O Pensamento Crítico De Álvares De Azevedo Por Meio De Seus Prefácios: Antagonismo E Dissolução
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA NATÁLIA GONÇALVES DE SOUZA SANTOS O pensamento crítico de Álvares de Azevedo por meio de seus prefácios: antagonismo e dissolução São Paulo 2012 2 NATÁLIA GONÇALVES DE SOUZA SANTOS O pensamento crítico de Álvares de Azevedo por meio de seus prefácios: antagonismo e dissolução Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Vieira Martins São Paulo 2012 3 À minha mãe e amiga Maria, Ao meu pai Ismael ( In memoriam ), que me apoiou mesmo sem entender, Ao Rodrigo, que sempre me atrapalhou nas horas necessárias. 4 AGRADECIMENTOS Às agências de fomento Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que financiou a maior parte desse trabalho, e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que o financiou inicialmente. À Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas pelo espaço rico em ideias, tanto nas pessoas, quanto nos livros da Biblioteca Florestan Fernandes. Aos funcionários do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada pelo suporte institucional e, especialmente, ao funcionário Luiz de Mattos Alves, pela atenção no atendimento e prestatividade. Aos professores Cilaine Alves Cunha e Wilton José Marques pela leitura minuciosa do meu texto de qualificação e pelas generosas contribuições e correções dadas no momento do exame. Agradeço em especial ao professor Wilton pela atenção e disponibilidade em me ajudar, desde os tempos da graduação, e pela existência do grupo de estudos NEO (Núcleo de Estudos Oitocentistas), um espaço de discussão e trocas acadêmicas. Ao meu orientador, professor Eduardo Vieira Martins, pelo acompanhamento constante do meu trabalho e pela preciosa parceria. À minha família, aos amigos e a todos àqueles que contribuíram de forma direta ou indireta com a realização desse trabalho. 5 CHATTERTON: l'Angleterre est un vaisseau. Notre île en a la forme: la proue tournée au nord, elle est comme à l'ancre au milieu des mers, surveillant le continent. Sans cesse elle tire de ses flancs d'autres vaisseaux faits à son image, et qui vont la représenter sur toutes les côtes du monde. Mais c'est à bord du grand navire qu'est notre ouvrage à tous. Le roi, les lords, les communes sont au pavillon, au gouvernail et à la boussole; nous autres, nous devons tous avoir les mains aux cordages, monter aux mâts, tendre les voiles et charger les canons; nous sommes tous de l'équipage, et nul n'est inutile dans la manœuvre de notre glorieux navire. M. BECKFORD: [...] Que diable peut faire le Poète dans la manœuvre? CHATTERTON: Il lit dans les astres la route que nous montre le doigt du Seigneur. Chatterton , Alfred de Vigny (1835) 6 RESUMO Este trabalho analisa os prefácios aos livros Lira dos vinte anos , O conde Lopo e Macário , do escritor romântico Álvares de Azevedo (1831 – 1852), buscando discernir e sistematizar os pressupostos básicos do pensamento crítico presente nesses textos. Visando contextualizar as discussões ali promovidas em face do debate romântico no Brasil e no exterior, a pesquisa recorre também a outros ensaios críticos do autor para o esclarecimento de questões levantadas pelos prefácios e, eventualmente, a alguns de seus poemas e a outras de suas obras. O cotejo entre os textos do corpus propiciou a reconstrução de uma rica tessitura de referências bibliográficas, especialmente francesas, caso de Théophile Gautier, e portuguesas, como Lopes de Mendonça, às quais o autor constantemente se volta. Essa tessitura explicita um vasto horizonte de leituras, que vai muito além de Byron e Musset, fontes mais recorrentes entre os românticos da segunda geração brasileira, projetando a figura eminente do crítico literário que já se entrevia em Azevedo, mesmo nos seus primeiros ensaios. O distanciamento dos esforços nacionalistas, principal objetivo da maioria dos críticos e escritores brasileiros no oitocentos, permitiu que Azevedo se vinculasse a uma outra concepção de crítica literária, de origem alemã, elaborada sobretudo pelos irmãos Schlegel e por Novalis. Essa aproximação, que pode ter ocorrido tanto por via direta, quanto por meio de traduções francesas, portuguesas, ou mesmo, inglesas, fez com que Álvares de Azevedo se posicionasse de maneira distinta da de seus contemporâneos em relação a sua própria composição e a dos autores mencionados ao longo dos prefácios e ensaios. PALAVRAS-CHAVE: Romantismo, Álvares de Azevedo, crítica literária. 7 ABSTRACT This research investigates the prefaces to the books Lira dos vinte anos , O conde Lopo and Macário , by the Romantic writer Álvares de Azevedo (1831-1852). Its purpose is to devise and systematize the fundamental conjectures of the critical thinking found in these texts. With a view to contextualizing the discussions they provide in parallel with the Romantic debate taking place both in Brazil and abroad, this research makes use of yet other critical essays by the author in order to elucidate questions raised in the prefaces and, occasionally, in some of his poems and other works. Confronting the texts from the corpus made it possible to reconstitute a rich array of bibliographic references, especially French and Portuguese, as Théophile Gautier and Lopes de Mendonça, to which the author constantly turns. Such an array evinces a vast horizon of readings that goes far beyond Byron and Musset – the most common sources among the Brazilian second generation of Romantics – projecting the eminent figure of the foreseeable literary critic in Azevedo even in his primitive essays. His distancing from nationalist struggles, major goal of the majority of Brazilian critics and writers during the 1800s, allowed Azevedo to relate to another conception of literary criticism, one of German origin, designed mainly by the Schlegel brothers and Novalis. Such approximation, which may have taken place through both direct contact and French, Portuguese or even English translations, made Álvares de Azevedo take a different stand from that of his contemporaries regarding his own production and that of the authors mentioned throughout his prefaces and essays. KEY WORDS: Romanticism, Álvares de Azevedo, literary criticism. 8 SUMÁRIO Considerações iniciais ................................................................................................................... 9 O corpus e os objetivos ............................................................................................................. 10 Uma obra fragmentada .............................................................................................................. 15 Algumas considerações acerca da fortuna crítica de Álvares de Azevedo ............................... 20 Capítulo I - Alicerces do pensamento alvaresiano: o prefácio à Lira dos vinte anos ................... 31 Primeiro prefácio à Lira dos vinte anos .................................................................................... 32 Segundo prefácio à Lira dos vinte anos .................................................................................... 43 Capítulo II - A autonomia frente ao fim moral da obra de arte: o prefácio a’ O conde Lopo ........ 59 A classificação dos tipos de belo .............................................................................................. 63 Uma concepção de crítica literária ............................................................................................ 73 O fim moral da obra de arte ...................................................................................................... 78 O contexto revolucionário ......................................................................................................... 87 Capítulo III - Os caminhos do dramático em Puff : o prefácio ao Macário ................................... 90 O protótipo dramático de Álvares de Azevedo ......................................................................... 94 Uma concepção de tradução literária ........................................................................................ 102 Os (des)caminhos da forma literária ......................................................................................... 107 Palavras finais ............................................................................................................................... 116 Referências bibliográficas ............................................................................................................. 121 9 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 10 Considerações iniciais O corpus e os objetivos A obra que nos legou o escritor romântico Manoel Antônio Álvares de Azevedo (1831 – 1852) pode ser considerada pequena em número, mas extensa se relacionada ao curto período de produção do autor, possivelmente os anos em que frequentou a Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de São Paulo, entre 1848 e 1851, e se levarmos em consideração a sua morte prematura, que se deu antes mesmo que ele completasse 21 anos de idade. Ela compreende um livro de poemas, Lira dos vinte anos , um texto dramático, Macário , uma novela, Noite na taverna , duas narrativas em verso, O conde Lopo e O poema do frade , e uma narrativa em prosa, O livro de Fra. Gondicário , alguns poemas