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Iris Helena

SUMÁRIO

COLABORAR PARA MELHORAR A EDUCAÇÃO – O Popular O FUTURO DO SERVIÇO PÚBLICO – O Popular JUDICIÁRIO EM GOIÁS GASTOU R$ 177,3 MILHÕES EM EXTRAS NA PANDEMIA– O Popular E A CORRUPÇÃO? – Folha de São Paulo O CIRCO DE GILMAR MENDES – Folha de São Paulo VONTADE DE ENVELHECER PARA TOMAR VACINA – Folha de São Paulo O JORNAL QUE NOS ABRAÇA – Folha de São Paulo DORIA CORTA DA SAÚDE PRISIONAL E ENGORDA O CAIXA EM ANO DE PANDEMIA – Folha de São Paulo STJ TEM AVAL INFORMAL DE INTEGRANTES DO SUPREMO PARA INVESTIGAR PROCURADORES DA LAVA JATO – Folha de São Paulo 'NÃO ME ARREPENDO DE NADA', DIZ SERGIO MORO SOBRE LAVA JATO – Folha de São Paulo QUEIROGA CRIA SECRETARIA – Correio Braziliense MAIS SERVIDORES NO HOME OFFICE – Correio Braziliense O BRASIL EM FACE AO MUNDO EM TRANSE – Correio Braziliense JUDICIÁRIO QUEBRA SIGILO DE PROCESSOS ARBITRAIS – Valor Econômico FUNDAÇÃO TENTA RECUPERAR PREJUÍZOS DA PETROBRAS COM LAVA-JATO – Valor Econômico DESTAQUES– Valor Econômico STF DERRUBA COBRANÇA DE ICMS SOBRE EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO – Valor Econômico MEDIAÇÃO, MEDIADOR, RECUPERAÇÃO E ADMINISTRADOR – Valor Econômico DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 2 de 29

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Iris Helena

JORNAL - O POPULAR – 29.03.2021 – PÁG. 3

Colaborar para melhorar a Educação

Priscila Cruz

Feito um poema de Cora Coralina – a poeta que encantou o Brasil e o mundo com toques generosos de leveza, força e esperança –, emerge deste Estado um dos bons exemplos de fortalecimento da educação a partir de algo essencial num país repleto de divisões e disputas políticas: a colaboração entre governador e prefeitos. Sim, mesmo em tempos difíceis, ainda há esperança ao vermos iniciativas de boas práticas, busca de soluções comuns e ações coordenadas. Goiás tem sido uma força relevante nessa direção.

Diante da grave situação pandêmica, os desafios educacionais tendem a se tornar ainda mais complexos para as próximas gestões. Na contramão da solução, é visível o descompasso das diretrizes entre os diferentes níveis de governo em todo país. Mas a colaboração e a articulação se tornam ainda mais necessárias e, felizmente, seguem avançando no país.

Goiás lidera o ranking nacional da qualidade no ensino médio público do país e implementou, junto aos seus 246 municípios, o regime de colaboração em questões como transporte, currículo e calendário escolar, tendo destaque durante a pandemia com a realização do Reanp (Regime Especial de Aulas Não Presenciais). Seu diferencial está na consistente melhoria da qualidade da oferta da educação básica ao implementar políticas estaduais convergentes.

Evidências demonstram que essa atuação colaborativa é a melhor forma de implementar políticas públicas educacionais bem-sucedidas. O chamado “Regime de Colaboração”, previsto na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), é a estratégia que permite que os entes federados se articulem a fim de solucionar problemas comuns ou estimular e apoiar a implementação de políticas públicas.

No último dia 26 de março representei o Todos Pela Educação no evento com o governador, prefeitos e prefeitas, além da secretária de Educação do Estado e dirigentes municipais de Educação, onde pudemos refletir sobre a importância do regime de colaboração para políticas educacionais e para ampliar a robustez do conjunto de ações significativas para a alfabetização realizadas pelo Estado junto aos municípios.

Essas iniciativas são extremamente relevantes para as novas gestões eleitas, que terão uma grande missão no enfrentamento dos impactos trazidos pela pandemia às comunidades escolares e podem, de forma colaborativa, fortalecer suas redes de ensino a fim de garantir melhoria na qualidade educacional para as crianças e jovens.

Os dois principais eixos do evento estão diretamente alinhados à agenda prioritária do “Educação Já Municípios”, documento lançado pelo Todos Pela Educação que, entre outras recomendações, defende o fortalecimento desse modelo de cooperação. O documento explora diversas orientações para que os gestores municipais busquem garantir o atendimento com qualidade na educação infantil, a alfabetização de todas as crianças e a evolução da aprendizagem em conjunto com a redução das desigualdades. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 3 de 29

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Iris Helena

A iniciativa liderada pela rede estadual mantém Goiás no seleto grupo de Estados que prioriza o fortalecimento da educação a partir da colaboração entre os diferentes níveis de governo. Merece aplausos.

O futuro do serviço público

Jeovalter Correia Santos

No cenário pandêmico, uma nova postura da gestão pública tem sido observada. O serviço público mudou em benefício do usuário. Para início de conversa, o e-gov ou governo eletrônico já era uma tendência antes da pandemia, depois dela, isso deixou de ser tendência para ser realidade. O atendimento presencial perdeu importância e deixou de ser a razão de ser do serviço público. Programas como o Vapt Vupt do governo do Estado terão que se reinventar. Aparentemente, isso pode parecer uma mudança simples, mas de fato é uma nova dinâmica do serviço público com uma cultura inovadora com um padrão novo e, ainda, desconhecida que está sendo forjada, não mais de forma gradual, como era a tendência antes da pandemia, mas de forma disruptiva e acelerada por causa dela, num caminho sem volta.

É possível listar uma série de impactos desse novo serviço público que está sendo implantado na marra e a revelia dos gestores públicos. Iniciando pelo servidor público que terá o papel de facilitador desse processo ao invés de sua função burocrática atual. Com exceção da União, cuja maior despesa são os juros da dívida pública, Estados e municípios têm na despesa com pessoal o seu maior gasto, mas a perspectiva é de que haja uma mudança importante no perfil dessa despesa, mesmo em setores intensivos de mão de obra como saúde, educação e segurança pública, cuja despesa com pessoal ainda será relevante - o gasto mais importante passa a ser em tecnologia e comunicação.

A revolução que está sendo operada na educação com aulas virtuais, a telemedicina na saúde e o monitoramento eletrônico das vias públicas, bem como o reforço aos sistemas de inteligência na segurança pública e de gestão das cidades, seguramente indica a necessidade de otimização do quantitativo de servidores públicos.

Os prédios públicos grandiosos, pinhados de servidores administrativos, estão com os dias contados. A tendência é que o teletrabalho seja institucionalizado e não precise mais de altos investimentos em mobiliários para os escritórios.

Aquelas pastas cheias de documentos arquivados naqueles armários enormes, em breve, serão coisas do passado, com a implantação da gestão eletrônica de processos com economia de papel e impressão.

No âmbito dos serviços públicos em geral, o usuário poderá interagir com órgãos públicos, por meio de um aplicativo, para denunciar uma situação do tipo lâmpada queimada, buraco no asfalto, árvore caída, solicitar matrícula numa escola, agendar uma consulta ou um exame médico, consultar andamento de processo, emitir boleto para pagamento de impostos, alvará de construção, carteira de identidade ou de motorista, etc. Ocorre que isso não será somente uma modernização pontual de alguns órgãos públicos como acontece hoje, mas num futuro bem próximo, será a principal ou a única forma de acessar o serviço público.

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Iris Helena

JORNAL - O POPULAR – 29.03.2021 – PÁG. 4

Judiciário em Goiás gastou R$ 177,3 milhões em extras na pandemia

Marcos Nunes Carreiro

Valor gasto com auxílios, abonos, indenizações e pagamentos por decisões judiciais a juízes, desembargadores e pensionistas aumentou 56,5%, quando comparado a 2019

Sede da administração do Poder Judiciário em Goiás (Foto: Divulgação/TJ-GO)

Em um ano marcado pela pandemia de Covid-19 e por crise financeira, o valor gasto com auxílios, abonos, indenizações e pagamentos por decisões judiciais a magistrados e pensionistas do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) aumentou 56,5%, quando comparado a 2019. Foram R$ 177,3 milhões em 2020, ante R$ 113,3 milhões do ano anterior, considerada a inflação do período, acrescidos aos contracheques de juízes e desembargadores tanto da ativa quanto aposentados, e de pensionistas.

Os valores são de levantamento feito pelo POPULAR nos contracheques de 2019 e 2020 enviados pelo TJ- GO ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e disponibilizados no site da entidade, que em 2017 obrigou os tribunais a dar transparência às folhas de pagamento de maneira padronizada.

O aumento encontrado nos gastos é puxado tanto por pagamentos que não aparecem em 2019, como abono pecuniário, auxílio-saúde, indenizações baseadas na Lei 20.033/2018 — que permite o recebimento em dinheiro de licenças-prêmio e férias não usufruídas — e pagamentos retroativos, quanto pelo aumento no gasto com diferenças salariais de URV e do chamado “abono variável”, do qual trata o recurso administrativo 200804671197 (veja quadro ao lado).

Os dois últimos casos são garantidos por decisões judiciais. Já o auxílio-saúde foi criado em maio do ano passado, após regulamentação do benefício pelo CNJ. À época, o TJ-GO afirmou ao POPULAR que os pagamentos seriam de até R$ 1,8 mil, valor a ser recebido por juízes e desembargadores ativos e inativos. Contudo, aparecem nos contracheques, na parte de indenizações, pagamentos de até R$ 2,5 mil. A reportagem questionou o Tribunal sobre a diferença nos dados, mas não recebeu resposta específica a respeito.

O benefício também é dado a servidores ativos e inativos (R$ 720), pensionistas de magistrados (R$ 560), e pensionistas de servidores (R$ 420).

Mais de R$ 100 MIL

O levantamento nos contracheques aponta para 369 vencimentos brutos acima de R$ 100 mil em 2020, referente a 255 pessoas, sendo que 28 tiveram remuneração ultrapassando esse valor por mais de dois meses. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 5 de 29

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Iris Helena

Foram dois os casos que receberam acima disso por oito meses no ano passado: um desembargador e uma pensionista.

O desembargador teve rendimentos brutos de: R$ 112,1 mil, em março; R$ 116,8 mil, em abril; R$ 151,8 mil, em maio; R$ 111,5 mil, em junho; R$ 114,3 mil, em julho; R$ 138,2 mil, em agosto; R$ 114,5 mil, em novembro; e R$ 102,7 mil, em dezembro. Em três meses, ele recebeu salário líquido acima de R$ 100 mil — abril, maio e agosto — e em um dos casos ultrapassou o teto constitucional de R$ 39,3 mil em mais de 300%: em maio, recebeu R$ 137,1 mil de rendimento líquido.

A maior parte dos pagamentos do desembargador entra em “direitos eventuais” e diz respeito a indenizações por férias recebidas de março a agosto, e que somam R$ 236,4 mil, além do pagamento por URV e por uma decisão judicial. O subsídio dos desembargadores é de R$ 35,4 mil.

Já a pensionista de desembargador teve rendimentos brutos de: R$ 117,8 mil, em março; R$ 107,6 mil, em abril; R$ 109,1 mil, em maio; R$ 109,4 mil, em junho; R$ 143,5 mil, em julho; R$ 108,6 mil, em agosto; R$ 101,9 mil, em setembro; e R$ 102,4 mil, em outubro. Em todos os meses teve remuneração líquida acima de R$ 50 mil e, em julho, teve vencimento líquido acima de R$ 100 mil.

No caso desta pensionista, que tem subsídio de R$ 47,2 mil, os rendimentos foram acrescidos em grande parte pelo recebimento da diferença de URV — pagamentos entre R$ 37 mil e R$ 40 mil no período analisado — e pela decisão ADM 200804671197. No último caso, os pagamentos variaram entre R$ 14 mil e R$ 21,1 mil. Os dois tipos de pagamento entram em “direitos eventuais”.

O TJ-GO não respondeu a nenhum dos nove questionamentos enviados pela reportagem, informando apenas “que o Poder Judiciário goiano sempre cumpre a legislação vigente, inclusive a lei de responsabilidade fiscal, em relação à remuneração de magistrados, servidores e pensionistas, e também na sua função julgadora.”

A nota diz que “todos os atos praticados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, nas esferas judicial e administrativa, estão publicados na forma da lei, no Diário da Justiça Eletrônico e no Portal da Transparência.”

Em 2021, foram 81 vencimentos brutos e 21 líquidos acima de R$ 100 mil. Os dados consideram as folhas de janeiro e fevereiro, únicas disponíveis até o momento. Neste ano, começará a ser paga também uma nova gratificação, por acúmulo de processos, e que deve corresponder a 20% do salário do magistrado. O pagamento tem respaldo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

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Iris Helena

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 29.03.2021 – PÁG. A2

E a corrupção?

Erros da Lava Jato devem servir para aprimorar controle, não para esvaziá-lo Tornozeleiras eletrônicas usadas no sistema prisional do estado de São Paulo - Bruno Santos -

A anulação dos processos movidos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez desmoronar parte importante do edifício erguido por juízes e procuradores à frente da Lava Jato nos últimos anos.

Passados dois meses desde a dissolução da força-tarefa responsável pelas investigações da operação no Paraná, lá se foram os troféus mais vistosos da sua coleção, as duas condenações impostas ao líder petista pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

A despeito dos resultados históricos obtidos na busca de punições rigorosas para políticos corruptos e empresários corruptores, há muito se notam abusos e heterodoxias cometidos por seus integrantes e pelo ex- juiz Sergio Moro para atingir seus objetivos.

O alcance das decisões do Supremo Tribunal Federal no caso de Lula ainda depende de uma palavra final do plenário sobre a transferência das ações para a Justiça Federal do Distrito Federal, mas é possível que outros acusados colham benefícios também.

Também preocupante, entretanto, é que a reprovação aos desvios da Lava Jato não tenha sido acompanhada até agora de medidas que aperfeiçoem os mecanismos de controle desenvolvidos a partir da redemocratização do país para enfrentar a corrupção.

Pelo contrário, o desmonte da operação ocorre num ambiente em que se multiplicam de maneira inquietante as iniciativas para enfraquecer as instituições encarregadas de coibir os malfeitos.

A pretexto de impor bem-vinda disciplina ao compartilhamento de informações financeiras, decisões judiciais vêm restringindo o repasse de dados e inibindo a atuação de órgãos cuja cooperação é essencial para os investigadores.

Motivação semelhante parece inspirar mudanças em discussão no Congresso, onde estão sendo revistas as leis que punem a lavagem de dinheiro e os atos de improbidade administrativa.

Ao liquidar a força-tarefa de Curitiba, o procurador-geral da República, Augusto Aras, desidratou o grupo encarregado de dar continuidade a dezenas de inquéritos e ações penais, deixando-o com recursos exíguos para a tarefa. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 7 de 29

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Iris Helena

Caiu no esquecimento a promessa de criação de um grupo especializado no combate à corrupção, que disseminasse o conhecimento acumulado pela Lava Jato e coordenasse melhor os esforços para desvendar casos complexos.

Note-se ainda a condescendência com o que o procurador-geral trata o presidente , que o nomeou para o cargo e se movimenta de maneira constante em busca de proteção para os filhos contra investigações embaraçosas.

Encerrado o ciclo da Lava Jato, é preciso assegurar que o aprendizado proporcionado pelos erros e pelos acertos da operação contribua para fortalecer as instituições de controle, e não para esvaziá-las.

O circo de Gilmar Mendes Catarina Rochamonte

Ministro deu chilique em voto no qual declarou parcialidade do ex-juiz Sergio Moro

As instituições da República merecem respeito; a questão é que, muitas vezes, elas não se dão ao respeito. Um exemplo disto foi a sessão da segunda turma do STF que declarou a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro em atuação no processo do ex-presidente Lula. No julgamento, três dos cinco ministros, além de usarem provas ilícitas (mensagens roubadas por hackers), acrescentaram a afrontosa mentira de dizer que não o estavam fazendo, no exato momento em que o faziam.

O ministro Gilmar Mendes deu um show à parte. Descompensado após o sensato voto do ministro Kassio Nunes, que tinha pedido vistas do processo, Gilmar deu um chilique, faniquito ou piti; um troço desses que misturou fúria, choro, berro e teatro: gritou, destratou o ministro Kassio e xingou até o Piauí. As lágrimas brotaram depois, na emoção ao elogiar o advogado de Lula.

No seu destampatório, Gilmar sustentou seus argumentos nas provas ilícitas das mensagens roubadas, que citava a todo momento, sempre acrescentando que não as estava usando. A ministra Cármen Lúcia, por sua vez, que em 2018 tinha julgado esse mesmo processo dando voto favorável a Moro, aparentemente acossada pela fúria de Gilmar, alterou seu voto, virando o placar do jogo em favor do garantismo do colarinho branco.

A quebra de decoro do ministro Gilmar (que, assim como a alteração de voto já proferido em sessão do Tribunal, configura crime de responsabilidade, conforme o artigo 39 da lei 1.079/50) repercutiu no Congresso e o senador Esperidião Amin chegou a interromper uma sessão no Senado para compartilhar seu estarrecimento: “Eu estou perplexo, estarrecido, escandalizado com esse tipo de reação diante de um julgamento”. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 8 de 29

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Iris Helena

Protegidos de pedidos de impeachment pelo acordo de proteção mútua entre os poderes, os ministros do Supremo seguem com seus arroubos autoritários e o STF se firma como a instância máxima garantidora do maior e mais obsceno dos privilégios: a impunidade dos poderosos.

Vontade de envelhecer para tomar vacina

Ana Cristina Rosa Durante a pandemia há quem esteja triste por não ser mais velho do que é

É tanta morte e tanta falta —de leitos, de medicamentos, de oxigênio e até de covas para jazer os corpos dos que perderam a vida— que no Brasil tem gente lamentando não ser idoso para poder se vacinar contra a Covid-19 o quanto antes. O medo da infecção e a ansiedade são tão grandes que há pessoas invejando aqueles que possuem idade suficiente para se enquadrarem nos critérios de prioridade de vacinação estabelecidos: depois dos profissionais da saúde, os idosos.

É isso mesmo. Num cenário de descontrole da pandemia, a maioria já está convencida de que não há como superar a crise sanitária sem tomar a vacina. E, apesar dos detratores, a vacina se mostrou poderosa a ponto de motivar um fenômeno improvável no Brasil pré- coronavírus: o despertar da valorização da longevidade.

Envelhecer tem suas peculiaridades, como o surgimento de enfermidades. Mesmo quem tem a felicidade de manter a saúde, não escapa da perda funcional. Porém é inegável que há coisas que só se adquire com o tempo. Contudo até o que deveria ser reverenciado e valorizado, em geral costuma ser negligenciado pela sociedade brasileira.

Pois durante a pandemia há quem esteja triste por não ser mais velho do que é. Mesmo que seja uma tristeza da boca pra fora. Dia desses ouvindo conversa na fila do supermercado —uma das poucas atividades que tenho feito fora de casa— a mulher à minha frente declarou: “Queria ter feito 70 e não 45 anos para poder me vacinar de uma vez”.

Surpreendente, não?

Tenho um amigo carioca que vivia reclamando do avanço da idade, mas este ano comemorou feito doido o fato de o aniversário ter coincidido com o calendário de vacinação na cidade. Nem bem o dia raiou e lá estava ele em frente à unidade de saúde, braços a postos. Voltou para casa feliz da vida com a primeira dose da Coronavac e está contando os dias para completar a imunização. Tomara que a valorização da longevidade sobreviva à pandemia no Brasil. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 9 de 29

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Iris Helena

O jornal que nos abraça

Ruy Castro

Quando muda a tecnologia, o formato mais antigo é que é obrigado a mudar de nome

Charles Foster Kane (Orson Welles) em cima de pilhas do seu jornal, em cena de 'Cidadão Kane' (1941) - Reprodução

Um amigo meu, a respeito de um artigo na Folha, referiu-se ao fato de tê-lo lido “no impresso”. Queria dizer, claro, que o lera no jornal de papel. Ao ouvir isso, ocorreu-me que cada vez mais pessoas chamam de “impresso” o jornal que se compra na banca ou se recolhe pela manhã na porta do apartamento, para diferenciá-lo do online. E me ocorreu também que, mais uma vez, a substituição de um formato por outro fará com que o antigo é que tenha de mudar de nome para dar lugar ao novo.

Foi o que aconteceu quando o CD começou a se impor sobre o LP, nome pelo qual o disco de vinil foi chamado durante os seus cerca de 50 anos (1948-98) no mercado. Pois, com a chegada do CD, que era um disco metálico, o LP passou a ser chamado de “vinil” —quando, se fosse o caso, o CD, como novidade, é que devia ser chamado de “metal”. O que, com atraso, ainda pode acontecer, agora que o CD também foi reduzido a peça de museu pelas novas tecnologias.

Ninguém na Idade Média (500-1500) dizia que estava vivendo na Idade Média, e muito menos era xingado de medieval. A pecha só se estabeleceu quando veio o Renascimento. Também se diz sem pensar que dom João 6º trouxe a família real para o Brasil em 1808. Mas quem fez isto foi o príncipe-regente dom João, que só se tornou dom João 6º ao ser coroado rei, em 1816.

O advento da Segunda Guerra (1939-1945) transformou em Primeira Guerra o que até então se conhecia como a Grande Guerra (1914-1918). No Brasil, a Revolução de 1930 não derrubou a República Velha. Derrubou a República de 1889 e, para indicar a ruptura, passou a chamá-la de Velha. E o sanfoneiro Luiz Gonzaga sempre foi Luiz Gonzaga, até ser eclipsado por seu filho Gonzaguinha e tornar-se, retroativamente, Gonzagão. Etc.

Donde parece inevitável que este nosso velho amigo matinal, que nos abraça ao ser aberto, em breve se torne “o impresso”, e estaremos conversados.

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Iris Helena

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 29.03.2021 – PÁG. A3

Doria corta da saúde prisional e engorda o caixa em ano de pandemia

Os efeitos das políticas prisionais e orçamentárias se prolongarão

Luciana Zaffalon/Advogada, mestre e doutora em administração pública e governo pela FGV-SP; coordenadora da Plataforma Justa, é pesquisadora convidada da The New School (Nova York)

Em meio à pandemia, o governo paulista optou por engordar o caixa em vez de investir na vida. Fazer poupança diante da morte é perverso, mas é esta a realidade que os dados orçamentários de 2020 demonstram.

O estado fechou o ano com R$ 12,3 bilhões a mais em reservas do que em 2019. Os dados, apresentados pela Plataforma Justa, consideram os relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal e as informações gerenciais da execução orçamentária.

O Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus garantiu aos estados a suspensão do pagamento de dívidas, o que para São Paulo significou uma economia de R$ 13,5 bilhões em relação ao previsto para 2020, que se somam aos R$ 7,6 bilhões recebidos via repasse federal para ações de saúde, assistência e compensação de receitas. A recuperação na arrecadação do ICMS, a partir de agosto de 2020, também contribuiu.

Se não é possível mensurar quantas vidas os R$ 12,3 bilhões “poupados” em 2020 poderiam salvar, é possível apontar quais foram sacrificadas. Na prisão, a falta de atendimento médico, de água e de produtos de higiene é regra. Em plena pandemia, o governo de João Doria (PSDB) cortou R$ 14 milhões da atenção à saúde nas prisões e R$ 31 milhões de ações como a aquisição de produtos de higiene.

Estudo publicado recentemente na revista “The Lancet” mostra que os malefícios da prisão impactam toda a saúde pública e também os indicadores gerais de mortalidade para além das grades.

A responsabilidade pelo encarceramento em massa alcança necessariamente as gestões federais do PT. A Lei de Drogas, sancionada por Lula em 2006, nos tornou a terceira maior população prisional do mundo.

A gestão e o financiamento da Justiça criminal e do sistema prisional, porém, são de competência estadual. São Paulo concentra 37% dos presos brasileiros e responde por cerca de 53% das prisões por drogas no país. O protagonismo do problema é paulista.

A Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 repete a irracionalidade: reduz 3,4% dos gastos com atenção à saúde prisional e prevê aumento de 72% para a expansão prisional.

Nos últimos 25 anos, o número de penitenciárias saltou de 43 para 173 em São Paulo. A opção pelo confinamento tem custado caro, não apenas em termos sociais. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 11 de 29

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Iris Helena

Se somarmos os valores da LOA/21 para assistência social (R$ 907 milhões), habitação (R$ 962 milhões), saneamento (R$ 504 milhões) e ciência e tecnologia (R$ 1,5 bilhão), não alcançamos os R$ 4,5 bilhões previstos para o sistema prisional.

Internacionalmente, a pauta do desfinanciamento das polícias e das prisões ganha força. No Brasil, movimentos sociais como a Amparar (Associação de Familiares e Amigos de Presos/as) assumem o protagonismo de uma racionalidade de vanguarda que pede “nenhuma vaga a mais”. O mesmo é proposto na referida publicação da “The Lancet”. Trata-se de medida de atenção à saúde coletiva.

Cabe ao Ministério Público Estadual (MPE) definir quem será acusado criminalmente: de usuários ou traficantes de drogas a políticos eleitos. Ao Judiciário, cabe decidir. A balança parece estar viciada.

O aprisionamento começa nas instituições de Justiça, e o crescimento de seus recursos amplia a relevância do debate: entre 2010 e 2020, o orçamento geral do estado de São Paulo cresceu 75,8%. O do Judiciário paulista aumentou 129,5%. O do Ministério Público Estadual, 108,4%.

Dos R$ 12,5 bilhões recebidos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) em 2020, 82% foram consumidos com pessoal. No caso do MPE, este percentual sobe para 90%.

Em 2020, enquanto cortava da atenção à saúde nas prisões, o governo paulista distribuiu R$ 249,3 milhões a mais para o MPE e R$ 539,4 milhões a mais para o TJ-SP ampliar as despesas com pessoal e encargos sociais. São R$ 788,7 milhões distribuídos diretamente pelo governo João Doria para quem deveria fiscalizar e julgar seus atos, sem passar pela Assembleia Legislativa.

Os efeitos das políticas prisionais e orçamentárias se prolongarão. É passada a hora de o sistema de Justiça decidir se faz parte da solução dos nossos problemas democráticos ou se seguirá sendo deles fiador.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 29.03.2021 – PÁG. A6

STJ tem aval informal de integrantes do Supremo para investigar procuradores da Lava Jato

Membros do Ministério Público, porém, apostam fichas em decisão favorável de Rosa Weber

Marcelo Rocha

Brasília

Criticado por procuradores por ter aberto inquérito para investigar integrantes da Operação Lava Jato, o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins, tem recebido sinalização favorável de integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal).

Martins afirma ter respaldo legal para tocar a apuração, mas é acusado por procuradores da República de usar DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 12 de 29

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Iris Helena provas ilícitas e incorrer em ilegalidades —como a de se imiscuir em atribuição alheias e de não ter feito constar no despacho inaugural do inquérito quais seriam, em tese, os delitos cometidos pelos investigados.

Entre os nomes da Lava Jato citados na investigação do STJ está o de Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa de Curitiba. Humberto Martins, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) - Rafael Luz/STJ

O debate sobre a legalidade do inquérito é travado no STF sob a relatoria da ministra Rosa Weber. Ela analisa pedidos para trancar a apuração, mas a palavra final será colegiada.

Internamente, ainda no calor do julgamento que declarou a quebra de imparcialidade do ex-juiz Sergio Moro, o clima entre os ministros do Supremo é, por ora, favorável a Martins, segundo interlocutores que fizeram chegar a ele tal avaliação na semana passada.

Os procuradores, por sua vez, apostam as fichas na possibilidade de que Rosa tome uma decisão que, ainda que provisoriamente, breque a apuração.

No capítulo mais recente do caso, na sexta-feira (26) veio à tona a informação de que o presidente do STJ afirmou, em um despacho, que são estudadas diligências contra procuradores da República, aumentando o clima de apreensão no Ministério Público Federal.

Ao negar um pedido da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) para ter acesso ao inquérito, que tramita em sigilo, Martins disse que isso pode comprometer “a realização das futuras diligências sigilosas que deverão ser realizadas”.

A apuração aberta em fevereiro pelo presidente do STJ busca esclarecer se integrantes da Lava Jato tentaram investigar, ilegalmente, ministros da corte superior.

A hipótese foi levantada a partir de reportagens sobre o conteúdo das mensagens trocadas entre representantes da Procuradoria vazadas em um ataque hacker em 2019.

O material faz parte do mesmo universo de diálogos citados por ministros do Supremo no recente julgamento que concluiu pela suspeição de Moro na condução da ação penal contra o ex-presidente Lula no caso do tríplex de Guarujá (SP).

Veja as possíveis consequências do vazamento de mensagens entre Moro e Deltan

Para instaurar o inquérito, Martins se baseou no Regimento Interno do STJ, segundo o qual é atribuição do presidente da corte zelar pelas prerrogativas do tribunal.

Com o objetivo de garantir o cumprimento dessa autodefesa institucional, o artigo 58 da mesma norma prevê a possibilidade de instauração de inquérito.

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Iris Helena

A redação desse artigo 58 é similar a trecho do Regimento Interno do STF, lastro da abertura do inquérito das fake news —resposta aos ataques que ministros do Supremo sofreram de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Rosa pediu esclarecimentos a Martins recentemente. O presidente do STJ reforçou os argumentos de que o inquérito visa proteger o Judiciário.

"Não subsistirão direitos fundamentais e garantias constitucionais sem a preservação do Poder Judiciário independente, que viabiliza que tais conquistas constitucionais sejam reconhecidas concretamente", afirmou.

"Portanto, diante de indícios de excessos funcionais por parte do Ministério Público Federal, mister que se investiguem os fatos para a defesa irrefutável da existência independente e robusta do Poder Judiciário", completou o presidente do STJ.

O ministro alegou ainda ter se baseado no inquérito das fake news, aberto de ofício pelo STF, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, para investigar ataques a ministros da corte suprema.

Operação Lava Jato, 6 anos

Em parecer enviado na segunda-feira (22) ao Supremo, assinado pelo sub-procurador- geral da República José Adonis Callou de Araújo Sá, o Ministério Público Federal rebateu a argumentação do presidente do STJ e pediu o trancamento do inquérito sob a justificativa de que ele subverte o sistema acusatório.

De acordo com a Procuradoria, a apuração das possíveis infrações penais deve ocorrer na forma prevista na Constituição e demais leis —ou seja, por “procedimento investigatório conduzido pelos órgãos de persecução penal com atribuição para tanto e sob a supervisão de órgão do Poder Judiciário competente, nos moldes clássicos do sistema acusatório em vigor no país”.

"Após a Constituição de 1988, a única exceção à regra geral da inadmissibilidade de uso de prova ilícita no processo penal de que se tem notícia incide quando tal utilização puder demonstrar a inocência do réu ou mesmo for apta a beneficiá-lo no processo”, afirmou José Adonis.

O subprocurador-geral sustentou que, ao contrário do que argumentou Martins, não se pode equiparar o inquérito das fake news, do Supremo, ao caso do STJ.

Isso porque o Regimento Interno da Suprema Corte que possibilitou a abertura de ofício da investigação das fake news tem status de lei ordinária, o que não ocorre com o dispositivo interno usado pelo STJ.

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Em outra suposta ilegalidade apontada pelos procuradores, Martins defendeu o uso das mensagens vazadas de integrantes da Lava Jato, ainda que obtidas de forma ilegal, como meio de garantir à corte proteção contra excessos e crimes.

Apesar de a Constituição Federal e outras leis desautorizarem o aproveitamento do material em processos judiciais, Martins defendeu a relativização no caso concreto: “Garantias constitucionais não podem ser interpretados de forma absoluta”.

Martins argumenta que o Supremo não as considerou ilegais. "Não obstante as alegações de que tais provas são ilícitas e de que houve rechaço à autenticidade da prova recolhida na Operação Spoofing”, afirmou o presidente do STJ, “na verdade, não há tal reconhecimento por parte do Supremo Tribunal Federal.”

Embora seja tema de recentes decisões, mencionadas à exaustão por ministros que participaram do julgamento da suspeição do ex-titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, o Supremo não avaliou a legalidade do uso dessas mensagens como prova.

Na terça-feira (23), o STF divulgou que Rosa Weber, em um dos recursos contra o inquérito de Martins, negou, em caráter ainda provisório, pedido da ANPR para suspender a investigação.

A ANPR pedia, além da suspensão do inquérito, a concessão de salvo conduto a procuradores, para que sejam dispensados de depor e resguardados de quaisquer medidas cautelares relacionadas à investigação.

Os diálogos dos procuradores vazados no ataque hacker foram apreendidas pela Polícia Federal na Operação Spoofing, que investigou os responsáveis pela invasão das mensagens de autoridades dos Três Poderes. O material foi anexado à ação penal do caso que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal.

Por determinação do ministro Ricardo Lewandowski, a defesa do ex-presidente Lula teve acesso ao material, explorado pelo petista para acusar a Lava Jato e Moro de parcialidade. No início do mês, Lewandowski também autorizou o compartilhamento com o STJ das conversas hackeadas.

No julgamento da suspeição de Moro, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, defendeu que a Justiça encare o quanto antes a discussão sobre a legalidade do uso do conteúdo da Vaza Jato, como ficou conhecido o caso, em processos judiciais.

Fachin disse que o teor dos diálogos é grave e que as mensagens deveriam dar origem a uma investigação própria, serem submetidas a perícia, além de serem confrontadas com os autos dos inquéritos e ações penais da Lava Jato.

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JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 29.03.2021 – PÁG. A6

'Não me arrependo de nada', diz Sergio Moro sobre Lava Jato

Ex-juiz foi considerado parcial pelo STF em caso de Lula; ele diz que operação pode ter erro 'aqui ou ali', mas não intencional

Catia Seabra Rio de Janeiro

O ex-juiz Sergio Moro afirmou neste domingo (28) não ter arrependimentos por seu trabalho no âmbito da Lava Jato, apesar da decisão recente do STF (Supremo Tribunal Federal) que considerou sua atuação parcial em caso do ex-presidente Lula.

“Não me arrependo de nada. Pelo contrário. Tenho muito orgulho do que foi feito na Operação Lava Jato”, afirmou.

O ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro até admitiu a possibilidade de erros na Lava Jato, mas não propositais. “Pode ter tido algum erro aqui ou ali. Mas algum abuso, algo intencional? Nada.”

O ex-juiz Sergio Moro, durante live - Reprodução

Ao participar de live promovida pelo grupo Parlatório, com a presença de empresários e políticos, Moro disse ser necessário desmistificar a narrativa de criminalização, de que haveria um conluio de um juiz malvado com procuradores ambiciosos com intuito de prejudicar políticos.

"Quando se fala em criminalização da política pela Lava Jato, isso é uma grande bobagem. O que havia são pessoas que receberam ou que pagaram suborno", afirmou.

Depois do que chamou de desabafo, Moro encerrou: “Dá para tocar [Edith] Piaf [cantora francesa] ao fundo. Non, je ne regrette Rien. Não me arrependo de nada. Foi um trabalho importante, reconhecido pela população brasileira”.

Essa é a primeira vez que Moro se manifesta presencialmente sobre a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal pela parcialidade do ex-juiz na condução do caso do triplex de Guarujá (SP), que havia levado à condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

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Na última quarta (24), o ex-juiz divulgou uma nota sobre a decisão do STF, ocorrida na véspera, e disse que tinha “absoluta tranquilidade” sobre as decisões.

Neste domingo, embora não tenho citado especificamente a decisão do STF sobre sua conduta, Moro chamou de "muito ruim" a decisão que retirou de Curitiba a competência para julgar Lula.

"Sempre tratei o STF com o máximo respeito, mas a decisão de revisão da jurisprudência das execuções da primeira instância foi uma decisão errada, uma decisão infeliz."

Moro se referia à decisão do ministro Edson Fachin que, no início deste mês, determinou a anulação de todas as condenações proferidas contra o ex-presidente Lula pela 13ª Vara Federal da Justiça Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato.

Lula, 75, tinha sido condenado em duas ações penais, por corrupção e lavagem de dinheiro, nos casos do tríplex de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP).

Em decisão que será julgada pelo plenário do Supremo em 14 de abril, Fachin argumentou que os delitos imputados ao ex-presidente não correspondem a atos que envolveram diretamente a Petrobras e, por isso, a Justiça Federal de Curitiba não deveria ser a responsável pelo caso. Ele determinou que os casos sejam reiniciados pela Justiça Federal do Distrito Federal.

Assim, as condenações que retiravam os direitos políticos de Lula não têm mais efeito e ele pode se candidatar nas próximas eleições, em 2022. Lula estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa, já que ambas as condenações pela Lava Jato haviam sido confirmadas em segunda instância.

Na live deste domingo, Moro se defendeu da acusação de parcialidade: “Quando se fala em abusos e excessos, temos que ir aos fatos”, disse. O ex-juiz afirmou que 20% dos acusados pela Lava Jato foram absolvidos e perguntou. “Cadê o conluio?”

Ao falar do combate à corrupção no Brasil, Moro afirmou que, nos últimos anos, “houve retrocessos em relação a leis, jurisprudências e processos simbólicos”.

Segundo Moro, a Lava Jato mostrou que não estamos fadados ao fracasso no combate à corrupção. Ele afirmou ainda que a luta contra corrupção é resultado de avanços, inclusive do próprio STF no julgamento do mensalão. Mas "tem sofrido agora esse retrocesso".

"Temos que nos perguntar hoje onde estão os bons exemplos. O que foi feito em matéria de combate à corrupção como bons exemplos, considerando os últimos acontecimentos? Que tipo de mensagem estamos passando para dentro e fora do país?"

A decisão da Segunda Turma do STF foi tomada por 3 votos a 2, após mudança de posicionamento da ministra Cármen Lúcia.

A turma julgou procedente o habeas corpus em que a defesa do petista pedia a declaração da suspeição de Moro e decidiu anular a ação do tríplex —ficam nulos todos os atos do ex-juiz. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 17 de 29

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Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski foram os outros dois ministros do colegiado a votar contra Moro. Os votos derrotados foram os de Kassio Nunes Marques e Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.

Embora os ministros tenham frisado em seus votos que a decisão vale para o caso tríplex, há um temor entre defensores da Lava Jato de que ela abra caminho para anulação de outros processos da força-tarefa. Advogados de outros investigados já se preparam para apresentar pedidos similares ao de Lula.

A transmissão da live contou com a participação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, e do ex- ministro da Saúde , além de empresários. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB) fizeram a abertura do encontro virtual. Ambos minimizaram a ameaça de retrocesso no combate à corrupção no Brasil.

Com cerca de 225 participantes do grupo, Moro admitiu que muitos consideraram errada sua decisão de deixar a toga para ocupar o Ministério da Justiça, mas disse ter visto no convite de Bolsonaro uma oportunidade de construir políticas públicas para combate à corrupção. "Quando vi que não tinha chance de acontecer dentro do governo que eu ocupava, saí."

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 29.03.2021 – PÁG. ON-LINE

Queiroga cria secretaria

Recém-chegado ao comando do Ministério da Saúde, o médico Marcelo Queiroga tem trabalhado durante o fim de semana na organização da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Pandemia. Essa equipe irá concentrar as ações sobre o combate à crise de covid-19 dentro do ministério. “É uma ação prioritária. Durante a pandemia, teremos um núcleo dedicado.”

Queiroga disse, ainda, não ter definido o nome para o comando dessa secretaria. O núcleo irá atuar como uma ação complementar ao trabalho do comitê criado pelo presidente Jair Bolsonaro com demais poderes da República para o enfrentamento à crise, grupo que deve ter sua primeira reunião oficial hoje. “No momento, a prioridade é o combate à pandemia”, disse o ministro. Quando do anúncio do novo departamento, Queiroga destacou que a área vai funcionar 24 horas por dia. “A sociedade requer que o ministério fique de prontidão”, destacou.

Nesta segunda, Queiroga também participa de audiência pública, às 16h, no Congresso, na comissão temporária criada para acompanhar as ações contra a covid-19. Os parlamentares querem debater o Plano Nacional de Imunização e o cumprimento dos prazos já estabelecidos, entre outras medidas, e devem fazer uma série de questionamentos ao ministro. “O complexo é enfrentar a pandemia, e o Congresso Nacional tem sido importante”, disse Queiroga sobre o evento.

Durante o fim de semana, o médico aproveitou também para pôr em prática uma determinação de Bolsonaro sobre aumentar a interlocução do Ministério da Saúde com as demais pastas do governo. No sábado ele se reuniu, por videoconferência, com , momentos antes do ministro da Economia ser vacinado, e definiu a conversa como “ótima”. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 18 de 29

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Defesa da máscara

Empossado há cinco dias, Queiroga tem feito a defesa do uso de máscaras de proteção e tem pedido que pessoas evitem aglomerações, um sinal de mudança de postura do governo, enquanto o Brasil passa a bater recordes diários com mais de 3 mil pessoas mortas a cada 24 horas pela covid-19.

“As máscaras ajudam a bloquear a circulação do vírus. Se todos usassem máscaras, o efeito seria semelhante ao de vacinar a população do nosso país”, disse. Na sexta-feira, durante anúncio do desenvolvimento de uma vacina brasileira contra covid-19, ao lado do ministro da Ciência e Tecnologia, , Queiroga tentou cunhar um slogan: a pátria de máscara. O ministro da Saúde determinou o uso de máscaras nas dependências da pasta. E disse ter “estranhado” flagrar servidores sem o equipamento no órgão.

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 29.03.2021 – PÁG. ON-LINE

Mais servidores no home office

Os servidores que usam transporte público poderão trabalhar de casa (Marcos Oliveira/Agência Senado - 31/8/20 )

Os servidores que usam transporte público poderão trabalhar de casa

O Ministério da Economia atualizou as regras do trabalho presencial dos servidores públicos federais por conta da pressão para que o funcionalismo seja mantido em home office, neste momento de agravamento da pandemia da covid-19. Com isso, os que usam transporte público entram na lista preferencial do trabalho remoto, e apenas os órgãos públicos de alto “poder decisório” poderão operar com mais de 30% de ocupação.

As novas regras do trabalho presencial do serviço público constam na Instrução Normativa nº 37, editada pela Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia, na semana passada, pouco depois de a Justiça Federal determinar a redução do número de servidores que estão trabalhando presencialmente no Distrito Federal. Apesar de não comentar a decisão judicial, o Ministério da Economia reconheceu, em nota, que a medida foi publicada “em razão do atual estágio de contágio do coronavírus”.

De acordo com a IN 37, apenas os órgãos públicos dos locais em que foram instituídas restrições de circulação ou antecipação de pontos facultativos e feriados podem manter 100% dos servidores em home DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 19 de 29

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Iris Helena office. Porém determina que, nas demais localidades, “a presença de servidores e empregados públicos em cada ambiente de trabalho não deverá ultrapassar 30% do limite máximo de sua capacidade física, mantendo-se o distanciamento mínimo de um metro entre os agentes públicos”.

Até então, o limite de ocupação das repartições públicas era de 50%. Com a nova resolução, contudo, a ocupação de 50% só será permitida em “gabinetes que concentram poder decisório de alto impacto administrativo”, como os “gabinetes de secretarias, secretarias-executivas e de ministros de estado ou autoridades equivalentes”.

Além de limitar a quantidade de servidores no trabalho presencial, a IN 37 amplia a lista dos funcionários públicos que terão prioridade na escolha do home office. A ideia é que, além dos servidores que são do grupo de risco à covid-19, moram com pessoas do grupo de risco ou têm filhos estudando de casa, tenham preferência ao home office os que usam o transporte público para chegar ao trabalho. Afinal, a chance de contágio é grande nos ônibus, segundo especialistas.

Servidores procurados pelo Correio contaram, no entanto, que as novas regras ainda não foram repassadas ao funcionalismo do DF. Secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Silva contou que a maior parte das repartições públicas está operando com até 50% do pessoal e que, mesmo assim, os servidores temem o contágio no trabalho.

Presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques reforçou que muitas repartições não foram adaptadas às regras de distanciamento social e limpeza necessárias em uma situação de pandemia. “Os órgãos não estão preparados para receber o pessoal, pois não têm ventilação, espaço para o distanciamento e, às vezes, nem insumos de proteção, como álcool”, frisou Marques.

Segundo o Ministério da Economia, apenas quatro órgãos do Poder Executivo Federal implantaram efetivamente o sistema de teletrabalho permanente, lançado no ano passado com o objetivo de regulamentar e fixar as metas dos servidores que preferem trabalhar remotamente. Aderiram ao programa o próprio Ministério da Economia, o Ministério do Desenvolvimento Regional, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Controladoria-Geral da União (CGU). Outros 27 órgãos, no entanto, estão em processo de adesão. (MB)

Dado defasado Segundo o Ministério da Economia, 126.259 servidores públicos estavam em trabalho remoto em janeiro deste ano. O dado ainda não foi atualizado. O número, no entanto, é bem menor do que os 356.560 alcançados em julho do ano passado e representa cerca de 21% dos quase 600 mil servidores públicos federais.

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JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 29.03.2021 – PÁG. ON-LINE

O Brasil em face ao mundo em transe

Flavio Goldberg/Advogado e mestre em direito

A pandemia significa para todos os países, sem exceção, novas regras de direito internacional público e privado, que começam com a situação da ONU, a OMS e o fato de que o vírus da covid-19 não conhece fronteiras.

As pesquisas científicas, os laboratórios, a indústria farmacêutica, a medicina, cruzam e rompem antigos parâmetros, exigindo do Brasil flexibilidade e ousadia para, inclusive, enfrentar à onda de descrédito que a mortalidade provocada em nosso território se criou quanto a urgência de reagir com rigor o desafio representado por desastre de ordem planetária.

Por cima das divergências ideológicas, políticas, construir um cenário em que vacinas, conquistas científicas, colaborações, possam cimentar um tecido de esperança, irrigado pelas nossas origens afro-indígenas, de imigração, de esforços que não podem e não devem se isolar empobrecendo os horizontes. Vamos alinhavar alguns fatos que merecem destaque para uma reflexão histórica e geográfica, sem preocupação histórica, ou seja, atemporal e extraterritorial.

Uma lembrança do desempenho do ministro Oswaldo Aranha que, presidindo a Assembleia Geral da ONU, inscreveu nosso país no rearranjo do Oriente Médio.

A breve presidência de Jânio Quadros que marcou nossa negritude para a África.

Movimentos traumáticos que nos atingiram em razão da Guerra Fria.

As questões polêmicas, e incendiarias da Amazônia, do meio ambiente.

A visita de caráter humanitário do presidente Michel Temer ao Líbano, que se seguiu à sua palestra em Oxford na Inglaterra, imprimindo um espírito pacifista, que por sinal, aqui reverbera na atual posição da senadora Katia Abreu, primeira mulher a presidir a importante comissão de Relações Exteriores do Senado Federal e da psicóloga Maria Paula, atual Embaixadora da Paz escarna a atual conjuntura de que a mulher e grupos minoritários se transformam em atores que emergem de maneira vitalícia a linguagem da espécie de esperanto capaz de dialogar com a demanda que vem vindo em suas diversidades desde cenas televisivas, agronegócio, política externa, que pelos corredores do intercâmbio com a “nuvem” e o psicodrama impressionam a imagem que precisa ser apresentada ao mundo qual seja uma das mais potentes economias do mundo, povo miscigenado, recursos naturais e potenciais extraordinários, tudo convidando uma política exterior soberana mas suficientemente madura para entender a importância de somar esta plataforma interna de conflitos, pobreza, mas também um espírito do tempo dinâmico, democrático e progressista. É preciso correr contra o tempo e ocupar um papel de que nossa grandeza necessita.

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Judiciário quebra sigilo de processos arbitrais

Medida foi adotada em dois casos analisados pelo TJ-SP

Por Ana Paula Ragazzi

Daniel Kalansky: “Está assegurado na Lei de Arbitragem que o sigilo pode existir se as partes tiverem acordado” — Foto: Divulgação

O Judiciário tem quebrado o sigilo de processos arbitrais. Em duas recentes decisões, desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) retiraram o segredo judicial de ações contra sentenças proferidas por árbitros. O sigilo é considerado um dos principais atrativos da arbitragem.

Um dos casos envolveu divergência nas condições de saída da Escotilha Participações de uma sociedade que mantinha com a Ekanprel em uma empresa chamada GLS Brasil Serviços Marítimos. A Escotilha entrou com pedido de liminar para suspender os efeitos da decisão arbitral, alegando violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa.

Em decisão do dia 2 de março, o desembargador Cesar Ciampolini começa sua análise indeferindo o segredo de justiça para o processo. A justificativa do relator do caso na 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial foi a “ inconstitucionalidade” do artigo 189, IV, do Código de Processo Civil (CPC).

Esse artigo diz que os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos “que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo”.

Ciampolini afirma na decisão que, de acordo com os artigos 5º, LX, e 93, IX, da Constituição, “a regra é a publicidade, que apenas pode ser restringida para salvaguardar a intimidade ou o interesse social”. Para ele, a confidencialidade em arbitragens é nociva ao sistema jurídico, por provocar assimetria de informações e obstar a formação do direito (consolidação dos precedentes e da jurisprudência).

Sobre o caso em si, Ciampolini destaca, em seu voto, que as hipóteses de nulidade da sentença arbitral estão no artigo 32 da Lei nº 9.307, de 1996. Ele entendeu, porém, que, no caso concreto, nenhuma delas estava presente. “Em realidade, o que buscam os autores é a revisão do que foi decidido pelo tribunal arbitral por não concordarem com as conclusões dos árbitros”, diz (processo nº 2263639-76.2020.8.26.0000).

Daniel Kalansky, sócio do Loria e Kalansky Advogados, não considera “correta” a decisão. “Um dos benefícios da arbitragem é a sua confidencialidade. A meu ver a interpretação de que isso é inconstitucional está equivocada. Está assegurado na Lei de Arbitragem que o sigilo pode existir se as partes tiverem acordado”, afirma ele, acrescentando que a própria Lei da Liberdade Econômica “privilegia a autonomia das partes”. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 22 de 29

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Um segundo caso, também analisado em março pela 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, aqueceu ainda mais o debate porque, além de derrubarem o sigilo, os desembargadores interferiram no mérito da decisão arbitral. O processo envolve uma operação de aquisição da Alka Tecnologia, da Vyttra Diagnóstico, pela LRM, empresa de serviços de manutenção em equipamentos e máquinas de laboratórios.

O caso foi parar na arbitragem por conta de um suposta violação contratual: a vendedora omitiu da compradora a saída de um cliente relevante. A arbitragem definiu indenização ao comprador de 25% do valor da venda.

Relator do caso, o desembargador Azuma Nishi entendeu que parte da sentença que estabelece a indenização deveria ser anulada, por falta de fundamentação para a determinação do percentual de 25% - a ausência de fundamentação é uma das hipóteses que, por lei, permitem a anulação de decisões arbitrais. Depois da anulação, ele retirou o segredo de Justiça do processo.

Um especialista no tema, que prefere não se identificar, diz que há certo incômodo do Judiciário com o número crescente de arbitragens e processos mal conduzidos, que estão se refletindo num suposto aumento de pedidos de anulação. “Acho que o Judiciário sinaliza que está com um pé atrás com a arbitragem. O primeiro sintoma já vem de alguns anos, pois nas cautelares vinha sendo retirado o sigilo. Agora isso está acontecendo também nas anulatórias. E caiu a confidencialidade não só da decisão, mas da íntegra do processo”, diz o especialista.

Para ele, como as arbitragens cresceram muito, de fato, a qualidade das decisões vem caindo, possivelmente porque os árbitros estão acumulando número maior de processos. Isso se reflete em decisões “ruins” ou com “erros”, avalia. Situações em que o árbitro é questionado por estar sem situação de conflito também têm se repetido.

Exatamente pelo sigilo arbitral, é difícil colocar em números as percepções dos especialistas, mas já há vários exemplos de processos que não correram bem. Na quinta-feira, a Câmara de Arbitragem do Mercado, da B3, dissolveu o tribunal arbitral que havia decidido que a Petrobras deveria ressarcir os fundos de pensão pela desvalorização de suas ações com a Lava-Jato. No fim do ano passado, por conta de irregularidades na produção de provas, a 5ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro havia anulado essa sentença arbitral.

Também na semana passada, a J&F conseguiu liminar suspendendo efeitos de arbitragem contra a Paper Excellence na disputa pelo controle da Eldorado. A argumentação da J&F incluiu desde espionagem até conflito de interesses de um dos árbitros.

Em agosto do ano passado, o desembargador Ciampolini já havia decidido a favor da anulação de uma sentença por suspeição de árbitro - o conflito era entre duas seguradoras, a Alper e a Brasil Insurance. No caso da Vyttra também houve questionamento sobre a imparcialidade dos árbitros, que não foi acatado pela Justiça.

Daniel Kalansky diz estar acompanhando com alguma preocupação o aparentemente crescente número de pedidos de anulação de sentenças arbitrais. Por outro lado, destaca que esse tipo de procedimento é uma salvaguarda para casos em que se discute algum vício na sentença. “É preciso só o cuidado para que decisões DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 23 de 29

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Iris Helena que retirem sigilo ou interfiram no mérito não prejudiquem o funcionamento do sistema arbitral, que é muito eficiente e considerado vantajoso pelas partes.”

Rômulo Mariani, sócio do Baraldi & Mariani Advogados, considera positivo que se possa acompanhar as discussões, por facilitar o acesso à jurisprudência, embora reconheça que para os clientes pode ser ruim. “Um dos atrativos da arbitragem é o sigilo”, diz. Ele acrescenta que é pequena a quantidade de sentenças anuladas. “Anular uma sentença arbitral não significa ser contra arbitragem. A anulação de maneira técnica e correta é uma forma de fortalecer a arbitragem.”

Para Guilherme Setoguti, sócio do Monteiro de Castro, Setoguti Advogados, parece estar havendo um exagero de ações anulatórias sem mérito. “Mas sentenças arbitrais defeituosas devem, sim, ser anuladas, inclusive para que se preserve o instituto da arbitragem”, afirma.

Com relação ao sigilo, ele destaca que há uma demanda mundial por mais transparência nesses processos. “Sem dúvida, pelo menos das arbitragens que envolvem operações societárias, o sigilo deveria ser bem relativizado.”

Kalansky também faz a ressalva de que, quando a arbitragem envolve companhias abertas e o caso tem impacto para todos os acionistas, a situação é outra. “Num caso assim, não necessariamente se retira o sigilo, mas algum nível de informação precisa ser divulgada, para que todos os acionistas tenham ciência de potenciais impactos da discussão”, diz. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está com uma audiência pública sobre esse assunto.

Fundação tenta recuperar prejuízos da Petrobras com Lava-Jato

Pedido de reparação da companhia à União é avaliado em R$ 40 bilhões

Por Juliana Schincariol

A Fundação Mudes, acionista minoritária da Petrobras, iniciou há quatro anos uma arbitragem em favor da petroleira, que ainda está longe do desfecho. O pedido, avaliado em R$ 40 bilhões, é para que a União repare a companhia por prejuízos gerados com os problemas de corrupção que vieram à tona com a Operação Lava- Jato.

Mesmo antes das discussões começarem na Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM), da B3, o caso foi parar na Justiça. A União não reconheceu que estaria submetida à chamada cláusula compromissória prevista no estatuto da Petrobras - que estabelece o uso de arbitragem em caso de litígios.

A decisão mais recente, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de meados de fevereiro, defendeu a competência e jurisdição do tribunal arbitral para processar e julgar a demanda, segundo Fabiano Robalinho, sócio do Sergio Bermudes Advogados, que representa a fundação. A decisão é liminar.

Sozinha, a Fundação Mudes, uma entidade sem fins lucrativos criada há 55 anos para a inserção de jovens no mercado de trabalho, não teria condições de bancar os custos do procedimento. Para ser instaurado, cada uma das partes teve que depositar uma caução de R$ 16 milhões, equivalente a quase o valor do patrimônio DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 24 de 29

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Iris Helena da entidade, avaliado em R$ 20 milhões. O montante acabou bancado pela Leste Litigation Finance - especializada em financiamento de disputas judiciais ou arbitrais.

A fundação recorreu à arbitragem depois de fechar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Rio, que abriu processo administrativo para analisar esses investimentos. Como resultado do TAC, a entidade se comprometeu a vender as ações da Petrobras que adquiriu no governo Lula, desde que se recuperassem das perdas, segundo o presidente da Mudes, Cleto de Assis. Foram compradas 130 mil ações, com valor acima de R$ 40. Na sexta-feira, a ação preferencial da estatal fechou a R$ 23,46.

Sem ver a possibilidade de reaver o prejuízo a curto prazo, a Mudes procurou orientação jurídica. “Na prática, não poderíamos nem protocolar a arbitragem. Para o tamanho da fundação, geraria desgaste”, afirma Assis.

O processo da Mudes é baseado no artigo 246 da Lei das Sociedades Anônimas. O dispositivo determina que o controlador será obrigado a reparar os danos que causar à companhia por atos praticados, incluindo situações de abuso de poder. Nessa arbitragem, em caso de decisão favorável à Petrobras, a Mudes teria direito a cerca de R$ 2 bilhões.

“A União, como acionista controladora da Petrobras, indicou diretores para a companhia que não eram aptos para exercer a função. O controlador não pode agir contra os interesses da empresa”, diz Robalinho.

Para outro advogado, que não participa do procedimento, o caso é complexo. “É um caso difícil. É complicado provar o abuso de controle e o benefício da União no esquema de corrupção e superfaturamento.”

O Valor apurou que a Leste entendeu que, por seu ineditismo e por envolver a União, o processo será longo, podendo durar 15 anos. Mas, por outro lado, é grande o suficiente para obter retorno, considerando os aportes que fez, de 30% ao ano com o caso - patamar que pode se manter se o caso levar até 13 anos. Procurada, a empresa informou que não comenta casos específicos.

A tentativa da União é buscar declaração na Justiça de que não estaria vinculada à cláusula arbitral estatutária da Petrobras. “A própria União fez incluir uma cláusula compromissória de arbitragem no estatuto social da Petrobras. Como controladora, ela votou a favor na assembleia e só por causa do voto dela a cláusula foi incluída”, diz Robalinho.

Ainda em 2017, a União obteve liminar favorável na 22ª Vara Federal de São Paulo, que foi revertida no Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região. Ao mesmo tempo, o próprio tribunal arbitral entendeu que caberia seguir com o procedimento.

Como houve o chamado “conflito de competência”, a própria Mudes protocolou no STJ petições defendendo a competência e jurisdição do tribunal arbitral para processar e julgar a demanda iniciada contra União. Em sua decisão, a ministra Nancy Andrighi designou ao juízo arbitral resolver, em caráter provisório, “eventuais medidas urgentes”. E intimou que a União se manifeste acerca das alegações deduzidas no conflito de competência. DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 25 de 29

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Protesto de bens

A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo reformou decisão de primeiro grau que havia autorizado protesto contra alienação de bens de Marcelo Odebrecht, sua esposa e filhas. O pedido de protesto foi formulado pela Odebrecht sob o argumento de que seria medida preventiva para preservação de ativos “indevidamente” transferidos aos apelantes e para preservar o direito da companhia de ser ressarcida por danos à sua imagem, o que seria objeto de ações a serem ainda propostas. O relator da apelação, desembargador Cesar Ciampolini, afirmou no julgamento que uma delação premiada é celebrada quando, além de confessar seu crime, o acusado incrimina outros criminosos. Para o relator, a partir daí é improvável que a Odebrecht venha a ser declarada credora de Marcelo de indenização por danos à sua imagem, por tê-la associado a atos de corrupção. Ciampolini também ressaltou que foi a empresa que coordenou a celebração de acordos de colaboração premiada por 78 de seus diretores e empregados. Nos autos da recuperação judicial, listou crédito de Marcelo sem quaisquer questionamentos. A empresa foi condenada por litigância de má-fé e deve pagar R$ 100 mil. A decisão foi unânime (apelação nº 012161- 24.2020.8.26.0002).

Dress code

A Subseção I Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou a Valdac, empresa responsável pelas marcas Siberian e Crawford, a fornecer as vestimentas exigidas para o trabalho aos empregados e, também, ao ressarcimento de despesas, caso eles as tenham adquirido. O colegiado entendeu que havia um código de padronização de vestimentas (dress code) na empresa, o que se equipara ao uso de uniforme. O Ministério Público do Trabalho (MPT), em ação civil pública, sustentou que os empregados que não seguissem o padrão de vestimentas eram advertidos pelo gerente. A empresa, em sua defesa, argumentou que os empregados da Siberian recebiam dois jogos de uniforme, trocados a cada seis meses, e que apenas sugeria a utilização de roupas sociais. As primeira e segunda instâncias rejeitaram a pretensão do MPT. No TST, o ministro Hugo Scheuermann explicou que é poder do empregador definir o padrão de vestimenta, contudo, se exige a utilização de vestuário específico, as roupas devem ser fornecidas gratuitamente. Por maioria, a SDI-1 determinou o retorno do processo à Vara do Trabalho para que prossiga no exame da ação civil pública (E-RR-813-50. 2013.5.09.0663).

Operação Lava-Jato

O Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região (Sul) negou um habeas corpus (HC) em que o executivo da empreiteira Engevix Engenharia Carlos Eduardo Strauch Albero pleiteava a extinção da ação penal n° 5028838- 35.2018.4.04.7000, em que é réu no âmbito da Operação Lava-Jato. A decisão foi proferida de forma unânime pelos desembargadores federais que integram a 8ª Turma da Corte em sessão telepresencial de julgamento. Com a negativa do HC, o processo vai seguir tramitando contra Albero na primeira instância da Justiça Federal em Curitiba. Nessa ação, Albero foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelo DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 26 de 29

RESPONSÁVEL

Iris Helena delito de formação de cartel por ter supostamente representado a Engevix em acordos realizados entre diversas empreiteiras que resultaram na fraude de dez contratos de licitações da Petrobras. A decisão do TRF foi unânime (processo nº 5004737-74.20 21.4.04.0000).

STF derruba cobrança de ICMS sobre extração de petróleo

Somando as operações da Shell, BG Group, Petrogal, Chevron e Petrobras, impacto de decisão contrária passaria do bilhão de reais

Por Bárbara Pombo

Dias Toffoli: ICMS só pode ser exigido quando há transferência de titularidade e efetiva circulação da mercadoria — Foto: Divulgação

O Supremo Tribunal Federal (STF) barrou a tentativa isolada do Estado do Rio de Janeiro de exigir ICMS sobre a extração de petróleo. Os ministros derrubaram duas leis estaduais, uma editada em 2003, que sequer surtiu efeitos, e outra publicada em 2015, que previa a exigência de 18% do imposto estadual sobre o preço do barril do petróleo.

A decisão, tomada na sexta-feira, no Plenário Virtual, passa a valer a partir da publicação da ata de julgamento, o que deve ocorrer ainda em março. Isso significa que o Estado fluminense não precisa devolver o imposto arrecadado desde março de 2016, quando a Lei nº 7.183/2015 passou a valer. O ministro Dias Toffoli, relator da ADI 5481, porém, resguardou os contribuintes que já entraram com ação judicial contra a cobrança.

De acordo com advogados, todas as empresas que exploram petróleo no Rio de Janeiro impugnaram a exigência no Judiciário. Liminares foram concedidas e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) foi favorável aos contribuintes. “A vitória é total porque nenhuma empresa recolheu os valores”, diz Donovan Mazza Lessa, sócio do escritório Maneira Advogados.

Apenas para a Shell, BG Group, Petrogal e Chevron a discussão teria um impacto de R$ 600 milhões, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Exploração e Produção de Petróleo e Gás (ABEP), que ajuizou a ADI 5481. De acordo com informações prestadas no processo, se fossem incluídas as operações da Petrobras - responsável por 90% da produção de petróleo no Rio - a cifra passaria do bilhão de reais.

O ministro Dias Toffoli, relator da ação, justificou a proposta de modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade das leis pela situação crítica nas finanças do Estado do Rio de Janeiro. Uma das justificativas para a edição das normas foi “acudir à preservação da economia e das finanças fluminenses”, de acordo com a Assembleia Legislativa do Rio.

“Ponderando os interesses em conflito e prestigiando a segurança jurídica bem como o interesse social, julgo que a ausência de modulação dos efeitos da decisão resultará em mais efeitos negativos nas já combalidas DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 27 de 29

RESPONSÁVEL

Iris Helena economia e finanças do Estado do Rio de Janeiro, os quais devem, a meu ver, ser evitados”, afirma Toffoli em seu voto. A modulação foi garantida por maioria de votos.

Muito embora o STF tenha legitimidade para avaliar aspectos econômicos e de interesse público para ajustar os efeitos de suas decisões, advogados avaliam negativamente modulações como a feita no caso. “O Supremo acaba premiando legislações inconstitucionais, além de desconsiderar a isonomia porque a crise atinge os Estados e os contribuintes”, afirma o advogado Tiago Conde, sócio do Sacha Calmon Misabel Derzi Consultores e Advogados, escritório que também atuou no caso.

Ao analisar o litígio, o ministro Dias Toffoli reiterou que o ICMS só pode ser exigido quando há transferência de titularidade e efetiva circulação da mercadoria, o que não ocorre entre a extração do petróleo do subsolo e o envio do óleo para as plataformas. Além disso, citou o artigo 26 da Lei do Petróleo (nº 9.478/1997) para ressaltar que quando a União concede as jazidas para exploração por particulares existe uma aquisição originária do petróleo, e não uma espécie de compra e venda.

“Como o primeiro senhor do petróleo extraído é o próprio concessionário ou contratado, nos termos das Leis nº 9.478/97 e 12.351/10, o óleo (petróleo extraído) não muda de titular ao ser incorporado ao patrimônio desse. Se não há transferência de titularidade do petróleo extraído, não há que se falar em circulação de mercadoria, outro pressuposto necessário para a incidência válida do imposto”, afirma.

Mesmo que se admitisse a existência de uma negociação na transferência da propriedade do petróleo da União para os particulares, o contribuinte na operação seria a União. Dessa forma, Toffoli defendeu que o ICMS não poderia ser exigido da mesma forma, por causa da regra da imunidade tributária recíproca. A Constituição veda, no artigo 150, inciso IV, que a União e os entes federados exijam tributos uns dos outros.

Tributaristas ainda levantam um argumento formal, de que a Lei Kandir (Lei Complementar nº 87/1996) não prevê a extração de petróleo como fato gerador do ICMS. Logo, uma lei estadual não poderia inovar nesse sentido. “Há sinalização do STF nesse sentido e esse argumento vale para qualquer discussão sobre ICMS”, afirma Leonardo Martins, sócio do Machado Meyer Advogados.

Segundo advogados, a decisão do STF encerra uma disputa de quase vinte anos e que representa a tentativa do Rio de Janeiro de manter a tributação do ICMS no Estado produtor de petróleo, e não nos Estados consumidores, como determina a legislação atual.

Em nota, a Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro informou que considera o tema prioritário e segue mobilizada e com atuação firme perante o Supremo.

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RESPONSÁVEL

Iris Helena

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 29.03.2021 – PÁG.E2

Mediação, mediador, recuperação e administrador

O mediador não é e não pode agir como um negociador da empresa em crise, tampouco como um negociador ou mandatário dos credores

Por Mônica Costa e Liv Machado

Em 23 de janeiro, entrou em vigor a Lei nº 14.112, que trouxe significativas alterações na Lei de Recuperação de Empresas e Falência. Entre as novidades, destaca-se a previsão de uso do procedimento de mediação nas recuperações judiciais, de forma antecedente ou incidental, confirmando a escalada legislativa de prestígio aos meios autocompositivos de resolução de conflitos.

A mediação entre particulares, como procedimento para resolução de conflitos sobre direitos disponíveis ou indisponíveis que admitam transação, teve como marco legal a Lei nº 13.140, de 2015. Naquele mesmo ano, foi promulgado um novo Código de Processo Civil, que igualmente procurou incentivar métodos autocompositivos.

O mediador não é e não pode agir como um negociador da empresa em crise, tampouco como um mandatário dos credores

De lá para cá, é perceptível o estímulo à prática da mediação em conflitos empresariais. No contexto da pandemia de covid-19, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) lançou um projeto-piloto para mediação pré-processual de conflitos empresariais relacionados à pandemia. Também se tem notícia do uso da mediação em recuperações judiciais, para facilitar as discussões entre a recuperanda e seus credores em impugnações de crédito, como no caso da recuperação judicial da Oi, por exemplo.

A reforma da Lei de Recuperação de Empresas e Falência trouxe uma série de possibilidades para uso de mediação, notadamente para conflitos entre os sócios e acionistas de sociedade em dificuldade ou em recuperação judicial, conflitos envolvendo credores não sujeitos à recuperação judicial ou credores extraconcursais e negociação de dívidas e respectivas formas de pagamento entre a empresa em dificuldade e seus credores, em caráter antecedente ao ajuizamento de pedido de recuperação judicial.

Também se previu o uso de mediação em conflitos entre concessionárias ou permissionárias de serviços públicos em recuperação judicial e órgãos reguladores ou entes públicos municipais, distritais, estaduais ou federais.

Por outro lado, a lei vedou o uso de mediação sobre a natureza jurídica e a classificação de créditos, bem como sobre critérios de votação em Assembleia Geral de Credores (AGC), evitando-se a eventual manipulação do quórum de aprovação.

Qual seria o papel do mediador nesses conflitos de empresas em crise? Qual sua interação, se alguma, com o administrador judicial? DATA CLIPPING 29.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 29 de 29

RESPONSÁVEL

Iris Helena

O mediador de conflitos envolvendo empresas em crise deverá agir segundo os mesmos princípios, deveres e direitos previstos na Lei de Mediação. Igualmente estará sujeito aos mesmos impedimentos e quarentenas aplicáveis aos mediadores. Acima de tudo, deve ser imparcial, tratar as partes com isonomia e respeitar a autonomia da vontade das partes.

O mediador não é e não pode agir como um negociador da recuperanda ou empresa em crise. Tampouco como um negociador ou mandatário dos credores. Deve ser um facilitador das negociações entre devedor e credores, nas quais as partes devem comparecer devidamente representadas.

Além disso, há que ser escolhido ou aceito pelas partes. Em negociações envolvendo muitos atores, pode haver dificuldade em se chegar a uma escolha do mediador por consenso. Mas a definição pode ser mais fácil na perspectiva mais reativa, ou seja, de aceitar o profissional que seja indicado, por exemplo, pelo juiz ou pela instituição responsável pela mediação.

Cabe ao mediador explicar o procedimento, propor agenda de trabalhos, convidar as partes a discutir e avalizar as opções procedimentais, e realizar reuniões conjuntas ou privadas, segundo o acordado entre os envolvidos. Não cabe ao mediador redigir acordos, tampouco opinar sobre o conflito, salvo se assim for previamente acordado pelas partes mediandas.

A redação do artigo 20-D pode levar à interpretação de que mediações deveriam ser necessariamente realizadas no âmbito dos Cejusc ou de instituições privadas, mas não de forma ad hoc, o que não parece ser correto. Se todos estiverem de acordo, nada impede que a mediação seja feita por mediador, ou mediadores, fora do âmbito dos Cejusc ou de instituições privadas de mediação.

Já o administrador judicial tem por papel na recuperação judicial, essencialmente, a fiscalização das atividades do devedor, devendo apresentar relatórios mensais obrigatórios, reportar no processo o andamento das atividades, bem como a evolução financeira da empresa. Também é responsável por elaborar a lista de credores.

Ainda que a reforma da lei tenha atribuído ao administrador judicial funções adicionais atinentes à negociação entre credores e devedor, fato é que a designação de um mediador poderá, de um lado, potencializar as chances de acordos, já que a tarefa será desempenhada por profissional treinado e dedicado a essa função. De outro, liberará o administrador judicial para se concentrar em atividades que só a ele podem ser atribuídas, como exposto acima.

A mediação pode se tornar uma valiosa ferramenta para que credores e devedores atinjam de forma eficiente soluções aceitáveis e capazes de equacionar seus interesses, preservando a atividade da empresa em crise.