“Meu Caro Amigo Oliveira Lima”: O Jornalismo Como Moeda De Troca No Final Do Século XIX
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Maurício de Lima Oliveira “Meu caro amigo Oliveira Lima”: O jornalismo como moeda de troca no final do século XIX Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Doutor em Jornalismo. Orientador: Prof. Dr. Jacques Mick Florianópolis 2019 AGRADECIMENTOS Tive dois excelentes orientadores neste Doutorado, cuja realização se estendeu por cinco anos. Mauro Silveira esteve ao meu lado até o final do quarto ano, quando se aposentou. Jornalista experiente que enveredou pela História, Silveira sabe bem que uma pesquisa – assim como uma pauta – pode encontrar novos rumos enquanto o trabalho evolui. Isso certamente ocorreu ao longo da elaboração desta tese, que passou por vários redirecionamentos à medida que o universo em torno do personagem Oliveira Lima ia sendo investigado. Jacques Mick, jornalista por formação que acabara de ser transferido do Departamento de Sociologia para a pós em Jornalismo, aceitou meu convite para assumir a orientação. Contribuiu enormemente para a versão final, como eu tinha certeza que ocorreria: somos da mesma geração e conheço há muitos anos sua capacidade. A esta altura é difícil dizer se Mick é mais um jornalista com alma de sociólogo ou vice-versa, pois sua atuação tem sido relevante para ambas as áreas. O Doutorado representou meu retorno, quase 20 anos depois, ao mesmo Departamento de Jornalismo em que obtive minha graduação, em 1996. Considero-me privilegiado por ter tido acesso mais uma vez ao ensino público de qualidade proporcionado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sentimento que personalizo ao citar os professores com os quais cumpri disciplinas ao longo do curso: além dos próprios Mauro Silveira e Jacques Mick, também Rogério Christofoletti, Eduardo Meditsch, Luiz Gonzaga Motta, Francisco Karam e Gislene Silva. Amplio meu reconhecimento ao Departamento de História, onde cursei o mestrado em História Cultural e ao qual também retornei durante o Doutorado para cursar disciplinas com as professoras Beatriz Gallotti Mamigonian e Maria de Fátima Fontes Piazza. Não poderia deixar de mencionar os colegas com os quais compartilhei proveitosas trocas em todas as disciplinas. Cito, simbolicamente, os demais integrantes da turma pioneira do Doutorado em Jornalismo da UFSC: Alexandre Lenzi, Amanda Miranda, Hendryo André, Lívia Souza Vieira e o cubano Luis Alberto Fernández. A bolsa da Capes foi apoio importante para viabilizar o acesso às fontes primárias, especialmente as correspondências recebidas e enviadas por Oliveira Lima, missão que envolveu algumas viagens. Direciono meus agradecimentos às equipes que me atenderam nessas pesquisas. Na Oliveira Lima Library, pertencente à Catholic University of America, em Washington, recebi todo o apoio de Joan R. Stahl. Na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife (PE), meu interlocutor foi Carlos Antônio Ramos de Carvalho. Na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, Juliana Amorim proporcionou o acesso aos documentos que poderiam contribuir para o trabalho. Ao citar essas instituições e esses profissionais, manifesto meu reconhecimento a todas as demais fontes de informações e a quem mais, de alguma forma, colaborou para a construção desta tese. Por fim, meu carinhoso obrigado às pessoas mais próximas, fontes de energia e motivação para as inúmeras horas que a tarefa exigiu: minha mulher, Juliana De Mari; meus filhos, Lauro e Lígia; meus enteados, Augusto e Vicente; minha mãe, Vanda; meus irmãos, Marcus e Alberto; meus sogros, Albertino e Julice; além de todos os demais familiares e amigos que torceram por mim. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001. À memória de quem sempre está comigo: meu pai, Marcos Macedo de Oliveira, que me deixou como herança a paixão pela leitura, e meu amigo Eloy Gallotti Peixoto, referência essencial nos meus primeiros passos como jornalista. “Ninguém vale por si ou tem valor próprio entre nós.” (Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 1904)1 1 Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 10/09/1904, acervo Oliveira Lima Library. RESUMO O pernambucano Manuel de Oliveira Lima (1867-1928) escreveu regularmente para jornais e revistas durante mais de quatro décadas, em paralelo à carreira diplomática e ao ofício de historiador. A análise de 570 correspondências, cujo conteúdo foi confrontado com a produção jornalística e os dados biográficos de Oliveira Lima, demonstrou que, na juventude, ele utilizou deliberadamente o espaço que tinha na imprensa como moeda de troca para se aproximar do poder e obter vantagens pessoais. Os artigos que assinou em defesa do recém-instaurado regime republicano abriram-lhe as portas da carreira diplomática e foi graças às colaborações para a Revista Brasileira e aos relacionamentos delas decorrentes que ele se tornou um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Uma vez tendo conquistado ainda antes dos 30 anos esses dois grandes objetivos – a estabilidade do serviço público e a consagração como intelectual –, Oliveira Lima imaginou que dali em diante poderia canalizar a atuação jornalística ao exercício da autonomia e da independência. Muitas vezes expressou em seus artigos opiniões que contrariaram os interesses do governo ao qual servia como diplomata. Tal mudança de atitude representou a quebra de alianças e uma afronta ao sistema de favores que predominava na sociedade brasileira, do qual ele havia se beneficiado. Assim, o mesmo jornalismo que lhe proporcionou vantagens no início de sua trajetória o levaria ao rompimento de amizades estratégicas e seria o grande responsável pelo insucesso na sequência da carreira no Itamaraty. Ao jogar luzes sobre um aspecto pouco explorado da biografia de Oliveira Lima – sua atuação jornalística –, a pesquisa contribui para a percepção de como jornalismo, política e interesses pessoais se misturavam nos primeiros anos pós-República, momento em que a estrutura de poder estava sendo totalmente reformulada e reacomodada no Brasil. Palavras-chave: História da Imprensa. Pós-República. Favor. Oliveira Lima. ABSTRACT Manuel de Oliveira Lima (1867-1928), born in the Brazilian state of Pernambuco, wrote regularly for newspapers and magazines for more than four decades, in parallel to his diplomatic career and the work as historian. The analysis of 570 letters, which had the content confronted with the journalistic production and the biographical data of Oliveira Lima, showed that in his youth he deliberately used the space he had in the press as a currency of exchange to approach power and gain personal advantages. The articles he signed in defense of the newly established republican regime opened the doors to his diplomatic career and it was thanks to his contributions to the Revista Brasileira and their resulting relationships that he became one of the founders of the Academia Brasileira de Letras. When he achieved these goals (the stability of the public service and recognition as an intellectual) even before the age of 30, Oliveira Lima imagined that he could dedicate his journalistic activity to the exercise of autonomy and independence. He often expressed in his articles opinions contrary to the interests of the government to which he served as a diplomat. This change of attitude represented the breakdown of alliances and an affront to the system of favors that prevailed in Brazilian society, from which it had previously obtained benefits. Thus, the same journalism that opened doors at the beginning of its trajectory led to the rupture of strategic friendships and was the main responsible for the failure of his career in the Itamaraty. In throwing light on an unexplored aspect of Oliveira Lima's biography – his journalistic work – the research contributes to the perception of how journalism, politics, and personal interests were mixed in the early post-Republic years, when the power structure was being totally reformulated and rearranged in Brazil. Keywords: History of the Press. Post-Republic. Favoritism. Oliveira Lima. SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................19 CAPÍTULO 1 – Como os favores definiram o quem-é-quem da República (1867-1890)..........................................................................39 1.1 – Precocidade no jornalismo.............................................................39 1.2 – Explorando o território do favor....................................................47 1.3 – O valor de uma rede influente........................................................59 CAPÍTULO 2 – A construção de um diplomata e a consagração precoce de um intelectual (1890-1900).................................................65 2.1 – Mais que um simples colaborador..................................................65 2.2 – Caçula entre os acadêmicos............................................................88 2.3 – O fim do sonho americano............................................................107 CAPÍTULO 3 – Como o Oliveira Lima jornalista arruinou o diplomata (1900-1928)........................................................................135 3.1 – Um rebelde no Itamaraty..............................................................135 3.2 – Nostálgico da Monarquia.............................................................153 3.3 – Distante e amargurado..................................................................171