TRÊS FORMAS DE TRABALHAR A IRRESPONSABILIDADE

THREE WAYS OF DEALING WITH IRRESPONSIBILITY

Nelson Marques1

RESUMO 1. O MARGINAL, A POLÍCIA E A VINGANÇA Três filmes, um brasileiro e dois americanos, trabalham de diferentes formas com o mesmo Confronto Final, 2005, Alonso Gonçalves, Brasil tema: a irresponsabilidade ao escolher, dirigir, Marcos Ferranti (Jackson Antunes) mora filmar e exibir um filme contando uma história. em uma grande cidade na qual leva uma vida tranquila com sua família. Após a casa ser assal- Palavras chaves: Assalto. Vingança. tada, Marcos sente o perigo que sua família corre, Espionagem. Non-Sense. Pseudônimo. Alan devido à ação de criminosos e também à inoperân- Smithee. IMDb. cia da polícia. Cada vez mais paranoico, ele decide tornar a sua casa invulnerável à criminalidade que o cerca e parte para uma vingança pessoal contra tudo e contra todos. ABSTRACT Confronto Final é um filme brasileiro de 2005 dirigido por Alonso Gonçalves e protago- Three films one brazilian and two americans nizado pelo ator Jackson Antunes, o Charles that works with different forms with the same Bronson brasileiro, que interpreta o persona- object: the irresponsibility to choose, to direct, gem Marcos Ferrante. Não confundir com os to film and to show a film that tell us a history, filmes de mesmo nome realizados em 2014, por Keoni Waxman, com Steven Seagal, e 2005, por Key Words: Assault. Revenge. Espionage. Dolph Lundgren, com ele também atuando. Non-Sense. . Allan Smithee. IMDb. O filme Confronto Final tem incríveis 5,9/10 pontos no “site” do IMDb (Internet Movie Database), valor muito alto para um

1 Bacharel e licenciado em Ciências Biológicas (USP). Professor Doutor aposentado da FMUSP, ex-prof colabo- rador voluntário da UFRN. Produtor cultural, fundador e atual presidente do Cineclube Natal. Idealizador, fundador e organizador do festival de cinema Goiamum Audiovisual (RN), organizador do FINC - Festival Internacional de Cinema de Baía Formosa (RN). Organizador e vice-presidente da ACCiRN - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte. Editou, escreveu e colaborou em diversos livros sobre cinema: Brasil em Tela Cinema e Poéticas do Social (Editora Sulina, 2008), Cenas Brasileiras (EDUFRN, 2009), 80 Cult Movies Essenciais (EDUFRN, 2010), Sessão Dupla (EDUFRN, 2016), Claquete Potiguar: Experiências Audiovisuais no Rio Grande do Norte (Máquina, 2016). TRÊS FORMAS DE TRABALHAR A IRRESPONSABILIDADE filme incrivelmente ruim! Se lermos - nova da cópia de Death Wish, e depois de mais 3 mente a sinopse do filme talvez consigamos outros filmes de mesma temática, realiza- entender melhor a sua classificação. É um dos em 1985, 1987 e 1994! Mais de dez anos filme de ação, com uma história mais do que depois, 2005, Alonso Gonçalves, com menos batida e conhecida: a vingança pessoal de recursos, com atuações no mínimo sofríveis um indivíduo que se sente ameaçado, e a sua e com um roteiro de má qualidade resolve família também, por criminosos! repetir a mesma história básica! Só pode- Talvez a semelhança grande de Jackson ria resultar mesmo num filme de péssimo Antunes com o ator americano Charles gosto. Não é um filme nacional, mesmo sendo Bronson confunda um pouco os incautos. realizado em Belo Horizonte, não é um filme Bronson, particularmente, tem vários filmes estrangeiro e nem universal, ou seja, não é como o injustiçado que parte para sua nada, e não traz e nem acrescenta nada a uma vingança pessoal como redentor de certos filmografia já pobre. “valores” éticos e em defesa de sua família. O filme foi feito em 2005 e foi- diri São pelo menos 5 filmes de mesmo título (com gido, roteirizado e produzido por Alonso pequenos acréscimos) e basicamente com a Gonçalves, que é mais ator do que diretor. mesma história e personagem, Paul Kersey, Trabalha como ator desde 1982 e seus traba- um pacato arquiteto de Nova York, que se lhos mais recentes foram realizados para TV transforma num “vigilante” noturno após ter como séries: Passione, em 2010, Caminho das a mulher morta e a filha estuprada por três Índias, em 2008 e Faça Sua História, em 2008. marginais (Desejo de Matar – Death Wish, Antes do Confronto Final realizou dois outros 1974, Desejo de Matar 2 – Death Wish 2, 1982, filmes, sem expressão (Tara Maldita, 1982 e Desejo de Matar 3 – Death Wish 3, 1985, os Os Treze Pontos, 1985). três dirigidos por Michael Winner, Desejo de Alonso Gonçalves é amigo de Jackson Matar 4 – Operação Crackdown – Death Wish Antunes, ator que vocês devem ter visto em 4: The Crackdown, 1987, de J. Lee Thompson alguma novela da TV (A Regra do Jogo, 2015, e Desejo de Matar 5: A Face da Morte – Death Amorteamo, 2015, O Caçador, 2014) e nos filmes Wish V: The Face of Death, 1994, de Allan A. Mais Forte Que o Mundo, 2016, O Concurso, Goldstein). Outros diretores têm filmes de 2013, A Festa da Menina Morta, 2008, Tapete mesma temática: Sam Peckinpah, com Sob o Vermelho, 2005, entre outros, e juntos resolve- Domínio do Medo – Straw Dogs, de 1971, Gary ram fazer um filme de ação com cenas tão ruins Sherman, com Exterminador Implacável – que devem ter sido realizadas com o auxílio de Wanted: Dead or Alive, de 1987. um ”PowerPoint” qualquer da vida. Quanto ao “nosso” Confronto Final, Podemos dizer, para economizar pala- filmado em Belo Horizonte, MG, só pode- vras, que o filme não é ruim, é péssimo em mos atestar que o filme é ruim desde a sua todos os sentidos. As atuações de atores e concepção, sem originalidade, portanto, até a atrizes são “maravilhosas” de tão toscas. sua realização final. Se o “remake” de Death Deveríamos falar também do “roteiro”, mas Wish de 1974, o Death Wish 2, de 1982, já é como? Não há nada, minimamente, que se uma cópia declarada e ruim do filme original, possa chamar de roteiro. imaginem o filme de Alonso Gonçalves, cópia

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Ficha técnica sobre uma história original de... ! Confronto Final, 2005. Brasil. Direção: O que dizer de um filme que o próprio Bill Alonso Gonçalves; Roteiro: Alonso Gonçalves; Cosby, decepcionado com o resultado obtido, Produção: Andréa Reis Gonçalves e Jorge “aconselhava” publicamente em jornais, Moreno; Direção de Fotografia, Markão; entrevistas e em seu próprio programa de Direção de Arte, Ana Gusmão; Figurino, TV – Bill Cosby Show – a não desperdiçarem Simone Almeida; Maquiagem, Elizinha tempo e dinheiro indo assistir ao filme! Silva; Montagem, Alonso Gonçalves; Som O filme foi lançado em dezembro de direto, Vandder Lima; Edição sonora, 1987 recebendo já de saída críticas extrema- Alonso Gonçalves; Trilha sonora, Vandder mente negativas dos jornais The Los Angeles Lima; Mixagem, Alonso Gonçalves; Elenco: Time (THOMAS, 1987; WILLMAN, 1988) e The Jackson Antunes (Marcos Ferrante), Patrícia New York Times (JAMES, 1987). Novaes (Carolina Ferrante), Ilvio Amaral Se havia a pretensão de que essa comé- (Delegado Alvarenga), Geraldo Carrato, dia de espionagem (ou de ficção científica?) Bárbara Salomão (Luiza Ferrante), Adilson se tornasse uma franquia, como se diz hoje – Maghá (Policial Ferreira), Rodrigo Signoretti daí o título do filme começando na Parte 6 -, (Detetive Glayson). Ação, 98 minutos, cor. morreu aí mesmo, no nascedouro. A inferên- cia de que o filme era o sexto de uma série de filmes com as aventuras de Leonardo Parker, teve até uma tentativa (ou estratégia) de 2. UMA COMÉDIA NON-SENSE UM publicidade às avessas, ao dizer que as outras TANTO IRRESPONSÁVEL partes – as de 1 a 5 – haviam sido sequestra- das por precaução no interesse da segurança Leonardo, Um Agente Muito Trapalhão mundial... Quanta pretensão e falta de jeito (), 1987, Paul Weiland, EUA mesmo! Até essa estratégia de marketing, Leonard Parker (Bill Cosby) é um ex-espião criando “expectativas” inexistentes, foi uma da CIA. Parker é re-recrutado por seus ex-emprega- grande bobagem. dores para salvar o mundo de uma vegetariana do Na época o jornal Los Angeles Time mal chamada Medusa Johnson que através de uma não deixou por menos: “... Leonard Part 6 é nova tecnologia aplicada nos animais, estes são presunçoso, um exercício tedioso de autoin- controlados para matarem as pessoas. Leonard tolerância... [...] ... Não há praticamente nada se infiltra na base vegetariana, cortando os para rir neste filme...”. O New York Times foi vegetarianos através de uma magia feita com igualmente rigoroso na sua crítica: “... Sr. carne, mágica esta que ele recebeu de uma cigana. Cosby e o diretor Paul Weiland estavam Leonard libera os animais do cativeiro, inunda supostamente em desacordo (pelo que se a base com anti-ácido efervescente (tipo “Alka- disse à época, e mais ainda depois, destaque Seltzer”, ou “Sal de Fruta”) e escapa montado em meu) durante as filmagens de Leonard Part um avestruz que estava no telhado do prédio. 6... [...] ... mas não há muita culpa para eles Leonardo, Um Agente Muito Trapalhão para compartilhar. A Direção do Sr. Weiland , é um filme americano de 1987, produzido e a história do Sr. Cosby e o roteiro de Jonathan dirigido por Bill Cosby, protagonizado por ele Reynolds parecem igualmente banal...”. mesmo, num roteiro de Jonathan Reynolds

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Alguns anos depois, em 1994, o diretor gostam do seu tipo de humor. Muitos o consi- Paul Weiland, numa entrevista, até certo deram estar no pior papel dele no cinema. ponto amarga, afirmou: Joe Don Baker, sempre atuando como coad- “... Foi um erro terrível... quando alguém juvante em mais de 80 filmes, alguns filmes entra nessa posição (a posição de poder de Bill medianos e até bons (Um Homem Fora de Cosby na década de 1980), eles são cercados Série – The Natural, 1984, Assassinato por por bajuladores e ninguém lhe diz a verdade. Encomenda – Fletch, 1985, 007 Marcado para Mas Cosby simplesmente não era engraçado. a Morte – The Living Daylights, 1987, Cabo Eu não podia dizer a ele diretamente. Eu diria do Medo – Cape Fear, 1991), frente à bagunça que ele era “lento” e ele dizia – ‘Você se preo- que está presente no filme é, ainda assim, o cupa com a construção, deixe-me preocupar ator de melhor atuação. O resto do elenco com o engraçado...” (HATTENSTONE, 1994). de suporte não consegue sustentar minima- O jornal da época mente uma história de ficção científica de (dezembro de 1987) observou: “... que embora péssima qualidade e uma comédia, para dizer Weiland fosse o diretor, claramente Cosby o mínimo, idiota! como estrela, produtor e dono da ideia, é o Podemos dizer, para economizar palavras, autor aqui...” ( THOMAS, 1987). Mesmo aque- que o filme não tem competência nem para ser les que de certa maneira estão acostumados ruim, é péssimo mesmo em todos os sentidos. a ver filmes ruins, filmes “trash”, por prefe- As atuações de atores e atrizes são até surpreen- rência ou obrigação, se críticos de cinema por dentes e “maravilhosas” de tão toscas. profissão, concordam, todos, que este éum Este é mais um daqueles filmes “indi- dos piores filmes já realizados. É bom lembrar cados” para aqueles cinéfilos que assistem a que Leonard Part 6 foi o primeiro filme de filmes que são tão ruins, mas tão ruins mesmo, longa-metragem realizado por Weiland. que passam a ser “ótimos” na falta de outra Havia empreendido apenas um curta-metra- classificação. Serve também para aqueles gem em 1983 e fez até o momento 16 filmes, obsessivos que fazem questão de ter os piores dos quais se pode destacar apenas Living with representantes da filmografia mundial para Dinossaurs (para a TV) em 1989, Em Busca do mostrar a todos, amigos e, principalmente, Ouro Perdido (City Slickers II: The Legend inimigos. Deve ser, sempre, um participante of Curly´s Gold), em 1984 e Para Roseanna de uma estante demonstrativa dos piores (Roseanna´s Grave), em 1994. produtos que a indústria cinematográfica já Não é à toa que tem pontuação 2,2/10, realizou. Sem dúvida têm e terão sempre um média de 7.290 votos (em junho de 2017). papel educativo de como não fazer filmes. Ninguém, do diretor à equipe técnica, dos Nesse sentido recomendo com firmeza atores e atrizes aos coadjuvantes, demonstra Leonardo, Um Agente Muito Trapalhão. ter algum talento, nem que seja mínimo. Até Ficha técnica a participação de , numa pequena Leonardo, Um Agente Muito Trapalhão ponta “vendendo” aqueles famosos vídeos de (Leonard Part 6), 1987, EUA. Direção: Paul exercícios físicos a que ela se dedicou por um Weiland; Roteiro: Jonathan Reynolds, sobre bom tempo, parece constrangida... Bill Cosby uma história de Bill Cosby; Produção: Bill está irreconhecível, mesmo para aqueles que Cosby; Distribuição: Colúmbia Pictures;

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Cinematografia, Jande Bont; Música, Elmer 3. UMA HOLLYWOOD MAIS DO Bernstein; Edição, Gerry Hambling; Elenco: REAL: RESPONSABILIDADE X Bill Cosby (Leonard Parker), Tom Courtenay IRRESPONSABILIDADE (Frayn), Joe Dom Baker (Nick Snyderburn), Moses Gunn (Giorgio Francozzi), Gloria Foster Hollywood – Muito Além das Câmeras (An (Medusa Johnson), Victoria Rowell (Joan Film: Burn Hollywood Burn), 1998, Parker), Anna Levine (Nurse Carvalho), David (como Alan Smithee), EUA Maier (Man Ray), Grace Zabriskie (Jefferson), Um diretor com o nome Alan Smithee George Maguire (Madison). Comédia, ação, realiza um filme intitulado TRIO. É um filme ficção científica, 85 minutos, cor. de ação, de grande orçamento e estrelado por Curiosidades , Whoopi Goldberg e Jackie 1. Prêmios Framboesa de Ouro 1988: Chan. O estúdio, no entanto, faz uma edição do “Pior Ator” (Bill Cosby), “Pior filme que não agrada ao diretor Smithee (ele Filme”, “Pior Roteiro” (Jonathan descreve o filme como sendo “... pior do queo Reynolds e Bill Cosby). Foi ainda indi- filme ...”). Ele quer usar um pseudônimo cado para “Pior Atriz Coadjuvante” (Gloria Foster) e “Pior Diretor” (Paul para retirar a responsabilidade pela realização do Weiland). filme. Mas descobre nesse momento que o único permitido em Hollywood é “Alan Smithee”, que é o 2. Bill Cosby, mesmo fazendo campa- nha contra na mídia algumas seu próprio nome. Ele decide, então, roubar o seu semanas depois da cerimônia filme, fugindo com a intenção de destruí-lo. de premiação, aceitou seus três Hollywood – Muito Além das Câmeras prêmios “Framboesas de Ouro”, é um filme americano do gênero comédia de apresentando-os em vários progra- mas de entrevista na TV. Ele é um 1998 e é considerado pela maioria de críticos dos poucos profissionais do cinema de cinema, como um dos piores filmes de todos que aceitou a indicação e a premia- os tempos. Ganhou 5 prêmios “Framboesa de ção do “Prêmio Framboesa de Ouro”. Ouro” (1998), incluindo o de “Pior Filme”. 3. O filme ainda recebeu indicação, em , produtor, roteirista e ator 2005, para “Pior Comédia de Nossos do filme ganhou quatro! (ver Curiosidades Primeiros 25 Anos” durante a reali- 1). Esta produção de 1998, felizmente quase zação do Prêmio Framboesa de Ouro 2005. esquecida, é mais um daqueles casos em que a proposta do filme e as histórias de bastidores 4. Como o público consome de tudo, Leonard Part 6 foi lançado em são mais interessantes do que o produto em DVD pela Columbia Pictures (hoje si. Tudo deu errado nesta comédia que nunca propriedade da Sony) em 2005 consegue nem ser engraçada. fazendo mais sucesso do que na época O filme foi lançado nos EUA em 20 de estreia do filme em 1987 (que, na época, para um orçamento estimado de fevereiro de 1998 em apenas 19 salas de de gastos de US$ 24.000.000,00), cinema no país inteiro. Para um orçamento à arrecadou apenas US$ 5 milhões de época de US$ 10 milhões de dólares, arrecadou dólares (US$ 4.916.871,00) nos EUA. na estreia menos de US$ 50.000 dólares! Até Bill Cosby comprou os direitos de apresentação na TV de seu filme hoje não arrecadou mais do que US$ 60.000 para ter certeza de que ele nunca dólares (BOX OFFICE MOJO). O que em si, já aparecesse nessa mídia. é uma primeira indicação de seu “sucesso”

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é uma comédia. Ele é feito na forma de um Burn), EUA, 1998. Direção: Arthur Hiller documentário, com as pessoas falando para (como Alan Smithee); Roteiro: Joe Esterhas; as câmeras e contando a história de um Produção: Ben Myron e Joe Esterhas filme intitulado Trio, que custou mais de US$ (não creditado); Distribuição: Buena 200 milhões de dólares e era estrelado por Vista Pictures; Cinematografia: Reynaldo Sylvester Stallone, Whoopi Goldberg e Jackie Villalobos; Música: Chuck’ D, Joel Diamond Chan. Eles falam como eles mesmos, como se e Gary G-Wiz; Edição: L. James Langlois; fossem a personificação das celebridades...! Elenco: Eric Idle (Alan Smithee), Ryan O´Neal Falando da tão (mal) falada edição, ela não (James Edmunds), Coolio (Dion Brothers), tem alma e nem ritmo. É pior do que os piores Chuck´D (Leon Brothers), Richard Jeni (Jerry exercícios de direção de qualquer classe de Glover), Leslie Stefanson (Michelle Rafferty), alunos de cinema (sem ofensas a estes). Ebert Sandra Bernhard (Ann Glover), Cherie continua sendo mais rigoroso ainda. A única Lunghi (Myrna Smithee), Harvey Weinstein maneira de se ter uma versão “assistível” do (Sam Rizzo), Gavin Polone (Gary Samuels). filme seria uma versão cortada de pelo menos Participações especiais representando a 86 minutos... Ou seja, não sobraria nada, pois si mesmos: Sylvester Stallone, Whoopi essa é a duração do filme! (EBERT, 1998). Goldberg, Jackie Chan, , Robert Apesar do filme Hollywood – Muito Shapiro, Shane Black, Mario Machado, Lisa Além das Câmeras ter um potencial muito Canning, Joe Eszterhas, Naomi Eszterhas, grande ao penetrar nos meandros da indús- Larry King, Peter Bart, Dominick Dunne, Billy tria cinematográfica americana, satirizando Bob Thornton, Billy Barty, Dominick Dunne, e criticando as figuras de produtores, direto- (sem créditos). Comédia, 86 res, roteiristas, atores e atrizes, não consegue minutos, cor. cumprir o que promete (compare-se, por CURIOSIDADES exemplo, o “Hollywood...”) com o incompará- 1. Joe Eszterhas foi a primeira vel O Jogador (The Player), de 1992, do Robert pessoa a ganhar 4 Prêmios Framboesa de Ouro Altman, que trabalha com temas semelhantes. 1998 para um único filme: “Pior Filme”, “Pior O filme inteiro nada mais é do que um longo Roteiro”, “Pior Ator Coadjuvante” e “Pior ataque pessoal do roteirista (Joe Eszterhas) Nova Estrela” (para uma aparição breve). aos produtores e astros de Hollywood, após o Tecnicamente recebeu ainda a indicação fracasso de seu filme Showgirls e à decadência para o prêmio “Quaisquer Duas Pessoas Que de sua carreira como autor de blockbusters. Aparecem Juntas na Tela”. Mas não ganhou... Vale como retrato de uma época e também 2. Alan Smithee, ou Allen como uma crítica virulenta à interferência Smithee, é um pseudônimo oficial usado por nem sempre positiva dos produtores na reali- cineastas que desejam destituir ou desistir zação de filmes. Nesse sentido ele tem até um de um projeto cinematográfico por discordar certo valor, mas que fica muito aquém de seu dos rumos que o produto final adquiriu. Antes potencial, como chamamos a atenção. de 1968 a Directors Guild of America (DGA) Ficha técnica não permitia que pseudônimos fossem utili- Hollywood – Muito Além das Câmeras zados nos créditos de filmes. Em 1968 a DGA (An Alan Smithee Film: Burn Hollywood preferiu criar um pseudônimo oficial para

UMA ANTROPO-SOCIOLOGIA DE FILMES "NÃO RECOMENDÁVEIS"- PARTE II 36 Cronos: Revista da Pós-Grad. em Ciências Sociais, UFRN, Natal, v. 19, n. 2, jul./dez. 2018, ISSN 1982-5560 TRÊS FORMAS DE TRABALHAR A IRRESPONSABILIDADE ser usado pelos profissionais da indústria os anos (1932-1934). Esses mesmos nomes cinematográfica americana, não só diretores, foram usados poucas vezes por Hollywood que não concordassem com os rumos que (1926 e 1999, 7 filmes) quando foi iniciado o a produção chegava. O seu uso foi formal- uso do “genérico” oficial da DGA (NOTORC, mente interrompido em 2000 (WALLACE, 2016). Entre 1969 e 1997, “Smithee” foi utili- 2000). A primeira vez em que se usou esse zado por 34 diretores, 10 diretores da 2ª. pseudônimo foi no filme Só Matando (Death unidade, 29 atores, 28 roteiristas, 28 produ- of a Gunfighter), de 1967, mas só lançado em tores, 22 membros da equipe técnica e 5 1969, para resolver um conflito surgido entre cinematógrafos. o ator principal, Richard Widmark, e o diretor 4. Alguns dos filmes que foram , que havia sido substituído por creditados a “Smithee” (entre parênteses, Don Siegel. Como nenhum dos dois diretores o verdadeiro diretor, quando conhecido): quis assumir a responsabilidade pelo filme, Fade-In, conhecido também como Iron surgiu a figura do “diretor” Alan Smithee. A Cowboy, 1968 (foi dirigido efetivamente por ortografia “Alan Smithee” tornou-se padrão , o pseudônimo Smithee foi apli- e o IMDB lista cerca de 100 filmes e muitos cado retroativamente), City in Fear, 1980 programas de TV e episódios de seriados (também de Jud Taylor), Fun and Games, creditados a esse nome (http://www.imdb. 1980 (Paul Bogart); No Limite da Realidade com/name/nm0000647/). Não só diretores (Twilight Zone: The Movie), 1983 (assumido usaram desse recurso, roteiristas também, pelo 2º. Diretor assistente, Anderson House); como é destacado no “site” IMDb. Há varia- Operação Fantasmas (Ghost Fever), 1987 ções do próprio nome “oficial”, como Alan e (dirigido por Lee Madden), Catchfire (Atraída Alana Smithy, roteiristas do filme Filhos da pelo Perigo), 1990 (o de , com Escuridão (Hidden 3D), de 2011, dirigido por o VHS subsequente com o título Backtrack, Anthoine Thomas. aí sim assumido pelo diretor, como versão do 3. No artigo “Almost Famous:...” diretor e pelo qual recebeu o crédito); Solar da revista on line Postscripts são descritos Crisis, 1990 (dirigido por Richard C. Sarafian); outros nomes que têm sido utilizados ao longo Os Pássaros 2 (The Birds II: Land´s End), 1994 do tempo para “acomodar” essa questão de (de Rick Rosenthal); Bloodsucking Pharaohs retirada de responsabilidade, ou não querer in Pittisburgh, 1991 (de Dean Tschetter); expor o seu nome indevidamente. Foi muito Hellraiser IV: Vingança Maldita (Hellraiser: frequente no meio teatral, principalmente Bloodline), 1996 (dirigido por Kevin Yagher); nas produções americanas apresentadas Cicatrizes do Passado (River Made to Drown na Broadway. No meio teatral, pelo menos In), 1999 (dirigido por James Merendino); quatro nomes foram usados de forma “gené- Old 37, 2015 (dirigido por Christian Winters; rica’: George Spelvin e Walter Plinge (para Nutt – Nasceu Burro, Não Aprendeu Nada, personagens masculinos) e Georgette Spelvin Esqueceu a Metade (The Nutt House), 1992, e Georgina Spelvin (para personagens femini- escrito por (creditado como nas). Sabe-se hoje de cerca de 67x em que isso Peter Perkinson), (como R.O. ocorreu, desde 1929. O nome genérico para C. Sandstorm), Ivan Raimi (como Alan Smithee personagens femininas só foi usado durante Sr.) e (como Alan Smithee Jr.).

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5. Casos ainda mais curiosos cinematográfica em 2000, continuou sendo são os filmes que na sua exibição no cinema utilizado fora da indústria cinematográfica tiveram os créditos de seus diretores reais, em outras mídias e em projetos de filmes que mas quando reeditados para TV, TV a Cabo, não estão sob o domínio da DGA. Alguns video- versões de companhias aéreas, ou por outros clipes creditados a Smithee: “I Will Always motivos, o crédito foi dado ao “Smithee”: Love You”, , 1992, da trilha Duna (Dune), 1984 (dirigido por , sonora de O Guarda-Costas (The Bodyguard), na TV não só a direção, mas o crédito do dirigida por Nick Brandt; “Digging the roteiro foi modificado para Judas Booth); Grave”, Faith No More, 1995 (dirigido por Gunhed (Ganheddo), 1989, (lançado nos Marcos Roboy); “Kiss the Rain”, Billie Myers, Estados Unidos, dirigido por Masato Harada); 1998; “Waiting for Tonight”, , A Árvore da Maldição (The Guardian), 1990 1999 (dirigido por ); “Lose (apenas para a versão editada para a TV a My Breath”, Destiny´s Child, 2005 (dirigido Cabo, dirigida por , creditada por Marc Klasfeld). a “Alan Von Smithee”); Perfume de Mulher 8. Em Hollywood, com a retirada (Scent of a Woman), 1992 (versões de compa- “oficial” do “genérico” Smithee, qualquer nhias aéreas, dirigido por ), retirada de responsabilidade exige agora uma Rudy, 1993, editado para televisão, dirigido negociação direta com a DGA. Exemplo dessa por David Anspaugh; Fogo Contra Fogo (Heat), situação aconteceu com o filme Supernova 1995 (quando editado para televisão, dirigido (idem) (da MGM), 2000, dirigido por Walter por ); Encontro Marcado (Meet Hill, que se retirou do projeto, e foi criado, Joe Black), 1998 (quando editado para exibi- através de um acordo entre a MGM, Hill e a ção em voos comerciais e televisão a cabo, de DGA, o nome substituto “Thomas Lee“. Martin Brest); O Informante (The Insider), Estes três filmes comentados aqui são 1999 (quando editado para televisão, dirigido “indicados” apenas para públicos específi- por Michael Mann). cos, e cinéfilos inveterados com boa bagagem 6. Trabalhos para televisão fílmica, que assistem a filmes que são tão também sofreram o mesmo processo de ruins, mas tão ruins mesmo, que passam a “perda” da responsabilidade e foram diri- ser “ótimos” na falta de outra classificação. gidos por algum “Smithee”: série MacGyver Serve também para aqueles obsessivos que – Profissão: Perigo (MacGyver) 1ª. tempo- fazem questão de ter os piores, ou seriam os rada, episódios “Pilot” (dirigido por Jerrold “melhores”, produtos que o cinema já reali- Freedman) e “The Heist”, 1985; Além da zou! São exemplos didáticos de como não Imaginação (The New Twlight Zone), 1ª. fazer um filme policial, uma comédia, ou o temporada, episódio 7 “Teacher´s Aide/ gênero que seja. Eu iria até mais longe, de Paladino of the Lost Hour”, 1985 (dirigido como NÃO fazer um filme! por Gilbert Cates); La Femme Nikita, “Catch a Falling Star”, episódio 16, da 4ª. temporada em 2000 (dirigido por Joseph L. Scanlan). 7. Interessante que o pseudô- nimo, mesmo tendo sido banido da indústria

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REFERÊNCIAS

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