A Tragédia Da Chapecoense Através Das Capas De Jornais Brasileiros1
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ISSN 2175-6945 Dos gramados aos céus: a tragédia da Chapecoense através das capas de jornais brasileiros1 Raniery Soares LACERDA (Mestrando)2 Fabiana Cardoso de SIQUEIRA (Doutora)3 Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB Resumo Considerada uma das maiores tragédias da história do futebol mundial, o acidente com o time da Chapecoense, em 2016, estampou as capas dos jornais impressos e dominou a pauta jornalística em todo o Brasil. O presente trabalho propôs analisar de que forma cinco jornais de maior circulação no Brasil abordaram o acontecimento. Foi realizada a análise de conteúdo das capas dos jornais Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo, Daqui e Super Notícia em 30 de novembro de 2016, o dia seguinte à tragédia. A análise foi realizada com base nas categorias: assunto de destaque na capa, contexto das imagens utilizadas e espaço dedicado ao assunto. Foi constatado que embora os veículos tenham formatos diferentes (tabloide e standard) e públicos diversos (notícias populares ou tradicionais), a queda do avião da Chapecoense foi o assunto principal (nas manchetes e subtítulos). As imagens representaram perspectivas de comoção isolada ou ampla e também a dimensão da tragédia. Mais da metade do espaço de cada capa foi destinado ao assunto no dia analisado. Palavras-chave: Jornalismo; Mídia impressa; Análise de conteúdo; Futebol; Chapecoense. 1 Introdução Em um país onde o noticiário jornalístico diariamente destaca assuntos econômicos e políticos, fatos de grande relevância agregados ao esporte podem mudar esta lógica, desde que estejam inseridos em contextos que envolvam alegria, tristeza, entre outros aspectos que causem impacto na vida das pessoas ou comoção. No dia a dia da cobertura esportiva pela mídia, o futebol é o que ganha mais evidência detrimento das demais modalidades. Em finais de campeonato e durante a copa do mundo, geralmente, recebe um espaço de destaque nas capas dos jornais de maior circulação no 1 Trabalho apresentado no GT História da Mídia Impressa, integrante do 12º Encontro Nacional de História da Mídia. 2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Jornalismo (PPJ) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]. 3 Doutora em Comunicação pelas Universidade Federal de Pernambuco/Universidade Complutense de Madrid. Professora dos Programa de Pós-Graduação em Jornalismo e do Curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba, jornalista. E-mail: [email protected]. 1 ISSN 2175-6945 Brasil. Raramente em outras circunstâncias ocupa esse espaço. Uma das exceções foi um episódio ligado a uma tragédia, que fez o futebol ter mais relevância do que as notícias políticas e econômicas. Considerado um dos maiores desastres na história esportiva, o acidente aéreo ocorrido no dia 29 de novembro de 2016 com a Associação Chapecoense de Futebol, envolveu profissionais e diretores da agremiação esportiva, além de jornalistas e, estampou as capas dos jornais impressos, dominando a pauta jornalística em todo o mundo. O episódio tomou grandes proporções, pois era um time que estava vivendo o melhor momento de toda a sua história e estava diante de uma final da Copa Sul-Americana, onde enfrentaria o Atlético Nacional da Colômbia. Este estudo teve como objetivo geral analisar como os jornais brasileiros trataram esse assunto que marcou a história da cobertura jornalística no país por meio da análise de conteúdo das capas. Buscamos averiguar os elementos visuais e compreender como o fato foi apresentado na primeira página dos seguintes periódicos: Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo, Daqui e Super Notícia. A análise de conteúdo “consiste na manipulação de mensagens, para que se possa enxergar mais além do que, aparentemente, está dito no texto” (CORREIA, 2007, p. 98). A manipulação aqui referida pelo autor está relacionada a investigação do que é apresentado e não na adulteração das mensagens empregadas. O método é definido por Bardin (1977) como: [...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos objetivos e sistemáticos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1977, p. 48). É um conceito que se aproxima do entendimento de Herscovitz (2007, p. 126), que o descreve como: método de pesquisa que recolhe e analisa textos, sons, símbolos e imagens impressas, gravadas ou veiculadas em forma eletrônica ou digital encontrados na mídia a partir de uma amostra aleatória ou não dos objetos estudados com o objetivo de fazer inferências sobre seus conteúdos e formatos enquadrando-os em categorias previamente testadas, mutuamente exclusivas e passíveis de replicação (HERSCOVITZ, 2007, p. 126). 2 ISSN 2175-6945 Os periódicos que tiveram as capas analisadas foram escolhidos por serem os cinco jornais de maior circulação do país (ANJ, 20019). O estudo foi realizado levando em consideração as publicações do dia 30 de novembro de 2016, ou seja, o dia seguinte ao acidente envolvendo o time brasileiro. 2 O jornal impresso e suas capas O surgimento do jornalismo, a começar pelo meio impresso, fez com que as civilizações pudessem se informar sendo a porta do surgimento da comunicação de massa. Existente desde antes de Cristo, como relata a Associação Nacional de Jornais (ANJ) em sua página na internet4, a primeira iniciativa considerada como jornal foi a Acta Diurna, criada em Roma em 59 a.C. O imperador Júlio César tinha o intuito de tornar público os mais consideráveis fatos políticos e sociais, mas para que mais pessoas tivessem acesso a essas informações, ele ordenou que fossem produzidas grandes placas brancas e que fossem expostas em locais públicos das principais cidades. No Brasil, o marco da origem dos jornais aconteceu em 1808, através da Coroa Portuguesa com a publicação do Gazeta do Rio de Janeiro. Segundo Sodré (1999), a publicação se limitava a curtas informações relacionadas à família real e seus agregados, desprezando o momento pré-republicano que o país vivia naquele momento. O autor ainda destaca que três meses antes, Hipólito Costa já editara o Correio Braziliense, mas que não é considerado o primeiro jornal brasileiro, pois apesar de circular no Brasil, era editado em Paris, na França. Assim como na Europa, as publicações brasileiras também apresentavam um perfil voltado para o formato textual. Canga Larequi (1994, p. 19, apud SOUSA, 2005, p. 340) elencou quatro principais detalhes para confirmar esta simetria entre os impressos jornalísticos e literários: a) Os primeiros “jornais” eram apresentados com o formato dos livros, embora geralmente apenas possuíssem quatro páginas; b) Na primeira página das publicações periódicas usualmente surgiam apenas o título, a data e o nome do impressor, tal e qual como nos livros; c) Frequentemente, a segunda página ficava em branco, começando o texto na terceira, sob um título genérico e com uma letra capitular; d) Geralmente o texto era composto a um só tipo de caracteres, a toda a largura da página ou, eventualmente, a duas colunas [...] (CANGA LAREQUI, 1994, p. 19, apud SOUSA, 2005, p. 340). 4 Associação Nacional de Jornais (ANJ). Disponível em: http://www.anj.org.br/jornais-breve-historia-2/. Acesso em: 31 de março de 2019. 3 ISSN 2175-6945 A semelhança pode ser explicada por Barnhurst (1994, s.p. apud GRUSZYNSKI, 2010, p. 3), onde o teórico entende que “o surgimento dos jornais está ligado à estratégia de utilizar o investimento, já existente na indústria para a fabricação de livros, para reproduzir notícias de ocorrências públicas da maneira mais econômica então possível”. Essa observação nos leva a entender que manter esta similitude servia como forma de atrair o público-leitor para um produto parecido com outro, que já circulava há mais tempo entre a sociedade. Destarte faz-se perceptível que o conteúdo das notícias sempre foi o mais importante no contexto do jornalismo impresso, mas que em seus primórdios, ainda não havia uma cultura voltada para o pensamento sobre como expor este conteúdo em uma primeira página. Sobre às capas, Sousa (2005) trata a mudança inicial deste segmento como ‘primeira revolução gráfica’, que segundo ele, fez com que as páginas de abertura dos periódicos ganhassem um novo formato, inclusive se diferenciando dos livros literários e assumindo um modelo específico enquanto produto de imprensa. Se for feito um paralelo com as revistas é possível compreender através de Scalzo (2003) que a primeira página de um periódico sempre será a parte mais planejada da referida publicação. A autora afirma que não há uma boa revista sem uma boa capa e assim, o jornal segue de forma congruente. Nas palavras de Scalzo (2003, p. 62), “o resumo irresistível de cada edição, uma espécie de vitrine para o deleite e a sedução do leitor”. 3 Chapecoense: do oeste catarinense à fenômeno mundial Fundada em 10 de maio de 1973, a Associação Chapecoense de Futebol é o clube mais jovem entre os mais tradicionais do futebol brasileiro e nasceu pela necessidade de Chapecó, cidade do interior de Santa Catarina, ter um time profissional. Antes da sua criação, o futebol se concentrava apenas na capital Florianópolis, através de times como Figueirense e Avaí. Segundo o site oficial da Chapecoense: A Associação Chapecoense de Futebol [...] é o maior, mais vitorioso e bem estruturado time de futebol profissional da região oeste de Santa Catarina. Sua origem 4 ISSN 2175-6945 está ligada ao fato de que, na década de 1970, a região possuía apenas alguns times amadores, sendo inexpressiva em relação ao futebol profissional. 5 O que é contado através dos seus criadores é que a Chapecoense sempre teve um considerável apoio da população da cidade, exatamente por ter surgido após provocar a união dos dois principais times de futebol da cidade: Clube Independente e Clube Atlético de Chapecó, ambos amadores. O ano de 2015 ficou marcado na história do time, pois pela primeira vez disputara uma competição internacional, sendo um dos representantes brasileiros na Copa Sul- Americana.