Pensadores Da Liberdade Em Torno De Um Conceito
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PENSADORES DA LIBERDADE EM TORNO DE UM CONCEITO Liberdade e cidadania Organização Patricia Blanco PENSADORES DA LIBERDADE - LIBERDADE E CIDADANIA - VOLUME 3 • INSTITUTO PALAVRA ABERTA PALAVRA - VOLUME 3 • INSTITUTO - LIBERDADE E CIDADANIA LIBERDADE PENSADORES DA Volume 3 COLEÇÃO PENSADORES DA LIBERDADE Edição INSTITUTO PALAVRA ABERTA Instituto Palavra Aberta Conselho Diretor Organização Antonio Athayde Patricia Blanco Armando Strozenberg Daniel Pimentel Slaviero Coordenação editorial Fábio Gallo Acácio Morais’d - MTB 15107 Fernando Bomfiglio Projeto gráfico e editoração José Roberto Maluf Paulo James Woodward Judith Brito Marcel Leonardi Revisão Marcelo Rech Luciana Vasconcelos Machado Paulo Tonet Camargo Colaboração Conselho Fiscal Francisco Viana Luiz Roberto Antonik Maria Célia Furtado Secretaria executiva Ricardo Pedreira Daniela Ramos Conselho Consultivo Carlos Ayres Britto Impressão Cristiano Roriz Câmara Eugênio Bucci Fernando L. Schüler Lívia Barbosa Marco Aurélio Mello Realização Marcelo Moscogliato Mônica Waldvogel Ricardo Gandour Roberto Muylaert Sergio Fausto Av. Pedroso de Moraes, 1619 - Cj. 109 - Pinheiros - São Paulo/SP - CEP: 05420-002 Tel: + 55 11 3034-5295 - [email protected] Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pensadores da liberdade : liberdade e a construção da cidadania / organização Patricia Blanco. – São Paulo : Palavra Aberta, 2017. (Coleção pensadores da liberdade ; v. 3) Vários autores. ISBN 978-85-67989-02-0 1. Censura 2. Cidadania 3. Comunicação social 4. Imprensa 5. Liberdade de expressão 6. Meios de comunicação 7. Mídia e política I. Blanco, Patricia. II. Série. 17-01444 CDD-363.31 Índices para catálogo sistemático: 1. Meios de comunicação : Censura : Problemas sociais 363.31 APRESENTAÇÃO Pensadores da Liberdade No livro Política, Aristóteles escreve: “Em linguagem atual, cidadão é o no fundamento do direito natural de que todos os homens são iguais e nascem indivíduo nascido de pai cidadão e mãe cidadã, não bastando uma só dessas livres, tendo, por esta razão, direitos iguais. condições.” Ele se referia à Grécia antiga, mais exatamente à Atenas, e admitia Em outras palavras, concluiu-se pela necessidade de o Estado, em nome da que, a despeito da aparente simplicidade, nada era mais difícil do que o exer- paz social e do bem-estar comum, regular os mecanismos econômicos, pro- cício da cidadania em um ambiente povoado de escravos, apesar da pólis ser teger os mais fracos e praticar políticas públicas com a finalidade de resgatar o centro civilizador e a grande conquista da razão no âmbito da convivência. a importância dos direitos humanos, no conjunto, e a dignidade da pessoa Isto porque o que definia o cidadão era a solidez dos seus rendimentos e, humana, no particular. O que antes era um direito subjetivo, digamos assim, portanto, a sua capacidade de participar das magistraturas nos tribunais e nas ganha dimensão objetiva, com repercussões positivas com o ordenamento assembleias democráticas. jurídico, imprimindo nova vitalidade à preponderância da Constituição e sua Da mesma forma, Aristóteles entendia que a riqueza pertence a poucos, força normativa. mas a liberdade é de todos, originando dessa contradição, assim, a dissenções No Brasil, a questão ganha relevância com a Constituição de 1988, que eleva políticas. Ricos e pobres teriam em comum, segundo Aristóteles, o coração os direitos fundamentais ao patamar de cláusulas pétreas (art. 60, parágrafo 4º, voluntarioso e que não sabia submeter-se. A liberdade torna-se, portanto, es- inciso IV,) bem como considera o Estado democrático destinado a assegurar o sencial para a democracia e simplesmente não existe onde um certo número exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, de homens livres mandam em uma multidão que não desfruta de liberdade. o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma Tampouco existe democracia quando a soberania existe apenas entre os ricos sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social. e onde não há disputa, em condições de igualdade, entre a liberdade, a riqueza A ideia é que liberdade e cidadania caminhem lado a lado com uma re- e o mérito. Sendo assim, o fim constante da democracia é a liberdade, com a forçando a outra: a liberdade, favorecendo a livre expressão do pensamento mediação da justiça e dos direitos políticos. e esta, por sua vez, alargando os horizontes da cidadania, na forma do direito O mundo mudou, e mudou radicalmente, desde os idos de Aristóteles e, à vida, à propriedade, às oportunidades, à igualdade e o direito de participar com a Revolução Francesa, encontrou definitivamente o caminho para elevar dos destinos da sociedade, de votar e ser votado, de partilhar das riquezas a Constituição como guardiã e realizadora dos direitos fundamentais. Partiu-se da sociedade e, enfim, de ser feliz. Alinham-se nessa perspectiva os direitos à assim de uma cidadania excludente para uma cidadania inclusiva, alicerçada educação, ao salário justo, à saúde, ao trabalho e à previdência social. Essa multiplicidade de aspectos é o que se pode constatar com a leitura do Esse fio histórico envolve o homem e seus valores no que se relaciona a volume III da coleção Pensadores da Liberdade, editada pelo Instituto Palavra liberdade, a igualdade e a fraternidade. Exigem luta permanente pela dignidade Aberta, agora com o título Liberdade e cidadania. São 17 artigos. Tratam de humana e pela amplitude do conceito de liberdade. A história, em processo, assuntos da atualidade envolvendo temas tão diversos e polêmicos como os abre-se para construção do futuro com os saltos de qualidade da vida presente. limites éticos da propaganda, a liberdade na era digital, o direito (ou não) A porta foi aberta por Jean Jacques Rousseau e o parâmetro do direito natural ao esquecimento, a liberdade cidadã, o pós-verdade, liberdade de expressão que instalou o conceito de razão nas relações sociais para conciliar a ordem comercial, a língua e os direitos humanos, entre outros que trazem à tona social com a liberdade e dignidade do homem. uma realidade: cidadania e liberdade são conceitos históricos, cujos sentidos O elemento decisivo para o futuro – a mudança de valores pela práxis – vem mudam com o passar do tempo e, também, variam a depender dos espaços sendo alcançado ao longo do tempo. É entre esses dois polos – a aceitação geográficos. Existem, evidentemente, valores universais que se entrelaçam na da realidade como ela é e o engajamento na transformação da realidade – liberdade-cidadania, mas que dependem, sobretudo, do patamar democrático que a ideia de liberdade-cidadania se instaura como força de expressão real. alcançado pelas sociedades em diferentes países. Nesse mergulho em busca de respostas concretas, começamos a perceber A chave para penetrarmos nesse circuito é a Revolução Francesa, pelo que liberdade-cidadania é um processo. Não um idealismo mágico e sim uma notável idealismo e pela perspectiva de um milênio de fraternidade, como se construção cotidiana, que merece atenção e busca constante na sua afirmação imaginava na época. O terreno para a Era dos Direitos, que agora se configura, e fortalecimento. foi pavimentado aos poucos, ao longo de mais de 300 anos. No século XVIII, O sentimento de liberdade surpreendeu, por exemplo, Tocqueville ao des- os direitos civis; no século XIX, os direitos políticos; e nos séculos XX com o cobrir que, na América do Norte, nos idos de 1835-40, quando escreveu De la alvorecer do XXI, os direitos sociais. O ponto de partida pode ser delineado a Démocratie en Amérique, existia um coletivo que, em nome da liberdade, equi- partir da Revolução Inglesa (1640-1680), que dissolveu o sistema feudal e abriu librava a balança da individualidade e dos negócios. Hoje, o que surpreende são espaço para a emergência da Revolução Industrial, com seu original cortejo os avanços quanto aos direitos sociais que renovam e se tornam referência, em de direitos individuais. E, mais tarde, o aprofundamento dos vínculos entre última análise, de que a cidadania depende da liberdade (e vice-versa), fazendo liberdade, cidadania e democracia, graças às revoluções americana e francesa. da democracia uma garantia dos direitos sociais e da dignidade o humana. O Na América, com ênfase à igualdade de oportunidades e a clara determinação que não impede que cada um tenha uma ideia de sociedade justa. Razão pela para criar leis justas e iguais (just and iqual laws), e na França revolucionária qual, diferentemente dos tempos de Aristóteles, o exercício da liberdade e da tendo a liberdade como princípio coletivo. O homem passa a ter consciência cidadania é mais complexo e passa por reflexões e ações legítimas de conteúdo da sua “situação na história” e de que a felicidade só pode como “projeto muito mais abrangente e desafiador. de sociedade, isto é, como uma possibilidade para todos os que nela vivem, Que os artigos aqui expostos contribuam ainda mais para a consolidação dos quando criou os meios de fazer com que a educação, a produção de alimentos, princípios que sustentam a liberdade como fator fundamental na construção a fabricação das coisas de que precisava – tecidos, roupas, máquinas, etc. – e no fortalecimento da cidadania. aumentassem a tal nível que deixassem de ser privilégios de poucos para ser uma possibilidade de todos”.1 Boa leitura! Patricia Blanco 1 Cf. ODALIA, Nilo, in: História da Cidadania, PINKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi, São Paulo: Presidente