Pedidos De Extradição Formulados Pela Polônia Contra Criminosos Nazistas Residentes No Brasil
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Pedidos de Extradição Formulados pela Polônia Contra Criminosos Nazistas Residentes no Brasil Extradition Requests by Poland Against Nazi Criminals Residing in Brazil Polskie wnioski o ekstradycję nazistowskich zbrodniarzy przebywającym w Brazylii Felipe Cittolin Abali Resumo: O presente artigo possui como finalidade expor a respeito dos julgamentos dos pedidos de extradição formulados pelo governo polonês contra dois criminosos nazistas encontrados no Brasil: Franz Stangl e Gustav Wagner, o primeiro julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 1967 e o segundo em 1979. Ambos os nazistas haviam trabalhado no instituto de eutanásia de Hartheim e no campo de extermínio de Sobibor, enquanto Stangl foi, ainda, comandante de Treblinka. Os pedidos de extradição realizados pela Polônia foram indeferidos em ambos os casos, tendo como fundamento a prescrição dos crimes cometidos. Palavras-chave: Criminosos Nazistas. Extradição. Polônia. Abstract: The purpose of this article is to explain about the trials of extradition requests made by the Polish government against two Nazi criminals found in Brazil: Franz Stangl and Gustav Wagner, the first tried by the Supreme Federal Court in 1967 and the second in 1979. Both Nazis had worked at the Hartheim euthanasia institute and in the Sobibor death camp, while Stangl was also commander of Treblinka. Poland's extradition requests were rejected in both cases, based on the statute of limitations of the crimes committed. Keywords: Nazi criminals. Extradition. Poland. Streszczenie: Artykuł prezentuje przebieg procesów ekstradycyjnych Franza Stangla i Gustava Wagnera, nazistowskich zbrodniarzy, którzy po popełnieniu okrutnych zbrodni w Sobiborze i Treblince rozpoczęli bezkarne życie na obszarze Brazylii. Polskie wnioski zostały rozpatrzone przez Federalny Sąd Najwyższy w 1967 i 1979 roku, oba jednak zostały uznane za przedawnione i oddalone. W swoim historyczno-prawniczym podejściu badacz formułuje krytyczną analizę przebiegu i rezultatów obu procesów. Słowa kluczowe: Nazistowscy zbrodniarze. Ekstradycja. Polska. HISTÓRIA DEBATES E TENDÊNCIAS PASSO FUNDO, V. 20, N. 3, P. 28 - 47, SET/DEZ 2020 Considerações iniciais Em outros momentos já tratamos a respeito dos julgamentos dos pedidos de extradição formulados contra Franz Stangl e Gustav Wagner, nazistas encontrados no Brasilii. O objetivo do presente artigo, no entanto, é fazer um apanhado a respeito de ambos os casos com foco nos pedidos de extradição formulados especificamente pelo governo da Polônia em face dos criminosos e os seus resultados. Tanto Stangl quanto Wagner tiveram atuação de destaque no território da Polônia ocupada, cometendo crimes contra cidadãos poloneses em campos de extermínio nazistas, fato que por si só já demonstra o interesse e a competência da Polônia em julgar os criminosos. No entanto, por questões jurídicas, em ambos os julgamentos foi indeferida a extradição dos criminosos para a Polônia e, assim sendo, pretendemos expor os motivos que levaram a tais decisões. Para tanto, em um primeiro momento trataremos a respeito dos campos de extermínio e da atuação de Stangl e Wagner durante a Segunda Guerra Mundial em Sobibor e Treblinka, sua fuga para o Brasil ao fim da guerra e a captura. Em uma segunda parte, será realizada a exposição a respeito dos pedidos de extradição formulados contra os nazistas, com foco no pedido polonês e, por fim, discorreremos a respeito do resultado negativo dos julgamentos e os motivos para tanto. Os Campos de Extermínio: Sobibor e Treblinka Antes de discorrer a respeito de Franz Stangl e Gustav Wagner é necessário que se trate rapidamente sobre os campos de extermínio de Sobibor e Treblinka, uma vez que foram os locais onde os criminosos atuaram durante a Segunda Guerra Mundial. A política antissemita do regime nazista na Alemanha é bem conhecida. Após a chegada do partido nacional-socialista ao poder, foram realizados esforços para a emigração dos judeus residentes na Alemanha. Após a invasão da Polônia, onde viviam cerca de 3 milhões de judeus, as medidas tornaram-se cada vez mais violentas. Apenas três semanas depois da ocupação do território polonês, em 21 de setembro de 1939, o Obergruppenführer Reinhard Heydrich deu ordens para que os judeus fossem reunidos em guetos nas grandes cidades, próximas a linhas férreas que facilitassem seu transporte (SCHELVIS, 2007). Posteriormente ao estabelecimento dos guetos, foi tomada a decisão para o início do extermínio sistemático dos judeus em todo o território ocupado pelos nazistas. A primeira HISTÓRIA DEBATES E TENDÊNCIAS PASSO FUNDO, V. 20, N. 3, P. 28 - 47, SET/DEZ 2020 forma de assassinato em massa foi realizada pelos batalhões especiais chamados Einsatzgruppen, que seguiam junto da Wermacht (ARAD, 1999). Quando esses batalhões chegavam a uma determinada localidade, suas vítimas eram reunidas e levadas para serem fuziladas e enterradas em covas coletivas. Os efeitos dos fuzilamentos coletivos de homens, mulheres e crianças foram negativos para os nazistas, uma vez que diversos membros dos Einsatzgruppen desenvolveram problemas psicológicos. Por este motivo um método mais eficiente e menos traumático deveria ser criado. A primeira tentativa de remediar o problema veio através de caminhonetes adaptadas como câmaras de gás em que as vítimas eram mortas com a utilização de monóxido de carbono. Esse sistema, por sua vez, também não se revelou ideal para o projeto de extermínio elaborado pelos nazistas. Em janeiro de 1942, naquela que ficou conhecida como a Conferência de Wannasee, foi definido que a chamada “solução final para a questão judaica” deveria ser realizada em locais específicos para tanto, no território polonês. Colocava-se em curso a Operação Reinhard, a construção e operacionalização de campos de extermínio, os quais seriam somados aos campos de concentração já existentes (RASHKE, 1995). Para fins desse artigo, focaremos em dois campos de extermínio: Sobibor e Treblinka, onde atuaram Stangl e Wagner. A escolha de Sobibor se deveu em virtude de sua localização. Tratava-se de um pequeno vilarejo e o local selecionado para a construção do campo ficava ao lado de uma ferrovia, permitindo a chegada de transportes de vítimas. O rio Bug, fronteira entre o chamado Governo Geral (Polônia) e a Ucrânia ficava a poucos quilômetros de distância, servindo ao propósito de enviar os judeus mais ao leste possível (ARAD, 1999). Em março de 1942 foi iniciada a construção do campo sob o comando do Obersturmführer da SS Richard Thomalla. Pouco tempo depois, não tendo sido cumprido estritamente o cronograma para a edificação do campo, Thomalla foi substituído por Franz Stangl como comandante de Sobibor. Stangl rapidamente cumpriu com o seu papel, acelerando o processo (ARAD, 1999). Em sua primeira versão o campo era dividido em três partes: a área de administração, a área de recepção e a área de extermínio. A área de administração era composta pelo Campo Anterior, onde ficava o portão de entrada, a rampa para a ferrovia e os alojamentos dos membros da SS e guardas ucranianos, e o Campo I, onde foram construídos galpões e oficinas para os prisioneiros que exerciam atividades de sapateiros, alfaiates, pintores etc. A área de recepção era chamada de Campo II e continha os galpões, onde as vítimas que HISTÓRIA DEBATES E TENDÊNCIAS PASSO FUNDO, V. 20, N. 3, P. 28 - 47, SET/DEZ 2020 chegavam se despiam e suas posses e roupas eram guardadas, e uma casa destinada à administração onde ficavam estocadas joias, ouro e pedras preciosas. Um corredor ligava o Campo II à área de extermínio, chamado de Campo III, onde ficavam as câmaras de gás, covas coletivas, um galpão onde dormiam os prisioneiros que lá trabalhavam e um galpão para os guardas. O Campo III era totalmente isolado do restante, sendo proibido o contato dos prisioneiros que laboravam no local com os demais (ARAD, 1999). O campo de extermínio de Treblinka era muito similar ao de Sobibor, uma vez que foi construído posteriormente. Por esse motivo não nos ateremos a expor sua formatação. O local escolhido para o campo ficava em uma área de floresta a pouco menos de 100 quilômetros de Varsóvia. A construção do campo iniciou em junho de 1942, novamente sob o comando de Richard Thomalla. O primeiro comandante de Treblinka, terminada sua construção, foi o Obersturmführer Dr. Eberl, que acabou demonstrando ser ineficiente no gerenciamento do campo. Em virtude disso, Franz Stangl, que à época era comandante de Sobibor, foi transferido para Treblinka para substituir Eberl e melhorar o campo (HOLOCAUST RESEARCH PROJECT). Terminada essa breve exposição a respeito dos campos, podemos passar a tratar a respeito de Stangl e Wagner. Franz Stangl nasceu em Altmünster, na Áustria, em 26 de março de 1908. No início da década de 1930 ingressou na polícia austríaca e, após a anexação da Áustria pela Alemanha em março de 1938, auxiliou as forças alemãs a contabilizar a população judaica na Boêmia e no processo de imigração forçada, coletando uma “taxa” de imigração que deveria ser paga por aqueles que desejavam fugir do nazismo (SERENY, 1983). Em novembro de 1940, Stangl passou a exercer a função de superintendente de polícia no Instituto de Schloss Hartheim, parte do chamado Programa T-4, o programa de eutanásia nazista destinado ao assassinato de deficientes físicos e mentais com a utilização de câmaras de gás (SERENY, 1983). Os centros de eutanásia, como Hartheim, foram chamados por Simon Wiesenthal de “escolas de assassinato” (WIESENTHAL, 1968), uma vez que, como poderá ser visto, diversas pessoas que trabalharam nesses locais foram utilizadas depois em campos de extermínio. A capacidade de Stangl de obedecer a ordens chamava a atenção de seus superiores e, em outubro de 1941, ele foi enviado a outro centro de eutanásia em Bernburg com fins de organizar o local. Lá conheceu o médico que comandava o instituto, Dr. Eberl, seu predecessor no campo de Treblinka. Em fevereiro de 1942 Stangl retornou a Hartheim para se despedir e pegar materiais que havia deixado lá, uma vez que seria designado para uma HISTÓRIA DEBATES E TENDÊNCIAS PASSO FUNDO, V.