O Espelho De Volpi: O Artista, a Crítica E São Paulo Nos Anos 1940 E 1950
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Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ciências Humanas MARCOS PEDRO MAGALHÃES ROSA O ESPELHO DE VOLPI: O ARTISTA, A CRÍTICA E SÃO PAULO NOS ANOS 1940 E 1950 Campinas 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS A comissão examinadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação, composta pelos professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada no dia 10 de Dezembro de 2015, considerou o candidato Marcos Pedro Magalhães Rosa aprovado. Profª. Drª. Heloísa André Pontes Profª. Drª. Ana Paula Cavalcanti Simioni Prof. Dr. Luiz Gustavo Freitas Rossi A ata de defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno. Resumo O pintor Alfredo Volpi (1896 – 1999) nasceu na Itália e se formou em São Paulo no contato com artistas imigrantes. Ele é considerado, por diversos estudiosos, um dos mais importantes pintores brasileiros. Vários críticos dedicaram-se às suas obras, quase sempre recorrendo a uma narrativa a respeito de sua biografia e personalidade. Essa forma de analisar Volpi, embora exista até hoje, remonta a Mário de Andrade (1893 –1945) e Mário Pedrosa (1900 –1981). Mais precisamente, ao período entre 1944 e 1957, quando, em São Paulo e no Rio de Janeiro, aconteceram importantes exposições do artista. Respectivamente, a primeira mostra individual e a primeira retrospectiva. É nesse período que Volpi é abrasileirado e ascende ao nosso panteão. Tomei essa personalidade pública como foco de análise, o que significa que me debrucei sobre a relação entre os críticos de arte e o próprio artista no período em que Volpi atuava. Há um diálogo entre as expectativas dos primeiros e a produção do segundo. Nessa conversa, mais ou menos tensa, a noção de pessoa, tema clássico da Antropologia, é mobilizada para embaralhar a posição do sujeito e sua obra. Nessa dissertação, ambos, pintor e pintura, criam-se simultaneamente e dividem a prerrogativa heurística para apreensão do processo. É, ao abrasileirar Volpi, que os críticos conseguem renovar a história da arte e relativizar os cânones que já haviam se estabelecido. Ou seja, é ao instituir uma personalidade específica, um proletário com pendor artesanal e isolado no subúrbio de São Paulo, que os críticos e o artista fizeram a história da arte nacional se desenrolar. Esse processo, analisado por outro ângulo, revelou a importância das redes de artistas imigrantes em São Paulo e a centralidade de instituições, como os colégios técnicos, que, na capital paulista, possibilitaram o surgimento de uma iconografia brasileira feita por imigrantes e filhos de imigrantes. O artista, por meio de sua obra, e a crítica de arte são espelhados um no outro. Ambos revelam uma negociação ao redor das ideias de nacionalismo e modernidade que situa e consagra Alfredo Volpi. Abstract The Mirror of Volpi: the artist, the critic and Sao Paulo in the 1940-50’s The painter Alfredo Volpi (1896-1999) was born in Italy and raised in Sao Paulo beside immigrant artists. He is also considered, by many scholars, one of the most important Brazilian painters. Several critics analyzed his work, almost always resorting to a narrative regarding his biography and personality. This way of analyzing Volpi, although still present nowadays, date back to Mario de Andrade (1893-1945) and Mario Pedrosa (1900-1981). More specifically, to the period between 1944 e 1957, when, in Sao Paulo and Rio de Janeiro, important exposées of Volpi‟s work took place. Respectively, his first individual display and the first retrospective. It is in this precise period that Volpi pointed Brazilian and ascend to our pantheon. I took this public personality as analytical focus, which means that I leaned over the relation between art critics and the artist himself, as well as the dialogue between their expectations and his artistic production. In this relatively tense conversation, the notion of personhood, a classical anthropological topic, is deployed to shuffle the subject‟s position and his work. In this dissertation, both painter and painting create themselves simultaneously and divide the heuristic prerogative for that process‟ apprehension. In making Volpi Brazilian, the critics manage to renew the history of art and render relative established canons. Put it differently, in instituting a specific personality – an isolated proletarian man living in the Sao Paulo‟s suburbs with artistic penchant – the artist and his critics uncoiled the national history of art. That process, viewed by another angle, revealed the importance of immigrant relation nets and also the centrality of institutions, such as the technical schools that, in sao Paulo, made possible the outcome of an Brazilian iconography created by immigrants and their children. The artist, through his work, and the art critic are mirrored in one another. They both reveal a negotiation surrounding ideas about nationalism and modernity that locate and consecrate Alfredo Volpi. Agradecimentos Começo receoso esse agradecimento. Ele só pode ser uma traição. São muitas as pessoas a quem devo e a economia de palavras e memórias me obrigarão a deixar a maioria de lado. Continuo a escrever com o dever da justiça: algumas pessoas são tão importantes que não mencioná-las seria pior que a deslealdade. Evidentemente há a infinidade de funcionários que não me lembro do nome e muitos que só conheço pelo resultado de seus trabalhos: dentre eles está a maioria dos funcionários dos arquivos, bibliotecas e museus que frequentei. Os funcionários do MASP, do MAC, do MAM-RIO, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, da biblioteca Alfredo Volpi, da biblioteca do Instituto de Artes, de Estudos da Linguagem e o de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. Da biblioteca da Escola de Comunicação e Artes da USP, do centro de documentação Alexandre Eulálio, do arquivo Multimeios do Centro Cultural São Paulo. E também os funcionários da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, que patrocinou essa pesquisa. À Camila, devo agradecer pela ajuda em momentos difíceis e pelas risadas. À Carol, Adriana, Jana, Chun, Babi, Adriane, Thainã, Thami e Raquel por viver junto. À Ju, Allão, Anita e Ligia por terem sido minha casa! Por todas as cervejas, conversas e descobertas, eu agradeço aos colegas da Bienal. Em especial à Ju, Tânia, Maria, Vini, Caio, Fabana e Naka. Ao Lucas, que foi meu professor, e à Rê, por me mostrar a beleza e a arquitetura dos caminhos paralelos. Por todas as sextas feiras, trocas e divisões de angústias, eu agradeço aos colegas de Mestrado. Em especial ao Rafa, com quem tenho muito a aprender. À Tatá, pela facilidade que é estar junto. À Ju, por dividir comigo aquelas águas escuras. À Andrea, pelas leves confusões. Ao Gustavo, Sobral e Vitor que também leram o meu projeto e o comentaram com generosidade. À minha mãe que sempre esteve comigo, em todos os sentidos e em todas as dimensões. Ela, eu carrego nos espaços entre as letras e no coração. Ao meu pai, pelo apoio e pelo mistério que, às vezes, se abre ao bom descobrimento. À tia Lúcia, em quem sempre penso com carinho. À minha vó que me mostra a beleza das rochas. À minha outra vó, que me ensinou que uma vida mal vivida é veneno. Ao Marco Antônio Mastrobuono, que aceitou me receber. Na nossa conversa eu pude ver um Volpi vivo. Aos professores do centro de pesquisa de Arte & Fotografia que me receberam como aluno ouvinte. Dentre eles, um agradecimento especial a Tadeu Chiarelli. Aos meus professores do IFCH, pelo aprendizado e generosidade. Dentre eles, agradeço especialmente a Jorge Coli, Guita Grin Debert e Luiz Marques, que me ensinaram a ver. O professor Omar está no começo dessa pesquisa e ainda o reencontro quando me pego pensando de uma ou outra forma. Silvana Rubino participa dessa pesquisa não só como professora. Agradeço a ela e ao Sérgio Miceli pelos comentários certeiros na banca de qualificação. À Professora Ana Paula Cavalcanti Simioni e ao Professor Gustavo Freitas Rossi, que compuseram a banca de defesa e comentaram a minha dissertação de forma cuidadosa e instigante. À Helô, minha orientadora, por tudo. Hoje é difícil mensurar o tamanho de sua importância. - Você apostou em mim e nessa dissertação; você possibilitou o espaço para que eu pudesse pensar sobre Volpi. Só em diálogo com você, eu pude estruturar a maioria das minhas ideias... E sua leitura atenta e presença segura são enormes privilégios que carrego. OBRIGADO Suma rio Introdução .............................................................. 10 O gênio do lugar..................................................... 29 O círculo................................................................. 49 A linha .................................................................... 67 Epílogo ................................................................... 91 Referência bibliográfica ......................................... 99 10 Introduça o Alfredo Volpi viveu quase cem anos (1896 – 1988) e foi pintor da década de 1910 a 1980. Mesmo hoje, quase trinta anos após sua morte, sua presença é marcante: em vida foi considerado o maior artista nacional e no presente é destaque do nosso panteão.1 Ele atravessou, ainda vivo, toda a história da arte moderna do país. E sua trajetória alinhava períodos que, aos olhos da historiografia consagrada, são marcados por rompimento. Sua carreira inicia-se em São Paulo, no meio migrante, provavelmente na década de 1910, num contexto aparentemente à margem da célebre semana de 1922, mas que nem por isso, passou à baila do modernismo, ela perpassou a década de 1940 e 1950 com a consolidação de um abstracionismo internacional e, mais tarde, o neoconcretismo. Trata-se da história de um pintor que, só recentemente, foi sistematizada no formato de biografia.2 Ao longo dos anos, ela era invocada quase como uma lenda ou uma mitologia. Várias pessoas o descreviam, em especial críticos de arte, cada uma dizia coisas diferentes, mas todas com um núcleo comum que pode ser bem visualizado no convite de uma exposição realizada em 2007, no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba.