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CRIME E GLOBALIZAÇÃO DOCUMENTOS DE DEBATE MARÇO DE 2010 O impacto da ação das milícias em relação às políticas públicas de segurança no Rio de Janeiro TRANSNATIONAL INSTITUTE TNI Briefing Series Crime e Globalização, Março de 2010 1 O impacto da ação das milícias em relação às políticas públicas de segurança no Rio de Janeiro AUTORES: Índice Paulo Jorge Ribeiro Rosane Oliveira • Introdução: Insegurança humana 3 e mercados de violência TRADUÇÃO: Alexandra de Vries • O impacto da ação das milícias 6 EDITOR: em relação às políticas públicas Tom Blickman de segurança no Rio de Janeiro ESBOÇO: Quadro: Liga da Justiça 7 Guido Jelsma IMPRESSÃO: • Nota metodológica 7 Drukkerij PrimaveraQuint Amsterdam Mapa: Áreas sob controle de 8 milícias na capital fluminense APOIO FINANCEIRO: Ministry of Foreign Affairs (The Netherlands) • Delimitando questões 9 CONTATO: • Milícias, mercado da violência 11 Transnational Institute e poder local De Wittenstraat 25 1052 AK Amsterdam The Netherlands • Mudanças na perspectiva: da 13 Tel: -31-20-6626608 negação ao aceite das milícias Fax: -31-20-6757176 [email protected] • Visitando Gotham City 16 www.tni.org/crime • Considerações finais 19 Os conteúdos desse livreto podem ser cita- dos ou reproduzidos, desde que a fonte seja • Recomendações 22 mencionada.O TNI gostaria de receber uma cópia do documento no qual este livreto é Quadro: Principais 23 usado ou citado. recomendações da CPI Você pode manter-se informado sobre as publicações e atividades da TNI, assinando • Notes 24 o boletim eletrônico quinzenal. Faça seu pedido para [email protected] ou registre-se em • Bibliografia 27 www.tni.org Amsterdam, dezembro de 2009 • Anexo: Impressões sobre um 29 ISSN 1871-3408 fenômeno “estranho”: 2 Crime e Globalização, Março de 2010 Introdução: Insegurança humana e mercados de violência Introdução: Insegurança humana e mercados de violência Por Tom Blickman grar ilegalmente’ como meio de sobrevivência; adentram na economia informal não-regula- Este documento, escrito por Paulo Jorge mentada e as vezes na criminalidade, também. Ribeiro e Rosane Oliveira, explora um fenôme- Desde 2008, pela primeira vez na história, no aparentemente recente nos episódios recor- metade da população mundial, ou 3.3 bilhões rentes de violência urbana no Rio de Janeiro: de pessoas, mora em áreas urbanas. o surgimento das milícias – grupos bem orga- nizados de vigilantes particulares formado por Nas próximas duas décadas, este número policiais, bombeiros e agentes penitenciários crescerá para 60%. O ano de 2007 viu o núme- desonestos, demitidos ou aposentados. O ro de moradores de favelas pelo mundo afora documento demonstra que enquanto o papel ultrapassar a marca de meio bilhão. Um a das milícias particulares foi só recentemente cada três moradores mora em uma habitação aos jornais, ele é parte de um problema de in- in-adequada - com nenhum - ou poucos segurança pública que tem raízes muito mais serviços básicos. Cerca de 41% das populações profundas e históricas. Baseado em uma pes- urbanas combinadas de todas as regiões em quisa que foi feita sob condições difíceis e desenvolvimento moram em favelas, enquanto geralmente perigosas, este estudo descreve um 78% da população urbana em países menos cenário preocupante em assentamentos urba- desenvolvidos são moradores de favelas – nos informais que podem ser peculiares ao Rio de bem mais que 20% da humanidade. Espera- Janeiro, mas também representa desenvol- se que o número de moradores de favelas vimentos em segurança urbana que vão alcance 1.4 bilhão em 2020 e se não forem muito além da auto-denominada “Cidade tomadas medidas firmes e concretas, chegará Maravilhosa”. aos 2 bilhões em 2030, de acordo com UN Habitat.2 Globalmente, muitas comunidades em assenta- mentos urbanos informais e inseguros enfren- A comunidade internacional reconheceu tam sérios desafios com a segurança humana a urgente necessidade de enfrentar a situa- devido à ausência do estado de lei, segurança ção quando – como dizem os Objetivos de de estado e governança em tais condições. Desenvolvimento do Milênio (ODMs) – ficou acordado em “melhorar significativamente as Isso é particularmente verdadeiro em países vidas de pelo menos 100 milhões de moradores em desenvolvimento, onde há poucos recursos de favelas até 2020.”3 disponíveis para um ambiente seguro, e onde a instabilidade empregatícia e precárias opor- Algumas favelas são menos visíveis ou mais tunidades econômicas relacionadas aos setores integradas ao tecido urbano à medida que informais estão disseminadas. Em contraste as cidades se desenvolvem e que a renda dos com o bem-estar democrático e desenvolvido moradores das favelas aumenta. Outras se tor- de alguns estados que promovem segurança, nam componentes característicos das paisagens regulamentos e processos judiciais tendo como urbanas. As favelas em muitas cidades não são base a lei, provavelmente metade da população mais apenas bairros marginalizados abrigando mundial vive em frágeis esferas informais sem uma proporção urbana relativamente peque- acesso à proteção legal.1 na; em muitas cidades, elas são as formas de moradia predominante. Há uma tendên- A conseqüente insegurança material e econômi- cia de ‘informalização’ da economia urba- ca força muitos habitantes dessas áreas a ‘mi- na, com uma crescente parcela das rendas Crime e Globalização, Março de 2010 3 O impacto da ação das milícias em relação às políticas públicas de segurança no Rio de Janeiro obtida através de empregos não-regulamenta- Violência, crime e exclusão social, a última dos. Na América-Latina e no Caribe, 7 entre 10 como forma de apartheid social, são os efeitos trabalhos em áreas urbanas são conseguidos colaterais negativos associados à rápida urban- através do setor informal. ização. Problemas de segurança são geralmente negligenciados no ambiente urbano, onde se De acordo com o relatório da ONU The Chal- espera que exista o Estado de direito, e são lenge of Slums (O Desafio das Favelas), a ca- deixados à imposição da lei e instituições de mada pobre urbana está presa em um mundo justiça criminal. Entretanto, de acordo com informal e ‘ilegal’ – “em favelas que não con- UN Habitat, a corrupção e práticas ineficazes, stam nos mapas, onde o lixo não é recolhido, inflexibilidade de resposta às circunstâncias onde os impostos não são pagos e onde não criminais em constante modificação, jun- há serviços públicos. Os moradores de fave- tamente com recursos e habilidades limita- las vivem, em sua maioria, fora da lei. Se eles das, minam seriamente o desempenho destas entram em contato com o governo, é mais instituições. “O problema da corrupção nos provável que suas tentativas de serem providos sistemas de justiça criminal e na polícia é de necessidades básicas – abrigo e subsistência particularmente corrosivo em termos de - sejam impedidas. Eles vivem em um estado confiança pública, já que a maior parte do de ilegalidade e insegurança permanentes, e público confia nessas entidades para realizar negócios ilegais e bandidos permeiam esses seus trabalhos tradicionais de apreensão e vácuos desgovernados.4 julgamento de criminosos.” 7 O Diretor Executivo da United Nations Office Em muitas cidades ingovernáveis, o estado on Drugs and Crime [Escritório das Nações geralmente não pode proporcionar a lei e Unidas contra Drogas e Crime] (UNODC), ordem e responder às necessidades básicas Antonio Maria Costa, identificou a segurança de segurança e é substituído por uma grande e o estado de lei como metas que ainda faltam variedade de sistemas alternativos e ilegais de para alcançar os ODMs.5 segurança, criando um poder e um vácuo na governança. O monopólio do estado no uso As necessidades da segurança têm mudado legítimo da força é corroído e “mercados de nas últimas décadas. “Durante as décadas violência” ou “mercados de força” – a forma de 60 e 70, o grande medo dos moradores de mais radical da privatização da segurança favelas em algumas cidades latino-americanas, – surgem como formas regulamentação da especialmente aqueles em invasões e favelas, segurança.8 Com a ausência da regra legal, da era a remoção, seja pelo governo ou pelos segurança e governança, a segurança deixa de proprietários particulares,” de acordo com o ser uma mercadoria pública e é transformada relatório UN Habitat. “Nos dias de hoje, isso em uma mercadoria particular. O contrato foi substituído pelo medo da violência e do social entre o estado e o cidadão, expressado crime, incluindo tiroteios relacionados ao pelos pagamentos de impostos e a proteção im- tráfico de drogas. Enquanto precisamos de plícita em um monopólio eficaz do uso legal da mais evidências empíricas globais sobre a força, é enfraquecido. conexão entre crime e favelas, algumas aná- lises mais recentes sugerem que os moradores Nesse vácuo, empresários agressivos contro- de favelas não constituem ameaça a grandes lando certos territórios impõem modelos de cidades, mas são eles mesmos vítimas do crime segurança alternativa usando violência arbi- urbano e da violência. Moradores de favelas trária e aleatória. A segurança torna-se uma são, na verdade, mais vulneráveis à violência e mercadoria cara para os já pobres. O “mercado ao crime em virtude da exclusão das favelas de da violência” surge de processos institucionais, processos e programas públicos preventivos, políticos, econômicos e sociais complexos que incluindo policiamento.”6 tornam a violência um meio predominante de 4 Crime e Globalização, Março de 2010 Introdução: Insegurança humana e mercados de violência resolução de conflitos e poder em moradias comunidades e instituições democráticas for- informais. Isso leva a uma “cultura de vio- mais enfraquecidas. lência”, resultando em medo endêmico e in- segurança ou “sociedades do medo”, que em Uma vez que essas redes de segurança privada contraponto geralmente levam a formas de e controle de território e proteção política se violência e justiça popular que são racionaliza- estabelecem, será muito difícil eliminá- dos como sendo defensivos na natureza. Esse las, assim como ocorre com a Mafia, com a círculo vicioso de violência oferece amplas ‘Ndrangheta' e com a 'Camorra' no sul da Itália. oportunidades para os empresários agirem im- Essas organizações criminosas formadas há um punemente.