No 124 – ISSN 1808-1436 Londrina, 31 de dezembro de 2017

ICTIOLOGIA EDITORIAL rezados associados, neste Boletim publicamos a Nota Na sessão Técnicas, Bárbara B. Calegari e PTécnica produzida pelos associados Angelo Antonio João P. Fontenelle apresentam a parte II do Tutorial Agostinho, Oscar Barroso Vitorino Júnior e Fernando de preparação de mapas, tratando desta vez de mapas Pelicice sobre os riscos de cultivo de Tilápia em tanques hipsométricos. Em Técnicas, o associado Oscar Akio redes, submetida à SBI e aprovada pela Diretoria e Shibatta apresenta o capítulo 8 de suas contribuições sobre Conselho Deliberativo. Trata-se de uma análise puramente ilustração de peixes, desta vez tratando da composição técnica de nossos associados, baseada em dados científicos de ilustrações com programas de edição de imagens. Em publicados em diversos artigos, e nos resultados de Comunicações, Karine O. Bonato e Priscilla C. Silva seus estudos em ecologia de peixes Neotropicais. É nos apresentam junto com alunos do curso de Biologia importante salientar que decisões sobre a permissão ou Marinha da UFRGS dados sobre a alimentação de duas não de introdução de organismos exóticos em ambientes espécies de peixes da região Sul do Brasil. No Peixe naturais não devem ser decisões puramente políticas, da Vez, são apresentadas duas contribuições sobre duas ou de interesse financeiro momentâneo, aprovadas espécies de Cyprinidontiformes pouco conhecidas. A apenas pelo número de votos em uma assembleia. Estas primeira sobre Pterolebias longipinnis Garman, 1895 propostas devem ser obrigatoriamente analisadas com da planície pantaneira, com informações apresentadas base em critérios técnicos, através de pareceres emitidos por Francisco Severo-Neto. A segunda sobre Orestias por profissionais competentes na área, pois decisões alba Valenciennes 1846, endêmica dos aos afluentes do deste tipo apresentam invariavelmente consequências Lago Titicaca, na Região de Puno, Perú, apresentadas por permanentes nos ecossistemas envolvidos, incluindo Junior Chuctaya, Laura M. Donin, Silvia Valenzuela e impactos negativos sobre os recursos pesqueiros já Max Hidalgo. Confiram também Novas Publicações na explorados. Isto é especialmente relevante em termos da área, como o lançamento do “Field guide to the of ictiofauna de água doce do Brasil e de todo o continente the Amazon, Orinoco & Guianas” e os principais eventos sulamericano, que apresenta um elevado número de ictiológicos dos próximos meses. espécies de importância econômica e naturalmente já presentes nestes ecossistemas. Boa leitura! Luiz Roberto Malabarba Presidente da SBI Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 2 DESTAQUES

Nota Técnica: Riscos ambientais do cultivo de tilápia em tanques redes

Angelo Antonio Agostinho, Oscar Barroso Vitorino Júnior & Fernando Pelicice

sse documento foi elaborado em resposta às al. 2012). Além disso, os reservatórios são atrativos Edemandas oriundas dos processos que discutem ao desenvolvimento de atividades com potencial a introdução da Tilápia-do-Nilo [Oreochromis de disseminar espécies exóticas. Entre essas está niloticus (L.)] pelo Brasil, em particular nos estados o de cultivo em tanques redes, objeto de intenso de Mato Grosso, Tocantins e Amazonas. fomento pelos órgão e agentes públicos relacionados Nessa nota técnica busca-se avaliar os riscos à produção. Com pesados investimentos federais ambientais do cultivo de tilápia nilótica em tanques (Plano de Desenvolvimento da Aquicultura redes, tendo como base os resultados obtidos em Brasileira-2015-2020; http://seafoodbrasil.com.br/wp- estudos realizados em diversas bacias hidrográficas. content/uploads/2015/09/Plano_de_Desenvolvimento_da_ São apresentadas evidências que demonstram, de Aquicultura-2015-2020.pdf), essa atividade conta com o forma inequívoca, a universalidade dos escapes dessa apoio da mídia nacional e regional em todo o país, espécie dos tanques redes, a sua elevada capacidade com foco claramente dirigido ao cultivo de tilápias. de se estabelecer em novos ambientes, e os impactos Dado os impedimentos legais para o cultivo socioambientais relevantes tanto da forma de cultivo da tilápia em tanques redes em águas públicas como da espécie sobre a biota nativa e atividade onde não se encontra estabelecida, há uma notável pesqueira. pressão no sentido de flexibilizar as leis que regulam seu cultivo. Cita-se como exemplo o Projeto de Lei 5989-09, de autoria do Deputado Federal Introdução Nelson Meurer, que dá o “status”de nativa à tilápia As ações do homem na introdução de espécies (“cidadania”; Lima Jr et al. 2012; Pelicice et al. e na regulação dos rios são as duas principais ameaças 2014); a resolução 413/2009-CONAMA, que facilita à biota de águas continentais, com potencial de perda o processo de licenciamento de parques aquícolas de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, e risco (Azevedo-Santos et al. 2015; Lima et al. 2016); ou de extinção de espécies (Rahel et al. 2007; Johnson a Lei Estadual 76/2016, que permite o cultivo de et al. 2008). Em geral, há um acentuado sinergismo espécies exóticas no Estado do Amazonas (Padial et entre essas ameaças, potencializando seus efeitos al. 2016). É claro, portanto, o esforço e pressão do sobre comunidades e ecossistemas aquáticos. As setor para viabilizar a tilapicultura pelo país. alterações de habitats induzidas pelo controle da O cultivo de peixes em tanques-redes é uma vazão dos rios, decorrente de represamentos, por modalidade de produção que vem se expandindo no exemplo, modificam a estrutura e composição da Brasil. É sabido que ela é uma atividade econômica biota aquática, facilitando a estabelecimento de promissora quando praticada em larga escala, porém espécies não nativas (Havel et al. 2005). pouco rentável em escala reduzida, dado os custos Os reservatórios, de fato, têm constituído de produção e gargalos de mercado (Agostinho et cenário propício para a disseminação de espécies al. 2007). Esse, no entanto, não é um tema que será exóticas. Os represamentos podem provocar tratado nesse Parecer, dado que tem sido bastante introduções de maneira direta, como no alagamento discutido em fóruns especializados, muitas vezes de tanques de piscicultura e a dispersão de peixes com exagero em relação à sua rentabilidade e para novas áreas como consequência do alagamento sucesso. Nesse Parecer focaremos nos impactos de barreiras naturais (Júlio Jr et al. 2009; Vitule et socioambientais relativos à aquicultura com tanques- Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 3 rede, especificamente aos problemas advindos com possibilidade de disseminação de doenças o cultivo de tilápias Oreochromis niloticus. introduzidas com a espécie cultivada é grande, dada a alta densidade de organismos na Impactos de tanques redes estação produtora de alevinos, e dentro e fora Os impactos decorrentes de tanques redes dos tanques. podem ser classificados em três grupos (Agostinho, Destes impactos, apenas aquele sobre a Okada,1998), ou seja: qualidade da água tem merecido atenção nos estudos (i) a presença física: as áreas mais favoráveis a de viabilidade de cultivo em tanques redes em novos instalação dos tanques são aquelas protegidas ambientes. Nos tópicos seguintes outros aspectos de ventos e correntes, geralmente a curta serão abordados, tendo como foco o cultivo da distância das margens e com profundidade tilápia Oreochromis niloticus. moderada, preferidas pela pesca, passagem de embarcações e desembarque; são também Escapes de tanques redes são inevitáveis as mais afetadas pelas oscilações de nível O uso de espécies não nativas pela aquicultura da represa. A presença dos tanques-redes é considerado a principal fonte de introduções de tem efeito sobre a circulação de água, com espécies em todo o mundo (Naylor et al. 2001). Isso consequências no transporte do oxigênio, não foi diferente em 54 reservatórios neotropicais, sedimento, plâncton e larvas de peixes. avaliados por Ortega et al. (2015), onde a piscicultura foi responsável pela introdução de 32 espécies, (ii) alterações na qualidade da água e na biota: sendo o principal vetor dessas introduções em todas o alimento excedente e os excrementos dos as bacias analisadas. Dessas espécies, a tilápia peixes em alta concentração podem levar a nilótica foi a mais amplamente disseminada, estando problemas localizados com eutrofização das presente em metade dos reservatórios analisados. águas e possíveis florescimentos de algas, por Antes de se estabelecer e disseminar no vezes tóxicas (Linde et al. 2008, Pereira et al. ambiente natural, a espécie introduzida deve superar 2013). Além de possíveis problemas com a diversos obstáculos como a sobrevivência no novo qualidade da água, com prejuízos para o cultivo ambiente, o sucesso na reprodução, viabilidade e os estoques nativos, a atração exercida pelo da prole e dispersão (Blackburn et al. 2011). O alimento sobre as espécies de peixes silvestres cultivo em tanques redes, ou mesmo em tanques leva a concentrações de animais na área de escavados quando esses estão sujeitos à instabilidade cultivo, peixes piscívoros, aves, mamíferos e hidrológica, elimina algumas etapas anteriores à grandes repteis (Strictar Pereira et al. 2010; chegada ou introdução que são cruciais no processo Demétrio et al. 2012). Altas concentrações de invasão, com destaque para a supressão da desses animais elevam a predação e os riscos barreira geográfica (captura e transporte) e escape de avarias às telas dos tanques, aumentam a do cativeiro para o ambiente (Leprieur et al. 2008; incidência de parasitas (maior probabilidade Wilson et al. 2009). de fechamento de ciclo de vida) e atraem Os escapes da aquicultura são difíceis de pescadores com a possibilidade de gerar serem evitados (Orsi, Agostinho 1999) e, no caso de conflitos. tanques redes, como mencionado anteriormente, são (iii) introdução de espécies: escapes de peixes inevitáveis (Beveridge, 1987; Agostinho et al., 2007; dos cultivos para o ambiente circulante são Jensen et al. 2010). Escapes dos peixes cultivados inevitáveis e universais (Beveridge, 1987; são rotina nos sistemas de criação com tanques redes Thorvaldsen et al. 2015), mesmo com rígidos no Brasil (Azevedo-Santos et al. 2011; Britton, Orsi controles (Jensen et al. 2010). Esses escapes 2012) e qualquer outro lugar do mundo (Naylor et podem acontecer durante diferentes fases do al. 2005; Jensen et al. 2010; Sepúlveda et al. 2013; manejo dos tanques (Azevedo-Santos et al. Thorvaldsen et al. 2015), basicamente devido ao 2011) ou por danos às malhas decorrentes de manejo inadequado do sistema ou acidentes. vendavais, animais de grande porte, troncos flutuantes, etc. Além disso, a introdução Tilápias são invasoras eficientes de espécies acompanhantes, infectando as Tilápias são espécies caracterizadas pelo alto espécies cultiváveis ou presente no meio potencial invasor, podendo tornar-se dominantes nos usado para o transporte, é uma realidade. A ambientes que alcançam (Crutchfield 1995; Starling Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 4 et al. 2002; Nico et al. 2007; Espínola et al. 2010). É nos reservatórios a jusante, também participantes do comum que pequenos cursos de água de bacias com programa de estocagem com tilápia. Após 10 anos intensa atividade de piscicultura sejam compostos (1998) desde a interrupção de sua estocagem, a majoritariamente por tilápias (Fernandes et al. 2003). espécie começou a ser registrada nos desembarques A literatura especializada apresenta vários casos de pesqueiros, ainda que de forma incipiente. Três reservatórios onde ela apresentou um crescimento anos depois essa espécie já participava com mais populacional exponencial (Minte-Veras, Petrere da metade dos desembarques (AES-Tietê, 2007; Jr. 2002; Agostinho et al. 2007). A participação de Agostinho et al. 2007). O tempo decorrido entre sua tilápias nos desembarques da pesca artesanal de presença no reservatório e seu estabelecimento foi reservatórios do Tietê podem superar 80% do total ainda maior nos demais reservatórios da bacia do capturado (Minte-Veras, Petrere Jr. 2002; Novaes, Tietê. Essa invasão pela tilápia foi coincidente com a Carvalho 2013), porém seu papel no rendimento proliferação de estabelecimentos de pesque e pague total da pesca não é uma constante (McKaye et al. e do cultivo em tanques redes após o ano de 1998. É 1995; Agostinho et al. 2007). esperado que esse fato tenha sido responsável pelos Entre as características biológicas que escapes que aumentaram a pressão de propágulos conferem alta capacidade invasiva para as tilápias e levaram ao estabelecimento e a invasão dessa estão: (i) a estratégia de cuidado parental - alta espécie. sobrevivência de ovos e larvas no novo ambiente; O cultivo de tilápias de apenas um sexo (ii) a capacidade de desovas múltiplas - viabilidade (cultivo monosexo), que em tese impediria sua sob condições variáveis; (iii) o comportamento procriação em ambientes naturais, também não é territorialista; e (iv) a plasticidade no tamanho e efetivo. Não há possibilidade de se obter 100% de idade de maturação gonadal ou na alimentação. Esse alevinos de um único sexo (monosexo) em cultivos, última característica permite que a tilápia ajuste a tanto por falhas na sexagem como por falhas na primeira maturação às condições locais, facultando reversão sexual. Isso pode ser atestado facilmente uma maturação em até três meses, quando o tempo pela visualização de cardumes de alevinos nas normal em sua área de distribuição natural é de 2-4 margens de tanques de piscicultura ou de pesque- anos (Lowe-McConnell 2006). Desovas múltiplas e-pagues que mantenham tilápia nilótica estocada pode prolongar o período de desova por todo o como monosexo por mais de seis meses. Uma das ano (Canonico et al. 2005; Daga, Gubiani 2012), o razões de se esvaziar os tanques após cada ciclo de que faculta à prole explorar ampla janela temporal, produção é exatamente eliminar os alevinos nascidos aumentando a chance de recrutamento (Agostinho nos tanques que poderão competir com alimento et al. no prelo). O territorialismo e a agressividade, na nova safra. De fato, a razão para se cultivar também característicos da espécie, conferem maior monosexo (machos) é a maior taxa de crescimento capacidade de repelir outras espécies (Medeiros et e não o esforço para uma produção ambientalmente al. 2007), incluindo grandes competidores (Sanches sustentável. et al., 2012; Agostinho et al. no prelo). O hábito onívoro também tem sido relacionado à eficiência na A tilápia causa diversos impactos na biota nativa ocupação de novas áreas (Magalhães, Jacobi 2013; Existe um corpo de evidências científicas Ortega et al. 2015; Moyle, Light 1996, Tonella et al. que demonstram uma série de impactos promovidos 2017) pela tilápia nilótica quando liberada no ambiente A ideia muito difundida de que a resistência silvestre (Canonico et al. 2005). Esta espécie ambiental de reservatórios (condições físicas e pode afetar os diferentes níveis de organização químicas, predação, competição) às invasões ecológica, com perturbações sobre populações biológicas impediria o estabelecimento da tilápia (patógenos, parasitas, abundância, distribuição), nilótica não se sustenta nos fatos e pode ser comunidades (diversidade, composição, teia trófica, claramente refutada pelo histórico da ocupação dessa extinção) e ecossistemas (fluxos de energia, ciclos espécie em reservatórios do rio Tietê (Agostinho biogeoquímicos). São comuns evidências sobre et al., 2007). Esse mesmo argumento chegou a ser deslocamentos ou mesmo exclusão competitiva consenso para o reservatório de Barra Bonita, onde o de espécies nativas, alterações na comunidade a estocagem com a tilápia durante quase uma década planctônica e na qualidade da água, com reflexos (de 1979 a 1987) não teve resposta na pesca, sendo o no tamanhos dos estoques pesqueiros e na pesca de programa interrompido. O mesmo fato era observado espécies nativas. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 5

São sumarizados abaixo alguns exemplos da um reservatório do nordeste, concluem que literatura que tratam dos impactos da tilápia nilótica a estocagem de tilápia nilótica não elevou a sobre a biodiversidade e ecossistemas no Brasil e na biomassa total desembarcada, nem o número de América Latina. pescadores ativos na pesca ou sequer a renda per capta da atividade. Entretanto, constatou-se uma . Bittencourt et al. (2014) registraram a queda significativa na captura por unidade de substituição de espécies nativas de ciclídeos pela esforço de espécies nativas. tilápia O. niloticus em um corpo de água da bacia amazônica (Amapá). Esses autores destacam que . Novaes, Carvalho (2013) Compararam a captura a biomassa da invasora superou a do conjunto pesqueira em dois reservatórios na bacia do rio das 16 espécies de ciclídeos nativos (73%). Paraná e concluíram que entre os ambientes analisados aqueles que não apresentavam espécies . Strecker (2006) relatam que a invasão de exóticas apresentaram maior valor agregado e Oreochromis e Astyanax afetou populações sustentabilidade da atividade pesqueira. endêmicas de Cyprinodon spp., sendo responsável pelo desaparecimento e possível extinção de . Côa et al. (2017) demonstraram que Unidades de Cyprinodon beltrani. Esse autor informa também Conservação, mesmo com eficiente controle de que o aparecimento de infestação massivas de uso no ambiente terrestre, pode ser invadido pela Cyprinodon spp. por um trematoda ectoparasita tilápia nilótica, com riscos iminentes na alteração e um nematoda endoparasita foi constatado após do ambiente aquático e na biodiversidade. a introdução da tilápia. . Figueiredo, Giani (2005) em experimentos . Martin et al. (2010), em um estudo experimental, visando avaliar o impacto da tilápia nilótica sobre mostraram que a tilápia nilótica compete por a qualidade da água, concluíram que essa espécie locais estruturados com espécies nativas com contribui para a eutrofização da água tanto por a mesma preferência, e as deslocam para fora mecanismos top-down (seleção na dieta baseada dessa área. Nos experimentos realizados com no consumo de organismos maiores) como a inclusão de um piscívoro, esse deslocamento bottom-up (elevado suprimento de nutrientes na torna a nativa mais susceptível à predação, água). reduzindo sua taxa de sobrevivência. . Starling et al. (2002) relataram que O. niloticus . Attayde et al. (2007) realizaram experimento contribuiu substancialmente para a entrada de com a manipulação da abundância de tilápia fósforo ao lago Paranoa, Brasilia-DF, e que a nilótica e o monitoramento da dinâmica do fito e remoção dessa espécie reduz as entradas em zooplâncton, além da transparência. Os resultados aproximadamente 12%. demonstraram que, embora O. niloticus seja uma . Agostinho et al. (2007) relataram que, com a espécie onívora, teve um impacto negativo sobre introdução da tilapia nilótica, constatou-se um a abundância do zooplâncton de maior porte aumento inicial nos desembarques pesqueiros (herbívoro) e um positivo sobre a densidade do do reservatório de Barra Bonita, no rio Tietê, fitoplâncton menor. Esses resultados indicam que, no entanto, não se sustentou. Quatro anos uma predominância no consumo de plâncton depois, com a proliferação dessa invasora, a herbívoro, levando a proliferação de algas. Efeitos biomassa desembarcada caiu notavelmente, negativos sobre a densidade do zooplâncton de tanto na captura total como a captura por unidade maior porte terminam por afetar o recrutamento de esforço. de peixes, que também se alimentam desse item . em suas fases iniciais de desenvolvimento. Demétrio et al. (2012) avaliando a influência de cultivos de tilápia nilótica sobre a dieta de . Sanches et al. (2012) demonstraram peixes silvestres no reservatório de Rosana, experimentalmente que O. niloticus foi rio Paranapanema, concluíram que a fauna competitivamente superior a um ciclídeo nativo associada aos tanques redes altera sua dieta, (Geophagus brasiliensis), mesmo esse último passando a se alimentar de ração artificial ou de sendo de tamanho maior. Esse fato e a alta microcrustáceos que se tornam muito abundante sobreposição de nicho dessas espécies na natureza em razão da fertilização e proliferação de algas levaram os autores a sugerir a possibilidade da decorrente da liberação de nutriente. tilápia reduzir a viabilidade da espécie nativa e . causar exclusão competitiva. Pereira-Strictar et al. (2010) avaliaram os efeitos dos cultivos da tilápia em tanques redes sobre a . Attayde et al. (2011), tendo como base uma dieta, atividade alimentar e condição nutricional série temporal de 30 anos de desembarque em de um insetívoro com zooplactivoria facultativa, Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 6

a surumanha (Auchenipterus osteomystax), também disseminadas no novo ambiente. concluindo que houve um consumo predominante A literatura é farta em exemplos de espécies de zooplâncton e que o predomínio desse item na secundárias introduzidas juntamente com peixes. dieta foi concomitante com a queda na condição Alguns exemplos de espécies disseminadas em nutricional dos indivíduos. águas brasileiras são listados abaixo: . o microcrustáceo Daphnia lumholtzi Sars, 1885 Impactos socioambientais decorrentes da (Coelho, Henry, no prelo) invasão da tilápia são registrados em diferentes . o copepoda parasita Lamproglena monodi países, conforme ilustramos brevemente abaixo: Capart, 1944 (Coelho, Henry, no prelo); . o copépoda Mesocyclops ogunnus Onabamiro, . Palacio-Nuñez et al. (2010) relatam que O. 1957 (Silva, Roche, 2017), que em sua área de niloticus apresenta sobreposição de habitat com origem é hospedeiro do agente da dracunculíase; muitas espécies de peixes nativas da planície mexicana, porém a sobreposição com outros . o rotífero Kellicottia bostoniensis (Rousselet, ciclídeos foi mais forte. 1908) (Peixoto et al. 2010). . Zambrano et al. (2014), baseado no . o crustáceo Lernaea cyprinacea (Linnaeus, 1758) monitoramento da pesca, relatam o colapso de (Gabrielli, Orsi, 2000; Azevedo et al., 2012) uma atividade de pesca promissora no Lago . Cinco espécies de protozoários: Trichodina Patzcuaro, México, após a intensa proliferação compacta, Trichodina magna, Ichthyophthirius de tilápia nilótica e carpa. multifiliis, Piscinoodinium pillulare e Epistylis . No rio Mississipi, a competição com as espécies sp. (Zago et al. 2014) nativas por sítios de nidificação causou a redução . Cinco espécies de monogenóides: Cichlidogyrus da abundância de espécies nativas importantes halli, Cichlidogyrus thurstonae, Cichlidogyrus para a pesca comercial (Canonico et al. 2005). sp. 1, Scutogyrus longicornis, e Gyrodactylus sp. . Após ser introduzida no Muddy River, no sul (Zago et al. 2014) do estado de Nevada, uma espécie do gênero Oreochromis ocupou toda a bacia em menos A disseminação dessas espécies pela de 9 anos e o aumento de sua abundância foi piscicultura, da mesma maneira que os escapes dos correlacionado à diminuição da abundância de peixes cultivados, não se restringe ao cultivo com outras espécies importantes para a pesca que se tanques redes. Ela também foi constatada para o tornaram ameaçadas (USFWS, 2002). crustáceo Lernaea cyprinacea a partir do alagamento de tanques escavados durante cheias excepcionais Assim, a literatura especializada demonstra (Orsi, Agostinho, 1999) ou pelos seus efluentes. claramente que, ao contrário do preconizado por O controle sanitário, em geral mencionado como produtores, comerciantes e técnicos envolvidos com atenuante desses problemas, não consegue detectar a produção de tilápia, essa espécie pode proliferar essas espécies com o protocolo vigente, tanto pela em ambientes naturais, incluindo os Amazônicos, sofisticação necessária para o diagnóstico, como competir e deslocar espécies nativas, promover pelo intenso trânsito de alevinos e matrizes entre eutrofização, modificar a cadeia trófica e a dieta das estações de piscicultura e produtores. espécies e afetar a composição e abundância dos estoques, com redução no rendimento pesqueiro. Considerações finais e conclusão O cultivo de tilápia em águas públicas A fauna acompanhante apresenta uma série de riscos à manutenção da O cultivo de tilápias pode acarretar na biodiversidade e serviços ecossistêmicos brasileiros. introdução de espécies secundárias, visto que Por isso, não deveria ser considerado como modelo escapes para o novo ambiente não se restringem de desenvolvimento econômico, principalmente em a espécie de interesse ao cultivo. Peixes carregam países megadiversos. A região Neotropical abriga outros organismos sobre o corpo, brânquias ou uma das maiores diversidade de espécies do mundo, internamente. Além disso a água utilizada no com quase 5.000 espécies de peixes de água doce, a transporte desses pode conter outros organismos. maior parte com potencial para uso na alimentação, Estes podem ser parasitas ou patógenos e serem entre outros. A expansão da tilapicultura causará Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 7 efeitos socioambientais negativos ao país, para o confinamento dos peixes nos tanques redes, principalmente se considerarmos que ela se somará sendo os escapes universais. Uma vez no ambiente a uma série de outras atividades humanas de elevado há elevada possibilidade do estabelecimento da impacto (Pelicice et al. 2017). espécie nos reservatórios e a sua disseminação para Além disso, o Brasil é signatário da outras áreas, com risco de impactos negativos sobre Convenção da Diversidade Biológica (1992), a biota regional. incorporada a legislação brasileira pelo Decreto Dado o exposto, conclui-se que vedar o Federal 2.519, de 16 de março de 1998. Por esses cultivo de tilápia nilótica, O. niloticus em tanques documentos, o Estado brasileiro deve “impedir redes em qualquer região do Brasil, especialmente que se introduzam, controlar ou erradicar espécies nas bacias da Amazônia Legal e pantaneira, é uma exóticas que ameacem os ecossistemas, habitats decisão que deve ser motivada não apenas com base ou espécies”. Posteriormente, o Decreto 4.339 (22 no princípio da precaução, mas pela inevitabilidade de agosto de 2002) estabeleceu que o Estado deve dos escapes e os riscos reais de instalação da espécie “promover a prevenção, erradicação e o controle e impactos nos recursos pesqueiros. de espécies exóticas invasoras que possam afetar a biodiversidade”. A restrição do uso desta espécie Literatura citada nos ambientes aquáticos aproxima o Brasil da AES-Tietê. Programa de Manejo e Conservação de Bacias recomendação feita pelos órgãos ambientais de Hidrográficas e Reservatórios: Ictiofauna e Qualidade de Água. Promissão, SP: Eco Consultoria Ambiental e outros países, como é o caso dos EUA para o qual Comercio; 2007. a análise de impactos desta introdução pelo US Agostinho AA, Okada EK. A questão ambiental dos tanques and Wildlife Service é clara (USFWS, 2011): redes. Boletim da Sociedade Brasileira de Ictiologia. 1998; “Impactos de O. niloticus em sua distribuição 54: 6-7. introduzida incluem eutrofização dos corpos Agostinho AA, Gomes LC, Pelicice FM. Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Maringá d’água através de suas influências na comunidade :EDUEM; 2007. planctônica, competição com peixes nativos, Agostinho et al. no prelo. Introduced cichlids in the Americas: hibridização e, em alguns casos, redução no sucesso distribution patterns, invasion ecology, and impacts. In: de pesca. O risco geral representado pela espécie é Noakes DLG, Abate M, editors. The Behavior, Ecology and alto.” Evolution of Cichlid Fishes. London: Elsevier. Attayde JL, Okun N, Brasil J, Menezes R, Mesquita P. Impactos No sistema hidrográfico do rio Tocantins, da introdução da tilápia do nilo, Oreochromis niloticus, como em outros do Norte e Centro-Oeste, embora sobre a estrutura trófica dos ecossistemas aquáticos do a tilápia tenha sido detectada, ela ainda não é bioma caatinga. Oecologia Brasiliensis. 2007; 11(3): 450– recorrente nas capturas e não deve estar estabelecida, 461. provavelmente devido à resistência biótica imprimida Attayde JL, Brasil J, Menescal RA. Impacts of introducing Nile tilapia on the fisheries of a tropical reservoir in North- pela elevada diversidade de espécies na bacia. eastern Brazil. Fish Manag Ecol. 2011; 18:437–443. Por sua vez, o aumento da pressão de propágulos Azevedo RKD, Abdallah VD, Silva RJD, Azevedo TM, pela introdução do sistema de cultivo de tanques Martins ML, Luque JL. Expanded description of redes deve diminuir a eficiência desta resistência Lamproglena monodi (Copepoda: Lernaeidae), parasitizing em manter as populações da tilápia nilótica sob native and introduced fishes in Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. 2012; 21(3): 263-269. controle e tornar o cenário dos recursos pesqueiros Azevedo-Santos VM, Rigolin-Sá O, Pelicice FM. Growing, mais preocupante, assim como ocorrido em outras losing or introducing? Cage aquaculture as a vector for the bacias hidrográficas onde práticas que resultam na introduction of non-native fish in Furnas Reservoir, Minas introdução de espécies foram amplamente realizadas Gerais, Brazil. Neotrop Ichthyol. 2011; 9(4):915–919. como no rio Paraná (Agostinho et al. 2007). Azevedo-Santos VM, Pelicice FM, Lima DP, Magalhães ALB, Orsi ML, Vitule JRS, Agostinho AA. How to avoid Tendo como base o conhecimento científico fish introductions in Brazil: education and information as disponível, pode-se concluir que a expansão do alternatives. Nat Conserv. 2015; 13:123-132. cultivo da tilápia O. niloticus em tanques redes Beveridge, MCM. Cage aquaculture . Oxford: Fishing em reservatórios brasileiros causará perturbações News Books; 1987. relevantes. A aquicultura brasileira opera em baixos Bittencourt LS, Silva URL, Silva LMA, Dias MT. Impact of the invasion from Nile tilapia on natives Cichlidae species padrões de sustentabilidade, pois o país é continental in tributary of Amazonas. Biota Amaz. 2014; 4:88–94. e a fiscalização limitada. Más práticas são comuns Blackburn TM, Pyšek P, Bacher S, Carlton JT, Duncan RP, no manejo dos sistemas, como a falta de tratamento Jarošík V, Wilson JRU, Richardson DM. A proposed unified de efluentes. Além disso, não há tecnologia segura framework for biological invasions. Trends Ecol Evol. 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COMUNICAÇÕES

Dieta de Microglanis cibelae (, Pseudopimelodidae) da bacia costeira do Rio Maquiné e de Trachinotus carolinus (Actinopterygii, Carangidae) de praias arenosas na costa do Rio Grande do Sul

Jade Luiza de Viegas Fontana¹, Antônio Barth da Rocha Neto¹, Jonathan Dutra Tavares¹, Matheus Dotto de Oliveira¹, Tarcísio Linhares Löw¹, Priscilla Caroline Silva² & Karine Orlandi Bonato²

aumento gradual de estudos abordando biologia se no Oceano Atlântico de Massachusetts (EUA) ao O alimentar, desde a década de 90, é notável. No Sudeste do Brasil, os adultos vivem em águas abertas início esses estudos tinham finalidade de somente e os jovens ocupam as zonas de arrebentação de descrever a dieta das espécies, posteriormente, praias arenosas (Muller et al. 2002; Vasconcellos et passou-se a relacionar a dieta com inúmeros fatores al. 2007). O pampo T. carolinus possui uma potente como espaço, tempo, ontogenia e morfologia das placa faríngea responsável por esmagar as presas, espécies de peixes. Nos últimos anos observa-se o seu hábito alimentar é considerado bentônico, com a crescente uso de multiferramentas, como isótopos espécie ingerindo microcrustáceos como Copepoda, estáveis e análises moleculares, para estabelecer Amphipoda, Mysidacea, Polychaeta e outros peixes padrões e relações mais robustas sobre a biologia (Zahorcsak et al. 2000; Bellinger, Avault Jr., 1971; e ecologia trófica. Porém, a pesquisa de base não é menos importante, pois somente a partir da inspeção de conteúdo estomacal é que outras hipóteses serão levantadas. Mesmo com o crescente número de estudos de biologia alimentar de peixes, algumas espécies continuam sem sua dieta estabelecida em literatura. A espécie de água doce Microglanis cibelae Malabarba & Mahler, 1998 é um exemplo de que ainda há muito que se fazer (Figura 1b). Essa espécie a pertence a família Pseudopimelodidae, ocorre nas bacias costeiras dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Especificamente para o Rio Grande do Sul, a distribuição da espécie ocorre na bacia do rio Tramandaí (que inclui as sub-bacias do Rio Maquiné, Três Forquilhas e Mampituba) habitando áreas marginais com vegetação de rios, lagoas e canais, e não há dados sobre sua biologia alimentar e reprodutiva (Malabarba et al. 2013). Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1766) b é uma espécie marinha da família Carangidae Figura 1. (a) Trachinotus carolinus 39,9 mm CP, Praia de Imbé; (Figueiredo, Menezes, 1980) (Figura 1a). e (b) Microglanis cibelae 57,6 mm CP, rio Maquiné. Popularmente conhecidos como pampo, distribuem- Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 11

Niang et al. 2010), e apresentam uma ontogenia Menezes, 1980; Malabarba et al. 2013) e tomado o trófica bem estabelecida (Santos, 2010). Porém, para comprimento padrão (mm) com paquímetro digital. o estado do Rio Grande do Sul, apesar da espécie ser Os estômagos dos indivíduos foram removidos e abundante, ainda não houve um estudo que aborde conservados em álcool 70%. Os exemplares foram esta espécie para detectar se seu padrão alimentar conservados em álcool 70% e depositados na coleção assemelha-se às demais regiões do Brasil. do Departamento de Zoologia da Universidade Dessa forma, este estudo tem por objetivo Federal do Rio Grande do Sul (Microglanis cibelae descrever a dieta de Microglanis cibelae coletados UFRGS 24671; Trachinotus carolinus UFRGS no rio Maquiné, e de Trachinotus carolinus coletados 24672). na zona litorânea da praia de Imbé, RS. Composição da dieta. Os estômagos foram Material e Métodos analisados sob microscópio estereoscópico. Os Área de estudo e amostragem. A coleta dos itens alimentares foram analisados até o menor exemplares de peixes ocorreu dia 25 de novembro de nível taxonômico possível utilizando chaves de 2017 como parte prática da disciplina de Chordados identificação para invertebrados de água doce e I e Ictiologia das turmas de Biologia Marinha do marinhos (Amaral et al. 2005; Merritt, Cummins, segundo semestre de 2017 da Universidade Federal 1996; Mugnai et al. 2010). A quantificação dos do Rio Grande do Sul e da Universidade Estadual do itens alimentares se deu pelo método volumétrico Rio Grande do Sul. Os indivíduos de Microglanis (Hellawell, Abel, 1971; Hyslop, 1980) e após cibelae foram coletados no rio Maquiné (29º39’10”S calculou-se a porcentagem de contribuição alimentar 50º12’36”O) através de redes de arrasto e de puçá. de cada item para ambas as espécies estudadas. Os mesmos métodos de coleta foram utilizados para amostragem dos indivíduos da espécie Trachinotus Resultados carolinus na zona de arrebentação da praia de Foram coletados sete indivíduos da espécie Imbé (29º57’60”S 50º06’53”O). Após a coleta os Microglanis cibelae, um dos indivíduos não indivíduos foram devidamente anestesiados com apresentava conteúdo estomacal. Pode-se definir o óleo de cravo e então fixados em formol 10%. Em sexo dos indivíduos: quatro fêmeas e três machos, laboratório os mesmos foram identificadosà nível de todos estavam maduros. Para a espécie foram espécie utilizando-se chaves pertinentes (Figueiredo, identificados quatro itens alimentares (Tabela 1).

Tabela. 1. Número de estômagos analisados (n), comprimento padrão (CP, mm) e itens alimentares bem como suas contribuições em porcentagem de volume para a dieta de Microglanis cibelae e Trachinotus carolinus. Asterisco indica contribuição menor que 0,1%.

Microglanis cibelae Trachinotus carolinus Itens alimentares n = 6 n = 26 CP = 42,4-57,9 mm CP = 15,5-47,6 mm Larva de Ceratopogonidae 3,5 Larvas de Dixidae 1,0 Ninfa de Ephemeroptera 94,4 Sedimento (pedras e areia) 1,1

Amphipoda 25,3 Polychaeta 15,1 Bivalvia * Matéria vegetal * Sedimento (areia) 0,9 Peixe 0,4 Matéria orgânica digerida 58,2 Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 12

A maior ingestão foi do item Ephemeroptera com Amphipoda, e que indivíduos maiores consumiram 94,4% de contribuição, os demais itens somam pouco preferencialmente Emerita brasiliensis (Schimitt, mais de 5% de contribuição, se tratam de larvas de 1935). Assim, esses dados corroboram com os insetos aquáticos (larvas de Diptera) e sedimento. encontrados no presente estudo, pois os indivíduos Para a espécie Trachinotus carolinus, foram aqui analisados possuíam comprimento padrão de 39 indivíduos amostrados, dos quais 13 apresentaram no máximo 47,6 mm, o que os colocaria na classe de estômagos vazios. Foram identificados sete itens jovens pela classificação dos autores supracitados, alimentares consumidos pela espécie (Tabela 1). O e consumiram alta proporção de Amphipoda. Outro item alimentar que representou maior porcentagem item que apresentou relevante contribuição na dieta de volume foi matéria orgânica digerida (58,4%). de T. carolinus foi Polychaeta, que também foi Amphipoda teve uma contribuição de 25,3%, um dos itens mais consumidos pela menor classe seguido de Polychaeta, com 15,1%. de tamanho em estudo realizado em zonas de arrebentação de praias da Baía de Guanabara, Rio de Discussão Janeiro (Palmeira, Monteiro-Neto, 2010). Os dados do presente estudo permitiram dar Segundo Niang et al. (2010), o nível de indícios das dietas de Microglanis cibelae da bacia exposição às ondas é determinante para uma obtenção costeira do rio Maquiné e Trachinotus carolinus de variada de recursos alimentares de juvenis, esses praias arenosas do RS. O principal item alimentar podem apresentar uma dieta diferente de acordo da espécie M. cibelae foi Ephemeroptera, segundo com o tipo de praia. De acordo com Helmer et al. Francischetti et al. (2004) e Da-Silva et al. (2010), (1995) em praias arenosas a dieta de três espécies esses insetos utilizam áreas com deposição de de Trachinotus foi baseada em moluscos, anfípodos folhiço e de sedimento em ambientes lênticos e poliquetas, o que se assemelha, com exceção como habitat. Isso demonstra que M. cibelae possui dos moluscos, aos itens identificados no presente hábito insetívoro e com sua forma achatada dorso- trabalho. Tais diferenças podem ser atribuídas à ventralmente consegue inspecionar o fundo dos grande plasticidade trófica desse gênero e ao habitat, riachos com seus barbilhões remexendo folhas e sugere-se que essas diferenças estão relacionadas sedimentos. Isso também explica a presença de com a disponibilidade de presas em cada área sedimento em seu conteúdo estomacal. Esse padrão amostrada. O item alimentar Decapoda é citado em de hábito alimentar insetívoro é reportado para outros estudos (Palmeira, Monteiro-Neto, 2010; outras espécies do gênero Microglanis (Fogaça et al. Santos, 2010; Bellinger, Avault Jr., 2011), no entanto 2003; Bonato, 2011). Todos os indivíduos da espécie o único fragmento desse item, aqui encontrado, foi estavam reprodutivamente maduros, o que indica que um pedúnculo ocular juntamente com uma grande a espécie pode ter seu período reprodutivo associado quantidade de matéria digerida, assim, parte dessa à primavera. matéria acredita-se pertencer ao grupo Decapoda. Para a espécie Trachinotus carolinus matéria Nesse estudo a abordagem sazonal não foi orgânica digerida foi o item com maior contribuição. contemplada, porém, as amostras foram coletadas na Isso pode ser explicado pelo período de alimentação. primavera e observou-se a contribuição substancial É referenciado que o período alimentar dessa espécie de Amphipoda. Essa variação sazonal da dieta foi é preferencialmente a tarde (Zahorcsak et al. 2000), evidenciada por outros trabalhos (Helmer et al. a captura dos exemplares do presente estudo ocorreu 1995; Niang et al. 2010) que encontraram moluscos por volta das 16h, isso pode ter causado o alto grau como principal item na primavera e Amphipoda no de digestibilidade do conteúdo estomacal ingerido verão. no início da tarde. Diferentemente, os demais itens Dessa forma, o presente trabalho permitiu encontrados estavam relativamente inteiros, o que a descrição da dieta das duas espécies de peixe indica que a placa faríngea de juvenis ainda não é analisadas, dada a escassez de dados para a região. bem desenvolvida, segundo Gilbert (1986) a placa Alguns questionamentos ainda permanecem, como faríngea de adultos é bem desenvolvida e permite mudanças sazonais na dieta do peixe pampo seriam que os pampos se alimentem de presas mais duras iguais as de outros locais? A dieta do pampo é reflexo e energéticas (Santos, 2010), como mariscos e dos itens alimentares ofertados? A presença tão caranguejos. No mesmo estudo, esse autor observou conspícua de Ephemeroptera na dieta de M. cibelae que os indivíduos de T. carolinus menores que 65 mm é uma consequência da disponibilidade do item no (comprimento total) consumiram preferencialmente ambiente, podendo este item, quantitativamente, Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 13 sofrer alteração na dieta da espécie com a variação Santos JF, Artioli LGS. Guia de identificação dos peixes da espacial? Assim, torna-se necessário ampliar bacia do rio Tramandaí. Porto Alegre: Via Sapiens; 2013. as coletas, bem como realizar amostragens em Merritt RM, Cummins KW. An introduction to the aquatic insects of North America. Iowa: Kendall Hunt; 1996. diferentes pontos e épocas do ano. Mugnai R, Nessimian JL, Baptista DF. Manual de identificação de macroinvertebrados aquáticos do Estado do Rio de Agradecimentos. Nós agradecemos aos colegas Janeiro: para atividades técnicas, de ensino e treinamento das turmas de Chordata I e Ictiologia do segundo em programas de avaliação da qualidade ecológica dos semestre de 2017 da UFRGS e UERGS que nos ecossistemas lóticos. Rio de Janeiro: Technical Books; 2010. auxiliaram na coleta dos exemplares. Ao professor Muller RG, Tisdel K, Murphy MD. The update of the stock LR Malabarba e ao DR Faustino pela ajuda em assessment of florida pompanoTrachinotus ( carolinus). campo e identificação dos exemplares. Florida: Florida Fish and Wildlife Conservation Commission; 2002. Niang TMS, Pessanha ALM, Araujo FG. Dieta de juvenis de Literatura citada Trachinotus carolinus (Actinopterygii, Carangidae) em Amaral ACZ, Rizzo AE, Arruda EP. Manual de Identificação praias arenosas na costa do Rio de Janeiro. 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U.S. Army Corps of Engineers gmail.com, (JT) [email protected], (MD) TR EL-82–4. U.S. Fish and Wildlife Service, Lafayette. [email protected], (TL) tarcisiolinhares97@ Biol Report. 1986; 82 (11.42):1-27. gmail.com Hellawell JM, Abel RA. Rapid volumetric method for the 2Laboratório de Ictiologia da Universidade Federal analysis of the food of fishes. J Fish Biol. 1971; 3(1): 9-37. do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 9500, Disponível em: 10.1111/j.1095-8649.1971.tb05903.x Agronomia, 91501–970 Porto Alegre, RS, Brasil. (PCS) Hyslop EJ. Stomach contents analysis – a review of methods [email protected], (KOB) [email protected] and their application. J. Fish Biol. 1980; 17(4):411-429. (corresponding author) Disponível em: 10.1111/j.1095-8649.1980.tb02775.x Malabarba LR, Carvalho NP, Bertaco VA, Carvalho TP, dos Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 14

TÉCNICAS Tutorial de preparação de mapas de distribuição geográfica Parte II - Mapa Hipsométrico

Bárbara B. Calegari1,2 & João Pedro Fontenelle3

apas de distribuição geográfica de táxons, auxiliar alunos, professores e pesquisadores a Mdentro do contexto biológico, muitas vezes elaborarem seus mapas de distribuição geográfica requerem expressar diversas variáveis e informações e, portanto, não deve ser utilizado como única fonte abióticas, além de meramente o registro de localização de base do aprendizado. Todos os programas e sites, das entidades. Esse é o caso de, por exemplo, a aqui utilizados, têm seus direitos de propriedade ao exploração de características topográficas como a conteúdo e criação dos seus arquivos e softwares, altitude, ilustradas nos mapas, as quais por vezes são os quais são devidamente citados neste tutorial e muito importantes como um indicador da aparência recomendados para que sejam também citados nos geográfica e geológica. artigos científicos em caso de utilização dos mesmos, A hipsometria é uma técnica de representação atribuindo assim seus direitos legais. da elevação de um terreno através de um sistema de gradiente contínuo de cores correspondentes. Parte I - Baixando arquivos base Geralmente utiliza-se um gradiente de cores frias (ex. verde, azul) para representar baixas altitudes Passo 1: arquivo de relevo Raster e cores quentes (ex. vermelho, laranja) para Nessa primeira parte iremos aprender a editar representar altitudes mais elevadas do relevo. Os a camada de relevo do mapa, inserindo diferentes estudos de hipsometria permitem conhecer mais cores para distintas categorias de altitudes e também detalhadamente características do relevo de certa selecionar quais e quantas classes de altitudes você região, possibilitando ainda inferir processos deseja para o mapa. erosivos, identificação de áreas de inundação, Iremos trabalhar com arquivos raster depressões, etc. (.tif) de relevo contínuo fornecido pelo Geoportal Por este motivo, é apresentado a seguir um “The CGIAR Consortium for Spatial Information segundo Tutorial passo-a-passo, complementar (CGIAR-CSI)”, que podem ser baixados no endereço ao “Tutorial - Parte I” publicado anteriormente http://srtm.csi.cgiar.org/ (Fig. 1); você deverá ser neste boletim (Boletim Sociedade Brasileira de redirecionado para uma nova página onde será Ictiologia, N° 118), elaborado no intuito de retratar necessário escolher a região mundial de interesse, no e personalizar especificidades da altitude e relevo caso a América do Sul: “Western”; baixe o arquivo de forma fácil. O presente tutorial para preparação “western GeoTIFF” (Fig. 2). do mapa hipsométrico foi elaborado e testado O Geoportal CGIAR fornece arquivos de utilizando o programa Quantum Gis V.2.14.5 e modelo digital de elevação das terras do globo V.2.14.18 (QGIS: software de sistema de informação inteiro SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) geográfica - SIG, em português; GIS-em inglês), que de 250m de resolução, produzidos originalmente pode ser gratuitamente baixado através do site http:// pela NASA. Estes dados são distribuídos de forma www.qgis.org/pt_PT/site/. gratuita pela USGS (U.S. Geological Survey; https:// Este tutorial foi elaborado nas versões viewer.nationalmap.gov/launch/) na rede mundial de Português e Inglês, esta última sendo apresentada computadores e está disponível para baixar através por conseguinte. do “National Map Seamless Data Distribution O presente tutorial foi elaborado de forma System” ou USGS site (https://nationalmap.gov/ simples, não para uso profissional de sistema viewer_text.html; Fig. 3). cartográfico, mas voltado à parte educacional em Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 15

Figura 1.

Figura 2.

Figura 3. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 16

Outra opção, que não iremos utilizar aqui, (exemplo de falhas e como corrigir no tutorial é para quem deseja trabalhar especificamente com online: goo.gl/FHcqFA). Estes dados individuais uma específica região geográfica, em maior escala, podem ser baixados no INPE pelo endereço http:// podendo obter dados através do projeto TOPODATA www.dsr.inpe.br/topodata/acesso.php (Fig. 4) ou (Bancos de dados geomorfométricos do Brasil; na página Webmapit http://www.webmapit.com. INPE, 2008), o qual oferece o Modelo Digital de br/inpe/topodata/ (Fig. 5), bastando selecionar a Elevação (MDE) e suas derivações locais básicas quadrícula desejada. O processo de elaboração deste em cobertura nacional, também elaborados a partir tipo de mapa com re-escalamento das categorias dos dados espaciais SRTM, que passaram por de altitude é mais complexo do que iremos ensinar sucessivas inspeções e aprimoramento, uma vez neste tutorial, mas tutoriais podem ser facilmente que este último por vezes apresenta espaços vazios encontrados online realizando uma busca por “Mapa no mapa, causados por interferências durante o hipsométrico”. processo de coleta de dados durante sua elaboração

Figura 4.

Figura 5. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 17

Passo 2: arquivo de modelo altimétrico provenientes do software GRASS (função ‘r’, colors) (Webmapit, website, acessado em nov/2017). Para facilitar a elaboração de um mapa de distribuição Adicionalmente, também disponibilizamos dois geográfica simples com relevo contendo informação modelos prontos por nós elaborados, um em de altitude editável, iremos partir de um modelo tonalidades de Marrom e outro elaborado durante digital de elevação pré-existente desenvolvido e este tutorial, podendo ser acessado aqui (goo. disponibilizado pela página http://www.webmapit. gl/7iPg2L) ou em http://www.barbara-calegari.com. com.br/, os quais podem ser baixados no blog do mesmo site (http://blog.webmapit.com.br/2013/02/ Parte II - Criando Mapa Hipsométrico topodata-paletas-qgis-para-altitude.html) e posteriormente descompactados. Os arquivos de Partindo de um mapa de distribuição extensão “.qml” usados nesse tutorial, são modelos geográfica já elaborado nos moldesTutorial do“ que categorizam rampas de cores para a variável I” publicado previamente neste mesmo boletim (N° altitude e foram elaborados pelo Webmapit a partir 118), exceto pela adição do arquivo do relevo (Fig. da adaptação dos valores de elevação e regras de 6), avançamos diretamente para a segunda parte da cores SRTM: Terrain, Atlas Shader, e ETOPO2; edição da camada de relevo.

Figura 6.

Para adicionar o arquivo relevo de uma fonte Na aba “Estilo” (“Style”) dessa janela, tipo Raster, será necessário clicar no segundo ícone existe a seção “Renderização da banda” (“Band na barra de ferramentas lateral esquerda, da rendering”) (Fig. 9), a qual iremos trabalhar maior mesma forma como inserido o arquivo de relevo parte deste tutorial, onde é possível editar diversas plano, ensinado no “Tutorial I” (Fig. 7). características relacionadas ao colorido. Busque no seu diretório, o arquivo Perceba que o arquivo de relevo aberto anteriormente salvo nomeado >SRTM_W_250m. aparece como uma imagem em escala de cinza, não tiff. Ordene a camada de relevo para a última posição informativa. É necessário então aplicar uma rampa mais abaixo, de maneira que não sobreponha às de cores adequadas para acentuar a topografia do demais camadas. Clique com o botão direito sobre a mapa. Existem duas opções de atribuir cores às camada do relevo nomeada “SRTM_W_250m” e vá classes de altitude, mas em qualquer uma delas é em >Propriedades (>Properties) (Fig. 8). necessário primeiro ir em “Tipo de renderização” Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 18

Figura 7.

Figura 8.

Figura 9. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 19

(“Render type”) e selecionar >Banda simples falsa- interpolation”) selecionada para >linear para que as cor (>Singleband pseudocolor), que permitirá cores atribuídas correspondentemente às altitudes atribuir escala de cor ao mapa (Fig. 10). Deixe mudem gradualmente, permitindo um visual mais também a opção “Cor de interpolação” (“Color suavizado (Fig. 11).

Figura 10.

Figura 11. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 20

A primeira opção e a mais fácil, é editar o arquivo de modelo altimétrico. Basta carregá-los gradiente de colorido a partir de um modelo digital na porção inferior da janela em >Estilo > Carregar de elevação pré-existente; escolha um dos seis estilo (>Style >Load style). Os arquivos modelo de modelos disponibilizados já baixados no Passo 2: relevo editáveis são de extensão “.qml” (Fig. 12).

Figura 12.

Você pode abrir todos os arquivos e ver vamos exemplificar utilizando o arquivo “Altitude_ qual se adéqua mais a idéia de cores que deseja Continente.qml” elaborado para este tutorial (Fig. desenvolver na camada de relevo. Para editar, 13).

Figura 13. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 21

Após escolher o modelo, vá na seção reais do terreno; clique em >Carregar (>Load). “Carregar valores de min/max” (“Load min/max Este processo pode levar um tempo considerável, value”) e selecione >Min/max para atribuir os dois dependendo das suas configurações de hardware, extremos das altitudes; e também em “Precisão” devido ao tamanho do arquivo. Você pode clicar em (“Accuracy”), selecione >Real (mais lento) (>Actual >Aplicar (>Apply) para visualizar as edições feitas (slower)), de modo que representará as altitudes (Fig. 14).

Figura 14.

Você ainda pode modificar quantas classes exemplo, uma classe adicional de 100 m; no quadro de altitudes deseja incorporar ao mapa, podendo branco de valores das altitudes vá no símbolo “+” excluir ou incluir gradientes. Iremos incluir, por para adicionar um novo valor ao mapa (Fig. 15).

Figura 15. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 22

Note que o novo valor foi adicionado ao final valor igual a zero “.00000”, como nos demais valores da lista com uma cor aleatória. Para atribuir o valor ali apresentados. Neste caso, iremos inserir uma cor de altitude que deseja corresponder à cor, clique para a escala de altitude de 100 m. Em seguida, duas vezes em cima do valor (expressado em metros) clique no símbolo “ ” para que o valor seja e edite-o; não esqueça de manter a série decimal com reordenado de forma ascendente (Fig. 16).

Figura 16. Clique em cima da cor para editá-la, e classe inserida; neste caso “100” (Fig. 18). Isso escolha a cor e tonalidade desejada de acordo com porque uma opção seria colocar o intervalo (por o gradiente que deseja; neste caso, verde (Fig. exemplo, 100-200 m) para todas as classes, ao invés 17). Além disso, será necessário editar o “Rótulo” do valor mínimo. Clique em >Aplicar (>Apply) e (“Label”) indicando a altitude correspondente da >Ok. Para excluir basta selecionar a classe e clicar no símbolo “-” (Fig. 19).

Figura 17. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 23

Figura 18.

Figura 19.

Adicionalmente é possível trocar qualquer “frias” para altitudes baixas e “quentes” para altas. uma das cores de qualquer classe, clicando duas Não se esqueça de salvar seu modelo de cores, caso vezes sobre a barra de cor. O interessante é testar queira utilizá-lo em outros projetos; vá à porção as cores de modo que haja uma distinção clara entre inferior da aba em >Estilo >Salvar estilo (>Style altitudes baixas e altas; por isso usualmente, como >Save style) (Fig. 20). dito anteriormente na introdução, utilizam-se cores Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 24

Figura 20.

A segunda opção de como atribuir um Vá na seção “Gerar novo mapa de cores” (“Generate gradiente colorido é iniciar um novo mapa de cores. new color map”) e escolha uma das paletas de cores para iniciar o processo (Fig. 21).

Figura 21.

Você pode também editar a cor e/ou (>Edit), bem como inverter o gradiente das mesmas tonalidade das duas cores extremas em >Editar selecionando a caixa >Inverter (>invert) (Fig. 22). Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 25

Figura 22. A seguir, vá em “Modo” (“Mode”) e selecione (>Classify) (Fig. 23). Note que no quadro de valores >Intervalo igual (>Equal interval); Em “Classes”, ao lado esquerdo, as classes e cores escolhidas foram escolha a quantidade de classes de altitudes que atualizadas. Os valores irão incluir sempre as altitudes desejar incluir no mapa- vamos selecionar como mínima e máxima contendo intermediariamente o exemplo oito classes; clique em >Classificar número de classes solicitadas em intervalos iguais.

Figura 23. A seguir, na seção “Carregar Min/max” >Min/max e >Real (mais lento) (>Actual (Slower)); (“Load Min/max”) escolha os mesmos parâmetros clique em >Carregar (>Load) e a seguir em >Aplicar que usados no exemplo da “primeira opção”, ( >Apply) e >Ok (Fig. 24). utilizando um modelo digital já pronto; selecione Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 26

Figura 24. Caso não tenha gostado das cores, é possível classes, selecionando a paleta de cor desejada e trocar a paleta de cores e editá-las sem modificar clicando novamente em >Classificar (>Classify) o restante dos parâmetros, exceto pelo número de (Fig. 25).

Figura 25. É interessante decidir as cores antes de outras opções clicando duas vezes sobre a barra de modificar os valores das classes, pois toda vez que cores dos intervalos intermediários para criar um reclassificar, os valores voltarão aos originais. Neste gradiente mais informativo (contrastante) para a exemplo, perceba que os valores de altitudes mais região de interesse (Fig. 26). presentes no mapa (entre 0-1200 m) receberam Ao final ajuste os valores de altitude que tonalidades diferentes para uma mesma cor, não deseja corresponder ao gradiente de cores clicando resultando em um contraste adequado. Escolha duas vezes sobre o valor (Fig. 26); podemos usar Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 27 de exemplo o modelo da “primeira opção”, feito (“Hillshade”). O que iremos fazer basicamente é anteriormente. Uma vez que todas as escalas de criar outra camada de relevo de sombreamento 3D altitude tenham uma cor atribuída, a edição de para interpor com a camada de relevo de altitude. altitude do relevo está pronta. Para possibilitar este efeito, as unidades de medidas das duas camadas Raster, tanto o de latitude e longitude (medida horizontal) quanto a de altitude (medida vertical) devem ser a mesma, nesse caso metros (m). No caso da camada “SRTM_W_250m.tiff” que estamos utilizando neste tutorial, as coordenadas estão em UTM e por isso não será necessário fazer a correção do “Fator Z” (“Z-factor”)* - utilizado para corrigir a escala da unidade quando não está em metro, como por exemplo em graus Figura 26. decimais. Parte III - Interpolando Sombreamento de Para exemplificar este tutorial iremos usar o Terreno 3D modelo digital de elevação elaborado na “primeira opção” (Altitude_Continente.qml). Para criar a Para atribuir um efeito mais realista ao camada de sombreamento vá ao menu superior clique mapa hipsométrico, podemos criar uma camada de em >Raster >Análise de terreno >Sombreamento representação 3D de sombreamento para o relevo (>Raster >Terrain Analysis >Hillshade) (Fig. 27). topográfico, chamada de função “Sombreamento” Atribua um nome de saída para o arquivo “.tif”

*Nota de rodapé: Na janela “Sombreamento” (“Hillshade”) insira a escala de correção do valor no “Fator Z” (“z-factor”): 111120. Este valor é aproximado para regiões equatoriais ou próximos à elas. Caso a zona seja outra é necessário calcular através de uma fórmula específica (z=1/ (111320*cos(latitude*pi/180)); http://www.gdal.org/gdaldem. html, GDAL - Geospatial Data Abstraction Library). Figura 27. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 28 de relevo 3D que será gerado em “camada de saída” desta camada deverá demandar um período longo (“output layer”) (Fig. 28). Não modifique o restante de espera devido ao tamanho do arquivo Raster de dos parâmetros. Como observado anteriormente, relevo. não será necessário corrigir o “Fator Z”. A criação Após criada a camada de sombreamento

Figura 28.

3D, arraste a camada “SRTM_W_250m.tiff”, imagem. No painel de camadas, clique com botão posicionando-a acima da camada de sombreamento direito sobre a camada “SRTM_W_250m.tiff” e 3D de modo que possamos incorporar as selecione >Propriedades (>Properties ) (Fig. 29). características destas duas camadas em uma mesma

Figura 29. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 29

Na aba “Transparência” (“Transparency”), a camada de modo que permita evidenciar a camada seção “Tranparência global” (“Global 3D de sombreamento posicionada abaixo. Clique Transparency”), atribua um grau entre 30-50% para >Aplicar (>Apply) e >Ok (Fig. 30).

Figura 30. Note a mudança no mapa de relevo não o sombreamento 3D. Faça uma aproximação de e experimentalmente desmarque a camada uma determinada região de interesse para observar “Sombreamento 3D” para observar a diferença de com mais detalhe (Fig. 31). profundidade dada ao terreno, quando usando ou

Figura 31. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 30

É possível ainda, editar o brilho e contraste (“Style”), e na seção “Renderização da cor” (“Color da camada “SRTM_W_250m.tiff” atribuindo uma rendering”) aumente o brilho para um valor entre maior suavidade à imagem. Em >Propriedades 35-60% e o contraste para 20% (Fig. 32). (>Properties) da camada, vá na aba “Estilo”

Figura 32. Pronto! Seu mapa está finalizado para seguir de compositor de impressão clicando em “Novo para o compositor de impressão e incluir coordenadas, compositor de impressão” (“New print compositor”) linhas de grade e legenda. Não se esqueça de salvar e adicione um novo mapa, de acordo com os passos seu projeto para que fique disponível para um futuro ensinados previamente no “Tutorial I”. Após a uso. inserção do mapa no compositor, clique no símbolo O último detalhe a ser lembrado neste tutorial de “Adicionar uma nova legenda” (“Add new é a inserção da legenda das classes de altitude que legend”) na barra de ferramentas superior e insira-o você criou para seu mapa. Para isso, abra a tela no compositor de impressão (Fig. 33).

Figura 33. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 31

Em “Propriedades do Item” (“Item automática” (“Auto-update”) e selecione todas as properties”), vá à seção “Itens da legenda” camadas que deseja remover da legenda; clique no (“Legend items”), desmarque a opção “Atualização botão de símbolo “-” para removê-las (Fig. 34).

Figura 34.

Clique duas vezes também sobre o nome da ou remova o título da legenda em >Propriedades camada “SRTM_W_250m.tiff” e delete para que não principais >Título (>Main properties >Title) (Fig. apareça na legenda (Fig. 35). Da mesma forma edite 36).

Figura 35. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 32

Figura 36. Complete as informações necessárias no seu http://www.processamentodigital.com.br/2012/01/02/grass-6- mapa, contempladas no passo-a-passo do “Tutorial 4-preenchimento-de-vazios-do-srtm3-atraves-dos-algorit- ” (N°118) e salve seu modelo de compositor mos-r-mapcalc-e-r-fill/ I http://www.gdal.org/gdaldem.html exportando seu mapa na extensão que desejar. ______1Laboratório de Sistematica de Vertebrados, Pontifícia Universidade Sites citados e/ou acessados. Católica do Rio Grande do Sul, Av. Ipiranga, 6681, Caixa Postal 1429, 90619-900, Porto Alegre, Brasil. https://viewer.nationalmap.gov/launch/ E-mail: [email protected] http://srtm.csi.cgiar.org/ 2Department of Vertebrate Zoology, National Museum of Natural History, http://gisweb.ciat.cgiar.org/TRMM/SRTM_Resampled_250m/ Smithsonian Institution, 20013-7012, Washington, DC, USA. 3 http://www.dsr.inpe.br/topodata/acesso.php Department of Biological Sciences, Department of Physical and Environ- mental Sciences, University of Toronto Scarborough, 1265 Military Trail, http://blog.webmapit.com.br/2013/02/topodata-pale- M1C 1A4, Toronto, ON, Canada. E-mail: [email protected] tas-qgis-para-altitude.html

Geographic distribution maps orange tones) refer to higher elevation and V 2.14.18. QGIS is open source and tutorial patterns. Hypsometric data allows a can be downloaded for free at http:// Part II – Hypsometric Map detailed exploration of the landscape of a qgis.org. This tutorial was elaborated in region of interest, allowing for inferences Portuguese and in English. The referred of erosion patterns, floodplains, accidents figures in the English version are found In a biological context, and depressions, for example. throughout the Portuguese version of the taxa distribution maps are usually A walkthrough tutorial tutorial, which is presented preceding the complemented with many abiotic regarding the preparation of hypsometric English version. variables and data, in addition to the maps is herein presented. The referred The following tutorial is not collection localities of interest. An tutorial is complementary to “Tutorial - designed for a professional cartographic example is the use of topographic Parte I” (Maps tutorial part I), previously use, but for educational purposes of information, such as altitude, which published in Portuguese in Boletim students, teachers, professors and can be illustrated in maps, can be very da Sociedade Brasileira de Ictiologia researches, and should not be used as informative regarding geology and Nº118. The following tutorial is designed an exclusive source of information. geographic appearance. with the objective of representing and All programs and websites used in this Hypsometry is a representation personalizing elevation and landscape tutorial have copyright of their contents technique of landscape elevation through data in a simple manner. and files, which are here properly cited a continuous color-gradient system. This hypsometric map tutorial and its citation is recommended if further “Cold” colors (e.g. green, blue tones) are was elaborated and tested using the utilized. usually used to represent lower elevation software Quantum GIS (QGIS) V. 2.14.5 patterns, while “warm” colors (e.g. red, Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 33

Part I – Downloading core files In order to simplify the 10). Also select the option >linear under elaboration of a simple geographical “color interpolation”, allowing a gradual Step 1: Raster landscape files distribution map with landscape editable soft change in colors related to altitude Step one consists of learning altitude information, a pre-existent (Fig. 11). how to edit the map’s landscape layer, elevation digital model will be used. The first option (more intuitive) adding different colors to respective These models are produced by http:// is to edit the color gradient from a pre- altitude categories and selecting which www.webmapit.com.br and can be existent digital elevation model; choose and how many altitude classes are downloaded for free at http://blog. one from the six models previously desired to be represented on the map. webmapit.com.br/2013/02/topodata- downloaded in Step 2: Altimetry Model Raster files (.tif) of continuous paletas-qgis-para-altitude.html. Files file. Load the files at the lower portion of landscape, used to prepare the maps and with the extension “.qml” are models your window under >Style>Load style. provided by “The CGIAR Consortium that categorize color ramps to variable The editable landscape models have a for Spatial Information (CGIAR-CSI)” altitude, and were developed by “.qml” extension (Fig. 12). geoportal, can be downloaded from Webmapit from SRTM’s elevation values You can check every file, and http://srtm.csi.cgiar.org/ (Fig. 1). When and color rules: Terrain, Atlas Shader select the one which color scheme pleases clicking on the main link, you should and ETOPO2; from GRASS software you the most. To edit, the example will be redirected to a new page where the (Function ‘r’, colors) (Webmapit, use the file “Altitude_Continente.qml”, global region of interest can be selected, accessed Nov/2017). Additionally, two developed for this tutorial (Fig. 13). South America for this tutorial: click other models (developed by the authors), After selecting the model, go on “Western” and download “western one in brown tones and other developed to the option “Load min/max value” and GeoTIFF” (Fig. 2). during this tutorial, are available at (goo. select >Min/max, in order to set the two The CGIAR Geoportal hosts gl/7iPg2L) or at http://www.barbara- altitude extremes; also go to “Accuracy”, files of digital elevation models of calegari.com. select >Actual (slower), in order to show landscape for the entire globe ‘SRTM’ the real landscape altitudes. Click > Load. (Shuttle Radar Topography Mission), Part II – Creating a This step may take a while, depending in a resolution of 250m, originally Hypsometric map on your hardware specifications. Once produced by NASA. These data are done, you can click >Apply to visualize currently of open distribution by USGS Using a geographical the edits made (Fig. 14). (U.S. Geological Survey; https://viewer. distributional map assembled according You can modify all the altitude nationalmap.gov/launch/) online, and are to “Tutorial I” (SBI Nº118) as a starting classes you deserve to include in your available for download at “National Map point, except by the addition of the map, managing gradients. It will be Seamless Data Distribution System” or landscape file (Fig. 6), move directly to included, in this example, one additional the USGS website (https://nationalmap. the second stage of the landscape layer 100m class; under the white box that gov/viewer_text.html) (Fig. 3). edition. shows altitude values, click on “+” to Alternatively, if one is To add a landscape file from a add a new value to the map (Fig. 15). interested in working with a specific Raster source, click on the second icon Note that the new value was geographical region in a broader scale on the toolbar to the left of the screen added to the end of the list, in a random (not the scope of this tutorial), date color scheme. To add the desired color to , as shown in “Tutorial I” (Fig. 7). can be obtained from the TOPODATA the altitude value, double-click the value Browse your drive for the project (Brazilian geomorphological (expressed in meters) and edit it, always location of the previously downloaded database; INPE, 2008), which provides keeping the decimal series to zero Raster landscape file >SRMW_W_250m. the “Digital Elevation Model - DEM) “.00000”, according to the remaining tiff. Move the landscape layer to the and their local Brazilian derivations, values. Include a color to the altitude bottom position of your layer pile, so it elaborated from SRTM space data, after scale of 100 m and then click on the does not overlap any of the other layers. many inspections and improvements symbol “ ” so the values are re-ordinated Right-click the recently added landscape (due to gaps that occurred in the original in ascending order (Fig. 16). layers “SRTM_W_250m” and go to data by interferences during the data Click on the color to edit it, and >Properties (Fig. 8). collection process – example of gaps and choose the desired color and tone, green In the “Style” tab, find the corrections: goo.gl/FHcqFA). Individual in this example (Fig. 17). Additionally, it session “Band rendering” (Fig. 9), where data can be downloaded from INPE at is necessary to edit the “Label” to show many color settings can be edited, and http://www.drs.inpe.br/topodata/acesso. the correspondent altitude to the inserted where most of the tutorial will take part. php (Fig. 4) or at Webmapit http:// class (“100” in the example) (Fig. 18). Notice that the added landscape layer www.webmapit.com.br/inpe/topodata One option is to include the altitude is currently in grayscale, presenting (Fig. 5), selecting the desired grid. The interval (e.g. 100-200m) to all classes, no hypsometric information yet. It is elaboration process of a map with re- in contrast to the minimum value. Click necessary to include a proper color ramp scaling of altitude categories is more in >Apply and >Ok. In order to delete, to highlight the map topography. There complex and is not approached in this select the desired class and click the are two options to attribute colors to tutorial, but can be easily found online symbol “-” (Fig. 19). altitude classes, but both require selecting by searching for “hypsometric maps”. It is also possible to alter any the option >Singleband pseudocolor, color of any class, by double-clicking under “Render type”, which allows Step 2: Altimetry model file over the color bar. It is interesting to including color scales to the map. (Fig. maintain a clear distinction between Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 34 lower and higher altitudes, so it is altitude editing is completed. “SRTM_W_250m.tiff” layer, in order suggested to use “cold” color tones for to increase the smoothness of the image. lower altitudes and “warm” color tones Part III – Interpolating 3D In the >Properties of the layer, go to the for higher altitudes. Do not forget to landscape shading “Style” tab and in the session “color save your color model, for further use rendering” increase brightness to a value if desired: go to the lower portion of the To create a more realistic around 35-60% and contrast around 20% window in >Style >Save style (Fig. 20). effect on the hypsometric map, a 3D (Fig. 32). The second option to create a shading representation layer for the The map is now ready to the color gradient is to start a new map from topographic map can be created, using print composer, to include coordinates, scratch. Go to “Generate new color map” the function “Hillshade”. This consists gridlines and legends. Do not forget to session and choose one from the color of basically creating a new 3D shading save your project for future usage and palettes (Fig. 21). layer and interpolate with the landscape editing. You can also edit the color altitude layer. To achieve this effect, The last detail of this tutorial is and/or tone of the two extremes of your the measurement units of both Raster the inclusion of the legend regarding the gradient in >Edit, as well as invert the layers, latitude and longitude (horizontal altitude classes that have been created for referred gradient by selecting the box measurements) and altitude (vertical the map. Click on “new print composer” >Invert (Fig. 22). measurement), must be the same, in and add a new map to the print composer Next, go to “Mode” and select this case, in meter (m). Considering the canvas, as presented in “Tutorial I”. >Equal interval. In “Classes”, select layer “SRTM_W_250m.tiff” (being used After the new map is inserted, click on the amount of altitude classes you in this tutorial), the coordinates are in “Add new legend” at the upper toolbar would like to include in the map (eight UTM, so there is no need to correct the and insert it on the print canvas (Fig. 33). classes will be chosen for this example); “z-factor” (*footnote) – used to correct In “Item properties”, go to “legend click in >Classify (Fig. 23). Note in the the scale units when not in meters (e.g. items”, de-select the “auto-update” values box on the left side of the screen when in degrees). option and select all layers that you wish that the chosen classes and colors were In this example, the digital to remove from the legend. Then click updated. The values will always include elevation model produced in the the “-” button to remove them (Fig. 34). the minimum and maximum altitudes, Double-click on the name of the “first option” will be used (Altitude_ with the number of selected classes in Continental.qml). To create the shading “SRTM_W_250m.tif” layer and delete it between, in equal intervals. layer, in the upper menu, click on >Raster so it does not appear on the legend (Fig. In the “Load min/max” session, >Terrain Analysis >Hillshade (Fig. 27). 35). You can edit or remove the title of choose the same parameters used in the Assign an output name to the the legend in >Main properties >Title “first option”, making use of a pre- 3D landscape “.tif” file which will be (Fig. 36). existing digital model. Select >Min/max generated in the “output layer” field Complete the relevant and >Actual (slower); click on >Load (Fig.28). Do not modify the remaining of information to your map, as presented and then in >Apply >Ok (Fig. 24). the parameters. As previously noticed, it in “Tutorial I” (N°118), and save your If desired, it is possible to is not necessary to correct the “z-factor”. composer model by exporting it using change and edit the color palette without The processing/creating time of this the desired extension. modifying the remaining parameters, layer may be long (depending on your except for the number of classes, by hardware) due to the size of the landscape Cited/accessed websites: https://viewer.nationalmap.gov/launch/ selecting the desired color palette and Raster file. clicking on >Classify (Fig. 25). http://srtm.csi.cgiar.org/ Once the 3D Hillshade layer is http://gisweb.ciat.cgiar.org/TRMM/SRTM_ It is interesting to choose and created, drag the “SRTM_W_250m.tiff” Resampled_250m/ edit the colors before modifying the layer to the position right above the 3D http://www.dsr.inpe.br/topodata/acesso.php http://blog.webmapit.com.br/2013/02/topodata- class values, once every time you “re- shading layer, in order to incorporate classify” your project, the values return paletas-qgis-para-altitude.html characteristics of both layers into a single http://www.processamentodigital.com. to their default. In this example, note that image. In the layers panel, right-click br/2012/01/02/grass-6-4-preenchimento-de- the most common altitude values in the over the “SRTM_W_250m.tif” layer and vazios-do-srtm3-atraves-dos-algoritmos-r- mapcalc-e-r-fill/ map (0-1200m) were attributed different select >Properties (Fig. 29). http://www.gdal.org/gdaldem.html tones of a same color, not presenting an On the “Transparency” tab, adequate contrast. Choose other options assign a transparency percentage to the by double-clicking the color bar of the layer around 30-50%, so it is possible to intermediate intervals in order to create visualize the 3D shading layer that is set a more informative (contrasting) color below. Click >Apply >Ok (Fig. 30). gradient to the region of interest (Fig. Note the change in the landscape 26). map and, as an exercise, uncheck the Lastly, adjust the altitude Hillshade 3D layer to observe the values that you want to correspond to changes in depth related to the terrain, *footnote: On the “Hillshade” window, insert the correction scale of the value in the “z-factor” field: the color gradient by double-clicking when using or not the 3D shading layer. over the value (Fig. 26); the model used 111120. This is an approximate value to regions Close up to a region of interest to observe around the Equator . If working with a region not in in the “first option” can be used as an in greater detail (Fig. 31). this area, it is necessary to calculate “z” using the example. Once all the altitude scales It is also possible to edit formula: z=1/(111320*cos(latitude*pi/180) (http:// have one assigned color, the landscape www.gdal.org/gdaldem.html, GDAL - Geospatial brightness and contrast of the Data Abstraction Library). Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 35

TÉCNICAS Introdução à ilustração de peixes 8: Compondo ilustrações com auxílio de programa para edição de imagens

Oscar Akio Shibatta

composição de pranchas com diferentes ordens). Algumas espécies marinhas, como o A imagens constitui uma arte ou é resultado de um tubarão cabeça-chata (Carcharhinus leucas) e a conhecimento técnico? Em um primeiro momento, a tainha (Mugil platanus), são visitantes frequentes primeira opção parece a mais plausível, uma vez que de água doce. Outras espécies, como o surubim- a harmonia da composição está vinculada ao gosto do-doce (Steindachneridion doceanum) e o mero estético. Entretanto, a segunda também é verdadeira. (Epinephelus itajara), estão ameaçadas de extinção. Ao examinar uma prancha bem elaborada, é possível A seguir são apresentados os procedimentos encontrar alguns princípios técnicos que a norteiam, técnicos utilizados na elaboração dessa ilustração. tanto com relação à estética, quanto aos meios Cabe destacar que os recursos apresentados podem utilizados (analógicos ou digitais). ser úteis para compor pranchas para publicações, Neste artigo utiliza-se o termo composição pois tratam de ajustes de tamanho, de sobreposições, para o arranjo (disposição) de ilustrações em uma prancha. Para se obter uma boa composição, é necessário saber dispor adequadamente cada elemento, de maneira que a prancha fique harmoniosa e informativa. Atualmente, esse trabalho é facilmente realizado no computador, com auxílio de programas para edição de imagens. Com esses programas, podem-se testar várias composições até que se obtenha aquela que atenda aos objetivos desejados. Entre os programas mais populares está o Photoshop, mas existem outros que são equivalentes e distribuídos gratuitamente (open-source), como o GIMP. O Photoshop CS3 foi utilizado para a edição e composição de imagens da ilustração do II International Symposium on Phylogeny and Classification of Neotropical Fishes (doravante denominado II SymFish) (Figura 1). Esse simpósio foi realizado na cidade de Londrina, no período de 23 a 27 de outubro de 2017, e essa imagem foi utilizada em alguns produtos de divulgação, tais Figura 1. Ilustração elaborada para o II International Symposium como camisetas, sacolas e canecas. on Phylogeny and Classification of Neotropical Fishes (II A ilustração do II SymFish teve o objetivo de SymFish). Identificação das espécies de peixes ilustradas, contemplar diferentes espécies de peixes neotropicais de cima para baixo, da esquerda para a direita: Arapaima marinhos e de água doce, que representassem gigas (pirarucu), Mugil liza (tainha), Carcharinus leucas (tubarão-cabeça-chata), Pomacanthus paru (peixe-frade), um evento voltado ao estudo da diversidade, da Selene setapinnis (peixe-galo); Brycon hilarii (piraputanga); sistemática, da conservação e da evolução desses Epinephelus itajara (mero); Sphyrena barracuda (barracuda); animais. Foram contempladas espécies das classes Abudefduf saxatilis (sargentinho); Electrophorus electricus Chondrichthyes e Osteichthyes (esta com várias (poraquê); Steindachneridion doceanum (surubim-do-doce). As escalas são arbitrárias. © O. A. Shibatta. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 36 de duplicações de desenhos e uso de textos. Ainda (a mais equilibrada), assimetricamente (a mais têm a vantagem de serem básicos e fáceis de utilizar dinâmica) ou em grade (a de maior ordenamento por pesquisadores pouco experientes com o uso do metódico) (Figura 2). Certamente, o melhor tipo de programa. composição será ditado pelas imagens e textos que comporão a prancha. Assim, também será possível Elementos de uma boa composição combinar esses tipos de composições conforme a Segundo Wood (1994), três elementos necessidade. Com relação à composição da ilustração fazem parte de uma boa composição: o equilíbrio do II SymFish (Figura 1), podemos classificá-la (“balance”), o fluxo (“eye movement”) e o tamanho como assimétrica. (“size importance”). Para se obter equilíbrio, as Com relação ao fluxo, será a disposição das imagens podem estar dispostas simetricamente imagens e dos textos que coordenarão os olhos a

Figura 2. Exemplos de composições: A) simétrica; B) assimétrica; c) em grade. percorrer a composição do início ao fim. Entretanto, deve-se considerar a movimentação natural dos escala. Entretanto, se todas as imagens tiverem a olhos para a realização de uma boa composição. mesma importância, elas devem ser apresentadas Do contrário, será obtida uma composição caótica, com tamanhos similares. Geralmente, um desenho sem fluxo definido. Geralmente, os olhos iniciam com muitos detalhes possui maior importância a prospecção de uma página impressa no canto que outro com poucos detalhes. Na figura 4, por superior esquerdo e podem seguir imediatamente exemplo, uma estrela de oito pontas é apresentada para a direita, ou para baixo (Figura 3). em menor tamanho do que uma de suas pontas, que Já o tamanho dos elementos em uma está mais detalhada. Em um mapa de distribuição composição é determinado pela sua importância à geográfica de uma espécie, apresenta-se uma área narrativa e não simplesmente por uma questão de ampliada e detalhada com seus pontos de ocorrência, A B

Figura 4. Exemplo de tamanho das imagens em uma Figura 3. Exemplo de um possível fluxo dos olhos em uma composição. A) Estrela com oito pontas em tamanho reduzido; ilustração, sugerido pelas setas. B) uma das pontas da estrela mostrando detalhes. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 37 acompanhada de um mapa menor, mas de uma área Limpeza do fundo das imagens mais ampla onde aquela região está inserida (mapa É importante excluir o fundo dos desenhos do país, por exemplo). para que seja possível sobrepô-los. Uma maneira rápida de excluir o fundo é obtida com auxílio da Procedimentos ferramenta Varinha mágica (também localizada na Para a elaboração da ilustração do II SymFish, barra lateral esquerda ou ativada com o comando W). cada espécie de peixe foi desenhada separadamente Para isso, basta clicar a Varinha em qualquer parte a mão livre em papel layout 70g/m2 e a arte-final foi do fundo que será excluído e digitar a tecla Delete. feita com caneta técnica com tinta preta permanente Entretanto, não se deve excluir o fundo dentro do (Figura 5). O papel layout foi utilizado por ter uma contorno do peixe, para que o desenho da camada superfície muito lisa, o que facilita o trabalho com inferior não apareça em seu interior. canetas técnicas. Informações a respeito da técnica Para ter controle do que será excluído, deve- de ilustração com pontilhismo podem ser consultadas se determinar, com antecedência, a Tolerância da em Shibatta (2016). Varinha. Essa Tolerância está relacionada com as cores dos pixels que serão selecionados. Tolerâncias muito baixas, por exemplo, zero, selecionarão apenas o tipo de cor que a varinha tocará. A escolha da tolerância será ainda mais importante se o fundo apresentar muitos tons diferentes. Neste exemplo, foi determinada Tolerância 15 de maneira arbitrária, mas poderia ser menor ou maior, porque o fundo é de apenas uma cor. Para manter o interior do peixe com o fundo branco, selecione o comando Adjacente (ou Contíguo). Dessa forma, haverá somente a seleção de pixels contíguos (Figura 6), com as linhas pretas de contorno servindo como limite. Assim, as linhas de contorno do peixe não devem apresentar falhas (aberturas) para que a área selecionada não invada o seu interior. Se essa seleção não for realizada, todos os pixels similares, inclusive os de dentro do desenho do peixe, serão capturados.

Duplicação de imagens Algumas espécies como o sargentinho foram Figura 5. Alguns desenhos de peixes realizados com a técni- duplicadas (Figura 7). Primeiro, com a imagem ca do pontilhismo, para compor a ilustração do II SymFish. aberta, ajusta-se o tamanho da tela de pintura A) tubarão-cabeça-chata; B) pirarucu; C) barracuda. © O. A. Shibatta. (comando Alt+Ctrl+C) considerando a área total da imagem final. Exclui-se o fundo da imagem como Os desenhos foram digitalizados em scanner feito anteriormente, seleciona-se apenas a imagem de mesa, no formato .jpg, em 300 dpi colorido. Nesta com a ferramenta de seleção, e clica-se Ctrl+C e etapa é melhor utilizar o formato colorido, porque Ctrl+V para reproduzi-la. Deve-se clicar Ctrl+V se perde muitos detalhes digitalizando-se em preto e tantas vezes quantos forem os exemplares desejados. branco. A posição de cada imagem pode ser modificada No Photoshop CS3, cada imagem também clicando-se o mouse sobre ela e arrastando-a para foi trabalhada separadamente. O arquivo colorido o local adequado utilizando a ferramenta Mover foi transformado em tons de cinza (opções Imagem, (localizada na barra lateral esquerda ou utilizando Modo, Tons de cinza), as linhas foram escurecidas o comando V). As imagens ainda podem ser com ajustes de brilho e contraste (opções Imagem, ampliadas, reduzidas, e o seu ângulo modificado Ajustes, Brilho/Contraste), e as imperfeições foram com ajuda do mesmo comando. Para ampliar ou apagadas com a borracha (localizada na barra lateral reduzir a imagem, posicione a ponta da seta em esquerda). um dos cantos, mantenha a tecla shift pressionada Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 38

Figura 6. Tela do Photoshop CS3, mostrando o uso da ferramenta Varinha mágica (comando W) para a exclusão do fundo do desenho.

e arraste a seta para fora ou para dentro da imagem imagens editadas, inicia-se a composição da prancha se quiser ampliar ou reduzir, respectivamente. Para definindo o tamanho da tela de pintura (na ilustração alterar o ângulo do desenho, aproxima-se o mouse do II SymFish, 24 cm de largura x 26 cm de altura) em um dos cantos da imagem até aparecer uma seta e a qualidade em 300 dpi. Cada imagem é aberta curva de duas pontas e movimenta-se o mouse até separadamente, selecionada, copiada com o comando atingir o ângulo desejado. Ctrl+C e colada na prancha com o comando Ctrl+V. Dessa forma, cada imagem terá uma camada própria. Trabalho com as camadas Para facilitar a localização das espécies, O trabalho com camadas é um recurso deve-se rotulá-las na barra lateral referente às extremamente útil do Photoshop. Com todas as camadas (opções Visualizar, Camadas ou comando

Figura 7. Tela do Photoshop CS3, mostrando o uso da ferramenta Mover (comando V), para duplicação e mudança de ângulo do desenho de sargentinho. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 39

F7). Para isso, clica-se em cima do nome provisório ferramenta Mover, clicando com o botão esquerdo de uma camada para abrir uma caixa que permitirá a do mouse sobre ela, mantendo a pressão do dedo e digitação do nome correto. arrastando-a para o local adequado (Figura 8). Trabalhar com camadas possibilitará a Em se tratando da modificação de uma sobreposição dos desenhos, mas para se obter a posição camada em particular, deve-se tê-la sempre correta, deve-se prestar atenção no ordenamento das selecionada. Caso seja necessário, ainda é possível camadas. Se necessário, será possível modificar a agrupar camadas (comando Ctrl+G) ou desagrupá- posição de cada camada arrastando-a para cima ou las (Shift+Ctrl+G). Também é possível excluí-la para baixo de outra na barra lateral. Já a posição de arrastando-a para a lixeira localizada na barra lateral, cada imagem na prancha é ajustada facilmente com a no lado inferior direito.

Figura 8. Tela do Photoshop CS3 mostrando a inserção de textos e as camadas que compõe a ilustração final.

Considerações finais. Os desenhos utilizados de computador permite rapidez, facilidade de uso e na composição da ilustração final do II SymFish de modificações, possibilidade de experimentação e poderiam ter sido elaborados com o auxílio de resultados com visual profissional. Dessa forma, a programas de edição de imagens ou de ilustração utilização conjunta de desenhos feitos a mão livre vetorial. Entretanto, o tempo necessário para com os recursos computacionais deve ser valorizado. finalização de cada desenho utilizando a técnica do pontilhismo seria muito maior do que fazendo-o Literatura citada a mão livre. Mesmo utilizando o recurso da Briscoe, M. H. 1996. Preparing scientific illustrations: A guide to duplicação dos pontos com a técnica do carimbo, better posters, presentations, and publications. 2nd ed. New York: Springer. seria necessário muito empenho e tempo até se obter Shibatta, O.A. 2016. Introdução à ilustração de peixes o efeito desejado. 3: Arte finalização em preto e branco com o uso da Por outro lado, a composição de pranchas à técnica do pontilhismo. Boletim Sociedade Brasileira de moda antiga, com a colagem de recortes de desenhos Ictiologia, 119: 12-17. feitos a nanquim em papel vegetal, não seria Wood, P. 1994. Scientific illustration. 2nd ed. New York, John Wiley & Sons. realizada tão rapidamente. Também não haveria ______tantas facilidades de edição, tais com sobreposição, Departamento de Biologia Animal e Vegetal, Centro de duplicação, ampliação, redução de imagens e uso de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina, textos. 86057-970, Londrina, PR. E-mail: [email protected]. De acordo com Briscoe (1996), o emprego Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 40 PEIXE DA VEZ Pterolebias longipinnis Garman, 1895 Francisco Severo-Neto

Nome popular. Peixe-anual, killifish Informações gerais. Pterolebias longipinnis foi descrito por Garman em 1895 tem sua localidade- tipo na bacia Amazônica, no município de Santarém, Pará. É membro da tribo Rachovini (Costa, 1990), um clado que inclui espécies anuais endêmicas do centro e norte da América do Sul (Costa, 2014). A espécie possui grande variação de colorido, principalmente em machos, que são maiores e mais coloridos que as fêmeas. Os exemplares fotografados foram todos coletados em uma poça marginal ao Rio Paraguai, na planície pantaneira (ZUFMS 5433, 5434). Identificação. Três espécies de Pterolebias são descritas para as drenagens sul-americanas, sendo duas encontradas em território brasileiro: P. longipinnis e P. phasianus Costa, 1988, enquanto P. hoignei Thomerson, 1974 ocorre apenas na bacia do Orinoco na Venezuela. P. longipinnis apresenta de 3 a 4 escamas na bainha da anal; dorsal com 9, peitoral com 15 a 16 e anal com 18-19 raios. Linha longitudinal com 31 a 32 escamas (Britski et al., 2007). A espécie apresenta marcado dimorfismo sexual. Além do colorido vistoso que os machos apresentam em vida, eles possuem a longipinnis é a espécie mais abrangente, ocorrendo da ventral alongada alcançando o fim da anal e dorsal e ilha do Marajó, no Pará, até Corrientes na Argentina anal ultrapassam o início da caudal enquanto as fêmeas (Costa, 2005). possuem nadadeiras menores e com borda arredondada. Conservação. Pterolebias longipinnis não encontra- Biologia. P. longipinnis faz parte do grupo dos peixes se ameaçada de extinção segundo a lista recente de conhecidos como peixes anuais. Esse termo refere- espécies ameaçadas (BRASIL, 2014). se a uma condição única presente neste grupo de Agradecimentos. À Tamires Yule e Matheus Volcan peixes, as diapausas. As diapausas são exclusivas de pelas sugestões no texto e à Rufford Foundation pelo uma linhagem de história natural dos Aplocheiloidei apoio financeiro (RSGF 22546-1). Americanos e Africanos (Parenti, 1981). Não há Literatura citada. publicação no âmbito científico que aborde aspectos BRASIL. 2014. Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de sobre sua alimentação em meio natural mas a orientação Extinção. Disponível em: http://www. icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/ fauna-brasileira/lista-de-especies.html. Acesso em [10/08/2017] da boca para cima, e o hábito de habitarem próximos Britski, H. A., Silimon, K. Z. S. & Lopes, B.S. 2007. Peixes do Pantanal: manual de à superfície d´água (Costa, 2005) sugerem a captura identificação. Embrapa, Brasília, 230p. Costa, W. J. E. M. 1990. Análise filogenética da família de itens alóctones que caiam na superfície da água, (, Aplocheiloidei). Revista Brasileira e Biologia, 50: 65-82. o que é reforçado por observações em aquários (obs. Costa, W. J. E. M. 2005. The Neotropical annual killifsh Pterolebias Garman pess.). Observações de campo e coletas no Pantanal (Teleostei: Cyprinodontiformes: Rivulidae): phylogenetic relationships, descriptive morphology, and taxonomic revision. Zootaxa, 1067: 1 –36. revelaram que esta espécie ocorre em sintopia com Costa, W. J. E. M. 2014. Phylogeny and evolutionary radiation in seasonal rachovine os também anuais P. phasianus e Trigonectes balzanii killifishes: biogeographical and taxonomical implications. Vertebrate Zoology, 64: 177-192. (Perugia, 1891) além de diversas outras espécies de Parenti, L. R. 1981. A phylogeneitc and biogeographic analysis of cyprinodontiform peixes não-anuais, inclusive em baías, ambientes não- fishes (Teleostei, Atherinomorpha). Bulletin of the American Museum of Natural History, 168: 335-557. temporários. São facilmente encontrados e capturados ______durante a noite enquanto dormem junto à superfície Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Cidade Universitária, CEP 79070-700, Campo Grande, Mato Grosso das áreas mais rasas dos alagados. do Sul, Brasil. Distribuição. A distribuição do gênero Pterolebias Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Instituto abrange o leste e sul da bacia Amazônica e o sistema de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Zoologia e Botânica, Laboratório de Ictiologia, Rua Cristóvão Colombo, 2265, Jardim Nazareth, Paraná-Paraguai, ocorrendo no Brasil, Bolivia, Paraguai CEP 15054-000, São José do Rio Preto, SP, Brasil e Argentina. Dentro desta amplitude geográfica, P. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 41 PEIXE DA VEZ Orestias alba Valenciennes 1846 Junior Chuctaya1, 2, Laura M. Donin2, Silvia Valenzuela1, 3 & Max Hidalgo1

Nomes populares. Carache blanco, carachi, orestias. em algumas espécies (e.g., O. tchernavini) cuja descrição Informações gerais. Orestias Valenciennes 1839 pertence à foi realizada apenas com indivíduos fêmeas, tornando-se um família Cyprinodontidae Gill, 1865, endêmico dos sistemas dos principais entraves ao estudo da biologia reprodutiva do aquáticos do Altiplano andino entre os países de Perú, Bolivia gênero. A análise do conteúdo estomacal da Orestias alba e Chile, desde o lago Lacsha nos andes centrais do Peru revelou a preferência alimentar por Ostracodos (88%) e, em até o Salar de Ascotán no Norte de Chile (Parenti, 1984; menor medida, algas filamentosas (7%), anfípodo (4%) e Costa, 2003; Ortega et al., 2012; Cruz-Jofré et al., 2013). O Cladocera (1%). gênero inclui 45 espécies válidas e uma species inquerenda Distribuição. A distribuição dessa espécie se restringe aos (Eschemeyer et al., 2017), mais da metade das espécies afluentes do Lago Titicaca, na Região de Puno, Perú (Parenti, pertencentes à bacia do lago Titicaca. Orestias alba foi descrita 1984). por Valenciennes (1846) como Orestias albus posteriormente, Conservação. Orestias alba não consta na Lista Vermelha o nome foi corregido por Cruz-Jofré et al. (2013). Segundo de Espécies Ameaçadas da IUCN (IUCN 2017). Atualmente Parenti (1984) Orestias alba é uma espécie de grande porte todas as espécies do Lago Titicaca são ameaçadas por espécies pertencente ao grupo luteus [atualmente lutea] do complexo introduzidas (e.g., Oncorhynchus mickys e Odontesthes agassii. O grupo lutea é composto por cinco espécies do gênero bonariensis) e pela poluição que, provavelmente, não cessará (O. lutea, O. rotundipinnis, O. farfani, O. alba e O. olivaceus) e continuará crescendo com aumento da população (Ortega et compartilhando um padrão derivado de escamas grossas e al., 2012). Orestias alba não foi encontrada fora do rio Coata e, cobertas de granulações entre o focinho e a base da nadadeira portanto, poderia ser incluída na categoria Vulnerável. dorsal, nas regiões preopercular e opercular e na região dorsal Agradecimentos. Agradecemos a Lourdes Figueroa pelo da nadadeira peitoral. o auxílio nas análises de conteúdo alimentar, René Chura Identificação. Orestias alba, segundo Parenti (1984), apresenta (IMARPE) pelo auxílio nas coletas de campo e pelo apoio três autapomorfias: 1. Mandíbula inferior robusta formando logístico; ao Ministerio del Ambiente (MINAM) pelo um “queixo” proeminente; 2. Cabeça relativamente longa, financiamento do projeto. mais do que 35% do comprimento padrão; 3. Forma corporal Literatura citada. única, caracterizada por um perfil dorsal do corpo inclinando- Cruz-Jofré F, Valladares MA, Vila I, Méndez MA. The genus Orestias (Teleostei: se suavemente até a parte posterior, sem uma transição abrupta Cyprinodontidae): nomenclatural errors in the assignation of species names. da parte anterior da base da nadadeira dorsal até a base da Zootaxa. 2013; 3746 (4): 597-599. Costa WJEM. Family Cyprinodontidae; p. 549-554. In R.E. Reis, S.O. Kullander nadadeira caudal. and C.J. Ferraris Jr. (ed.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and Biologia. O exemplar fotografado (MUSM 47382) foi coletado Central America. Porto Alegre: Edipucrs. 2003. no rio Coata (15°33’55.27”S 69°57’22.75”O) próximo à cidade Eschmeyer WN, Fricke R, van der Laan R, editors. : genera, species, de Juliaca, a 3.866 metros de altitude. O exemplar apresenta 8,6 references. Versão on-line acessada em 27/12/2017. Disponível em: http:// researcharchive.calacademy.org/research/ichthyology/catalog/fishcatmain.asp. cm CP, podendo alcançar 18 cm de comprimento total (Costa, Ortega H, Hidalgo M, Trevejo G, Correa E, Cortijo AM, Meza V, Espino J. Lista 2003). O ambiente aquático onde foi coletado é caracterizado anotada de los peces de aguas continentales del Perú: Estado actual del por baixa velocidade, pH alcalino (10,5), temperatura de água conocimiento, distribución, usos y aspectos de conservación. Ministerio del ligeiramente fria (20,9 °C), alta condutividade (1306 uS/cm), Ambiente, Dirección General de Diversidad Biológica - Museo de Historia Natural, UNMSM. 2012. oxigênio dissolvido ligeiramente alto (6,45 mg/l), profundidade Parenti LR. A taxonomic revision of the Andean killifish genus Orestias variável (1,1-2,0 m), transparência total e ambiente com (Cyprinodontiformes, Cyprinodontidae). Bulletin of the American Museum of vegetação submersa. As espécies de Orestias como parte do Natural History. 1984; 178 (2): 107-214. grupo de killifishes são sexualmente dimórficas e dicromáticas. International Union for Conservation of Nature (IUCN). The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2017-3. 2017. Disponível em: . Acesso em: 27/12/2017 machos. Segundo Parenti (1984), as espécies do complexo ______agassii (onde está incluída O. alba) experimentam trocas 1UNMSM, Museo de História Natural Museu da Universidad Nacional Mayor ontogenéticas no padrão de colorido, onde os indivíduos jovens de San Marcos, laboratório de Ictiologia, Lima, Perú. Junior.chuctaya@gmail. e fêmeas subadultas exibem um padrão manchado, enquanto com (JC), [email protected] (MH), (SV) 2UFRGS, Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Departamento de que, em adultos, o padrão torna-se denso, sendo mais obscuro Zoologia, Laboratório de Ictiologia. [email protected] (LMD), (JC) na parte dorsal e mais claro na parte ventral. Ademais, tem-se 3UFLA, Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ecologia Aplicada, observado que os machos são menos numerosos que as fêmeas Laboratório de ecologia de peixes. [email protected] (SV). Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 42 NOVAS PUBLICAÇÕES

FIELD GUIDE to the FISHES of the AMAZON, ORINOCO & GUIANAS Edited by Peter van der Sleen & James S. Albert

s bacias da Amazônia e do Orinoco no norte da estado atual dos conhecimentos sobre a taxonomia, AAmérica do Sul são o lar da maior concentração a riqueza de espécies e a ecologia desses grupos de de espécies de peixes de água doce na Terra, com peixes e fornecem referências à literatura relevante mais de 3.000 espécies alocadas em 564 gêneros. para identificações de espécies. Este guia ricamente Os peixes amazônicos incluem piranhas, ilustrado contém 700 desenhos detalhados, 190 fotos enguias elétricas, arraias de água doce, uma miríade coloridas e 500 mapas de distribuição, que abrangem de belos tetras e o maior peixe de água doce em todos os gêneros. Um glossário abrangente e ilustrado escala mundial, o pirarucu. O “Field Guide to the ajuda os leitores com as chaves de identificação. Fishes of the Amazon, Orinoco & Guiana“ fornece Trazendo a primeira visão geral completa descrições e chaves de identificação para todos os da diversidade de peixes na Amazônia, Orinoco gêneros conhecidos de peixes que habitam a Grande e Guianas, este guia abrangente é essencial para Amazônia, uma região vasta e ainda mais remota de qualquer pessoa interessada na vida de água doce florestas tropicais, savanas sazonalmente inundadas que habita esta parte do mundo. e rios sinuosos. Os contribuidores do guia incluem mais de Peter van der Sleen cinquenta cientistas especialistas. Eles resumem o James S. Albert Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 43 EVENTOS

SIBIC2018 - VII Congresso da Sociedade Ibérica de Ictiologia 12 a 16 de junho de 2018, Faro, Portugal Inscrições para o evento e mais informações em: http://www.sibic.org/pt-pt/convite-vii-congresso-sociedade-iberica-ictiologia/

ECSA 57: Changing estuaries, coasts and shelf systems - Diverse threats and opportunities 3 a 6 de setembro de 2018, Perth, Australia Inscrições para o evento e mais informações em: http://www.estuarinecoastalconference.com/

Sixth International Conference of the PanAfrican Fish and Fisheries Association (PAFFA) 24 a 28 de setembro de 2018, Mangochi, Malawi Inscrições para o evento e mais informações em breve Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 124 44 AUMENTANDO O CARDUME onvidamos a todos a fazer parte da SBI. Para afiliação, Deixe sempre o seu cadastro atualizado no site da C o pagamento da anuidade pode ser feito com cartão Sociedade. Qualquer dúvida ou dificuldade em recuperar de crédito ou depósito/transferência bancários. Confira sua senha, nos escreva ([email protected] ou no nosso site! [email protected]).

PARTICIPE DA SBI ara afiliar-se à SBI, basta acessar a homepage da Fazemos um apelo aos orientadores para que Psociedade no endereço http://www.sbi.bio.br, e esclareçam aos alunos sobre a importância da filiação por cadastrar-se. A filiação dará direito ao recebimento de um preço tão módico. exemplares da revista Neotropical Ichthyology (NI), Para enviar suas contribuições aos próximos e a descontos na inscrição do Encontro Brasileiro de números do Boletim SBI, basta enviar um email à Ictiologia e na anuidade e congresso da Sociedade secretaria ([email protected]). Você pode Brasileira de Zoologia. Além disso, sua participação participar enviando artigos, fotos de peixes para a é de fundamental importância para manter a SBI, uma primeira página, fotos e dados sobre o ‘Peixe da Vez’, associação sem fins lucrativos e de Utilidade Pública notícias e outras informações de interesse da sociedade. oficialmente reconhecida. Contamos com a sua participação!

EXPEDIENTE SOCIEDADE BRASILEIRA DE ICTIOLOGIA CNPJ: 53.828.620/0001-80 BOLETIM SBI, N° 124

DIRETORIA (biênio 2017-2019) Edição: Diretoria da SBI Presidente: Dr. Luiz R. Malabarba ([email protected]) Diagramação: Fernando C. Jerep Secretário: Dr. Fernando C. Jerep ([email protected]) Email: [email protected] Tesoureiro: Dr. José Birindelli ([email protected]) Homepage: http://www.sbi.bio.br

CONSELHO DELIBERATIVO Fotografias na primeira página: Cabeçalho: Bunocephalus Presidente: Dr. Francisco Langeani Neto doriae (rio Amonguijá, bacia do rio Paraguai, Porto Murtinho, Membros: Dra. Carla S. Pavanelli MS, foto: Francisco Severo-Neto). Fundo: Afluente do rio Dr. Jansen Alfredo Sampaio Zuanon Jequitinhonha (Olhos d’Água, MG, foto: Fernando Jerep). Dr. Fábio Di Dario Dr. Fernando Rogério Carvalho Fotografia nesta página: Rio São Francisco, Pirapora, MG, Dr. Ricardo de Souza Rosa foto: Fernando Jerep). Dr. Leonardo F. da Silva Ingenito Os conceitos, ideias e comentários expressos no Boletim Secretaria e Tesouraria da SBI: Departamento de Biologia Sociedade Brasileira de Ictiologia são de inteira Animal e Vegetal, Universidade Estadual de Londrina, Caixa responsabilidade de quem os assinam. Postal 10.001, 86057-970, Londrina, PR.

A Sociedade Brasileira de Ictiologia, SBI, fundada a 2 de fevereiro de 1983, é uma associação civil de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos, legitimada durante o I Encontro Brasileiro de Ictiologia, como atividade paralela ao X Congresso Brasileiro de Zoologia, e tendo como sede e foro a cidade de São Paulo (SP). - Artigo 1° do Estatudo da Sociedade Brasileira de Ictiologia. Utilidade Pública Municipal: Decreto Municipal 36.331 de 22 de agosto de 1996, São Paulo Utilidade Pública Estadual: Decreto Estadual 42.825 de 20 de janeiro de 1998, São Paulo Utilidade Pública Federal: Portaria Federal 373 de 12 de maio de 2000, Brasília, D.F.