A Historia Secreta Da REDE GLOBO
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- -- - - ~ -.. - --- A historia secreta da REDE GLOBO I EDI1DRA ORTIZ S/A. Av. JUtio de Castilhos, 159 - 8<:' andar Fone (0512) 25.3026 - Telex (52X)218 90030 - Porto Alegre (RS) Av. Pautista, 1471 - 16° andar Fone (011)284.1692 01311 - Sao Paulo (SP) Editor Airton Ortiz A historia secreta da REDE GLOBO Daniel Herz IISim, eu usa a paderll Roberto Marinho ~II Edi~ao: Tau Golin Edi~ao de Texto: Cassia Corintha Pinto @ Daniel Herz Todos os direitos estao reservados a Editora Ortiz S/A. 14~ edi~[o impressa em fevereiro de 1991. Para Waiter, rneu pai, que ensinou a ser rigoroso corn a verdade. Para Fernando, rneu filho, presen~a de vida que faz renascer. AGRADECIMENTO S A J ane, companheira de vida, presen te em todos os momen tos. Aos colegas e companheiros Adelmo Genro Filho, Carlos MUller e Maria Helena Hermosilla de Los Angeles, que ajudaram a encon trarcarninhos. Ao colega e companheiro, Cesar Valente, sempre pronto para fazer as coi- sas acontecerem. Ao professor Homero Simon, pela decisiva ajuda para desvendar os problemas da radiodifusao e pelo exemplo de integridade e disposi~ao de luta por urn BrasH melhor. Ao companheiro e editor Tau Golin, cuja insisrencia amigalevou a publica~ao deste trabalho. Aos meus alunos e companheiros do Curso de Comunica~ao da Universidade Federal de Santa Catarina, pela convivencia que anima para 0 trabalho. "As empresas j ornalisticas sofreram, mais talvez do que quaisquer outras, certas injun~Oes, coma depressOes polfticas, acontecimentos militares. Os progn6sticos que estamos fazendo na TV GIobo dependem muito da normalidade... da tranqililidade da vida brasileira. Esses pIanos podem ser profundamente alterados, se houver urn imprevisto qualquer ou advir urna situ~ao que nao esteja dentro dos esquemas tra~ados, coma se ve nas opera~Oes de guerra". (palavras de Roberto Marinho, diretor-presidente dasorganiza~esGIobo,em 20 de abriI de 1966,depondo na Comissao Parlamentar de Inquerito que investigou as Iiga~Oes entre a Globo e 0 Grupo Time-Life). "E esta e urna guerra -nao e uma guerra quente, mas urn episodio da guerra fria. Entretanto, se perdemos neste episodio, 0 Brasil deixara de ser urn pais independente para virar urna colonia, urn protetorado. ~ muito mais facil, muito mais comodo e muito mais barato, nao exige derramamento de sangue, controIar a opiniao publica atraves dos seus orgaos de divulg~iIo, do que construir bases rnilitares ou financiar tropas de ocupa~ao". (PaIavras de J030 Calmon, diretor dos Di8rios Associados, deputado federal e presidente da Associa~o Brasileira das Emissoras de Radio e Televisiio, em 13 de abril de 1966, depondo na Comissao Parlamentar de Inquerito que investigou as ligafoes entre a Globo e 0 Grupo Time-Life). I A GWBO EA NOVA REPUBLICA "OCHEFEAQUlSOUEU" "A voz cavernosa que eu s6 conhecia atraves das televisOes agradecendo a prernios na maioria recebidos artificialmen te estavala. - Quem era 0 responsavel pelo jornalismo da Globo ontem a tarde? - Pelo jornalismo nacional, Eduardo Simbalista; pelo jomalismo local, eu mesmo, LuisCarlosCabral. - J1com voce mesmo que eu quero falar. Voce me desobedeceu Confesso, nao e vergonha: amao tremia. Nao era medo do desemprego. Era 0 terror de quem ve desabar sobre si, repentinamente, 0 proprio Spectro. Jung explica. Mas, sim: a vcrz. era firme. - Dr. Roberto, se desobedeci foi involuntariamente. - Voce me desobedeceu Eu disse que nao era para projetar e voce passou 0 dia.inteiro projetando, dizendo que 0 Brizola vai ganhar. Voce me desobedeceu - Mas, dr. Roberto, eu nao podia desobedecer a ordens que nao recebi. Projetei segundo a orienta¥ao de meus chefes. - E quem sao os seus chefes? - Os meus chefes sao, pela ordem, Alice Maria, Armando Nogueira e Roberto Irineu - Eles nao sao chefes coisa nenhuma. 0 chefe aqui sou eu e voce me desobedeceu. - Bern, dr. Roberto, nao desobedeci. - Vaitrabalhandoai que nasegunda.feira agente conversa. Ate logo" 1. Este diaIogo, travado em novembro de 1982 durante 0 processo de apura¥ao das elei¥oes, foi relatado pelo jornalista Luis Carlos Cabral, entao CABRAL, Luis Carlos. 0 Nackmal. Rede de intrigas. Rio de Janeiro. 2()'26 novo 1986. p.12. 13 diretor regional de jomaIisrno da Rede Globo no Rio. 0 seu interlocutor de "voz cavernosa" era 0 dr. Roberto Marinho, diretor-presidente das organizayOes Globo. 0 dr. Roberto, que e "doutor" unicamente pelo poder que desfruta, nesse rnornento, descia das alturas do seu cargo e despia-se da postura de estadista que ostenta em publico para advertir urn funciommo. E 0 que Roberto Marinho reclamava era 0 descurnprirnento de urn piano rnaquiavelico: a divulgaylIo de informayOes intemacionalrnente distorcidas sobre 0 processo de apurayao daseleiyoes 2. Ha rnuitas evidencias de que esse cornportamento da Globo ocorreu em varios estados, seguindo urn piano nacional para fraudar as eleiyOes. Hoje ainda se sabernuito pouco sobre 0 epis6dio, rnas quando esse rnornento nebuloso da hist6ria do Brasil for inteiramente descoberto, certamente serao revelados contornos ainda rnais nitidos de urna face inusitada da Globo: a intervenylIo politica que nao se restringe ao campo ideol6gico e avanya para a colaborayao ativa nurn processo de fraude eleitoral o diaIogo do presidente das organizayOes Globo corn seu funcionario revel a rnais do que a preocupayao de urn ernpresario corn a conduylIo de seus neg6cios. Revela a deterrninaylIo corn que e rnanobrada essa fabrica de consciencias, revela a clareza corn que seus proprietarios procuram intervir politicamente, revela inequivocamen te urnaintencionalidade. A intervenyao pessoal e direta do "dr. " Roberto Marinho nurn epis6dio tlIo cornprornetedor corno urn processo de fraude elei toral, evidencia urn lado 2 No Rio de Janeiro ficaram a descoberto as duas pontas desse piano de fraude: a tentativa de condicionamento da opiniao publica desenvolvida pela Globo ea da manipula~ao fraudulenta da totaliza~ao dos votos pela empresa Proconsult, responsavel pela apura~ao dos result ad os. Osregistrosjomalisticos doepisodio nao vinculam claramente 0 estreito relacionamento da atua~ao da Globo corn a manipuIa~ao da totaliza~ao, Esse tipodefraude tambtim foi detectado, pelo menos, em outros cinco Estados: Rio Gran de do SuI, Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco e Mato Grosso. Assim, 0 ex-diretor regional dejornalismo da Globo no Rio relatou 0 processo que testemunhou bem de perto: "0 papel da Rede Globo de Televisao no Caso Pro consult, nas elei~oes de 1982, era apenas 0 de preparar a opiniao publica para 0 que iria acontecer: 0 roubo, por Moreira Franco, dos votos de Leonel Brizola. Alias, dos votos do povo. uNa epoca, eu era 0 responsavel por todo 0 jomalismo da emissora no Rio. 0 comando da Central Globo de Jornalismo - Armando Nogueira, Alice Maria, Alberico Souza Cruz e Woile Guimaraes - estava em Sao PauIo, dirigindo 0 program a 'ShowdasElei~Oes''', "Quem estava no fogoera eu. E Antonio Henrique Lago, hoje (novembro de 1986) curiosamente envolvido na campanha de Moreira Franco, envolvido em mais uma tentativa de se ganhar as elei~oes atraves do amortecimento da opinHio publica. Eu 14 da Globo que e invisivel para os que se relacionam corn essa empresa simplesmente como espectadores. Ha algo que so se com~a a perceber olhando-se por tras da Globo. A maior parte do que se ve e do que se ouve na Globo so ad quire coerencia se estivermos aten tos para 0 sentido de tudo 0 que la se produz. Ha urn sentido oculto e sua compreensao so pode ser alcan9ada quando se tern na mao - usando urna expressao policial - a "folha corrida", 0 "atestado de antecedentes" da Globo. Analisando estes antecedentes, 0 papel historico que vem sendo cumprido por essa que e a maior empresa de comunica9ao do hemisferio suI, podemos come9ar a entender 0 verdadeiro conteudo de certa entona9ao de voz do locutor Cid Moreira no Jornal Nacional, 0 valor real das inumeras homenagens que 0 "dr." Roberto esta continuamente recebendo, a inten9ao disfar9ada na escolha de urna noticia, 0 sentido ideologico do comportamento de determinado personagem de urna novela, a significa9ao, enfim, do modo que a Globo quer que seu publico perceba a realidade. o esfor90 da Globo para garantir a expressao dos interesses de seus proprietarios, entretanto, nao impede que la se manifeste uma serie de processos dificeis de controlar integralmente, 0 espirito cri tico do jornalista, do radialista, do artista, enfim, dos diversos profissionais que la trabalham. Sej a por uma questao de mercado, sej a pela corn batividade dos profissi onais, a Globo e obrigada a tolerar, ou mesmo a engolir, certas ocorrencias que contrariam a f1lia9ao ideologica de seus proprietarios. Isso explica porque na Globo passam filmes politica e ideologicamen te importan tes. Isso ex plica porque em certas noticias, ou ate mesmo em certas novelas,surjammomentos de contradi~o. Aluta poresses espa9°S, por mais limitados que sejam, es ficava na ernissora, em contato direto corn a alta direr,:a:o e Lago praticamente dorrnia na sala de cornputar,:a:o de 0 Globo. Era la que as distorr,:Oes aconteciam. 0 rnetodo correto de se cornputar as eleir,:Oes no Rio eo seguinte: injeta-se dois votos da capital, urn voto do interior e urn voto da periferia. Essa rnecinica perrnite a forma,.ao de urn universo correto.Ern 1982, comohoje, 0 processo de alimenta ,.ao dos computadores era distorcidos. Injetava-se, digamos, dois votos do interior, onde Moreira tinha sabida m aioria , nenhumvoto da Baixada e urn da capital. Nao posso dizer, embora intuissemos todos, de quem partiam as ordenspara que se trabalhasse assim. Ao Lago foi dito que havia problemasestruturais.0 Sistema havia sido mal montado. Tratava-se, enf1ffi, de uma quesmo de incomperencia. A des culpa e ,logo se vera, esfarrapada. Se ha alguma coisa competen te no Brasil, esta e, reconher,:a-se, 0 Globoe a 1V Globo.