPIRAIS DO TEMPO ESPIRAIS DO TEMPO 397 398 ESPIRAIS DO TEMPO ESPIRAIS DO TEMPO 399 400 ESPIRAIS DO TEMPO ESPIRAIS DO TEMPO 401 402 ESPIRAIS DO TEMPO

Situada entre as mais importantes zonas produtoras do estado do Paraná, os portos exportadores de Paranaguá e Santos, e servida, ademais, por extensa malha de rodovias e ferrovias, para a distribuição dessa produção no mercado interno, a região de Ponta Grossa abriga o maior complexo de processamento de soja de todo o mundo. Nele a agricultura, que se liga estreitamente à indústria, está bastante desenvolvida, cultivando-se intensamente não só a soja, como também o trigo. Vila Velha, que os índios que habitavam ou percorriam a área chamavam de Itacueretaba, ou seja aldeia da pedra furada ou do buraco na pedra, é uma das maio- res atrações turísticas do país. Já era conhecida desde o século XVI quando, pela longínqua e vasta região dos Campos Gerais, começaram a transitar portugueses e espanhóis, através de bandeiras ou expedições, muitas delas organizadas do outro lado do Atlântico. , em 1526, Pero Lobo e Francisco Chaves, em 1531, possivelmente teriam sido os primeiros europeus, a palmilhar os sertões onde se localizam essas importantes formações rochosas. Anos depois, em 1541, D. Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, na condição de adelantado — governador-geral do Paraguai, atravessou os Campos Gerais e, segundo registros históricos, teria transitado pelos lugares onde hoje se situam as cidades da Lapa e de Ponta Grossa.

Em 1552, por lá passou, também, Ulrich Schmidel, um alemão natural da Baviera, Localização: Vila Velha - 25km (aprox.) da sede que acompanhado por cerca de 20 índios Carijós teria sido, então, o primeiro europeu do município, (Estrada BR-277). Furnas - 3km a atravessar o Novo Continente de Oeste para Leste, de Assunção, no Paraguai, a São (aprox.) de Vila Velha. Lagoa Dourada - 4km Vicente, no litoral de São Paulo, em direção contrária à seguida por Cabeza de Vaca. (aprox.) de Vila Velha. Percorreu o (o caminho que se inicia), trilha aberta e palmilhada pelos silvícolas, Proprietário: Governo do Estado do Paraná. fazia séculos, e que, partindo do litoral do Atlântico, seguia pelo vale do Rio Ribeira Tombamento estadual: Processo n° 05/66, acima até alcançar os Campos Gerais e, de lá, através do , nas vizinhanças de Inscrição n°5. Livro do Tombo Arqueológico, Ponta Grossa, chegava ao Ivaí, de onde, subindo pela Serra da Boa Esperança, ia ter Etnográfico e Paisagístico. Data: 18/01/1966. ao Rio Paraná acima das extintas Sete Quedas; desse ponto, pelo Chaco e cruzando Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da os Andes, alcançava o Pacífico. Cultura do Paraná. Localizada à margem direita do Rio Tibagi (o rio do pouso), na vasta e ondulada — Paranatur, Empresa Paranaense de Turismo, lbeteba (planície), Vila Velha, como já foi dito, conjunto de formações rochosas trabalhadas Guia Turístico, folheto, s.d. pela erosão ao longo de milênios, mexeu com a imaginação dos índios, que teceram LEÃO, Ermelino de. Dicionário Histórico muitas lendas transmitidas oralmente, geração após geração, pelos matuari (os velhos), Geográfico do Paraná, Curitiba, 1926-1928. aos jovens, a fim de explicar aqueles fenômenos. Uma delas é a de que o local te- MAACK, Reinhard. Geografia Física do Estado ria sido escolhido pelos primitivos habitantes para sediar o Abaretama (terra dos do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura do homens), onde seria guardado o ltainhareru (o precioso tesouro). Sob permanente Paraná, José Olympio, Rio de Janeiro, 1981. proteção de Tupã, era o lugar cuidadosamente vigiado por uma legião de Apiabas MARTINS, A. Romário. História do Paraná, (varões), escolhidos entre os mais valorosos homens de todas as tribos, treinados Melhoramentos, São Paulo, 1962. especialmente para desempenhar a honrosa missão; eles desfrutavam de todas as SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem a Curitiba e regalias, sendo-lhes, porém, vedado qualquer contato com mulheres, mesmo as de Província de , USP, São Paulo, 1978. suas próprias tribos. WESTPHALLEN, Cecília Maria. Pequena História do A tradição dizia que as mulheres, uma vez de posse do segredo do Abaretama, Estado do Paraná, Melhoramentos, São Paulo, s.d. o divulgariam aos quatro ventos, e chegada a notícia aos ouvidos dos inimigos, estes ESPIRAIS DO TEMPO 403

arrebatariam o tesouro para si. E caso este fosse perdido, Tupã, o onipotente, deixaria de proteger seu povo e lançaria sobre ele as maiores desgraças. Os Apiabas eram fortes, ativos e bravios; seu único trabalho consistia em construir belos jardins nas terras daquelas planícies, e Tupã não permitia que, em recanto sagrado como era aquele, houvesse o pecado. Numa certa época Dhui, um índio de uma das tribos, fora escolhido chefe supremo dos Apiabas. Como todos os outros, tinha sido preparado, desde a mais tenra infância, para a sagrada missão. Entretanto, não era de seu desejo seguir aquele destino que lhe impunha o celibato. Seu sangue, de há muito, achava-se perturbado pelo fascínio das mulheres (era um cunhãrapixara mulherengo). As tribos rivais, ao terem conhecimento da escolha, de pronto resolveram aproveitar-se da situação e elegeram entre as suas mais belas donzelas a que deveria ir tentar o jovem guerreiro, conquistar-lhe o coração e arrebatar-lhe o segredo. A escolhida foi Aracê Poranga (Aurora Bonita). Não lhe foi difícil despertar a atenção do ardoroso Dhui e, pouco a pouco, enlaçou-o em sua habilidosa teia, e o fez de tal modo que não transcorreu muito tempo para que o tivesse completamente apaixonado e subjugado a seus pés. Pouco mais e Aracê penetrou no Abaretama, como consentimento de Dhui, que não conseguiu resistir ao desejo que ela manifestara. Se, em nome do amor, Dhui faltou a seu dever, também por causa dele Aracê traiu seus irmãos: numa tarde primaveril, quando os ipês, depois da floração, deixavam cair pétalas douradas como se fora chuva de ouro, Aracê foi ao encontro de Dhui, levando uma taça de uirucuri (o licor do butiá), para embriagá-lo; porém o amor também já dominava sua razão, o que fez com que tomasse do licor. E à sombra de um ipê, languidamente, quedaram entrelaçados. Tupã vingou-se, desencadeando sua fúria na forma de um terremoto, que abalou toda a planície. A ira divina convulsionou o solo e a região foi totalmente destruída, trazendo morte e dor. E o Abaretama virou pedra, o tesouro aurífero fundiu-se, transformando-se em líquido, e os dois amantes, castigados, ficaram também, para todo o sempre um ao lado do outro, petrificados. A pouca distância, a causa de sua desgraça, a taça de pedra... E quando ainda hoje alguém por ali passa, ouve o vento a repetir a última frase de Aracê “Xê pocê ó quê” (Dormirei contigo). Foi assim que o Abaretama tornou-se Itacueretaba... A terra fendeu: são as grutas próximas a Vila Velha, e o tesouro fundido é a lagoa, que é chamada de Dourada, a qual, quando o sol nela bate em cheio, ainda reflete o brilho do ouro. Dhui e Aracê estão ainda hoje, lado a lado, circundados de ipês descendentes dos que assistiram à morte de ambos. E os sobreviventes daquele povo partiram para outras terras, onde a maldição de Tupã não os alcançasse. Fundaram novo império, em uma das imensas paisagens da América do Sul. Hoje, como ontem, em meio à vastidão dos Campos Gerais, considerados por Saint-Hilaire “verdadeiro paraíso”, as soberbas formações continuam a exercer 404 ESPIRAIS DO TEMPO

grande fascínio para quem as vê. Transformadas em ponto de referência pelos bandei- rantes e aventureiros que palmilhavam os Campos Gerais, nos séculos XVI, XVII e XVIII e, agora, visitadas anualmente por milhares de turistas de toda parte — tanto do Brasil quanto do exterior —, as formações de arenito passaram a ser identificadas por nomes populares, consoante a forma afetada pelas rochas: Camelo, Rinoceronte, Muralha, Gar- rafa, Proa de Navio, Índio, Noiva, Cabeça de Gorila, Leão, Castelos, Bota, Esfinge, Malocas, Cogumelos, , Baleia, Taça, Gavião, Tartaruga, Urso, Gruta e Planalto. Próximas aos arenitos de Vila Velha localizam-se as Furnas “Caldeirões do inferno”, com bocas circulares de aproximadamente 100m de diâmetro e paredes verticais que atin- gem mais de uma centena de metros de profundidade, decorrentes de desabamentos do- liniformes do arenito, nos vazios deixados na superfície inferior do solo pela dissolução de calcáreo, e a Lagoa Dourada, notável por suas águas cristalinas com, aproximadamente, 300m de diâmetro e dois ou três metros de profundidade, cujo fundo é constituído de ou malacacheta, e se alimenta da água das Furnas, através de canais subterrâneos. Teleférico vertical permite se alcance o fundo de uma das Furnas. ESPIRAIS DO TEMPO 405 406 ESPIRAIS DO TEMPO

Vila Hilda

Foi construída nos anos 20, por um cidadão chamado Antonio Thielen, no cen- tro de amplo e arborizado terreno de esquina. Está organizada em três níveis: o porão alto, o pavimento principal e os torreões. Sua entrada nobre faz-se por uma escada externa que liga o jardim à varanda, colocada na esquina esquerda da casa. Essa dis- posição, inusitada, soma-se a várias outras singularidades da concepção arquitetônica, como o jogo orgânico de reentrâncias e saliências de volumes de variadas alturas. O vocabulário ornamental é eclético: o bloco de embasamento correspondente ao porão alto tem os paramentos externos revestidos à bossagem, já o principal é decorado com aplicações de massa em alto-relevo, com inspiração florística: guirlandas sob as janelas e frisos de flores encadeadas sob a cornija superior. Nota-se nítida influência do repertório formal do na composição dos vãos abertos para a sacada do torreão lateral e nos adornos florais de canto das demais janelas. O telhado adapta-se à dinâmica volumétrica desdobrando-se em múltiplos planos revestidos por telhas francesas. O torreão principal é coberto por cúpula arestada, revestida por telhas escamadas, interrompida por óculos salientes e coroada por pequeno mirante avarandado.

Localização: Rua Júlia Vanderley, 936. Data da construção: Década de 1920. Proprietário: Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Tombamento estadual: Processo n°03/90 Inscrição n°99. Livro do Tombo Histórico. Data: 10/05/1990. Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. ESPIRAIS DO TEMPO 407