Pereira Et Al Sarilhos Grandes 2017.Pdf
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1 2 3 TÍTULO Sines, História e Património, o Porto e o Mar Actas AUTOR: Arquivo Municipal de Sines ISBN: 978-972-8261-19-1 Câmara Municipal de Sines, Novembro de 2017 DESIGN E PAGINAÇÃO Ricardo Lychnos CAPA 4 Ricardo Lychnos PARCEIROS > Direção Regional de Cultura do Alentejo, > Centro de História da Universidade de Lisboa, > Centro de História d’Aquém e d’Além Mar (CHAM) da Universidade Nova de Lisboa, > Centro de Interdisciplinar de História, Cultura e So- ciedades (CIDEHUS) da Universidade de Évora, > Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Es- paço e Memória (CITCEM) da Universidade do Porto, > Centro de Estudos da População da Economia e Socie- dade (CEPESE), > Escola Secundária Poeta Al Berto (Sines). ÍNDICE Apresentação, pelo Presidente da Câmara Municipal de 6 > Sines 10 > Nota, Comunicações da sessão de abertura 12 > Porto de Sines na história 106 > Navios e rotas marítimas 150 > Escravatura e tráfico de escravos 194 > Património portuário em Portugal 227 > Conferência de encerramento 5 6 APRESENTAÇÃO, PELO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SINES Na sequência das escavações arqueológicas de emergência em 2013, no ce- mitério de Largo Poeta Bocage, em Sines, vários vestígios arqueológicos vi- eram colocar em causa o conhecimento acerca da relevância de Sines na Época Moderna. Identificaram-se enterramentos relacionados com a escra- vatura, dando vida a uma outra pista para o circuito mundial das rotas de escravos. Neste âmbito a Câmara Municipal de Sines iniciou um projecto de inves- tigação, coordenado pelo Arquivo Municipal de Sines, acerca do passado atlântico de Sines nas suas várias vertentes económica, social, cultural e das mentalidades ao longo da história. Uma das vertentes do projecto Sines no Atlântico é o estudo da presença africana em Sines desde a Época Moderna, através dos afluxos de escravos, até ao presente, com a fixação de uma im- portante comunidade cabo-verdiana na cidade, já no contexto do Complexo Industrial. Toda a informação recolhida será divulgada através de um sítio electrónico que estará em linha até ao final de 2016. Em 2017 teve lugar o colóquio Sines e o seu Porto. História e Património, entre os dias 7 e 9 de Setembro, com o apoio da Administração do Porto de Sines. Este colóquio contou com a presença de vários investigadores portu- gueses e internacionais, como o Doutor João Paulo Oliveira e Costa, o Dou- tor Onésimo Teotónio de Almeida e a Doutora Amélia Polónia. Debateu-se 7 não só o papel do porto de Sines na história, mas também, de um ponto de vista nacional, os temas das rotas marítimas e comércio intercontinental, o património portuário português ou a problemática da escravatura. Participaram 34 comunicantes durante os três dias, num total de 32 comu- nicações. As apresentações já estão disponíveis para consulta no sítio elec- trónico da Câmara Municipal de Sines (http://www.sines.pt/pages/1170). As actas do Colóquio serão publicadas em formato electrónico brevemente. No total estiveram presentes durante os três dias de trabalho 130 par- ticipantes. Durante o colóquio foram apresentadas duas novas obras de referência para a história local. A primeira, Sines Medieval, da autoria da Doutora Maria Alegria Marques, da Universidade de Coimbra, publica todos os documentos fundadores do concelho de Sines, desde a carta de elevação a vila de 1362 até ao foral ma- nuelino de 1512. Um dos documentos inéditos e agora publicados data de 1498, e é um ofício dos vereadores ao Rei a solicitar a protecção da indústria naval no concelho. Além da leitura e transcrição dos documentos, é ainda publicado, pela mesma autora, um estudo crítico que problematiza os novos conhecidos trazidos pelas novas fontes. A segunda obra, Sines, a Terra e o Mar, de autoria da Dra. Paula Pereira e da Mestre Sandra Patrício, sistematiza e sintetiza os conhecimentos actuais da história de Sines através das obras de investigação já publicadas ou em curso ao nível arqueológico e historiográfico. O recurso a fontes do Arquivo Municipal de Sines e de vários arquivos nacionais permitiu estudar factos e temas até hoje pouco estudados, como a economia e sociedade da Época Moderna, ou o papel de Sines na Guerra Peninsular. Do ponto de vista do conhecimento arqueológico, é a primeira síntese dos trabalhos arqueológi- cos em Sines. A obra abarca toda a história de Sines de forma clara e acessí- vel, desde o período pré-histórico até 1971, dando destaque à história social. A estas obras de referência junta a edição das actas do Colóquio, que, embo- ra não inclua todas as comunicações, é já um elemento fundamental para a história local e para a história nacional. Presidente da Câmara Municipal de Sines Nuno Mascarenhas 8 Paula Alves Pereira, Luciana Sianto1, Sérgio Augusto de Miranda Chaves1, Isabel Teixeira-Santos1, David Gonçalves2-4, Ana Luísa Santos2, Alice Toso5, Álvaro M. Monge Calleja2, António Pereira Coutinho3, Ana Cristina Araújo4, Ricardo Miguel Godinho6 1 Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Cep: 21041-210 RJ, Brasil. 2 Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), Departamento de Ciências da Vida, Universidade de Coimbra. Calçada Martim de Freitas, 3000-456 Coimbra, Portugal. 3 Centro de Ecologia Funcional, Departamento de Ciências da Vida, Univer- sidade de Coimbra. Calçada Martim de Freitas, 3000-456 Coimbra, Portugal. 4 Laboratório de Arqueociências, Direção-Geral do Património Cultural e LARC/CIBIO/InBIO, Rua da Bica do Marquês 2, 1300-087 Lisboa, Portugal. 5 BioArCh, Department of Archaeology, University of York, Reino Unido. 6 Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArHEB), Universidade do Algarve. Campus Gambelas, 8005- 139, Faro, Portugal. A NECRÓPOLE DO LARGO DA IGREJA (SARILHOS GRANDES): EVIDÊNCIAS BIOARQUEOLÓGICAS DE CONTATO ENTRE 123 PORTUGAL E O NOVO MUNDO SARILHOS GRANDES: ELEMENTOS DA HISTÓRIA LOCAL Sarilhos Grandes localiza-se na margem esquerda do Tejo, na freguesia com o mesmo nome, pertence ao concelho do Montijo (antiga Aldeia Gale- ga do Ribatejo) no distrito de Setúbal. A primeira referência conhecida so- bre Sarilhos Grandes remonta a 1304 e está relacionada com moinhos de maré (Pimentel, 1908; Graça, 1989). Sarilhos Grandes inseria-se no vasto território da Ordem de Santiago sobre a qual existe informação nas visi- tações da Ordem. A 16 de Agosto de 1390, foi concedido pelo Bispo de Lis- boa, D. João Aires, a pedido da população de Sarilhos Grandes, autorização para a edificação de uma ermida e de um cemitério (Dias, 2000, Dias, 2005). Ainda segundo este autor, posteriormente, em 1502, o Mestre da Ordem de Santiago, D. Jorge, confirma a consagração do espaço da Igreja de S. Jorge e do respetivo cemitério. Sarilhos Grandes foi uma povoação com pessoas ilustres, que tinha seu juiz e vereador, reveladores da sua importância. Os seus rendimentos provin- ham das marinhas, vinhas e pinhais. A povoação encontra-se no extremo do concelho e tinha diversas quintas (Quinta da Espinhosa, Quinta das Focadas e Quinta da Lançada) com edifícios de arquitetura gótica (Almeida, 2004). No princípio da Idade Moderna, Sarilhos Grandes possuía uma relação muito próxima com a casa real, nomeadamente com D. Manuel I. Na vis- itação de 1512 e 1534, a Ermida da Nossa Senhora da Piedade foi descri- ta pelos visitadores como uma capela anexada a norte à Igreja de S. Jorge, mandada erguer por João Cotrim. Na realidade, a Ermida de Nossa Senhora da Piedade corresponde ao panteão da família Cotrim. Foram aí sepultados João Cotrim que desempenhou diversos cargos relevantes durante o reina- do de D. Manuel I, nomeadamente Corregedor dos Feitos Crimes da Corte, Desembargador do Agravo da Casa da Suplicação e membro da Comissão de Revisão das Ordenações e da reforma dos Forais; e Rui Cotrim de Castan- heda, fidalgo da Casa de D. Manuel I, capitão da segunda armada de Vasco da Gama à Índia. (Ministério da Agricultura Comercio e Pescas ,1982-1983, 1988, 1990). A descrição de Sarilhos Grandes na Corografia Portuguesa (Costa, 1706) descreve uma povoação em declínio, mas que fora outrora opulenta. CONTEXTUALIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO A necrópole do Largo da Igreja, em Sarilhos Grandes, foi escavada em 2007, no âmbito de uma empreitada da SIMARSUL, Grupo Águas de Portu- 124 gal. A escavação arqueológica foi realizada nas Zona Especial de Protecção (ZEP) da Igreja de S. Jorge e Ermida Nossa Senhora da Piedade. Mapa 1 Localização de Sarilhos Grandes. A intervenção arqueológica incidiu em 25m2, na área de afetação direta, tendo sido exumados 21 enterramentos em posição primária e seis ossários (Pereira et al., 2008). A estratigrafia encontrava-se muito perturbada pelas diversas infraestru- turas observadas no subsolo, que destruíram contextos arqueológicos (Fi- gura 1). No entanto, registaram-se diversas fases de pavimentação do local relacionadas com a reutilização sucessiva do espaço de necrópole. Fig. 1 Corte estratigráfico com os vários níveis de pavimentos. 2007. Foto Paula Pereira Os indivíduos foram inumados em sepulturas, tipo covacho escavadas nas Areias de Santa Marta e constatou-se, durante a escavação arqueológica, a presença de 25 sepulturas, com sucessivas reutilizações que causaram destruição das mais antigas (Figura 2). Por não serem afetadas pelas obras realizadas pela SIMARSUL, quatro das sepulturas não foram escavadas. 125 Fig. 2 Foto geral da escavação arqueológica. 2007. Foto de Paula Pereira A instalação, em décadas passadas, de infraestruturas (rede de abasteci- mento de água, eletricidade, telecomunicações, saneamento)