10 ANOS um balanço da primeira década e perspectivas para o futuro

Quadrinhos e TV O CINEMA DIGITAL Mauricio DurÁn, VP da inspiram filmes da EM 20 PERGUNTAS Universal, fala sobre alta temporada E RESPOSTAS o mercado brasileiro 2 EDITORIAL SER OU NÃO SER DIGITAL Paulo Sérgio Almeida GLOBO FILMES 06 Com dez anos de implantação no Brasil, o multiplex avançou bastante, mas ainda não terminou sua esca- Co-produtora de nove dos dez filmes mais vistos lada na infra-estrutura cinematográfica do país. Salas da retomada – entre eles a comédia Se eu fosse novas são abertas com velhos ou novos conceitos você (foto) –, a Globo Filmes completa dez anos e (vips, 3D), exibidores deslocam-se para o interior fu- anuncia metas para o futuro gindo da competição, vendem imóveis em busca de capital para novos investimentos e, principalmente, disputam espectadores a tapa nas cidades e bairros ENTREVISTA mais concorridos, fazendo políticas de preços de in- gresso ou de produtos de bombonière. Estamos na Mauricio Durán, VP da Universal para a América guerra? Não, isto é o chamado mercado. 14 Latina, analisa as semelhanças e diferenças entre Existe ainda espaço para abertura de novas salas e os mercados brasileiro e mexicano também muitas possibilidades de fechamento de ou- tras. Deveremos viver este (in)certo equilíbrio nos próximos anos. Mas existe um fato novo – não um TEMPORADA DE simples conceito como o multiplex, mas uma nova BLOCKBUSTERS tecnologia que deverá recolocar o produto “sala de cinema” em outros padrões, e tornar os modelos Personagens de histórias em de negócio mais complexos: é o cinema digital, que 18 quadrinhos como O incrível Hulk começa a se estabelecer definitivamente nos Estados (foto), adaptações de séries de Unidos e promete chegar em breve ao Brasil. TV e a volta de Indiana Jones são Se antes o problema era ser ou não ser multiplex (e alguns dos destaques entre os lançamentos da alta temporada vejam a transformação que tivemos no mercado!), agora a equação é ser ou não ser digital, seja nos padrões de Hollywood (2K), ou nos padrões alter- CINEMA DIGITAL nativos (1.3K). Caso o exibidor escolha a primeira opção, as próximas perguntas que ele se coloca são: Conheça os detalhes do maior desafio da indústria cinematográfica dos últimos anos: a substituição dos quando e como? Afinal, para que lado eu vou? 26 tradicionais projetores 35 milímetros por equipamentos É claro que tudo isso não acontecerá da noite para de projeção digital o dia, mas sabemos que esta é a nova equação do mercado até que a última cópia em 35mm deixe de circular pelos cinemas. O resto são detalhes, custos, FATOS E NÚMEROS DO MERCADO aval, financiamento, ou seja, contas e mais contas. Enquanto os custos da implantação já são mais ou Um resumo dos números e de notícias marcantes do mercado de cinema em 2007 32 menos conhecidos, os benefícios ainda estão no futuro. Neste novo cenário, a Ancine e o BNDES terão importância fundamental para que seja disponi- bilizada uma isonomia competitiva para todos. EXPEDIENTE www.filmeb.com.br Lembrem-se que a opção do DVD já foi feita em função da qualidade (Blue-Ray) e que a televisão Diretor: Paulo Sérgio Almeida Editor: Pedro Butcher Editor-assistente: digital já é uma realidade. Só falta agora o cinema, João Cândido Zacharias Redatores: Alice Gomes e João Cândido Zacharias Estagiária: Barbara Adams Comunicação e marketing: Denise do Egito que vive uma grande oscilação de público em mui- Projeto gráfico: Cardume Design Diagramação: Ana Soares Projeto tos países, inclusive no Brasil, definir qual será o seu gráfico original: Espaço/Z Pesquisa: Elizabeth Ribeiro Revisão: Cristina momento de opção pelo digital. Isso dependerá da de Castro Gráfica: Ediouro decisão de cada exibidor.

3 4 5 capa Wagner Moura e Letícia Sabatella em Romance, de Guel Arraes, co-produção da Globo Filmes que chega aos cinemas em junho

UMA DÉCADA DE divulgação GLOBO FILMES

Por Pedro Butcher, João Cândido Zacharias, Alice Gomes e Barbara Adams

estréia de Simão, o fantasma los Diegues, diretor de , uma das cipal vantagem de ter a Globo Filmes trapalhão, no dia 1º de de- primeiras co-produções da companhia, como sócia está na troca de idéias com A zembro de 1998, seria apenas lançada em abril de 1999. seus diretores criativos, assim como na mais um lançamento de uma comédia Dez anos depois, a Globo Filmes mostra colocação do filme junto à mídia. Em de Renato Aragão, se não fosse por sua força no ranking dos filmes brasileiros um país continental como o Brasil, ape- um pequeno detalhe: o filme marcou a mais vistos na última década: entre os nas uma rede de TV aberta pode dar entrada em cena da Globo Filmes, divi- dez primeiros colocados, nada menos a visibilidade necessária para se chegar são da maior rede de TV aberta do país que nove trazem o selo da companhia, ao público”, conta Walkíria Barbosa, da voltada para a co-produção de longas- incluindo obras de perfis tão diferentes Total Entertainment, que, com a Globo metragens brasileiros. quanto Dois filhos de Francisco, de Breno Filmes, emplacou sucessos como Se eu No contexto da ‘retomada’, o surgi- Silveira, Carandiru, de Hector Babenco, fosse você e Sexo, amor e traição. mento da Globo Filmes transformou o Se eu fosse você, de Daniel Filho, Lisbela Para Marco Aurélio Marcondes, que par- panorama do mercado ao criar as con- e o prisioneiro, de Guel Arraes, e Cidade ticipou da implantação da Globo Filmes dições necessárias para a emergência do de Deus, de Fernando Meirelles – todos ao lado de Daniel Filho e Tom Flórido, novo “blockbuster” nacional. “A Globo fenômenos de público. a companhia tem um papel fundamen- Filmes deu mais visibilidade à produção Esta década de atuação consolidou um tal na criação de um ciclo mais longo do brasileira e tornou-a mais atraente para modelo cuidadosamente estudado, que que outras etapas do cinema brasileiro. um público que, antes da retomada, an- se baseia, principalmente, em parcerias “A Globo Filmes veio se inserir em um dava arredio a nossos filmes”, diz Car- com produtoras independentes. “A prin- processo que começou com uma polí-

6 tica continuada de leis de incentivo, cujo baram mudando o rumo de um filme: O sucesso das co-produções da Glo- primeiro resultado prático foi Carlota um palpite de roteiro, a escalação do bo Filmes atingiu seu ápice nos anos de Joaquina. A partir daí, a legislação só fez elenco, ou mesmo o corte de uma cena 2003 e 2004, quando um conjunto de se aperfeiçoar. Essa continuidade e esse que possa ser a diferença entre o filme títulos conseguiu resultados excepcio- aprimoramento também só são possíveis “miúra” e o “blockbuster”. “Em uma das nais. Em 2003, especialmente, o market com a estabilidade da moeda”, diz Marco cenas mais marcantes de Cidade de share do filme nacional chegou ao im- Aurélio, que, em 2006 e 2007, quando Deus, um traficante obriga uma criança pressionante índice de 21,4%. Desde ainda era sócio da Europa Filmes, partici- a atirar em outra. Pois bem: no primeiro 2005, porém, o mercado de cinema no pou da produção e do lançamento de A corte do filme, a cena continuava, com a Brasil como um todo apresentou queda, grande família – O filme e Casseta e Pla- criança assassinada pelo traficante, com e o market share voltou ao índice médio neta – Seus problemas acabaram. um tiro nas costas. Daniel Filho conver- de 11%. O objetivo, agora, é retomar A cada mês, dezenas de projetos chegam sou com Fernando Meirelles e ele con- índices mais robustos de participação à mesa de Carlos Eduardo Rodrigues – o cordou que a cena passava do ponto”, no mercado para o filme nacional – de- executivo que há seis anos comanda a conta Rodrigues. safio que terão pela frente as próximas Globo Filmes –, e outros tantos come- Gisélia Martins, diretora de marketing, co-produções da Globo Filmes a chegar çam a ser desenvolvidos ali mesmo. De- na empresa desde sua criação, lembra no circuito: Era uma vez, de Breno Sil- pois de serem peneirados e analisados do processo de escalação do ator que veira, Romance, de Guel Arraes, e 174, por um conselho, os projetos aprovados faria o personagem título de Cazuza - O de Bruno Barreto, entre tantos outros. serão desenvolvidos com a supervisão tempo não pára, de Sandra Werneck e Na entrevista a seguir, Carlos Eduardo de um dos diretores artísticos da compa- Walter Carvalho, – que se tornaria um Rodrigues faz um balanço da primeira nhia, Daniel Filho ou Guel Arraes. É a ex- dos campeões de público de 2004. “Fi- década de atuação da Globo Filmes e periência deles, na opinião de Rodrigues, zemos uma campanha e chegaram mais aponta os desafios para o futuro da com- que faz toda a diferença: “É um privilégio de mil vídeos. Já estávamos praticamente panhia: “Resgatar o público para o filme contar com dois profissionais com tanta fechados em torno do nome de um ator brasileiro, ter uma presença institucional experiência e que entendem a visão do quando apareceu o vídeo do Daniel Oli- mais marcante e lançar um vetor de in- público brasileiro”. veira, que impressionou todo mundo e ternacionalização, participando de pelo São muitas as histórias de decisões, às foi um dos responsáveis pelo sucesso do menos uma co-produção internacional vezes em torno de detalhes, que aca- filme”, conta. por ano”.

“A Globo Filmes mudou o paradigma de mercado e o patamar dos filmes nacionais, sobretudo em termos de marketing e visibilidade. Era uma vez..., de Breno Filmes que têm a participação da Globo Filmes são disputados Silveira, é o novo filme do pelas distribuidoras, sejam majors ou independentes. Claro que diretor de Dois filhos de

Francisco Jr Pereira Vantoen não é infalível, mas os títulos de sucesso vão muito mais longe quando a Globo Filmes é co-produtora”.

LEONARDO MONTEIRO DE BARROS Produtor

“A atuação da Globo Filmes não se resume à veiculação de mídia pura e simplesmente, como muitos pensam. Ela é uma verdadeira e criativa co-produtora, participando do desenvolvimento do Meu nome não é Johnny, roteiro e da formulação do marketing. No caso de Meu nome não de Mauro Lima: dois é Johnny, fizemos cerca de 14 tratamentos do roteiro, com leituras milhões de espectadores que nos ajudavam a identificar problemas. Em todo esse processo, eles estavam presentes. Depois, quando fizemos o cartaz, também preparamos cerca de 15 versões até chegarmos à final”.

MARIZA LEÃO Produtora Ricardo Gama

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ENTREVISTA Giuliano Guglielmi CARLOS EDUARDO RODRIGUES

FASES certo. Os números estão aí, todo mun- com atuação no desenvolvimento do do conhece. Eu chamaria essa de uma filme. Queremos ser parceiros nos ati- “Nesses dez anos, a Globo Filmes pas- segunda fase da Globo Filmes, que foi a vos importantes de um projeto: um bom sou por três fases. A primeira foi um colheita do que havíamos plantado”. planejamento, um bom roteiro, uma aprendizado, que compreendeu um en- boa escolha de elenco, uma qualidade tendimento de como funcionavam as di- POLÍTICA de produção e filmagem diferenciada, nâmicas do mercado. De 1998 a 2002, “A partir de 2005, entramos em uma ter- uma montagem cuidadosa, e uma estra- trabalhamos de dois a três filmes por ceira fase, que chamo de consolidação do tégia de lançamento pensada com ante- ano e nos aproximamos de parceiros já modelo inicial. Já sabíamos que havia um cedência, usando todas as ferramentas ligados à Globo, como e Renato mercado, que era possível trabalhar com de divulgação que a gente tem. É uma Aragão. Nessa época, vieram também uma quantidade razoável de filmes por proposta ambiciosa, não estamos só tro- os primeiros projetos do núcleo do Guel ano (entre oito e dez) e, sobretudo, que cando mídia por participação no filme”. Arraes, o primeiro filme de Daniel Filho era interessante continuarmos buscando para a Globo Filmes (A partilha), e come- temáticas e estilos variados, mantendo o DANIEL FILHO çamos a exercitar parcerias com produ- máximo possível de diversidade de pro- E GUEL ARRAES toras independentes com Orfeu, Bossa dutoras e diretores. Mas, nessa terceira “O papel de Daniel Filho e de Guel Ar- Nova e Cidade de Deus, que representou fase, o ambiente político do cinema bra- raes é fazer o acompanhamento artístico um momento de virada para nós. Além sileiro passou a tomar um vulto maior. dos filmes, tentando contribuir para que de ter mostrado que a parceria cinema- Parecia mais importante discutir políticas o projeto tenha o melhor roteiro possí- tv era viável em todos os sentidos, o para um futuro distante do que continuar vel, o melhor elenco... A gente não se filme revelou que podíamos atingir o desenvolvendo projetos que pudessem envolve nas filmagens. Daniel e Guel grande público com temáticas diferentes atrair o público. Nesse período, não têm estilos diferentes. Ambos assistem daquelas ligadas às grandes comédias e conseguimos formar uma grade com o aos copiões e dão orientações a partir aos talentos televisivos”. mesmo perfil da que montamos nos pri- do que viram e acompanham também o meiros anos. Hoje, temos um leque de processo de montagem. Mas não temos ANOS DOURADOS filmes bastante grande, mas voltamos a o corte final. Respeitamos a visão do di- “Durante a primeira fase da Globo Fil- um patamar anterior. É preciso repensar retor, ela é soberana”. mes, montamos uma carteira de gran- o que fazer para reconquistar o público des projetos, desenvolvidos praticamen- e manter uma participação de mercado AÇÃO INSTITUCIONAL te desde o começo da empresa, e que mais sólida para o filme brasileiro”. “Além da co-produção, a Globo Filmes estrearam ao longo de 2003 e de 2005: também desenvolveu ações institucio- Olga, Cazuza, Os normais, Lisbela e o CO-PRODUÇÃO nais para fomentar e disseminar o cine- prisioneiro, A dona da história, além dos “A Globo Filmes ainda não é bem com- ma brasileiro. Destaco algumas ações do filmes de Renato e Xuxa e de projetos preendida no mercado. Apesar desses jornalismo da Globo, como o quadro que abraçamos, como Deus é brasileiro dez anos de atividade, muita gente ain- “Cena mágica” e as matérias sobre docu- e Maria – Mãe do filho de Deus. São fil- da se pergunta se é uma distribuidora, mentaristas no Fantástico, a implantação mes com temáticas diversas, trabalhan- uma co-distribuidora ou uma agência de do Intercine Brasil e, mais recentemen- do simultaneamente com produtores e divulgação. Pouca gente entende que a te, a publicação da “Página do Cinema”, diretores diferentes, o que deu muito nossa proposta é ser um co-produtor no Rio e em São Paulo. Fazemos um es-

8 “Como um braço de comunicação da TV Globo, a Globo Filmes tem sido Cidade de Deus, de crucial para a retomada nos últimos Fernando Meirelles dez anos. A promoção junto à TV tem ajudado filmes com grande potencial popular a obter rendas nunca antes alcançadas. O cross media, quando feito de forma inteligente, é muito importante. Estar presente em uma novela, em um programa de alto teor informativo como o Fantástico ou

divulgação ter seus atores contando histórias no Faustão é mais importante do que forço de falar sobre o cinema brasileiro PESQUISA as chamadas comerciais na TV. Ver como um todo, e não só dos filmes da um personagem comendo cachorro- “Entre o fim de 2006 e o fim de 2007 re- Globo Filmes, e devemos incrementar quente dá mais vontade de comer alizamos uma pesquisa nas regiões metro- essas ações nos próximos anos. cachorro-quente do que um comercial politanas do Rio e de São Paulo, com um de cachorro-quente”. APOIO universo de 1,3 mil pessoas. No ranking que discriminava onde as pessoas buscam “Nessa mesma esteira, criamos uma HECTOR BABENCO informação para ver os filmes, a TV aberta forma de apoio para filmes prontos que Diretor aparece em primeiro lugar e, em segundo já tivessem distribuidora definida, e que – o que me surpreendeu –, a indicação de acreditávamos ter um bom potencial para amigos. Fenômenos como Tropa de elite, “O selo da Globo Filmes é importante alcançar o patamar de um filme médio. Cidade de Deus e Meu nome não é Johnny para valorizar a produção junto a Imaginamos que, dentro do universo dos geraram zum zum zum muito antes de potenciais investidores. Uma espécie filmes que fazem menos de 200 mil es- serem lançados, criando uma expectativa de selo de garantia, não só da qualidade pectadores, poderíamos selecionar alguns acima do normal – e isso, de certa forma, do filme como também de seu possível e aumentar seu público, com a visibilidade é exatamente aquilo que o filme america- alcance de público. Mas é claro que o da Globo. O que tiramos dessa experiên- no já tem, porque vem com um marke- sucesso de um filme depende, antes de cia é que a televisão aberta é uma forte ting mundial. A mesma pesquisa apontou tudo, do próprio filme. Ninguém jamais alavanca para o filme com potencial abran- que metade do público que vai ao cinema conseguirá fazer o público ver um filme gente, mas, quanto mais segmentado e no Brasil tem menos de 22 anos e que que ele não deseja ver. Mas, quando cai autoral for o filme, menos eficaz é o uso seus gêneros preferidos são aventura, no gosto do público, o cross media ajuda da mídia de massa. Nesse caso, você tem ação e comédia. Por incrível que pareça, a fazer crescer essa corrida à bilheteria”. que procurar canais segmentados. Hoje o cinema brasileiro não produz comédias temos certeza de que, com a experiência com regularidade. Normalmente, quando CARLOS DIEGUES de quase 70 co-produções e mais de 40 acerta a mão, os números são bons. Co- Diretor apoios, o principal é o filme. Não há mi- meçando com Carlota Joaquina, mas tam- lagre: para todas as co-produções, temos bém O auto da Compadecida, Os normais, praticamente o mesmo volume de divul- “Tive o prazer de trabalhar com Daniel Lisbela e o prisioneiro, Sexo, amor e traição, gação, mas, com as mesmas ferramentas, Filho e Tom Flórido nos primeiros anos da Se eu fosse você, etc. Não existe fórmula, alguns filmes dão 50 mil espectadores e Globo Filmes. Fizemos os dois primeiros mas seria importantíssimo ter pelo menos outros dão cinco milhões”. filmes – Simão, o fantasma trapalhão e uma comédia forte por ano”. Zoando na TV – com dinheiro de risco da distribuidora associada, a Sony. Saí porque naquele momento não havia definição “A Globo Filmes participa de todo o processo, desde a concepção. se existiria uma distribuidora lá dentro. No caso de Sexo, amor e traição, a atuação deles na escolha e no Anos depois, na Europa Filmes, fizemos fechamento do elenco foi fundamental. É muito importante trocar uma bem-sucedida operação de risco idéias, o cinema não é uma indústria de um homem só. O olhar do com A grande família e Seus problemas Daniel Filho é muito importante porque traz uma experiência de acabaram. Hoje, a Globo Filmes é um 30 anos em televisão, cinema e teatro”. player muito importante no audiovisual latino-americano, com uma expressão WALKÍRIA BARBOSA internacional”. Produtora MARCO AURÉLIO MARCONDES Distribuidor 9 capa

IMAGEM “O mais dolorido dessa pesquisa que fize- mos é que quando perguntamos qual é o melhor cinema do mundo, as respostas foram sempre ‘o cinema de Hollywood’. Olga, de Jayme Monjardim

O resultado apontou que a opinião do divulgação público sobre o cinema brasileiro evoluiu bastante nos últimos anos, mas ainda con- tinua considerando-o excessivamente fo- cado em dramas sociais, quando a grande maioria dessas pessoas pesquisadas en- xerga o cinema como o local para você fugir da realidade e se emocionar (não necessariamente só se divertir). Carandi- ru, Cidade de Deus e Tropa de elite pode- preparação do lançamento, notamos a gente não consegue botar na balança es- riam ser considerados exceções, mas, na oportunidade de explorar o fato de que sas ponderações, pois é muito difícil falar verdade, vejo Cidade e Tropa como filmes os jovens conheciam as músicas do Ca- para alguém que seu filme não ficou do de ação, com o ingrediente de terem sido zuza, mas não conheciam o Cazuza, e jeito que a gente imaginava. Ainda temos baseados em fatos reais”. resolvemos direcionar a campanha para muito o que aprender. Pelo perfil eco- o lado musical. No fim das contas, foram nômico da atividade cinematográfica no DATAS dois sucessos de públicos diferentes”. Brasil, o produtor tem que se remunerar “Quando entrei na Globo Filmes, havia na produção, então ele está muito pre- alguns paradigmas intocáveis: não lançar MODELOS ocupado em filmar. Vemos dezenas de filmes na volta às aulas, não lançar filme na “O modelo de parceria está solidificado. filmes que são lançados e passam des- terceira semana do mês porque está todo Nessa nova fase da Globo Filmes, a prio- percebidos. Também sofremos com o mundo sem dinheiro. Até que nós acerta- ridade continuará sendo a associação despreparo para fazer um lançamento mos o posicionamento de Cidade de Deus, com distribuidores independentes, em adequado – em muitos casos, não há que estreou na terceira semana de agosto. que temos uma participação minoritária disponibilidade de material com a ante- Depois repetimos com Olga, Lisbela, Dois em termos de equity. Estamos revendo cedência necessária”. filhos de Francisco, e essa virou uma data o modelo de apoio usando formatos cobiçada. Quando você olha o quadro de mais flexíveis. Para os apoios, tínhamos FUTURO lançamentos da concorrência estrangeira, um contrato financeiramente parecido “No lado das co-produções, o que vem esse é o período da baixa temporada. A com o da co-produção, mas estamos pela frente é um rigor maior em relação gente aproveitou um momento de fragili- flexibilizando as contrapartidas exigidas, ao que vínhamos praticando na escolha dade do cinema estrangeiro, e deu certo”. já que o desempenho não tem atingido de roteiros e de filmes. Não devemos os patamares imaginados”. reverter esse formato – o projeto vir de CAZUZA E OLGA fora para dentro –, mas queremos resga- “Tínhamos dois filmes prontos mais ou ERROS tar uma segurança para que a gente possa menos na mesma época: Cazuza e Olga. “A máxima de que peças bem sucedidas apostar toda nossa energia nos filmes com Achávamos que Cazuza tinha um pú- no teatro são passaporte certo para o potencial de público e qualidade diferen- blico específico, focado na geração do sucesso no cinema não se confirmou. ciada. Uma outra vertente é ter dentro Cazuza, e que deveria girar em torno Tivemos muito mais experiências de da nossa carteira de filmes pelo menos de um milhão de espectadores. Olga performances abaixo do esperado nesse uma co-produção internacional por ano, era mais complicado, precisávamos de campo do que nos outros gêneros. Ou- e também teremos mais regularidade mais tempo para construir a imagem do tro erro que cometemos algumas vezes como co-produtores de documentário filme. Então fizemos uma opção de co- foi termos sido pouco rigorosos com a e animação. Um dos projetos já certos é mum acordo com os distribuidores: an- questão do tamanho do lançamento de Minhocas, animação em stop motion que tecipamos o lançamento de Cazuza, da alguns filmes. Volta e meia caímos nessa deve ser lançado em 2010. Por fim, va- Sony, para junho e marcamos Olga, da armadilha: percebemos que o filme tem mos buscar mais oportunidades de exibir Lumière, para agosto. Cazuza entrou na um escopo mais limitado, mas cedemos mais cinema brasileiro na TV Globo, in- fogueira: estreou no meio de um mon- à pressão do diretor ou do produtor para cluindo todos os formatos: longa de fic- te de blockbusters americanos. Mas, na aumentar o lançamento. Muitas vezes a ção, animação e documentário”.

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Ranking da retomada (por renda)

título distrib. lançam. maior renda total público total nº de salas 1 DOIS FILHOS DE FRANCISCO SONY 2005 329 36,728,278.00 5,319,677 GloboFilmes 2 CARANDIRU SONY 2003 298 29,623,481.00 4,693,853 GloboFilmes 3 SE EU FOSSE VOCÊ FOX 2006 197 28,916,137.00 3,644,956 GloboFilmes 4 CAZUZA: O TEMPO NÃO PÁRA SONY 2004 292 21,230,606.00 3,082,522 GloboFilmes 5 TROPA DE ELITE UNIVERSAL 2007 321 20,395,447.00 2,417,754 6 OLGA LUMIÈRE 2004 339 20,375,397.00 3,078,030 GloboFilmes 7 LISBELA E O PRISIONEIRO FOX 2003 245 19,915,933.00 3,174,643 GloboFilmes 8 OS NORMAIS LUMIÈRE 2003 249 19,874,866.00 2,996,467 GloboFilmes 9 CIDADE DE DEUS LUMIÈRE 2002 176 19,066,087.00 3,370,871 GloboFilmes 10 MEU NOME NÃO É JOHNNY* DOWNT/SONY 2008 189 18,087,232.00 2,069,278 GloboFilmes 11 SEXO, AMOR E TRAIÇÃO FOX 2004 157 15,775,132.00 2,219,423 GloboFilmes 12 A GRANDE FAMÍLIA - O FILME EUROPA/MAM 2007 262 15,482,240.00 2,035,576 GloboFilmes 13 MARIA: A MÃE DO FILHO... SONY 2003 303 12,842,085.00 2,332,873 GloboFilmes 14 WARNER 2001 311 11,691,200.00 2,657,091 GloboFilmes 15 WARNER 2003 307 11,677,129.00 2,214,481 GloboFilmes 16 O AUTO DA COMPADECIDA SONY 2000 199 11,496,994.00 2,157,166 GloboFilmes 17 XUXA E OS DUENDES 2 WARNER 2002 303 11,485,979.00 2,301,152 GloboFilmes 18 DEUS É BRASILEIRO SONY 2003 162 10,655,438.00 1,635,212 GloboFilmes 19 WARNER 2000 304 9,625,191.00 2,394,326 20 A DONA DA HISTÓRIA BUENA VISTA 2004 260 9,025,423.00 1,271,415 GloboFilmes

* renda até 30/03/2008 Fonte: SDRJ/Distribuidoras “Minha relação com a Globo Filmes foi e é fundamental no caminho que escolhi, que é distribuir Retomada - Top 50 | Market share Globo Filmes exclusivamente filmes brasileiros. Com a Globo Filmes, vivi as mais bem sucedidas historias de distribuição. 15% Enquanto sócio da Lumière, tivemos a oportunidade de trabalhar juntos em três filmes que estão entre as dez maiores bilheterias do cinema brasileiro: Cidade de Deus, Olga e Os normais. Já na Downtown, trabalhamos juntos no Meu nome não é Johnny, que já ultrapassou globo filmes os dois milhões de ingressos. Estes quatro filmes somados venderam mais de 11 milhões de ingressos. outros Quanto mais houver a participação dos agentes de mercado envolvidos no desenvolvimento do projeto, maior a possibilidade deste ser bem sucedido”. 85% BRUNO WAINER Distribuidor

“A importância da Globo Filmes pode ser aferida pelo ranking de sucessos: das dez maiores bilheterias do cinema nacional desde a retomada, nove têm co-produção com a Globo Filmes. Para melhorar, só apoiando mais projetos. É necessário que as outras TVs mirem-se no exemplo. Se há problemas, eles são dos próprios filmes. Neste caso, nem a Globo Filmes resolve. Afinal, a boa propaganda ajuda um mau filme a fracassar mais depressa.”

DILER TRINDADE Produtor

12 13 América Latina entrevista com mauricio durán

Em dezembro de 2006, depois de mais de 20 anos trabalhando na Buena Vista Columbia TriStar Films do México, Mauricio Durán foi contratado pela Universal Pictures como vice-presidente de marketing e distribuição para a América Latina. Foi Mauricio quem implantou, no México, o primeiro escritório da Universal na América Latina após o fim da UIP,joint-venture que distribuía os filmes da Universal e da Paramount fora dos Estados Unidos. E será Durán quem supervisionará a abertura do escritório da major no Brasil, que está prevista para o começo de 2009. Na entrevista abaixo, concedida ao Filme B durante o ShoWest, Durán fala da importância do mercado internacional para Hollywood e compara os mercados brasileiro e mexicano.

FILME B: Qual é a importância box office mexicano só é maior em fun- Apesar do potencial de crescimen- do mercado brasileiro de cinema ção desse exibidor, que investiu pesado, to e da boa situação da economia hoje? construiu em todas as cidades, despertou brasileira, o mercado de cinema Mauricio Durán: O Brasil é um dos o mercado e elevou os números. caiu nos últimos três anos. A que 15 maiores mercados cinematográficos Por que o México é maior que o você atribui essa queda? do mundo e ainda tem grande potencial Brasil no cinema, mas menor no Não é um caso único. No México, o de crescimento, pois o número de salas mercado de DVD? público pode até ter se mantido estável, de cinema ainda não condiz com o ta- A pirataria arrasou com o mercado de mas também houve um aumento do manho da população. Todos os estúdios DVD no México e impediu que chegas- número de salas – e a média por sala, estão conscientes do crescimento que se nos níveis que deveria. Mas é preciso portanto, caiu. No Chile, a economia virá do Brasil. reconhecer que o mercado de cinema vai bem e o público também diminuiu. Qual a principal diferença entre o mexicano, de certa forma, está fora São várias as razões possíveis. Primeiro, mercado brasileiro e o mexicano? de proporção, exatamente por causa dependemos muito do produto. Em se- da atuação desse exibidor muito ativo. Hoje, a grande diferença entre México e gundo lugar, tem a questão do preço do Isso muda os modelos de negócio. Só Brasil está em um grupo exibidor. A eco- ingresso. Apesar da estabilidade da eco- o grupo Cinépolis vende 80 milhões de nomia brasileira é maior que a mexicana. nomia, o fato é que o cinema está mais ingressos por ano. Não é normal que o México tenha um caro para determinados segmentos da mercado cinematográfico maior que o No Brasil, a Universal sofreu na população. A distribuição muito desigual Brasil. Mas, no México, um único empre- carne o problema da pirataria com do poder aquisitivo no Brasil também sário foi responsável por um crescimento Tropa de elite. não ajuda. O segmento de público que significativo do número de salas no país: Sim, e Tropa de elite foi um caso único. É estamos perdendo não tem poder aqui- Alejandro Ramirez Magnana, do grupo muito raro a versão pirata chegar ao pú- sitivo, e por isso não vai ao cinema. No Cinépolis. Só ele é dono de quase duas blico tão antes da oficial. Ainda assim, foi México, a média de ingressos per capita mil salas – praticamente o tamanho do o filme brasileiro mais bem sucedido de é de 1,7; no Brasil, de 0,5. São índices circuito brasileiro. Hoje existem no Mé- 2007, e também está sendo um êxito em muito baixos. Na verdade, o negócio de xico cerca de quatro mil salas, sendo que, DVD, apesar da pirataria. Estamos muito cinema vive de poucas pessoas, virou lá, a Cinemark tem 7% do mercado. O orgulhosos de ter participado desse filme. um entretenimento caro.

14 Cinema na América Latina | Ano Base: 2006

Salas Público (em milhões) Renda (em US$ milhões) México 3,892 México 165.5 México 552.0 Brasil 2,045 Brasil 90.3 Brasil 324.7 Argentina 978 Argentina 35.4 Argentina 109.6 Colômbia 475 Colômbia 20.2 Colômbia 82.8 Venezuela 390 Venezuela 19.7 Venezuela 52.6 Chile 310 Peru 15.7 Chile 35.1 Peru 249 Chile 11.2 Peru 25.9 Bolívia 56 Uruguai 2.2 Uruguai 6.0

Preço médio do ingresso (em US$) Ingressos per capita Colômbia 4.10 México 1.7 Brasil 3.54 Argentina 0.9 México 3.33 Venezuela 0.8 Chile 3.13 Chile 0.7 Argentina 3.10 Uruguai 0.6 Uruguai 2.73 Brasil 0.5 Venezuela 2.67 Peru 0.5 Peru 1.65 Colômbia 0.5

Habitantes por sala Market share México 27,929 Argentina 11.3% Uruguai 30,902 Brasil 11.0% Argentina 41,208 Chile 6.6% Chile 51,989 México 4.7% Venezuela 66,727 Venezuela 3.8% Colômbia 87,285 Uruguai 3.0% Brasil 91,978 Peru 115,163 Bolívia 171,916 Fonte: Database Mundo - Filme B

Há uma grande expectativa em re- em salas Vip, com serviços e atendimen- Em breve, a Universal abrirá seu lação à transição digital e à nova to especiais. Tudo para manter os espec- escritório no Brasil, e um dos gran- tecnologia 3D. Como você vê essa tadores que temos. des lançamentos do estúdio esse questão? Como você vê a importância das ano, O incrível Hulk, teve cenas ro- Hoje, tudo o que puder ser feito para produções locais? dadas no país. Foi coincidência? aumentar a distância entre a experiên- Estamos muito felizes de poder partici- Sim, até porque a abertura de nosso es- cia do cinema e a experiência do home par de produções brasileiras e acredita- critório brasileiro atrasou um pouco e só entertainment é válido. É preciso realçar mos que o modelo do artigo 3º, que não deve acontecer no primeiro trimestre de cada vez mais a experiência do cinema e existe no México, é muito interessante. 2009. O incrível Hulk tem estréia prevista torná-la algo que você não pode repe- Queremos ser muito ativos na produção para 13 de junho. Acredito que no fim tir em casa, por melhor que seja o seu local e estamos analisando vários pro- do primeiro semestre eu já deva ter as home theatre. O 3D é uma ferramen- jetos. Devemos entrar em pelo menos primeiras definições sobre nosso escri- ta fundamental nesse sentido. Hoje, há cinco co-produções nacionais nos pró- tório no Brasil, inclusive sua localização uma tendência também em se investir ximos anos. (Rio ou São Paulo).

15 16 17 alta temporada CORRIDA ESPETACULAR divulgação

Emile Hirsch em Speed Racer: animação da TV chega aos cinemas com visual espetacular assinado pelos irmãos Wachowski

Vai ser dada a largada. A corrida pelos recordes da alta temporada deste ano promete ser das mais emocionantes. Veteranos como Indiana Jones, Batman e Hulk vão disputar a liderança do ranking 2008 com os novatos Speed Racer, Homem de Ferro, Agente 86 e, até, Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda, as meninas do seriado Sex and the City, que enfim ganham a telona. Confira, a seguir, um panorama dos principais títulos que chegam às salas entre os meses de maio e agosto.

Por Pedro Butcher, João Cândido Zacharias e Alice Gomes

18 DA TELINHA PARA A TELONA

televisão tem sido fonte de ins- quando os Wachowski assumiram o co- Em 1965, Mel Brooks criou um dos se- piração para o cinema há anos. mando, decidiram fazer um filme mais riados cômicos mais bem sucedidos da A Seriados como A família Adda- jovem e escalaram Emile Hirsch (de Na TV americana, sátira à grande novidade ms, As panteras, Os intocáveis e Missão: natureza selvagem e Alpha Dog), de 23 do cinema na época – o imbatível agente impossível já tiveram seu lugar na telona, anos. O elenco conta ainda com Cristina secreto inglês James Bond. Com estréia sem contar sucessos do cinema nacio- Ricci como Trixie, a namorada, e os ve- marcada para 20 de junho, via Warner, nal como Os normais e A grande família. teranos Susan Sarandon e John Good- Agente 86 chega aos cinemas pela pri- Pois, em 2008, esta parceria está ainda man, como os pais do protagonista. meira vez 38 anos depois de sua quinta e mais forte, com um número acima da última temporada na televisão. Para viver FENÔMENOS DE AUDIÊNCIA média de filmes que fizeram o caminho o atrapalhado Maxwell Smart foi escala- para os cinemas. Um dos maiores fenômenos da televi- do Steve Carell, um dos novos favori- são mundial nos últimos dez anos foi o Speed Racer é a adaptação, pelos olhos tos da comédia americana, revelado ao seriado Sex and The City, que ficou no mundo em O virgem de 40 anos. O elen- de Hollywood, do desenho animado ar entre 1998 e 2004 e continua sendo co tem ainda Anne Hathaway (de O diabo criado pelo japonês Tatsuo Yoshida nos reprisado até hoje em vários países do veste Prada) como a Agente 99, além de anos 60 – e que até hoje é cultuado. A di- mundo, inclusive no Brasil. O dia-a-dia Dwayne “The Rock” Johnson e Bill Murray. reção traz a grife dos irmãos Larry e Andy de Carrie Bradshaw e suas amigas ditou Por trás das câmeras está Peter Segal, de Wachowski, as mentes inventivas por trás moda, mas a versão para o cinema de- Como se fosse a primeira vez. da trilogia Matrix. Apesar de ter atores no morou para sair. As quatro protagonis- lugar dos desenhos, Speed Racer traz um tas, com Sarah Jessica Parker à frente, Se Sex and The City foi um dos marcos visual ultracolorido e estilizado, que ainda só deram o sinal verde para a produção da TV no fim dos anos 90, Arquivo X foi faz lembrar uma animação. em julho do ano passado, depois de o grande fenômeno entre os seriados Com estréia mundial marcada para 9 de muitas negociações salariais. As filma- americanos no início dessa mesma déca- maio pela Warner, o filme narra as aven- gens aconteceram em dezembro, sob da. Os agentes Fox Mulder e Dana Scully, turas de um jovem que, com o apoio de a direção de Michael Patrick King, que vividos por David Duchovny e Gillian An- sua família e de sua namorada, luta para já é velho conhecido das personagens derson, ficaram no ar por onze anos e, vencer a corrida de carro mais perigosa depois de ter dirigido dez episódios ao em 1998, estrelaram Arquivo X – O filme. do país. Ele dirige o turbinado e mun- longo da série, além de ter escrito e Pois a dupla volta em Arquivo X 2, da dialmente famoso Mach 5, construído produzido vários outros. Sex and The Fox, que tem estréia mundial no dia 25 por seu pai. Na fase inicial do projeto, City - O filme estréia nos Estados Uni- de julho. A direção ficou a cargo de Chris quando o diretor ainda era o mexicano dos no dia 30 de maio e, por aqui, uma Carter, o multipremiado criador da série. Alfonso Cuarón, Johnny Depp foi con- semana depois, em 6 de junho, com Já a sinopse, mantendo a tradição, é um siderado para viver o protagonista, mas distribuição da PlayArte. mistério guardado a sete chaves.

Agente 86 Sex and the City - O filme Divulgação Divulgação

19 alta temporada

A VOLTA DE INDIANA JONES

les fazem parte da geração que, teste desastrosas nos Estados Unidos Stoppard, Frank Darabont e M. Night há trinta anos, mudou os rumos –, George Lucas se refugiou no Havaí, Shyamalan – mas todos foram recusa- Edo cinema americano. Em 1975, esperando as piores notícias. Seu amigo dos. A história da versão que finalmente com Tubarão, Steven Spielberg mostrou Steven Spielberg se juntou a ele e re- foi aprovada, assinada por David Koepp que a temporada de férias de verão nos latou uma vaga idéia para um próximo (de Jurassic Park e Homem-aranha), foi Estados Unidos, até então considerada filme: algo divertido, que lembrasse as mantida em sigilo absoluto, mas tudo in- um túmulo para os filmes, tinha poten- aventuras seriadas que via quando crian- dica que adiciona às sempre fantásticas cial para ser a mais lucrativa do ano. Dois ça nas matinês de sábado. Lucas gostou aventuras de Indiana Jones um inimigo anos depois, com Star Wars, George Lu- da idéia e escreveu o primeiro esboço extra-terrestre. Segundo Koepp, ele cas redefiniu o conceito do blockbuster de um argumento. leu todas as versões anteriores e pro- hollywoodiano e despertou a atenção curou aproveitar o que havia de mais Quatro anos depois, em 12 de junho de dos grandes estúdios para os públicos interessante em cada uma delas. Evitou 1981, estreava Caçadores da arca perdi- jovem e infantil. fazer um “roteiro de fã”, que fizesse re- da, uma superprodução da Paramount ferências demais aos filmes anteriores Em 2008, ainda firmes e fortes, Steven Pictures orçada em US$ 18 milhões. da série – afinal, o último estreou há Spielberg e George Lucas estão por trás Contam as reportagens da época que as quase 20 anos –, mas procurou manter do filme mais esperado do ano: a quar- filas dobravam esquinas e que a garotada a mistura de aventura e comédia que ta aventura do professor de arqueologia voltava ao cinema duas, três vezes, para garantiu o sucesso do primeiro filme. imortalizado por Harrison Ford, Indiana assistir ao filme, que faturou US$ 384 O mistério, enfim, se encerra no próximo Jones e o reino da caveira de cristal, milhões em todo o mundo. O sucesso dia 22 de maio, quando a música-tema de que traz Spielberg na direção e Lucas na gerou duas continuações: Indiana Jones John Williams voltará a embalar as chico- produção executiva. e o templo da perdição (1984) e Indiana tadas de um herói já sessentão – como Jones e a última cruzada (1989). A história do nascimento de uma das mostra o trailer, com várias piadas auto- franquias mais populares do cinema é Durante anos, especulou-se sobre o irônicas nesse sentido –, mas que conti- curiosa. Em maio de 1977, dias antes da quarto filme da série. Roteiros foram nua fazendo qualquer coisa para não dei- estréia de Star Wars – que teve sessões- encomendados a (entre outros) Tom xar para trás seu chapéu de estimação.

STAR WARS EM VERSÃO ANIMADA

Além de Indiana Jones e o reino da da animação digital Star Wars – The Essa animação produzida para o Cartoon caveira de cristal, outro destaque entre Clone Wars – um título que entrou no Network narra histórias que se passam os lançamentos de 2008 traz o nome calendário de estréias meio de surpresa, entre o segundo e o terceiro capítulo da de George Lucas nos créditos. Trata-se em fevereiro passado. saga criada por Lucas (O ataque dos clones e A vingança dos Sith), acompanhando A animação 3D Star Wars - Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker The Clone Wars enquanto se preparam para enfrentar as forças do mal. Lucas resolveu preparar divulgação uma versão especial para o cinema, que vai anteceder a estréia na televisão, e que será exibida na tecnologia 3D nas salas que dispuserem do formato. A estréia, no Brasil, está programada para 29 de agosto, via Warner.

20 CAÇADORES DA ARCA PERDIDA Ano de lançamento: 1981 Orçamento estimado: US$ 18 milhões Bilheteria nos EUA: US$ 242,3 milhões Bilheteria fora dos EUA: US$ 141,5 milhões Bilheteria total: US$ 383,8 milhões

David James/Paramount Pictures David James/Paramount Público no Brasil: 3.822.000

INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO Ano de lançamento: 1984

Aos 65 anos, Harrison Ford Orçamento estimado: US$ 28 milhões volta a interpretar o herói Bilheteria nos EUA: US$ 179, 8 milhões Indiana Jones Bilheteria fora dos EUA: 153,2 milhões Bilheteria total: US$ 333 milhões Público no Brasil: 1.886.000

INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA Ano de lançamento: 1989 Orçamento estimado: US$ 48 milhões Bilheteria nos EUA: US$ 197,1 milhões Bilheteria fora dos EUA: US$ 297,6 milhões Bilheteria total: US$ 494,8 milhões Público no Brasil: 3.874.000

CURIOSIDADES >Tom Selleck foi originalmente escalado para viver Indiana Jones, mas produtores da série de TV Magnum não o liberaram de seu contrato. Nick Nolte recusou o papel. >Indiana Jones foi batizado com o nome do cachorro de George Lucas >Sean Connery, pai de Indiana Jones no ter- ceiro filme da série, na verdade é apenas 12 anos mais velho que Harrison Ford >No novo filme, a vilã é interpretada pela premiada atriz australiana Cate Blanchett, en- quanto o companheiro de aventuras do he- rói é vivido pelo jovem ator Shia LaBouef (de Transformers) >Esse é o primeiro filme da série que não é fotografado pelo inglês Douglas Slocombe, que se aposentou logo depois de Indiana Jones e a última cruzada. Ele foi substituído pelo po- lonês Janusz Kaminski, mais freqüente fotógra- fo de Spielberg desde A lista de Schindler.

21 alta temporada Michael Gibson/Universal

O incrível Hulk: franquia retomada

24 QUADRINHOS POR SEGUNDO

s super-heróis estão de volta fazer uma versão fantástica, mas com na temporada de verão ame- um pé na realidade. O acidente que faz Oricano com duas versões dos com que Tony Stark vire o Homem de Divulgação quadrinhos da Marvel e uma da tradicio- Ferro deixa de ser no Vietnã, como era nal franquia de Batman, da DC Comics. no quadrinho original, e agora acontece A primeira dessas superproduções a es- na guerra do Afeganistão. Robert Dow- trear mundialmente é também a que traz ney Jr. vive o personagem título, Gwy- um personagem inédito nos cinemas: neth Paltrow é sua assistente, Samuel L. Homem de Ferro (Paramount, 30 de Jackson é o super-herói Nick Fury e Jeff abril). O diretor Jon Favreau optou por Bridges é o vilão Obadiah. Com cenas filmadas no , na favela Tavares Bastos, O incrível Hulk (Universal, 13 de junho) traz de volta a criatura que, em 2003, já havia Divulgação ganhado os cinemas em uma versão Homem de Ferro muito particular do diretor Ang Lee, que teve resultados abaixo do esperado. Essa nova aventura, totalmente reformulada, Nolan e com Christian Bale no papel prin- tenta dar um novo início à franquia, ago- cipal. O filme que deu partida à série fez ra com direção do francês Louis Lette- 2,3 milhões de espectadores no Brasil e rier (da série Carga explosiva), Edward alcançou uma bilheteria mundial de mais Norton como Bruce Banner/Hulk e Tim de US$ 370 milhões. O grande destaque Roth como The Abomination. desta versão é a volta do Coringa, ainda Batman - O cavaleiro das trevas O mais comentado e aguardado filme de mais psicótico e assustador, interpretado super-herói da temporada é Batman – O por Heath Ledger, em seu penúltimo papel cavaleiro das trevas (Warner, 18 de ju- nos cinemas. Christopher Nolan quis fazer lho), seqüência de Batman Begins (2005), em O cavaleiro das trevas um filme cheio novamente com direção de Christopher de ação, com efeitos de alta qualidade.

22 AVENTURAS ANIMADAS

ara as crianças da geração que curte filmes fan- tásticos, a programação de cinema das próximas Kung Fu Panda Pférias inclui As crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian (Disney, 30 de maio), o novo filme da série inspirada no livro de C.S. Lewis. Agora, as crianças da

família Penvensie voltam ao universo paralelo de Nárnia Animation DreamWorks para ajudar o príncipe Caspian a derrotar o mal. O primei- ro filme da franquia, O leão, a feiticeira e o guarda-roupa (2005) teve um público de 2,7 milhões de espectadores no Brasil e renda mundial de mais de US$ 420 milhões. Ainda nessa mesma linha, A ilha da imaginação (Uni- versal, 18 de julho) traz a atriz mirim Abigail Breslin (de Pequena Miss Sunshine) como uma menina que consegue se comunicar com os autores dos livros que lê, mesmo estando isolada numa ilha com sua família. No elenco es- tão também Jodie Foster e Gerard Butler. Disney e DreamWorks voltam a oferecer duas grandes produções animadas para a garotada. Wall-E (Disney, 27 de junho), nova produção da Pixar, assinada pelo mesmo diretor e roteirista de Procurando Nemo, narra a história de um simpático robô do espaço que procura uma casa para morar. Já o novo filme da DreamWorks, Kung Fu Panda (Paramount, 4 de julho), carrega suas tintas na comédia.

Seu personagem principal é um enorme As crônicas de Nárnia - Príncipe Caspian e preguiçoso urso panda que precisa se tornar mestre de kung fu para cumprir Wall-E uma profecia. Na versão original, o de- divulgação senho conta com as vozes de Jack Black, Jackie Chan e Angelina Jolie. A disputada cartela de filmes de férias de julho guarda espaço ainda para dois tí- Murray Close tulos nacionais: O guerreiro Didi e a ninja Lili (Disney, 11 de julho), o 47º longa-metragem de Renato Aragão, em que o comediante volta a contracenar com sua filha, Livian Aragão, e Peque-

nas histórias (Filmes do Estação, 28 de O guerreiro Didi e a ninja Lili julho), de Helvécio Ratton, em que o di- retor do clássico Dança dos bonecos e da primeira aventura do Menino Maluquinho retoma o universo infantil com persona- gens e lendas do imaginário brasileiro. O filme terá uma campanha diferenciada e um lançamento com cerca de 30 cópias, além de exibições digitais. Estevam Avellar

23 alta temporada

ADRENALINA EM ALTAS DOSES

epois de muitos segredos e ex- Will Smith, o mais popular ator do cinema pectativas, finalmente os fãs de americano atual, é a estrela de Hancock M. Night Shyamalan vão poder (Sony, 4 de julho), uma mistura de comé- O procurado D Chuck Hodes/Universal conferir seu mais novo filme, Fim dos dia, ação e fantasia sobre um super-herói tempos (Fox, 13 de junho). O criador de com baixa de popularidade e depressão O sexto sentido (1999) e A dama na água que se envolve com a mulher de seu rela- (2006) guardou a história a sete chaves e ções-públicas. No elenco estão também sequer divulgou fotos do longa – mas já se Charlize Theron e Jason Bateman. sabe que se trata de um thriller de ficção- Aventura e fantasia se encontram em A científica sobre uma família que tenta esca- múmia – Tumba do imperador dra- par de uma grande catástrofe da natureza. gão (Universal, 1º de agosto), terceiro No papel principal está Mark Wahlberg. filme da série com o explorador Rick Angelina Jolie, James McAvoy e Morgan O’Connell, vivido por Brendan Fraser. A múmia - Tumba do imperador dragão Universal Freeman estrelam O procurado (Uni- O primeiro filme da franquia, A múmia versal, 27 de junho), um movimentado (1999), fez 2,4 milhões de espectado- filme de ação sobre uma organização res no Brasil, e o segundo, O retorno da criminosa composta de assassinos espe- múmia (2001), 2,2 milhões. Nesta nova cialmente treinados. Este é o primeiro aventura, que também traz Jet Li no filme americano do diretor russo Timur elenco, o explorador desperta a múmia Bekmambetov, de Guardiões da noite e do primeiro imperador de Quin, uma Guardiões do dia, que se tornaram fenô- entidade amaldiçoada por uma bruxa há menos de bilheteria na Rússia. milhares de anos. Divulgação

OUTRAS APOSTAS INCLUEM Hancock COMÉDIA, ROMANCE E HORROR

Jogos de amor em Las Vegas Outra comédia romântica que promete é presas, o horror vem representado em Jogos de amor em Las Vegas (Fox, 27 The Strangers (Paris, 25 de julho), com de junho), com Cameron Diaz e Ashton Liv Tyler e Scott Speedman vivendo um Kutcher na pele de um casal que acaba casal atacado por três desconhecidos. de se conhecer e de ganhar uma bola- O suspense Deception (Paris, 13 de ju- da. O humor de Mike Myers (mais co- nho), com Hugh Jackman, Ewan McGre- nhecido como o agente Austin Powers gor e Michelle Williams, narra a história e como a voz de Shrek) é o ponto forte de um contador suspeito de seqüestrar de Guru do amor (Paramount, 25 de uma jovem numa famosa boate. Já Cin- julho). Aqui, Myers é Pitka, um guru que turão vermelho (Sony, 13 de junho), divulgação tem que ajudar um casal em crise, vivido de David Mamet, se passa no universo por Jessica Alba e Justin Timberlake. Eddie dos lutadores de jiu-jistu e traz os brasi- omédia, romance, suspense e Murphy está de volta em O grande Dave leiros Rodrigo Santoro e Alice Braga no terror completam o cardápio (Fox, 8 de agosto), no qual um grupo de elenco. Cdessa temporada de férias. Ge- alienígenas minúsculos usa o corpo de um orge Clooney estrela e dirige a comédia homem como nave. Por fim, Mamma O amor não tem regras romântica O amor não tem regras Mia! (Universal, 15 de agosto) é um (Universal, 9 de maio), na qual faz par musical só com sucessos do grupo Abba, com Renée Zellwegger. Passado nos estrelado por Meryl Streep, Colin Firth e anos 20, o filme conta a história de um Pierce Brosnan. dono de um time de futebol em apuros. Gênero que pode guardar boas sur- divulgação

24 DIRETO DOS FESTIVAIS Divulgação

nquanto os multiplex estiverem Também vem de Veneza o drama de explodindo ao som de super-he- espionagem com tintas eróticas Desejo Eróis, animações e velhos conhe- e perigo (Europa, 1º de maio), de Ang cidos da TV, o circuito de arte continuará Lee. O longa valeu ao cineasta um se- mantendo sua programação de filmes gundo Leão de Ouro depois da vitória, O sonho de Cassandra assinados por grandes autores e novas em 2005, com O segredo de Brokeback apostas do cinema independente. Woo- Mountain. O drama biográfico Control dy Allen continua a todo o vapor, produ- – A história de Ian Curtis (Daylight, circuito brasileiro: o drama de época A zindo, em média, um longa por ano. Seu 22 de maio), selecionado para a Quinze- outra (Imagem, junho), com Scarlett trabalho mais recente é o suspense O na dos Realizadores de Cannes, é uma Johansson e Natalie Portman. Outros sonho de Cassandra (Imagem, 30 de biografia do vocalista da banda inglesa destaques incluem Ao entardecer (Eu- abril), apresentado fora de competição Joy Division, enquanto o drama italiano ropa, junho), que reúne no elenco Meryl no último Festival de Veneza. Mais uma Meu irmão é filho único (PlayArte, 4 Streep, Glenn Close e Vanessa Redgrave vez filmando em Londres, Allen conta a de julho) esteve presente na mostra Um e Maratona do amor (PlayArte, 1º de história de dois irmãos (Ewan McGre- Certo Olhar, também de Cannes. maio), com o amalucado Simon Pegg na gor e Colin Farrell) tentados a entrar no Do Festival de Berlim, um dos filmes pele de um homem que tenta recon- mundo do crime. exibidos fora de competição chega ao quistar a noiva.

VIOLÊNCIA E PAIXÃO

Paula Prandini diretor leva às telas um conto levemente veterano Julio Bressane, vencedor do inspirado no mito de Tristão e Isolda. Candango de melhor filme no último Também é grande a expectativa em torno Festival de Brasília, traz Alessandra Ne- do novo trabalho de Bruno Barreto, 174 grini como a imperatriz do Egito e Miguel (Paramount), versão ficcional da vida do Falabella como Julio Cesar. Já Onde an- jovem Sandro do Nascimento. Em 2000, dará Dulce Veiga? (Califórnia, junho), Sandro seqüestrou um ônibus no Rio de de Guilherme de Almeida Prado, é a Janeiro, um episódio emblemático da tra- adaptação para as telas do romance de gédia social carioca. Sua história também Caio Fernando Abreu. Deserto feliz 174 foi tema do documentário Ônibus 174. (Filmes do Estação, 22 de agosto), de Um dos mais curiosos retornos às telas é Paulo Caldas, foi um dos títulos mais co- cinema nacional também tem o de Zé do Caixão, personagem criado mentados dos festivais de Gramado e do suas apostas para a tempora- pelo ator e cineasta José Mojica Marins nos Rio, ao contar uma história que mistura O da quente de 2008. Uma das anos 60, conhecido fora do Brasil como prostituição e tráfico de animais. maiores expectativas do ano é o lança- Coffin Joe. Afastado da direção há mais de A safra nacional se completa com Alô alô mento de Era uma vez... (Sony, 25 de 20 anos, Mojica traz agora Encarnação Terezinha (Imovision, 4 de julho), docu- julho), segundo longa-metragem de Bre- do demônio (Fox, 25 de julho). Outro mentário sobre Chacrinha, dirigido por no Silveira. O novo filme do diretor de veterano que volta à cena é Walter Lima Nelson Hoineff, Bodas de papel (Pan- Dois filhos de Francisco – maior bilheteria Jr., com o retrato da bossa nova Os desa- dora, 16 de maio), de André Sturm, que da retomada, com 5,3 milhões de es- finados (Downtown, 15 de agosto), com traz no elenco Helena Ranaldi e o ator pectadores – é um drama romântico so- Selton Mello e Rodrigo Santoro. argentino Dario Grandinetti (de Fale com bre a paixão entre um menino do morro A mulher do meu amigo (Disney, 22 ela), Nossa vida não cabe num Opala e uma menina da zona sul carioca. de agosto) é o mais novo trabalho de (Imovision, 16 de maio), baseado na peça Outro título aguardado é Romance (Dis- Cláudio Torres, de Redentor, que desta de sucesso de Mário Bortolotto, e Nome ney, 6 de junho), que marca a volta de vez adapta para as telas um texto de Do- próprio (Downtown, agosto), de Murilo Guel Arraes depois do grande sucesso de mingos Oliveira, estrelado por Marcos Salles, sobre uma jovem que passa seus Lisbela e o prisioneiro (2003). Com Letícia Palmeira e Maria Luiza Mendonça. dias escrevendo e tentando sobreviver na Sabatella e Wagner Moura no elenco, o Cleópatra (Riofilme, 23 de maio), do caótica São Paulo.

25 exibição O CINEMA DIGITAL em 20 PERGUNTAS E RESPOSTAS 1

Viagem ao centro da Terra - O filme: primeiro live action realizado na nova tecnologia digital de três dimensões Sebastian Raymond/New Line Cinema 2 Por Pedro Butcher

O circuito exibidor brasileiro está prestes a enfrentar um de seus maiores desafios: a transição digital. Dez anos depois da revolução do multiplex, que em seu conjunto representou investimentos da ordem de R$ 1 bilhão, os grupos de exibição em atividade no país começam a se preparar para uma nova transformação radical, que implica a substituição de todo seu aparato tecnológico de projeção. No último ShoWest, a maior convenção da indústria cinematográfica americana, o cinema digital foi o assunto dominante. Todas as apresentações dos estúdios (fossem elas apenas de trailers ou de filmes completos) foram realizadas no formato digital. Sessões especiais de filmes em 3D como a aventura Viagem ao centro da Terra - O filme e a exibição de trechos inéditos da primeira animação 3D da DreamWorks, Monsters vs. Aliens, deixaram os exibidores encantados com as possibilidades do novo formato. Na reportagem a seguir, procuramos resumir, no formato de perguntas e respostas, as principais dúvidas em torno da questão e apontar os cenários que começam a se formar com a chegada da transição digital no Brasil.

26 O que é, exatamente, a “transição digital” do cinema?

É a substituição de todos os equipamentos de projeção de cinema Quem paga a conta da que exibem cópias em película por projetores digitais. A exibi- transição digital? ção no formato analógico, utilizando-se de cópias no formato 35 milímetros, estabeleceu-se como padrão da exploração comercial Essa tem sido uma das questões mais comple- 1do cinema durante mais de um século. Com a perspectiva do fim xas desse processo. O padrão DCI estabele- da fabricação de película em grande escala pela indústria fotográfi- 4 ceu custos altos para os grupos de exibição, ca, a necessidade de migração para a tecnologia digital se impõe. e, ao mesmo tempo, O setor da indústria que Como explica Luiz Gonzaga de Luca, maior especialista em cinema mais economiza com a tecnologia é a distri- digital no Brasil, até alguns anos atrás a fotografia caseira sustentava buição. A questão “quem vai pagar a conta” a fabricação de película em escala industrial, mas, com a adoção de foi discutida exaustivamente. Nos Estados câmeras digitais amadoras, a produção de película tem se reduzido Unidos, a solução encontrada foi uma fórmula drasticamente, encarecendo o produto. Na verdade, a exibição batizada de virtual print fee (vpf). cinematográfica será um dos últimos segmentos da indústria a adotar a tecnologia digital, já amplamente utilizada na realização e finalização de produtos audiovisuais. A transição digital, portanto, é um fato; a questão é quando migrar e em que condições. O que é virtual print fee (vpf)? Por que a transição digital tem se mostrado tão demorada? É um dos modelos possíveis de financiamento da substitui- ção dos projetores das salas de cinema, em que o distribui- São vários fatores. Como explica Michael Karagosian, dor arca com parte dos custos do projetor. Este é o modelo consultor da Nato (a associação de exibidores dos que vem sendo amplamente adotado nos Estados Unidos. EUA), a projeção digital é uma tecnologia de reposição, Em tradução literal, seria algo como uma “remuneração pela e não de inovação. Com exceção da possibilidade de 5 cópia virtual”, isto é, uma contribuição que o distribuidor exibição de filmes no formato de três dimensões este- dá pelo fato de o exibidor ter optado pelo formato digital, reoscópico (3D), ela não oferece novidades ao espec- 2 proporcionando a economia da confecção de uma cópia tador e, portanto, não garante, por si só, o aumento 35mm. Na verdade, esse pagamento não é feito direta- da freqüência do público e do faturamento das salas de mente ao exibidor, mas a uma terceira parte, um elemento cinema (ao contrário, por exemplo, da chegada do som e integrador que se mostrou fundamental para viabilizar a da cor). A demora na definição de padrões de resolução transição digital. Esse elemento é formado por uma asso- pelos grandes estúdios, cujos produtos são responsáveis ciação entre fabricantes de projetores e fornecedores de por boa parte da arrecadação do mercado theatrical no softwares. O elemento integrador se encarrega da instalação mundo, também “atrasou” a transição digital. dos projetores e sistemas operacionais, cabendo ao exibidor os custos de manutenção. Cada vez que um distribuidor O que é DCI? substitui a entrega de uma cópia 35mm por suportes digitais (em geral, HDs), remunera o fornecedor de equipamentos DCI é a sigla para Digital Cinema Initiative, comitê criado pelos sete e o transmissor do suporte digital num valor equivalente grandes estúdios de Hollywood (Warner, Fox, Universal, Para- (ou menor) ao que despenderia pela cópia. Em média, o mount, Disney, DreamWorks e Sony) com o objetivo de estudar os vpf que tem sido pago nos EUA fica em torno de US$ 800 padrões digitais que seriam adotados para a projeção de seus filmes. a US$ 1 mil por cada fornecimento de cópia digital. Mas, O DCI foi formado sem prazos estabelecidos a fim de escapar como explica Luiz Gonzaga de Luca, “além de ser uma re- da pressão de fornecedores. Com a divulgação3 de suas normas muneração, o vpf é também uma garantia ao financiador dos em julho de 2006, verificou-se que a digitalização das salas nesses equipamentos”. Ele é a única relação entre o distribuidor e padrões não seria tão simples, pois os equipamentos envolvidos o financiador, que fez uma operação direta com o exibidor. não são de linha industrial. Os principais requisitos são a compres- O financiador não é o fornecedor tecnológico, mas sim um são de imagem em JPEG 2000 e a resolução de 2K ou 4K. Um banco ou uma empresa de leasing, que pode trabalhar em dos objetivos da DCI foi a criação de um estudo único dos estúdios conjunto com o fornecedor tecnológico. O vpf é, de certa para diminuir ao máximo concorrências internas que terminassem forma, o avalista da operação do exibidor com o financiador. por polarizar a indústria, como aconteceu, por exemplo, na guerra entre o BluRay e o HD-DVD, na substituição do DVD.

27 exibição

Em que situação está a transição digital nos EUA? A adoção do virtual print fee Segundo dados da NATO divulgados no último ShoWest, já é viável no Brasil? existem 4,6 mil salas operando no país no sistema digital. To- dos os circuitos adotaram a fórmula do vpf, que foi negociada O cálculo do virtual print fee é negociado separadamen- caso a caso, dependendo do tamanho e do peso de mer- te com cada grupo exibidor. Variáveis como o número cado de cada grupo de exibição. A expectativa é de que até 8 de cópias que deixaram de ser produzidas para esse dezembro de 2009 sejam assinados contratos que atinjam grupo, a rentabilidade média das cópias e o fato de a 22 mil6 salas, o que significa que até o fim do ano que vem maioria das salas desse grupo específico pertencer ao cerca de 70% do circuito exibidor americano poderão estar circuito de lançamento (first run) entram na equação, o operando com projeção digital. Muitos exibidores pequenos que dificulta a adoção do vpf por exibidores indepen- e independentes, porém, ainda não adotaram o sistema por dentes e de menor porte. Segundo estudos prelimina- dificuldades de aplicar a fórmula do vpf. res já realizados, cerca de 700 salas do circuito brasilei- ro (33% do total) concentram 80% da receita. Quase 70% do circuito ainda são formados por cinemas com menos de três salas. Diante desse cenário, para viabi- lizar a adoção da vpf, uma sala de cinema precisará ter uma média de 50 mil espectadores por ano a um preço Quais são os custos da transição médio do ingresso de R$ 9. Isso significa que, caso digital no Brasil? o “ex-tarifário” que reduziu o IPI para 2% (válido até 31 de dezembro de 2008) não seja prorrogado pelo O preço de cada projetor digital no padrão DCI é de governo, 540 salas de cinema poderiam ser atendidas aproximadamente US$ 85 mil. Com o preço do servidor pelo sistema vpf. Esse número sobe para 620 salas caso de cada sala,7 esse custo sobe para US$ 157 mil. Conside- o “ex-tarifário” seja mantido e para 860 salas se caírem rando também a necessidade de aquisição de um servidor todos os impostos. operacional e de um “library server” para cada complexo, os custos da digitalização se elevam para cerca de US$ 170 mil por sala. Considerando-se que o circuito brasileiro tem, hoje, 2.120 salas, o custo total da conversão do circuito seria de aproximadamente US$ 360 milhões, ou seja, R$ 600 milhões – quase a arrecadação total do mercado de theatrical brasileiro em um ano. Quais são os custos de manutenção dos projetores digitais e qual a expectativa de vida9 do projetor? Segundo Michael Karagosian, os custos de manutenção de projetores digitais são bem maiores que os de projetores 35 mm. Enquanto os equipamentos 35mm têm vida média de 25 a 30 anos, a estimativa é de que projetores digitais durem cerca de dez anos. No sistema analógico, em película, os custos de manutenção giravam em torno de US$ 10 mil por ano, valor que deve saltar para US$ 25 mil para os projetores digitais. divulgação/Paramount “O digital será sempre um negócio mais caro”, diz Karagosian, lembrando que é preciso estar atento à velocidade da atualização tecnológica tanto A aventura Transformers dos equipamentos (hardware) como dos programas utilizados (software). vai ganhar uma Segundo Karagosian, a vida útil dos projetores é definida pelo avanço dos continuação em formato 3D semicondutores, cuja tecnologia é movida pela indústria dos telefones ce- lulares. A vida útil dos softwares, por sua vez, é estimada em, no máximo, cinco anos. No último ShoWest, Karagosian aconselhou aos exibidores: “Quando forem assinar um contrato, tenham certeza absoluta das condi- ções de atualização oferecidas por seu fornecedor”.

28 Qualquer projetor digital pode exibir filmes em 3D? Quantos servidores são necessários para a operação digital de um complexo? Não. Para exibir filmes em 3D, é preciso instalar novos softwares no servidor da sala e realizar adaptações no Os maiores complexos deverão operar com pelo menos três projetor e na tela. Hoje, existem dois sistemas de proces- servidores diferentes: um dedicado ao gerenciamento do cine- samento do 3D estereoscópico: o Real D e o Dolby 3D. 10 ma (management server), um13 servidor de “library” (que recebe O sistema mais utilizado, por enquanto, é o Real D. Para e armazena os filmes) e os servidores exclusivos da cabine de obtê-lo, o exibidor precisa pagar uma licença anual (em projeção de cada sala. O sistema de gerenciamento do cinema torno de US$ 40 mil) que lhe dá direito ao software para possui programas separados e automatizados que determinam rodar o filme e a um filtro polarizador que deve ser insta- os horários das sessões (show schedule) e a “playlist” de cada lado na frente do projetor. Como há muita perda de luz, sessão (comerciais, trailers e filme). Dentro da “playlist”, os é preciso também instalar uma tela reflexiva. O Real D es- pacotes de trailers e comerciais podem ser atualizados a qual- tuda a possibilidade de cobrar participação na bilheteria. O quer instante, mas o pacote do filme, não, já que sua liberação sistema Dolby 3D, cujo preço ainda está sendo definido, depende de uma “chave” enviada pelo distribuidor. exige a instalação de um equipamento especial no projetor e depende de óculos mais caros, mas provavelmente será adquirido de uma só vez, sem licença anual. O que é Key Delivery Management (KDM)?

Por questões de segurança, a liberação dos filmes dos gran- O também é financiado pelo vpf? 3D des estúdios para exibição em formato digital é complexa e se dá através de um sistema chamado Key Delivery Ma- Não, os custos com a implantação do sistema nagement (KDM). Durante a pós-produção, os filmes dos 3D não entram no pacote do vpf e precisam ser 14grandes estúdios são criptografados, e cada package (que bancados exclusivamente pelo exibidor. Em com- seria equivalente à antiga cópia 35mm) ganha uma “chave” pensação, o 3D tem se revelado11 um dos poucos digital (semelhante a uma senha de acesso) diferente. Essa fatores de estímulo para os grupos de exibição chave pode chegar para o exibidor via e-mail ou USB. adotarem o formato digital, já que as médias por Como explica Michael Karagosian, “o conteúdo é o mesmo sala dos filmes em 3D têm sido muito mais altas para cada um, mas as chaves são diferentes para todos”. A do que os outros filmes e é possível cobrar um KDM é válida para as salas, ou seja, se um mesmo filme está preço de ingresso mais alto. programado para ser exibido nas salas 2 e 3 de um multi- plex, serão fornecidas duas chaves, que só valerão para o servidor dessas salas. Caso o exibidor queira trocar a sala do filme no meio da semana, por exemplo, precisará solicitar uma nova KDM para o distribuidor. A operação digital permite redução de custos com mão-de-obra?

Não necessariamente. Uma das grandes vantagens da ope- ração digital é a possibilidade de um melhor gerenciamento É possível manter a operação em 12 35mm em uma sala equipada com dos complexos e das sessões. Mas, ao mesmo tempo, já não basta ao exibidor contar com profissionais que entendam de projetor digital? projeção e de som; agora é preciso também contar com “IT Professionals” (profissionais de tecnologia da informação), para Depende. Nos Estados15 Unidos e em alguns outros mercados já garantir uma gestão segura dos complexos e contornar proble- estão sendo construídos complexos 100% digitais. No caso da mas técnicos com agilidade. conversão de cinemas já existentes, é possível manter o proje- tor 35mm na mesma cabine e variar a utilização, sem prejuízos em termos de som, por exemplo. Mas é preciso que a cabine seja grande o suficiente para comportar os dois projetores.

29 Quantas salas digitais existem Caso um exibidor adote o vpf e o sistema atualmente no Brasil? DCI, será possível exibir um conteúdo que não obedeça à resolução mínima do Hoje, apenas seis salas do circuito brasileiro obedecem sistema (2k)? ao padrão DCI: quatro do grupo Cinemark, uma da joint-venture UCI-Ribeiro e uma na Cinemateca Brasilei- Tecnicamente, é possível. Como diz Luiz Gonzaga de Luca, “uma ra. Com exceção da sala da cinemateca, todas as outras limusine pode transportar apenas18 uma pessoa”, e não há nada 16possuem o sistema 3D e são exemplos da adoção do que impeça a exibição de outros conteúdos, com uma definição digital com o fim específico de oferecer esse diferencial ao menor, nos cinemas com projetor 2K. O contrário, no entan- público. Mas também existem no país mais de 100 salas to, não será possível, uma vez que os estúdios americanos são com o sistema de projeção digital implantado pela Rain absolutamente rigorosos na questão da alta resolução da projeção Network, que opera com outro sistema de compressão e na segurança do sistema de distribuição digital. Ou seja, um (MPEG-4) e com projetores de custos mais baixos. A cinema com projetor 2K poderá passar filmes independentes e Rain desenvolveu seus próprios sistemas de software (o produções nacionais em resolução menor, mas um cinema com Kinocast Web e o Kinocast Player) e propôs um modelo projetor que não suporte essa definição não poderá passar os fil- de negócios que estimula mudanças no paradigma da mes das majors. A questão é: quem pagará pelo financiamento do distribuição e uma maior flexibilidade na programação projetor 2K enquanto ele não estiver exibindo um filme de major, das salas, facilitando, ainda, a veiculação de publicidade. “bancado” pelo vpf? Nesse caso, seria necessário estudar outras Recentemente, os executivos da Rain associaram-se a formas de financiamento. Marco Aurélio Marcondes para criar a MovieMobz, uma distribuidora que pretende trabalhar exclusivamente no sistema digital e investir no conceito do cinema on demand Como a transição digital vem sendo e do long tail (cauda longa). conduzida em outros países?

Na França, o CNC (Centre National de la Cinematographie) resolveu Já existem empresas interessadas adotar um padrão chamado Anfor, cuja resolução mínima é compatível em atuar como agentes com o padrão DCI. A preocupação do Estado é de que os equipa- integradores da transição digital mentos atendam tanto19 aos grandes como aos pequenos exibidores, e no formato DCI no Brasil? a orientação é pela coexistência entre o digital e a película 35mm. No Reino Unido, o UK Film Council criou um programa de incentivo para Sim. O grupo Cinemark, atual líder no mercado a construção de salas digitais: em troca da contribuição financeira, os de exibição brasileiro, anunciou que em breve exibidores devem se comprometer em programar filmes de arte e inde- dará início à instalação17 de projetores digitais em pendentes. Já na Austrália, por falta de uma política pública estabelecida, seu circuito no Brasil, adotando o sistema vpf, o cinema digital vem se instalando com iniciativas do próprio mercado. e que já negocia esse processo com um agente O grupo exibidor Greater Union reformou um complexo de 17 salas no integrador (possivelmente, o mesmo grupo que centro de Sidney para testar, durante um ano, todos os sistemas, proje- será o integrador da transição do grupo nos tores e servidores disponíveis e, depois, disponibilizar os dados para os EUA, uma associação entre o fabricante Christie demais exibidores. Na Venezuela, o órgão estatal Fundación Cinemateca e o servidor AccessIt). Segundo Valmir Fernan- Nacional previu a criação de 23 salas digitais de alta definição, uma para des, presidente da Cinemark Internacional, o cada capital de estado. processo de transição digital será feito “da forma mais transparente e aberta possível, para que a indústria possa fazer a migração como um todo, Quando o fornecimento de filmes sem que ocorra um desequilíbrio das forças do em película vai acabar? mercado”. Fábio Lima, da Rain Networks, afir- Até pouco tempo atrás, havia um consenso na indústria de que os filmes ma que “a Rain é um agente integrador” e que deixariam de ser produzidos em película quando o mercado exibidor a empresa também está se preparando para re- americano se convertesse totalmente. Hoje, a tendência é acreditar que alizar a operação DCI no Brasil. Ele ressalta, no os filmes em película só acabarão de fato quando se resolver a questão da entanto, que pretende trabalhar com a garantia conversão do mercado internacional. Afinal, não custa lembrar, as receitas de acesso a conteúdos diversificados e que “es- fora dos Estados Unidos respondem hoje por mais de 60% do total da tuda uma fórmula de viabilização financeira mais arrecadação das majors no mercado theatrical. Para Michael Karagosian, a adequada para o perfil do circuito brasileiro”. película resiste20 por pelo menos mais dez anos.

30 31 destaques do mercado 2007/2008 FATOS E NÚMEROS DO CINEMA no brasil

EVOLUÇÃO DE SALAS, PÚBLICO E MÉDIA POR SALA

Evolução do número de salas Evolução do público total 1997-2007 1997-2007

1.997 2.045 2.045 2.120 1.817 1.620 1.635 1.350 1.480 1.300 1.075 52.000.000 70.000.000 72.000.000 75.000.000 90.865.988 105.031.457 117.451.863 93.602.863 90.283.635 89.319.290 70.000.000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Desde 1997, quando foi inaugurado o primeiro multiplex Evolução da média de público por sala no Brasil, o número de salas do país vem crescendo ano a 1997-2007 ano. No entanto, ainda se mantém bem abaixo do patamar 58.814 53.846 48.649 55.576 57.805 45.772 considerado ideal para o tamanho do país, que é de pelo 48.372 51.852 44.148 46.296 42.244 menos três mil salas. Nesse período de dez anos, o público cresceu e, nos anos de 2003 e 2004, chegou a voltar ao patamar dos 100 milhões de ingressos vendidos. A partir de 2005, no entanto, apresentou três baixas consecutivas. A média de público por sala, nesse mesmo período, voltou a 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 patamares do começo dos anos 90.

Fonte: SDRJ/distribuidoras Pesquisa: Filme B

1º de janeiro de 2007 7 de março de 2007 A Paramount assume o escritório da UIP no Brasil, consolidando UCI e o Grupo Severiano Ribeiro inauguram a pri- a dissolução da United International Pictures, que durante 25 meira sala 3D do Rio de Janeiro – e segunda do anos lançou os títulos da Universal e da Paramount fora dos Es- Brasil –, no UCI Kinoplex Norte Shooping. A ani- tados Unidos. Anunciada em setembro de 2005, a separação da mação da Disney A família do futuro é o primeiro UIP foi uma conseqüência da crescente importância do mercado filme 3D exibido no local, confirmando a enorme internacional para Hollywood. A Paramount comprometeu-se força do formato: a média de espectadores nas salas a lançar os filmes da Universal no Brasil até que o estúdio abra 3D foi mais de cinco vezes maior que a média por seu escritório de distribuição cinematográfica no país, o que está sala total do filme (3.267 contra 620). Até o fim do previsto para acontecer no primeiro trimestre de 2009. ano, foram inauguradas outras três salas com equi- pamento 3D, todas da rede Cinemark: uma no Rio 10 de janeiro de 2007 (Downtown), uma em São Paulo (Market Place) e Manoel Rangel tomou posse como diretor-presidente da outra em Florianópolis. Ancine, substituindo Gustavo Dahl, que ficou cinco anos no cargo. Rangel, que já era um dos diretores da agência desde 2005, deixou Leopoldo Nunes em sua antiga função.

32 EVOLUÇÃO DOS LANÇAMENTOS NACIONAIS, PÚBLICO E MARKET SHARE

Evolução do público do filme nacional 1997-2007 (em milhões) Evolução dos lançamentos nacionais 82 22,0 51 16,4 10,7 26 31 9,9 10,3 7,2 6,9 7,8 5,1 3 4 12 23 c 3,6 7 c 7 22 2,4

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Entre 1997 e 2003, o número de lançamentos de filmes nacionais manteve-se entre 20 e 30 títulos por ano, mas, em 2004, saltou para 51 títulos. Em 2007, chegou ao número recorde de 82 títulos. Evolução do market share do filme nacional Esse salto se explica, em parte, pela quantidade de longas-metra- 1997-2007 gens, vários deles documentários, que chegaram ao circuito no 21.4% formato digital, muitas vezes lançados pelos próprios produtores.

14.3% Mas é resultado, também, do Prêmio Adicional de Renda implanta- 12% 11% 10.6% 11.6% do pelo governo, que estimulou o lançamento de filmes brasileiros 7.8% 9.3% 8% pelas distribuidoras independentes. Apesar do aumento do número 4.6% 5.4% de títulos, os melhores resultados de público do filme nacional foram em 2003 e 2004, quando houve apenas 30 lançamentos. Graças a um sólido conjunto de filmes de vocação comercial, os 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 resultados de 2003 foram especialmente significativos, registrando um market share de 21,4% - o mais elevado do período.

Fonte: SDRJ/distribuidoras Pesquisa: Filme B

24 de abril de 2007 BNDES e Quanta assinaram o primeiro contrato firmado no âmbito do Procult (Programa de Apoio à Cadeia Pro- dutiva do Audiovisual), no valor de R$ 7 milhões. A quan- maio de 2007 tia representa 46% do custo total do projeto da Quanta, A publicação britânica Screen Digest divulga um um complexo capaz de atender, em um só espaço, à relatório sobre o crescimento da participação das maioria das etapas de produção do audiovisual. cinematografias nacionais em vários países. Segundo o estudo, o desempenho dos filmes locais em seus 16 de maio de 2007 próprios mercados vem crescendo de maneira sólida desde 2001, e, em 2006, tiveram uma renda so- Um beijo roubado, de Wong Kar-Wai, inaugura o Festival de mada de US$ 5,1 bilhões, o equivalente a um terço Cannes, que comemora sua 60ª edição. Na soirée de aniver- das bilheterias mundiais. A média global de 33,8% sário do festival foi exibido o filme Cada um com seu cinema, vem puxada pela alta dos países da Ásia-Pacífico, com composto de 33 curtas assinados por diretores das mais 55,7%, enquanto o pior desempenho é da América variadas nacionalidades, todos sobre a experiência da sala de Latina, com 6,8%. cinema. Entre os convidados para participar do projeto estava o brasileiro Walter Salles. O vencedor da Palma de Ouro foi o filme romeno 4 meses, 3 semanas e 2 dias, de Cristian Mungiu.

33 destaques do mercado 2007/2008 Tropa de elite

agosto de 2007 Nas primeiras semanas do mês, cópias piratas do filme Tropa de elite começam a apa- recer em camelôs do Rio e de São Paulo. O filme, que ainda estava sendo finalizado, ganhou as ruas numa velocidade inédita e fez a Universal e a Zazen, respectivamente distribuidora e produtora, anteciparem a data de estréia de novembro para 5 de outu- bro. A expectativa em torno do lançamento foi grande, e o longa, que abriu o Festival do Rio, chegou ao fim do ano como campeão do ranking nacional, com 2,7 milhões de

espectadores. Tropa gerou intensa polêmica e virou uma verdadeira febre no país. Em David Prichard fevereiro de 2008, participou da competição do Festival de Berlim e saiu de lá com o Urso de Ouro, conferido por um júri presidido por Costa-Gavras.

15 de outubro de 2007 setembro de 2007 Rodrigo Saturnino recebe o prêmio de Distribuidor In- Durante os seminários do Festival do Rio, o BNDES anuncia a ternacional do Ano no ShowEast, uma das mais impor- criação de cinco novos Fundos de Financiamento da Indústria tantes convenções do mercado de cinema nos EUA. Cinematográfica Nacional, os Funcines. Um deles é o Funcine Diretor geral da Columbia TriStar Buena Vista Filmes Lacan-Downtown Filmes, o primeiro voltado para uma distri- do Brasil desde 1991, Rodrigo recebeu o prêmio das buidora brasileira, em conjunto com a Downtown, de Bruno mãos de Luiz Severiano Ribeiro (do Grupo Severiano Wainer, que conta com um investimento de R$ 8 milhões Ribeiro) e de Jorge Peregrino (da Paramount), ambos do BNDES. Na ocasião, foram apresentados outros quatro já premiados no mesmo evento. Funcines em fase de gestação.

2007 2007 consolidou o Brasil como uma das rotas de divulgação dos blockbusters americanos. Em março, a Warner trouxe ao país a trupe de 300, que contava com o diretor Zack

Ricardo Gama Snyder e os atores Gerard Butler e Lena Headey, além do brasileiro Rodrigo Santoro. O longa teve pré-estréia de gala no Cine Odeon BR, no Rio, e fechou o ano como o sexto filme mais visto no país. Durante o ano, ainda passaram por aqui o francês Luc Besson, que veio divulgar a animação Arthur e os Minimoys; o alemão Roland Emmerich, que trouxe as primeiras imagens de seu épico 10.000 a.C.; e, em janeiro de 2008, Will Smith e o diretor Francis Lawrence pararam o Rio para a pré-estréia de Eu sou a lenda. Rodrigo Santoro e Gerard Butler na pré-estréia de 300 10 de janeiro de 2008 4 de janeiro de 2008 O cineasta e técnico de som Silvio Dá-Rin toma posse como Estréia Meu nome não é Johnny, que se tornaria novo Secretário do Audiovisual, no Rio. Orlando Senna, que o primeiro blockbuster nacional de 2008. Lança- ficou cinco anos à frente da SAv, estava presente à cerimônia, do em conjunto pela Downtown e pela Sony, o passando oficialmente o cargo ao novo secretário. filme fez mais de dois milhões de espectadores e uma bilheteria de R$ 18 milhões. 28 de janeiro de 2008 fevereiro de 2008 A Rain Networks, em associação com Marco Aurélio Marcondes, anunciou a criação da MovieMobz, uma A Toshiba anuncia que deixará de fabricar os aparelhos de nova distribuidora que trabalhará exclusivamente no HD DVD, o que encerra a guerra dos formatos do novo formato digital, investindo em filmes independentes, de mercado de homevideo de alta definição e estabelece a nicho e clássicos. A idéia é trabalhar um modelo de ne- vitória do Blue-Ray, sistema desenvolvido pela Sony. gócios diferenciado, inspirado no conceito do cinema on demand e na filosofia da “cauda longa” (long tail).

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