A Poesia De Agostinho Neto E Solano Trindade

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A Poesia De Agostinho Neto E Solano Trindade UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS DE LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Oluemi Aparecido dos Santos Nas sendas da revolução: a poesia de Agostinho Neto e Solano Trindade São Paulo 2009 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS DE LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Nas sendas da revolução: a poesia de Agostinho Neto e Solano Trindade Oluemi Aparecido dos Santos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Letras. Orientadora: Profª Drª Tania Celestino de Macêdo São Paulo 2009 2 Dedicatória Ao meu pai, Chico Soares, com quem descobri o caminho das letras. À minha mãe, Josefa, e meu irmão, Jevaê, pelo tenro carinho e apoio. À minha avó, Sebastiana, com quem tenho sempre aprendido sobre nossos antepassados. 3 Agradecimentos Minha especial gratidão à Profª Drª Tania Celestino de Macêdo, pela atenciosa, carinhosa e segura orientação e pela confiança e amizade que se construiu nesses anos de convivência. Agradeço à minha família pelo apoio e incentivo durante a realização deste trabalho. Ao Prof.º Dr.º Dagoberto José Fonseca pelo apoio e confiança. Aos Professores Doutores Mário César Lugarinho e Simone Caputo por suas valiosas contribuições durante o processo de qualificação desta pesquisa. Ao escritor e jornalista Oswaldo de Camargo pelo diálogo e pelos livros doados. À amiga Rosely Zenker, pela leitura, revisão e sugestões. Aos amigos Tiago Nero, Lívia Burlim, Adriana de Cássia Moreira, Cristiane Santana, Francisco Sandro, Christian Moura, Everton Nascimento e todos os valiosos Malungos do NUPE. À FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pela bolsa de estudos concedida, fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. 4 Resumo A presente pesquisa tem por objetivo propor aproximações entre os autores Agostinho Neto (angolano) e Solano Trindade (brasileiro). Realizamos as comparações entre ambos considerando semelhanças literárias e políticas em seus percursos. Ao longo de suas vidas os dois poetas dedicaram-se à literatura e também a causas sociais e raciais. A pesquisa centra-se na análise comparativa entre os textos de Sagrada esperança (1985) de Neto e Cantares ao meu povo (1969) de Trindade. Para embasar nossa pesquisa teremos como foco de comparação pressupostos da Négritude enquanto temática e sua ligação com o romantismo revolucionário e/ou utópico, nas sendas dos estudos levados a efeito por Michael Löwy e Robert Sayre. Ao articularmos suas convergências, acreditamos ser possível constatar que há sobrevivências românticas que se fazem vivas na Negritude, às quais podem ser verificadas nas obras eleitas para a presente pesquisa. O romantismo é aqui pensado como “visão de mundo”, logo, livre de suas amarras temporais. Ao, visualizarmos ecos deste romantismo presentes na Négritude acreditamos ser possível verificar em que medida as obras de Agostinho Neto e Solano Trindade, pertencem a uma forma de poesia, em que há uma preocupação dos poetas em instigar, pelo verso, a prática revolucionária capaz de gerar transformações. Palavras-chave: Négritude; Agostinho Neto; Solano Trindade romantismo utópico e/ou revolucionário; identidade. Abstract This research has the aim of proposing approaches between the authors Agostinho Neto (Angolan) and Solano Trindade (Brazilian). Literary and political similarities during their life spans were considered while comparisons were being made. Both poets dedicated themselves to literature and, also, to social and political causes during their lives. The research focuses on the comparative analysis between the texts Sagrada Esperança (1985), from Neto, and Trindade's Cantares ao meu povo (1961). We are going to adopt the Négritude as a theme and its relation with revolutionary and/or utopian romantism as a focus of comparison in order to found our research, having the studies performed by Michael Löwy and Robert Sayre as a guide. By working the texts' convergence out, we believe it is possible to notice that there are romantic survivals that are highlighted by the Black Movement, what can be verified in the works selected to this research. Romantism is faced as a "vision about the world", so it is free from tieds of time. While vizualizing that echoes from this romantism take part in Négritude, we believe it is possible to verify that the works from Agostinho Neto and Solano Trindade belong to a type of poetry in which the authors, from their verses, are concerned about provoking the revolutionary action that is able to generate tranformations. Keywords: Négritude; Agostinho Neto; Solano Tridade, revolutionary and/or utopian romantism; identity. 5 SUMÁRIO Apresentação.............................................................................................................07 CAPÍTULO I - Revolução, negritude e romantismo: possibilidades de literatura engajada....................................................................................................................11 1.1 - Negritude e sobrevivências românticas.............................................................11 1.2. - Solano Trindade: o poeta do povo....................................................................21 1.3 - Agostinho Neto: o poeta da esperança..............................................................25 1.4 - Revolução, negritude e romantismo: discursos utópicos...................................29 1.5 - Percursos da Negritude - o pan-africanismo......................................................37 1.5.1 -A Negritude.....................................................................................................41 1.5.2 - Antecedentes..................................................................................................45 1.5.3 – A Negritude no Brasil ....................................................................................51 1.6 -O romantismo revolucionário.............................................................................55 1.6.1 -A gênese da formação....................................................................................57 1.6.2 - Características da crítica romântica da modernidade....................................61 1.6.3 - Romantismo utópico e/ou revolucionário.......................................................63 1.7 -Negações...........................................................................................................65 CAPÍTULO II – Negritude, sociedade e modernidade...........................................72 2.1 - Resistência e modernidade................................................................................72 2.2 -A construção de uma identidade negra..............................................................80 2.3 - Negritude e Modernidade em Agostinho Neto e Solano Trindade.....................92 CAPÍTULO III – Resistência, esperança e liberdade...........................................108 3.1 – Luta e esperança em Agostinho Neto.............................................................109 3.2 – Na “simplicidade” a consciência e resistência de Solano Trindade................132 Conclusões.............................................................................................................156 Bibliografia..............................................................................................................162 6 Apresentação Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo. Karl Marx, Teses sobre Feuerbach É notório o fato de que ao longo da história o texto literário tem sido tomado como objeto capaz de influenciar atitudes e comportamentos e de interferir na vida política e cultural de diversos povos. É por meio deles que as nações constroem suas narrativas míticas e identitárias. Ocorre que nessa construção os sistemas literários advindos a partir do começo do século XX acompanham tendências e transformações de seu tempo. Portanto, ao nos dispormos a pesquisar a literatura afro-brasileira e as literaturas africanas de língua portuguesa, mais especificamente a angolana, deparamo-nos com questões pertinentes não só à população negra, mas que implicam os povos como um todo. Ainda que vivamos, desde pelo menos a Revolução Francesa e por conseguinte a Revolução Industrial, sob a égide do consumismo e do individualismo, houve e sempre haverá resistência por parte de quem se manifesta a favor de um mundo menos individualista. Nesta releitura do mundo para a sua transformação, tem a poesia lugar privilegiado, pois segundo Bosi, A poesia resiste à falsa ordem, que é, a rigor, barbárie e caos, ‘esta coleção de objetos de não amor’ (Drummond). Resiste ao contínuo ‘harmonioso’ pelo descontínuo gritante; resiste ao descontínuo gritante pelo contínuo harmonioso. Resiste aferrando-se à memória viva do passado, e resiste imaginando uma nova ordem que se recorta no horizonte da utopia. (2000, p. 169). A resistência se apresenta sob diversas faces. Dentre as formas de resistência assumidas pela poesia, Bosi inclui a mítica ou poesia de natureza, que “propõe a recuperação do sentido comunitário perdido”, o lirismo de confissão, em que se faz
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