As Representações Da Arquitetura Das Cidades De Curitiba, Ponta Grossa
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“PELO PARANÁ MAIOR” – AS REPRESENTAÇÕES DA ARQUITETURA NAS CIDADES DE CURITIBA, PONTA GROSSA E PARANAGUÁ, SEGUNDO OS DOCUMENTÁRIOS DO INÍCIO DO SÉCULO XX. Ana Paula Pupo Correia1 Resumo: A presente pesquisa insere-se no âmbito dos estudos das cidades e arquitetura e utiliza como fonte principal os documentários realizados pelo governo do Estado do Paraná, no início do século XX, sobre as cidades de Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá. O recorte temporal foi definido pelo período em que os documentários foram produzidos, na década de 1920, e distribuídos como meio de propaganda dos governos de Caetano Munhoz da Rocha e Manoel Ribas. Considera-se que os documentários do período estudado representam, uma arquitetura e cidade desenvolvidas e modernas longe do passado colonial. Palavras-chave: Documentários; Imagens; Cidades; Arquitetura. 1. Introdução Perceber a arquitetura como símbolo de sua época é relevante tanto para os estudos da história quanto para a arquitetura. Neste trabalho, como metodologia de análise optou-se pela escolha dos documentários executados no início do século XX para entender como as cidades e a arquitetura foram representadas. A fonte imagética se destaca pelo caráter de representação do cotidiano de uma sociedade e como um reflexo do momento em que o filme foi produzido. A estrutura dos filmes e as imagens captadas procuraram simular uma viagem pelo Paraná, na qual, as principais cidades do estado se destacavam como cenário privilegiado. Os organizadores dos filmes se centraram na movimentação do cotidiano, buscaram captar imagens que marcassem a cultura e a maneira de viver tipicamente paranaense. Todas as produções se destinavam a mostrar o estado para o país e para o exterior, como meio de propaganda dos governantes e divulgar as possibilidades de 1 Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR (CORREIA, 2013). Doutora. Professora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. E-mail: [email protected] Sessão temática Cidade • 60 investimentos e negócios rentáveis no Paraná. Entende-se que o estudo das cidades permite observar como as áreas urbanas se configuraram, fortaleceram enquanto sedes de novas atividades sociais, econômicas e políticas, no contexto da urbanidade do início do século XX. Esse movimento interferiu no espaço urbano introduzindo novos equipamentos de saúde, educação, lazer, transporte, entre outros, determinando novas necessidades da população apresentados nos documentários produzidos pelo governo do Paraná. Pode-se observar que todas as construções estão inseridas no ambiente urbano, repletas de símbolos, permitindo identificar principalmente os marcos referências inseridos na cidade e estruturados a partir dos mecanismos de ocupação, por meio das tendências da arquitetura, da vontade politica dos governantes e do simbolismo que se tentou transmitir aos habitantes de Curitiba, Paranaguá e Ponta Grossa. Os esforços se concentraram na construção de uma sociedade capaz de absorver novas ideias e houve no Paraná uma constante busca em tornar do “estado moderno.” Destaca-se o chamado movimento Paranista, com a produção de intelectuais, artistas, escritores e políticos que encontraram uma maneira de construir um referencial cultural. Iniciativas como essas foram incentivadas basicamente na renovação da “medicina (normatizando o corpo), da educação (conformando as mentalidades) e da engenharia (organizando o espaço)” (HERSCHMANN; PEREIRA, 1994, p. 13). Os referenciais teóricos utilizados, cujas obras contribuíram para abrir o campo da investigação destacam-se: Miriam Moreira Leite (2001), Roland Barthes (1984), Walter Benjamin (2011), Giulio Carlos Argan (1998), dentre outros. 2. A divulgação das cidades do Paraná através dos documentários no início do século XX. Para Miriam Moreira Leite, a fotografia da arquitetura urbana, por sua natureza espacial e geométrica, constitui um domínio privilegiado para o estudo da ligação entre as transformações da fotografia e das cidades. Em posição de destaque, os edifícios, ruas, praças e esquinas, ajudam a produzir da urbe, uma leitura marcada pela visão positiva do progresso e da modernidade (LEITE, 2001). Sessão temática Cidade • 61 O mesmo ocorre com as cenas “montadas” nos documentários, que podem evocar uma parte da realidade do cotidiano das cidades. Os documentários apresentam fragmentos de uma realidade que revelam uma imagem idealizada, ou seja, a imagem de uma cidade moderna e, principalmente, de um estado que queria mostrar-se desenvolvido, mesmo que isso estivesse longe de ser uma realidade. Há, neste sentido, um descompasso entre o visto e o significado daquilo que se vê que é preciso levar em consideração. Na análise das imagens é preciso compreender por que e para que algumas imagens foram congeladas, já que o que prevaleceu na foto ou cena denuncia os significados latentes nas imagens. A utilização do cinema como forma de propaganda política foi uma constante no início do século XX, e uma maneira de difundir valores, ideias, conceitos ideologias2. Nas imagens cinematográficas o ritmo do cotidiano é representado nas ações em movimento. Na tela do cinema pode-se ver a velocidade com que as pessoas se movem. Essa experiência do homem do século XX e a imagem cinematográfica representou um impacto, assim como as experiências com a fotografia no século anterior. Isso é destacado por Walter Benjamin, que convida a comparar a imagem estática retratada em um quadro com o universo dinâmico apresentado pelo cinema. Diz ele: Compare-se a tela em que se projeta o filme com a tela em que se encontra o quadro. Na primeira, a imagem se move, mas na segunda, não. Esta convida o espectador à contemplação; diante dela, ele pode abandonar-se às suas associações. Diante do filme, isso não é mais possível. Mal o espectador percebe uma imagem, ela não é mais a mesma. Ela não pode ser fixada, nem como um quadro nem como algo de real. A associação de ideias do espectador é interrompida imediatamente, com a mudança da imagem. Nisso se baseia o efeito de choque provocado pelo cinema, que, como qualquer outro choque, precisa ser interpretado por uma atenção aguda. O cinema é a forma de arte correspondente aos perigos existenciais mais intensos com os quais se confronta o homem contemporâneo. Ele corresponde a metamorfoses profundas do aparelho receptivo, como as que experimenta o passante, numa escala individual, quando enfrenta o 2 Em seu texto “A obra de arte na era de suar reprodutibilidade técnica”, Benjamin apresenta a forma como o expectador pode ser manipulado diante dos filmes. Como exemplo apresenta os filmes elaborados pelos regimes totalitários, que passaram a adotar o cinema como uma maneira de difusão ideológica como Hitler, Mussolini e Stalin. Filmes que estão preocupados em apresentar os grandes desfiles, os espetáculos esportivos, as grandes obras, todos as ações captadas pelas filmagens e gravações, facilita a identificação da população pois para o autor “a massa vê o seu próprio rosto”. (BENJAMIN, 2011, p. 194) Sessão temática Cidade • 62 tráfico, e como as experimenta, numa escala histórica, todo aquele que combate a ordem social vigente. (BENJAMIN, 1994, p. 192). No início do século XX, pode-se considerar o cinema como nova tecnologia de apropriação dos tempos modernos. A fotografia propiciara a percepção do mundo através de seus fragmentos, ao passo que o cinema possibilitou a junção de inúmeras imagens isoladas de maneira contínua. Do mesmo modo que outras sociedades do mundo ocidental, no Brasil a fotografia e o cinema ganhavam repercussão. Em meados das primeiras décadas do século XX, a imagem serviu como técnica de divulgação do discurso político dominante. No caso dos documentários essa intencionalidade é ainda mais visível, tanto pela representação como pela apresentação da dimensão das obras e ações realizadas por um governo3. As imagens dos espaços urbanos geralmente provocam a ilusão de que todas as cidades estavam se transformando nas mesmas proporções, as cenas dão a impressão de um todo coeso e de harmonia. Alguns documentários estudados aqui foram “Pelo Paraná Maior”(1927) e “O que é o Paraná?” (1929) realizados pela empresa, do Rio de Janeiro, Botelho Film4. Os filmes “Cidades do Paraná” (1936) e “As Grandes Realizações do Senhor Manoel Ribas no Governo do Estado do Paraná” (1942) foram produzidos pelo fotógrafo e cineasta João Baptista Groff5. A fonte imagética se destaca pelo caráter de representação do cotidiano de uma sociedade e como um reflexo do momento em que o filme foi produzido. A estrutura e as imagens captadas procuraram simular uma viagem pelo Paraná, na qual, as principais cidades do estado se destacavam como cenário privilegiado. Os organizadores dos 3 Os governadores do Estado do Paraná nos períodos de filmagem foram; Afonso Camargo (1916/1920 e 1928/1930), Caetano Munhoz da Rocha (1920/1924 e 1924/1928) e Manuel Ribas como interventor federal (1932-1945). 4 A empresa Botelho Filmes foi criada por Alberto Botelho (1885-1973), na década de 1920. Adota um tom ufanista nos seus projetos de longa-metragem. Botelho foi contratado para a elaboração de vários documentários paranaenses. Tornou-se um dos maiores produtores de documentários ao longo dos anos 30 e 40, do século XX. (RAMOS; MIRANDA, 1997) 5 João Batista Groff (1897-1970) foi um dos primeiros fotógrafos e documentaristas do Paraná. Segundo Daniela VIEIRA (1998) Groff participou e contribuiu, com suas fotografias e documentários, para a construção da história paranaense. Em 1927 fundou a revista “Illustração Paranaense”. De fotógrafo ele passou a cinegrafista, fazendo suas primeiras filmagens em meados da década de 1920. Ganhou notoriedade pela realização de “Pátria Redimida”, sobre a revolução de 1930, o principal filme do período mudo do cinema paranaense. (Cinemateca Paranaense). Sessão temática Cidade • 63 filmes se centraram na movimentação do cotidiano, buscaram captar imagens que marcassem a cultura e a maneira de viver tipicamente paranaense. Todas as produções se destinavam a mostrar o estado para o país e para o exterior, uma maneira encontrada de divulgação e possibilidades de investimentos e negócios rentáveis no Paraná.