Perspectivas, Análises E Descrições Perspectivas
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Embondeiro Publicação Sócio-Cultural do Arpac • Periodicidade: Semestral • Edição 01• Outubro de 2017 PERSPECTIVAS, ANÁLISES E DESCRIÇÕES PERSPECTIVAS, ARPAC - Instituto de Investigação Sócio-Cultural Embondeiro Publicação Sócio-Cultural do ARPAC Perspectivas, Análises e Descrições ARPAC - Instituto de Investigação Sócio-Cultural Outubro de 2016 Ficha Técnica Título Embondeiro: Publicação Sócio-Cultural do Arpac Direcção João Baptista Fenhane Coordenação Ruben Taibo Equipe editorial Angélica Munhequete Célio Tiane Ruben Taibo Belchior Canivete Marílio Wane Arrisses Mudender Autores Silva A. Dunduro Marílio Wane Abel Mazuze Manuel Vene Killian Dzinduwa Ruben Taibo Angélica Munhequete Agnelo Navaia Osvaldo Zandamela Dulámito Aminagi Revisão Linguística Eugénio Matusse Maquetização Cândido Nhaquila Ramiro Machatine Impressão: Número de Registo: 07/GABINFO-DEPC/2017 Tiragem: 1000 Exemplares Índice -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fontes Orais e sua Importância para a Pesquisa em Moçambique 6 Silva A. Dunduro -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3M: Marrabenta, Memória e Maputo 12 Marílio Wane -------------------------------------------------------------------------------------------------------- XIMBUTSU MUZAYA: mitos e factos sobre o topónimo Chibuto 19 Abel Mazuze -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Nomadismo e seu Impacto na Província de Niassa: 27 caso dos distritos de Marrupa, Mecula, Nipepe e Ngauma Manuel Vene et. al. -------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Veneração aos Espíritos Makombe: 36 uma marca das comemorações da Revolta do Báruè Killian Dzinduwa -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Lobolo no Moçambique contemporâneo: 43 negociando a condição de nativo num campo familiar Ruben Taibo -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Reflexão sobre as Percepções Sócio-Antropológicas 49 do Albinismo em Moçambique Angélica Munhequete -------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Dimensão Sócio-Cultural do Embondeiro na Província de Tete 57 Agnelo Navaia et. al. -------------------------------------------------------------------------------------------------------- O Papel dos Contos no Processo de Socialização 63 Osvaldo Zandamela -------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Pulverizar as Representações Sociais 72 Dulámito Aminagi -------------------------------------------------------------------------------------------------------- ARPAC-Instituto de Investigação Sócio Cultural é resposta à necessidade de dinamizar o processo O de divulgação dos materiais colectados em cam- uma instituição tutelada pelo Ministério da Cultura po, imputando maior fluxo entre a colecta de da- e Turismo, vocacionada à pesquisa, preservação dos e a partilha de resultados. Por outro lado, o e divulgação do património cultural imaterial de Embondeiro constitui um mecanismo de incenti- Moçambique. As atribuições do ARPAC respon- vo à escrita científica por parte de investigadores dem, por via da pesquisa aplicada, aos desafios do ARPAC e de outras instituições. do governo moçambicano referentes ao fomento Este pressuposto está, por sua vez, associado à do capital social, económico, político e cultural convicção de que as pesquisas sobre o património de Moçambique. A pesquisa científica desenvol- cultural imaterial encontram no Embondeiro mais vida pelo ARPAC é privilegiada pela produção um espaço de debate e reflexão sobre as dinâmi- contínua de dados baseados em fontes primárias cas socioculturais da realidade moçambicana. que, geralmente, resultam em textos científicos, documentários, materiais audiovisuais e outros. As discussões levantadas na presente edição não A missão de pesquisa, preservação e divulgação clamam, necessariamente, por eventuais consen- do património cultural imaterial materializa-se, sos. O efeito almejado pelo Embondeiro deve os- em parte, pela existência das delegações provin- cilar entre inquietações, dúvidas, incertezas e, so- ciais do ARPAC. Estas representações alimentam bretudo, questionamentos que os artigos poderão a tradicional tendência em pesquisar fenómenos gerar. É desta forma que se perpetua o espírito de e actores dos locais mais recônditos de Moçam- indagação sempre necessário à qualquer institui- bique. Trata-se de uma capacidade institucional ção de investigação, incluindo o ARPAC. edificada desde a criação desta instituição, em A primeira edição é caracterizada por reflexões 1983, que tem resultado no estabelecimento de distintas mas que se intersectam na exploração parcerias e na sua eleição para implementação de de factores, eventos, situações e, sobretudo, fenó- várias pesquisas. A realização de inventários do menos relacionáveis às questões socioculturais, o património cultural imaterial, à luz da Conven- principal foco do ARPAC. A rota dos temas que ção de 2003 da Unesco, expressa, em parte, esse percurso de engajamento e comprometimento do o Embondeiro propõe, nesta tiragem, passa pelos ARPAC na produção científica em prol da pre- seguintes conteúdos: o papel dos rituais na cele- servação e salvaguarda do Património Cultural bração de eventos históricos; a abordagem sócio Moçambicano. -antropológica sobre o albinismo; a relação entre as memórias sobre a cidade de Maputo e a mar- O Embondeiro é uma marca criada na formação rabenta; o debate sobre o auto-dimensionamento do ARPAC, que sempre operou como o símbolo do etnógrafo em campos familiares; o papel da dessa produção. Este pressuposto tornou impres- oralidade na pesquisa doméstica; a relação entre cindível a escolha da mesma designação para a os contos e a socialização; a problemática da saú- presente revista, uma revista que deve ser enten- de pública e das representações sociais. dida no quadro de um projecto institucional de diuvulgação permanente da sua pesquisa. A re- vista Embondeiro ressurge, portanto, como uma João Baptista Fenhane Director Geral do ARPAC Embondeiro 5 Fontes Orais e sua Importância para a Pesquisa em Moçambique Silva A. Dunduro [email protected] Resumo O presente artigo problematiza o lugar que a oralidade ocupa na construção do co- nhecimento científico. Ao longo da história da humanidade, as sociedades recorrem às fontes orais para a transmissão de saberes e conhecimentos, contribuindo para a descrição de factos históricos, a preservação de culturas e o estabelecimento de pontes de continuidade identitária e civilizacional. Palavras-Chave: Fontes Orais Nas sociedades apelidadas sem escrita, a palavra do conhecimento sobre povos de Moçambique, tem uma importância transcendental, na medida não era prioridade do sistema colonial de educação em que ela transporta o sistema de valores morais e de investigação. Os parcos estudos e registos que e está associada à divindade. Em conformidade constituem as raras fontes primárias disponíveis, 1 com o estudioso africano Ampâté Ba , “o homem são essencialmente eurocentristas, ou patenteiam está ligado à palavra que profere. Está compro- outros vícios contrários ao espírito científico. metido por ela. Ele é a palavra, e a palavra en- cerra um testemunho daquilo que ele é. A própria Experiências relevantes de trabalho com fontes coesão da sociedade repousa no valor e no respei- orais foram desenvolvidas por instituições como o to da palavra”. ARPAC – Instituto de investigação Sociocultural, cuja origem está associada à primeira Campanha Não sendo excepção, em Moçambique, pre- Nacional de preservação Cultural (1979-1981), valecem factores de fracturas e bloqueios que consistiu na recolha de depoimentos sobre as- socioculturais, na sua maioria herdados da situação colonial, onde o sistema educacio- pectos socioculturais (etnográficos, etnológicos, nal foi marcadamente discriminatório e fez de etnomusicologia, históricos, sociológicos, etc.), com que aquando da independência nacional e objectos para os Museus. Os materiais então re- (1975), apenas 3% da população estivesse al- colhidos, constituem um importante acervo procu- fabetizada. Concomitantemente, a produção rado por docentes universitários, investigadores, do estudantes, entre outros. A recolha de informações de interesse sociocultu- 1 Amadou Ba (1900-1991) nasceu no actual Mali numa fa- ral através da metodologia de história oral, método mília aristocrática do povo fula. Escritor, etnólogo, filósofo, historiador, poeta e contador de histórias, foi da primeira ge- amplamente usado no campo das ciências sociais ração local que recebeu educação ocidental francesa. Pro- para a criação de acervos audiovisuais, textuais e curou o reconhecimento da oralidade como fonte legítima de conhecimento histórico. Para isso, recolheu, transcreveu iconográficos, assim como a sua disponibilização e explicou os tesouros da literatura oral do Oeste da África ao grande público, pode responder a preocupação para o restante do mundo. Participando do Conselho Exe- educacional no campo da pesquisa e documenta- cutivo da UNESCO desde 1962, chamou a atenção para a fragilidade desta cultura, proferindo então a famosa frase: ção sobre arte, meio ambiente, movimentos so- “Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima”,