Africana Studia Nº34 V3.Indd
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Centro de Estudos Africanos Universidade do Porto AFRICANA STUDIA Revista Internacional de Estudos Africanos/International Journal of African Studies Email: [email protected] Nº de registo: 124732 Nº 34 - 2.º semestre - 2020 Depósito legal: 138153/99 ISSN: 0874-2375 DOI: https://doi.org/10.21747/0874-2375/afr DOI Africana Studia n.º 34: 10.21747/08742375/afr34 Índice Editor/Entidade proprietária: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto - FLUP, Via Panorâmica s/n – 4150-564 Porto Editorial . 5 Email: [email protected] NIF da entidade proprietária: 504 045 466 Culturas populares e urbanas em África Diretor: Maciel Morais Santos ([email protected]) Cultura popular e sociabilidades urbanas Secretariado: Carla Delgado Revisão gráfica e de textos: Henriqueta Antunes Angola: apontamentos para uma História Social da Cultura. 13 Sede da redação: FLUP, Via Panorâmica s/n - 4150-564 Porto Andrea Marzano Tiragem: 200 exemplares Jogos, lazer e repúdio: conexões e identidades em Moçambique (1960- Periodicidade: semestral -1984) . 33 Design e impressão: Uniarte Gráfica, SA - Rua Pinheiro de Campanhã, 342 - 4300-414 Porto Calisto Samuel dos Remédios Baquete Associativismo sino-moçambicano e o caso do Wushu: história, atualida- Conselho Científico/Advisory Board:Adriano Vasco Rodrigues (CEAUP), Alexander de e perspetivas . 49 Keese (U. Genève/CEAUP), Ana Maria Brito (FLUP), Augusto Nascimento (FLUL), Laura António Nhaueleque e Luca Bussotti Collette Dubois (U. Aix-en-Provence), Dmitri Bondarenko (Instituto de Estudos Africanos - Moscovo), Eduardo Costa Dias (CEA-ISCTE), Eduardo Medeiros (U. Évora), O combate ao mau cinema: propostas para a exibição de filmes em Cabo Emmanuel Tchoumtchoua (U. Douala), Fernando Afonso (Unilab/CEAUP), Joana Verde dos primeiros anos de independência (1974-1980) . 61 Pereira Leite (CESA-ISEG), João Garcia (FLUP), José Carlos Venâncio (U. Beira Interior), Victor Andrade de Melo Malyn Newitt (King’s College), Manuel Rodrigues de Areia (U. Coimbra), Manzambi V. Fernandes (Faculdade de Letras e Ciências Sociais de Luanda)/CEAUP), Martin Rupyia Video as a Tool of Learning New Skills . 73 (UNISA - Pretória), Michel Cahen (IEP-U. Bordéus IV), Nizar Tadjiti (U. Tetouan/ Hamid Boudechiche CEAUP), Paul Nugent (U. Edimburgo), Paulo de Carvalho (Faculdade de Letras e Ciências Sociais de Luanda), Philip Havik (IHMT), Suzanne Daveau (U. Lisboa). Cultura popular e identidades Conselho editorial/Editorial Board: Amina Aty, Carla Delgado, Celina Silva, Flora Colonialismo-tardio, pós-colonialismo e cultura popular nos subúrbios de Oliveira, Jorge Ribeiro, Joséphine Ernotte, Maciel Santos, Mourad Aty, Nur Rabah Latif, Maputo: um olhar a partir da marrabenta (1945-1987) . 95 Rui da Silva, T. P. Wilkinson. Matheus Serva Pereira Venda online: http://www.africanos.eu/ceaup/loja.php Marrabenta: as dinâmicas históricas e socioculturais no contexto do seu Advertência: Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta publicação (na surgimento. 117 versão em papel ou eletrónica) sem autorização prévia por escrito do CEAUP. Marílio Wane Africana Studia é uma revista publicada com arbitragem científica. Panorama musical numa roça no sul de São Tomé: Ribeira Peixe antes e Africana Studia é uma revista da rede Africa-Europe Group for Interdidisciplinary Studies depois da independência . 131 (AEGIS). Magdalena Bialoborska Capa: Grafito de Tho Simões na Rua dos Mercadores. Luanda, Angola 2021. Foto de Sebastião Coelho e a construção sonora da angolanidade . 151 Cláudio Fortuna. Catarina Valdigem e Rogério Santos Entrevista Editorial Tho Simões. 173 Entrevista conduzida por Cláudio Fortuna Entrevista Matheus Serva Pereira. 179 Entrevista conduzida por Augusto Nascimento Notas de leitura Este dossier da Africana Studia começou por se compor de artigos selecionados de entre os apresentados no V Encontro Internacional sobre Desporto e Lazer em África, sob o Courriers des «isles», du Cunene, du Rovuma, du Danube et d’ailleurs . 189 lema “Vivências coloniais e dinâmicas nacionais”, organizado pela Faculdade de Letras René Pélissier e Ciências Sociais, com a colaboração da Escola Superior de Ciências do Desporto, da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, de 8 a 9 de novembro de 2018. Juntaram-se Martine Blanchard. Celles qui partent pour une terre lointaine; Récits de outros estudos sobre manifestações culturais diversas, populares e urbanas, em diversos femmes capverdiennes migrantes en France . 203 contextos africanos. Kaian Lam O primeiro é o de Andrea Marzano que, revisitando, entre outros, José Redinha, Óscar Sónia Vaz Borges. Militant Education, Liberation Struggle, Consciousness: Ribas e Mário António, traça um inventário de obras referidas ao domínio cultural na era The PAIGC education in Guinea Bissau 1963-1978. 207 colonial em Angola, por um lado, lembrando a sua importância para a historiografia do Rui da Silva período colonial, por outro, realçando o caminho a percorrer no terreno da história social da cultura, não raro indestrinçável das formas de lazer. Independentemente da possibi- Resumos . 211 lidade de se considerar Luanda no quadro de uma “crioulidade atlântica”, isto é, de uma comunidade cultural definida pela mistura de vetores de culturas africanas, europeias e Legenda das ilustrações . 221 americanas, presente nas regiões dos três continentes onde operou o comércio atlânti- co de escravos, Andrea Marzano nota que cumpre entender os processos históricos de hibridização cultural, também ditos de “mestiçagem, crioulidade, sincretismo e fusão”, como resultado de relações de poder geradoras de violência, imposições, conflitos, trocas, escolhas, estratégias e, ainda, de empréstimos inconscientes. É deste ângulo da história social – e, acrescentaríamos, política – da cultura que a autora revisita a história de Luan- da, destacando a progressiva subalternização dos naturais nas práticas de lazer. Embora com alcance variável, as rivalidades1 entre os próprios colonizados avultaram, por exemplo, nos festejos de carnaval, de que sobressaíam as danças, a entender como géneros performativos e como denominações de solidariedades de grupo. Em suma, a autora intenta evidenciar o potencial da história social da cultura para a compreensão da sociedade colonial. Vale para a cultura e, repisamo-lo, para as formas de lazer tornadas “cultura popular”. Numa descrição sucinta baseada em entrevistas, Calisto Samuel dos Remédios Baquete fala-nos dos jogos tradicionais – Ntxuva e Xindiro – e da sociabilidade dos moçambicanos tecida nos momentos de jogo, sociabilidade porventura vigiada, mas, de algum modo, 1 A propósito cumprirá lembrar as circunstâncias do processo atinente a tornar o carnaval “civilizado”, intento que não era exclusivo de Luanda, porquanto o mesmo processo se observou, por exemplo, em Lisboa. Aqui, o carnaval tornou-se civilizado no século XX, quando não o era – longe disso – em finais do século XIX. Outro apontamento diz respeito ao desfasamento, de alguma forma inelutável, entre a designação de colonizados e a circunstância de não ser necessariamente nessa condição que os participantes do carnaval se pensariam, ao menos durante o carnaval, com o que não se desvaloriza o facto de o carnaval ter sido constrangido por ditames colonialistas, cujo fundamento adivinha menos de eventuais propósitos civilizadores da festa e da diversão do que da posição de indisputável força dos colonos. AFRICANA STUDIA, N.º 34, 2020, EDIÇÃO DO CENTRO DE ESTUDOS AFRICANOS DA UNIVERSIDADE DO PORTO 5 inacessível para o colono. Que sentimentos se poderiam alicerçar num jogo, Ntxuva, em atividades de lazer mas complementando, por exemplo, as deficiências do sistema esco- que eram mestres? Embora sem incorrer numa inapropriada narrativa heroica a propósito lar. Com base na experiência argelina contemporânea, Hamid Boudechiche descreve de tais formas de lazer, vale a pena sublinhar que elas podem ser reivindicadas como um o impacto da produção de videos artesanais caseiros na chamada “auto-ajuda”, desde o reduto dos moçambicanos. Se não havia luta, remanescia a apartação do sistema colonial. ensino profissionalizante à jardinagem. Embora existir não seja sinónimo de resistir, dir-se-á que a apartação sustentada na pro- A segunda seção do dossier aborda a que é talvez uma das linguagens mais criativas da cura da emoção em práticas específicas ajudava a conter a dominação colonial, mormente cultura popular, a musical. Interessado na criação e consolidação da marrabenta, Ma- pela aparente irredutibilidade de alguns moçambicanos a propostas de lazer “moderno” theus Serva Pereira recenseia os trabalhos sobre tal ritmo no denominado colonialis- que deveriam implicar alguma interação e, com isso, alguma aproximação aos colonos. O mo-tardio (1945-1975) e no pós-colonialismo (1975-1987), em que, a par da diversificação autor também nos dá a noção de como, após a independência do país, os jogos tradicio- da vida social e de mudanças políticas, se teria registado maior criatividade artística. Na nais se constituíram como alento em momentos de desterro por decisões discricionárias sua fase final, o colonialismo tentou metamorfosear-se. Tanto quanto era politicamente do regime revolucionário, como as subjacentes à “operação produção” ou as perseguições possível, deixou de rasurar a diversidade cultural. Com efeito, se as políticas de usura da administrativas contra os que, com ou sem fundamento, eram etiquetados de inimigos da força de trabalho tinham desenraizado os indivíduos – “destribalizados” era a palavra com “revolução” e do “povo”.