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Iris Helena

SUMÁRIO

AS DUAS PANDEMIAS BRASILEIRAS – O Popular DIREITO DE SER LGBTQIA+ – O Popular CIRO NOGUEIRA JÁ FOI ALVO DA LAVA JATO, ENALTECEU LULA E ATACOU BOLSONARO – O Popular LISTA PARA A PGR – Folha de São Paulo APESAR DO MEC – Folha de São Paulo AFRO-OTIMISMO – Folha de São Paulo O RIO COMO 2º DISTRITO FEDERAL – Folha de São Paulo NOVAS REGRAS PARA NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO – Folha de São Paulo O RESPEITO AO PACIENTE NÃO PODE MORRER NA UTI – Folha de São Paulo CÁRMEN LÚCIA, DO STF, NEGA PEDIDO DO PT PARA QUE LIRA ANALISASSE IMPEACHMENT DE BOLSONARO – Folha de São Paulo FALTA DE ARTICULAÇÃO DO PLANALTO PARA ANDRÉ MENDONÇA SURPREENDE SENADORES – Folha de São Paulo ATRASADO, QUEIROGA QUER DETER CEPA – Correio Braziliense O "SUPERMINISTRO" QUE SÓ ENCOLHE – Correio Braziliense DESAFIOS SOCIAIS DA PANDEMIA – Correio Braziliense JUSTIÇA ADMITE PENHORA DE CRIPTOMOEDAS PARA PAGAMENTO DE DÍVIDAS TRABALHISTAS – Valor Econômico CARREFOUR TERÁ QUE PAGAR R$ 3 MILHÕES EM HONORÁRIOS – Valor Econômico DESTAQUES – Valor Econômico NEM TANTO AO CÉU NEM TANTO À TERRA – Valor Econômico

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Iris Helena

JORNAL – O POPULAR – 22.07.2021 – PÁG.3

As duas pandemias brasileiras

Jônathas Silva

Advogado, mestre em Direito e professor aposentado da FD/UFG

Realmente, são duas pandemias que afligem nós, os brasileiros: a do coronavírus e a da mentira. Nunca se mentiu tanto no Brasil, verdadeira crise moral! Todavia, a primeira, a do coronavírus se combate com a verdade objetiva e científica das vacinas. A segunda, com o cumprimento subjetivo do dever da veracidade, cujo fundamento é o caráter, um dos elementos da personalidade de todo ser humano.

Pois bem, no ordenamento jurídico nacional, a mentira não é legalmente definida. Portanto, não é uma conduta típica, à semelhança do conceito de crime no Direito Penal, que é um fato típico, antijurídico e culpável, exceto se ela causar dano ou ofender direito de outrem.

No seminário internacional sobre o perfil do juiz na tradição ocidental, realizado em Lisboa, em 2007, o professor José Barata-Moura em sua exposição sobre o tema - O que fazer com a mentira? - afirmou que o direito deu uma roupagem às expressões que ensejam a mentira, tais como a velhacaria, a vigarice, a trapaça, a batota, a intrujice, normatizando-as juridicamente assim: induzir em erro, falsificação de provas, fraude, burla, perjúrio e outras tantas encontradas nos vários ramos do direito.

Com efeito, essas expressões constituem preocupação e ocupação processual obrigatória de todos quantos tenham por função e missão promover em um processo com versões diferentes a apuração da verdade dos fatos, das circunstâncias e do caso concreto em julgamento.

Cumpre ressaltar que a mentira é sempre do outro. Na política é do inimigo ou do adversário. E até mesmo dos integrantes de categorias profissionais, entre outros, os publicitários, os jornalistas, os vendedores, os advogados, os diplomatas e, especialmente, os políticos, com exceção dos filósofos e os cientistas que apenas e somente se enganam.

Ninguém melhor do que Rui Barbosa, em um dos seus artigos, “A mentira caradura”, analisou a mentira dos políticos, afirmando: há aqueles que mentem muito bem, de modo que se iluda, com jeito, com astúcia, com manha. Ao contrário, há os que mentem muito mal, mentem desmentindo o sol ao meio-dia, ou a noite à meia-noite. Não é a mentira elegante, fina, capciosa dos artistas no gênero, mas é a destemperada, alvar e esdrúxula dos palhaços.

Enfim, sem o falso moralismo da UDN do lenço branco, é preciso combater a pandemia da mentira, a fim de que os eleitores brasileiros nas próximas eleições não reelejam os políticos que mentem muito bem e tal como um fariseu, utilizam a afirmação do Evangelho de São João, de que o conhecimento da verdade é que liberta o homem. DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 3 de 26

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Iris Helena

Direito de ser LGBTQIA+

Marlon Teixeira - Vereador de Goiânia pelo Cidadania

Desde o dia 29 de junho, a Câmara de Goiânia tem sido palco de uma polêmica que, infelizmente, não deveria caber neste 2021, sobretudo em meio a uma pandemia, em que sobram palavras como empatia, solidariedade, respeito e responsabilidade. Em entrevistas, em pronunciamentos em Plenário – e também em minhas falas fora dele -, tenho dito que, para além de costumes, cumpro mandato para discutir problemas sociais e propor alternativas, políticas públicas que, efetivamente, os resolvam.

No caso de toda e qualquer discussão envolvendo a comunidade LGBTQIA+ é sempre importante frisar: não existe opção, escolha, mas orientação sexual. E não há – jamais! – que se falar em ideologia de gênero, de ofensa à religião ou à moral, de ditadura ou de ativismo político. Há que se falar em amor. Em respeito. Ao próximo e às diferenças das quais são feitas uma democracia.

Ninguém merece sofrer por amar. Não acho justo alguém ser espancado na rua por causa disso. É cruel, e ofensivo aos princípios básicos da democracia, uma pessoa perder a vida por, simplesmente, estar segurando a mão da pessoa que ama. É algo que chega perto da barbárie. Precisamos refletir sobre isso, sempre mais e cada vez mais. As pessoas LGBTQIA+ sofrem diariamente com violência física e psicológica, são mortas pelo simples fato de assumirem ser quem são. O preconceito gera consequências na saúde e na segurança pública, dentre outras áreas. É um problema social e temos que quebrar tabus; falarmos mais sobre esse tema.

Vamos ao grego, onde está a origem da palavra democracia: demokratía, composta por demos, que significa povo, e kratos, que significa poder, ou forma de governo. Com a premissa de que todo o poder emana do povo, prevista na Constituição Federal de 1988, a nação brasileira enquadra-se na categoria de Estado Democrático de Direito. Suas principais características são soberania popular; uma democracia representativa e participativa; um Estado Constitucional, ou seja, que possui uma constituição que emanou da vontade do povo; e um sistema de garantia dos direitos humanos. Está na Carta Magna: todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos (vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e presidentes); ou diretamente, quando o povo é o responsável direto pela tomada de decisões.

Dessa forma, como parlamentares, empossados no último dia 1º de janeiro, entendo que foram estes os princípios que juramos defender. Como bem resumidamente explica o professor e mestre em Direito Constitucional Edgard Leite, no Estado Democrático de Direito, as leis são criadas pelo povo e para o povo, respeitando-se a dignidade da pessoa humana. Esse é o meu papel. Essa é a minha pauta. É pelo cidadão goianiense que eu trabalho e quero sempre pensar políticas públicas eficientes, que realmente o atenda em suas necessidades. Independentemente de sua cor, de sua religião, de sua classe social, de sua preferência política, e, também, de sua orientação sexual.

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Iris Helena

JORNAL – O POPULAR – 22.07.2021 – PÁG.6

Ciro Nogueira já foi alvo da Lava Jato, enalteceu Lula e atacou Bolsonaro

Congressista tem um passado de apoio e elogios rasgados ao ex- presidente petista, assim como já chamou de fascista (sem partido), de quem é aliado hoje

Senador Ciro Nogueira (PP-PI): acostumado a estar ao lado do poder (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Assim como o bloco que lidera, o Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP- PI) é um exemplo de político acostumado a figurar ao lado do poder, seja ele ocupado pela direita, seja pela esquerda.

O congressista tem um passado de apoio e elogios rasgados ao ex-presidente Lula (PT), assim como já chamou de fascista o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de quem se tornou um dos principais defensores e agora pode ser nomeado ministro-chefe da Casa Civil.

O provável futuro ministro do governo também responde a inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal).

Em fevereiro de 2020, foi apresentada denúncia contra o senador, acusado pela Procuradoria-Geral da República de receber propina de R$ 7,3 milhões da Odebrecht, em 2014 e 2015, em troca de atuação no Congresso em benefício da Braskem.

Em outra denúncia, a PGR acusou Ciro, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o ex-deputado Márcio Junqueira (ex-filiado ao PP) por suposta tentativa de atrapalhar os trabalhos da Lava Jato. No caso, a suspeita é que o senador e o deputado tentaram comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com os investigadores.

No âmbito das investigações do caso JBS, um inquérito apura o suposto pagamento de propina ao senador para que o PP apoiasse o PT nas eleições 2014 e para que não apoiasse o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) dois anos depois. O senador nega todas as acusações.

Advogado de formação e com longo histórico no Congresso, Ciro é há quase uma década o presidente nacional do PP e se tornou um dos principais nomes do Centrão.

Ele comanda, portanto, um exército de congressistas que dá base de sustentação ao governo, mas que também apresenta suas faturas para desempenhar o seu papel. No PP, são 7 senadores e 41 deputados federais.

Comandado na Câmara pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), o Centrão reúne siglas de grande, médio e pequeno porte, como PP, PL, PTB e Republicanos, que hoje somam cerca de 150 deputados. DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 5 de 26

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Iris Helena

O próprio Ciro, em uma visão extremamente pragmática, costuma falar a interlocutores que ainda é vantajoso permanecer ao lado de Bolsonaro, inclusive nas eleições de 2022, apesar da queda de popularidade do chefe do Executivo.

O senador argumenta que o PP nunca apresentou um crescimento tão vertiginoso, em particular no número de prefeitos eleitos, mesmo nos anos em que esteve ao lado de Lula.

Melhor presidente

Sobre o ex-presidente, Ciro já chegou a dizer que “Lula foi o melhor presidente da história, principalmente para o Piauí e Nordeste” e sempre mantém um nível de diálogo com ele, uma forma de manter o Palácio do Planalto em alerta sobre a importância do apoio.

Por outro lado, mudou radicalmente o seu discurso a respeito de Bolsonaro, que já foi correligionário e colega de Câmara dos Deputados.

“O Bolsonaro eu tenho muita restrição, porque é um fascista, tem um caráter fascista, preconceituoso, é muito fácil você ir para a televisão, dizer que vai matar bandido. É um discurso muito fácil, mas isso não é para a Presidência da República”, disse em uma entrevista de 2017 ao Programa Agora, da Rede Meio Norte, a mesma em que elogiou Lula.

Ciro integrou a base do governo Dilma, mas abandonou o barco em 2016 e passou a defender o impeachment. Argumentou na ocasião que o governo havia perdido a sua capacidade de sustentação.

Em mais um movimento característico, manteve sua aliança com o PT no Piauí, apoiando o governador Wellington Dias.

Ciro Nogueira Lima Filho provém de uma família tradicional de políticos do Piauí. Seu avô Manoel Nogueira Lima foi prefeito da cidade de Pedro II, e seu pai, Ciro Nogueira Lima, foi deputado federal por dois mandatos.

O político mais jovem do clã foi eleito deputado federal em 1994 e permaneceu por quatro mandatos na Câmara. Em 2010, migrou para o Senado, onde foi reeleito em 2018. A primeira suplente, que assume o cargo assim que ele for designado ministro da Casa Civil, é sua mãe, Eliane Nogueira.

O político é considerado extremamente habilidoso, criando boa interlocução e base de apoio. Por outro lado, também deixa claro que alianças são conjecturais, precisam beneficiar os dois lados.

Em um dos piores momentos do governo, durante a instalação da CPI da Covid, liderou uma tropa de choque para tentar defender o governo, que havia ficado em minoria na comissão pela falta de coordenação entre Planalto e os líderes do governo.

No entanto sempre soube escolher as suas batalhas. Durante o depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo, muitos notaram a sua ausência, deixando o ex-ministro ser duramente atacado pelos senadores independentes e oposicionistas, sendo apenas defendido por congressistas com menos experiência. DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 6 de 26

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Iris Helena

Defendeu na CPI ferrenhamente o ex-ministro da Saúde e general , que caiu, entre outros motivos, justamente pela pressão exercida pelo Centrão.

Se elogios e defesas públicas são circunstanciais, sinais mais fortes de laços costumam ser representados quando ele presenteia um amigo com a camisa do Ríver do Piauí, time do qual é torcedor fanático e de que já foi presidente.

Esse foi o gesto definitivo de aproximação do senador com Bolsonaro, em 2020, e também coincidiu com o embarque do Centrão no governo.

Suplente é mãe de senador

Caso seja confirmada a indicação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para assumir a Casa Civil da Presidência, sua vaga no Senado ainda vai permanecer com a sua família.

Isso porque a primeira suplente do senador é a sua mãe, Eliane e Silva Nogueira Lima. Chamada politicamente de Eliane Nogueira, ela também é filiada ao PP, mas não tem experiência em cargos públicos. Atual presidente nacional do PP e um dos principais líderes do Centrão, bloco de sustentação do governo Bolsonaro, ele foi reeleito para o Senado em 2018, portanto tem mandato até o início de 2027. Quando decidiu indicar sua mãe como primeira suplente, nas eleições de 2018, a movimentação foi vista por adversários políticos locais como indicativo de que se preparava para disputar o Governo do Piauí em 2022, mantendo o controle sobre sua vaga no Senado. A reportagem questionou o senador e seu gabinete sobre os motivos que o levaram a indicar sua mãe como sua primeira suplente em sua chapa, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 22.07.2021 – PÁG.A2

Lista para a PGR

Recondução de Aras premia a subserviência; processo de escolha precisa mudar

O procurador-geral da República, Augusto Aras, e o presidente Jair Bolsonaro –Ueslei Marcelino - 17.abr.20/Reuters

O presidente Jair Bolsonaro propôs a recondução de Augusto Aras para o posto de procurador-geral da República por mais um biênio. O anúncio talvez surpreenda pela antecipação, uma vez que o mandato de Aras só se encerra em setembro, mas não pelo conteúdo.

O procurador, afinal, vem se mostrando um bolsonarista zeloso, poupando o presidente, seus familiares e aliados de investigações e processos incômodos. Do ponto de vista do Planalto, seria uma temeridade não reconduzi-lo.

Já a antecipação da medida pode ter mais ligação com o Supremo Tribunal Federal do que com a PGR. Bolsonaro indicou há pouco DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 7 de 26

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Iris Helena

André Mendonça para substituir Marco Aurélio Mello, que se aposentou. Ambas as indicações precisam passar por sabatina e votação no Senado antes de se efetivarem.

Se o nome de Mendonça causa algum desconforto entre parlamentares (no passado recente ele apoiava a Lava Jato), o de Aras é quase unanimidade (ele sempre foi contra a operação). Recorde-se que diversos congressistas estão envolvidos em inquéritos e processos que passam pelo procurador-geral.

Com as duas indicações correndo simultaneamente, fica mais difícil para o Senado dar-lhes tratamento distinto. Seria complicado, por exemplo, procrastinar a sabatina de um e correr com a do outro. A expectativa, portanto, é que a indicação de Aras facilite a vida de Mendonça —o que envolve alguma ironia, pois ambos disputaram a vaga no Supremo.

Outro ponto a destacar é que a recondução de Aras na prática o amarra ao atual cargo. Se ele ainda nutria a esperança de surgir como indicação alternativa ao STF, caso as resistências a Mendonça se mostrassem irredutíveis, tal hipótese se tornou ainda mais remota.

Sua melhor chance de chegar ao Supremo é manter-se caninamente fiel a Bolsonaro, torcer por sua reeleição e aguardar uma das duas vagas que se abrem em 2023.

Do ponto de vista das instituições, porém, é péssimo que magistrados e procuradores mostrem qualquer tipo de lealdade para quem os indicou. O preço da autonomia —que precisa ser maximizada nos tribunais e nos ministérios públicos— é a ingratidão.

No caso do STF e das outras cortes superiores, há um debate inconcluso sobre as melhores formas de selecionar juízes. No caso da PGR, existe uma solução simples e já testada por aqui: a lista tríplice.

Todos os biênios, a Associação Nacional dos Procuradores da República organiza eleições entre seus membros para apontar três nomes de candidatos ao comando da entidade. De 2003 até 2017, os presidentes da República acolheram essas indicações; Bolsonaro é que rompeu a tradição, e os resultados estão à vista de todos.

Por tais motivos, esta Folha defende que o uso da lista se converta em procedimento obrigatório.

Apesar do MEC

Ministro pede volta de aula presencial, que ocorre graças a estados e municípios

O ministro da Educação, , em pronunciamento

Após mais de um ano de escolas fechadas pela pandemia, as redes estaduais vêm, felizmente, pondo em marcha um retorno paulatino das atividades presenciais.

Alguns estados já recebem alunos de forma escalonada há alguns meses, casos de São Paulo e . Na grande maioria dos DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 8 de 26

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Iris Helena demais, a retomada foi anunciada para este ou o próximo mês.

Trata-se de um movimento que, embora ocorra com atraso, merece ser saudado. O Brasil, afinal, acabou se tornando um dos países que mais tempo permanece com as escolas cerradas —muito em razão, sublinhe-se, da desídia governamental no combate à infecção.

Levantamento feito em fevereiro pela Unesco mostrou que 80% das nações haviam retomado, de alguma forma, as aulas presenciais.

Não surpreende. Um período tão longo longe dos bancos escolares acarreta, como estudos vêm quantificando, prejuízos gravíssimos para os alunos, mormente os mais pobres. Ampla pesquisa com discentes paulistas revelou que, em 2020, os estudantes da rede pública aprenderam em média um quarto do conteúdo esperado.

Outra pesquisa, esta em âmbito nacional, encomendada por Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento, mostrou que, da perspectiva dos pais, 40% dos estudantes não estavam motivados nem evoluindo na aprendizagem e, por isso, admitiam abandonar os estudos.

Muitos desses efeitos teriam sido mitigados, e mesmo a reabertura das escolas poderia ter ocorrido antes, se o Ministério da Educação tivesse cumprido seu papel.

Situa-se, pois, entre o oportunismo e o escárnio o pronunciamento do titular da pasta, Milton Ribeiro, conclamando a volta às aulas.

Omissa ao longo de toda a pandemia, o MEC abdicou da tarefa de coordenar a política nacional de educação, que lhe compete por lei.

Na prática, estados e municípios tiveram de enfrentar sozinhos os desafios de adaptar suas atividades para o ensino a distância, bem como de implementar protocolos de segurança e outras medidas necessárias para que as escolas fossem reabertas com segurança.

Caberia agora ao MEC liderar o crucial passo seguinte —a recuperação geral do aprendizado. É sintomático que, sobre isso, o ministro não tenha dito palavra.

Afro-otimismo

Thiago Amparo

Uma semana após receber ataques, escrevo uma coluna sobre otimismo

Não quero que esta seja uma coluna sobre como me senti ao ser ameaçado de morte pelo texto publicado na semana passada neste espaço; oportunamente, um texto sobre a pulsão de morte nos tempos DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 9 de 26

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Iris Helena atuais.

Agora, uma semana depois, eu resolvi me permitir escrever uma coluna sobre otimismo. "Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes/ (...) me resumir à sobrevivência é roubar um pouco de bom que vivi", como canta o poeta Emicida.

Comecemos com o seu inverso. Em livro que agora chega ao Brasil, intitulado "Afro-Pessimismo", o escritor Frank B. Wilderson III disseca a falta de humanidade a que são submetidas as pessoas negras. Wilderson combina narrativa pessoal —como um surto psicótico que sofreu— com análise filosófica rigorosa — desenvolvendo o que chama de metateoria, olhando o sujeito negro, tratado como não humano, como a categoria analítica do nosso tempo. Tal qual o marxismo fizera com a figura do proletário e o decolonialismo com a do colonizado.

A escrita de Wilderson é cortante. Talvez não seja a melhor estratégia para lidar com a dor. O que Wilderson despertou em mim, no entanto, foi um estranho sentimento de otimismo. Reivindicar a humanidade que se nega a alguns corpos e não a outros é uma forma de crer que seja possível tecer um mundo onde tal humanidade exista. É urgente construir um mundo onde possamos escrever sobre transcender nossa dor, senão a ela seremos reduzidos.

Quem sabe um dia, ao menos por um segundo, nossa existência seja como as belas pinturas de Calida Garcia Rawles de pessoas negras flutuando na água em estado de calma; ou como os quadros de No Martins com mulheres negras conversando numa praia. Quem sabe um dia possamos escrever sobre o que quisermos sem termos medo de que nos matem por isso. Ao me vacinar nesta semana contra a Covid-19, vi muitos chorando de alegria depois da injeção.

É nesse choro pela vida que reside meu otimismo.

O Rio como 2º Distrito Federal

Ruy Castro

Um livro propõe que, 61 anos depois, o Brasil volte a ter um centro político que inclua o povo

A lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio de Janeiro - Vanessa Ataliba/ Photo Press/Folhapress

A exemplo do samba segundo Nelson Sargento, o Rio agoniza, mas não morre. Capital por 197 anos —do Vice-Reino, Reino Unido, Império e República—, trocaram-no por um capricho, levaram para longe o Congresso, o STF, o Itamaraty, os bancos, os parques industriais e, para acabar de esvaziá-lo, fundiram-no a um estado pobre e o reduziram a capital desse estado. Tiraram-lhe o que puderam. E, incrivelmente, o Rio sobreviveu.

Tiraram, mas não tiraram. O Rio continua a ser o reduto da máquina do Estado, do funcionalismo, das estatais, dos efetivos militares e dos grandes próprios federais —dos palácios e prédios históricos aos DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 10 de 26

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Iris Helena monumentos naturais e instituições científicas. Só reduto, porque tudo isso ficou subordinado a Brasília. Ainda é Distrito Federal —sem ser. O Rio nada ganha com isso, e o Brasil só tem a perder. Quando o Rio deixou de ser o centro político, foi o país que sofreu. Brasília é uma das capitais mais isoladas do povo em todo o mundo.

Um livro recém-lançado tem uma proposta: a instauração do Rio como segundo Distrito Federal. O quê? Duas capitais? Sim, vários países as têm —China, Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Taiwan, Arábia Saudita, África do Sul, Rússia, Chile—, e elas se completam. Não se trata de despir Brasília para vestir o Rio, mas de corrigir a combinação de casaca e cueca com que o Brasil se traja. Brasília seria a sede administrativa. A outra seria a capital ao alcance do povo, a verdadeira cidade nacional.

O livro se chama "Rio, 2º Distrito Federal", do cientista político Christian Lynch e parceiros (302 págs., R$ 69, 90, somente físico). O que se lê acima é uma adaptação do texto de quarta capa que tive a honra de escrever.

Sim, sei bem como algumas pessoas reagem ao Rio —a corrupção, a violência etc. É no que dá ser o tambor da nação enquanto o resto da orquestra toca a mesma partitura, só que escondido e em surdina.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 22.07.2021 – PÁG.A3

Novas regras para novas relações de trabalho

Brasil deve tirar os profissionais de plataformas digitais do limbo regulatório

Fabricio Bloisi Presidente do iFood

Fabricio Bloisi, presidente do iFood - Danilo Verpa/Folhapress

A discussão sobre o futuro do trabalho cai, muitas vezes, na improdutiva polarização que reconhece apenas dois caminhos. De um lado, o modelo tradicional de emprego, com controle e subordinação. Do outro, a ausência de qualquer regulação, pautada no imediatismo e na liberdade irrestrita.

Tirar os trabalhadores de plataformas digitais do limbo regulatório em que se encontram é o próximo passo que o Brasil precisa dar, com urgência, para garantir segurança, proteção social e ganhos mínimos aos 22 milhões de brasileiros que prestam serviços com a intermediação de aplicativos móveis.

São entregadores, motoristas, encanadores, designers e manicures, entre tantos outros profissionais que merecem nosso respeito e que carecem de uma regulação específica para ampará-los nesse novo modelo de relação de trabalho, fruto da nova economia. DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 11 de 26

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Iris Helena

O iFood está pronto e aberto para estabelecer um diálogo com o Legislativo, o Executivo, a academia, a sociedade civil organizada e, claro, os próprios trabalhadores de plataformas digitais e os aplicativos que se utilizam desses profissionais. Adoraríamos que outras empresas caminhassem juntas conosco para proteger essas pessoas.

A ideia não é acabar com a legislação trabalhista existente, que tão bem tem servido a sociedade, mas abrir caminho para construir, coletivamente, um marco regulatório que não obrigue o trabalhador dessas plataformas a escolher entre ter mais benefícios e segurança na atividade ou ter menos flexibilidade e autonomia.

Como promotores dessa causa, que tem a garantia da dignidade do profissional como ponto de partida, defendemos que o conceito de segurança no novo modelo de trabalho ganhe amplitude inédita. Deve envolver o bem-estar físico, social e financeiro dos trabalhadores das plataformas. Na prática, falamos de prover acesso à seguridade social, seguro contra acidentes, vantagens em saúde e fundos de proteção em caso de doenças.

É preciso assegurar ganhos mínimos. A remuneração em plataformas digitais deve ser proporcional às horas trabalhadas e sempre acima do piso calculado na relação hora/salário mínimo vigente no país. Hoje no iFood, por exemplo, o ganho médio dos entregadores, por hora trabalhada, supera em até cinco vezes essa proporção.

Ouvir esses profissionais e garantir que tenham voz no diálogo com as empresas é imprescindível ao longo da construção da futura regulação e, sobretudo, nas próprias relações de trabalho. Portanto, é preciso prever transparência, facilidade de acesso às regras de uso e condições claras e objetivas.

A essa altura, você deve pensar no que querem os próprios trabalhadores. Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, dois em cada três preferem um modelo mais flexível de trabalho ao registro em carteira. Por isso, para o iFood, liberdade de escolha, independência e autonomia são direitos que devem ser reconhecidos e valorizados. Não só para entregadores, mas para todos os trabalhadores de plataformas digitais.

Lançadas as bases da discussão, nos tornamos agora todos protagonistas dessa revolução. O novo mundo, em permanente construção, exige de nós agilidade para impulsionar a tão necessária transformação também no mundo do trabalho e em suas regras. Isso beneficiará não somente os trabalhadores e as plataformas. A sociedade e a economia como um todo também ganharão relações cada vez mais sustentáveis e dignas.

Regular o trabalho desses profissionais é uma questão de ganha-ganha-ganha. Ganham os trabalhadores, que passam a contar com seguridade mínima. Ganham as empresas, que passam a ter segurança jurídica para investir e inovar. E ganha a sociedade, com a inclusão de milhares de trabalhadores no sistema de seguridade social.

A hora de construir juntos é agora.

DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 12 de 26

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Iris Helena

O respeito ao paciente não pode morrer na UTI

Permitir videochamadas é um ato de humanidade, mas só com consentimento

Irene Abramovich e presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)

Indiscutivelmente, a tecnologia tem sido importante aliada, durante a pandemia, no encurtamento de distâncias entre as pessoas. No entanto, não podemos nos esquecer que essa mesma tecnologia pode ser considerada invasiva no que diz respeito à intimidade e à vontade individual. É necessário, portanto, que saibamos usá- la com consciência e respeito.

Nesse contexto, o uso de recursos digitais voltados à comunicação entre pacientes e familiares é tema importante para o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), que publicou, recentemente, a resolução n° 347, responsável por regulamentar as videochamadas, não só no contexto da Covid-19, mas de modo geral.

A normativa determina que o assistido pode realizar visitas virtuais —se essa for sua vontade —desde que se respeite a privacidade dos demais e que também pode designar um representante, a quem caberá comunicar ao médico o desejo de ter ou não a imagem transmitida, caso ocorra a perda da capacidade para consentir.

Se, porventura, o paciente não fizer essa escolha, o profissional deverá se valer das diretivas antecipadas de vontade, que devem ser registradas no prontuário previamente à perda de sua capacidade para consentir, para deferir se gostaria ou não de participar de videochamadas. Com isso, é possível saber o real desejo mesmo de pacientes sedados.

A resolução n° 347 defende o princípio bioético da autonomia e preserva o sigilo do médico e do paciente — um dos pilares da relação médico-paciente— conforme defende o Código de Ética Médica, assegurando que o uso do digital seja feito de forma ética e respeitosa, sem que haja prejuízo à equipe profissional e aos demais assistidos que não desejam ter sua imagem divulgada.

O documento busca viabilizar esse recurso de modo que os direitos fundamentais do paciente sejam preservados, em especial a autonomia, a privacidade e o sigilo. Portanto, não se trata de proibição às videochamadas. Permitir seu uso é um ato de dignidade e humanidade, mas apenas se o paciente consentir.

Sempre deve prevalecer a vontade dele, incluindo o respeito à privacidade, dignidade e sigilo, que orientam uma medicina digna e humana. Há que se levar em conta ainda o respeito ao sigilo dos demais pacientes, internados no mesmo ambiente de UTI.

Cabe reforçar que a normativa refere-se, substancialmente, à conduta médica, uma vez que há a delegação constitucional do poder público, por meio da lei n° 3.268/57, que, em seu artigo 15°, determina que é atribuição dos conselhos regionais de medicina fiscalizar o exercício da profissão. DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 13 de 26

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Iris Helena

Recentemente, foi aprovado pela Câmara dos Deputados o projeto de lei n° 2136/20 —agora em análise pelo Senado Federal—, que vai ao encontro da resolução n° 347 ao determinar que os “encontros virtuais” podem ocorrer, desde que seja respeitado o momento adequado definido pelo corpo profissional. Também define que, caso o paciente esteja inconsciente, as videochamadas poderão ser realizadas somente se ele tiver manifestado que esta era sua vontade antes da perda da capacidade de consentir, ou com autorização de seus familiares.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 22.07.2021 – PÁG.A6

Cármen Lúcia, do STF, nega pedido do PT para que Lira analisasse impeachment de Bolsonaro

Ministra avalia que medida prejudicaria princípio de separação dos Poderes; ação se referia à peça protocolada pelo partido em maio de 2020

São Paulo | UOL

A ministra Cármen Lúcia, do STF (Supremo Tribunal Federal), negou nesta quarta-feira (21) um pedido feito pelo PT para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao menos analisasse um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro protocolado pelo partido em maio de 2020.

Para ela, conceder o mandado prejudicaria o princípio de separação entre os Poderes. "O juízo de conveniência e de oportunidade do processo de impeachment é reserva da autoridade legislativa, após a demonstração da presença de requisitos formais", escreveu.

O documento, que foi assinado pelo ex-candidato do PT à Presidência Fernando Haddad e pelo deputado Rui Falcão (PT-SP), se referia a um pedido de impeachment endossado por 158 pessoas.

Para eles, Lira se omite ao se recusar a apreciar ao menos um dos mais de 120 pedidos de afastamento do chefe do Executivo.

No começo deste mês, parlamentares e movimentos sociais protocolaram um superpedido de impeachment, que reúne todos os anteriores e lista 23 crimes de responsabilidade atribuídos a Bolsonaro.

Logo depois, Lira sinalizou que, por ora, não dará sequência ao processo e que uma ação desse tipo exigiria "materialidade".

“O que houve nesse superpedido? Uma compilação de tudo o que já existia nos outros e esses depoimentos. Depoimentos quem tem que apurar é a CPI. É para isso que ela existe. Então ao final dela a gente se DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 14 de 26

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Iris Helena posiciona aqui, porque na realidade o impeachment como ação política a gente não faz com discurso, a gente faz com materialidade", afirmou o presidente da Câmara no último dia 30

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 22.07.2021 – PÁG.A7

Falta de articulação do Planalto para André Mendonça surpreende senadores

Candidato a ministro do Supremo liga para marcar encontros com políticos que desconhece

Igor Gielow São Paulo

Candidatos a ministro do Supremo Tribunal Federal, sujeitos a sabatina e voto no Senado para terem seus nomes confirmados, sempre contaram com o apoio do Palácio do Planalto para facilitar seu caminho.

André Mendonça abraça Bolsonaro ao assumir o Ministério da Justiça - Evaristo Sá - 29.abr.2020/AFP

Não é bem o que está acontecendo com o "terrivelmente evangélico" pastor André Mendonça, advogado-geral da União que Jair Bolsonaro quer ver na corte.

Pelo menos quatro senadores relataram o mesmo: Mendonça, com quem nunca haviam trocado uma palavra, os procurou pessoalmente, pelo telefone, para marcar encontros e se apresentar. Ele tem ido inclusive aos estados de quem não está em Brasília.

A queixa poderia se encaixar à perfeição ao clima de insatisfação geral do centrão com o presidente devido ao imbróglio do fundão partidário para 2022 —o grupo busca agora ocupar a Casa Civil. Mas os políticos aqui citados são de outros partidos.

Se a tática busca mostrar humildade, especialmente ante a oposição a Mendonça comandada pelo presidente da Comissão e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o tiro parece ter saído pela culatra.

Esses senadores afirmam que o movimento inusual sugere falta de articulação do Planalto, que preferiu um método mais heterodoxo para fazer valer sua vontade: reconduzir o procurador-geral da República, Augusto Aras.

Aliado de Bolsonaro, Aras ainda alimentava esperança de ganhar a vaga para o Supremo caso a resistência a Mendonça crescesse a ponto de insinuar uma rejeição inédita em tempos modernos —seu histórico de defesa cega do chefe incomoda, além de que Alcolumbre e outros veem uma chance de espicaçar o Planalto.

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Iris Helena

Apesar de sua fidelidade ao Planalto, Aras é visto como um nome mais preparado do que Mendonça por parte dos senadores.

Ao reconduzi-lo, o presidente oferece um prato feito. Nem todos gostaram: outros dois senadores, que não foram ainda procurados por Mendonça, disseram que o movimento de Bolsonaro fará aumentar a resistência ao advogado-geral.

Ainda há tempo, com o recesso do Congresso, para costurar os acordos. A sabatina de Mendonça pode ficar só para setembro, a depender do passo das negociações. Ao fim, creem alguns senadores mais experientes, as ameaças de rejeição a seu nome devem ficar só nisso.

O indicado ao Supremo precisa de 41 de 81 votos, em sufrágio secreto, na Casa. Estima-se que já tenha por volta de 30 garantidos, o que torna sua missão não tão espinhosa —ainda que significativa da dificuldade de o governo Bolsonaro fazer política.

Em tempos mais normais, a articulação no Planalto conversaria primeiramente com os senadores, daria ouvidos a suas posições e demandas, buscaria retirar temores sobre as posições do candidato e amaciaria o caminho para que Mendonça se apresentasse.

Ocorre que há um curto-circuito desde a reforma ministerial de abril no setor. A responsável pelo trabalho, Flávia Arruda (Secretaria de Governo), é vista como de mãos amarradas pela cozinha militar do Planalto. Seu antecessor, general , agora na Casa Civil, busca avalizar ele mesmo acordos.

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 22.07.2021 – ONLINE

Atrasado, Queiroga quer deter cepa

A variante Delta do novo coronavírus já circula em alguns estados brasileiros, que confirmaram transmissão comunitária — quando não é possível rastrear a origem dos casos. É o caso de São Paulo e do Rio de Janeiro, que reúnem a maioria dos casos da nova cepa. Mesmo diante deste cenário, o ministro da Saúde, , pareceu ignorar, ontem, o avanço da mutação indiana quando falou na adoção de medidas “para evitar que haja transmissão comunitária da variante Delta no país” e defendeu o retorno às aulas presenciais e as atividades econômicas.

Segundo o ministro, a pasta está acompanhando as variantes do vírus — foram contabilizados 122 casos da Delta, em nove unidades da Federação, até a última terça-feira. Ontem, o Distrito Federal entrou para a lista ao confirmar seis casos da cepa indiana.

“Precisamos conhecer bem qual o perfil desses indivíduos, qual percentual deles já estava vacinado com as duas doses da vacina e com uma dose da vacina, onde estão localizados, o isolamento dessas pessoas, para evitar que haja transmissão comunitária da variante Delta”, disse Queiroga.

A percepção do ministro, porém, está atrasada em relação ao que já acontece, pois Rio de Janeiro e São Paulo admitiram que a transmissão da Delta é comunitária. Mesmo diante desse cenário, Queiroga voltou a defender o retorno às aulas presenciais, sem detalhar que medidas devem ser adotadas. DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 16 de 26

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Iris Helena

Queiroga ainda comentou o retorno do público aos jogos de futebol, desconsiderando que 17% da população estão totalmente cobertas pela vacinação com duas doses ou aplicação única no Brasil, e que 28% receberam apenas a primeira injeção — segundo dados coletados até a última terça-feira pelo site Our World In Data. “É necessário que já consigamos promover um retorno às atividades econômicas do Brasil. Vamos conviver com essa situação pandêmica até que consigamos controlá-la de uma maneira definitiva”, explicou. (MEC)

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 22.07.2021 – ONLINE

O "superministro" que só encolhe

JORGE VASCONCELLOS

Publicação: 22/07/2021 04:00

O enfraquecimento de Guedes vem ocorrendo há tempos, diante da série de promessas não cumpridas (Edu Andrade/Ascom/ME)

A minirreforma ministerial anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro representa uma tendência de esvaziamento do ministro da Economia, , cuja “superpasta”, criada neste governo, pode ser desmembrada pela primeira vez. As discussões incluem a recriação do Ministério do Trabalho, que absorveria as atribuições da secretaria especial de Previdência e Trabalho, hoje pertencente à estrutura chefiada por Guedes e responsável pelas políticas federais de geração de emprego e renda. O nome cotado para ministro do Trabalho é o de (DEM).

Guedes foi ouvido por Bolsonaro antes do anúncio da minirreforma. Diferentemente de ocasiões anteriores, quando ameaçou deixar o cargo caso perdesse espaço, ele, agora, demonstra reconhecer, pelo menos publicamente, a necessidade de atrair mais aliados, principalmente no Senado, onde o governo acumula uma série de desgastes com o avanço das investigações da CPI da Covid.

Sem entrar em detalhes, Guedes disse, ontem, em evento de apresentação dos dados da arrecadação federal em junho, que o ministério vai passar por uma “reorganização interna”, envolvendo a área de “emprego e renda”. “Tem novidade até na nossa organização estrutural, vamos fazer uma mudança organizacional aqui também, essas novidades são justamente na direção de emprego e renda”, declarou o titular da Economia, acrescentando que as mudanças serão para “acelerar o ritmo de criação de empregos”.

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Iris Helena

“Já estamos criando 1 milhão e 300 mil empregos (formais) nos primeiros meses deste ano e vamos acelerar o ritmo de criação de emprego, inclusive com uma reorganização nossa interna, são novidades que o presidente deve trazer rapidamente”, afirmou o ministro antes do anúncio da minirreforma.

Se as mudanças forem confirmadas, será o primeiro desmembramento na estrutura do Ministério da Economia, desenhada por Guedes com o objetivo de concentrar as decisões sobre política econômica em suas mãos. O “superministério” da Economia resulta da fusão das antigas pastas da Fazenda, do Planejamento, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e do Trabalho. O órgão também absorveu atribuições do Ministério da Previdência, que já tinha sido extinto em 2015.

A Economia abriga oito secretarias especiais. Uma delas é a secretaria especial de Previdência e Trabalho, comandada por Bruno Bianco Leal e que exerce as funções dos extintos Ministérios da Previdência e do Trabalho. Essa unidade havia sido chefiada por Rogério Marinho, que hoje é comanda a pasta do Desenvolvimento Regional.

Desde o início do governo, o secretário de Trabalho é Bruno Dalcolmo. Por sua vez, o secretário de Previdência é Narlon Gutierre, que assumiu a função depois que Leonardo Rolim foi transferido para a chefia do INSS. Todos os nomes foram avalizados por Guedes.

Mudanças

A secretaria especial de Previdência e Trabalho foi a responsável por uma série de mudanças promovidas nesses setores, como a reforma da Previdência, o contrato de trabalho Verde Amarelo (que foi extinto), a revisão das normas regulamentadoras do trabalho e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permitiu a redução de jornada e salário e a suspensão do contrato de trabalho durante a pandemia.

Agora, a secretaria trabalha com o deputado Christino Áureo (PP-RJ) para lançar programas voltados para geração de emprego e qualificação profissional, especialmente para jovens e pessoas desempregadas acima de 55 anos.

O enfraquecimento de Guedes vem ocorrendo há um bom tempo, diante das promessas não cumpridas e das derrotas recentes da pasta no Congresso, como ocorreu na medida provisória da privatização da Eletrobras, que virou uma colônia de jabutis — emendas não relacionadas à proposta principal. Não à toa, o ministro tem mudado de comportamento nas reuniões com analistas, ouvindo mais do que fala, o que vem provocando surpresa dos interlocutores. (Colaborou Rosana Hessel)

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JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 22.07.2021 – ONLINE

Desafios sociais da pandemia

Ruy Altenfelder

Curador dos Prêmios Fundação Bunge, presidente do Conselho Superior de Estudos Avançados (Consea FIESP), conselheiro do Instituto Roberto Simonsen e presidente da Academia de Letras Jurídicas

Cláudia Buzzette Calais Diretora-executiva da Fundação Bunge

Criado a partir da crise no feudalismo e do desenvolvimento do capitalismo mercantil, o Estado moderno surge quando a burguesia passa a exigir garantias para o desenvolvimento do comércio, como um governo estável e leis. O Estado moderno conseguiu centralizar o poder político e dar previsibilidade às ações das pessoas em momentos de grande instabilidade, evitando conflitos entre os indivíduos e assegurando os direitos individuais à vida, à liberdade e à propriedade privada.

Podemos dizer que o capitalismo contribuiu para a derrubada do absolutismo monárquico, favorecendo não apenas a burguesia, como também camponeses e demais profissionais liberais. Mas, paradoxalmente, o crescimento e a própria afirmação do modo de vida capitalista passaram a gerar outras desigualdades, que o Estado não deu conta de remediar. O indivíduo tampouco conseguiu criar mecanismos de correção dessas questões, mesmo a partir da difusão do poder do Estado, com o surgimento das grandes corporações e o crescimento da participação popular, por meio de iniciativas democráticas e do surgimento da Sociedade Civil Organizada.

Em momentos de crise, como a provocada pela covid-19, com enormes desafios sociais enfrentados por diferentes segmentos da sociedade, refletimos sobre a referência nada otimista e crítica sobre o futuro da humanidade do livro Estado de Crise, dos sociólogos Zygmunt Bauman e Carlo Bordoni. A obra traz reflexão sobre como a maioria dos problemas que enfrentamos são criados pela ineficiência ou omissão do Estado, e como a solução desses problemas, gerados de maneira coletiva, é deixada para cada indivíduo resolver sozinho.

Trazendo para os dias de hoje, podemos pensar em questões como desemprego, miséria e fome. Esses desafios não foram gerados individualmente nem por escolhas pessoais, mas são parte de um sistema nascido desigual. Ninguém está desempregado ou passando fome porque quer ou é preguiçoso, como julgam alguns que analisam com lente simplista.

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Iris Helena

Quando esses problemas batem à nossa porta, porém, temos de dar conta deles sozinhos ou com uma ajuda ineficiente do poder público. Esse atrito tem gerado o declínio da confiança do cidadão no Estado. Como caminho, a sociedade tem buscado medidas emergenciais e paliativas, como campanhas de doações de alimentos e ajudas humanitárias. Essa organização e protagonismo da sociedade civil são muito importantes, mas não resolvem. Problemas como esses exigem soluções complexas e suas resoluções não dependem apenas de solidariedade e, sim, de políticas públicas, que são de responsabilidade do Estado. A dor da fome pode ser resolvida com um gesto simples: ofertar um prato de comida a quem necessita, mas a solução do problema da fome passa por políticas públicas de acesso à educação, garantias de direitos e distribuição de renda, por exemplo.

Estado e sociedade civil precisam seguir na mesma direção: na promoção da equidade social e na procura por soluções para os grandes problemas da humanidade. A pandemia tem nos obrigado a ter uma outra postura, a pensar e agir de maneira coletiva.

A vacinação é um excelente exemplo de como nossas decisões individuais colaboram com o coletivo, e como todos ganham se sociedade e Estado caminham juntos. É dever do Estado garantir saúde a todos. E assim ele está fazendo — infelizmente com atraso — quando possibilita acesso às vacinas. À sociedade, cabe o papel de se organizar e comparecer, em massa, aos postos de vacinação, pois a imunização eficiente só será alcançada se for um ato coletivo.

Temos dificuldade em perceber que a maioria dos problemas que enfrentamos são coletivos, porque as dores são particulares. Quem sabe da fome é quem não tem o que comer. Quem sabe do desemprego é quem não tem como se sustentar. Quem sabe da pandemia é quem luta por uma vaga nos hospitais ou perdeu alguém. Ter 19 milhões de brasileiros sem acesso à comida, 14 milhões de desempregados e mais de 500 mil mortos pela covid-19 é sinal claro de que o Estado está falhando em garantir aos seus cidadãos o direito a uma vida digna. O Estado não pode ser omisso!

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 22.07.2021 – PÁG.E1

Justiça admite penhora de criptomoedas para pagamento de dívidas trabalhistas

Pelo menos seis pedidos foram encaminhados a corretoras, segundo a ABCripto

Por Adriana Aguiar

Fabio Medeiros: Não imagino que as pessoas estejam investindo em criptomoedas para blindar patrimônio — Foto: Claudio Belli/Valor

Credores de verbas trabalhistas passaram a olhar para um mercado que movimenta bilhões de reais por ano: o de criptomoedas. A Justiça do Trabalho passou a receber e admitir pedidos para localização e bloqueio desses ativos - como o Bitcoin. Pelo menos seis ofícios foram enviados por juízes de São Paulo e Campinas (SP) a corretoras, por meio da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 20 de 26

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Iris Helena entidade que reúne cinco grandes empresas do país.

Essa via vem sendo adotada como uma das últimas alternativas para encontrar bens de devedores. Após tentativas frustradas de buscas de recursos em contas bancárias, imóveis ou automóveis por meio dos sistemas eletrônicos disponíveis aos juízes.

As corretoras de criptomoedas ainda não estão ao alcance do Sisbajud, o Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário, que substituiu o Bacen Jud. Hoje, essa plataforma de penhora on-line consegue localizar recursos em contas bancárias, cooperativas de créditos ou investimentos em renda fixa ou variável, como ações. Mas cogita-se para o futuro o bloqueio de criptomoedas - mercado que movimentou mais de R$ 200 bilhões no ano passado.

Um dos pedidos para localização de criptomoedas foi aceito recentemente pela 6ª Câmara da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região, com sede em Campinas. O processo tramita desde 2016. A dívida é de aproximadamente R$ 178 mil.

Os desembargadores, com base no voto do relator Jorge Souto Maior, determinaram o prosseguimento da execução por meio de envio de ofício à Receita Federal e à plataforma “bitcoin.com”, com o intuito de identificar se os sócios da empresa demandada possuem criptomoedas (processo nº 0010579- 95.2016.5.15.0036). A decisão também determina a inclusão dos executados no sistema do SerasaJud.

Outro pedido foi aceito pelo juiz Carlos Alberto Monteiro da Fonseca, da 54ª Vara do Trabalho de São Paulo, em um processo iniciado há quase 19 anos e ainda não quitado. O valor devido é de cerca de R$ 7,5 mil.

Após várias tentativas de penhora de bens ou valores, sem sucesso, o advogado que representa o trabalhador pediu que algumas corretoras fossem oficiadas para informarem a existência de criptomoedas em nome dos executados, o que foi aceito no dia 29 de junho (processo nº 0192700-88.2002.5.02.0054).

Em entrevista ao Valor, o juiz do trabalho Carlos Alberto Monteiro da Fonseca afirma que esse foi um dos primeiros pedidos que recebeu. “Como não se trata de dinheiro, acolhemos o pedido do autor. Caso a resposta seja positiva, e haja o bloqueio, uma das possibilidades é levar esse bem a leilão”, diz.

Ela lembra que, por meio do SisbaJud, o bloqueio e a transferência posterior dos recursos são imediatos. “No caso da criptomoeda, é necessário transformá-la em dinheiro”, afirma. Não há ainda no processo informação sobre a localização das criptomoedas.

O SisbaJud, segundo Dayse Starling Motta, juíza auxiliar da Presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) - órgão que integra o Comitê Gestor do sistema -, ainda não alcança as moedas virtuais pelo fato de sua emissão não ser regulada e controlada pelo Banco Central e não serem operadas por instituições que compõem o Sistema Financeiro Nacional.

“Ainda não temos dados precisos do movimento financeiro envolvendo as moedas virtuais. Inclusive porque, pela sua própria natureza, elas não ficam depositadas nas exchanges, dificultando sua localização para fins DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 21 de 26

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Iris Helena de penhora”, diz a juíza, que não descarta a evolução do sistema para possibilitar o bloqueio de criptomoedas, quando depositadas em exchanges.

No ano passado, em meio à pandemia, foram congelados, por meio do SisbaJud, R$ 59 bilhões - mais de 60% do valor foi alcançado a partir de setembro, quando passou a funcionar o substituto do Bacen Jud. Em todo o ano de 2019, foram R$ 56 bilhões. Historicamente, o maior número de pedidos de bloqueio vem da Justiça do Trabalho.

De acordo com Rodrigo Monteiro, diretor-executivo da ABCripto, a entidade tem recebido essas determinações de localização e eventual bloqueio de criptomoedas e repassado às corretoras afiliadas. As associadas, acrescenta, têm toda capacidade de atender esses pedidos judiciais e de forma rápida.

A ABCripto reúne a Mercado Bitcoin, Foxbit, NovaDAX, bitBlue e Alter Bank, que representam 40,45% do mercado de criptomoedas. Também faz parte da entidade o Travelex Bank, que atua exclusivamente com câmbio.

Essas corretoras, afirma Monteiro, seguem regras de compliance e têm registrado o CPF de todos os investidores. “As corretoras filiadas à ABCripto estão, sem dúvida, prontas para cumprir esses pedidos”, diz o diretor-executivo. Nos seis encaminhados ao setor, afirma, ainda não foram localizados ativos.

A expectativa, segundo ele, é que o número de solicitações cresça. “À medida que os criptoativos se tornarem mais populares e atraírem mais investidores passando a integrar a carteira de grandes bancos ou fundos de investimento, é natural também que esses pedidos passem a ficar mais frequentes”, diz.

Os advogados de reclamantes e os tribunais, assim como os investidores, começam a ficar atentos às moedas digitais como forma de saldar débitos trabalhistas, afirma Fabio Medeiros, do Lobo de Rizzo Advogados. Para ele, a Instrução Normativa nº 1899, de 2019, editada pela Receita Federal, trouxe mais uma forma de localizar esses ativos, ao determinar que a corretora deve notificar operações com valores superiores a R$ 30 mil.

“Não imagino que as pessoas estejam investindo em criptomoedas para blindar patrimônio. Mas se isso passar a ser considerado, esses pedidos da Justiça do Trabalho poderão minar essa tentativa de blindagem”, diz o advogado.

Na Justiça comum, há também pedidos de penhora de criptomoedas, como Bitcoins. Mas nas poucas decisões existentes, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) admitiu a possibilidade sem, porém, determinar os bloqueios porque não havia nos pedidos dados concretos sobre a localização dos ativos.

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Carrefour terá que pagar R$ 3 milhões em honorários

Verba deverá ser direcionada aos advogados das entidades civis que participaram do acordo firmado após a morte de João Alberto Silveira Freitas

Por Laura Ignacio Márlon Reis: No Brasil, seria possível abrir um novo caminho para a advocacia — Foto: Divulgação

Uma decisão judicial determina ao Carrefour pagar cerca de R$ 3 milhões em honorários aos advogados da Educafro e do Centro Santo Dias, entidades civis que participaram da elaboração do acordo firmado após a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro espancado por seguranças de uma loja da rede em Porto Alegre, em novembro. Cabe recurso.

O acordo, de R$ 115 milhões, foi o de maior valor já fechado no país em razão de questões raciais. Estabelecido no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), este montante deve ser aplicado em ações de combate ao racismo ao longo de três anos e não incluem as indenizações já fechadas pela rede com os familiares de Beto Freitas. Além disso, segundo os advogados das entidades civis, parte dos honorários será usada para a abertura de um escritório especializado na defesa de vítimas de racismo.

A decisão sobre os honorários é considerada inovadora por determinar o pagamento da verba em ação civil pública e após o fechamento de acordo. “A ideia é abrir um precedente não somente para tratar de questões raciais, mas de gênero e relativas à democracia”, afirma Márlon Reis, um dos representantes das organizações civis e especialista em ações coletivas. “Nos Estados Unidos, vemos o protagonismo das class actions. No Brasil seria possível abrir um novo caminho para a advocacia.”

Após sete meses de reuniões, o TAC foi assinado com o Ministério Público, Defensoria Pública e as organizações não governamentais. Na época, o Carrefour informou que 85% do valor estava provisionado. Mas os advogados decidiram recorrer para pedir também o pagamento das verbas advocatícias (ACP nº 5105506-17.2020.8.21.0001).

Para Reis, os honorários são devidos por se tratarem de verbas pela defesa de direitos indisponíveis da sociedade. O advogado reforça sua argumentação com decisão do Supremo Tribunal Federal (ADPF 165). “Nessa ação, os ministros deixam clara a importância dos honorários para as ações coletivas”, diz. Ao proferir a sentença, o juiz João Ricardo dos Santos Costa, da 16ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, acolheu o entendimento da Suprema Corte. “As empresas com forte potencial econômico têm capacidade de contratar os melhores advogados para atuarem nos tribunais e patrocinarem uma defesa efetiva como é desejável. O mesmo deve ser garantido aos que defendem os interesses das populações prejudicadas com as violações postas no Judiciário”, diz.

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Apesar da vitória, Reis e os demais advogados das entidades civis públicas vão recorrer com embargos de declaração. Isso porque o juiz arbitrou o pagamento de 3% do valor da causa. “Mas o artigo 85 do Código de Processo Civil estabelece um mínimo de 10%”, afirma.

Já o advogado Caetano Berenguer, sócio do Sergio Bermudes Advogados, que representa o Carrefour no processo, tem confiança de que a decisão será totalmente revertida. “A jurisprudência dos tribunais superiores é pacífica no sentido de que não são devidos honorários quando o acordo é feito antes de qualquer condenação”, afirma.

Ele acrescenta que os honorários sucumbenciais são fixados para a parte perdedora do processo pagar. “Mas, no caso, não há perdedor nem nenhuma verba sucumbencial havia sido mencionada”, diz citando decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) nesse sentido (AgInt nos EDcl no REsp no 1750858/PR).

Embora os advogados de ambas as partes do processo devam apresentar recurso, a decisão é comemorada pela Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Sul (OAB-RS), que atua como amicus curiae no processo, para auxiliar o juiz, a pedido dos advogados das entidades civis. Para Karina Contiero Silveira, presidente da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas da OAB-RS, os honorários são devidos também nas ações coletivas. “Arbitrar honorários é o que sustenta a função social que a advocacia exerce”, diz. “Se o advogado impulsionou o juízo, isso por si só já gera honorários.”

Destaques

Execução trabalhista

A 2ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) reformou decisão que afastava a responsabilidade de ex-sócia da Confeitaria Bulevar por créditos trabalhistas devidos a uma ex-empregada, por já terem passados dois anos da saída da empresária do quadro societário da empresa, tal como passou a prever a legislação após a reforma trabalhista de 2017. Para o colegiado, todos os fatos ocorreram antes da vigência da Lei nº 13.467/2017 (reforma trabalhista), não sendo possível retroagir os efeitos da reforma, para dificultar a execução e prejudicar a trabalhadora. A responsabilidade, então, recaiu sobre a empresária pelo tempo em que ela era sócia e havia o vínculo de emprego com a credora. O Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (2ª Região) havia entendido que a responsabilidade de ex-sócio só perdura até dois anos após a saída da sociedade, na linha do que diz a CLT, após a reforma trabalhista. O TST, no entanto, entendeu que tanto o período do contrato de trabalho quanto a data da retirada da sócia se deram antes da vigência da reforma. A decisão foi unânime. Houve recurso ao Supremo Tribunal Federal (processo nº 103300- 08.1998.5.02.0441).

Erro médico

Para a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o médico-cirurgião, ainda que seja o chefe da equipe, não pode ser responsabilizado solidariamente por erro médico cometido exclusivamente pelo anestesista. Com esse entendimento, a turma reformou acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) para restabelecer sentença que atribuiu exclusivamente ao anestesista a responsabilidade pelo erro que levou uma paciente a ficar em estado vegetativo. O juízo negou, portanto, o pedido de indenização contra o cirurgião- chefe. Na ação, a família narrou que a paciente, de 24 anos, foi submetida à cirurgia de redução de mamas, DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 24 de 26

RESPONSÁVEL

Iris Helena que transcorreu normalmente. Na sala de recuperação anestésica, porém, ela apresentou quadro de instabilidade respiratória e, como apurado pela perícia, foi vítima de negligência de atendimento por parte do anestesista. No STJ, o ministro Marco Aurélio Bellizze, afirmou que o entendimento pacificado na 2ª Seção é de que é preciso haver relação de subordinação entre os médicos para configurar a solidariedade (REsp 1.790.014).

Evolução de obra

A 5ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, com sede em Brasília, deu provimento à apelação de uma construtora para atribuir à Caixa Econômica Federal (Caixa) a responsabilidade pela devolução dos valores cobrados a título de “taxa de evolução de obra”, após expirado o prazo previsto para a entrega do imóvel. A turma, porém, negou o pedido da construtora para reduzir o valor da indenização, arbitrada em R$ 8 mil, por dano moral do autor, causado pelo atraso da obra. A construtora alegou que o atraso foi causado pelo boom imobiliário e o prazo para a entrega deveria considerar o previsto no contrato de financiamento firmado entre o autor, adquirente do imóvel, e a Caixa. Conforme afirmou o relator, desembargador federal Souza Prudente, a orientação jurisprudencial é no sentido de que a cobrança da taxa é abusiva quando realizada após expirado o prazo previsto para conclusão da obra. Segundo ele, a devolução do valor cobrado a mais deve ser feita pela Caixa, tendo em vista que é da instituição financeira a responsabilidade pela cobrança e amortização da dívida do imóvel (processo nº 00127 98- 11.2013.4.01.3803).

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 22.07.2021 – PÁG.E2

Nem tanto ao céu nem tanto à terra

A existência de ações anulatórias de sentença arbitral não deve, por si, ser considerada uma aberração

Por Fernando E. Serec e Lucas B. Mejias A comunidade jurídica está envolvida em acaloradas discussões sobre a segurança e confiabilidade da arbitragem como mecanismo de resolução de conflitos comerciais e empresariais. A origem da celeuma são decisões judiciais sobre ações anulatórias de sentenças arbitrais. A decisão de maior repercussão foi proferida em março deste ano, pela juíza da 2ª Vara Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem do Foro Central de São Paulo, suspendendo os efeitos de uma sentença arbitral favorável à Paper Excellence.

Ao que se sabe, a origem da disputa envolve a venda do controle da empresa Eldorado Papel e Celulose pela J&F, controlada pela família Batista, para a Paper Excellence. Já a anulatória envolve um suposto hackeamento dos sistemas de informática dos advogados da J&F, além de uma alegada suspeição de um dos árbitros integrantes do painel arbitral constituído para o caso.

A existência de ações anulatórias de sentença arbitral não deve, por si, ser considerada uma aberração

Essa tutela de urgência foi revogada na última semana, permitindo-se que se concretize a transferência de controle determinada no âmbito da arbitragem.

DATA CLIPPING 22.07.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 25 de 26

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Iris Helena

Também há um acórdão recente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), relatado pelo desembargador Azuma Nishi (apelação cível nº 1048961-82.2019.8.26.0100), que modificou sentença de primeiro grau para o fim de decretar a anulação parcial de sentença arbitral administrada pelo Centro de Mediação e Arbitragem da Fiesp/Ciesp.

O Tribunal de Justiça confirmou a rejeição de todos os argumentos relacionados à suspeição dos árbitros, mas entendeu que a fundamentação da sentença foi deficitária na parte que balizou a indenização, anulando tal capítulo da sentença arbitral. Ainda no ano passado, houve decisão do TJ-SP anulando sentença arbitral em razão de falta de revelação de fatos por um dos árbitros.

O alvoroço que gira em torno de tais decisões indica, quando menos, uma indesejada precipitação. A afirmação de que o número de sentenças arbitrais anuladas está crescendo em ritmo acelerado merece maior cautela. Em nosso entendimento não há base para tal alegação. Primeiro, porque os dados de suporte são de difícil acesso, especialmente diante do sigilo que impera na maior parte dos procedimentos arbitrais e, consequentemente, deve imperar nas demais anulatórias. Segundo, porque há dados seguros de que o número de conflitos levados à arbitragem vem aumentando significantemente a cada ano, o que naturalmente gera um aumento no número de impugnações dirigidas ao Poder Judiciário, e por ele decididas.

Para citar dois exemplos, colaboradores da Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI) informaram, em evento aberto ao público ocorrido no dia 5 de março, que em quatro anos o Brasil saltou do quarto lugar para o segundo lugar entre os países que mais originam disputas arbitrais administradas por tal órgão. Por outro lado, as estatísticas divulgadas pelo Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá apontam que o número anual de arbitragens administradas por tal centro aproximadamente dobrou nos últimos dez anos, passando de 49, em 2009, para 97 em 2019, e atingindo o pico de 141 arbitragens em 2017.

Isso em um contexto em que outros centros brasileiros de arbitragem adquiriram notoriedade internacional na última década, acirrando a competição no mercado de administração de procedimentos privados de resolução de conflitos.

A existência de ações anulatórias de sentença arbitral não deve, por si, ser considerada uma aberração. Ao contrário, são parte do sistema e deveriam ser vistas como tal, já que fundadas na própria Lei nº 9.307/1996 (mais especialmente, em seus artigos 32 e 33). Seu ajuizamento não deve ser lido como uma afronta ao instituto da arbitragem, mas sim como um mecanismo próprio à sua essência.

Sem qualquer juízo de mérito em relação às decisões recentemente proferidas, tais demandas anulatórias existem justamente para garantir segurança e previsibilidade ao instituto. A possibilidade de anulação de sentença arbitral, sempre nos termos limitados da própria Lei de Arbitragem, colabora para a evolução e consolidação da arbitragem.

O que se deve almejar é razoabilidade e parcimônia nas decisões judiciais, que devem estar pautadas na lei, buscando, na medida do possível, prestigiar e proteger o instituto - o que também ocorre quando se extirpam eventuais problemas. Sempre foi assim em âmbito internacional, e é em parte a partir de impugnações decididas por tais jurisdições que o instituto evoluiu e se consolidou.

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RESPONSÁVEL

Iris Helena

Ainda que determinadas decisões possam ser individualmente criticadas, também tem sido essa - até aqui - a tônica do nosso Poder Judiciário. Por mais que uma anulação de sentença arbitral naturalmente gere surpresa, qualquer estudo estatístico acerca da questão exige um campo amostral minimamente abrangente. E os estudos assim conduzidos até os dias de hoje levam inevitavelmente à mesma conclusão: o número de sentenças arbitrais questionadas perante o Judiciário é baixo e, dentre as ações que atingem tal esfera, aquelas que prosperam são ainda mais ínfimas.

Isso demonstra que o sistema funciona adequadamente, inclusive com ampla colaboração do Poder Judiciário. Avaliadas nesse contexto, as decisões sobre sentenças arbitrais suspensas ou anuladas não devem gerar exacerbada preocupação, mas ser avaliadas - e criticadas com naturalidade própria ao instituto.

Fernando Eduardo Serec e Lucas Britto Mejias são, respectivamente, CEO de TozziniFreire Advogados e sócio na área de Arbitragem de TozziniFreire Advogados Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações