Sobre a Mídia Que Queremos Comunicação Pública, Direitos Humanos & Democracia
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Sobre a mídia que queremos Comunicação Pública, Direitos Humanos & Democracia IVAN MORAES FILHO JULIANO DOMINGUES DA SILVA (org.) Projeto gráfico (miolo e capa): Flávio H. S. Santos Ilustração Capa: Java Araújo Revisão: Juliano Domingues da Silva Ficha Catalográfica Sobre a mídia que queremos Comunicação Pública, Direitos Humanos & Democracia IVAN MORAES FILHO JULIANO DOMINGUES DA SILVA (org.) Venício Lima Othon Jambeiro César Bolaño Fábio Ferreira Valério Brittos Kátia Morais Juarez Guimarães Adilson Vaz Cabral Filho Juliano Domingues da Silva Eula Dantas Taveira Cabral Ivan Moraes Filho Ricardo Viula Martín Becerra Fernando Oliveira Paulino Chalini Barros Ana Maria da Conceição Veloso Danilo Rothberg Fabíola Mendonça de Vasconcelos Laurindo Lalo Leal Filho Laís Cristine Ferreira Elen Geraldes Paulo Victor Melo Janara Sousa Olinda, 2016 Centro de Cultura Luiz Freire Sumário 9 APRESENTAÇÃO Ivan Moraes Filho Juliano Domingues PARTE I Princípios e diretrizes 15 Liberdade de Expressão, Política e Comunicação Venício Lima Juarez Guimarães 23 Democracia e Mídia Plural Juliano Domingues da Silva 49 O dever e o fazer: o papel do Estado na garantia do direito humano à comunicação Ivan Moraes Filho PARTE II Panorama Latino-americano 75 Lo público, lo estatal y lo gubernamental. Desafíos de los medios públicos en América Latina Martín Becerra 99 Comunicação Pública nos países do MERCOSUL: panorama e desafios contemporâneos Chalini Barros 117 Democracia Digital e Lei de Acesso a Informações: avanços e insuficiências em países latino-americanos Danilo Rothberg PARTE III O Brasil como problema 139 A comunicação pública no Brasil Laurindo Lalo Leal Filho 155 TV pública: uma proposta para a reestruturação da TV de massa no Brasil César Bolaño Valério Brittos 167 Perspectivas e desafios da regulação da TV Pública no Brasil Othon Jambeiro Fábio Ferreira Kátia Morais 189 Políticas de comunicação comunitária diante de processos de legitimação social por parte de grupos de mídia tradicionais no Brasil Adilson Vaz Cabral Filho Eula Dantas Taveira Cabral PARTE IV Diversidade e Transparência 209 A TV de Todos os Santos Está no Ar: o Debate Sobre Diversidade Religiosa na Empresa Brasil de Comunicação Ricardo Viula Fernando Oliveira Paulino 235 Mídia, política e religião: quando a bancada da fé usa o rádio e a televisão para violar direitos humanos no Brasil Ana Maria da Conceição Veloso Fabíola Mendonça de Vasconcelos Laís Cristine Ferreira 255 Comunicação Pública e Diversidade Étnico-racial: reflexões e propostas Paulo Victor Melo 275 Direitos Humanos e Lei de Acesso à Informação no Cenário Brasileiro Elen Geraldes Janara Sousa Ivan Moraes Filho e Juliano Domingues (org.) | 9 APRESENTAÇÃO Está no artigo 223 da Constituição Federal Brasileira: “Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”. É possível imaginar a dificuldade dos constituintes para incluir este texto na Carta Magna, em um país cujos canais de rádio e televisão estão majoritariamente concentrados em poucas empresas privadas, algumas delas com participação indiscutível no processo de ditadura civil-militar pelo qual o Brasil passou por mais de duas décadas. De fato, quase 30 anos desde a Constituição, este artigo permanece sem regulamentação. Por absoluta negligência daqueles que dão as cartas no jogo político do país, sequer há uma compreensão clara, por exemplo, da diferença entre o que seria um sistema “público” e um sistema “estatal” de comunicação. O que dizer então de “complementaridade”, essa palavra polissêmica que movimentos sociais interpretam de um jeito e mercado de outro? Como a teriam interpretado os governos em todos esses anos? Mal, possivelmente. Talvez por isso até hoje esperamos a implementação do tal “sistema público” que permitirá aos brasileiros, independente de origem, poder aquisitivo, gênero, condição social, raça/etnia, geração ou religião a possibilidade de, usando o espectro eletromagnético, comunicar-se com uma grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo. Em todo esse tempo, foram modestas as atitudes tomadas pelos poderes públicos para que este sistema de fato exista. Verdade, a criação 10 | SOBRE A MÍDIA QUE QUEREMOS: Direitos Humanos e Comunicação Pública da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), em 2007, é um marco importante – embora, com seus diretores e conselho ainda passando por indicação presidencial, seja difícil defendê-la como uma emissora de fato pública. Também foram importantes esforços de alguns governos estaduais para fortalecer a comunicação local em seus quinhões, mas por vezes bastou uma mudança de gestão para essas iniciativas desandarem. Diferente de muitos de nossos vizinhos latino-americanos – que especialmente na última década priorizaram mecanismos de regulação e fomento que privilegiaram a comunicação pública, o Brasil ainda está devendo nessa questão. Nos ambientes acadêmicos e organizações da sociedade civil, porém, a discussão nunca esteve tão fértil. Liberdade de expressão, regulação do espectro, direito à comunicação, cidadania na mídia, diversidade e, naturalmente, a própria construção do sistema público são assuntos cada vez mais estudados nos ambientes de pesquisa sobre comunicação. Prova disso é a realização desse livro, que reúne a nata dos estudiosos e estudiosas da comunicação brasileira na atualidade – com a feliz inclusão do argentino Martin Becerra, um dos formuladores da nova Ley de Medios em seu país. Dividida em quatro partes, a publicação começa debatendo os conceitos que estão em questão e elucidando o papel que os governos têm na implementação de políticas que se propõem a garantir a todas as pessoas o direito à comunicação. Na segunda parte, vemos como este tema vem sendo tratado na América Latina. Que avanços e desafios têm encontrado outros países culturalmente semelhantes (em que historicamente a mídia privada sempre foi hegemônica) para a implementação e consolidação de seus próprios sistemas de comunicação, além da disponibilização de informações públicas e/ou de interesse público? Essa é uma pergunta-chave. O Brasil está na berlinda na terceira parte, em que são negritados nossos principais problemas e em que também diversas soluções são propostas para que possamos avançar na construção desse sistema em nosso país. Consequências dos obstáculos são destaque na parte de número quatro, em que podemos ver os efeitos da concentração e da regulação baseada no mercado – na falta (e no excesso) de representação midiática de alguns segmentos da população. Ivan Moraes Filho e Juliano Domingues (org.) | 11 É fato que os artigos que compõem este livro nem sempre concordarão entre si. Nem deveriam. Como acreditamos que a comunicação pública é, por excência, o espaço em que devem ser expostas e debatidas as contradições da nossa sociedade, nada mais saudável do que um diálogo intertextual que possa fazer com que você mesmo ou mesma possa tirar suas próprias conclusões sobre que caminhos deveremos seguir. Boa Leitura! Ivan Moraes Filho & Juliano Domingues da Silva PARTE I Princípios e diretrizes Ivan Moraes Filho e Juliano Domingues (org.) | 15 LIBERDADE DE EXPRESSÃO, POLÍTICA E COMUNICAÇÃO1 VENÍCIO A. DE LIMA2 JUAREZ GUIMARÃES3 Existem seguras e convincentes razões para que a universidade brasileira reflita, discuta e pesquise o que é a liberdade de expressão e os modos de criá-la, garanti-la e promovê-la nas sociedades democráticas. Há hoje, nos planos internacional e nacional, um largo dissenso sobre se o Estado deve estabelecer regulações sobre a propriedade e os modos de funcionamento dos meios de comunicação de massa, sobre os limites e sentidos da atuação do Estado neste campo tão decisivo para a democracia. Este dissenso democrático em geral se apoia sobre diferentes tradições de entendimento do que vem a ser a liberdade de expressão. A opção por dogmatizar o conceito de liberdade de expressão, de afirmá- lo de modo unidirecional e fundamentalista, de naturalizá-lo de forma anti- pluralista revela um contrassenso absurdo. Por esta dogmática discutir a liberdade de expressão seria desde já ameaçá-la, colocá-la em risco. Como se a liberdade de expressão pudesse negar a expressão da liberdade... em discuti-la. Pelo contrário, o debate acadêmico e público sobre a liberdade de expressão só pode alentar, esclarecer e desenvolver as teorias da democracia. Se o direito ao voto universal - sem exclusões de gênero, de renda ou de 1 Uma primeira versão deste texto aparece como “Introdução” em Venício A. de Lima e Juarez Gui- marães (orgs.); Liberdade de Expressão – as várias faces de um desafio; Paulus, 2013. 2 Jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Bra- sília (UnB) (aposentado). 3 Professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 16 | SOBRE A MÍDIA QUE QUEREMOS: Direitos Humanos e Comunicação Pública escolaridade – marcou toda uma época histórica de construção da democracia, o direito à voz pública, de falar e ser ouvido, para todos os cidadãos e cidadãs parece estar no centro dos impasses e desafios das democracias contemporâneas. A relação entre política e comunicação na Modernidade se organiza na ordem dos fundamentos. É insuficiente pensá-las através de uma relação interdisciplinar entre duas áreas de estudo que contém zonas de confluência. Não se trata, pois, de pensar as relações entre política e comunicação, mas do desafio de constituir um campo de