O Anjo E a Besta – Pascal, Machado De Assis E a Descristianização Do Ceticismo

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O Anjo E a Besta – Pascal, Machado De Assis E a Descristianização Do Ceticismo Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Filosofia ALEX LARA MARTINS O ANJO E A BESTA – PASCAL, MACHADO DE ASSIS E A DESCRISTIANIZAÇÃO DO CETICISMO Belo Horizonte 2018 Alex Lara Martins O ANJO E A BESTA – PASCAL, MACHADO DE ASSIS E A DESCRISTIANIZAÇÃO DO CETICISMO Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Filosofia Linha de pesquisa: História da Filosofia Moderna Orientador: Prof. Dr. José Raimundo Maia Neto Belo Horizonte 2018 100 M386a Martins, Alex Lara 2018 O anjo e a besta [manuscrito] : Pascal, Machado de Assis e a descristianização do ceticismo / Alex Lara Martins. - 2018. 319 f. Orientador: José Raimundo Maia Neto. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Inclui bibliografia 1.Filosofia – Teses. 2. Ceticismo - Teses. 3.Assis, Machado de, 1838-1908. 3.Pascal, Blaise, 1623-1662. I. Maia Neto, José Raimundo, 1959-. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título. Agradecimentos Do projeto de pesquisa até a versão da tese ora submetida à banca, tenho-me valido da companhia e do suporte de diversos atores, além da constância intelectual de Machado de Assis. Ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFMG, que sempre oferece as melhores condições de pesquisa. Pelo suporte material, agradeço ao Programa de bolsas de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do qual fui beneficiário entre 2012 e 2015. Ao Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – Campus Almenara, que me concedeu a condição de servidor-estudante por meio do Programa de Bolsas para Qualificação de Servidores. Agradeço ao professor e orientador José Raimundo Maia Neto, pelo incentivo, pela engenhosidade nas reflexões e pela cortesia no trato da orientação. Aos professores Paulo Margutti e Marcos Rogério Cordeiro, pelas importantes considerações durante a qualificação para a defesa. Aos professores Ivan Domingues e Vitor Cei, que apontaram os caminhos para o desfecho da tese. Aos amigos de sempre... ao Guilherme e ao Stener, ao machadiano Alex Sander, que também participou da banca avaliadora, aos quase almenarenses Leonardo Palhares e Alfredo Costa. A minha mãe, a meu pai e aos meus irmãos. À Angelina, ao Ezequiel e à Alice. Resumo A obra ficcional de Machado de Assis apresenta componentes céticos. De um lado, o ceticismo está alinhado a uma tradição de pensamento que pretende responder à crise de pensamento do século XVII sobre os critérios da fé, da verdade e do conhecimento natural. Este evento pode ser caracterizado pela retomada de argumentos céticos antigos durante o contexto da Reforma Protestante e de posições agostinianas. De outro lado, o ceticismo machadiano é mobilizado para explicar a moralidade e as relações sociais de uma comunidade bem localizada geograficamente. O conhecimento sobre a arte e a literatura não era obtido separadamente a outros bolsões culturais, como a ciência e a filosofia. A abertura para os fazeres artísticos, científicos e filosóficos, no caso da geração de Machado de Assis, ocorria ao redor da imprensa escrita. A tese principal é que a ficção machadiana apresenta uma alternativa à tradição que “cristianiza o ceticismo”. Percorreu- se os caminhos desta tradição no Brasil, a partir da recepção do ecletismo de Victor Cousin e a sua interpretação pirrônica de Pascal. As questões decorrentes do processo histórico e filosófico da cristianização do ceticismo são redirecionadas pela ficção machadiana, de sorte que o resultado de sua reflexão seja aquilo que pretendo denominar de descristianização do ceticismo. Os estudos de fontes filosóficas já apontam Pascal como a principal influência filosófica de nosso literato. Considerando o contexto intelectual brasileiro do século XIX, eu pretendo mostrar que as desenvolturas autorreflexiva e aporética das narrativas têm como finalidade a reconstrução irônica de uma antropologia tipicamente pascaliana. A “bestialização” do ser humano e a crítica ao caráter opiniático das relações sociais são alguns dos temas pascalianos que a ficção urge descristianizar. Palavras-chave: Machado de Assis. Blaise Pascal. Ceticismo. Descristianização. Abstract The fictional work of Machado de Assis exhibits skeptical components. On the one hand, skepticism is aligned with an intellectual tradition that intends to respond to the 17th century intellectual crisis related to the criteria of faith, truth and natural knowledge. Such a philosophical event would be characterized by revitalizing ancient skeptical arguments in the face of a dispute around the Reformation and the revival of Augustinianism. On the other hand, Machado’s skepticism is mobilized to explain the morality and social relations of a well-localized community in which knowledge about art and literature was not obtained separately from other embodied cultural capital, such as science and philosophy. Around the written press, Machado de Assis’s generation received and produced its artistic, scientific and philosophical acts. The main thesis is that Machado’s fiction presents an alternative to a tradition that Christianizes skepticism. The paths of this tradition in Brazil were analyzed from the standpoint of the reception of Victor Cousin’s eclecticism and Pyrrhonian interpretation of Pascal. The questions arising from the historical and philosophical development of the Christianization of skepticism are redirected by Machado’s fiction. The main consequence of this reflection is what I called the dechristianization of skepticism. Studies of Machado’s philosophical sources have already singled out Pascal as a major influence. Considering the 19th century Brazilian intellectual background, and its own reception of Pascal’s thought, I intend to show that the self-reflexive and aporetic developments of the Machadean narratives aimed an ironic reconstruction of a typically Pascalian anthropology. The “beastliness” of the human being and the view of the opinionated model of social relations are some of the Pascalian themes that fiction urges to dechristianize. Keywords: Machado de Assis. Blaise Pascal. Skepticism. Dechristianization. Résumé Les œuvres littéraires de Machado de Assis présentent des éléments sceptiques. D'une part, le scepticisme s'aligne sur une tradition intellectuelle qui répond à la crise de la pensée du XVIIe siècle, liée aux critères de la foi, de la vérité et de la connaissance naturelle. Cet événement serait caractérisé par la revitalisation des arguments sceptiques dans le contexte de la Réforme protestante et des positions augustiniennes. D'autre part, le scepticisme de Machado est mobilisé pour expliquer la moralité et les relations sociales d'une communauté bien localisée géographiquement. La connaissance de l'art et de la littérature n'était pas obtenue séparément des autres capitaux culturels, telles que la science et la philosophie. L'ouverture des actes artistiques, scientifiques et philosophiques, dans le cas de la génération de Machado de Assis, a eu lieu autour de la presse écrite. La thèse principale est que la fiction de Machado présente une alternative à la tradition qui « christianise le scepticisme ». Nous sommes allés à travers les sentiers de cette tradition au Brésil, à la réception de l'éclectisme de Victor Cousin et son interprétation pyrrhonienne de Pascal. Les questions soulevées par le processus historique et philosophique de la christianisation du scepticisme sont redirigées par la fiction de Machado. La conséquence de cette réflexion est ce que je veux appeler la « déchristianisation du scepticisme ». Les études de sources philosophiques ont déjà indiqué que Pascal est la principale influence philosophique de Machado de Assis. Considérant le contexte intellectuel brésilien du XIXe siècle et la réception de la pensée de Pascal, je compte montrer que les développements auto-réflexifs et aporétiques des récits visent une reconstruction ironique d'une anthropologie typiquement pascalienne. « L'abêtissement » de l'être humain et la critique du modèle de société basé sur l'opinion sont quelques-uns des thèmes pascaliens que la fiction exhorte à déchristianiser. Mots-clés : Machado de Assis. Blaise Pascal. Scepticisme. Déchristianisation. Nota bibliográfica e abreviações Para a obra de Machado de Assis, utilizamos a seguinte referência: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Obra completa em quatro volumes. Organização editorial Aluizio Leite, Ana Lima Cecílio, Heloisa Hahn. São Paulo: Nova Aguilar, 2015. 4v. Para fins de economia textual, ela será referida, no corpo do texto, por OC, seguida dos números do volume e da página. No caso de publicação em periódicos, citamos o nome da revista e a data original de publicação, quando esses dados importarem. Uma vez que essa edição não contempla todos os escritos conhecidos de Machado de Assis, optamos por utilizar, quando necessário, outras referências bibliográficas primárias. Para a correspondência: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Correspondência de Machado de Assis. Coordenação de Sérgio Paulo Rouanet. Rio de Janeiro: ABL; Biblioteca Nacional, 2008-2015. 5 t. (referido por C, seguido dos números do tomo e da página). Para as críticas teatrais e pareceres exarados para o Conservatório Dramático, não recolhidos pela OC, utilizamos FARIA, João Roberto (Org.). Machado de
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