A Democracia Reconquistada.Indd
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Os 170 Anos do Parlamento Gaúcho Volume IV A Democracia Reconquistada (1983-2004) Cláudio Pereira Elmir Porto Alegre, 2005 ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Superintendente-Geral: Alvaro Alvares Superintendência de Comunicação Social Superintendente: Marcelo Villas-Bôas Departamento de Relações Institucionais Carlos Roberto Coelho Autor Cláudio Pereira Elmir Fotos: Marco Couto Editoração Juçara Campagna – CORAG – Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas E48d Elmir, Cláudio Pereira A democracia reconquistada (1983-2004) / Cláudio Pereira Elmir. - Porto Alegre : CORAG, 2005. 80 p. : il. - (Os 170 anos do Parlamento Gaúcho ; v. 4). 1. Assembléia Legislativa – Rio Grande do Sul – História 2. História política – Rio Grande do Sul I. Título. II. Série. CDU 342.533 (816.5) (091) CIP - Catalogação na publicação: Carlos L. A. de Moraes - CRB 10/867 MESA DIRETORA Presidente Deputado Vieira da Cunha 1º Vice-Presidente Deputado João Fischer 2º Vice- Presidente Deputado Manoel Maria 1º Secretário Deputado Luis Fernando Schmidt 2º Secretário Deputado Márcio Biolchi 3º Secretário Deputado Heitor Schuch 4ª Secretária Deputada Jussara Cony Suplente Fabiano Pereira SUMÁRIO Algumas palavras iniciais ......................................................................... 7 Prefácio ..................................................................................................... 11 1. Preparando o terreno: o começo do ocaso do Regime Militar . 13 2. Os agitados anos 1980: a crise, os movimentos sociais, as Diretas-Já ....................................................................................... 25 3. A “Constituição cidadã lá e aqui: entre a democracia sonhada e a democracia cumprida ............................................................. 46 4. A década de 1990 espreita o século XXI: desafios que o pre- sente propõe para o futuro próximo ........................................... 58 Referências Bibliográficas ............................................................. 71 A DEMOCRACIA RECONQUISTADA (1983-2004) Cláudio Pereira Elmir ALGUMAS PALAVRAS INICIAIS ste pequeno livro quer ser uma modesta contribuição à história da Assem- bléia Legislativa do Rio Grande do Sul no seu período mais recente, com- Epreendido entre os anos de 1983 e 2004. Talvez estejamos diante da fase mais livre e autônoma de atuação desta Casa Parlamentar. Talvez em nenhum outro momento de sua história, ao longo de 170 anos, a Casa do Povo Gaúcho tenha podido justificar tão plenamente este nome que sustenta na sua porta de entrada. O presente, para muitos de seus críticos açodados, freqüentemente é visto como o espaço privi- legiado para a realização das piores experiências. Neste sentido, e numa perspectiva oposta, o passado seria, por excelência, o campo do reconhecimento das melhores de nossas qualidades, porque é lá que nossos feitos mais dignos tiveram lugar para o seu inteiro desenvolvimento. Não é isto que pensamos. Não é esta premissa que rege nos- so olhar à ação política da Assembléia gaúcha nestes pouco mais de vinte anos. Não estamos diante do infausto. O sentimento da queda, da ruína ou da decadência não move nossa avaliação – por mais tateante que ela possa ser ainda neste momento – do empenho dos homens públicos do Rio Grande no caminho da melhor consecução das virtudes políticas a que foram alçados pelo mandato a eles conferido por nós, que os fizemos, provisoriamente, “primeiros entre os iguais”, para aqui avocar uma expres- são cara aos gregos antigos. O ponto de partida deste ensaio, dizemo-lo de princípio, reside no entendimento de que o presente encerrado pelas duas últimas décadas está grávido de nossas mais férteis sementes. As pétalas que vão ao chão no inverno de nossa desesperança carregam consigo, não raro, as sementes de flores e frutos mais vigorosos que a primavera de nossos desejos não deixa de anunciar a cada novo ciclo da vida. Este livro quer falar justamente do belo e do bom da democracia reconquis- tada; esta que temos colhido a cada nova estação e que se renova pela única razão de que temos feito a boa rega. A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, através da ação continuada de seu corpo funcional e da intervenção positiva de seus melhores homens públicos, reafirma, na ação de cada dia, o único destino que podemos admitir num Estado de direito: o do regime da liberdade e da democracia, e com justiça. 1 Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). 7 Mas não nos enganemos. Se, por um lado, acreditamos que o tempo presente carrega consigo a promessa de nossa melhor fortuna, é também nele que reside, sor- rateiro, o imprevisível, o inesperado, o destino incerto de nossas ações. O vir a ser apenas parcialmente se coloca sob o nosso controle. Daqui para a frente, somos precá- rios navegantes. Mesmo com todos os instrumentos à nossa disposição, não devemos menosprezar a força do acaso; tampouco, aquela outra, mais solerte, dos defensores de outras causas, que não esta que nos move a celebrar o Estado de direito, o regime de liberdade e democracia e a justiça. Se não houvesse outras funções a serem cumpridas pelo Poder Legislativo – e há, e são muitas -, suficiente seria a de velar incansavel- mente, diuturnamente, pela mantença qualificada da democracia. O Parlamento é, por vocação, o garante da democracia. Fazer a travessia segura da democracia formal à democracia substantiva deve ser o seu mais louvável empenho. Se assim for, todo o resto é decorrência. Tratar da história recente do Parlamento Gaúcho, por outro lado, é tarefa difícil para um historiador. Profissional afeito às causas do passado, fica inseguro quando se lhe demandam falar sobre seu próprio tempo. Diferentemente de outros profissionais do campo das Ciências Humanas - como o antropólogo, o sociólogo e o cientista po- lítico - , o historiador uma vez aprendeu que um dos elementos de dignidade de seu trabalho ancorava-se justamente na fuga do presente e no refúgio no passado. Este te- mor do presente não deixa de ser, em certo sentido, temor de si mesmo; temor das suas causas, da sua subjetividade; temor de ser assaltado pela própria imagem ao postar-se diante do espelho. Mesmo assim, é real. Não é fácil produzir uma narrativa sobre a história de uma Instituição cujos mem- bros estão de prontidão a não tolerar qualquer inverdade, qualquer omissão, qualquer juízo que venha a gravar-lhes a memória. Os mortos, no máximo, reclamam incorre- ções por meio de suas viúvas (intelectuais ou afetivas). Os vivos, de outra sorte, têm a palavra autorizada sobre eles mesmos, e qualquer deslize da fala alheia pode ser suficiente para desencadear a réplica mais veemente. Há que contar com isto. Este é um corolário inexpugnável do historiador que se aventura a contar a história de seus coetâneos. Ao mesmo tempo em que se persegue justiça, moderação, parcimônia e senso de verdade, assim como são homens os que fazem a história, da mesma maneira, são sujeitos os que a escrevem. Precários na sua humanidade, ainda que infinitos no seu desejo de acertar. Que esta pouca história que me coube contar faça justiça àqueles que me deram motivo para poder produzi-la. E que os anos vindouros possam retificar os equívocos de avaliação que minha presença no bosque tenha eventualmente trazido à opacidade de meu olhar. * * * * * 8 A pesquisa para este livro foi realizada com o prestimoso auxílio do Prof. Cláudio de Sá Machado Júnior e por Michelle Pereira Elmir. Contei ainda com a disponibilida- de e gentileza que sempre Maria Conceição Gonzalez e Maria Regina Barnasque me ofereceram na Divisão de Biblioteca e Memória Parlamentar do Departamento de Re- lações Institucionais da Assembléia Legislativa. O texto foi revisado proficientemente pela Profa. Vera Lúcia Cardoso Medeiros. A todos eles, quero registrar meu sincero agradecimento. Este ensaio é dedicado à memória de Marcos Justo Tramontini, que nos deixou tão cedo. Porto Alegre, dez/jan 2004-5. 9 PREFÁCIO Completa-se com este livro, “A Democracia Reconquistada”, de autoria do Pro- fessor Doutor Cláudio Pereira Elmir, a série de quatro volumes com que a nossa As- sembléia Legislativa buscou oferecer, a este Estado e a este País, larga visão da evolu- ção do Parlamento Gaúcho de 1835 a 2005, precisamente quando se comemoram 170 anos da Casa do Povo. De 1983 à atualidade, vivemos um período repleto de fatos políticos significativos. Em 1982, reconquistava-se o direito de eleger pelo voto direto os governadores de Estado, embora com o casuísmo do voto vinculado. A Nação vive uma das maiores campanhas cívicas da história, o movimento pelas “Diretas Já”, em 1984. Em 1989, retoma o povo brasileiro o direito de escolher pelo voto o seu presidente. Em 1992, um presidente renuncia para escapar do “Impeachment”. Foram fatos marcantes da história recente do Brasil, vividos com intensidade pelo povo gaúcho, que teve sempre na sua Assembléia uma firme trincheira na luta pela reconquista e fortalecimento do regime democrático. Ao apresentar este quarto e último volume da série que conta a trajetória do parla- mento gaúcho desde sua instalação, em 1835, quero afirmar da honra que tive de presi- dir uma Casa Legislativa que é uma referência positiva nacionalmente reconhecida. Aqui no Rio Grande felizmente se faz política com dignidade e espírito público. Continuemos assim, pois temos 170 anos de uma rica História a honrar. Palácio Farroupilha, janeiro de 2005. Dep. Vieira da Cunha, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. 11 1. PREPARANDO O TERRENO: O COMEÇO DO OCASO DO REGIME MILITAR ue história contar da atuação da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul dos últimos vinte e dois anos? A tarefa de escolher os assuntos a Qcompor uma pauta mínima para a história recente da Assembléia reves- te-se de tantas dificuldades quantas são as de abordar estes mesmos assuntos. Neste processo, é sempre inevitável que, no mesmo momento em que estabelecemos priori- dades – e as incluímos em nosso repertório de análise – , tenhamos que excluir tantos outros pontos de inserção a demandar, igualmente, o nosso ponto de vista. A seleção é, neste caso, tarefa cruel mas incontornável quando se pretende garantir exeqüibilidade ao nosso empenho.