FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC)

Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo.

Franco, Valdomiro Vaz. Valdomiro Vaz Fraco (depoimento, 2012). , CPDOC/FGV, 2012. 53 p.

Valdomiro Vaz Franco

(depoimento, 2012)

Rio de Janeiro

2014 Nome do entrevistado: Valdormiro Vaz Franco

Local da entrevista: São Paulo, SP

Data da entrevista: 16 de março de 2012

Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral.

Entrevistadores: Bernardo Buarque de Hollanda (CPDOC/FGV)

Transcrição: Fernanda de Souza Antunes

Data da transcrição: 03 de maio de 2012

Conferência da transcrição : Maíra Poleto Mielli

Data da conferência: 27 de outubro de 2012

** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Luiz Carlos Ferreira em 24/09/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC.

P. F. – A gente queria que começasse falando um pouco das suas origens. Onde o senhor nasceu, quando o senhor nasceu, como que era a sua família?

V. F. – Você sabe que eu nasci em Criciúma, e claro que a gente sempre fala que, todos os jogadores de futebol tem aquele ditado que é de classe humilde. Então eu, mais do que nunca, meu pai era mineiro, trabalhava na mina de carvão, e a minha mãe era dona de casa, então a gente era mais um daqueles que tinha que trabalhar de manhã para comer de noite. E a gente era feliz, e lá em Criciúma, nasci na época de carnaval.

P. F. – Que dia o senhor nasceu mesmo?

V. F. – Eu nasci 17 de fevereiro de 1946, que eu sempre falo, que minha mãe sempre falava que tem aquele ditado quando nasce o filho, “que tu nasceu com bumbum para a lua”. E graças a Deus acho que ela falou a verdade, porque eu nasci com o bumbum para a lua mesmo, porque eu acho que, claro que a gente consegue ganhar as coisas com trabalho e honestidade. E eu, mais do que nunca, sempre procurei trabalhar, fazer as coisas certas, então acho que isso aí valeu a pena.

P. F. – Valdomiro, como era o nome do seu pai, da sua mãe?

V. F. – Meu pai chamava José Pedro Vaz Franco, e a minha mãe Constança Maria Franco.

P. F. – E eles eram ali da região mesmo?

V. F. – É, da região. Às vezes o pessoal falava: “Valdomiro, por que você saiu tão bronzeado assim, dessa cor?”. Porque a minha mãe era italiana dos olhos azuis, e o meu pai era bem moreno. Era dois irmãos, era eu e um outro irmão, por parte de mãe.

P. F. – Mais velho ou mais novo?

V. F. – O outro é mais novo, e tinha mais outro irmão, até por sinal que já é de futebol. Tem o Maicon1, que é lateral da Inter de Milão, que a mãe dele é minha sobrinha.

P. F. – Família com tradição.

V. F. – O meu irmão, o mais velho, é o pai dela.

1 Maicon Douglas Sisenando, atua como lateral direito. Foi jogador da Internazionale-ITA e atualmente joga pelo Manchester City, na Inglaterra. P. F. – Certo.

V. F. – Então era avô do Maicon. E até hoje, a gente trabalha, faz uma coisa que a gente gosta, eu acho que meu pai e minha mãe foram pessoas que me ensinaram muita coisa boa, devo muito a minha educação. Porque sempre a gente fala que às vezes não é a gente ser milionário para ter boa conduta, ser honesto, não. Eu devo muito a minha educação ao meu pai e a minha mãe.

P. F. – Seu pai era mineiro, trabalhava na mina?

V. F. – Meu pai era mineiro, trabalhava na mina.

P. F. – Sempre trabalhou na mina?

V. F. – Sempre trabalhou na mina, depois ficou aposentado, e a minha mãe era dona de casa.

P. F. – Mina era um trabalho difícil, era um trabalho perigoso...

V. F. – Difícil, era boca de mina, entrava para dentro, quase 200, 300 metros para dentro, ou senão tinha um poço, que eles falavam que era o poço, que era cavado para baixo, então meu pai se aposentou da mina de carvão.

P. F. – Você lembra da mina, você tem recordação?

V. F. – Eu me lembro, porque eu tive a oportunidade não de trabalhar na mina, eu tive a oportunidade de trabalhar em cima, porque não tinha idade, na época, para trabalhar em baixo da mina, então chegava os carros de carvão, e eu pegava ali e levava até, na época que tinha, vamos dizer assim, o caixa. Então despejava lá o carvão, e depois aonde o trem..., as máquinas vinham pegar. Trabalhei 11 meses.

P. F. – Que idade você tinha?

V. F. – Eu tinha, eu acho, que 16 anos.

P. F. – Certo. E era comum isso de pegar família, filho...

V. F. – Era comum na época.

P. F. – Filho do mineiro trabalhava...?

V. F. – Filho do mineiro trabalhava na mina.

P. F. – Seu avô foi mineiro também, não? Você sabe?

V. F. – Não me lembro, mas acho que foi mineiro. O pai do meu pai.

P. F. – O pai do seu pai? Então tem uma tradição de mineiros...

V. F. – É tradição. Na época, em Criciúma, a mão-de-obra que tinha era mina de carvão.

P. F. – Certo.

V. F. – Na época, ou você era mineiro, ou não tinha mais nada para fazer. Criciúma ficou até hoje a capital do carvão.

P.F. – É famosa por isso.

V.F. –Então era mina de carvão e carvão.

P. F. – Você chegou a conhecer os seus avós?

V. F. – Conheci os meus avós, por parte do meu pai eu conheci. Por parte da minha mãe não.

P. F. – Mas ele já não estava na mina?

V. F. – Não, já não estava mais na mina, já era aposentado, já velho.

P. F. – E seu pai jogava futebol?

V. F. – Ele falava que jogava [risos]. Ele falava que era ponta-direita. Às vezes a gente brincava, porque ele não era de Criciúma, ele era de Tubarão.

P. F. – Certo.

V. F. – Ele nasceu em Tubarão, e a minha mãe nasceu em Araranguá. E ele sempre falava: “Eu joguei futebol. Eu fui um ponta-direita.”. Mas então a gente falava: “Mas que mentira danada!” [risos].

P. F. – Mas é que tinham muitos times de futebol das minas, não tinha?

V. F. – Tinha. Eu, praticamente, eu saí de um time da mina de carvão.

P. F. – Ah é? Conta um pouco disso.

V. F. – Da São Marcos, que tinha lá onde eu trabalhava.

P. F. – Nessa época que o senhor trabalhava lá?

V. F. – É, eu saí dali. Dali eu saí para o Comerciário, que hoje que é o Criciúma. O Comerciário na época hoje é o Criciúma. Então eu saí dali da minha de carvão para jogar no Comerciário. Ainda joguei nas categorias de base, porque eu fui ser titular do Comerciário, na época, em 1967.

P. F. – Então, espera aí, deixa eu entender. Você foi trabalhar na mina, e lá você começou a jogar futebol?

V. F. – Na mina, e lá comecei a jogar futebol.

P. F. – Antes você jogava na rua?

V. F. – Jogava na rua.

P. F. – Pelada?

V. F. – Jogava bola de borracha. É o que a gente sempre fala, na época a gente tinha mais domínio de bola, condução de bola, porque trabalhava muito com essas bolinhas de borracha. Hoje já não se vê mais isso ai.

C. B. – Teu irmão jogava também?

V. F. – Meu irmão jogava, dizem que jogava muito bem. Mas ele era um pouquinho mais cheinho, e ele hoje é aposentado. Não trabalhou na mina, ele trabalhou em uma Companhia Próspera, que era do governo na época, do governo federal, então ele trabalhou em cima, como eletricista, e hoje é aposentado. Hoje curte mais a praia, vai mais para a praia.

P. F. – Você lembra dos times que tinham nas minas?

V. F. – Ah, lembro! Lembro que tinha o Metropol – Metropol não, Metropol já era um time profissional -, mas tinha o São Marcos, tinha União, tinha Naspoline, tinha o Forquilhinha, que hoje é a cidade de Forquilhinha, que também nasceu lá em Forquilhinha a doutora, até faleceu lá naquele terremoto que teve no Haiti, que também cuidava muito de criança, a doutora ...

P. F. – Zilda Arns.

V. F. – E tinha esses times que disputavam o campeonato.

P. F. – O campeonato dos mineiros?

V. F. – O campeonato dos mineiros. Você sabe que até foi a minha sorte.

P. F. – Por quê?

V. F. – Por causa que eu trabalhava e jogava futebol, e se machucava. E então eu pegava o seguro, e estavam vendo que eu estava pegando muito seguro [risos], e não deixaram eu completar um ano. Antes de um ano eles botaram eu para a rua, porque se eu completasse um ano, não podiam mais colocar para a rua, porque tinha estabilidade na companhia. Aí botaram para a rua, ai queriam me fichar de novo, mas sem direito a nada. Aqueles 11 meses que eu tinha...

P. F. – Não ia contar?

V. F. – Não ia contar. Peguei, vim para a casa dos meus pais, e recebi um convite, na época, para vir treinar no Comerciário.

P. F. – Porque o caminho natural seria você ir para o Metropol, se fosse considerado bom, é isso?

V. F. – Não, é que o Metropol tinha um time bom.

P. F. – Disputava campeonato...

V. F. – É, disputava o campeonato e tudo. Mas eu recebi o convite do Comerciário, porque o Comerciário também era um time... Eram os dois times da cidade. O Metropol, claro, pelo nível que tinha, que era o time mais popular, disputava a Taça Brasil, na época, e o Comerciário não, o Comerciário é um time mais... Mas eu recebi um convite do Comerciário para treinar, e treinei duas vezes, e depois de um mês eu já fui morar na concentração, aí já ganhava alimentação, já ganhava um trocadinho. Eu fui um cara sempre que pensei muito lá na frente, e depois de um mês, eu estava recebendo, na época, 30 cruzeiros por mês. Então eu fazia o quê? Eu ficava com cinco cruzeiros para mim, o outro eu dava para minha mãe e para o meu pai, e mais cinco eu comprei um terreno, e pagava cinco cruzeiros por mês para pagar o terreno. Então eu já pensava em alguma coisa, no futuro, porque a gente era de classe pobre, meu pai era aposentado de carvão, minha mãe dona de casa, a gente passava dificuldade, mas a minha mãe nunca deixou, e meu pai, nunca deixaram a gente passar fome. Nunca faltou o feijão e o arroz, nunca faltou. Podia faltar a carne, mas feijão, arroz nunca faltou, graças a Deus. A gente era feliz, com aquele pouco que a gente tinha a gente era feliz.

P. F. – Valdomiro, deixa te perguntar uma coisa antes da gente avançar mais na tua carreira, essas cidades onde têm minas, mineiros, tem fama de serem cidades que tem uma comunidade muito forte, as pessoas tem um sentimento de pertencer, ser mineiro. Em Criciúma era assim, ter um senso de comunidade, de apoio, de ajuda mútua?

V. F. –Na época era. O mineiro ganhava muito bem na época. Eu vou citar para você hoje os professores, como os professores eram antes. Hoje os professores são o quê? A mesma coisa o mineiro, porque em Criciúma só tinha mina de carvão, e ganhavam muito bem. Tinha mineiro que, na época, tinha casa, ganhava bem. Chegava um mineiro em uma loja lá em Criciúma para comprar alguma coisa, o primeiro a ser atendido eram eles, ganhava muito bem. Hoje não, hoje já não existe mais mina lá em Criciúma, na cidade de Criciúma já não existe mais. Nessa época era muito forte. O comércio de Criciúma era muito forte por causa de quê? Por causa dos mineiros.

P. F. – Você acha que se você não tivesse ido para o futebol, você teria sido mineiro, provavelmente?

V. F. – Se por acaso eles não tivessem botado eu para a rua, se deixasse eu completar um ano na mina, hoje eu era um aposentado da mina.

P. F. – Quase com certeza?

V. F. – É, com certeza que eu era um aposentado da mina. Isso ai eu falo sempre. Às vezes eu encontro alguns amigos meus, e às vezes eu digo, minha mãe falou mesmo uma coisa certa, que eu tinha nascido com...[risos]. Senão hoje eu era mais um aposentado da mina. Como aposentado da mina hoje, como a maioria que estão lá aposentados da mina, tem problema de doença, de pulmão, por causa do carvão. Claro que hoje é outra coisa, não tem mais aquele negócio que fura coisa, hoje é tudo à máquina. E muitos daqueles que trabalharam naquela época, hoje estão lá doentes, estão em uma cama. Por sinal eu conheço um senhor lá que ele usa oxigênio o dia todo. Aqueles tubos de oxigênio, o dia todo, para sobreviver. Se tirar dele, ele morre.

P. F. – E mineiro tem fama de ser muito unido, não é? Tem sindicato, essas coisas...

V. F. – Lá é. Tinha um sindicato, na época teve um sindicato lá, que era muita união. E Criciúma ficou marcada, na época, pelas greves.

P. F. – Isso.

V. F. – Greve de sindicato, os mineiros eram muito unidos, tinha o sindicato. Hoje, nem sindicato, quase não tem mais.

P. F. – Mas você lembra disso, dessas greves?

V. F. – Lembro das greves que tinha.

C. B. – Seu pai participava desses movimentos?

V. F. – Meu pai participava. Participava muito das greves. O meu pai era uma pessoa que estava sempre na linha de frente, então ele era daquele que reivindicava as coisas para os mineiros. E tinha razão, porque os mineiros passavam muita dificuldade, e isso daí era uma das coisas que ele sempre falava, que tinha que reivindicar aquilo que era justo para eles.

P. F. – Aí você escapou de ser mineiro [risos], foi para o Comerciário. Como foi isso?

V. F. – Foi um convite de um treinador, que já faleceu, Fumanchu2, até faleceu em um acidente de carro, e ele treinava as categorias de base do Comerciário, na época, e soube que eu morava em Pinheirinho, um bairro de Criciúma, e telefonou para mim, me convidou para treinar lá, e eu digo: “Tá, vou lá treinar”. Treinei duas vezes: -“Não, tem que ficar aqui”. E aí um mês eu fiquei em casa, eles pagavam a passagem, me davam a passagem de ônibus, ou se não ia a pé, ficava uns quatro quilômetros de onde eu morava até o campo do Comerciário, hoje Criciúma.

P. F. – Como era o treinamento?

2 Valdenir Norberto Izau Pereira. V. F. – O treinamento era forte.

P. F. – Era?

V. F. – Era forte, a gente treinava forte.

P. F. – Mais educação física, ou mais bola?

V. F. – Mais trabalho com bola, era bola. A gente trabalhava mais bola. Cabecear, bater na bola, correr com a bola, cruzar a bola, saber dominar, tudo aí que eu tive uma base com eles. Eu fiz, claro, o preparo físico também, mas pouco, mais era trabalho com bola, mais bola e bola. Passando mais lá na frente. Tinha um treinador que era da minha época, que sempre falava que tinha que dar mais trabalho com bola. Chamava Telê Santana, acho que todo mundo conhece. Claro, não foi meu treinador, mas eu aprendi um monte de coisa com ele.

P. F. – Que idade você tinha ali, quando você foi para o Comerciário?

V. F. – Quando eu fui para o Comerciário eu tinha 16 para 17 anos.

P. F. – Isso é 63/64?

V. F. – 65. 66 eu subi para o profissional, aí 67... eu era reserva no profissional em 66, eu nem jogava, sentava de vez em quando. Até eu me lembro, teve um amistoso contra o Vasco da Gama, o Vasco um bom time, aniversário do clube, do Comerciário, e eu joguei esse jogo. Aí 67 eu fui titular do Comerciário, eu fui artilheiro do Campeonato Catarinense com 18 gols. Eu jogava de ponta, na frente, e fui artilheiro do Campeonato Catarinense.

P. F. – Mas antes de você contar isso, como foi essa decisão de virar jogador? Seus pais apoiaram...? Porque você poderia ter sido mineiro, você ia ter um emprego...

V. F. – Sei lá. Você sabe que nem eu imaginava que eu ia ser jogador de futebol. Porque quando eu sai lá da São Marco que vim morar com a minha mãe e o meu pai, e o meu irmão, aí eu fui trabalhar na roça, plantava arroz, batatinha inglesa. E esse rapaz chegou lá...

P. F. – Porque era comum trabalhar na mina e trabalhar na roça ao mesmo tempo? Tinha uma rocinha...?

V. F. – É, mas quando eu sai da mina é que eu voltei para a minha casa.

P. F. – Ah, entendi.

V. F. – Então a gente plantava bastante coisa: arroz, batata inglesa, e esse rapaz apareceu.

C. B. – Como é que ele sabia que você jogava futebol?

V. F. – Por causa acho que da mina. Ele era muito olheiro. Ele era daquele que estava sempre olhando aqueles jogadores, ele revelou muitos jogadores lá.

P. F. – Esse Fumanchu?

V. F. – É. Até tem um outro rapaz, que depois foi para o Inter também, um tal de Chiquinho, foi para o Internacional, mas não ficou lá. Mas revelou um monte de jogadores, o Fumanchu. Então ele foi lá me convidar, o meu pai ficou assim, estava trabalhando em casa, na roça, e jogar futebol? Nem eu pensava que ia ser jogador de futebol, e de uma hora para outra... A minha carreira como jogador de futebol foi muito rápida, crescente assim, foi muito rápida mesmo, até eu mesmo sinto que... Porque eu me dedicava muito, eu era um daqueles que... Se você falava assim: “Valdomiro, tem que dar 10 voltas no campo”, eu ia lá e dava 10 voltas no campo. –“Valdomiro, na quarta-feira tem jogo, mas na quinta-feira eu te quero tal hora aqui, que nós vamos fazer um trabalho”. Tal hora eu estava lá, trabalhando. Porque, eu pensava comigo, que você como meu preparador físico, como meu treinador, queria me ajudar. E é assim que eu penso, hoje também. Mas tem muito cabeça dura, que às vezes a gente, o treinador, o preparador físico, ou mesmo um diretor de futebol, fala para ele: “Olha, tem que fazer isso”. Porque você sabe que o único jeito da pessoa vencer, o cara que é pobre vencer na vida... Eu digo sempre, até hoje, ou ele é cantor, ou joga futebol. Porque às vezes para pagar uma faculdade, não tem condições.

P. F. – Mas você acha que, então, essa sua disciplina, é isso que você está falando, desde o inicio foi um jogador disciplinado...

V. F. – Fui.

P. F. – Cumpria o que os técnicos, os preparadores...

V. F. – Cumpria.

P. F. – Tem a ver com as suas origens?

V. F. – Tem.

P. F. – Pelo fato de o seu pai ter sido mineiro...

V. F. – Tem sim, tem a ver muito, porque eu aprendi muito com meu pai, a minha mãe, o trabalho que eles passaram para dar aquele pouco que eles tinham para dar para a gente. Então isso aí eu acho que valorizou muito, e até hoje, esse valor que eu tenho, que eles me deram. E você sabe que às vezes a gente começa a voltar no tempo e voltar atrás. Claro que eu sempre falo: “Puxa vida, como eu era!”. Porque eu penso muito, às vezes, naqueles que foram meus amigos, e que se eu pudesse trazer eles junto comigo. Não precisava chegar até onde eu cheguei, mas chegar até a metade já estava ótimo. Meu pensamento é esse, meu pensamento sempre foi de dar oportunidade para aquelas pessoas que às vezes não tem e gostariam de ter uma oportunidade para eles também crescerem. Principalmente essas famílias humildes, desses garotos humildes. Hoje eu trabalho com os meninos, puxa vida, tem alguns ali que eu chego lá às vezes não tem nem comida. Então aquele pouco que eu posso dar, ah não, eu dou. Eu vejo assim, se eu pudesse tirar a minha roupa para dar, porque eu posso às vezes comprar outra, e eles não podem. Eu sou muito coração, como se diz. Eu aprendi muito na minha vida como jogador de futebol como homem, como adulto, como pessoa. Porque eu sempre falo o seguinte: quando tem umas pessoas mais velhas ali falando alguma coisa, se a gente puder chegar um pouquinho mais perto ali e ficar escutando o que eles estão falando, ali esta saindo coisa boa. Então a gente aprende, é isso que eu aprendi.

P. F. – Mas vamos voltar um pouquinho então, você começou a se destacar então, e aí eles te profissionalizaram?

V. F. – É, aí o Criciúma fez contrato comigo...

P. F. – Primeiro no Comerciário?

V. F. – No Comerciário, fez o contrato. Eu ganhava 30 cruzeiros por mês. Aí eu fui artilheiro do Campeonato Catarinense.

P. F. – O Comerciário estava na primeira divisão?

V. F. – O Comerciário estava na primeira, Campeonato Catarinense. Eu fui artilheiro do Campeonato Catarinense, aí terminou o meu contrato, meu contrato era um ano, e aí para renovar. Já tinha um monte de time aqui de São Paulo querendo que eu viesse embora, o Fluminense, aí o Comerciário queria renovar o contrato. Eu sei que eu disse: “Ah, agora dá para mim ganhar um pouquinho mais. [risos]

C. B. – Você já se viu ganhando dinheiro com futebol?

V. F. – É, com futebol. Tinha um senhor lá que era médico, se chamava doutor João, até hoje trabalha em Criciúma, médico, e era médico do Comerciário. E eu sei que, eu pedi, na época, para renovar contrato, de 30 reais3 eu pedi 900 cruzeiros. Poxa, era o maior salário, era um dinheiro! E o Comerciário não tinha esse dinheiro para me pagar. Aí o doutor João, esse médico, ganhou na loteria, na época [risos]. É, na Loteria da Caixa, que tinha aqueles cartões - não aqueles como hoje -, comprava aquelas loterias, os caras vendiam. Ele ganhou não sei quantos mil. Ele era médico do Criciúma, aí ele chegou e falou: “Valdomiro, vamos fazer o seguinte, o Comerciário não pode te pagar 900, então vamos fazer o seguinte, o Comerciário te paga 400 e eu pago para ti, seis meses, mais 500”. Então seis meses eu ganhava 900 cruzeiros por mês, e seis meses eu ia ganhar 400. Eu digo: “Tá, tudo bem, o senhor falando não precisa assinar nada”. Assinei o contrato e fiquei ganhando. Em 68, já em 68 isso ai. Quando chegou no mês de abril de 1968, eu estava disputando o Campeonato Catarinense, e eu já estava sendo o artilheiro de novo do Campeonato Catarinense, aí veio o Grêmio, o Internacional, falecido Tesourinha, que foi um dos grandes ponteiros do futebol brasileiro, foi ele e foi mais o doutor Marcelo Feijó, que era presidente do Inter. Carlinhos Duran, que faleceu, foi sogro do Assis, que é irmão do Ronaldinho Gaúcho, foi olhar um clássico lá,

3 O entrevistado queria se referir a moeda cruzeiro Comerciário e Metropol. Fiz gol, fui bem e tudo, e ai o Foguinho, que era o treinador, falecido Foguinho, que até treinou o Grêmio, até foi comentarista em uma emissora de rádio lá de Porto Alegre, da Gaúcha, era treinador do Inter. Aí chegou e falou que eu era muito quieto. Eu sempre fui muito. E tinha um lateral-esquerdo que se chamava Edson Madureira, que também jogava muito bem, aí foi eu e o Edson Madureira, esse rapaz, era o lateral- esquerda e eu fui.

P. F. – Contratado?

V. F. – Contratado pelo Inter, emprestado. Já no Inter fui ganhando um dinheirinho que já dava para... [risos]. Aí eu fui emprestado até o fim do ano.

P. F. – Então, antes da gente ir para o Inter, como é que foi para um garoto que era para ser mineiro virar um ídolo local? Você chegou a virar um ídolo, que virou artilheiro do campeonato. Como é que isso foi na sua cabeça? Você começava a ser reconhecido na rua? Como que era isso?

V. F. – Até namorada a gente já tinha conseguido [risos]. A minha esposa hoje, que é minha esposa hoje, até namorada a gente arrumou. Eu chegava no Criciúma, no centro ali, saia do treino, e às vezes ia jantar em um restaurante lá, e era tudo reconhecido, uma coisa que mudou a vida da gente. Mas não mudou eu, meu modo de ser, a humildade de querer mais ainda. Eu acho que a humildade, eu aprendi sempre, que a humildade em uma pessoa não é sinal de fraqueza, é sinal de grandeza. Isso eu aprendi, e até hoje eu sempre digo que a humildade na vida de uma pessoa é muito importante. E não mudou a minha cabeça, de eu querer mais coisa. Eu acho que, se eu cheguei a ser artilheiro do Campeonato Catarinense, e estava sendo artilheiro de novo, e chegava lá em Criciúma e todo mundo: –“Ah, o Valdomiro não sei o quê, vai jogar no Internacional, vai jogar no Fluminense, que o Fluminense quer contratar, o São Paulo queria contratar”. Mas não mudou o meu jeito de ser, aquele jeito do interior. Acontece às vezes aqui em São Paulo, até hoje acontece, às vezes, que chega muita gente do interior, até a conversa é diferente, e eu sempre fui um cara muito simples, muito humilde. E quando eu fui embora para Porto Alegre, até meu pai, a minha mãe, não queriam que eu fosse, mas eu queria ser jogador de futebol, já que cheguei até ali.

P. F. – Você tinha ídolos no futebol nessa fase?

V. F. – Eu gostava muito, na época, de escutar o , até, por sinal, eu tenho um filho que se chama Tales, o Tales que jogou no Corinthians, ponta-direita, até mora no interior aqui de São Paulo. Até o ano passado ele telefonou para mim, que eu botei o nome do meu guri de Tales por causa do Tales que era ponteira do Corinthians.

C. B. – Você era corintiano então? [riso]

V. F. – Não era corintiano, mas eu gostava...

P. F. – Do Tales?

V. F. – Do Tales, o nome, às vezes eu escutava o Fiori Gigliotti no rádio, porque televisão, na época, não... E eu gostava do jeito que ele jogava, pelo rádio que a gente escutava, e até, o ano passado, ele telefonou para mim, falando que mora aqui no interior, eu até tenho o telefone dele lá na minha casa. E para mim foi uma alegria muito grande ele ter telefonado, e até o meu guri falou com ele, e tudo, ficou muito contente dele saber. Claro que eu aprendi muito os cruzamentos. Tinha um jogador que jogava na Seleção da Iugoslávia, ponta-esquerda, que cruzava muito bem a bola. Então, já estava no Internacional, de vez em quando eu via esse jogo da Seleção da Iugoslávia, vendo ele cruzar. Eu treinava muito cruzamento, e até hoje todo mundo, às vezes cara de imprensa aqui em São Paulo, Datena, que antes trabalhava no Sporte, o “Japa”, o Luciano do Vale, eles perguntavam sempre para mim como é que eu cruzava aquelas bolas, como é que eu chegava na linha de fundo, na velocidade que eu ia, e cruzava. Eu digo: “É treinamento”, eu treinava muito. Sempre eu falo para mim, eu venci na vida pela minha persistência de querer fazer as coisas bem, e as pessoas que me ajudaram, os próprios treinadores, preparador físico, aqui em São Paulo, que mora hoje aqui, Dino Sani, que foi meu treinador, , Gilberto , outros jogadores que a gente aprendeu. Eu sempre gostava de fazer as coisas bem. Quando jogava, se eu saísse de campo, e eu pensava comigo: “Puxa vida”. Porque tem aquele jogo, às vezes, que você, não é o jogar mal, jogar mal é consequência da partida, mas você tem que dizer assim: “Puxa vida, eu estou vestindo essa camisa aqui e eu tenho que honrar essa camisa”. Porque eu nunca pensei no dinheiro, nunca pensei. Somente lá no Internacional, o clube que é aonde, até hoje... Quando renovava o contrato, todo mundo da imprensa já falava: “Poxa,Valdomiro,terminou o seu contrato?”. - “Já renovei há tempo já”. Então eu nunca pensava no dinheiro, eu sempre pensava em fazer as coisas bem, que o dinheiro vem atrás. Porque eu penso sempre que quando você trabalhar, ou vai fazer alguma coisa, você, se chegar: “Ah, eu vou pegar aquele emprego ali, mas eu quero saber quanto é que eu vou ganhar”. Não, eu acho que você não tem nem que pensar em quanto que vai ganhar, você tem que primeiro fazer o quê? Peguei o emprego? Peguei. Então eu vou trabalhar, e se eu fizer bem aquilo ali, eu acho que o dinheiro vem atrás, e às vezes vem bastante. Agora se você chegar, eu penso comigo: “Ah, quanto é que eu vou ganhar?”, aí acho que você nem o emprego pega. Eu acho que é a mesma coisa o jogador de futebol, porque eu sempre penso assim: jogador de futebol, para mim, é a mesma coisa que um trabalhador comum. Eu sempre pensei que eu, como jogador de futebol, sou igual um lixeiro, igual a um trabalhador comum. O jogador de futebol tem mais o quê? Porque ele ganha, às vezes, mais? Claro que ele entra no estádio, e o estádio tem 120 mil pessoas, 150 mil pessoas. Não, ele é um trabalhador comum, ele é pago, no meu entender, para exercer bem a profissão. Claro que ele não é pago para jogar sempre bem, agora ele tem que exercer bem a profissão, eu penso sempre comigo. Ele tem que estar sempre na hora certa para o treinamento. Acho que o jogador de futebol depende do corpo dele. O corpo dele ele tem que preservar para poder exercer a profissão. Porque se o corpo dele... Se ele for para a noite, não se alimentar bem, aí ele não vai jogar futebol. Eu sempre me cuidei, e até hoje me cuido, acho que isso é importante na vida de qualquer um, do trabalhador do futebol, eu sempre falava. Às vezes o pessoal, no Rio Grande do Sul, ou em qualquer lugar: “Ah, o jogador de futebol...”. O jogador de futebol para mim é igual a outro. Eu sempre conheci um jogador de futebol que se chamava Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Tive a oportunidade de jogar com ele duas vezes, e ele sempre falava: “Tem que treinar cada vez mais”. Se ele falava isso imagine então a gente” [risos], não é verdade? É esse o ditado, e é isso que eu aprendi. Ele sempre falava: “Tem que ter humildade, jogador de futebol tem que atender bem os torcedores, porque é ele que paga o clube, é ele que paga a gente”. No Internacional, ou em qualquer outro clube, eu acho que o jogador... Às vezes chega uma menina, uma senhora, uma moça, chega qualquer um, quer bater uma foto, tem que atender, é um ídolo. Tem que ser humilde, ele escolheu aquela profissão.

P. F. – Mas conta para a gente então um pouco essa chegada no Inter, como é que foi?

V. F. – Essa chegada no Inter, eu cheguei...

P. F. – Em 68, não é?

V. F. – Em 68, e o Grêmio era hepta campeão. O Grêmio tinha ganhado sete vezes seguido, o último ganhou em 68, sete campeonatos. Eu cheguei, claro, primeiro jogo meu, já fazendo gol. Primeiro Grenal já fazendo gol.

P. F. – Chegou como titular já?

V. F. – Titular, já cheguei como titular, camisa sete, já peguei... Mas é aquele negócio, como o pessoal falou hoje: “Ah, tem que ter uma adaptação”. E na época não tinha nada esse negócio de adaptação não, tem que chegar e botar a camisa, e jogar, e correr, e tinha que matar o bicho, tinha que pegar. Hoje não, o jogador chega aqui: “Não, tem que adaptar o jogador, o jogador tem que ficar um ano, tem que ficar uns seis meses”, mas é a realidade. E na época não. Claro, e eu fazendo gol e gol. E aí a torcida não... Porque tinha quatro ponteiros. Tinha eu, o Luis Mendes, uruguaio, Carlito e o . Tinha quatro ponteiros. E o Daltro, falecido Daltro Menezes. E eu entrava em campo, anunciava o meu nome e a torcida, meu Deus do céu, aquele estádio lá, 90 mil pessoas. Mas era uma vaia só. “Camisa número sete, Valdomiro”. Vinha abaixo o Beira- Rio.

P. F. – Por quê? Eles preferiam quem?

V. F. – Preferiam o Luis Mendes. Conquistou mais, uruguaio, não sei o quê. E eu na minha. Aí um dia eu sei que eu fiquei quase um mês sem jogar. Ai o São Paulo queria comprar meu passe. Tinha um diretor no Internacional que se chamava Ivo Corrêa Pires, que era jornalista, chegou e falou: “Nós só emprestamos”. Aí o São Paulo chegou e falou: “Emprestaram não, queremos comprar”. Eu sei que eu não vim. O Daltro chegou, o Daltro Menezes um dia chegou para mim: “Olha, o titular da camisa sete é tu, quem vai jogar é tu. Pode vaiar, pode... Tu que vai ser meu titular”. Eu digo: “Está então, eu vou me preparar, você me dá uns 15 dias para eu me preparar, vamos abraçar essa...”. Aí veio o primeiro jogo do Campeonato, não, aí terminou 68, veio 69, aí veio o Campeonato Gaúcho. Não, minto, veio o Campeonato Brasileiro. Sei que o primeiro jogo no Beira-Rio foi Internacional e Botafogo. Botafogo de , Paulo César Caju, Zequinha, Rogério, Ferreti, baita de um time. Todos eles de Seleção Brasileira. Aí o Daltro “O titular é tu, quem vai jogar”. “Tá”. Anunciaram a escalação do time no alto-falante do Beira-Rio, Beira-Rio lotado. Quando anunciaram, veio abaixo o Beira-Rio, aquela vaia, até o ataque era eu, o Sérgio Galocha, que faleceu, Claudiomiro, e se eu não me engano, Gilson Porto. Faleceu, baiano, jogou no Corinthians. Logo aos cinco minutos de jogo, tinha um rapaz no meio de campo, [inaudível 42:43], chegou aqui do Palmeiras, lançou a bola para mim entre o zagueiro e o lateral, eu entrei correndo, eu tinha muita velocidade, e batia bem na bola. Entrei no meio dos dois e..., um a zero. A torcida... [risos].

C. B. – Que difícil!

V. F. – Tá, de novo, não sei o que, e tal. Eu fui na linha de fundo e cruzei, o Sergio saiu, dois a zero. Aí terminou o primeiro tempo, dois a zero, o segundo tempo, de novo, coisa lá, eu fui lá e..., três a zero, ganhamos de três a zero. Quando eu fiz o terceiro gol, ninguém falou nada. Aí veio a seleção da Romênia jogar no Beira-Rio, amistoso. E aí eu fiz um gol, ganhamos de um a zero e eu fiz o gol. No vibrar, e eu não xinguei ninguém, apenas fui na frente da torcida e vibrei, como eu vibrava sempre, e a torcida pensou que eu tinha...

P. F. – Xingado?

V. F. – Xingado. Mas não, eu apenas vibrei, porque, poxa, contra a seleção da Romênia, fazer o gol, puxa vida! Aí me deram mais uma vaia, e eu baixei a cabeça, no outro dia saiu no jornal Zero Hora, e eu, com a minha humildade: “Ah, vamos trabalhar”. Aí no próximo jogo também, fui lá e gol. E aí no quarto jogo do Campeonato Brasileiro, que eu tinha feito quatro gols em quatro partidas, aí a torcida se levantou um dia e começou a gritar meu nome e me aplaudir. E dali para frente...

P. F. – Foi um inicio de namoro difícil esse aí? [riso]

V. F. – É, foi. E por isso que é bom, que a gente sempre fala, quanto mais difícil as coisas, melhor. Sempre eu digo: é ruim quando a gente ganha uma coisa assim, não é? Não vale a pena. Agora, quando você passa sacrifício para conseguir as coisas, ah como vale a pena! E valeu a pena comigo. E dali para frente, pronto. Eu fui campeão gaúcho já em 69.

P. F. – Vocês quebraram...

V. F. – Quebramos a invencibilidade do Grêmio. Fiz o gol do titulo do Campeonato Gaúcho. O Bráulio fez o segundo e eu fiz o primeiro, de falta. Por isso que eu fiquei marcado na história do Internacional, por causa dos gols decisivos, que tem uma coluna do Davi Coimbra, não sei se você já ouviu falar do Davi Coimbra, até, por sinal, é gremista. Mas é muito meu amigo, é um colunista que tem na Zero Hora, eu estava comentando que, lá no memorial , que eu tenho lá no C.T.4, que tem uma coluna dele que ele fala: “Valdomiro Vaz Franco foi o maior jogador da história do Inter”. Por quê? Por causa daquele 69, fez o gol; 70 fez o gol; 71 fez; 72; 75 fez o gol do titulo do Brasileiro; 76 fez, praticamente fez quase os dois gols do titulo Brasileiro de 76. Tudo, todos os títulos do Inter, ou eu fazia o gol, ou dava o passe pra fazer gol. E quando nós estávamos no quinto titulo em seguida, eu dei uma entrevista, agora você vê, eu dei uma entrevista falando, não com aquele negócio da gente, nada contra o Grêmio, graças a Deus tem torcedor do Grêmio que

4 Centro de Treinamento gosta de mim, todos os dirigentes do Grêmio, que está lá até hoje, o presidente que é o Paulo Antonio, o presidente Fabio Koff, meus amigos lá do Grêmio, na época, o falecido Everaldo, Joãozinho jogou no Grêmio, Alcindo jogou no Grêmio, e graças a Deus a gente tem uma amizade muito grande. Todo mundo sabe que o meu time do coração é o Sport Clube Internacional, então é o time que eu torço, quando perde eu perco também. Mas eu dei uma entrevista que, o seguinte, se o Grêmio tinha sido sete vezes campeão gaúcho, nós íamos ser oito vezes [risos].

P. F. – Isso é no primeiro título?

V. F. – Não, nós tínhamos ganhado cinco.

P. F. – Ah, tinha ganhado cinco.

V. F. – É. E aí então, até isso daí na rádio Guaíba lá em Porto Alegre, eu tenho isso gravado até hoje. Se você chegar em Porto Alegre e perguntar, Edgar Schmidt, todo mundo vai..., e eu tenho gravado. E quando o último titulo que nós ganhamos em 76, nós fomos octacampeões. E quando terminou o jogo, eu: “Que alívio!”. [risos]. Você já pensou se eu não ganho os oito títulos? [risos]. Porque nós fomos bicampeões brasileiros, e fomos octacampeões. Esse título de octacampeão quem tem é só eu, ninguém tem. Nem dirigente, jogador nenhum conquistou. Que às vezes o pessoal fala: “Valdomiro, puxa vida, na época vocês não foram campeões do Mundo, não foram campeões da Libertadores, e o time de vocês foi considerado o melhor time do Inter de todos os tempos”. É que nós não pensávamos em ser campeão, nós, primeiro lugar, nós queríamos é quebrar o tabu de sete anos. Porque quando nós vínhamos disputar a Libertadores, nós jogávamos na Venezuela, e o time reserva. O time titular ficava para disputar o Campeonato Gaúcho. E depois que nós conquistamos o Campeonato Gaúcho, os oito títulos, e nossa meta daí depois o que era? Era o Brasil, o nosso time, primeiro, o que era? O Brasil. Agora então nós vamos ver se conquistamos o Campeonato Brasileiro. Nós estávamos mais maduros, o time tinha mais jogadores de Seleção Brasileira disputando Copa do Mundo. O primeiro título no Rio Grande do Sul de Campeonato Brasileiro foi o Internacional que conquistou.

P. F. – Então, conta um pouco para a gente, Valdomiro: você participa dessa geração de ouro do Inter. Como foi a montagem desse time? Porque como você ficou... ninguém melhor do que...

V. F. – Não só o Inter, mas essa geração dos anos 70.

P. F. – Dos anos 70.

V. F. – Não só do Inter, mas do futebol brasileiro.

P. F. – Mais especificamente do Inter, como foi essa montagem?

V. F. – Essa montagem começou com Daltro Menezes, e depois com Dino Sani. Foi Dino Sani que começou essa montagem do titulo, e depois o Rubens Minelli. Em 74, quando o Rubens Minelli pegou o Internacional, aí começou a formar o time, formar aquele time. O primeiro título o goleiro era o , o lateral Cláudio, Figueroa, Erminio e Vacaria.

P. F. – Figueroa já estava no time quando você chegou, em 74? Ele chegou...

V. F. – Chegou, chegou em 73, é. O meio de campo era a Caçapava, Paulo Cesar Carpegiani e o Falcão.

P. F. – Falcão chegou em...?

V. F. – Falcão subiu no Inter em 73.

P. F. – Você lembra dele?

V. F. – Claro, praticamente Falcão, era uma pessoa que a gente..., a mãe dele..., então a gente era muito amigo.

P. F. – Porque ele é catarinense.

V. F. – É catarinense, a mãe dele, a dona Ziza, o seu Bento. Então quando ele foi embora para a Itália, a primeira coisa que ele mandou para mim foi uma santa Rita [risos]. É, porque a gente era muito amigo, a mãe dele trouxe para mim. Eu era muito devoto de santa Rita e Nossa Senhora Aparecida. Eu tenho uma santinha lá em casa, duas santinhas, santa Rita e Nossa Senhora Aparecida. Essas duas santinhas praticamente conhecem quase cento e poucos países [riso]. Aonde eu ia elas estavam comigo ali. Até hoje, aonde eu vou, as duas estão ali comigo. E a formação do time, começou a ser formado. E o ataque, quem era? Era eu, o Flavio, que jogou no Corinthians, que o Inter buscou no Porto, centroavante, que Claudiomiro, que era para ser o centroavante. Aí o Claudiomiro começou a engordar e não deu mais, e o Flavio... E o Lula, ponta-esquerda do Fluminense. Então um time... Aí nós começamos o Campeonato Brasileiro, o primeiro jogo nós pegamos o Figueirense já, me lembro. Pegamos o Figueirense de Florianópolis, no Beira-Rio, foi seis a zero. Aí o Marinho, nós que vínhamos de Seleção, o . Não, minto, o Marinho veio em 76, o Erminio... Nós pegamos o Vitória da Bahia, na Bahia, metemos quatro a zero. Pegamos a Portuguesa aqui, ganhamos de dois a zero. Na quarta-feira nós tínhamos folga, pegamos a Ponte Preta lá, amistoso. O nosso time jogava assim. E depois, 76, bicampeonato brasileiro...

P. F. – Mas além de vocês serem bons jogadores...

[Pessoa não identificada -] Só um tempinho, porque eu preciso fazer a troca da fita.

V. F. – Tenho que tirar outra carteira, essa aí está velha [risos]. A minha esposa chega e fala para mim: “Não tem vergonha?”. - “Quer dizer que é velho não presta?” [risos].

P. F. – Então, Valdomiro, eu estava te perguntando, além de vocês serem um baita time, porque os jogadores eram muito bons, como que era essa coisa do treinamento? O que você acha que era o diferencial desse time, em termos de...?

V. F. – O diferencial nosso o que era? Nós tínhamos uma amizade muito grande, e todo mundo, ninguém, porque um era de Seleção Brasileira, o outro lá não era, que eu queria ser mais do que o outro. Não, ali todo mundo podia xingar o outro dentro do campo. Vê que, quando o Falcão subiu, o primeiro jogo do Falcão, 1973, Bento Gonçalves contra Esportivo de Bento, a gente chegou para ele e falou: “Aqui tu pode xingar todo mundo. A gente vai te xingar, mas tu que tem que xingar nós”. O Figueroa foi dominar uma bola na área, ele foi fazer um “balãozinho, foi dar um “balãozinho” no centroavante, ele deu uma xingada no Figueroa, e aceitou, aquilo ali não se faz. Era isso a nossa amizade, que nós tínhamos muita amizade dentro do campo. Nós treinávamos com vontade, ouvia muito o Rubens Minelli. Nós tínhamos um preparador físico muito bom que se chamava Gilberto Tim, até foi para a Seleção Brasileira. E nós tínhamos o apoio dos dirigentes, e o Minelli...

P. F. – É, qual é o papel do Minelli?

V. F. – Acho que o papel do Minelli, o Minelli era um cara que, vamos dizer assim, em 75 ainda ele falava alguma coisa, batia papo com nós, como é que tinha que jogar, como era o time, esse negócio. Porque o nosso time mudou pouco de 75 para 76, ficou quase o time inteiro.

P. F. – Entrou o Dario.

V. F. – Só entrou o Dario e entrou o Marinho Peres. Nós trouxemos aquele futebol da Holanda, que o Inter fazia muito bem. Você vê às vezes jogos do Inter, eu tenho muitos jogos lá que todo mundo sai em grupo, como hoje o Barcelona. O Barcelona todo mundo fala: “Ah, o Barcelona, meu Deus do céu!”, mas o Barcelona..., isso aí nós fazíamos em 1975/76. Vê que em 75 nós perdemos três jogos no Campeonato Brasileiro, todo. Em 76 nós perdemos três jogos também. Então o nosso time, saia lá de trás tocando a bola todo mundo, em direção ao gol. Porque nós não tocávamos para o ladinho, bola para cá, não. Nós tocávamos a bola como? Em direção ao gol, e nós fazíamos muito aquela linha de impedimento que fazia a Holanda, porque nós trouxemos da Copa do Mundo aquilo, o Marinho implantou. Teve um jogo, nós jogamos no Espírito Santo, contra o Desportiva Ferroviária. Agora você vê o que eles faziam. O Vacaria, que era o lateral-esquerdo, ele era meio lerdo, então tinha um ditado, gritar: “Curió”, tinha que saber que tinha que sair. E o Manga não gostava de tomar gol [risos]. Quando ele tomava um gol, meu Deus! [risos]. Lembro do Campeonato Gaúcho de 1974, nós ganhamos todos os jogos, todos. Nós não empatamos nenhum, ganhamos tudo. Ele tomou um gol, nós fizemos 55 gols, o Manga tomou um gol no primeiro turno e um gol no segundo turno, dois gols. Nesse jogo contra o Desportiva, no Campeonato Brasileiro, naquela época o Desportiva Ferroviária disputava o Campeonato Brasileiro, tinha um bom time. Nós estávamos ganhando de quatro a zero, parece, ou cinco a zero. E ai o Figueroa, para fazer uma palhaçada, fez de sacanagem com o Manga, eu sei que lançaram uma bola, o centroavante correu, e o Manga ia saindo do gol para pegar a bola, e o Figueroa meteu a bola por cima, de sacanagem, do Manga [risos], e o Manga saiu correndo atrás da bola, se enrolou dentro da boleira, com bola e tudo, e gol [riso], terminou o jogo cinco a um. Terminou o jogo, aí o Manga chegou no vestiário para o Minelli assim: “Chefe, tem que mandar toda essa defesa embora, essa defesa é muito ruim” [risos]. Essas histórias assim a gente fala porque são histórias verdadeiras, que a gente imagina assim: “Poxa, mas...”, mas é verdade.o Manga chegou, e o Minelli, tomara que um dia ele veja essa entrevista, e ele vai dizer a verdade. –“Tem que mandar a defesa toda embora, não tem zagueiro”. Era assim. E em 76 também nosso time era igual à Holanda. Nós atacávamos em grupo e defendia em grupo. Eu era ponta, mas tinha vezes que eu era lateral, tinha vezes que eu meia-direita. Às vezes o Cláudio era o ponteiro, ou eu era o lateral e o Cláudio era o ponteiro.

P. F. – Mas isso era o Minelli?

V. F. – É, e o Minelli também, em 76, ele quase não falava... Todo mundo sabia o time do Inter, só saiu quem, em 76? Saiu o Paulo César Carpegiani, que foi para o Flamengo, e entrou o Batista. Batista, Escurinho5, tudo era reserva, vê o plantel que o Inter tinha. Chegava na hora da palestra, o Minelli chegava para nós e falava: “O time está aqui, vocês sabem o que tem que fazer, pronto” [risos]. Ele era assim, o Minelli era um cara... Claro, ele era o chefe, treinava, mas quando ele ia dar palestra para nós, ele falava o mínimo possível, porque já sabia como a gente jogava. Eu já sabia aonde o Flávio estava, aonde o Lula estava. Aquele negócio da bola, dar dois toques na bola. Nós não dávamos mais do que dois toques na bola. Conduzir a bola? Não, ninguém conduzia. Só quando, às vezes, eu, ponteiro, ou o Lula, que pegava a bola na linha de fundo, que estava o lateral, que sobrava o lateral de mano- a- mano, aí sim, aí a gente partia para cima. Partia para cima e ia no fundo do campo. Eu me lembro até hoje o Escurinho, que faleceu. Só mesmo o rei, o Pelé, cabeceava como o Escuro, porque o Pelé cabeceava, chutava [risos]. Mas o Escuro fez um gol no Félix, ele fez um gol muito bonito também aqui no Morumbi, contra o Santos, que eu cruzei uma bola, ele, lá da meia lua da área, ele subiu, porque ele cabeceava, era um chute. No Maracanã também, ele fez um gol muito bonito também assim. Até nós ganhamos, e aqui também, ganhamos de três a um. Mas o Minelli já sabia, cada um já sabia o que tinha que fazer dentro do campo. Ah, nós concentrávamos? Concentrávamos. Sábado nós concentrávamos para jogar domingo, porque nós tínhamos responsabilidade. Você não via assim: “Poxa vida, o Falcão... É solteiro, mas está lá em uma boate”. Não, você não via. Porque todo mundo queria o quê? Queria ganhar, nós queríamos era ganhar, nós queríamos cada vez mais, por isso que o time do Inter, nos anos 70, saia a convocação da Seleção Brasileira, tinha dois, três na Seleção. Sempre. O Inter, claro, foi campeão do mundo e tudo, mas o Inter deixou de perder, o ranking do futebol brasileiro, hoje o Inter é o sexto, parece, ou o sétimo. E na nossa época sempre foi o primeiro. Nos anos 70, não é? Nos anos 70 o Inter jogava aqui no Morumbi, era quase lotado o Morumbi. Jogava contra o Santos aqui, porque o Santos quase não jogava na Vila Belmiro. Jogava no Pacaembu, ou jogava no Morumbi. Então o Inter era o time da moda, o time que todo mundo... O São Paulo copiou o Inter dos anos 70. O São Paulo copiou, e ia dirigente lá do São Paulo, foi lá copiar o Inter. Como é que o Inter tinha o Beira-Rio, aquela estrutura, aquele time.

5 Luís Carlos Machado P. F. – E como que era isso? Porque o Inter quebrou um pouco essa coisa do peso muito do Rio e São Paulo no Brasil. Por que isso batia lá? Porque o gaúcho é...

C. F. – É,o gaúcho eu vou dizer para você, nós estávamos até comentando hoje aqui que o gaúcho, ele briga pelas coisas dele. E eu brigo também, porque eu aprendi a cultura gaúcha, pelas minhas coisas eu brigo, e eu luto para conseguir as coisas. E quando nós fomos campeões em 75, Rio- São Paulo não aceitava, achava que o time do Inter não podia ser campeão. E aí nós fomos obrigados a repetir 76 de novo [risos]. Aí aceitaram, felizmente o Internacional tem... Não é um time, é um timão. E aí ficou respeitado, e toda convocação de Seleção Brasileira, sempre tinha. Mas você sabe que o gaúcho, e eu aprendi com o gaúcho, a valorizar as coisas, e eu valorizo mesmo, e eu falo sempre que a cultura gaúcha para mim é uma das maiores culturas que tem no Brasil. Não só no Brasil, mas no mundo, e aonde você vai sempre tem um CTG6. Como a gente fala assim, lá no Rio Grande do Sul, que eu aprendi, que quando passa um cavalo encilhado, você tem que montar e se segurar, e segurar firme para não cair. E o que aconteceu comigo, o cavalo passou encilhado, eu montei e segurei. Mas eu devo muito à cultura gaúcha, e eu sempre falo que eu devo muito ao povo gaúcho. Eu sempre falo que eu aprendi a ler, a escrever, entrei na faculdade, tudo no Rio Grande do Sul, com o povo do Rio Grande do Sul, com o povo gaúcho. Às vezes a gente começa a falar na brincadeira, mas é um ditado que a gente aprendeu lá, não desmerecendo outro estado, um estado forte como São Paulo, Minas Gerais. Sempre a gente fala: “Primeiro lugar é São Paulo, que exporta. Segundo lugar: Rio Grande do Sul”. A gente sempre diz, que o pessoal fala, sobretudo política, Rio Grande do Sul, os presidentes que já deu, tudo. O gaúcho tem aquela tradição, até agora em Copa do Mundo, eles querem fazer, nós queremos fazer. Eu digo nós porque eu me considero. Eu sou embaixador da Copa no Rio Grande do Sul, lá em Porto Alegre, e lá a gente quer fazer a melhor sede da Copa do Mundo para fazer lá no Rio Grande do Sul. A gente não quer fazer só três jogos, a gente quer fazer mais jogos, o Beira- Rio hoje, daqui um pouco já esta todo bonitão lá, com outros ares, e eu tenho certeza que o povo gaúcho vai tratar aqueles visitantes que forem lá na Copa muito bem. Como vai ser aqui em São Paulo, como vai ser no Rio de Janeiro, Minas Gerais. Então eu acho que todos nós somos brasileiros, mas a gente que está fazendo parte, lá no Rio Grande do Sul, dessa Copa do Mundo, então a gente quer tratar aquelas pessoas que forem lá, tratar muito bem.

6 Cento de Tradições Gaúchas P. F. – Falando em Copa do Mundo, vamos falar um pouco de Seleção. Quando que você foi convocado pela primeira vez?

V. F. – Agora você vê, por isso que eu falo que a minha carreira foi muito rápida, eu, em 68, eu fui para o Inter em metade do ano, já em 72, eu já estava na Seleção. Foi a minha primeira convocação, quando o Brasil foi tricampeão do Mundo, e aí no amistoso que teve em Recife, que o Zagallo convocou duas seleções, então eu fui convocado a primeira vez em 1972, na Seleção Brasileira, que o Zagallo convocou para ir depois.

P. F. – E como foi?

V. F. – Ah, foi..., puxa vida! Você nem imagina a minha alegria. Alegria minha, da minha família, dos meus companheiros. Até foi um troço gozado, porque o treinador era o Dino Sani, do Inter. E eu estava treinando, e o Dino Sani sabia que eu ia ser convocado, porque o Zagallo tinha até falado para ele, e a gente tinha uma amizade muito grande, o Dino Sani, a esposa do Dino, e eu estava treinando. Aí ele chegou para mim e falou: “Pode ir embora que hoje está bom o treino, tu não precisa treinar mais”. Eu digo: “Pô, mas tem jogo!”. Em uma sexta-feira, tinha coletiva: - “Tem jogo domingo, campeonato, como é que eu vou sair?”. Não falei nada, aí quando eu estou descendo do túnel do Beira- Rio, aí já estava um monte de repórter, e já estava com a camisa da Seleção [riso]. Eu levei aquele susto, “Puxa vida!”. E os companheiros começaram a jogar água, e dar cascudo, porque ser convocado para Seleção não era qualquer um, não era qualquer um que ia ser convocado, ainda mais no Sul, lá do Sul. Precisava fazer muita coisa para ser convocado, para chegar à Seleção Brasileira. Eu penso sempre comigo, sempre falo, eu tenho um orgulho muito grande de dizer assim: “Olha, eu joguei na década de 70”. Porque a década de 70, você olhava o time do Palmeiras, você botava mais dois jogadores ali, pegava a camisa da Seleção e ninguém reclamava. Pegava o time do Cruzeiro, não é verdade? Pegava o time do Santos, pegava o time do Botafogo, do Flamengo do Zico, do Corinthians mesmo, o próprio Corinthians tinha um timaço. Fluminense, o próprio Inter, você chegava e falava assim: “Esses 10 times aqui são os melhores times do Brasil e do mundo”, porque ninguém queria sair daqui para jogar lá fora. E não saia, ninguém saia, a nata do futebol brasileiro estava aqui. Quando o Pelé foi lá para o Cosmos, Pelé já foi já com quase 35 anos, 36 anos que foi, mas ele nunca quis sair daqui para ir para lá. O Santos tinha Clodoaldo, Edu, Pelé. Então eu sempre digo: “Olha gente, eu...”, e na minha posição, não é? A primeira vez que eu fui convocado, eu fui para a reserva do Jairzinho. Jairzinho foi tricampeão do mundo, furacão da Copa, foi artilheiro da Copa de 70, então para mim foi uma alegria muito grande. E quando eu fui convocado a primeira vez, eu fiz de tudo para depois nunca deixar de ser convocado. E cada vez trabalhar mais, porque a gente sempre fala que o trabalho não mata ninguém, eu aprendi que trabalhar não mata ninguém, e eu sempre procurei trabalhar mais para poder chegar à Seleção, porque era o meu sonho. Sempre foi o quê? Disputar uma Copa do Mundo, que é o sonho de todo jogador de futebol. Eu acho que todo jornalista, que se forma jornalista, qual é o sonho do jornalista? É cobrir uma Copa do Mundo. O jornalista diz: “Poxa vida, eu estou realizado!”. Cobrir não uma Olimpíada, cobrir uma Copa do Mundo. E é a mesma coisa o sonho do jogador de futebol.

P. F. – E o senhor realizou esse sonho?

V. F. – Realizei esse sonho.

P. F. – Conta para a gente então como foi o sonho.

V. F. – Mas o meu sonho não ficou completo. Claro que a gente sempre fala que a gente... , até teve uma Copa do Mundo que o Juninho Pernambucano que disputou, foi convocado para a Seleção Brasileira, e ele falou: “Poxa vida...”, e eu realizei o meu sonho, fui convocado para disputar uma Copa do Mundo. Claro, não ganhamos, mas... E eu, mais do que nunca, claro que a gente queria ganhar, queria ser campeão do mundo, mas infelizmente não deu. Claro, fui titular da Seleção Brasileira da Copa de 74, nós ficamos em quarto lugar. Era para nós ficarmos em terceiro, claro que o jogo contra a Holanda a gente... ali matou todo mundo, a gente não pensava que ia perder, a gente pensava que ia decidir o titulo com a Alemanha, mas isso ai acontece no futebol. Mas o meu sonho foi realizado. E depois eu fui novamente convocado para disputar as eliminatórias da Copa do Mundo da Argentina, de novo. O treinador na época era o Osvaldo Brandão, e depois o falecido Coutinho. Eu joguei na Seleção Brasileira cinquenta e poucas partidas. Eu acho que valeu a pena, eu acho que é o sonho de todo mundo, todos os guris, todos os garotos. Não sei hoje, porque tem jogador hoje que sai a convocação e ele não quer jogar na Seleção, não está nem aí para a Seleção Brasileira. Na nossa época não, na nossa época jogar pela Seleção Brasileira, vestir aquela camisa amarela e verde, nossa, era um orgulho. Não era qualquer um que vestia. E eu digo mesmo, hoje a gente vê cada jogador vestindo essa camisa que, às vezes, alguns são convocados e escrevem que estão machucados, ou outra coisa, ou senão o outro lá não pode vir jogar. Para a gente, na época, era um orgulho mesmo, quando, não só em Copa do Mundo, mas nos amistosos da Seleção, eu me lembro, 1973, quando a gente fez a excursão para a Europa, tocava o hino nacional, o orgulho que a gente tinha. E hoje, sei lá, não sei se os jogadores, mudou muito o modo como vai encarar a Seleção Brasileira, não sei se é a mesma coisa que a gente tinha na época, esse orgulho em dizer assim: “Poxa, eu joguei na Seleção Brasileira, eu disputei uma Copa do Mundo”.

P. F. – Mas conta um pouquinho mais...

C. B. – Como é que eram os preparativos para a Copa? Como é que era participar disso?

V. F. – Ah, era, vou dizer assim, a Seleção Brasileira, para a Copa do Mundo, nós fizemos uma preparação, nós ficamos um mês e meio na Floresta Negra, na Alemanha. Lá em cima onde tem a Fórmula 1, nós ficamos um mês e meio na Floresta Negra treinando, e disputamos três amistosos. Até nesse último amistoso que nós disputamos, nós perdemos, praticamente, na época, acho que para mim era o melhor jogador que nós tínhamos na Seleção Brasileira, que foi o Clodoaldo, que deu a distensão na perna, no jogo que nós jogamos de base, o Clodoaldo disputou aquela Copa de 70, que jogou demais, e nós perdemos ali o Clodoaldo, que não pode disputar a Copa do Mundo, mas a preparação era um mês e meio antes, fomos para a Floresta Negra lá, disputar, treinar.

C. B. – Como era o dia-a-dia?

V. F. – O dia-a-dia, porque na época, em 73 teve aquele problema que teve lá em Munique, nas Olimpíadas, que teve lá aquelas...

P. F. – O atentado terrorista?

V. F. – Isso. E nós lá, era muito cuidado. Era tudo cercado, era policial, nós íamos treinar cheios de guarda. Até um dia, na Floresta Negra, tocou o alarme e falou que tinha uma bomba na concentração. Saiu todo mundo, um saiu sem roupa, sem nada [risos], correndo, e depois, foi alarme falso. Nós íamos treinar, ia todo mundo, a polícia tomando conta de nós. Nós não podíamos sair, os jornalistas, para chegar onde nós estávamos..., era difícil chegar. Não podia chegar perto, porque houve aquele problema que teve em Munique, morreu um monte de gente por causa das Olimpíadas e tudo. Era uma tristeza, às vezes tinha muitos jornalistas que, para fazer entrevista, tinha que ser horário marcado tudo. Onde nós parávamos no hotel da concentração, era tudo fechado, de tábua alta. Colocava aquelas tábuas fechadas e tudo, até arame farpado ao redor, com choque. Porque Alemanha, ainda mais Seleção Brasileira, que foi tricampeã do mundo, e tinha chegado. A Seleção Brasileira é a única Seleção que quando vai disputar uma Copa do Mundo, ela chega favorita para ganhar o título. É a única seleção que chega.

P. F. – Foi assim aqui em 74, a expectativa quando vocês saíram?

V. F. – Também.

P. F. – Não pintava uma expectativa...?

V. F. – Claro, a expectativa, não nossa. A gente sabia que era difícil, mas Europa, quando nós chegamos na Alemanha, todo mundo, era favorita para ganhar o titulo, quem era? Primeiro era o Brasil, depois a Alemanha, depois a Holanda, depois as outras seleções.

P. F. – Quantos jogadores o Rio Grande do Sul tinha nessa Seleção?

V. F. – Tinha dois: eu e Paulo César Carpegiani.

P. F. – E a torcida no Sul estava lá?

V. F. – Dois do Internacional, e era titular ainda. Eu sempre falo...

P. F. – Você saiu daqui titular?

V. F. – Titular. Fui titular todos os jogos. Só não joguei um jogo que foi contra a seleção da Escócia, depois joguei todos os jogos. Então eu tenho orgulho de dizer sempre...

P. F. – Você sabia que ia ser convocado para a Copa?

V. F. – Não, não sabia porque a gente não sabia. Claro, eu fiz um campeonato bom, brasileiro. O Inter ficou em quarto lugar, fiz uma excursão da Seleção Brasileira, que teve, muito bom, fui titular. Só não joguei contra a seleção da Itália, em Roma, os outros jogos, joguei tudo como titular. Até a imprensa, de São Paulo, todo mundo, mas tinha muito jogador bom, era difícil fazer uma seleção. Aqui no Corinthians tinha quem? Tinha o Vaguinho; no Atlético Mineiro tinha o Buião; no Botafogo o Rogério; tinha o Jairzinho; tinha o Edu, aqui no Palmeiras; no Santos tinha Manoel Maria; no Cruzeiro tinha o..., que até faleceu em um acidente de carro, o Eduardo, e o Roberto Batata. Era difícil você: - “Ah, vou levar o Valdomiro”. Aí você olhava: “Tem mais tudo isso aí, e agora?” [risos]. Não é verdade? Era difícil, então por isso que a gente sentia esse orgulho em dizer: “Puxa vida, eu fui, posso ser convocado para a Seleção Brasileira. Passei na frente daqueles outros todos”. Quando saiu daqui - porque eu sai na reserva – o titular da Seleção Brasileira era o César, do Palmeiras, e o Jairzinho era o ponteiro. Mas nos jogos que teve a preparação física, os jogos que teve lá em Basel, na Suíça, e na Alemanha, ai eu peguei a posição. O Jairzinho passou para centroavante. Porque o Jairzinho, no Botafogo, ele não jogava de ponteiro, jogava de centroavante. Aí jogou eu e Jair na frente. E o Dirceuzinho, , jogou no Coritiba, jogou na Itália, jogou no Vasco – até faleceu em um acidente de carro – e o Dirceu fazia o terceiro homem. E eu tenho orgulho de dizer sempre: eu fui, eu e o Paulo César Carpegiani, somos únicos dois jogadores que saíram do Inter para jogar na Seleção Brasileira. Porque os outros, nenhum saiu do Inter.

P. F. – E o senhor sentia..., a gente já ouviu aqui de outros jogadores essa coisa que tinha rivalidade Rio – São Paulo. Como é que foi os gaúchos vendo isso?

V. F. – Tinha essa rivalidade...

P. F. – Tinha?

V. F. – São Paulo e Rio. Mas nós aqui com os paulistas, nós não tínhamos. O Edu, Clodoaldo, que foi na Seleção, o , nós éramos companheiros de quarto, eu e Ademir da Guia. Quando terminou a Seleção, que nós viemos embora, eu, Ademir da Guia e o Clodoaldo, a gente chorou. Chorou pela amizade que a gente fez, que era uma amizade que a gente tinha já no Campeonato Brasileiro. Como foi o caso do Leão. O Leão também, a gente tinha uma amizade muito grande, às vezes, tem muitas pessoas que não gostam do Leão, mas eu gosto muito dele, porque ele é uma pessoa correta, uma pessoa que exige. E o Ademir da Guia não precisa nem falar, é um paizão

P. F. – Mas tinha muita divisão naquele grupo?

V. F. – Tinha, tinha divisão, às vezes...

P. F. – Isso acha que influenciou o resultado?

V. F. – Não. Às vezes tinha, teve aquela confusão que teve o com o Leão depois do jogo.

P. F. – O que aconteceu?

V. F. – Que nós tomamos o gol contra a seleção da Polônia, acho que ficamos no terceiro, quarto lugar. Aí o Marinho e o Leão, o Marinho foi para a frente e não voltou, e o Alfredo, jogou no Palmeiras; Luís Pereira também, nós nos dávamos muito bem. Aí no vestiário... chegou, todo mundo fala, um repórter fala que brigaram, soco. Não, só discutiram, mas sempre tem essas rivalidades, mas nós, eu e o Paulo César Carpegiani, não tivemos, graças a Deus, até hoje. Quando eu bato papo com Leão, encontro com o Leão,quando o Luís Pereira estava aqui, Clodoaldo, o Edu. Até o Edu, por sinal, foi jogar no Inter, jogou no Inter, e essa amizade, até hoje a gente tem essa amizade entre os paulistas.

P. F. – Os cariocas não? [risos]

V. F. – Não, os cariocas também, a gente não tem uma coisa assim. O Zico, a gente teve na Seleção juntos, em 1977, nas eliminatórias. O Zico estava começando a carreira no Flamengo, até sentou do meu lado, até brinquei com ele: -“Olha, vamos jogar no Inter, porque o Inter é o time da moda”. E ele falou: - “Não, porque não vai jogar no Flamengo?” [risos]. E eu digo: - “Não, tu que tem que jogar no Inter”. O marco Antonio, o Junior, era o pessoal do Rio também. Vê que o Paulo César saiu do Inter, foi jogar no Rio, no Flamengo. Claro que eu tive oportunidade de jogar aqui no Palmeiras, se eu quisesse jogar, no Corinthians, se eu quisesse jogar. O Vicente Matheus, poxa vida, quando nós estávamos concentrados aqui no Embu, em 77, para disputar as eliminatórias, ele estava todo dia lá. – “Valdomiro, vem jogar no Corinthians, quanto é que tu quer?”. Eu que mando, porque, na época, não era a gente, a gente tinha um contrato com o clube. Hoje não, o jogador termina um contrato, pode ir para qualquer clube. O Palmeiras, quantas vezes! O Flamengo, quantas vezes queria que eu jogasse. Mas eu sempre gostei de jogar no Internacional, e mais do que nunca, claro que gostava do Corinthians, do Palmeiras, tinha uns amigos, o Vladimir, o Zé Maria. Então a gente fez amizade, o próprio Neto, que hoje é comentarista, e essa amizade não tem dinheiro que pague. Você sabe que a gente tinha uma amizade mesmo, esses jogadores, a gente tinha uma amizade, a gente tinha um carinho por outro, a gente torcia um para o outro. Quando a gente jogava contra, claro que a gente não gostaria de perder, mas a gente torcia para não o quê? Para não se machucar. Não interessava se o Inter ganhava do Corinthians aqui, ou o Corinthians ganhasse, mas a gente torcia para quê? Para não se machucar, aqueles companheiros que agente tinha, como é o caso do Vladimir, o César do Palmeiras, o Zé Maria. Porque a gente sabia que era difícil, na época, um jogador se machucar, arrebentar o joelho, e era difícil para se recuperar, como aconteceu com o Pinga. O Pinga com 21 anos. O Pinga era jogador de Seleção Brasileira,está trabalhando no Inter lá. Outros jogadores que se machucaram e não voltaram nunca mais, porque a medicina não era como hoje. Então a gente torcia para o companheiro não ter lesão grave. Foi o caso do Zico, parou por causa que ..., infelizmente era assim.

P. F. – Mas, voltando só para a Copa de 74, o senhor mencionou a Holanda. Foi uma surpresa aquele futebol da Holanda? Como é que você viu aquilo em campo? Como é que foi?

V. F. – Você sabe que foi uma surpresa, para a gente foi. Claro que a gente não acompanhou, a gente via pouco jogo da Holanda. Na época da Copa do Mundo a gente via pouco jogo. Na época não tinha alguém que olhasse os jogos, que falasse para o Zagallo. Mas a gente sabia, mais ou menos, como é que... Porque ela vinha massacrando todo mundo. Ela pegou a Argentina, tocou seis, pegou o Uruguai, tocou não sei quantos, pegou a Itália. E aí a gente: “Puxa vida! Nós vamos pegar aí, como se diz, o bicho cabeludo” [riso]. E a gente pensava que ia ganhar, porque nós tínhamos uma plena certeza, porque nós nos reunimos na véspera do jogo, o Zagallo, todos nós nos reunimos, e nós falamos mesmo um para o outro: “Se nós passarmos pela Holanda, nós vamos ser campeões do mundo”. E aconteceu de nós perdermos, depois o Luís Pereira foi expulso no jogo, e foi uma decepção nossa, uma decepção da torcida brasileira, que esperava que o Brasil fosse campeão novamente, em 74, na Alemanha. E o futebol também mudou, o futebol de 74 para 70 mudou. Você vê que a Holanda veio aquele carrossel, todo mundo se tocando, a Alemanha veio com marcação homem a homem, todo mundo pegando. E o futebol ficou mais pesado do que em 70, no México. Em 70 já o futebol já era mais cadenciado, na verdade. Você vê o futebol de 70, você vê o futebol de 74, qual é a diferença que é. Foi o futebol mais pegado, o futebol mais pegado do Rio Grande do Sul. Futebol gaúcho, mais mordido, do interior de São Paulo. Já não é o futebol mais carioca. O futebol carioca o que é? Toca a bola ali, toca lá, você recebe a bola aí, dá para dominar [riso], dá para olhar para lá, não é verdade? E essa Copa de 74, já não... Você dominava a bola, já tinha dois ou três chegando. Mas chegava, e o juiz... Hoje, às vezes o futebol inglês – eu acompanho muito futebol, inglês, espanhol, italiano -, e o futebol inglês o juiz faz o quê? Segue o jogo, e chego. E a gente não estava preparado para aquilo ali, para aquele futebol de marcação, homem a homem, como a Holanda fez. Nós pegamos a Alemanha Ocidental, ganhamos; pegamos a Argentina, ganhamos. E foi, eu acho, o primeiro clássico em Copa do Mundo, foi 74, Brasil e Argentina, dali que começou a rivalidade. Pegamos a Holanda e teve aquela decepção que nós perdemos.

C. B. – Como é que era a relação com o técnico?

V. F. – Era muito bom. Muito boa com o Zagallo, eu sempre digo que o Zagallo foi um dos maiores treinadores do futebol brasileiro, porque eu acho que um cara que ganha cinco títulos, como jogador ganhou dois, como treinador ganhou 70, depois ganhou novamente, ganhou 58, ganhou 62, eu acho que não é ruim. Eu acho que é um treinador..., eu penso comigo, eu acho que o Zagallo está incluído, para mim, entre aqueles grandes treinadores de futebol brasileiro, como Telê Santana; como Parreira também, grande treinador; Rubens Minelli; Enio Andrade; Brandão, treinou aqui o Corinthians, treinou o Palmeiras. Então eu acho que esses treinadores a gente não pode esquecer, porque, às vezes tem alguns que não gostam do Zagallo, mas, é a mesma coisa que comparar o Messi com o Pelé. Que comparação que eles querem fazer! [riso]. Messi chegar até onde Pelé chegou, ele tem que ganhar cinco títulos mundiais, ele tem que fazer 1400 gols. E o Zagallo, acho que é um dos grandes treinadores do futebol brasileiro, que conquistou o titulo mundial, como jogador e como treinador.

P. F. – Valdomiro, você estava falando aí dos anos 70. Bem, o Brasil estava vivendo o Regime Militar nessa época.

V. F. – É, Regime Militar.

P. F. – Você jogou na Seleção bem nesse período.

V. F. – Bem no Regime Militar.

P. F. – Teve alguma influência, como que isso batia para um jogador de futebol do Rio Grande do Sul, que depois...?

V. F. – Era difícil, porque você sabe que nós fomos até Brasília se despedir, o presidente, na época, era o Geisel.

P. F. – Era o Médici.

V. F. – Não?

P. F. – Acho que era o Médici.

C. B. – Médici?

V. F. – Não.

P. F. – Geisel?

V. F. – Era o Geisel.

P. F. – Gaúcho?

V. F. – É, gaúcho [ridos]. E a Seleção, praticamente, era quase todo mundo formado do exército, era o, se não me engano, Comandante da Seleção, Tinoco, parece.

P. F. – Na CBF7 era o Nunes, não é?

V. F. – É, Heleno Nunes.

P. F. – Heleno Nunes, da CBF.

V. F. – E nós estávamos em São Conrado...

P. F. – CBD8, na época.

V. F. – Para ir a Brasília se despedir do presidente. E no outro dia nós íamos embora para Alemanha [riso]. E um monte de gente não queria ir.

7 Confederação Brasileira de Futebol 8 Confederação Brasileira de Desportos P. F. – Ah é? Muito jogador não queria?

V. F. – É, não queria ir.

P. F. – Por quê?

V. F. – Ah, sei lá, por causa do negócio do Regime, esse negócio todo, e alguns jogadores não queriam ir.

C. B. – Mas por não querer se envolver, ou por ser contra?

P. F. – Vocês conversavam de política?

V. F. – Não, a gente nem ligava para política, eu nunca liguei também para política. O que ligava para mim era Seleção, era... Porque a gente não, eu não, vamos dizer assim... Claro que nós todos do Brasil dependemos da política, na verdade acho que todos nós fazemos política. Sem querer, nós estamos fazendo política todo dia, mesma coisa é futebol. Nós estamos falando de futebol todo dia.

P. F. – Mas naquele momento...

V. F. – Naquele momento nós queríamos o quê? Era Seleção Brasileira, acho que todo mundo. Tinha uma música, como é que era? Sei lá, tinha uma musica que tocava sempre. E alguns jogadores não queriam ir. Aí nós fomos todo mundo, fomos em respeito ao presidente, à comissão técnica, chegamos lá, nos despedimos do presidente.

P. F. – Então você sentiu uma pressão?

V. F. – É, sentia, não é, porque [riso], a gente ir lá. A gente não estava acostumado com aquilo ali, e a gente via a repressão, às vezes de algumas pessoas, mesmo jornalistas, não podiam escrever aquilo que queriam, ou mesmo aqueles cantores não podiam cantar aquelas musicas, mas, vou dizer assim, nós fomos lá em respeito, acho que todo mundo foi lá, se despediu do presidente, todo mundo foi a Brasília, foi lá, sem problema nenhum. Vou dizer assim, eu não queria ir? Eu vou dizer, fui tranquilamente, fui lá me despedir do presidente, sem problema nenhum, outros também.

P. F. – Você lembra quem que não queria ir?

V. F. – Ah, eu não estou lembrado mais [risos]. Tinha alguns que não queriam ir, mas fazer o quê? Eu entendia alguma coisa de política, mas eu sabia que eu ia jogar futebol, eu sabia que eu podia botar a bola ali, e ia jogar. Política não sabia, porque não tinha ainda saber o que era um regime, o que não era. Depois que a gente começou a ficar sabendo o que era, o que não era, tudo. Mas não tive problema nenhum comigo, graças a Deus, com outros jogadores também. Tinha alguns que não queriam, eu não me lembro, mas alguns não queriam ir.

C. B. – Sobre a disputa do terceiro lugar, a hora que a Polônia faz o gol, qual que é a sensação?

V. F. – Foi ai que deu a briga, o Marinho e o Leão.

C. B. – Mas a sensação é de que não vai dar mais?

V. F. – O Alfredo...

C.B. – Mostarda.

V.F. – Foi expulso o Luís Pereira, ele não pode jogar, o Luís Pereira. Jogou o Alfredo. E o Alfredo não queria jogar, estava brabo, não sei o que. Aí o Marinho foi para frente, e deixou atrás, o Lato9, rápido, ate foi artilheiro da Copa, ele era rápido, lançaram ele no meio do Alfredo, o Alfredo não pegou mais. E tomou gol. E nós fomos lá para empatar, porque se empatasse era prorrogação, eles tinham um grande goleiro. E nós fomos em cima, e terminou o jogo, um a zero. Aí chegamos, a tristeza foi grande. Até, por sinal, quando terminou a Copa a gente veio embora, eu e Paulo César Carpegiani, nem fomos para Porto Alegre. Nós viemos direto para São Paulo, para jogar aqui, o Campeonato Brasileiro estava... Aí depois de uma semana que nós chegamos em São Paulo. Nós jogamos contra a Portuguesa aqui, e contra o São Paulo. Eu e Paulo César Carpegiani, o Inter estava aqui em São Paulo, aí jogamos dois jogos aqui e depois fomos para lá. A tristeza é grande, a tristeza que a gente sente. Esses jogadores que estavam agora aí também, que perderam a Copa, a gente sente a tristeza, porque ninguém quer perder, quem é que vai querer perder um jogo, ainda mais em uma Copa do Mundo, ou senão uma decisão de Campeonato Brasileiro, ou uma Copa do Mundo. Porque ali está em jogo quem? Está em jogo um país, está em jogo o futebol brasileiro, a imprensa também. Está em jogo em tudo. Que eu sempre digo: se o Brasil ganha, ganha quem? Ganha a imprensa, ganha a política brasileira, ganha o Brasil, o Brasil vai exportar mais, o Brasil vai exportar mais jogador, não é verdade? Então, é a tristeza que dá na gente, de a gente perder uma Copa. A mesma coisa quando um time..., lá no Sul a gente aprende. Ah, o Inter foi, quando o Inter foi campeão mundial, foi campeão da Libertadores, ou foi campeão brasileiro, o Inter vendeu mais jogadores, o Rio Grande do Sul exportou mais. A mesma coisa aqui em São Paulo, quando o Santos foi campeão agora da Libertadores. Se o Santos fosse campeão do mundo..., todo o Brasil estava torcendo para o Santos ser campeão do mundo. Por causa de quê? Melhora o quê? A imprensa do Brasil toda, quem ganha é a imprensa, ganha o futebol brasileiro, ganha os jogadores. Não só os jogadores do Santos que ganham, ganham os jogadores do interior. Tudo é valorizado. Isso aí a gente sente, e aquele jogo, tu nem imagina a choradeira que deu no vestiário, a tristeza que dá na gente.

9 Grzegorz Lato, jogador da Polônia

P. F. – Vocês chegaram a assistir a final, Alemanha e Holanda? Você lembra?

V. F. – Assisti.

P. F. – Você estava torcendo para quem?

V. F. – Eu acho que nós assistimos sim, assistimos o jogo.

P. F. – Porque o terceiro lugar é no sábado, a final foi no domingo.

V. F. – Foi no domingo, mas no domingo depois do jogo nós fomos receber a premiação.

P. F. – Ah ta. Então vocês assistiram...

V. F. – Assistimos o jogo, Holanda e Alemanha. Eu não estava torcendo para ninguém [riso]

P. F. – Estava triste?

V. F. – É, porque depois do jogo da Alemanha e Holanda, aí o primeiro, segundo, terceiro e quarto lugares foram premiados. Aí nós fomos lá receber a medalha, tenho até hoje a medalha que eu recebi da Copa de 74, está lá, no memorial meu lá. Chegou lá todo mundo, o pessoal, a Seleção, e a gente gostaria de estar recebendo lá o de primeiro, mas a gente tem que ser desportista. Eu acho que naquela hora ali tinha que ser desportista. Todo mundo foi lá, nós da Seleção Brasileira fomos lá, jogadores, comissão técnica, todo mundo foi lá no dia da entrega, que entregaram a Copa para a Alemanha, tudo. Todo mundo foi lá. É importante isso ai, é importante que a gente veja. Tem muitos times, às vezes, ou muitas seleções que perdem e aí nem vai lá receber, e nós fomos todo mundo, naquele dia. Fomos lá todo mundo receber a medalha da Copa, quarto lugar. Isso aí foi importante.

C. B. – Tinha algum jogador que tinha uma posição de líder, de querer botar o pessoal para cima, valorizar o trabalho?

V. F. – Tinha, o Wilson Piazza, que foi da outra Seleção, tinha o próprio Leão também, o Rivelino. Mais o Piazza e o Rivelino que eram. O Rivelino que era o capitão do time, que foi o capitão do time, a opinião dele e do Wilson Piazza também, todo mundo que falava, como o Rivelino, o Piazza que falou: “Pô, a gente perdeu, mas perdemos com a nossa consciência tranquila, porque em 70 nós ganhamos e estava tudo uma festa. E hoje nós estamos tristes. Estamos tristes igual a vocês que são novos aqui na Seleção, que estão vindo a primeira vez. E a gente sente por vocês, porque nós queríamos ganhar”. Porque de 70, quem foi? Foi o Piazza, Rivelino, o Paulo César Caju e o Jairzinho. E o Leão, que foi reserva em 70. Esses aí que foram, e o resto lá tudo novo, como eles falaram para nós. O Riva era um cara muito legal, o Piazza. O próprio Jairzinho também, que era um cara experiente, então falava: “Vocês têm que levantar a cabeça, ir para os clubes de vocês, trabalhar e quem sabe em 78 vocês não voltam para a Seleção, e a gente não ganha. Em 70 nós ganhamos e foi uma festa”. A gente fica conformado com as palavras desses jogadores porque eles ganharam, não é verdade? Então eles transmitem para a gente um sinal que, às vezes, não dá para ganhar sempre. Aquele ano não era para nós ganharmos, era para outra Seleção ganhar.

P. F. – Você seguiu exatamente esse conselho, você voltou para o clube e viveu, talvez, o momento talvez mais de ápice da sua carreira, que foi o bicampeão brasileiro, e octacampeão gaúcho, depois da Copa de 74. E 78 não aconteceu por quê? Seu auge foi justamente depois da Copa de 74.

V. F. – 78 foi uma coisa triste, não para mim, mas para outros jogadores também, que foi o Falcão. Porque a gente estava em uma fase boa, nós fomos bicampeões brasileiros, nós tínhamos o melhor ataque, melhor defesa, o artilheiro, que foi o Flávio. Eu ganhei bola de prata e tudo, considerado o melhor ponta do Campeonato Brasileiro. E aí saiu a convocação para disputar as eliminatórias. As eliminatórias, naquela época, quem era, mais ou menos, era por chave. Nós pegamos quem? Nós pegamos a Bolívia, se não me engano, o Paraguai e a Colômbia, e, se não me engano, a Venezuela, se eu não me engano. E nós ganhamos todos os jogos, só empatamos um jogo. Ganhamos do Paraguai lá, que era difícil ganhar do Paraguai lá, ganhamos da Bolívia, no Maracanã, seis a... E no jogo lá nós empatamos com a seleção da Colômbia, lá em Bogotá. Eu fiz o gol, e o juiz anulou. Não foi falta, não foi nada, o juiz anulou esse gol, nós podíamos ter ganhado de um a zero. E no avião, porque nós empatamos esse jogo, o treinador, falecido Osvaldo Brandão, foi demitido da Seleção. Foi uma injustiça, eu acho que foi a maior injustiça que teve. E entrou o falecido Coutinho. Chegamos no Rio, começamos a treinar novamente, os jogos, e aí nós víamos, eu e Falcão, a expectativa de um de nós sermos titular da Seleção. E eu acho que era justo. O Valdomiro não é titular? O Falcão, pelo menos, tem que ser titular. Poxa, o time do Internacional foi bicampeão brasileiro, melhor ataque, melhor defesa. Pô, não tem nenhum na Seleção, só tem aqui na reserva?! Aí nós chegamos para ele e falamos: “Se a gente não for titular, não puser nenhum na Seleção, nós podemos voltar para o Internacional. O Internacional vai para a Europa e nós vamos com o Inter. De certo ele ficou bravo, acho que, no jogo contra a seleção do Paraguai, aí ele botou eu e até o Gil, que era o titular, estava jogando, e no lugar do Falcão estava jogando o Chicão, que depois ele convocou. E no meu lugar convocou o Toninho, lateral direito que jogou no Fluminense, lateral direito. Mas no jogo contra a seleção do Paraguai, jogou eu e o Falcão, ele botou nós dois para jogar, e nós empatamos, um a um. Até o gol da Seleção Brasileira quem fez foi o Roberto Dinamite. E daquele jogo, o Internacional contratou o Benítez, que foi o melhor jogador em campo, fechou o gol e na segunda-feira estava lá no Inter, contratado pelo Inter, o Benítez. Depois jogou no Palmeiras aqui, foi campeão brasileiro. Aí na próxima convocação, que era para a Copa do Mundo, ele convocou o Chicão, que jogou no São Paulo, para o lugar do Falcão, e para o meu lugar convocou o Toninho, que até faleceu. Jogou lateral direita do Fluminense. E a gente ficou sem disputar a Copa. A gente podia ter disputado a de 78, fazer o quê?!

P. F. – Você atribui...

C. B. – Pausa, troca de fita. Temos mais um tempinho.

P. F. – Não sei se você está cansado.

V. F. – Não, eu não. Só se ela está cansada.

C. B. – Não.

P. F. – Nós já estamos indo também.

C. B. – Não, é que eu agendei um táxi para te levar. É que esse horário é um pouquinho mais complicado por causa do trânsito.

V. F. – O avião sai às sete e quinze?

C. B. – Acho que sai sete horas.

V. F. – A gente vê depois.

P. F. – Está caminhando bem.

V. F. – Não, mas daqui até lá, são dez para as quatro ainda.

C. B. – Não, a gente tem mais um tempinho. A gente termina.

P. F. – Vamos com o ritmo que for.

V. F. – Depois vamos ter uma máquina ali, nós vamos bater umas fotos juntos.

C. B. – Ah sim!

V. F. – Para depois botar lá no meu memorial.

C. B. – A gente está tirando umas fotos também.

V. F. – No memorial meu lá, vou botar. E depois não vai esquecer de mandar...

C. B. – Ah sim, a gente vai te mandar a cópia dessa entrevista para você.

P. F. – Você atribui ao Coutinho a não ida, tanto de Falcão quanto tua?

V. F. – Eu acho que ele ficou bravo por causa que nós falamos isso aí, mas nós tínhamos razão. Se a gente não tivesse razão, mas nós tínhamos razão. Até alguns jornalistas da imprensa de São Paulo, do próprio Rio de Janeiro também, de Porto Alegre não vou falar, porque todo mundo..., deram razão para nós. Mas fazer o quê? A gente ficou... Claro, porque para mim seria a última Copa, mas para o Falcão, que fez um grande campeonato. Aí depois em 82 o Falcão foi convocado, Telê Santana. Eu disputei uma Copa, eu me sinto... Eu falo sempre: da onde eu saí, eu acho que você chegar até aonde eu cheguei no futebol, disputar uma Copa do Mundo, para mim, acho que foi tudo na minha vida, como jogador de futebol, como gente, como pessoa. Porque é difícil, eu sempre falo, na época era difícil você chegar à Seleção Brasileira. Você,sei lá, tinha que jogar muito, e ter um perfil de homem, e a cobrança era muito grande, porque, para você chegar à Seleção Brasileira, não era só jogar futebol, era fora do futebol, fora do campo, esse perfil de jogador. E eu tenho orgulho disso aí, de ter esse perfil, para poder, nos anos 70, chegar à Seleção.

P. F. – Mas a pressão foi bem grande no Rio Grande do Sul?

V. F. – Ah foi, bem grande.

P. F. – Não foi nenhum gaúcho para a Copa?

V. F. – Não foi nenhum gaúcho.

P. F. – Nenhum gaúcho, não é?

V. F. – Nenhum gaúcho, a pressão foi muito grande. A pressão foi grande mesmo dos gaúchos, porque eles contavam de certeza, porque nós tínhamos disputado as eliminatórias. Poxa, não é? Só porque nós falamos aquilo ali, acho, que ele não convocou..

P. F. – Mas também, na época, tinha muita discussão de política, não é? Que o Coutinho era militar...

V. F. – Foi o que aconteceu com o falecido Everaldo. O falecido Everaldo foi tricampeão do mundo, e depois, na Seleção Brasileira que foi convocada, que teve a mini Copa, ele não foi convocado. Até teve aquele jogo lá que a seleção Gaúcha e Seleção Brasileira, três a três, e nós estávamos ganhando de três a dois até o final do jogo, depois que a Seleção Brasileira empatou. Foi o jogo que deu mais publico no Beira- Rio. Deu 115 mil pessoas, e sobrou mais 10 mil pessoas fora, o maior jogo que teve. Ali também o falecido Everaldo não foi convocado para a Seleção Brasileira, ele foi tricampeão brasileiro, e para a mini Copa ele não foi convocado. A rivalidade que tinha, isso aí não sei. A gente que estava lá no Sul, que jogava, a gente não via, mas a imprensa do Sul sempre via. A imprensa cobrava muito da gente. A imprensa, sei lá, às vezes eu falo com algum jornalista lá no Sul. Na época tinha Lauro Quadros, Paulo Santana, Ruy Carlos Ostermann, que era o comentarista. Eles cobravam muito do time do Inter, cobravam muito do jogador, e o jogador, puxa vida! Isso que eu estava falando com você aí, esse negócio de adaptação, aí vem o jogador lá não sei da onde da Europa, vinha para cá, ah, tem que ficar aqui oito meses, um ano, para se adaptar. Na nossa época não tinha isso aí. O jogador já veio lá do time do interior, chegava aqui em um time grande, já tinha que mostrar, tinha que ser, se não fosse.... Então hoje é mais fácil, hoje todo mundo fala que o futebol hoje está muito rápido. Sei lá, eu não vejo. Às vezes acha que o jogador está correndo mais. Eu não vejo. Que o jogador hoje está fazendo muito exercício. Não vejo nada disso aí. Já pensou hoje, o jogador de futebol, hoje, pegar o Tim, o Gilberto Tim como preparador físico? Ele ia... Porque o nosso time do Inter, eu sempre falo, ele não corria só 90 minutos, ele corria 120 minutos e não cansava. Hoje eu vejo, às vezes, jogador falar: “Ah, estou cansado”. Joga quarta e domingo. Na nossa época jogava quarta e domingo também, e mais os amistosos. Mas quando chega nas férias [riso], está todo mundo jogando bola. Às vezes eu começo a pensar, o futebol mudou alguma coisa? Sei lá, para mim não mudou nada. O que mudou, para mim, que hoje você não veja mais o quê? Hoje tem o Neymar ali, que pode em uma partida decidir o jogo. E é só, tem mais alguém? Não tem, não é verdade? Então não tem. Nos anos 70 não.

P. F. – Todo time tinha pelo menos um.

V. F. – Nos 70, você via, você era torcedor de quem? Não sei qual é o time que você torcia, mas se você torcia pelo Flamengo, você ia no campo para ver quem jogar? Você via o Zico, via o Junior, Adílio, Andrada. Aí você vê, como o time do Inter lá. Até, por sinal, quando o Inter completou 100 anos, tem uma gravação lá que saiu, cd, que eu falo, até o pessoal cobrou muito lá, alguns, torcedor cobrou de mim: - “Valdomiro, é só tu que aparece no vídeo”. Mas são 12 anos! Então eu falo. A torcida do Inter às vezes reclamava. Quando chegava no Beira-Rio, cinco minutos, já estava um a zero. Ai eu falo: “Poxa, tem que chegar mais cedo!” [risos]. Por causa de quê? A torcida do Inter ia para ver o time do Inter todo jogar, então a torcida do Inter ficava lá assim... Jogo Inter e Corinthians, Inter e São Paulo, Inter e Flamengo, estava lá assim. Estava zero a zero. Sabia que, daqui um pouco, estava um a zero, dois a zero. Porque tinha jogador para resolver a partida. A mesma coisa o Santos, a mesma coisa aqui o Cruzeiro. Agora hoje não. Você via o jogo bonito, você via o time jogar pelos lados do campo, como o Telê falava: - “O meu time tem que jogar para os lados do campo”. Agora hoje, quando um cara vai na linha de fundo, cruza uma bola e o centroavante entra e faz o gol, o pessoal fala: “Mas que grande jogada”. O jornalista fala isso aí. E antes, toda hora acontecia isso aí, era a jogada preferida da gente, era a bola na linha de fundo, você via o time jogando, você via o Barcelona jogando assim, ocupando os espaços do campo todo. Aí você vai ver um jogo aqui em São Paulo, aí você vê aquele amontoado de gente naquele meio de campo, não é verdade? Vinte jogadores ali. Aí você olha assim: “Lá não tem ninguém!”. Quando eu vou a Porto Alegre, às vezes, eu vejo o Inter jogar, algumas vezes que eu estou lá, eu fico apavorado. Ano passado eu fui ver um Grenal, eu fiquei apavorado, parecia assim... Naquele canto lá, estava todo mundo concentrado lá, e esse canto do campo aqui, não tinha ninguém. Mas como, gente? Que futebol que nós estamos jogando? E o culpado disso aí quem é? Eu penso e falo: são os treinadores. Tem treinador hoje, ah eu vou para aquele time lá, o pessoal... “Primeiro vamos se defender, zero a zero para nós está bom”. Gente, uma vitória vale três pontos.

P. F. – Claro.

V. F. – De que adianta ele empatar três jogos? Vai ganhar três pontos. Eu não quero jogar...

P. F. – Para ganhar.

V. F. – Às vezes, eu começo a pensar assim, como você falou, nunca ser treinador. Eu sei lá, não sei mais. O dia que eu fosse treinador do time, eu não queria nem saber, o meu time ia jogar aqui em São Paulo, ia jogar assim, e lá no Beira – Rio ia jogar assim. Eu não queria saber se ia perder de cinco, eu só sei que o meu time ia fazer gol.

P. F. – Valdomiro, você é de uma geração de jogadores, falando em mudanças, que ficava muito nos clubes, você ficava anos, você ficou 12 anos

V. F. – 12 anos.

P. F. – No Inter. E tua última temporada o Inter foi tri...

V. F. – Campeão.

P. F. – Foi tricampeão brasileiro invicto.

V. F. – Invicto, é, 79.

P. F. – Acho que o único invicto.

V. F. – O único time que foi...

P. F. – O único time que foi campeão invicto do Brasil.

V. F. – Em 79.

P. F. – E já não era mais o time de 75 e de 76?

V. F. – Não era mais.

P. F. – Era um time modificado?

V. F. – Era um time completamente diferente.

P. F. – Conta um pouco essa última temporada, e por que você depois saiu?

V. F. – 79, quando nós fomos tricampeões brasileiros, o time já não era... Ficou quem do time de 76? Sempre os jornalistas do Rio Grande do Sul falam que ficou a espinha dorsal do time. Ficou quem? Ficou eu; o Jair – Jair em 76 já era titular do Inter também-; ficou o Batista; ficou o Falcão, veio o Mário Sérgio, o Mário Sérgio era um grande jogador, não deu certo no Botafogo por quê? Porque o Botafogo não pagava em dia. Não deu certo na Argentina por quê? Porque diz que... Lá no Inter Mário Sérgio jogou demais. Depois nós tínhamos o Benítez, que era grande goleiro, jogou aqui no Palmeiras, mostrou. Nós não tínhamos era um lateral direito, e nós tínhamos improvisado o João Carlos, que foi campeão. Nós tínhamos um zagueiro bom, que era o Mauro Pastor; nós tínhamos o Mauro Galvão, que tinha 18 anos para 19 anos, que era um grande; e nós tínhamos um meio de campo muito bom; e nós tínhamos um ataque muito bom também. Claro, tinha o Bira, o Bira foi artilheiro do campeonato, agora vê! E o Bira não era, mas... Nós tínhamos um meio de campo muito bom, e esse campeonato invicto foi muito importante, faz 33 anos. E a torcida do Inter, se você perguntar – não para mim, mas perguntar hoje para o torcedor do Inter, que tem 30 anos, 32 anos – eles não querem ser campeões do mundo, eles não querem ser campeões da Libertadores, eles querem ganhar um título de Brasileiro.

P. F. – De Brasileiro, não é?

V. F. – É o sonho dessa torcida, é ganhar um Brasileiro. E eu sempre falo para eles: vamos ver se esse ano a gente consegue. E vai. Mas o Brasileiro é difícil; é mais fácil o mundial, a Libertadores, do que o Brasileiro. O Brasileiro, sempre eu falo, tem 15 times que estão em busca do titulo. Aqui de São Paulo, os quatro de São Paulo, agora entrou mais a Portuguesa, os cinco de São Paulo, todos eles o que é? Em busca do titulo. Do Rio de Janeiro, os quatro do Rio, todos eles em busca do titulo; de Minas, os dois em busca do titulo; de Curitiba, tira um, em busca do titulo; de Porto Alegre estão os dois em busca do titulo, então a briga é grande. E a Libertadores é mais fácil. A Libertadores, hoje, quem são os favoritos para ganhar a Libertadores? São os times brasileiros. Você vê a campanha dos times brasileiros na Libertadores até agora. Então a gente sempre diz que o futebol gaúcho, o Internacional, com esse titulo de tricampeão brasileiro invicto. Claro que nunca mais um time vai ser campeão invicto. E depois eu dei sorte, quando eu parei de jogar futebol, em 82, eu fui campeão gaúcho novamente, e foi campeão na Espanha, da Taça João [inaudível 14:22] 10 , de Barcelona, então isso aí para mim foi uma alegria muito grande [riso].

P. F. – E como que foi essa decisão de sair do Inter... Você saiu em 80, não é?

V. F. – É, eu fui campeão em 79, aí em 80, fevereiro de 80 eu saí. Teve um presidente do Inter, se chama José Asmuz, não sei se você já ouviu falar. Em 79, o presidente do campeonato invicto era o doutor Marcelo Feijó. Quando nós fomos campeões brasileiros, tricampeões brasileiros, o Internacional, o voto não era o voto dos sócios, eram os conselheiros que votavam. Mas se você é tricampeão brasileiro, presidente do time, você precisa fazer campanha para se eleger? E na segunda-feira tinha eleição para presidente. Aí todo mundo, nós mesmos, jogadores, torcendo para o doutor Marcelo Feijó, que já faleceu. Claro, vai ser o presidente do Inter, era tricampeão brasileiro. E o diretor de futebol era o Arnaldo Balvé, também um dos grandes. Tem até lá o nome do vestiário, Arnaldo Balvé. Chegou na segunda-feira, eleição para presidente do clube. Aí o Asmuz ganhou por um voto. Mas em 74 eu estava na Seleção sem contrato, era minha esposa que cuidava do meu negócio, ela cuidava. E eu sei que, eu estava na Seleção, mandaram chamar lá, e eu falei: “Eu quero tanto, e é isso aí que tu vai pedir”. E esse presidente do Inter chegou, na época, ele era meio..., não era diretor. Ele chegou que um dia ia ser presidente do Inter, e que eu não ia ficar no Inter. Tudo bem! E eu sei que, parece que ele chegou e falou para ela que lugar de mulher era na cozinha, aí ela chegou e falou que lugar de cavalo era lá no Cristal [risos]. Está certa ela. Eu acho que, no meu entender, as mulheres, não é derrota. É de muito tempo que tem mulher que o homem nem chega perto, pela posição que ela tem, que ela ocupou, que ocupa hoje. E eu sempre falo, eu sempre digo que eu devo muito a minha carreira como

10 Provavelmente o jogador está se referindo a Taça Ramón Carranza, disputada na cidade de Cádiz, na Espanha. jogador de futebol, hoje, as coisas que eu consegui na minha vida, eu devo muito a minha esposa. Porque é ela que cuida dos meus negócios, ela que cuida até hoje, eu não cuido de nada, é ela que..., tudo. Eu me arrependi disso aí? Não, não me arrependi não. Porque, graças a Deus, ela é daquelas que luta, que lutou, que às vezes, quando eu estava na Colômbia, saía de lá, vinha aqui sozinha para ver os negócios e voltava, e via, essa fibra. Quando foi na inauguração do memorial, aí ele foi lá conhecer o memorial, o Asmuz foi lá, junto com o presidente Fernando Carvalho, Vitorio Piffero, que era o presidente do Inter. O Luigi hoje, que é o presidente do Inter, pessoa fora de série. Foi a diretoria do Inter inteira. Que nunca na vida do Inter, na história do Inter, nunca uma diretoria do Inter foi em um evento. E lá foi todo mundo. Foi o olho do Inter, foi os jogadores, todo mundo foi. E chegou lá, ele pediu desculpa para ela. Para perdoar, porque ele errou. Porque, se eu tivesse ficado no Inter, a confiança dos jogadores, que eles tinham em mim, na minha jogada... Porque, quando eu jogava no Inter, eu ficava uma partida sem jogar, o Inter era uma coisa; quando eu jogava, o Inter era outra coisa. Então a confiança dos jogadores tinha a ver que, em 79 eu operei o joelho, 78. Não, 79, eu operei o joelho. Eu fiquei quatro partidas do Campeonato Brasileiro, não disputei o Campeonato Gaúcho, por causa do joelho, e eu não joguei quatro partidas do campeonato Brasileiro, aí o treinador Enio Andrade, e o presidente Marcelo Feijó, eu estava operado no hospital. Foram lá no hospital Moinho de Vento e chegaram para mim: “Valdomiro, será que tu vai voltar esse ano inda?”. Eu digo: “Eu vou voltar a jogar e nós vamos ser campeões brasileiros”. E o Balvé, que tinha emissora de rádio, até ele era sócio, na época, da RBS TV, junto com o Maurício Sirotsky, depois ele vendeu a parte dele. Uma pessoa assim... Até a esposa dele, até hoje a gente se encontra, ela começa a chorar. Porque eu era muito querido pelo presidente. Até eu não trouxe hoje, porque não posso usar muito, aquela corrente. Aquela corrente vale um carro, então eu quase não uso. Que eu ganhei da esposa do presidente do Internacional. E aí eu voltei, voltei no jogo contra o Desportiva Ferroviária, no Beira- Rio. Nós ganhamos de cinco a zero. Eu já fiz um gol e dei passe para o Bira fazer três gols. E nesse jogo aí o Zé Rios, não sei se você já ouviu falar, o Zé Rios, lateral esquerdo do Desportiva Ferroviária, que rachou a cabeça. Isso aí apareceu no jornal, você vai pesquisando, alguns sabem. E o Zé Rios ficou em Porto Alegre, deu traumatismo craniano, perdeu, praticamente... E o Zé Rios era casado, e a esposa dele foi para lá, ficou na minha casa quase seis meses. Aí eu fiz uma campanha lá junto com os jogadores do Grêmio, do Inter, e nós, junto com a torcida do Grêmio, do Inter, nós arrecadamos dinheiro para ele comprar uma casa lá no Espírito Santo. E dali para frente eu comecei a jogar. E o Inter só tinha empatado, aí começamos a ganhar. O Enio Andrade já ficou... sorrisão! Primeiro jogo que eu voltei, fiz o gol, cruzei três, o Bira fez, e aí começamos. Jogamos contra o Atlético Paranaense, o jogo mais difícil, também, foi contra a Inter de Limeira, que estava no campeonato, de um a zero. Eu fiz o gol de cabeça. Depois pegamos o Cruzeiro lá em Minas, eu estava com uma distensão na perna, porque eu forçava mais essa perna aqui, porque a outra estava operada, não estava bem a musculatura. Fiz um gol, estava ganhando de três a um, nós estávamos ganhando o primeiro tempo, eu saí porque não podia mais. No segundo jogo nós ganhamos, depois jogamos contra o Vasco, lá no Rio, eu não joguei. Eu não podia mais jogar, porque estava com a distensão, se eu jogasse, abria, pronto. E o Falcão também não jogou, porque ganhou o terceiro cartão amarelo. Nós fomos para o Rio, jogou no meu lugar o Chico Spina, jogou o Valdir Lima no lugar do Falcão. E eu fui também, nós fomos, todo mundo, eu e Falcão fomos, fizemos o tratamento no hotel. E nós falamos para os jogadores, mais velhos: “Se nós perdermos aqui de um a zero está ótimo, porque lá no Beira- Rio nós...”. Já volta o Falcão, volta eu. Nós sabíamos que íamos ganhar. O Chico, naquele jogo lá, foi lá e fez dois gols, ganhamos de dois a zero. Foi o único jogo que o Chico jogou [risos]. Foi ótimo. Nós chegamos no Beira- Rio lá, contra o Vasco, ganhamos de dois a um, aí passeamos dentro de campo. É essas coisas, e como jogadores lá do Inter, tinha muita confiança. Porque o time do Inter, todo mundo, a imprensa do Rio Grande do Sul falava: “Quando o Valdomiro...”, o Paulo Santana, colunista no Rio Grande do Sul, o Paulo Santana. Porque eu marcava o Grenal, por causa de quê o Grenal? O Grenal é aquele jogo que consagra o jogador, aquele jogo que o jogador tem que mostrar, entendeu? Isso aqui é um grande jogador. E eu, no Grenal, ou eu fazia o gol, ou dava o passe para fazer o gol. A decisão do Grenal, do Inter, do octacampeonato, eu sempre fazia o gol. Acho que eu sou, mais ou menos, quase o recordista em Grenal e artilheiro em Grenal. Eu sou o terceiro artilheiro de todos os tempos do Inter. Vê, eu era ponta-direita. Para ser o terceiro artilheiro de todos os tempos! É que eu era um cara muito..., eu queria cada vez mais. Eu treinava assim, você chegava e falava assim: “Poxa, mas o Valdomiro não precisa treinar assim”. Não, mas eu não queria... O treinador me tirava do jogo, faltava assim, 10 minutos, para me poupar, porque eu estava sempre jogando, eu nunca ficava fora do time. Ah, eu fica louco, eu queria era jogar [risos], eu queria estar jogando. Essas coisas que a gente guarda como recordação, essas coisas boas, ainda mais no Inter. Eu sempre digo, o Internacional é a minha casa. Eu chego lá, eu conheço todos os lugarezinhos do Beira- Rio. No dia da inauguração do Beira- Rio, eu tenho uma camisa lá que não tem preço, que é a do jogo da inauguração do Beira- Rio, Internacional e Benfica. Está lá no museu essa camisa. Muita gente me ofereceu mais de 40 mil, 50 mil por essa camisa, não tem preço. Tem coisa que você não tem preço, e essa camisa não tem. O Inter, para mim, é a mesma coisa que seja a minha família. O torcedor do Inter, para mim, é a minha família. Se eu pudesse voltar no tempo novamente e fazer tudo de novo, eu gostaria de fazer melhor ainda, vestir a camisa do Internacional não só nessas quase 900 partidas, mas 2000 partidas [riso]. Porque foi o time que me deu tudo na vida, me deu tudo, tudo o que eu tenho hoje. Hoje, para mim, vir aqui hoje. Isso aí para mim... E muitos jogadores, às vezes, não querem vir aqui, mas eu, que orgulho que eu tenho de estar aqui e ser entrevistado por vocês, e fazer parte. Isso aqui para mim, eu acho que é uma alegria, uma coisa que não é qualquer um que está aqui e vai ficar marcado aqui. Isso aí é uma alegria muito grande, que eu sempre falo. Quando telefonou o...

C. B. – O Bruno...

V. F. – Quando telefonou, uma alegria para mim. E fica marcado. Quantos jogadores vão ficar marcados aqui? Quantos jogadores tem no Brasil hoje? E quantos vão ficar aqui marcados? E eu estar incluído entre eles?! Puxa vida! É uma coisa que você sente, tudo aquilo que você começa a ver lá atrás, e começa... E chegou aqui, não é verdade?

P. F. – Claro.

V. F. – Quem é que está aqui? É só quem jogou e quem disputou Copa do Mundo. Não é qualquer um. O futebol brasileiro, hoje... Se é na Itália, tudo bem, lá é um país desse tamanho; se é na Alemanha, mas o Brasil, gente! No Brasil, para estar aqui, fazer parte desse museu, não é qualquer um. E eu tenho esse orgulho, eu estou fazendo parte disso, lá no museu de São Paulo. A gente às vezes se emociona, porque eu sou muito, desde quando eu jogava até hoje, quando eu faço algumas coisas boas para alguém, e eu acho que a gente está fazendo alguma coisa ótima. E é a mesma coisa aqui hoje, esse carinho de vocês aqui, me atenderam aqui bem. E fazer parte disso aqui não é qualquer um, isso aqui é uma alegria muito grande.

C. B. – Acho que podemos...

P. F. – É, acho que podemos... Talvez uma última coisa, se o senhor puder falar um pouco do memorial, acho que é uma coisa interessante, você inaugurou. Não é todo jogador também que faz um memorial. Então acho que é uma oportunidade de também você poder falar do memorial...

V. F. – Claro. Como você falou, não é qualquer jogador que tem um memorial.

P. F. – Contar um pouco por que a ideia, como é que surgiu isso, o que é o memorial?

V. F. – O memorial Valdomiro Vaz Franco está situado lá em Criciúma, no centro esportivo, e a ideia partiu da minha esposa.

C. B. – Da Natália.

V. F. – É, tudo partiu dela. Se tu olhar o memorial, o que é? Ela fez o tipo de uma bola. Ele é tipo uma bola, e dentro é tudo quase vidro, ela botou muito vidro, e ficou muito bonito. Fez uma estátua na frente, de 1,77m, que é a minha altura. Pagou 25 mil pela estátua, para fazer [risos]. Então, o memorial é visitado por muitas pessoas, torcedores do Inter, do Rio grande do Sul, e como você falou, não é qualquer um que tem um memorial. Falcão, Batista, esse pessoal todo, eu não tenho nenhuma camisa. Que eles foram lá ver, até a esposa do Batista, o Batista esteve lá no dia da inauguração, Benítez foi, foi o Claudiomiro, foi o ônibus do Inter, foi os jogadores, todo mundo. Eu fiz um coquetel no dia do memorial, teve a imprensa toda, a Sportv, a televisão, todo mundo. Onde é que tinha tudo isso aí? A Natália que guardou tudo. Recorte de jornal, são 25 álbuns só de recorte de jornal que ela pegou tudo, direitinho, desde o primeiro. Tem o número 1 até o 25. E ela fez o quê? Ela tirou xerox de tudo aquilo ali, a cópia legitima do jornal ela guardou, e xerocou tudo, fez tudo, está tudo lá. E muitas pessoas que vão lá, muitos jornalistas, que estão estudando jornalismo, que vão lá fazer a fase final comigo, então tiram muita coisa ali: jornal, revista, livro da Copa do Mundo, tudo. Então os jornalistas vão lá fazer a fase final. Até, por sinal, teve dois jornalistas de Porto Alegre que estiveram lá fazendo o TCC11 comigo. Teve outro em Florianópolis, fazendo comigo, TCC final de jornalista; lá em Criciúma também, lá tem jornalismo também, a faculdade. Dois guris também, os meninos lá que estudaram, se formaram agora, ano passado, fizeram TCC comigo. Mas o memorial ficou muito bonito, e eu agradeço muito à minha esposa, e lá o centro esportivo é muito bonito. A gente já deixou um cartão aqui, para nossa amiga, depois vai deixar outro aqui para o... E o dia que vocês aparecerem lá, disser: “Estou perdido aqui em Criciúma” [riso], então você lembra que vocês lá vão ter um amigo. Já falei, quando quiser ir lá nas férias, época de praia, vão lá que a gente vai receber vocês com muito carinho. Tenha certeza que eu, a minha família...-“Ah, Valdomiro, quero ficar aí uma semana na praia”. Não tem problema nenhum, lá tem um apartamento lá, dá para ficar lá [riso], dois casais dá para ficar, tranquilo, sem problema nenhum. Então, a gente agradece o carinho de vocês, e quando vocês forem lá olhar o memorial, e a gente ficar com esse contato, essa amizade que a gente, junto com o Bruno, agora aqui a...

C. B. – Clarissa.

V. F. – A Clarissa, mais você...

P. F. – Paulo.

V. F. – Paulo, o pessoal aí. Porque a gente aprendeu que a gente sempre fala assim: -“Puxa vida, eu nunca vou lá naquele lugar”. Porque esse mundo é pequeno, é pequeno esse mundo. No ano passado eu estive em Dubai, estive lá com o Inter, fiquei 15 dias em Dubai, e cheguei lá, encontrei um amigo, que eu conheci na Colômbia. Como esse mundo..., não é? É um grande prazer receber vocês lá, já falei, a hora que vocês quiserem. É bom ir lá época de verão. Claro, no inverno é bom também, mas no inverno tem só serra lá, tem o pinhão. Mas também vocês tem aqui [risos], mas a praia não. A época de verão não, época de verão lá é

11 Trabalho de conclusão de curso muito melhor. Lá tem aquele camarão, aquela tainha, aquele peixe gostoso [risos]. Então, foi um prazer estar com vocês, a Clarissa, o Paulo, mais o Bruno. E a gente agradece a oportunidade que vocês me deram, de estar aqui e fazer parte desse mundo de vocês, porque agora eu também faço parte desse mundo de vocês também, que é desse museu aqui que vocês tocam também, está legal?

P. F. – Nós é que agradecemos esse belo depoimento. Obrigado.

C. B. – Obrigada, Valdomiro. A gente que agradece, com certeza.

FINAL DO DEPOIMENTO]