1 UM VIENENSE NOS TRÓPICOS A vida e a obra de Guido Beck entre 1943 e 1988 Antonio Augusto Passos Videira Departamento de Filosofia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rua São Francisco Xavier, 524, sala 9027B, Maracanã, CEP: 20550-013 e-mail:
[email protected] * "Na verdade, eu não viajei; fui viajado..." (Guido Beck, 1983)1 Sumário: Este artigo descreve o papel desempenhado pelo físico austríaco Guido Beck (1903-1988) na Argentina e no Brasil entre 1943 e 1988. A atuação de Beck deve ser compreendida como a de um catalisador de vocações no meio científico sul-americano. Para a redação deste trabalho, usamos principalmente o material -- cartas, manuscritos inéditos e artigos científicos--, que se encontra no Arquivo Guido Beck, localizado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro (RJ). Não comparamos às ações de Beck às de outros cientistas argentinos e brasileiros. Além disso, não procuramos contextualizar as atividades de Beck. 1 ) Entrevista de Guido Beck a Ciência Hoje, 1983. Cf. Cientistas do Brasil( Depoimentos), SBPC, São Paulo, 1999. 2 A física como vocação Em maio de 1943, ao desembarcar no porto de Buenos Aires, vindo de Portugal, Guido Beck iniciava uma nova fase -- ou uma nova transição de fase, como ele dizia -- em sua vida. De Portugal, onde havia passado os últimos 16 meses, Beck tentara sem sucesso conseguir a saída de sua mãe de uma prisão nazista, onde ela se encontrava confinada. Mesmo valendo-se do fato de aquele país ter se declarado neutro na Segunda Guerra Mundial, as tentativas para a libertação foram infrutíferas -- na época de sua chegada à Argentina, sua mãe era dada como desaparecida – e Beck nunca pôde saber com certeza o seu destino final.