A Construção Do Arquivo Privado De Antonio Carlos Jobim
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS CURSO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS DE OLHO NA ETERNIDADE: a construção do arquivo privado de Antonio Carlos Jobim Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC – para obtenção do grau de Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais GLEISE ANDRADE CRUZ Rio de Janeiro Julho de 2008 CRUZ, Gleise Andrade. De olho na eternidade: a construção do arquivo privado de Antonio Carlos Jobim. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2008. 133 p. : il Dissertação (Mestrado Profissionalizante), Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2008. Orientadora: Profª Drª Angela de Castro Gomes 1. Arquivos pessoais 2. Tom Jobim 3. Antonio Carlos Jobim – Biografia 4. Brasil – História. CDD 927 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA – CPDOC CURSO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS DE OLHO NA ETERNIDADE: a construção do arquivo privado de Antonio Carlos Jobim Trabalho de conclusão de curso apresentado por GLEISE ANDRADE CRUZ E APROVADO EM ____________________ PELA BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Profª Drª ANGELA DE CASTRO GOMES (Orientadora) ____________________________________________ Profª Drª MARIETA FERREIRA ____________________________________________ Profª Drª REBECA GONTIJO ____________________________________________ Profª Drª LETÍCIA NEDEL (Suplente) 2 Resumo: O arquivo de Antonio Carlos Jobim, assim como todo arquivo pessoal, foi colecionado e mantido para satisfazer o desejo de um homem que sempre se preocupou com sua imagem. Este trabalho demonstra a história da construção e organização desse acervo, além de fortalecer a hipótese de que o arquivo, em sua integridade, configura-se como uma escrita autobiográfica. Abordo a organização arquivística do fundo Antonio Carlos Jobim, dentro do Instituto que leva seu nome, e dou ênfase na subsérie Cadernos de anotações, da série Produção Intelectual do Titular. Esses cadernos são um tipo de documento singular, quer pelo uso que deles fazia o maestro, quer pela sua prática memorial. O estudo destas fontes primárias nos permite inferir a imagem construída pelo próprio titular, e também evidencia o plano dos guardiões dessa memória em perpetuá-la: Jobim decidiu manter um arquivo pessoal com o claro propósito de preservar sua obra e projetá-la para o futuro. Esse cuidado foi transmitido para seus herdeiros, que além das obras musicais, cuidam, hoje, de seu legado arquivístico dentro do Instituto Antonio Carlos Jobim. Abstract: Antonio Carlos Jobim archive as well as his personal archive was collected and arranged to fulfill the desire of a man concerned with his image. This work reveals the history underneath the organization of his private documents. Also, it presents proofs of an autobiographical intent. I approach the construction of Jobim archives at Instituto Antonio Carlos Jobim and I emphasize the sub series Caderno de Anotações —Notebooks— in the serie Produção Intelectual do Titular; those notebooks can be considered unique documents and they are an important evidence of his daily use and memorial practice. The study of primary sources of this nature allows us to infer the image constructed by Jobim as well as the plans of the guardians of his legacy. The maintenance of his personal and musical archive highlights the composer's purpose of preserving his works to future generations. Jobim´s musical and personal archives are under his family responsibility at Instituto Antonio Carlos Jobim in Rio de Janeiro. 3 AGRADECIMENTOS À força que me move em direção ao aprimoramento: seja Deus, seja Ele em mim, seja apenas eu. Por ela, me dispus contra toda a adversidade por que passei no processo de confecção dessa dissertação. Mas, por conta disso também, acredito que estou melhor hoje do que antes, melhor preparada para o mercado de trabalho, mais determinada — e mais cansada! À minha orientadora, Professora Doutora Angela de Castro Gomes, que num primeiro momento pensei austera e rígida, para logo depois descobrir uma pesquisadora tão preocupada quanto eu e extremamente inteligente e coerente. Confesso que, em muitos momentos de fraqueza, pensei nela como modelo e percebi minha admiração crescente. Aos amigos da turma do Mestrado do Cpdoc de 2006. Sempre seremos a melhor turma do programa: muito unidos, embora muito ocupados, muito amigos, embora agora afastados. Vocês deram a ajuda e o apoio que meu trabalho precisava. Ao meu filho, João Pedro Cruz Serpa, para quem tento ser exemplo, mãe, amiga e professora. Ele não entendeu ou mesmo percebeu minhas aflições, mas sempre chegava com uma palavra de carinho enquanto eu estudava e escrevia: “Ah, mãe, deixa eu jogar?” Ao meu marido, Pedro da Costa Pereira, que nunca me deixou desanimar e nunca esmoreceu seu amor por mim, até quando nem eu mesma me aturava. Aos queridos amigos do Instituto Antonio Carlos e da Jobim Music, sem os quais não teria chegado ao fim: Paulinho Jobim, Eliane Vasconcellos, Gabriel Caymmi, Clay Protasio, Clarice e Isabel Nicioli, Bernardo Krivochein, Patricia Helena Fuentes, Patricia Lima, Jacqueline Barbosa, Avelina Oliveira, Christina Costa, Dona Luiza e Suria Braga Alves. Especialmente, aos entrevistados Vera de Alencar, Ana Jobim e Thereza Hermanny. Muito obrigada também a toda a família Jobim. 4 Toda vez que uma árvore é cortada aqui na Terra, eu acredito que ela cresça outra vez em outro lugar — em algum outro mundo. Então, quando eu morrer, este é o lugar para onde quero ir: onde as florestas vivam em paz. TOM JOBIM (JOBIM, A CASA DE TOM, 2007) “Não sou imortal, sou altamente mortal.” Tom Jobim (Acervo ACJ, E14) 5 ÍNDICE Introdução, p. 9 Capítulo 1: Tom Jobim, compositor de si mesmo, p. 18 1.1 Biografias e autobiografias: um preâmbulo, p. 19 1.2 Um Brasil Bossa Nova, p. 22 1.3 Conceituação de Cultura popular, p. 25 1.3.1 O popular massificado, p. 27 1.4 Uma História Biográfica de Tom Jobim, p. 30 1.4.1 Os primeiros anos de uma vida, p. 30 1.4.2 Ainda os primeiros: casamento, emprego..., p. 31 1.4.3 Compositor de si mesmo, p. 33 1.4.4 Alguns encontros importantes, p. 38 1.5 A criação da Bossa Nova, p. 45 1.5.1 Tom e a Bossa Nova, p. 49 1.6 Últimos tempos, p. 51 Capítulo 2: O arquivo Tom Jobim, sua maior composição, p. 54 2.1 Os guardiões da memória, p. 54 2.2 A criação de uma instituição: o Instituto Antonio Carlos Jobim, p. 58 2.3 Considerações sobre Arquivos e Arquivos pessoais, p. 61 2.3.1 Acumulação e Avaliação, p. 67 6 2.3.2 Classificação e Descrição, p. 69 2.4 O acervo de Tom Jobim, p. 70 2.4.1 Higienização, p. 72 2.4.2 Digitalização, p. 73 2.4.3 Divulgação e acesso, p. 74 2.4.4 Descrição e indexação, p. 76 2.5 Entendendo o arquivo, p. 81 Capítulo 3: Cadernos para lembrar Tom – lembranças dele, com ele e para ele, p. 87 3.1 Conhecendo os cadernos, p. 91 3.2 Observando com mais atenção, p. 99 3.3 Refúgios do eu, p. 103 3.4 As casas de Tom, p. 108 Conclusão, p. 115 Anexo A – Plano de arranjo do arquivo, p. 117 Anexo B – Planilha dos Documentos Textuais do Instituto Antonio Carlos Jobim, p. 118 Anexo C – Poema “Chapadão”, p. 119 Anexo D – Artigo de Tom Jobim sobre a expansão do mercado fonográfico, Pi1093, p. 124 Bibliografia, p. 125 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS Figura1 – Primeira correspondência de Frank Sinatra a Tom Jobim, Cp489 Figura 2 – Primeiro esboço para “Garota de Ipanema”. Pi 1216 p. 54 Figura 3 – Foto da bagunça sobre o piano de Tom Jobim, p64f05 Figura 4 – Percentual das tipologias encontradas nos 32 cadernos Figura 5 – Vários tipos documentais numa mesma página. Caderno 4, Pi 1423 p. 3 Figura 6 – Lista de temas para o filme Crônica da casa assassinada. Caderno 25, Pi 1180 p. 4 Figura 7 – Lista de lembretes para o próprio titular. Pi1160 p.29 Figura 8 – Lista de consertos necessários no carro. Caderno 25, Pi 1180 p. 14 Figura 9 – Lista de acessórios para levar em caçada. Caderno 28, Pi 1158 p. 12 Figura 10 – Esboço para a construção da casa na rua Sara Vilela. Pi 1095 p. 20 Figura 11 – Esboço para a construção da casa na rua Sara Vilela. Pi 1247 p. 49 Tabela 1: Descrição dos 32 cadernos 8 INTRODUÇÃO Durante a faculdade de Arquivologia, tive oportunidade de conhecer as idades dos arquivos e me aproximar do estudo e prática em arquivos permanentes1. Além da predisposição pessoal para lidar com esse tipo de acervo, os programas de estágios (extremamente necessários, em todos os sentidos) me foram conduzindo para esse campo. Após trabalhar em várias instituições de guarda de acervos, como Fundação Casa de Rui Barbosa, Biblioteca Nacional e Academia Brasileira de Letras, iniciei o trabalho de organização do acervo pessoal de Tom Jobim, junto à equipe do Instituto Antonio Carlos Jobim, em 2002. Tive outras experiências em arquivos; como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Vinicius de Moraes, Helio Pelegrino, Antonio Salles ou Miguel Paiva. Contudo, nenhuma foi tão agradável no conjunto, com a do arquivo de Tom Jobim. Até porque, a produção artística de Tom arrebatou a admiração de uma multidão de fãs em todo o mundo, colaborando para colocar a música brasileira no hall of fame dos Estados Unidos e, de lá, para ser reconhecida em outros circuitos internacionais. A trajetória de Tom sempre vai passar pela sua grandiosidade como letrista e sua genialidade como compositor. Mas seu arquivo pessoal chama a atenção justamente por permitir acesso ao lado mais íntimo do maestro. Seus documentos revelam o perfil de um homem simples, que conversava com os passarinhos e “visitava” árvores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; que andava de chinelos na rua; que foi pai-avô completamente apaixonado pela família, e que defendia ferrenhamente os amigos, mesmo em público.