Echtra Nerai As Aventuras De Nera
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Echtra Nerai As Aventuras de Nera Autor desconhecido. Traduzido do irlandês antigo para o inglês por Kuno Meyer. Traduzido do inglês para o português por Leonni Moura, sem fins lucrativos. Fontes primárias (manuscritos onde partes do texto são encontradas): 1. O Livro Amarelo de Lecan (Leabhar Buidhe Leacáin), página 60a, disponível na Trinity College, em Dublin, escrito por volta dos séculos XIV-XV; 2. O manuscrito MS Egerton 1782, páginas 71v-73v, disponível na British Library, em Londres, escrito por volta do século XVI; 3. O manuscrito MS 23 (Liber Flavus Fergusiorum), páginas 51rb-51va, disponível na Royal Irish Academy, em Dublin, escrito por volta do século XV. Fonte secundária (texto em inglês traduzido por Kuno Meyer): 1. MEYER, Kuno (Ed.). “The Adventures of Nera”. In: Revue Celtique, vol. 10. 1889. p. 212-228. Disponível em: <https://archive.org/stream/revueceltiqu10pari#page/212/mode/1up>. Acesso em: 27 de dez de 2019. Traduzido por Leonni Moura. Todos os direitos reservados. As Aventuras de Nera1 Echtra Nerai Em um Samhain,2 Ailill e Medb estavam em Rath Cruachan3 com toda a sua criadagem. Eles começaram a cozinhar. Dois cativos tinham sido enforcados por eles no dia anterior. Ailill então disse: “Aquele que colocar uma fita de junco ao redor do pé de um dos cativos que está na forca ganhará um prêmio à sua escolha.” Grande era a escuridão daquela noite, com os seus horrores e demônios que apareciam sempre naquela noite. Todos os homens saíram na noite para tentar amarrar a fita, mas eles voltavam rapidamente para a casa. “Eu terei o prêmio,” disse Nera, “eu irei.” “De fato você terá essa minha espada de cabo de ouro,” disse Ailill. Nera então colocou uma boa armadura e foi em direção aos cativos, colocando uma fita de junco no pé de um deles, mas por três vezes, a fita caía. O cativo então falou com ele que, a menos que uma fixação fosse colocada, ele ficaria até o dia seguinte tentando que a fita não ficaria no lugar. Nera então conseguiu prender a fita. Da forca, o cativo então falou para Nera: “Isso é realmente viril, ó Nera!” “De fato é,” disse Nera. “Pela verdade da sua honra, carregue-me em seu pescoço, para que eu possa beber contigo. Eu estava sedento quando fui enforcado.” “Venha em meu pescoço, então!” O cativo então se pendurou em seu pescoço. “Para onde devo te levar?” perguntou Nera. “Para aquela casa próxima,” respondeu o cativo. Eles então foram até aquela casa e viram algo: um lago de fogo ao redor dela. “Não há bebida para nós nessa casa,” disse o cativo. “Não há pouco fogo ali. Vamos então para aquela outra casa próxima,” disse o cativo. Eles foram até ela e viram um lago de água ao seu redor. “Não vá até aquela casa!” disse o cativo. Nunca há nela uma banheira de banho ou de lavagem, ou um balde de água cheios após a hora de dormir. “Vamos para a outra casa,” disse o cativo, “lá eu terei a minha bebida.” Nera o deitou no chão e foi até a casa. Haviam banheiras para banho e lavagem nela, de onde eles pudessem beber. Um balde de água também estava no chão da casa. O cativo então bebeu um gole de cada um deles e cuspiu o último gole de seus lábios no rosto do povo que vivia naquela casa, matando todos. A partir de então, não é bom ter uma banheira de banho ou lavagem, um fogo descuidado ou um balde de água na casa após dormir. Depois daquilo, Nera levou o cativo de volta para a forca e retornou para Cruachan. Então ele viu algo. O palácio à sua frente estava queimado e viu a pilha de 1 Esse conto também foi conhecido como Tain Bó Aigen (“O Roubo da Vaca de Aingen”), sendo assim intitulado na versão do Livro Amarelo de Lecan. (Nota de Tradução) 2 O Samhain é um festival gaélico que acontecia por volta do dia 1 de novembro e marcava o início do inverno. Acreditava-se que nesse dia, todos os portões para os Síd (as colinas ocas nas quais viviam o Povo das Fadas) se abriam. (N.T.) 3 Rath Cruachan era a fortaleza de Ailill e Medb, os reis míticos de Connaught. Localizava-se no atual sítio arqueológico de Cruachan, conhecido atualmente como Rathcroghan, um vasto local composto por fortificações, montes e cavernas que datam desde à pré-história até a Idade do Ferro irlandesa. (N.T.) Traduzido por Leonni Moura. Todos os direitos reservados. cabeças do seu povo cortadas pelos guerreiros do Sid.4 Ele seguiu as tropas até a caverna de Cruachan. 5 “Um homem vem atrás de nós!” disse o último homem da fila para Nera. “O trajeto está mais difícil,” disse seu companheiro da frente, e cada um deles passou a mensagem para seu companheiro da frente, do último homem da fila até o primeiro. Eles então chegaram ao Sid de Cruachan e entraram. As cabeças foram mostradas ao rei do Sid. “O que deve ser feito ao homem que veio com vocês?” disse um deles. “Deixe-o entrar, para que possamos falar com ele,” disse o rei. “O que te trouxe até aqui com os guerreiros do Sid?” perguntou o rei. “Eu vim acompanhando a sua tropa,” respondeu Nera. “Vá agora até aquela casa,” disse o rei. “Lá está uma mulher que te receberá. Diga a ela que foi eu quem te mandei e venha, todos os dias, até aqui com um fardo de lenha.” Nera fez conforme o rei falou. A mulher lhe deu as boas vindas e disse, “Boas vindas para você, se é o rei que te envia.” “Foi ele, verdadeiramente,” disse Nera. Todos os dias Nera levava um fardo de lenha até o palácio do rei e via um homem cego e um outro coxo, agarrado no pescoço do cego, saindo do palácio. Eles iam até um poço que ficava na frente do palácio. “É aqui?” dizia o cego. “É aqui,” dizia o coxo. “Vamos embora,” dizia o coxo. Nera então perguntou a mulher sobre isso. “Por que o homem cego e o coxo visitam o poço?” “Eles visitam a coroa, que está no poço,” disse a mulher. “que é a diadema de ouro que o rei usa em sua cabeça. E lá que ela é guardada.” “Por que são eles dois que vão?” disse Nera. “Não é difícil dizer,” respondeu ela, “pois foram eles a quem o rei confiou visitarem a coroa. Um deles foi cegado, o outro foi aleijado.” “Venha aqui um pouco,” disse Nera para sua esposa, “para que você possa explicar as minhas aventuras agora.” “O que aconteceu com você?” disse a mulher. “Não é difícil dizer,” disse Nera. “Quando eu estava vindo para esse Sid, me pareceu que o rath de Cruachan tinha sido destruído, e Ailill, Medb e toda a sua criadagem tinham morrido nele.” “Isso não é verdade,” disse a mulher, “foi uma tropa encantada que veio até você. Isso se tornará verdade, a menos que você alerte os seus amigos.” “Como avisarei os meus amigos?” perguntou Nera. “Levante-se e vá até eles,” disse ela. “Eles ainda estão em volta do mesmo caldeirão e sua comida ainda não foi tirada do fogo.” Ainda assim, pareceu a Nera que ele tinha estado no Sid por três dias e três noites. “Diga para eles ficarem de guarda no próximo Samhain, a menos que eles venham destruir esse Sid. Pois eu prometo isso: o Sid será destruído por Ailill e Medb e a coroa de Briun será levada por eles.” (Estas eram as três coisas que se encontravam no Sid: o manto de Loegaire em Armagh, a coroa de Briun em Connaught e a camisa de Dunlaing em Leinster, em Kildare.) 4 Sid é uma colina oca, dentro das quais estão as moradas encantadas do Povo das Fadas, composto majoritariamente pela Tuatha Dé Danann, após terem sido expulsos da superfície da Irlanda pelos Filhos de Míl, sendo então obrigados a viverem debaixo da terra, dentro das colinas. (N.T.) 5 O Síd de Cruachan é, aparentemente, o local conhecido atualmente como Oweynagat (“A Caverna dos Gatos”), localizada também no complexo de Cruachan, próximo ao Rath Cruachan. Traduzido por Leonni Moura. Todos os direitos reservados. “Como eles acreditarão que eu estive no Sid?” perguntou Nera. “Leve os frutos do verão contigo,” disse a mulher. Ele então levou com ele o alho selvagem, a prímula e a samambaia dourada. “Eu engravidarei de você,” disse ela, “e te darei um filho. Dê essa mensagem do Síd para seu povo: quando eles vierem destruir o Sid, que você possa tirar a sua família e o seu gado daqui.” Depois disso, Nera voltou até o seu povo, os encontrou em volta do mesmo caldeirão e contou as suas aventuras para eles. A espada foi dada a ele e Nera permaneceu com o seu povo até o final de um ano. Aquele era o mesmo ano em que Fergus mac Roich veio como um exilado da terra de Ulster até Ailill e Medb em Cruachan. “A data chegou, ó Nera,” disseram Ailill e Medb. “Levante-se e traga o seu povo e o seu gado do Sid, para que possamos destruir o lugar.” Nera então foi até a sua esposa no Sid e ela lhe deu as boas-vindas. “Saia do Sid agora,” disse a mulher para Nera, “e leve um fardo de lenha contigo. Eu estive levando o fardo em meu pescoço por um ano em seu lugar, pois disse que você esteve doente. Lá também você encontrará o seu filho.” Ele saiu de sua casa e levou um fardo de lenha em seu pescoço.