Obras Da Fuvest E Unicamp 2021

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Obras Da Fuvest E Unicamp 2021 AULAS ESPECIAIS AS OBRAS DA FUVEST PORTUGUÊS QUINCAS BORBA JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS De acordo com Pereira (1988), aos poucos, as condições de vida de Machado de Assis se alteraram significati - 1. VIDA vamente. Seu trabalho como escritor foi sendo cada vez mais reconhecido e ele passou a levar uma vida mais confortável. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de De acordo com Facioli (1982), ao lado da ascensão social de junho de 1839, no morro do Livramento, Rio de Janeiro. Machado de Assis, ocorreu também uma mudança Conforme Facioli (1982), Machado de Assis, do lado significativa de sua obra literária. paterno, era neto de homens libertos. Seu pai, Francisco Quando faleceu, em setembro de 1908, Machado de José de Assis, era agregado de uma família de posses e Assis, um dos fundadores e primeiro presidente da trabalhava como pintor de paredes. Do lado materno, era Academia Brasileira de Letras, recebeu muitas homenagens neto de homens livres, provenientes de humilde família que atestaram sua consagração como o maior escritor açoriana. Sua mãe, Maria Leopoldina, faleceu quando brasileiro, na opinião quase unânime dos estudiosos de Machado de Assis contava dez anos, seu pai se casou de literatura brasileira. novo, com Maria Inês. Há muitas afirmações inconsistentes em relação ao papel que sua madrasta exerceu em sua vida, 2. CARACTERÍSTICAS DA sobretudo, quando o pai de Machado também veio a falecer. PROSA MACHADIANA O certo é que Machado de Assis teve que vencer muitos obstáculos para migrar de classe social, pois não teve Os críticos literários, ao mesmo tempo que consideram educação formal regular e enfrentou muitas adversidades Machado de Assis um original mestre da linguagem, por ser mulato num período em que ainda havia escravidão evidenciam o diálogo intenso e produtivo que sua obra no Brasil. mantém com grandes escritores que o antecederam. Desde cedo, trabalhou e buscou desenvolver sua carreira literária. Tendo ingressado num ambiente jornalístico, um Segundo Achcar (2000), na prosa machadiana, tanto mundo novo de aprendizado literário se abriu para ele. nos romances quanto nos contos, podem ser observados os Contribuiu muito para sua evolução artística o fato de ele seguintes aspectos: ter sido leitor bastante assíduo. Já na juventude, Machado • uma escrita bastante criativa, que não segue um de Assis também se dedicou à prosa, escrevendo artigos esquematismo determinista, ou seja, não busca sobre arte, poesia, literatura e crônicas e, aos poucos, passou causas muito explícitas para a explicação das a integrar os círculos literários da Corte, apresentando, desde personagens e situações; sempre, bom domínio da língua portuguesa literária e do • frases simples, desprovidas de enfeites. Os períodos francês. costumam ser curtos e as palavras bem escolhidas; Machado de Assis mostrou-se sempre uma pessoa • focalização das personagens de fora para dentro, atualizada com o que se escrevia e se publicava no Brasil, havendo um trabalho de desmascaramento, daí ele por conta de sua constante atividade crítica, jornalística e ser considerado como um agudo “analista da alma literária. Apesar dessa intensa contribuição, foi um emprego humana”; público que lhe garantiu uma situação econômica menos • referências constantes a outros textos de grandes instável até o final de sua vida. Aos trinta anos, casou-se com autores ocidentais (intertextualidade); Carolina Xavier de Novais, nascida no Porto, filha de um • uso de ironia, a arma mais corrosiva com que artesão e comerciante português. O casal, sem filhos, teve Machado critica os comportamentos, os costumes um convívio de 35 anos marcado por grandes afinidades e as estruturas sociais. intelectuais. – 1 Machado de Assis dedicou-se, ao longo de sua carreira 5. QUINCAS BORBA E literária, a vários gêneros literários: conto, romance, crônica, MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS poesia, teatro, crítica, sendo considerado como contista e romancista genial. Quincas Borba (1891) é visto, de certa forma, como uma continuação de Memórias Póstumas de Brás Cubas 3. AMADURECIMENTO ESTILÍSTICO (1881). Nos dois romances, Quincas Borba é personagem; DE MACHADO DE ASSIS há menção a sua filosofia, o Humanitismo; e, num procedimento bastante original, o narrador de Memórias , Brás Cubas, envia uma carta para um personagem de A produção literária da primeira fase da obra macha - Quincas Borba, Rubião, participando-lhe da morte do diana trata da problemática da ascensão social de uma filósofo. perspectiva de quem ainda ocupa posição social não No romance Quincas Borba , Rubião, um ex-professor privilegiada. Conforme Schwarz (2000), a situação de da cidade de Barbacena, é o protagonista. Sua trajetória dependência social é explorada, na primeira fase macha - existencial serve para exemplificar a filosofia de Quincas diana, como uma procura de um meio pelo qual tal Borba, o humanitismo. dependência seja abrandada até a obtenção de alguma libertação. Contudo, não há um questionamento do sistema 6. FOCO NARRATIVO social propriamente dito, sendo assim, esse posicionamento estaria ainda em consonância com o romantismo. Quincas Borba apresenta um narrador em terceira O romance Quincas Borba (1891) pertence à segunda pessoa, onisciente. É por intermédio dele que os leitores fase da escrita machadiana. Segundo Facioli (1982), na pouco a pouco são envolvidos na loucura do protagonista. segunda fase, ocorre uma alteração da posição do narrador, O narrador é possuidor de cultura superior, livresca. “E que se torna “uma voz de camada social diferente da que como vive a ostentar erudição, o narrador reforça as narrava até então”. Assim, o narrador da segunda fase é dissonâncias com Rubião: indivíduo sem malícia, de ideias reconhecido pela classe dominante como um de seus miúdas e palavras soltas” (Chauvin, 2016, p. 18). O uso de membros. Nessa fase, segundo Schwarz (2000), há uma discurso indireto livre é um procedimento recorrente no mudança de forma e de conteúdo, com o destaque do uso romance. do humor e da ironia para desmascaramento da realidade. Em poucos momentos, o autor-narrador faz menção a si Machado de Assis, na segunda fase, inova também ao usar mesmo (“Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de formas literárias de um passado remoto, como, por exemplo, ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas (cap. IV, p. 90). a sátira menipeia 1, cujo efeito literário é o de apresentar o Nesse caso, o escritor se identifica como autor e narrador de um romance inventado. ridículo de forma que o leitor se sinta livre para formar seu próprio ponto de vista crítico, em vez do oferecer conselhos METALINGUAGEM moralizantes. Metalinguagem é a explicação do autor acerca da escrita do livro. Em Quincas Borba , o autor focaliza o seu 4. ROMANCES MACHADIANOS próprio trabalho de escritor, explicando a seus leitores como está organizando seu romance. Exemplificando: Da primeira fase: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878), Rubião estava arrependido, irritado, envergonhado. No capitulo X deste livro ficou escrito que os remorsos deste homem eram fáceis, mas de pouca dura; faltou explicar a natureza das ações Da segunda fase: Memórias Póstumas de Brás que os podiam fazer curtos ou compridos (cap. LVI, p. 172) Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de tantos outros – velhos todos – em que a matéria do capítulo era posta (1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908) no sumário: “De como aconteceu isto assim, e mais assim (...) (cap. CXII, p. 260). Ao contrário, não sei se o capítulo que se segue poderia estar todo no título” (cap. CXIV, p. 261). 1 Ref. ou pertencente a, ou ao estilo de Menipo de Gadara (séc. III a.C.), poeta satírico e filósofo grego (sátira menipeia ). Dicionário Aulete Digital . 2– 7. CONVERSA COM O LEITOR 10. INTERTEXTUALIDADE Em Quincas Borba , o narrador dialoga com seu leitor, Em Quincas Borba , há diálogos intertextuais com estimulando-o a prosseguir a leitura e a acompanhá-lo em livros da alta literatura. O narrador alude a vários livros suas ideias e suposições. Esse procedimento é recorrente que podem ser lidos como intertextos. Conforme Chauvin no romance. Exemplos: (2016), podem ser reconhecidos, dentre outros, o diálogo intertextual desse romance com: Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira do Quincas Borba (cap. III, p. 89); Queres o avesso disso, leitor Dom Quixote , de Miguel de Cervantes Saavedra (publicado curioso? (...) (Cap. XXXI, p. 125). entre 1605 e 1615); Tom Jones, de Henry Fielding (editado em 1749); A vida e as Opiniões do Cavaleiro Tristam Shandy , de Laurence Sterne (publicado em dez volumes, entre 1759 e 8. A OBJETIVIDADE REALISTA 1769); Viagem à Roda do Meu Quarto , de Xavier de Maistre (1794), Viagem na Minha Terra de Almeida Garret (1846) (p.16). Quincas Borba trata fundamentalmente do mundo objetivo, do mundo das relações sociais, do poder e do dinheiro. Quando o narrador retrata a interioridade das 11. PARÓDIA personagens, ele se ocupa em representar como a psico - logia das personagens está articulada com os valores O Humanitismo aparece pela primeira vez nas Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Em Quincas sociais. Trata-se de um romance exemplar de realismo Borba , Rubião é o ouvinte do filósofo. A filosofia de psicológico . Em Quincas Borba , constata-se uma preocu - Quincas Borba é vista como uma paródia do positivismo, pação do escritor em representar de forma crítica e irônica de Augusto Comte, e à teoria de Charles Darwin sobre a a vida em sociedade em uma determinada época, denun - seleção natural. A frase “Ao vencedor, as batatas!” remete ciando os princípios e mecanismos que organizam as a dos evolucionismos sociais, baseados no de Darwin, relações sociais. uma maneira de desvelar de forma irônica o caráter cruel da “lei do mais forte”. 9. TEMPO E ESPAÇO 12. DIGRESSÃO Machado de Assis, em Quincas Borba , trata de uma questão de dimensão universal, a loucura, num ambiente Quincas Borba é visto, de acordo com Chauvin (2016) nacional, dentro de determinado tempo histórico.
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