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RESPONSÁVEL Iris Helena

SUMÁRIO

A FOME SEVERINA – O Popular UNIDADE E COOPERAÇÃO – O Popular BOLSONARO É ALVO DE PANELAÇOS AO FALAR EM REDE NACIONAL NESTA TERÇA-FEIRA (23) – O Popular CÁRMEN LÚCIA MUDA VOTO, E SUPREMO DECLARA MORO PARCIAL EM CASO DE LULA – O Popular FRACASSO LATINO-AMERICANO – Folha de São Paulo PARADOXOS DA COVID-19– Folha de São Paulo SUPREMO RECONHECE MARCA DE MOTIVAÇÃO POLÍTICA NA LAVA JATO – Folha de São Paulo ROMPER COM O GOVERNO É O MÍNIMO PARA QUALQUER LIBERAL – Folha de São Paulo CASO TRÍPLEX MOSTROU PROXIMIDADE DE LULA COM EMPREITEIRA E DIFICULDADE DE PROVAR SUPOSTA CORRUPÇÃO – Folha de São Paulo SEM REMÉDIO DE INTUBAÇÃO – Correio Braziliense MARCELO QUEIROGA, ENFIM, TOMA POSSE NO MINISTÉRIO DA SAÚDE – Correio Braziliense EDUCAÇÃO NA CONSTITUINTE, UM LIVRO COM PRECISÃO FOTOGRÁFICA – Correio Braziliense CÂMARA SUPERIOR DO CARF AFASTA MULTA DE MORA EM COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA – Valor econômico CPFL SOFRE NOVA DERROTA EM DISPUTA COM A RECEITA – Valor econômico DESTAQUES – Valor econômico A PROTEÇÃO DE DADOS E O DIREITO TRIBUTÁRIO – Valor econômico

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JORNAL - O POPULAR – 24.03.2021 – PÁG. 3

A fome Severina

Tadeu Alencar Arrais

O poeta ensinou que A morte Severina é aquela que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte e de fome um pouco por dia. À poesia, publicada em 1955, somaram-se imagens denunciando que milhões de pessoas, no país que seria considerado celeiro mundial, tombavam de fome. Josué de Castro, antes do poeta, traçou um constrangedor mapa da fome com imagens perturbadoras que só encontrariam paralelo nas telas de Cândido Portinari.

A imagem de retirantes famintos, rompendo o isolamento rural, não incomodou as elites nacionais, afinal, a fome era entendida como um fenômeno natural. A urbanização, a partir da década de 1960, transformou o mapa da fome. À fome rural, somou-se, como síntese do subdesenvolvimento, a fome metropolizada e, a partir de então, a denúncia da desigualdade social converteu-se em crime.

A redemocratização exigiu o enfrentamento da fome, motivo pelo qual foram criados, a partir da Constituição de 1988, um conjunto de instrumentos políticos e de ações no campo da Seguridade Social. O SUS, a Previdência Social e a Assistência Social, associados aos programas de segurança alimentar e de transferência de renda, domaram o antigo mapa da fome.

O Programa Fome Zero, o Pnae, o Pronaf e o PAA integraram políticas de financiamento da agricultura familiar com as compras governamentais, garantindo, por exemplo, a alimentação de crianças e idosos. Não é por acaso que deixamos, em 2014, o vergonhoso mapa da fome. Naquele ano menos de 5% da população passou a ingerir uma quantidade de calorias menor que a recomendável pela FAO. O aumento da renda permitiu que o pobre ocupasse, com alimentos, os espaços vazios da mesa.

Mas a redução da renda, a erosão das políticas de segurança alimentar e a crise sanitária esvaziaram a mesa. Em 2018, em 14 Estados havia registro de mais de 5% dos domicílios em condição de insegurança alimentar grave. Atingimos, em 2020, o total de 40 milhões de pessoas em extrema pobreza e outros 8,5 milhões de pobres. A situação seria ainda pior não fossem as aposentadorias e pensões rurais e urbanas e o BPC que beneficiaram, em dezembro de 2020, 33,9 milhões de pessoas. O Bolsa Família beneficiou 13,7 milhões de famílias. Mas nem isso, em tempo de intenso desemprego e carestia, agravado pela crise sanitária, foi suficiente para evitar que retornássemos ao mapa da fome.

O novo mapa da fome sobrepõe camadas de emprego precário, desemprego e mendicância. Não tem escala numérica, já que a frieza do dado não é capaz de revelar a dor e a angústia de homens, mulheres, idosos, crianças e jovens que, simplesmente, não têm renda que permita duas refeições diárias. Um mapa de estômagos contraídos, de pernas trêmulas e de peles pálidas. Um mapa em que o sarcasmo institucional substituiu a cidadania.

O novo mapa da fome, como aquele de Josué de Castro, foi produzido pela indiferença política. É um mapa de retalhos de vidas e mortes Severinas. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 3 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Unidade e cooperação

Lissauer Vieira

Alcançamos, semana passada, a triste marca de 10 mil vidas perdidas em Goiás em face da pandemia de Covid-19. O número de novos casos de contaminação por esse terrível vírus e as taxas de ocupação de leitos seguem crescentes em nosso Estado e em todo o país. O cenário é preocupante e exige a colaboração da sociedade, e, especialmente, das lideranças que a representam.

As demandas em meio a esse difícil cenário chegam de toda parte. É compreensível a apreensão que as famílias vivem neste momento, tanto pela ameaça à saúde, quanto pelas repercussões na economia. O inimigo, porém, é um só: a Covid-19. Fazemos um apelo à consciência. É urgente deixar as questões de ordem política de lado ou qualquer outro interesse pessoal ou de grupo para que cada um possa dar sua parcela de contribuição no enfrentamento da pandemia.

Até que a vacina seja realidade para a maioria, não dá mais para ignorar a urgência de medidas voltadas para o isolamento a fim de conter o avanço do vírus. E para que seja viável a manutenção de ações consideradas mais duras por parte da sociedade, como fechamento provisório de atividades não essenciais, é também compreensível que a população, especialmente a mais vulnerável, espere uma colaboração do poder público para atravessar esse momento de grande dificuldade.

Nesse sentido, destacamos a importância do pacote de medidas que o governador Ronaldo Caiado anunciou para combater os efeitos da Covid-19 em Goiás, com foco no socorro às famílias em situação de vulnerabilidade social e nos micro e pequenos empreendedores que mais necessitam de suporte.

São mais de R$ 112 milhões liberados com taxa de juros zero para microempresas, microempreendedor individual (MEI) e trabalhadores autônomos, desde que mantenham o compromisso de não demitir funcionários.

Essa iniciativa contempla bares, restaurantes, hotéis, pousadas, agências de viagens e demais empresas do setor do turismo, que poderão contratar até R$ 50 mil com juros 100% subsidiados pelo Estado, com prazo de 36 meses e seis meses de carência.

Microempresas dos demais setores também poderão contratar até R$ 21 mil, com as mesmas regras para pagamento. A medida atende ainda microempreendedores individuais e trabalhadores autônomos, que poderão contratar até R$ 5 mil com juros 100% subsidiados pelo Estado, com prazo de 24 meses e seis meses de carência.

Além disso, importantes ações foram anunciadas. Serão mais de R$ 20 milhões para compra de 250 mil cestas básicas e R$ 28 milhões para ações sociais nos 246 municípios goianos. Suspensão de cortes por inadimplência do fornecimento de água às famílias em situação de vulnerabilidade por parte da Saneago e R$ 28 milhões para ações sociais nos 246 municípios goianos. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 4 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

As ações do Estado preveem, também, o adiamento do calendário de pagamento do IPVA e licenciamento. O programa Facilita também foi prorrogado tendo em vista a regularização fiscal de débitos atrasados de ICMS, ITCD e IPVA até o dia 3 de maio de 2021.

Medidas como essas são de extrema importância e encontram apoio do Legislativo, que tem sido parceiro do Executivo estadual e demais Poderes constituídos na busca por soluções para minimizar os impactos da pandemia. O objetivo comum é assistir da melhor forma possível a todos os goianos. O momento é de ação coletiva para cessar o sofrimento de tantas famílias de nosso Estado e, essencialmente, salvar vidas.

JORNAL - O POPULAR – 24.03.2021 – PÁG. 6

Bolsonaro é alvo de panelaços ao falar em rede nacional nesta terça-feira (23)

O presidente tem sido alvo desse tipo de protesto, convocados por redes sociais, desde o início da crise sanitária, há um ano

Jair Bolsonaro (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O presidente foi alvo de panelaços em diversas capitais pelo país, entre elas Goiânia, durante seu pronunciamento em rede nacional na TV na noite desta terça- feira (23).

Ele decidiu falar publicamente a respeito do enfrentamento ao coronavírus em um momento em que a pandemia se aproxima da marca de 300 mil mortes no país - em apenas 24 horas, 3.158 mortes por Covid-19 foram registradas. O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tomou posse nesta terça, em substituição ao general .

Houve panelaços em bairros de São Paulo, com gritos de “assassino”, na Asa Norte, em Brasília, em Laranjeiras, no Rio, no Recife, em Curitiba, em Belo Horizonte, em Salvador e em Belém. Moradores também protestaram acendendo e apagando luzes em apartamentos. No Estado de São Paulo, também houve registros em Osasco e em Ribeirão Preto.

O presidente tem sido alvo desse tipo de protesto, convocados por redes sociais, desde o início da crise sanitária, há um ano. Neste ano, opositores de Bolsonaro têm promovido carreatas pelo país para pedir o afastamento dele da Presidência.

Ações distorcidas

Pressionado pelo recorde de mortes e pela escassez de leitos de UTI, de medicamentos para intubação e de vacinas contra Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que 2021 será “o ano da vacinação dos brasileiros”. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 5 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

“Estamos fazendo e vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros. Somos incansáveis na luta contra o coronavírus”, afirmou Bolsonaro, que distorceu ações do governo durante o combate da pandemia e mentiu sobre a sua atuação.

Apesar do lento ritmo de vacinação, o presidente prometeu ainda imunizar toda a população até o final de 2021. “Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal”, afirmou.

Bolsonaro repetiu o discurso de que, desde o começo da pandemia, há um ano, tem dito que os desafios são dois, o vírus e o desemprego.

Ele afirmou que “em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome”.

O governo lançou uma série de medidas econômicas, mas Bolsonaro, durante os últimos 12 meses, minimizou a pandemia, provocou aglomerações, falou contra o uso de máscaras, brecou negociações de imunizantes e, por diversas vezes, manifestou-se contra as vacinas.

No pronunciamento, o presidente afirmou ainda que o Brasil é o quinto país que mais vacina no mundo e que mais de 32 milhões de doses foram distribuídas a todos os Estados “graças às ações que tomamos logo no início da pandemia”.

Se considerarmos a taxa de vacinação por habitantes, o país está na 58ª posição, segundo dados do projeto Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford.

Bolsonaro ignorou ter acelerado as negociações para compra de imunizantes depois que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), começou a articular a compra da chinesa Coronavac.

“Sempre afirmei que adotaríamos qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa. E assim foi feito”, afirmou Bolsonaro, omitindo que até mesmo sua principal aposta, a vacina Oxford/AstraZeneca, foi contratada antes da aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). (

JORNAL - O POPULAR – 24.03.2021 – PÁG. 8

Cármen Lúcia muda voto, e Supremo declara Moro parcial em caso de Lula

Com voto da ministra, Segunda Turma do Supremo decidiu anular ação e julgar procedente o habeas corpus em que a defesa do ex-presidente pedia a declaração da suspeição de ex-juiz

Cármen Lúcia: ministra do STF disse que novos elementos se tornaram públicos após dar seu voto sobre o tema (Foto: Nelson Jr./SCO/STF) DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 6 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

A ministra Cármen Lucia, do Supremo Tribunal Federal (STF), mudou seu voto nesta terça-feira (23) e definiu pela parcialidade do então juiz Sergio Moro na condução do processo da Lava Jato que levou à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).

Com o voto da magistrada, a Segunda Turma do Supremo decidiu anular a ação do tríplex e julgar procedente o habeas corpus em que a defesa do petista pedia a declaração da suspeição de Moro neste caso.

Os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski foram os outros dois integrantes do colegiado a votar contra o ex-juiz da Lava Jato. Os votos derrotados foram os de Kassio Nunes Marques e Edson Fachin, relator do caso.

A análise do tema começou no final de 2018 com os votos a favor de Moro dos ministros Fachin e Cármen Lúcia. Na ocasião, Gilmar pediu vista (mais tempo para analisar o caso) e suspendeu o julgamento.

Em 8 de março deste ano, porém, em um outro caso, Fachin deu uma decisão individual para anular todas as condenações contra Lula, incluindo a do sítio de Atibaia, que já tinha sido analisada em segunda instância e também tornava o petista ficha-suja e, portanto, inelegível.

Fachin devolveu os direitos políticos do ex-presidente, mas afirmou que isso levava à perda de objeto do habeas corpus sobre a suspeição de Moro. Diante disso, no dia seguinte, Gilmar levou o tema para análise da Segunda Turma, e os demais quatro ministros divergiram de Fachin e se posicionaram a favor do prosseguimento do julgamento sobre Moro.

Naquele dia, porém, após votos de Gilmar e de Lewandowski, Kassio pediu vistas do processo, sob o argumento de que chegou há pouco tempo no tribunal e precisava estudar melhor o processo.

Ele liberou o caso nesta terça-feira, e Gilmar levou à conclusão da análise do habeas corpus. Em seu voto, Kassio se posicionou contra o pedido de Lula. Já Cármen, após uma longa fala de Gilmar para repetir seu voto de duas semanas atrás, mudou seu voto de 2018 e determinou a derrota de Moro e sua consequente suspeição.

Agora há um temor entre defensores da Operação Lava Jato que a decisão abra caminho para anulação de outros processos da força-tarefa. Isso porque advogados de investigados já se preparam para apresentar pedidos similares ao de Lula para que seja declarada a parcialidade de Moro em outros processos.

Com o resultado em favor do petista, o ex-presidente já tem garantida a anulação do caso do tríplex, que o impediu de participar das eleições de 2018.

Para garantir sua elegibilidade em 2022, porém, Lula ainda depende do julgamento do plenário do STF que discutirá a decisão de Fachin em favor do petista. Caso a maioria da corte referende a decisão, ele terá os direitos políticos de volta e poderá disputar o pleito de 2022 – o que neste momento já está valendo pela decisão individual de Fachin. Se o resultado no plenário for no sentido oposto, porém, ainda remanescerá a condenação em duas instâncias no caso do sítio de Atibaia, e Lula seguirá inelegível. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 7 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Assim, Lula dependerá de uma nova declaração de suspeição de Moro, que não foi responsável por condená- lo em primeira instância, mas que atuou no início do processo.

No habeas corpus ao Supremo, a defesa de Lula apontou diversos fatos que comprovariam a parcialidade de Moro, como o deferimento da condução coercitiva, em março de 2016, sem prévia intimação para oitiva; autorização para interceptações telefônicas do ex-presidente, familiares e advogados antes de adotadas outras medidas investigativas; a divulgação de grampos; e a atuação durante o plantão do juiz federal Rogério Favreto para que Lula não fosse solto.

Depois, a defesa ainda acrescentou o argumento de que a posse de Moro como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro seria outro indício de que o ex-magistrado teria atuado de maneira parcial. A defesa também juntou aos autos, em 2019, diálogos obtidos pelo site The Intercept Brasil entre integrantes da Lava Jato que indicam uma relação próxima de Moro com o Ministério Público Federal, responsável pela acusação.

Nesta terça, Cármen divergiu dos colegas, porém, em relação à determinação para Moro pagar as custas processuais da ação do tríplex. A ministra não concordou com os votos de Gilmar e Lewandowski nesse ponto e, por isso, o ex-juiz não será obrigado a pagar a multa pelos gastos do Judiciário com esse processo à União.

Novos elementos

Sobre a atuação de Moro, Cármen Lúcia afirmou que novos elementos se tornaram públicos após dar seu voto sobre o tema e que, por isso, decidiu mudar de posição. A magistrada disse que não considerou as mensagens da Vaza Jato para mudar de posição e que outros fatos que vieram à tona dão novos contornos à conclusão que chegou sobre o pedido do petista.

Cármen afirmou que a decisão se refere apenas ao processo de Lula e serve exclusivamente para ele. Ela disse que em relação a Lula houve comportamentos inadequados que revelam a parcialidade do ex-juiz Moro. “Não estamos emitindo juízo de valor em relação ao combate à corrupção. O combate à corrupção é importante”, afirmou.

A ministra citou quatro elementos que a levaram a chegar a essa conclusão. Entre eles, ela mencionou a condução coercitiva do ex-presidente sem que houvesse negativa dele de prestar depoimento e quando ainda havia outras medidas investigativas que poderiam ser tomadas.

Também criticou a decisão de Moro de ter aberto o sigilo da delação do ex-ministro Antônio Palocci às vésperas da eleição de 2018 sem pedido do Ministério Público Federal.

O primeiro a votar nesta terça-feira foi Kassio Nunes Marques. Ele foi contra a declaração de parcialidade de Moro e disse que o tema não deveria ser debatido por meio de habeas corpus.

Ele refutou o aproveitamento das mensagens hackeadas da Lava Jato e classificou a invasão de celulares e o vazamento de diálogos como uma “prática abjeta”. Segundo ele, aproveitar as conversas pode abrir um precedente perigoso. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 8 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

“A sociedade viveria processo de desassossego semelhante às piores ditaduras. Não é isso que deve prevalecer nas sociedades democráticas. A forma importa na democracia tanto quanto o conteúdo.”

Críticas

Gilmar já havia votado, mas pediu a palavra após o voto de Kassio e voltou a fazer duras críticas à Lava Jato. O magistrado afirmou que não é momento de “covardia” e que a posição de cada integrantes do STF em relação à Lava Jato será decisiva para verificar o papel de cada um perante a história.

“Isso nada tem a ver com garantismo, ministro Nunes Marques. É uma indecência. Nem aqui nem no Piauí”, disse, numa referência ao estado de origem do colega, e comentando uma ordem de condução coercitiva contra Lula.

Kassio, porém, reagiu e disse que não teme nenhum integrante do Supremo, além de defender seu estado. “Não me inibo com nada e não temo ninguém nesse plano.” E complementou: “Quando vossa excelência diz que o garantismo não é nem aqui, nem no Piauí, pode ser interpretado como uma forma de menosprezar um estado pequeno. Queria fazer esse registro e apresentar escusa se eventualmente no meu voto ofendi a forma de pensar dos senhores, apenas retratei a minha forma de pensar”.

Defesa diz que decisão prova que juiz atuou como adversário político

A defesa do ex-presidente Lula (PT) afirmou em nota, na noite desta terça-feira (23), que a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de declarar o ex-juiz Sergio Moro suspeito é “histórica e revigorante”. Para os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Martins, a suspeição de Moro, responsável pelas condenações do petista nas ações da Lava Jato em Curitiba, comprova que o ex-juiz atuou como adversário político de Lula. A defesa do petista lembrou, na nota, que, desde 2016, vem apontando a imparcialidade do então juiz Moro. Os advogados afirmam que a decisão do STF “é histórica e revigorante para o Estado de Direito e para o devido processo legal”. “Em outras palavras, sempre apontamos e provamos que Moro jamais atuou como juiz, mas sim como um adversário pessoal e político do ex- presidente Lula, tal como foi reconhecido majoritariamente pelos eminentes ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal”, afirma o texto.

Cristiano e Valeska declaram ainda que a defesa sofreu uma série de ilegalidades praticadas pela Lava Jato, “como o monitoramento ilegal dos nossos ramais para que os membros da ‘operação’ pudessem acompanhar em tempo real a estratégia de defesa”. “Os danos causados a Lula são irreparáveis, envolveram uma prisão ilegal de 580 dias, e tiveram repercussão relevante inclusive no processo democrático do país. A decisão proferida hoje fortalece o sistema de Justiça e a importância do devido processo legal”, afirma ainda a nota.

Por fim, a dupla de advogados afirma que a decisão do STF deve servir de guia “para que todo e qualquer cidadão tenha direito a um julgamento justo, imparcial e independente”.

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RESPONSÁVEL Iris Helena

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 23.03.2021 – PÁG. A2

Fracasso latino-americano

Além do Brasil, Peru e México se destacam na tragédia provocada pela Covid-19

Covas para vítimas da Covid-19 em Acapulco, no México - Javier Verdin/Reuters

Dá bem a medida do descalabro causado pela Covid-19 na América Latina o fato de que, embora abrigue 8% da população mundial, a região registre 19% dos casos e assustadores 27% das mortes globais. Em números absolutos, são cerca de 750 mil óbitos e quase 24 milhões de casos confirmados.

No quadro geral desolador, um trio de países vem se destacando negativamente em âmbito global —México, Peru e Brasil. Não por acaso. Os três compartilham um enfrentamento débil e descoordenado da pandemia, seja pelo azar de contarem com lideranças negacionistas, seja pelo impacto de graves turbulências políticas.

No México, que tornou-se a terceira nação do mundo em quantidade de mortes, o presidente Andrés López Obrador passou meses minimizando a pandemia, furtando-se a decretar quarentenas mais rigorosas, afirmando que o país estava prestes a vencer a batalha contra o Sars-CoV-2 e recusando-se a endossar o uso de máscaras.

Já o Peru, um dos países com pior taxa de mortes por milhão, conta cinco ministros da Saúde desde o início da crise sanitária, fruto de um desarranjo político e institucional que já derrubou dois presidentes nos últimos seis meses.

O Brasil, epicentro atual da pandemia, registra novo recorde de mortes diárias, agora acima de 3.000, em meio à sabotagem do presidente, ao colapso dos hospitais e à tibieza do Ministério da Saúde.

O quadro continental é agravado pela morosidade da vacinação. A América Latina aplicou pouco mais de 6% das doses mundiais, e países como Equador, Colômbia, Bolívia e Paraguai imunizaram menos de 3% de seus cidadãos.

A exceção honrosa é o Chile, que já administrou ao menos uma dose do imunizante em quase metade da população, o que o coloca entre as cinco nações que mais vacinaram. A receita do sucesso é simples: contratos com as farmacêuticas fechados com antecedência, diversificação de fabricantes e sinergia dos entes políticos.

A combinação de vacinação lenta com alta disseminação do vírus observada hoje na América Latina, além de provocar milhares de mortes evitáveis, favorece ainda o surgimento de mutações mais contagiosas e letais do novo coronavírus —mais do que uma ameaça à região, um risco para todo o planeta. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 10 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Paradoxos da Covid-19

Hélio Schwartsman

sepultadores carregam caixão no cemitério da vila nova cachoeirinha , na zona note de SP – Rivaldo Gomes

Contra a pandemia, tudo importa um pouco, mas nada explica tudo

Assim como o câmbio existe para humilhar economistas, a Covid- 19 existe para humilhar epidemiologistas. Estou sendo injusto, pelo menos com os epidemiologistas. O chiste, porém, ajuda a mostrar que ninguém ainda entendeu direito essa moléstia. É claro que há aspectos básicos que estão bem estabelecidos, mas há algumas diferenças de desempenho entre países que desafiam as explicações.

Dinheiro? Temos nações muito ricas que foram extremamente mal, e outras quase miseráveis que foram muito bem, como é o caso, respectivamente, de EUA e Vietnã. Recursos são um fator relevante, mas não dão conta de explicar o todo.

Governança? É importantíssima. Ilustram-no EUA e Brasil sob Trump e Bolsonaro. Mas também temos a Alemanha, que, dirigida pela competente Angela Merkel, foi bem na primeira onda, mas mal na segunda. Testar e isolar? Outro par fundamental. Testar, testar e testar é o que tornou a Coreia do Sul um caso de sucesso. Lockdowns também funcionam. Portugal, que viveu semanas de pesadelo, conseguiu dobrar a curva de contágios com um lockdown bem feito. Algo parecido vale para Araraquara. Mas, na coluna dos contraexemplos, temos o Japão, que testou pouco, isolou pouco e vem passando pela crise com poucas mortes. Mistério extra, o Japão tem uma das populações mais idosas do mundo, o que deveria ter agravado a situação.

Geografia? Todos esperavam um desastre na África subsaariana, a parte do globo que sofre mais em quase todas as epidemias, mas a região se saiu relativamente bem, com exceção da África do Sul, para não desmentir a regra de que tudo tem exceções.

Um fator frequentemente negligenciado é o acaso. Sim, ele é relevante e se materializa em coisas como eventos de superinfecção, que são basicamente o sujeito errado, na hora errada, cercado pelas pessoas erradas.

A conclusão que me parece possível é que tudo importa um pouco, mas nada explica tudo.

Supremo reconhece marca de motivação política na Lava Jato

Bruno Boghossian

DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 11 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Tribunal elenca ações de Moro e da força-tarefa que tiveram impacto na eleição

Gilmar Mendes – Operação Lava Jato

O STF não declarou apenas que Sergio Moro pisou fora das regras do processo legal. O julgamento que definiu a suspeição do ex-juiz na condução de um dos processos contra o ex-presidente Lula deixou às claras uma deformidade central da Lava Jato. O tribunal aplicou à operação a marca da motivação política.

Ao analisar a conduta de Moro, ministros do STF elencaram momentos em que a Lava Jato tomou decisões com impacto sobre o cenário político. A Segunda Turma do STF entendeu que a atuação do ex-juiz teve relação principalmente com eventos da última eleição presidencial.

Autor do voto que abriu caminho para a suspeição, Gilmar Mendes destacou algo que seria espantoso, caso não tivesse ocorrido na frente de todos: o fato de que Moro aceitou um cargo no governo de Jair Bolsonaro, candidato que se beneficiou da condenação de Lula.

Gilmar disse que a atuação do ex-juiz e da força-tarefa de Curitiba faria com que o Judiciário ficasse marcado pelo "experimento de um projeto populista de poder político". E acrescentou: "Não tenho políticos de predileção. Agora, acho que não se pode permitir fazer política por meio da persecução penal."

Com anos de atraso, os ministros enxergaram o que Moro fez à luz do dia. Ricardo Lewandowski entendeu que o ex-juiz influenciou o processo eleitoral de 2018 ao divulgar parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci, dias antes do primeiro turno. Afirmou ainda que sua atuação foi "empreendida com nítido propósito de potencializar as chances ou, mesmo, viabilizar a vitória de candidato de sua preferência".

Já Cármen Lúcia, que se tornou o voto decisivo ao mudar de entendimento, tentou delimitar o caso. Disse que o julgamento se referia apenas a Lula e que não fazia "algum tipo de referência à Lava Jato". Ainda assim, a ministra precisou concordar com os colegas e citou a divulgação da delação de Palocci durante a campanha presidencial. Mesmo uma defensora da operação reconheceu a tonalidade política de Moro.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 24.03.2021 – PÁG. A3

Romper com o governo é o mínimo para qualquer liberal

Não podemos deixar o liberalismo ser incendiado nessa fogueira autoritária

Cris Monteiro DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 12 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Vereadora (Novo) em São Paulo, atuou como executiva do mercado financeiro por 30 anos

Tratar o governo Bolsonaro sob qualquer nuance liberal se tornou um malabarismo perigoso no Brasil da pandemia. Não é mais possível ser divergente da imobilidade sanitária do governo ou desprezar a pauta de costumes e, ao mesmo tempo, tentar salvar a pauta econômica. A trágica política concretizada pelo ministro não tem mais nada de liberal. O mundo todo já observa o declínio econômico e financeiro trazido pela espiral disparatada, estatizante e autoritária do Brasil.

Romper com toda a agenda do governo e ser oposição é, no mínimo, bom senso para qualquer liberal. Trata-se agora de não deixar naufragar o bom nome do liberalismo econômico na cilada de um governo regressista. A recente ruptura do meu partido, o Novo, com o governo mostra o quanto é necessário avançar e esclarecer a população sobre nossas profundas diferenças. Aliás, tanto com relação ao atual governo —que se mascarou de liberal só para vencer as eleições— quanto ao anterior, antiliberal e corrupto. É necessário que cada liberal deste país se diferencie desses dois polos. Ainda há tempo.

A vereadora Cris Monteiro (Novo-SP), ex-executiva do mercado financeiro - Zanone Fraissat - 11.mai.20/Folhapress

O presidente Jair Bolsonaro mentiu que era liberal. Mentiu. Ele não é. Bolsonaro é estatizante, autoritário, militarista, intervencionista, antidemocrático. Não reformou. Não privatizou. Só aparelhou. A Abin, a PF, as estatais, o governo inteiro. Fez declarações públicas recentes mostrando-se contrário à venda até mesmo da Ceagesp, em São Paulo.

Não se iludam mais. Os dois novos textos levados ao Congresso, da Eletrobras e da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), foram uma tentativa de dar satisfação ao mercado financeiro, cujo humor, aliás, piorou substancialmente (especialmente dos estrangeiros) depois do que ocorreu com a Petrobras e, pior, mais recentemente, após notar que a opção nacional ainda poderia se projetar no antiliberal e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As prioritárias reformas, a redução da intervenção na economia pelo Estado, o enxugamento da máquina pública, o equilíbrio das contas, as políticas de equilíbrio monetário, fiscal e financeiro, a abertura global e os programas sociais como porta de saída da miséria são algumas das bandeiras liberais que Bolsonaro pisoteou. No início, necessitado de apoio, apresentou com Guedes pequenos pacotes incompletos. Mas o presidente a cada dia custa muito caro à nossa economia e ao nosso país. Sim, ele ampliou o chamado custo Brasil.

A militarização das estatais do petróleo e da energia —já são mais de 90 dirigentes oriundos das Forças Armadas em estatais—, o aparelhamento político-ideológico da máquina, a corrupção enfiada sob os tapetes, a interferência na autonomia do Congresso, a omissão nas reformas, os privilégios e o abuso do poder político são provas cabais.

A tão esperada reforma administrava foi desvirtuada para proteger servidores, e a da Previdência foi desidratada para apoiar militares. Ele ainda tenta, pela economia, tutelar a sociedade da mesma forma que os governos anteriores do PT: com seu populismo. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 13 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Liberalismo? Não. Uma desventura política autoritária, que agora volta a se polarizar com o lulismo, deixando não só o mercado, mas o mundo estarrecido. Não podemos deixar o liberalismo ser incendiado nessa fogueira.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 24.03.2021 – PÁG. A8

Caso tríplex mostrou proximidade de Lula com empreiteira e dificuldade de provar suposta corrupção

Imagens de petista com executivo de construtora e de PowerPoint da Lava Jato marcaram desdobramentos do caso

Flávio Ferreira

O ex-presidente Lula e o ex-presidente da empreiteira OAS Léo Pinheiro em visita a apartamento tríplex em Guarujá em 2014 - Reprodução

A ação penal sobre o tríplex em Guarujá (SP) —anulada pelo STF (Supremo Tribunal Federal)— ficou marcada por revelar a proximidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a empreiteira OAS e a dificuldade do Ministério Público em obter provas de que um suposto benefício pessoal relativo ao imóvel teria vinculação com corrupção em contratos da Petrobras.

A cada uma dessas situações correspondem duas imagens emblemáticas do caso: a foto de Lula em visita ao tríplex ao lado do executivo da OAS Léo Pinheiro e o PowerPoint exibido pela força-tarefa da Operação Lava Jato no dia da apresentação da denúncia criminal contra o líder petista, na qual mais de uma dezena de malfeitos foram atribuídos ao líder petista.

A intrincada história do condomínio de frente para o mar começou em 2005, quando Lula e a mulher Marisa Letícia, morta em 2017, compraram o direito a ter uma unidade de 82 m² em uma das torres.

Originalmente, a construção era tocada pela cooperativa Bancoop. Porém a entidade entrou em crise financeira e, em 2009, a OAS adquiriu o empreendimento, em um movimento comercial incomum para a empreiteira, que costumava investir em imóveis nas grandes capitais.

Pinheiro disse ter sido informado em 2009 pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari sobre o fato de Lula ter a opção de compra de imóvel no condomínio, e então a empresa se interessou em assumir a construção. Vaccari nega ter feito essa suposta intermediação.

A visita de Lula ao tríplex, na companhia de Marisa e Pinheiro, ocorreu em fevereiro de 2014. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 14 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

O ex-presidente não negou ter conversado com o empreiteiro sobre a propriedade, mas afirmou que não gostou do imóvel. “Disse ao Léo que o prédio era inadequado porque, além de ser pequeno, um tríplex de 215 metros [quadrados] é um tríplex ‘Minha Casa, Minha Vida’”, afirmou o ex-presidente em depoimento à Polícia Federal.

O líder petista disse ainda que Pinheiro quis insistir no assunto e teria prometido “pensar um projeto”. Em seguida, a OAS fez benfeitorias no imóvel que incluíram a instalação de um elevador, uma escada e uma churrasqueira.

Marisa voltou ao imóvel, acompanhada pelo filho Fábio, em agosto daquele mesmo ano.

Segundo o relato de Pinheiro, a família tinha planos de ocupar o tríplex nas festas de fim de 2014, e nunca houve conversas sobre eventual pagamento pelas benfeitorias ou da diferença entre o preço do tríplex e o que já havia sido quitado pelo casal quanto ao direito de compra no condomínio.

O executivo disse que a ideia era abater os valores de uma espécie de conta-corrente de suborno que a empresa mantinha com o PT.

Em novembro de 2014, Pinheiro foi preso em uma das principais fases da Lava Jato. No ano seguinte, o casal Lula e Marisa desistiram formalmente de adquirir uma unidade no condomínio.

O fato de Lula não ter chegado a possuir formalmente o tríplex é utilizado pela defesa do líder petista para argumentar que ele sequer obteve qualquer benefício pessoal da OAS.

Os advogados do presidente também dizem que Léo Pinheiro mentiu ao falar de uma suposta conta-corrente de propina com o PT e fazer a conexão entre o imóvel e contratos da Petrobras.

Porém, para a força-tarefa de procuradores da Lava Jato e o então juiz do caso, Sergio Moro, as provas e depoimentos permitiram concluir que as ações da OAS relativas à propriedade beira-mar configuraram uma contrapartida pelo favorecimento ilegal em negócios da estatal de petróleo.

O procurador da República Deltan Dallagnol exibe gráfico em PowerPoint com acusações contra o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva em coletiva em 2016 - Paulo Lisboa -14.set.2016/ Photo Press/Folhapress

A sentença de Moro em primeira instância deixou clara a dificuldade do Ministério Público para tentar demonstrar a relação de causa e efeito entre a corrupção na petrolífera e supostos benefícios pessoais no tríplex.

Na sua decisão em julho de 2017, Moro escreveu que essa conexão existiu e justificou que a “explicação única” para o favorecimento pessoal a Lula seria o “acerto de corrupção decorrente em parte dos contratos com a Petrobras”.

Para o então magistrado, o ex-presidente não teria mostrado na ação criminal uma “causa lícita” para o suposto beneficiamento concedido pela empreiteira. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 15 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Moro inclusive usou depoimento do próprio Lula para reforçar seu argumento de que ele integraria a cúpula do esquema criminoso.

O ex-juiz mencionou a resposta do líder petista a uma indagação sobre se era o presidente da República quem decidia sobre a indicação de diretores da Petrobras para aprovação pelo conselho da estatal.

“Era, porque senão não precisava ter presidente”, respondeu Lula.

Essa necessidade de empregar uma ampla contextualização para fundamentar a condenação do líder petista já era aparente desde a apresentação da denúncia criminal pelo Ministério Público, em setembro de 2016.

Na ocasião, em coletiva de imprensa para anunciar a acusação formal, o procurador da República Deltan Dallagnol, então coordenador da força-tarefa, exibiu um gráfico em PowerPoint com 14 balões com situações que demonstrariam um quadro de envolvimento de Lula em delitos que incluiriam até o mensalão.

O fato de atirar para todos os lados levou o PowerPoint de Deltan a virar meme nas redes sociais e permitiu a Lula apresentar uma denúncia contra o procurador ao CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), que acabou sendo arquivada.

A decisão de Moro com grande teor interpretativo acabou sendo confirmada em segunda instância pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), o que levou o ex-presidente a ser preso e permanecer detido por 580 dias na sede da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba.

A libertação de Lula ocorreu em novembro de 2019 após o STF alterar o entendimento de que condenados deveriam ser presos após decisão de segunda instância. Com a nova orientação, os réus em geral só podem ser detidos após o esgotamento de todos os recursos nas quatro instâncias do Judiciário brasileiro.

Essa decisão faz parte de uma série de reveses que a Lava Jato passou a sofrer no Judiciário e no Legislativo nos últimos anos, e que teve como ápice o julgamento desta terça-feira.

A proximidade de Moro e os procuradores da Lava Jato expostas nas mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil e acessadas pela Folha —e depois apreendidas pela Operação Spoofing da PF— foram essenciais para que a maioria dos ministros da Segunda Turma do STF julgasse que as interpretações e os contextos descritos pelo ex-juiz para condenar Lula estavam contaminados pela parcialidade.

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 24.03.2021 – PÁG. ON-LINE

Fabricantes de medicamentos estão no limite da produção, alerta diretora da Anvisa

Em audiência na Câmara, diretora da Anvisa alerta que os fabricantes de medicamentos estão no limite da capacidade de produção. E, por terem priorizado os insumos para quem está internado numa UTI, deixaram de fazer outros fármacos, que também começam a faltar

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RESPONSÁVEL Iris Helena

Fabio Grecchi

A capacidade da indústria nacional para a fabricação de medicamentos necessários para a intubação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) está no limite e remédios para outras áreas podem faltar. Isso porque há fabricantes que voltaram sua produção totalmente para o “kit intubação”, o que representa o desabastecimento de outros fármacos. O alerta foi dado ontem pela diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze Sousa Freitas, durante audiência na Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate à covid-19.

“As empresas estão no limite de produção (da capacidade produtiva). Algumas aumentaram (a produção) em quatro ou sete vezes e têm empresas que dedicaram toda a sua produção aos medicamentos de intubação orotraqueal. Isso também é um problema, porque há risco de desabastecimento de outros medicamentos”, disse Meiruze.

Durante o depoimento, ela se emocionou ao relatar a ausência de anestésicos para intubar pacientes — motivo pelo qual a reunião foi convocada, pois, desde a semana passada, estados vêm avisando ao Ministério da Saúde que o aumento no número de internações nas UTIs voltadas para o atendimento à covid-19 causaram a redução nos estoques de medicamentos que compõem o kit intubação.

“Me emociono nesse processo. É dramático, é horrível saber que pessoas, nesse momento, nos hospitais, estão sem acesso à assistência básica. Porque ter acesso à analgesia é assistência básica. Peço desculpas pela emoção”, reagiu.

Requisições

Por causa da iminência do desabastecimento, na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou a requisição administrativa de remédios que estavam em estoque nas indústrias. Segundo Meiruze, para auxiliar nesse processo, a Anvisa também baixou medidas para aumentar o estoque disponível dos insumos para a intubação de infectados com o novo coronavírus — como a redução, de 15 dias para uma semana, do período de quarentena nos galpões das fábricas antes de os remédios serem liberados para uso.

Diante do quadro relatado por Meiruze, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), criticou a omissão do ministério na coordenação do abastecimento de remédios para intubação de pacientes. A falta desses medicamentos, agravada por reajustes nos preços, tem provocado, segundo representantes de hospitais privados — que também participaram da audiência —, a diminuição da oferta de leitos para o tratamento da covid-19.

A Câmara deve remeter à pasta requerimento em que solicita a criação de uma central de demandas e de compras de medicamentos. “Nós temos uma corrida pela compra. Isso faz com que você tenha estados superabastecidos e estados sem nada, porque não há um controle nacional de demanda. O Ministério da DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 17 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Saúde precisa imediatamente tomar essa providência”, cobrou Ramos.Nenhum representante do governo federal compareceu à audiência.

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 24.03.2021 – PÁG. ON-LINE

Marcelo Queiroga, enfim, toma posse no Ministério da Saúde

Após mais de uma semana do anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que o cardiologista Marcelo Queiroga assumiria o Ministério da Saúde, no lugar de Eduardo Pazuello, o médico, enfim, tomou posse, ontem, em evento fechado no Planalto, que não constava na agenda oficial do presidente. Inicialmente, a expectativa era de que Queiroga assumisse o cargo amanhã, mas o prazo foi adiantado para que ele pudesse participar da reunião de hoje, do chefe do Executivo com presidentes dos demais Poderes. Além disso, Bolsonaro mudou o cronograma por conta das constantes pressões de políticos, que reclamavam da demora do governo para oficializar a troca no ministério no momento mais crítico da pandemia — ontem, o Brasil registrou 3.251 mortes em 24 horas, o maior número desde o início da crise sanitária (leia reportagem na página 10).

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 24.03.2021 – PÁG. ON-LINE

Educação na Constituinte, um livro com precisão fotográfica

Carlos Roberto Jamil Cury - Doutor em Educação, professor adjunto da PUC-Minas e professor emérito da UFMG.

O livro da professora Maria Francisca Pinheiro Coelho, O Público-privado na Educação Brasileira, um conflito na Constituinte (1987-1988), expressa o contorno escolhido pela autora para extrair do conjunto dos debates os aspectos ligados ao capítulo da Educação na Constituinte.

A impressão que se tem ao ler o livro é similar a uma câmera fotográfica de alta precisão em que o fotógrafo vai captado, no conjunto das sessões, também aspectos muito específicos que acabam por ligar a Educação a outros capítulos da Constituição.

Diga-se, a bem da verdade, que a autora se serviu de dois recursos metodológicos que dão ao texto uma fidedignidade ímpar: a presença in loco no cenário constituinte e a consulta das Atas e dos Diários da Constituinte. Ao final do livro, o leitor tem Apêndice nos quais os documentos dos principais atores do conflito estão devidamente registrados.

Sem fugir a seu ponto de vista de posicionamento pelo caráter público da Educação, o texto tem um lado descritivo e explicativo de todos os lados. É como se a autora prenunciasse o inciso III do artigo 206 da versão final da Constituição, ou seja, um dos princípios da Educação nacional: pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. Seu ponto de vista não só corrobora esse princípio que faz da educação um campo de circulação do pensamento crítico, como não contesta a liberdade de ensino, inscrita no inciso II do mesmo artigo.

O eixo crítico se volta para o âmbito de aplicabilidade dessa liberdade. Com efeito, desde o decreto de Dom João VI, às vésperas de sua partida para Portugal, quando o Rei assegura a liberdade que todo o cidadão tem DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 18 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

de fazer o devido uso de seus talentos... da publicação deste em diante seja livre a qualquer cidadão o ensino e a abertura de escolas de primeiras letras no Reino … sem dependência de exame ou de alguma licença, jamais houve, no ordenamento jurídico, a contestação dessa liberdade.

Por outro lado, desde a Reforma Couto Ferraz de 1854, passando por todo o conjunto legal até os nossos dias, o que se impôs foram limites relativos à obediência às normas da educação nacional e aos processos de autorização e avaliação de qualidade.

A autorização verifica a idoneidade de uma instituição de ensino, pública ou privada, para ofertar ensino de qualidade. A avaliação mede a adequação desse conjunto ao padrão de qualidade, princípio do ensino exigido pela Constituição.

Certamente, o contorno escolhido pela autora é o que é mais documentado: a questão do financiamento dos recursos: podem os recursos públicos subsidiar a iniciativa privada? Nesse sentido, o livro vai explicitar, com clareza, o que se deve entender por público e privado, seja conceitualmente, seja como estes conceitos fazem parte de uma longa história, tanto no Estado Brasileiro quanto na especificidade da Educação. Essa história, no campo educacional, é trabalhada em seus antecedentes mais expressivos como No Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, na Constituinte de 1933-1934, e também, no outro Manifesto de 1959 e no longo processo de 13 anos de tramitação das diretrizes e bases de 1961, lei n. 4.024/61.

Com esse quadro histórico e conceitual, a câmera entra em ação no palco da Constituinte. Configurados os principais passos da Constituinte como a divisão em temáticas a serem trabalhadas a partir das subcomissões, subindo para as comissões, há um retrato tão fiel ao que por lá se passou que é como se o leitor se visse lá dentro.

Ele como que acompanha as propostas dos constituintes, as audiências públicas com os mais diferentes atores buscando inserir seus princípios no texto constitucional, o relatório e o anteprojeto da subcomissão, a comissão temática, a comissão de sistematização e, finalmente, o plenário.

Aí há o devido registro dos conflitos, das negociações em torno do financiamento sob um fundo conceitual em torno dos limites da liberdade de ensino.

Para além de um registro histórico da mais alta importância, é preciso se lembrar do significado de uma Constituição como fundamento do pacto nacional e de todo o ordenamento que se lhe segue. Constata-se o espírito que a presidiu na busca de ampla participação, especialmente nas subcomissões e na comissão temática. Nos tempos sombrios pelos quais estamos passando em que a democracia se vê atacada por fundamentalismos, em que a Educação, pórtico fundamental da cidadania e dos direitos humanos, se vê diminuída por programas e propostas reducionistas, retomar o processo constituinte é um convite a que não nos esqueçamos de que ali, afinal, se consubstanciou o claro princípio de que a Educação é direito do cidadão, dever do Estado.

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RESPONSÁVEL Iris Helena

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 24.03.2021 – PÁG.E1

Câmara Superior do Carf afasta multa de mora em compensação tributária

3ª Turma aplicou novas regras de desempate em julgamento sobre denúncia espontânea

Por Adriana Aguiar

Roberto Duque Estrada: “Não faz sentido não afastar a multa do contribuinte que de boa-fé quis regularizar sua situação e usou a compensação de créditos existentes” — Foto: Divulgação

A Câmara Superior do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) afastou a cobrança da multa de mora de um contribuinte beneficiado por denúncia espontânea, que quitou a dívida por meio de compensação tributária. Os conselheiros da 3ª Turma entenderam que a medida tem o mesmo efeito prático e jurídico do pagamento à vista - o que garantiria a exclusão da penalidade.

O julgamento chamou a atenção dos advogados porque normalmente o contribuinte perde a discussão no Carf. Esta é a única decisão favorável entre as 30 publicadas pelas turmas e Câmara Superior este ano, de acordo com levantamento realizado pelo escritório Vaz, Buranello, Shingaki & Oioli (VBSO Advogados).

No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a tendência também é desfavorável ao contribuinte. Os ministros costumam não admitir a exclusão da multa de mora - que pode chegar a 20% - com o pagamento por meio de compensação tributária, afirmam Diego Miguita e Diogo Olm Ferreira, do VBSO Advogados.

A discussão envolve o artigo 138 do Código Tributário Nacional (CTN). O dispositivo trata da denúncia espontânea e estabelece que, caso o contribuinte pague o tributo antes de qualquer procedimento de fiscalização, ficará livre de qualquer infração. Em uma interpretação literal, porém, acrescentam os advogados, a Receita Federal entende que o benefício não vale para a compensação tributária.

Na 3ª Turma da Câmara Superior, as discussões sobre o tema costumam empatar. Até abril de 2020, com a existência do chamado voto de qualidade, o entendimento do presidente tinha peso duplo, o que fazia com que os contribuintes perdessem. Porém, no caso analisado recentemente, foi aplicada a Lei nº 13.988, de 2020. Ela estabelece que, em caso de empate no julgamento de autuações fiscais, o contribuinte deve sair vencedor.

Os conselheiros levaram em conta a nova lei porque o caso tratado envolvia autuação fiscal. Como em muitos casos, segundo Diego Miguita, a Receita Federal nega a exclusão da multa de mora por meio de despacho, normalmente não se tem aplicado as regras que favorecem o contribuinte.

No julgamento, ocorrido em janeiro, ao analisar o caso de uma empresa de serviços de limpeza (processo nº 10805.000996/2006-45), o presidente em exercício, conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, afirmou que se DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 20 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

trata do mesmo assunto já anteriormente julgado, com os mesmos julgadores. Só que pelo fato da compensação da diferença ter sido feita por auto de infração, acrescentou, “isso vai mudar o resultado”. De acordo com ele, esse fato causa uma grande insegurança jurídica, uma vez que haverá resultados diferentes para a mesma matéria.

Para Diego Miguita, essa distinção feita é incabível, uma vez que o assunto é o mesmo e o que muda é apenas o procedimento de cobrança feito pela fiscalização. Com base nessa decisão favorável aos contribuintes, afirma, as empresas que perderem a discussão no Carf poderão discutir, em fase preliminar, esses critérios para aplicação ou não do que diz a nova Lei nº 13.988.

“Temos que tomar cuidado ao usar esse precedente como um divisor de águas sobre o assunto porque o contribuinte só ganhou porque era um auto de infração”, diz o advogado.

Diogo Olm Ferreira entende que, dependendo do procedimento adotado, a decisão pode gerar distorções, como aconteceu no caso. “A jurisprudência no Carf e no Judiciário é, em geral, desfavorável. Por isso, a decisão causou surpresa”, afirma.

Em um julgamento ocorrido em dezembro, na mesma 3ª Turma da Câmara Superior, o resultado foi contrário a uma empresa de alimentos que fez compensação de créditos para quitar tributos devidos em denúncia espontânea (processo nº 10980.920582/2009-56). No caso, ela foi cobrada por despacho decisório sobre a multa de mora. “Quando você não presta atenção nos detalhes acha que a turma mudou de entendimento”, diz Miguita.

Segundo o advogado Filipe Richter, do Veirano Advogados, parece que está havendo uma interpretação extremamente rigorosa da nova norma, que dá ganho de causa ao contribuinte em caso de empate. Para ele, o conselho “vai fazer jogo duro na aplicação porque não gostou da mudança”.

Já com relação à tese, o advogado acredita que ainda é defensável, uma vez que a compensação decorre de pagamento indevido a mais de algum tributo, logo houve um pagamento, que justificaria o afastamento da multa de mora.

Roberto Duque Estrada, sócio do Brigagão, Duque Estrada Advogados, entende que a decisão tomada pela Câmara Superior a favor do contribuinte seria a mais acertada. Para ele, o uso da compensação tem o mesmo efeito do pagamento à vista, uma vez que esses créditos existentes são resultado de valores de tributos pagos a mais.

“Não faz sentido não afastar a multa do contribuinte que de boa-fé quis regularizar sua situação e usou a compensação de créditos existentes”, diz o advogado. “A compensação tem que ter o mesmo efeito do pagamento.”

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RESPONSÁVEL Iris Helena

CPFL sofre nova derrota em disputa com a Receita

Companhia defendeu que pagamentos a entidades de previdência complementar poderiam ser deduzidos do cálculo do IRPJ e CSLL

Por Joice Bacelo

Ministro Benedito Gonçalves: voto para manter decisão de segunda instância — Foto: Divulgação

A 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve uma cobrança de R$ 101 milhões em Imposto de Renda (IRPJ) e CSLL à Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). Esse caso envolve aportes que a empresa se comprometeu a fazer na Fundação Cesp, que administra o plano de previdência complementar dos seus funcionários.

A CPFL sofreu várias autuações por essa mesma operação - que, ao todo, segundo a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), somam mais de R$ 1 bilhão.

Essa decisão da 1ª Turma é a segunda no STJ. Antes, no ano de 2019, a 2ª Turma, que também julga as questões de direito público, já havia validado uma cobrança tributária de R$ 511 milhões. As demais, diz a PGFN, ainda estão tramitando nas instâncias inferiores.

Essa discussão tem origem no ano de 1997, quando a CPFL firmou compromisso com a Fundação Cesp para cobrir um déficit de R$ 426 milhões. O aporte seria feito num prazo de 20 anos. No ano seguinte, em 1998, a companhia deduziu integralmente esse valor da base de cálculo do IRPJ e da CSLL - e foi autuada pela Receita Federal.

A companhia afirma, no processo, que os pagamentos a entidades de previdência complementar podem, por lei, ser deduzidos do cálculo dos tributos e diz que havia uma solução de consulta favorável para que essa dedução ocorresse de uma só vez.

“O contribuinte, na época uma empresa pública, em vez de arriscar, resolveu perguntar antes para a administração pública se poderia fazer dessa forma”, disse o advogado Humberto Ávila, que atua para a CPFL, em defesa oral na 1ª Turma. A consulta, segundo ele, foi respondida pelo chefe da coordenação-geral de tributação da Receita (Cosit).

Ávila sustentou ainda que essa consulta nunca foi declarada ineficaz. Ele disse que a companhia fez a dedução com base na orientação que recebeu e, posteriormente, acabou surpreendida por uma mudança de posicionamento do órgão. “O contribuinte confiou na posição da administração e está sendo punido com juros e multa.” DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 22 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Para a PGFN, no entanto, a versão é outra. O procurador Marcelo Kosminsky disse aos ministros que não foi feita uma consulta formal. A CPFL teria procurado diretamente o secretário da Receita Federal na época e não expôs os fatos de maneira correta, o que teria induzido o órgão a erro.

“Uma consulta tem que ser formulada à autoridade competente, no caso o delegado da Receita Federal, o qual, por meio de uma solução de consulta, e não por nota, responderia e publicaria o entendimento no Diário Oficial”, argumentou.

Ainda assim, disse o procurador, mesmo se a consulta fosse válida, não poderia ser aplicada ao caso. A dedução integral do valor, afirmou, poderia ser feita em caso de novação de dívida, o que não aconteceu. Para a fiscalização, houve apenas uma repactuação entre a companhia e a fundação.

Além disso, segundo a PGFN, só podem ser deduzidos do cálculo dos tributos os valores pagos às entidades de previdência complementar. No caso, afirmou Kosminsky, só R$ 8,5 milhões - dos R$ 426 milhões previstos e abatidos - haviam sido desembolsados naquele ano pela companhia.

“Esse passivo não consubstanciava uma dívida líquida e certa porque eventos futuros e variáveis poderiam alterar o seu montante. O fundo, para rentabilizar os aportes, faz investimentos no mercado financeiro. Faz aplicações. Um movimento positivo da bolsa, do câmbio ou outros títulos do mercado poderiam até mesmo reduzir a zero os repasses que teriam de ser feitos pela CPFL”, disse Kosminsky.

O relator desse caso no STJ, ministro Benedito Gonçalves, disse que para julgar o pedido da CPFL seria necessário examinar provas, o que não cabe à Corte fazer - prevalecendo, portanto, a decisão da segunda instância, contrária à companhia (REsp 1582201).

“Para fins de se reconhecer a existência de novação na forma pretendida pelo recorrente demandaria necessariamente novo exame de provas, bem como a reinterpretação das cláusulas contratuais, o que é vedado por força das Súmulas nº 5 e nº 7”, disse. O entendimento do relator foi seguido pelos demais ministros.

Destaques

PDV no aviso prévio

A 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou o Banco Bradesco a pagar a uma empregada dispensada sem justa causa os benefícios do plano de demissão voluntária especial (PDVE) implantado no curso do seu aviso prévio. Segundo os ministros, o aviso prévio integra o contrato de trabalho para todos os efeitos e, portanto, abarca a implantação do plano. A empregada foi admitida em 1986 e dispensada em 23 de maio de 2017, com aviso prévio indenizado, projetado para 20 de setembro. Mas em 13 de julho, o banco implantou o PDV, com prazo de adesão até 31 de agosto. O juízo de primeiro grau deferiu o pedido da bancária, mas o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (2ª Região) reformou a sentença. A bancária recorreu. O relator do recurso de revista da empregada, ministro Caputo Bastos, ressaltou que, de acordo com o entendimento do TST, não há óbice para que os benefícios do plano de demissão voluntária implantado no curso do aviso prévio sejam estendidos ao empregado, já que o aviso prévio integra o contrato DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 23 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

de trabalho para todos os efeitos. A decisão foi unânime. Ainda pode caber recurso à Subseção I Especializada em Dissídios Individuais da Corte (RR-1001896-98.2017.5.02.0385).

Adoção após a morte

Uma decisão da Justiça mineira homologou o desejo da família, expressado em uma ação de reconhecimento de filiação socioafetiva e de adoção “post mortem”. De acordo com a ação, composta pelo pedido de um assessor parlamentar, fotos de família e declarações da mãe adotiva dele e dos dois irmãos mais novos, quando tinha apenas um ano de idade, a mãe biológica abandonou o lar e o pai biológico, sentindo-se incapaz de criar o filho, escreveu uma carta pedindo que a irmã, solteira naquela época, assumisse os cuidados da criança. Narra ainda a ação que a tia e o ainda namorado dela, naquela época, assumiram os cuidados dele como se filho fosse, dando início, de forma desafiadora para os padrões da época, à família. A decisão é do juiz Maurício Simões Coelho Junior e foi publicada pela Vara de Família e de Sucessões e Ausências da Comarca de Teófilo Otoni. O magistrado determinou a expedição de mandado de averbação ao Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais e ainda autorizou o pedido para alteração e acréscimo do sobrenome da família (processo nº 5006099-42.2020.8.13.0686).

Conduta discriminatória

Uma empresa do ramo de bebidas deverá indenizar em R$ 30 mil, por danos morais, um trabalhador dispensado em meio a um tratamento oncológico. A decisão é da 5ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas (SP), que teve como relatora a juíza convocada Adriene Sidnei de Moura David. Também determinou, entre outros, a integração do adicional de periculosidade no cálculo da indenização relativa aos salários do período de afastamento do trabalhador. O colegiado negou, porém, as alegações do trabalhador de assédio moral, pelo tratamento vexatório e humilhante sofrido de seu superior, por falta de provas. O acórdão reconheceu que houve a conduta discriminatória da empresa na dispensa do trabalhador, ainda que de “forma velada”, mesmo “ciente da especificidade do quadro de saúde do trabalhador”. Também destacou que “o empreendimento econômico não é apenas fonte de lucro, mas também fonte de práticas sociais que favoreçam o meio no qual está inserido, bem como de responsabilidade social” (processo nº 0010350-53. 2019.5.15.0094).

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 24.03.2021 – PÁG.E2

A proteção de dados e o direito tributário

Os contribuintes terão, a partir da LGPD, um forte instrumento para exigir que os seus dados sejam tratados com responsabilidade e sigilo

Por Breno Kingma

O clima de desconfiança entre as nações nos pós-guerra fez com que os instrumentos de espionagem tivessem um grande desenvolvimento tecnológico. Mesmo particulares podiam ter acesso a mecanismos que permitiam bisbilhotar seus vizinhos. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 24 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

Hollywood retratou bem essa tendência. “A Conversação”, “Chinatown” e “Todos os Homens do Presidente”, dentre diversos filmes da década de 70, tratam da paranoia que a espionagem trouxe e os problemas causados pela violação da intimidade das pessoas. A privacidade era tão sagrada na época que gerou o escândalo Watergate, levando o presidente Nixon a renunciar pela tentativa de colocar escutas na sede do Partido Democrata.

Os contribuintes terão, com a LGPD, um forte instrumento para exigir que os seus dados sejam tratados com responsabilidade

Com o fim da guerra fria e o surgimento do terrorismo, o direito sagrado à privacidade começou a ser mitigado. Percebeu-se que o excesso de sigilo foi fundamental para o ataque às Torres Gêmeas em 2001. Toda a legislação começou então a prestigiar a transparência.

Não por coincidência, a Lei Complementar nº 105, que permitiu o compartilhamento de informação bancária dos contribuintes com a Receita Federal, é de 2001. O Supremo Tribunal Federal (STF), influenciado com esse novo ambiente mundial de radical transparência, prestigiou a mitigação da privacidade em diversos julgados. E, exatamente nesse momento histórico, as redes sociais e os smartphones com câmeras surgiram e fizeram com que as pessoas, por iniciativa própria, expusessem diariamente seus dados, intimidades, amigos, horários, gostos, compras e localização.

No ambiente tributário, a fiscalização a partir da troca de informações entre empresas e Fisco passa a ser o norte. São criadas diversas obrigações acessórias que desnudam o contribuinte. As declarações de imposto solicitam cada vez mais dados. Speds, ECF, ECD e notas eletrônicas são o novo direito tributário. Nos tribunais, as sessões de julgamento passam a ser transmitidas em tempo real. Na televisão, o maior sucesso é o Big Brother.

Os países percebem, contudo, especialmente por meio dos casos Wilkileaks, Snowden e Cambridge Analytica, que esse excesso de transparência permite que os governos e as big techs possam, por meio de espionagem e algoritmos, identificar personalidades e antever comportamentos e perfis das pessoas. É a partir do julgamento na corte inglesa do caso Cambridge Analytica, consultoria que utilizou dados do Facebook e modelos matemáticos para influenciar plebiscitos e eleições ao redor do mundo, que surgem o Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia - RGPD (ou GDPR em inglês) e logo em seguida a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) brasileira (Lei nº 13.709, de 2018).

A nova legislação é uma reação à violação da privacidade e traz regras para a utilização de dados de acordo com o devido processo legal e a partir do conhecimento e consentimento das pessoas. É o que afirmam textualmente os artigos 1 º e 2º da LGPD.

Nessa trilha, é de se esperar que o novo regramento repercuta sobre a relação Fisco e contribuintes. Não é normal que CPFs e dados de milhões de brasileiros sejam vazados e negociados na internet, como rotineiramente noticiado. Também há uma expectativa de que os processos eletrônicos, administrativos e judiciais sejam mais sigilosos. Atualmente, por exemplo, qualquer pessoa pode acessar acórdãos de julgamentos administrativos, mesmo nos casos em que informações relevantes dos contribuintes estejam ali relatadas. DATA CLIPPING 24.03.2021 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 25 de 25

RESPONSÁVEL Iris Helena

A nova lei se aplica às autoridades públicas (artigos 3º e 23) e prevê mecanismos para que o contribuinte saiba a razão da solicitação daquele dado e por quem e como ele está sendo utilizado (artigos 6º, 17 e 18). Além disso, a lei traz a obrigatoriedade de a autoridade nacional responsável pela fiscalização da LGPD enviar informe ao órgão público com medidas cabíveis para fazer cessar uma eventual violação. A lei também prevê, em seu artigo 42, a possibilidade de o contribuinte ajuizar ação indenizatória em caso de prejuízo pela má utilização ou vazamento de seu sigilo.

As instituições privadas, por seu turno, também deverão ser mais cuidadosas em compartilhar com as fiscalizações dados que possuem de outros contribuintes, pois, em caso de envio de informações não exigidas pela legislação, poderão ser responsabilizadas. Já os Fiscos serão obrigados a ter cada vez mais cuidado com as pessoas que acessam aqueles dados fiscais sigilosos e o uso que lhes é dado.

Em razão dos princípios da motivação, adequação e finalidade que permeiam toda a lei, as obrigações acessórias e intimações somente deverão exigir dados que sejam de estrito interesse da fiscalização. O contribuinte tem o direito de saber por que aquela informação é necessária e como será utilizada pela administração tributária.

Nos tribunais superiores, é de esperar, novamente, que o devido processo legal e a privacidade sejam prestigiados. É possível, inclusive, haver novo julgamento no STF sobre os limites do sigilo fiscal e a adequada motivação para sua quebra.

No âmbito internacional, a troca de informações entre os países pode sofrer regulamentação mais rígida. Um país somente aceitará compartilhar informações de um cidadão se souber que o outro país cuida corretamente daqueles dados. Preocupada com isso, a nova lei disciplina a troca internacional de dados nos artigos 33 e seguintes.

Portanto, se por um lado as administrações tributárias cada vez mais utilizarão o big data para desenhar sua política tributária e fiscalização, de outro, os contribuintes terão, a partir da LGPD, um forte instrumento para exigir que os seus dados sejam tratados com responsabilidade e sigilo.

Breno Kingma é sócio da área Tributária do Vieira Rezende Advogados. Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico.