Sexta-feira 28 Janeiro 2011 www.ipsilon.pt

João Maria Gusmão Pedro Paiva Blues Explosion Anna Calvi Nicholas Oulman N NTE E D ADAME EP E SEPAR SEPA SE S DO DIDO R VEN DE SE O ÃO PO Ã N , E N LI BLICO DO PÚ 7601760 76 N O Nº Ç EDIÇÃ E DA E DA A RA GRANT N I INTE PARTE FAZ ENTO MENTO SUPLE SU E ESTEE

Toda a soul de um homem Charles Bradley, 62 anos e um imenso primeiro álbum

valter hugo mãe estoura NFACTOS GONCALVES/ MIGUEL JORGE “Titus Andronicus” no Brasil em cantonês, na encenação de Tang Shu Wing O ano parece estar a O lançamento começar bem para valter Shakespeare em no Brasil de Flash hugo mãe, sobretudo no “o remorso português e maori Brasil. O escritor português de baltazar é um dos convidados da 9.ª serapião” (e mais 36 línguas) pôs o escritor nos Jogos Olímpicos Festa Literária português Internacional de Paraty na capa dos de Londres (FLIP), que este ano cadernos homenageará o modernista culturais dos Não são as obras completas de Oswald de Andrade (1890- três maiores William Shakespeare em 97 jornais do país minutos, mas são as obras 1954). O argentino Andrés completas de William Shakespeare Neuman, (autor de “O Sumário em 38 línguas, português incluído. Viajante do Século”, Charles Bradley 6 Em 2012, o Globe Theatre também vencedor dos Prémios vai a jogo nas Olimpíadas de Toda a soul de um homem, e Londres: o teatro dirigido por Alfaguara e Crítica 2009), e dos outros que fi caram Dominic Dromgoole propõe-se o norte-americano David no esquecimento apresentar cada uma das 38 peças Remnick , editor da “The do dramaturgo britânico numa New Yorker” e autor da Anna Calvi 12 língua diferente, e a lista vai do biografia de Barack Obama, Rock com teatro lá dentro português ao maori, do lituano ao cantonês, do aborígene ao urdu, do são os outros escritores já árabe ao italiano, do xona ao confirmados. Blues mandarim. É provavelmente o Não por casa da FLIP, Explosion 14 mais ambicioso projecto mas por causa de “o A reedição de uma obra shakespereano alguma remorso de baltazar fundamental vez empreendido: nunca um teatro serapião”, valter hugo mãe “obra para muitas e Fábio Victor, “Novo conseguiu fazer foi no sábado capa dos profícuas leituras” e fala da sotaque português”, que Nicholas Oulman 16 o pleno da obra cadernos culturais dos sua linguagem inventiva, junta a João Tordo, também Tudo sobre o seu pai, Alain do dramaturgo mais importantes jornais comparando a obra de valter prémio Saramago, e os Oulman em apenas brasileiros (a “Ilustrada”, com a de Gonçalo M. considera “os expoentes da uma da “Folha de S. Paulo”, o Tavares. O crítico Antonio nova geração literária de Poesia vs. Cinema 18 temporada, e muito menos “Sábático”, do “Estado de Gonçalves Filho, no caderno Portugal”. 38 línguas Uma história de cinefi lia em 38 línguas. para 38 obras: S. Paulo”, e a “Prosa e “Sabático” do “Estado de S. Entretanto, num “É uma ideia Shakespeare Verso”, de “O Globo”). O Paulo”, vai mais longe. inquérito da “Folha”, hugo espantosamente Odisseia 22 nunca foi uma primeiro romance do Escreve que “o que Raduan mãe afirma que a sua clara e ligeiramente Quando o teatro une aldeia tão tola”, admite escritor a chegar ao Brasil Nassar fez pela literatura melhor descoberta do o que tudo o resto separa global Dromgoole, mas acaba de ser lançado pela brasileira com ‘Lavoura Brasil foi a primeira vez que talvez possa Editora 34; durante a FLIP, Arcaica’, o poeta Hugo Mãe que ouviu Cartola: “Chorei João Maria Gusmão mostrar até que a Cosac & Naify lançará o fez pela literatura de uma semana inteira porque e Pedro Paiva 25 ponto Shakespeare é “uma mais recente “A máquina Portugal com este livro”. E toda a minha dor de corno No mundo extraterrestre linguagem universal”. O festival do Globe começa a 23 de fazer espanhóis”, um diz que “o autor examina a me doeu de beleza”. Para de Abril, dia do nascimento de dos melhores 20 livros de barbárie (...) com a força ele, o Brasil precisa de Ficha Técnica Shakespeare, e decorre ao longo 2010 para o Ípsilon. Até crítica de um autêntico descobrir “o projecto das seis semanas seguintes. Do agora, valter hugo mãe só escritor do seu tempo”. Na musical A Naifa” e “a Directora Bárbara Reis alinhamento constam monstros tinha visto publicada no “Ilustrada”, da “Folha de S. palavra ‘lusa’ mais Editor Vasco Câmara, como o encenador lituano Inês Nadais (adjunta) Eimuntas Nekrosius (que já trouxe Brasil uma colectânea de Paulo”, o professor de teoria engraçada é chuça-pitos”: Conselho editorial Isabel dois dos seus assombrosos poemas. literária Marcelo Pen diz que “É um insecto que mata Coutinho, Óscar Faria, Cristina Shakespeares ao Porto, “Macbetas” A recepção a “o hugo mãe “impressiona em pintainhos. Aqui no Norte Fernandes, Vítor Belanciano e “Otelas”), os teatros nacionais da remorso...”, Prémio narrativa delirante” com do país usa-se para dizer de Design Mark Porter, Simon Grécia e da China, e os brasileiros Literário José Saramago “sintaxe (...) tortuosa, em homem que tem cara de Esterson, Kuchar Swara do Grupo Galpão (cujo “Romeu e Directora de arte Sónia Matos Julieta”, montado por Gabriel 2007, não podia estar a ser que se mesclam arcaísmos, sonso, como um tarado Designers Ana Carvalho, Villela, também andou pelo Porto, mais efusiva. Luis Maffei, lusitanismos, expressão escondido”. João Tordo Carla Noronha, Mariana Soares no FITEI de 2001, e ainda por Braga poeta e professor de popular e estrutura bíblica”. escolheu “autoclismo”, que Editor de fotografi a e Coimbra). Shakespereanos de Literatura Portuguesa, diz A crítica é acompanhada de no Brasil é “descarga”. Miguel Madeira todo o mundo, uni-vos: já não falta no “Prosa e Verso” que é um texto jornalístico de Isabel Coutinho E-mail: [email protected] assim tanto tempo.

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 3 JP Simões, aka “o mais café-bar, que se juntam último trabalho a solo, português dos artistas para fazer um concerto “Onde Mora o Mundo” No portugueses”, vai ao Porto por mês, sempre com novo álbum, sucessor Ciclo para um concerto gratuito. entrada livre. de “Boato” (2009), o

Flash No próximo domingo, às Quanto ao concerto, artista escolheu o jazz e 19h, o artista vai estar no de nada se pode estar a música brasileira como Café au lait, no Porto, para certo. JP Simões, que já os principais géneros a abrir o ciclo de concertos liderou projectos como explorar. Mais uma caixa Bodyspace au Lait. O ciclo Pop Dell’Arte, Belle de surpresas que pode surge da colaboração Chase Hotel e Quinteto ser aberta, ou não, no entre o “site” de crítica Tati, tem planeado para concerto deste domingo à musical Bodyspace e o 2011 o lançamento do seu tarde. NUNO FERREIRA SANTOS

John Huston, que Welles, grata”, e os materiais Uma das segundo o “Observer”, filmados, por essa altura já definiu como “um sacana de a salvo num cofre miragens um realizador (...) que cria as parisiense, ficaram num pessoas e as destrói” (“é um limbo legal que só começou de Orson filme sobre nós”, terá dito a a ser resolvido nos anos 90. Huston). Embora Welles Nessa altura, o canal de Welles tenha repetidamente negado cabo Showtime adquiriu essa componente parte significativa dos pode autobiográfica, o produtor direitos, tencionando espanhol Andrés Vicente trabalhar com Bogdanovich fi nalmente Gómez diz que o na reconstrução do filme de protagonista é uma acordo com os desejos tornar-se combinação de “Hemingway, originais do realizador. É Huston e ele próprio”. esse processo que parece realidade Rodado nos EUA com um agora estar mais perto da elenco que incluía ainda concretização. Jacqueline Peter Bogdanovich, Dennis Boushehri, viúva do É um dos Hopper, Claude Chabrol e proprietário da Astrophore, muitos Mercedes McCambridge, e Oja Kodar, companheira projectos “The Other Side of the de Welles e co-argumentista inacabados a Wind” foi financiado pelo do filme, estarão dispostas que o nome A história do projecto próprio Welles e por uma a vender a sua parte dos de Orson inacabado “The Other Side produtora parisiense, Les direitos (o comprador, tudo Welles esteve of the Wind” (à esquerda, Films de l’Astrophore, o indica, será o Showtime). ligado – mas uma cena da rodagem) é propriedade de Mehdi Para Andrés Vicente quem viu um dos inúmeros fi lmes da Boushehri, cunhado do Xá Gómez, completar o filme vida de Orson Welles fragmentos do Irão. Com o filme será “uma traição”. diz que “The Other Side of montado a “96 por cento”, Françoise Widhoff, que the Wind”, rodado em Welles não conseguiu acompanhou as rodagens e 1970, pode bem ser o completar “The Other Side extensamente um guião que interessar nenhum trabalhou com Welles no “testamento of the Wind”, e o realizador concebera durante uma distribuidor americano, um seu filme seguinte, “F for cinematográfico” do Peter Bogdanovich estará visita a Espanha em finais dos investidores apropriou- Fake”, também levanta lendário actor e realizador. envolvido no resgate. dos anos 40, “Sacred se de dinheiro da produção, reservas. Mas isso não a E tudo aponta para que o Como com quase todos os Monsters”, uma meditação e as relações entre realizador impede de considerar o filme venha a ser filmes do autor de “O Mundo “dramática” sobre e financiadores arrefeceram. filme “uma obra-prima”, finalmente terminado nos a Seus Pés”, a história de Hollywood. O filme Enquanto os advogados “muito moderna e livre”. próximos meses, se se “The Other Side of the acompanha a festa do 75.º tentavam resolver as Veremos se é mesmo desta confirmarem as notícias do Wind” parece ela própria aniversário de Jake questões legais, deu-se a que “The Other Side of the jornal “The Observer”: há um filme. Em 1970, Welles Hannaford, cineasta Revolução Islâmica, o Xá Wind” deixa de ser uma negociações para “desenterrou” e retrabalhou ficcional interpretado por tornou-se “persona non miragem. Jorge Mourinha Bob Dylan vai retomar a autobiografi a iniciada com “Chronicles: Volume One” umaa carreira de sucesso Novo disco de Kanye enquantouanto produtor, o VêmVêm aí mais seis “Chronicles” “foi uma “fonte West no Verão conttroverso Kanye West já uma revelação” e próxima” de lançouçou cinco ddiscosiscos em llivrosivr de Bob Dylan “estabeleceu um Dylan assegurou Ontem ainda estava nas listas dos seis anos. O áálbumlbum ddee novo padrão para o à revista “Rolling melhores de 2010, hoje já está a estreia,eia, “The CollegeCollege Bob DylanDy assinou um acordo que se pode Stone” que não preparar o assalto a 2011: Kanye Dropout”,pout”, foi com a Simon & Schuster para a esperar de uma existiam West anunciou segunda-feira no lançadoçado em publicaçãopublic de seis livros, autobiografia de uma quaisquer Twitter que vai lançar um novo 20044 incluindoincluin o segundo e terceiro estrela de rock”. projectos para a disco no Verão. Este anúncio é feito pelasas volumesvolum da autobiografia, Centrado nos anos de publicação de um apenas dois meses depois do editorasoras iniciadainicia em 2004 com a edição formação de Dylan, a obra segundo volume de lançamento do aclamado “My Def JJamam ded ““Chronicles:C Volume One”. esteve 19 semanas seguidas na lista “Chronicles”. Beautiful Dark Twisted Fantasy”, e Roc-A-oc-A- SaberSSabe que estão do “New York Times” dos livros Continua, de resto, a não se considerado o disco do ano pelo Fella.a. definitivamenteddefi a caminho mais vendidos no sector de não- saber quando sairá a aguardada Ípsilon. O “rapper” norte- maismai dois livros de memórias ficção. continuação das suas memórias, americano não adiantou mais dodo cantorc e compositor “é uma A notícia é tanto mais já que a editora evitou arriscar detalhes sobre o disco. notícianotí muito excitante para os surpreendente quanto os fãs uma data. E também pouco abriu Ainda na segunda-feira, Kanye fãs ded Bob Dylan e para todos começavam a recear que Dylan se o jogo no que respeita aos outros West escreveu no seu Twitter que o os qqueu se interessam pela ficasse mesmo pelo primeiro quatro livros que Dylan se seu disco em colaboração com históriahistó do rock”, comentou o volume. Em 2008, a editora comprometeu a escrever, tendo Jay-Z, “Watch the Throne” vai sair O sucessor de “My porta-vozpo da cadeia britânica anunciou que o músico começara a apenas adiantado que um deles daqui a dois meses. Jay-Z foi um dos Beautiful Dark Twisted dede livrarias Waterstone, Jon trabalhar num próximo livro, mas terá como base o programa muitos convidados que Fantasy”, álbum do ano um Howells,H sublinhando que o não houve qualquer confirmação “Theme Time Radio Hour”, que o participaram em “My Beautiful pouco por todo o lado, primeirop volume de posterior e, em Agosto de 2010, cantor mantém na rádio XM. Dark Twisted Fantasy”. Depois de não tarda

4 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon APRESENTAÇÃO MÚSICA AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre

APRESENTAÇÃO LONGE DO MEU CORAÇÃO Livro de Júlio Magalhães Este romance retrata com mestria e realismo o quotidiano dos portugueses que partiram em busca de uma vida melhor, sonhando um dia regressar ricos à terra que os viu partir pobres.

29.01. 16H00 FNAC VISEU

MÚSICA AO VIVO COUPLE COFFEE Quarto Grão A banda de Luanda Cozetti e Norton Daiello regressa com um trabalho inteiramente composto por temas originais. 28.01. 22H00 FNAC COIMBRA 05.02. 17H00 FNAC CASCAISHOPPING 12.02. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING 11.02. 17H00 FNAC STA. CATARINA 20.02. 17H00 FNAC ALMADA

MÚSICA AO VIVO NOISERV A Day In the Day Of The Days Noiserv cria peças musicais de um minimalismo capaz de atingir cada indivíduo na sua intimidade, relembrando-lhe vivências, momentos e memórias intrincadas entre a realidade e o sonho.

28.01. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING

MÚSICA AO VIVO BALLA Equilíbrio Neste trabalho, com letras de José Luís Peixoto, Miguel Esteves Cardoso, Pedro Mexia e do próprio Armando Teixeira, mentor do projecto, a banda optou por uma abordagem electrónica.

29.01. 22H00 FNAC COIMBRA 30.01. 17H00 FNAC LEIRIASHOPPING

EXPOSIÇÃO A HISTÓRIA DE TUDO AQUILO QUE É Fotografias de Maria-do-Mar Pedro Rêgo Novo Talento FNAC Fotografia 2010, Menção Honrosa Exposição composta por sequências de uma a quatro fotografias cuja ligação é invisível, formal, funcional ou poética. 26.01. - 26.03.2011 FNAC COLOMBO

apoio: Consulte a AGENDA FNAC em: http://cultura.fnac.pt Chegou a hora

6 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon a de Charles Bradley Viu James Brown aos 14 anos e passou os 48 seguintes a perseguir um sonho. Dormiu no metropolitano, foi cozinheiro, carpinteiro, engraxador. Foi tudo o que conseguiu enquanto a música teimava em fugir-lhe. Até agora. Apresente-se “”, álbum que é a sua vida, portento soul de um estreante de 62 anos. Mário Lopes

Um homem em fato-macaco caminha mance. E depois, era como se disses- recuperação do afrobeat em território por Bushwick, bairro de Brooklyn, se ‘não quero que ninguém me dê “Era como se nos americano. Nova Iorque, e canta: “Don’t tell me nada, abram a porta e agarro-o eu Pelo meio, a editora viveu o seu how to live my life, when you haven’t mesmo’.” dissesse ‘não quero momento de maior exposição quando felt the pain”. Vemos um velho agar- Nesse dia chegou a casa, pegou nu- que ninguém me dê o produtor escolheu os rado a um rádio, de sorriso entrea- ma vassoura, atou-lhe uma corda e Dap-Kings como a banda ideal para berto, e grandes planos de faces sem treinou os passos que vira em frente nada, abram a porta acompanhar uma cantora chamada sorriso - olhos que nos fixam, profun- ao espelho. Sabia o que queria. Queria num álbum intitula- dos e tristes. Aquele, olhos cerrados o palco e a energia da banda, queria e agarro-o eu mesmo’” do “”. Gabriel Roth, ho- e cada ruga a dar força à expressão: a soul. Esperou 48 anos. É o tempo je com 36 anos, não estava particu- “The world is burning up in flames, que separa o dia da revelação no – sobre o momento larmente interessado na britânica, and no one wanna take the blame”. Apollo, do 25 de Janeiro em que edi- revelador em que viu mas não podia negar aos seus músicos Aponta: “Is it you? Or you?” Aponta tou “No Time For Dreaming”. Entre e à editora o dinheiro que a emprei- para si: “Me! Oh me”. Este homem um e outro, viveu nas ruas de Nova James Brown tada garantiria. Os Dap-Kings entre- chama-se Charles Bradley. As ruas do Iorque e foi cozinheiro em mil cida- garam-se ao trabalho e receberam os vídeo são aquelas em que cresceu. des, da Big Apple ao Alasca. Foi en- louvores que sabemos: o disco de pla- São aquelas a que voltou, muito adul- graxador, canalizador e carpinteiro tina que ganharam com o trabalho to, há uma década. As que escolheu – “mas a música esteve comigo toda está em destaque numa das divisões quando, por fim, chegou a hora de se a vida”, em pequenos concertos em da sede da Daptone. Dica: se alguma revelar. A sua música é a sua vida e pequenos bares, encarnando os ído- vez passarem por lá, procurem na ele esperou uma vida para a cantar. los James Brown ou Otis Redding. casa de banho. Apresente-se “No Time For Drea- Charles Bradley falhou uma carreira Gabriel Roth, Neal Sugarman e ming”, álbum imenso de um estrean- para poder gravar, aos 62 anos, um chegar. Não sabia quando ou porquê, comparsas procuram outra coisa. Pro- te de 62 anos. álbum que põe em canção um per- mas ela chegaria”. curam “quem viva e sue o r&b”, como Charles Bradley sabia que conse- curso de luta e labuta, de questiona- descrito em 2008 no New York Times. guiria, só não sabia quando. Nascido mento e perseverança. De alma cheia O que o coração procura Foi isso que Roth reconheceu há onze em 1948 em Gainesville, Florida, mas e sem amargura no alerta. A , editora indepen- anos em Charles Bradley, na noite em cidadão nova-iorquino desde muito Em fundo, irrompe um ritmo de dente sedeada em Brooklyn, é respon- que assistiu a um dos seus concertos cedo, lembra-se de a irmã o levar ao bateria. A voz do entrevistado desa- sável por alguma da melhor soul que enquanto Black Velvet (alter-ego in- a sawsx Apollo, a mítica sala de concertos no parece por momentos. Comenta qual- ouvimos na última década. Purista ventado pela irmã). Levou-o para o bairro de Harlem. Tinha 14 anos e es- quer coisa, recebe uma gargalhada até à medula, foi fundada por Gabriel estúdio e gravou-o com os Sugarman tava perante James Brown, no mesmo de volta. Nos estúdios da Daptone Re- Roth, produtor e baixista dos Dap- 3 e com os Bullets. Nesses singles, local onde, dois anos antes, o “Padri- cords – “No Time For Dreaming” foi Kings (banda residente à semelhança Charles Bradley sobressai como dis- nho da Soul” gravara o histórico “At editado pela Dunham, a recente sub- dos Booker T & The MGs da Stax ou cípulo inspirado de James Brown – The Apollo”. Bradley não se lembra sidiária da editora que revelou Sharon dos Brothers da Motown), e por “This love ain’t big enough for the de detalhes, mas a sensação ficou-lhe Jones & The Dap Kings e que deu no- Neal Sugarman, mentor dos The Su- both of us” é uma verdadeira pérola gravada na pele. Explica-a avançando vo impulso a -, Charles Bra- garman Three, mestres tardios do de groove, com uma batida quebrada uns anos e citando “I don’t want no- dley, na sua voz incrivelmente rouca, funk. Ao longo dos anos, para além infernal. Aquele, porém, não era ain- body to give me nothing ( Just open com as palavras a saírem em cadência de e Lee Fields, a edito- da o Charles Bradley que ouvimos em the door and I’ll get it myself )”, single lenta, ponderada, repete ao Ípsilon: ra recuperou outros veteranos como “No Time For Dreaming”. de 1969 de Brown: “A banda estava “Esperei tanto tempo por uma opor- a cantora gospel Naomi Shelton, e al- , membro da Bu- no topo e ele tinha uma dinâmica im- tunidade. Procurei-a e procurei-a ho- bergou gente como a Budos Band, dos Band e da , pressionante, punha tudo na perfor- nestamente, porque sabia que iria responsáveis, com os Antibalas, pela o combo soul que acompanha

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 7 Bradley, partilha a visão de Roth. reagiu imediatamente. Era aquele A ele se deve, em grande parte, a o som: “descobri o que o meu co- existência de “No Time For Drea- ração procurava”. ming”. Foi ele que ajudou Bradley Começaram a jorrar histórias, a ultrapassar a depressão provocada frases “simples e belíssimas, canta- pela morte do irmão mais velho, as- das com uma profundidade que as sassinado pelo seu sobrinho. Charles torna únicas” (Tom Brenneck). Bradley: “O meu irmão lutou para Charles descobrira por fim o seu manter a família, foi o seu suporte caminho e agarrava a oportunida- e como um pai para mim. E morreu de, negada durante décadas, com assim. O que digo em ‘No Time For urgência e sofreguidão. Brenneck: Dreaming’ é que fazemos muito bem “Se o deixasse a cantar à solta, não em sonhar, mas que é preciso acção, haveria estrutura, não haveria ver- que é preciso reagir para que o so- so-refrão-verso. Ele cantaria como nho seja real”. um pássaro durante horas, sem pau- Pouco antes da entrevista, Tom sas, deitando tudo cá para fora. Mas Brenneck recordou-nos o seu per- é esse poder em bruto, é essa intui- curso com Bradley. Começou assim: ção que o torna tão especial”. “Charles é especial, um verdadeiro diamante” - o trabalho de Tom foi Uma imensa dignidade ajudar a lapidá-lo. Prosseguiu: “À Tínhamos sido avisados que Charles custa do seu passado, ele era dife- Bradley era um contador de histó- rente de Sharon Jones ou Lee Fields, rias, um conversador nato. E que performers refinados que tocavam era também, como escrito no texto há décadas. Lee gravou o seu pri- de apresentação de “No Time for meiro disco, ‘Let’s talk it over’, em Dreaming”, um homem humilde, 1972 e Sharon tocava em bandas de sem vestígios de mágoa pelo tempo Queens e de Brooklyn desde os anos perdido e pelas oportunidades que 1970, mas o Charles nunca teve um não teve. Não era exagero de ma- trabalho contínuo que lhe permitis- rketing. As primeiras palavras que se refinar a sua arte”. lhe ouvimos são estas: “Lutei tanto Quando começaram a trabalhar por isto. Rezei, passei por tanto e juntos, Brenneck e a banda sentiam- esperei que a oportunidade surgis- se como “miúdos que estavam a ter se.” A despedida fez-se assim: “Obri- o privilégio de tocar com James Bro- gado por me dar a oportunidade de wn.” O que era tremendamente ex- falar e mostrar o que sou. Obrigado citante, mas não era o que Charles por ouvir a minha história”. Entre Bradley podia ser: “Aquela música uma e outra, revela-se uma extrema não parecia adequar-se à sua perso- dignidade. Dignidade na forma co- nalidade, só parecia servir uma ideia mo continuou vida fora a “perseguir de imitação”. Um dia, porém, Bra- o sonho” – dirá isto várias vezes -, dley ouviu algumas novas canções dignidade no olhar que, aos 62 anos, em que Brenneck trabalhava, can- lança sobre o mundo. ções que nos descreve como “um “No Time For Dreaming” é a sua mergulho no lado mais negro da vida tornada alerta e denúncia de soul”. E o cantor que não podia ser uma América por quem, canta em James Brown mas estava ainda a “Why is it so hard?” e diz-nos agora, tempo de ser Charles Bradley, se sente traído: “Vejo adulação a

8 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon quem não a merece e vejo imensa frustração. Somos todos filhos de Deus, mas algumas pessoas não uti- lizam esse dom de forma correcta. Não o fazem na forma como tratam Os órfãos têm outra vez um lar os outros e como se tratam a si pró- prios”. De 1969 a 1974 não só houve uma carrada de discos que, com mais ou menos suor funk, com mais ou menos recurso a Mas a voz de Bradley, na sua ge- metais ou orquestras, elevaram a soul à condição de território experimental glorioso, como também se dá o caso de quase nerosa rouquidão, no arrepiante todos esses discos terem sido fracassos comerciais que fi caram no esquecimento até à reedição – todas elas recentes. A poder da sinceridade que expõe, não tem pinga de ódio, não é um história da pop estava mesmo incompleta. João Bonifácio grito de guerra. Tal como não o eram os discursos inspiradores de Martin Luther King, tal como não o era o seminal “What’s going on”, de Marvin Gaye, tal como não o é essa tremenda canção de Aloe Blacc in- Parece boutade mas não é: com a coisa foi dura ao ponto de nem titulada “I need a dollar”. “Não pre- publicidade certa, com sorte, com as amizades lhe valerem – e que tendo ser melhor que ninguém, o que quer que seja que faz com amizades: Isaac Hayes era fã, essa nunca foi a questão. Só estou a que os olhos todos se virem para os Rotary Connection (Minnie tentar guiar-me de forma justa pela o mesmo lugar num determinado Riperton na voz) idem. vida. Sei como a violência torna o momento, Ronald Edward Lewis, Bond nunca mais voltou mundo mais corrupto, sei como a um americano que não nasceu a gravar e fi cou em “coma” violência corrompe a mente, sei co- em Memphis na década de 1940, mediático até ao ano passado mo o ódio pode cegar”. Sabe. podia ter um lugar na história quando a Light In The Attic o Passou parte da adolescência a equivalente ao de Marvin Gaye. reeditou. Em Portugal só agora viver nas ruas de Nova Iorque, dor- O seu primeiro disco, editado chega às lojas esta obra seminal mindo em carruagens de metropo- em 1974 na Stax, tinha tudo para que sintetiza de forma belíssima litano – “ia até ao fim de uma linha, ser “o” disco: a voz de três oitavas uma vida tremendamente a polícia aparecia, fugia, entrava a ondear por entre uma suave violenta: os pais de Bond noutra carruagem e repetia isto até cortina melódica, um fundo jazzy separaram-se quando era miúdo nascer o dia”. Depois, conseguiu sempre em oscilações rítmicas e e ele, por razões que ainda hoje emprego ao abrigo de um programa por cima, ora trôpego, ora manso, não sabe explicar, não fi cou com estatal de apoio a famílias desfavo- ora violento, ora melancólico, o nenhum, crescendo em lares de Lou Bond Abandonado pelos pais descobriu, recidas. Tornou-se cozinheiro e zumbir sem fundo da orquestra, acolhimento (graças aos quais nas idas à missa, o Gospel. E, graças aos rádios das percorreu os Estados Unidos. Quan- violinos a exponenciarem o rasgo conheceu o gospel na missa e a várias famílias adoptivas que teve, ouviu a country. do se fartou de cozinhar, foi muitas da voz, fl autas a cirandar por todo country na rádio). Tinha tanto de baladeiro folk como de visionário e o outras coisas – curiosidade: instalou o lado. A ferida aberta na infância seu único disco é uma montanha, a peça que faltava as canalizações na sede da Daptone. Podia apostar-se todas as fi chas reproduziu-se freudianamente na no puzzle da soul. Viveu nas ruas, passou fome, A música, essa, parecia sempre no disco – era impossível falhar: vida de saltimbanco que levou em esteve em coma, andou agarrado. Imensamente fugir-lhe - uma banda no Maine des- tinha fundura, tinha corpo, tinha adulto: tal como os pais biológicos, humilde, agradece ao Senhor estar vivo. E nós, feita quando os músicos foram com- balanço, tinha canções que se os vários pais adoptivos nunca como vamos agradecer-lhe ter existido? bater para o Vietname, oportuni- atiravam aos seis minutos. E foi fi caram com ele; e Bond acabou dades de gravação na Califórnia que o mais redondo falhanço, um a dormir nas ruas porque não nunca se concretizaram. falhanço que encerra em si – pela queria ser um peso para ninguém. Em 2000, carregou uma carrinha grandeza do disco e pela história Hoje diz estar feliz com a reedição. (1971), de Sly and the Family Stone, com o que tinha e regressou a casa. pessoal de Bond – o desamparo de “Curtis” (1970), de Curtis Mayfi eld, Começou a tocar em clubes de toda uma geração negra. Música do outro mundo “Pieces of a Man” (1971), de Gil Brooklyn enquanto Black Velvet e A Stax, em queda depois da Seria uma história bonita ou Scott-Heron se tornaram icónicos, a música permitia-lhe por fim pagar morte de Otis Redding, apostou triste conforme o olhar de cada e que gente famosa como James as contas. Depois morreu-lhe o ir- o dinheiro na produção e não um, não fora ter-se repetido com Brown ou as Staples Singers mão e o mundo desabou sobre ele. promoveu o disco quando dezenas de artistas da soul dos lançaram, nessa época, discos Foi a última provação. Pouco de- concluiu que este tinha um som anos 1970: é que de 1969 a 1974 não acentuadamente políticos - basta pois, Gabriel Roth viu-o e levou-o mais suave que o habitual na só houve uma carrada de discos lembrar que Brown editou o single para a Daptone. Tom Brenneck editora. Bond foi para a estrada que, com mais ou menos suor “(Sing it loud) I’m black and I’m ouviu-o e deu-lhe a música que ele sozinho defender um disco com funk, com mais ou menos recurso proud” em 1969. Mas a verdade é há tanto perseguia. uma latitude sonora gigantesca. a metais ou orquestras, elevaram que o grosso da produção negra 48 anos depois, Charles Bradley Não havia discos nas lojas, quase a soul à condição de território não encontrou, no seu tempo, concretizou o seu sonho. Porque não não havia gente nos concertos. (A experimental glorioso, como eco em lado algum – é como se há agora tempo a perder, chamou- que havia nunca o esqueceu e é também se dá o caso de quase houvesse uma cortina entre o lhe “No Time For Dreaming”. graças a elas e para elas e os que todos esses discos terem sido real que cantavam e os potenciais vierem a seguir que este texto fracassos comerciais que fi caram consumidores. Entre quem fazia Ver crítica de discos págs. 28 e segs. existe.) no esquecimento até à reedição – a música e quem a ouvia alguém Seguiu-se o costume: comas todas elas recentes. escolheu não ouvir esta música inexplicáveis, pernas partidas, Em comum, além da soul, esses que só agora vem à tona. depressão, drogaria, álcool. A discos só têm uma coisa: foram A questão é: que discos são feitos por negros e têm um olhar esses, onde andam? impiedoso sobre a condição de ser Não há uma resposta fi xa, isto negro e viver na América. é, não há um único tipo musical Para sermos exactos, têm em jogo. Trata-se de gente mais um dado em comum, que extremamente díspar que só depende de como pesarmos esse tem em comum a soul como casa “esquecimento” a que foram partida e a América negra como vetados. É que até àquela época chegada. a única forma da música negra É gente como Lou Rawls, conseguir pontuar nas tabelas homem de voz poderosa, de de vendas era esbranquiçar-se crooner, que em 1972 deu uma – e os cantores e compositores guinada na carreira e resolveu que fi caram nas margens foram olhar para o que andava mal os primeiros a recusaram esse no mundo – daí resultou um namoro com o centro, os que tremendo “Man Of Value”, olharam à volta do ponto de tematicamente de acordo com o vista do negro. (O que não é o título. No outro extremo temos mesmo que dizer que todos os a loucura dos Madhouse, que que olharam do ponto de vista foram buscar Nixon para a capa do negro fi caram à margem da do estupendo “Serve’em”, de 1972, história.) cujo título carregado de sarcasmo Podemos dizer: esses discos denota logo a carga explosiva Swamp Dogg Segundo o próprio, deitou-se um foram abandonados quando foram da música, um funk assente em dia analfabeto e acordou um génio musical. Senhor lançados, foram negligenciados riff s mais oloeados que pele de de um sarcasmo imenso e de um grande ouvido pop, a posteriori e foram apagados da modelo em foto de bikini, ou em fez dos primeiros álbuns conceptuais políticos, “Total história. linhas de baixo tão gordurosas, Destruction to Your Mind”. Vão ao Youtube ouvir É certo que álbuns como “Stand” tão repletas de graves cheios, “Synthetic World” pela vossa saúde. (1969) ou “There’s a Riot Going On” roliços, gulosos que a espinha

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 9 começa a comichar, segue- 1970 e também ele tinha um se-lhe o pescoço, depois desce programa. até aos pezinhos a modos A história neste aspecto que na mesma altura em é exclusiva, porque o que os braços se arribam território que Wonder, e ao fi m de uma canção Gaye e Mayfi eld – pese a nota-se que o corpo entrou sua grandeza – marcaram involuntariamente no já tinha sido explorado modo “dança”. por Swamp Dogg e por E se quisermos falar de Eugene McDaniels, cujo coisas do outro mundo, rótulo de pioneiros valeu temos os Boscoe, combo zero na conta bancária. que durou um só disco, homónimo, de 1973 – mas Graças ao hip-hop um magnífi co disco: malhas Podemos perguntar-nos porque de guitarra bluesadas a rastejar, raio é que um ou outro disco spoken-word, fl autas a tropeçar na permaneceu durante bastante pauta: em “Writin’ on the wall” é tempo no imaginário colectivo assim durante seis minutos antes Baby Huey Um pequeno enquanto a maior parte dos outros de entrar um breve interlúdio mostrinho de peso, era também não. A resposta terá de incluir uma aparentado da soul que logo um monstro de voz e de auto- espécie de atitude de resistência descola rumo a uma névoa de flagelação, com um talento tão face à indústria, que toda esta ganza. Frase chave: “We were so grande quanto auto-destrutivo. gente partilhava. Por outro lado busy kissing somebody’s ass that Só foi publicado depois da responsabilizar exclusivamente we forgot about the past”. morte passando à história os brancos pela enormidade de Ainda no outro mundo, mas como figura de culto. A música negra que fi cou posta no capítulo dedicado às vozes reedição em CD, já no século de parte não só parece abusivo é impossível não abençoar a XXI, mudou o seu lugar no como também maniqueísta e reedição de “The Baby Huey Story: panteão. excessivamente simplifi cador The Living Legend”, disco de 1971 – por alguma razão os Boscoe que reuniu – um ano após a sua apontavam o dedo à própria morte – vários temas de Baby comunidade negra. Huey, homem gigantesco que A única coisa que sabemos nunca gravou em vida. Encontra- é como é que alguns destes se lá a mais demoníaca, discos evitaram o completo demencial e espantosa versão oblívio: graças ao hip-hop. de sempre de “A Change Quando o hip-hop ganhou is gonna come”, de Sam consciência do passado, Cooke, transformada de quando foi à procura das balada dorida em soul suas raízes começou a fantasmagórica (primeiro) usar samples de toda e funk psicadélico sideral esta gente. Para dar (por fi m). dois exemplos simples, Mas há dois homens que “Jagger the Dagger”, de merecem ser vistos com Eugene McDaniels, foi mais atenção. O primeiro é usado por uma data de Eugene McDaniels que em grupos, dos A tribe Called 1969 lançou “Outlaw”, disco Quest aos Gravedigazz; e se que além de ser senhor de um formos à obra de Lou Bond balanço tão swingado que até faz verifi camos que em 1996 os babar (o wurlitzer, a guitarrinha Outkast usaram um sample de picada) ainda dispara para outros “To the establishment” (sem a lados a meio de cada canção. Dois Low Rawls Essencialmente mais pequena dúvida e sombra de anos depois McDaniels voltava um crooner, com uma carreira exagero uma das maiores canções com “Headless Heroes of The que oscilou entre o charme e o de sempre) em “Wailin’”, Prodigy Apocalypse” e uma noção ainda lamechas, tornou-se mais usou o mesmo sample em “Trials mais própria da música negra (o político que nunca em 1974 e of Love” (2000) e por aí fora, numa baixo, por exemplo, não era tão assinou um dos mais lista que inclui Mary J Blidge. proeminente como é usual na soul tremendos álbuns acerca da Os discos que quiseram olhar de da época), agora fazendo pontes velha questão: o que é isto de forma negra para o negro fi caram entre o gospel, arranjos lounge e a ser um homem? quase todos de fora. Lentamente bluezada desafi nada que sempre pequenas vinhetas foram sendo marcou o seu som, sem abdicar de extraídas, fazendo-os regressar um olhar politizado, ou social se sob a forma de base sonora. quiserem. No século XXI ressuscitaram Se McDaniels é um pioneiro, o O que é que há de tão em reedições de coleccionador, louco Swamp Dogg não lhe fi ca impressionante nestes dois obrigando a uma revisão histórica: atrás. Dogg era uma personagem homens? O facto de – antes de antes 1969 era o ano em que os única, que dizia de si mesmo Marvin Gaye e Stevie Wonder lá Led Zeppelin nasceram, agora ter-se deitado um dia analfabeto chegarem – comporem álbuns podemos dizer que é o ano do e acordado no dia seguinte conceptuais, tanto ao nível do som fenomenal “Cryin’ in the streets”, um génio. Em 1970 atirou uma como dos assuntos abordados. de George Perkins & the Silver granada louca chamada “Total É curioso notar que a Stars. Destruction to Your Mind”, que história ofi cial proclama que Uma última nota: Lou Bond tem em “Synthetic world” a mais a independência dos artistas pensou durante muitos anos que perfeita encarnação da soul-pop negros se deve a Stevie Wonder tinha nascido em Memphis e só que não abdica de pensar – um (que também se politizou em quando aos 13 anos conheceu uma órgão de derreter mel coxas “Innervisions”, de 1973, três anos tia é que fi cou a saber que tinha abaixo, a voz plena de sarcasmo, antes do seu génio partir para nascido em Chicago. o ritmozinho dolente e de repente um exílio de onde só voltou sob o De certa maneira estamos no ali os metais, a guitarra wah-wah, nome de Prince) e Marvin Gaye. mesmo pé que ele: pensávamos o acelerar do tempo da voz – uma Podemos argumentar que além que tínhamos vindo dali e afi nal canção de (como dizer?) génio. de terem canções tremendas (também) viemos dacolá. Não contente e com o rabo quente Gaye e Wonder têm o peso que Do pouco que se sabe de Lou Dogg voltou no ano seguinte com têm porque fi zeram discos Bond percebe-se que ele deseja “Rat On!”, um disco com uma das conceptuais. É bom notar, no apenas que o Senhor lhe dê paz, capas mais hilariantes da história entanto, que antes disso já Curtis uma reforma tranquila e que a sua da pop – e mais pesadão, mais Mayfi eld tinha fundado a sua música seja ouvida. funkalhão que o anterior. própria editora, a Curtom, em Seja feita a sua vontade.

10 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon teatro

Nature Theater of Oklahoma Werner-Burgtheater © Rainer Life and Times – Episode 1

“Uma das companhias alternativas mais importantes de Nova Iorque, com a sua inteligência refrescante, teatralidade engenhosa e sentido de humor agradavelmente mordaz.” The Village Voice 27 a 29 Janeiro 20h30 15€ / <30 anos 7,50€ | M/12 Duração aprox. 3h30 com intervalo | Em inglês, legendado em português

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Há músicos que têm dificuldade em comunicar as suas criações por palavras. No seu caso, que está nessa posição pela primeira vez, como se tem sentido? É importante saber explicar aquilo que se fez, mas ao mesmo tempo é uma posição desconfortável, porque inevi- tavelmente temos que falar de nós próprios e isso, para mim, não é fácil. Na verdade, sou bastante tímida. Nos concertos tem uma presença muito intensa. O palco acaba por ser o local onde suplanta essa inibição? Diz-se que os artista são muito tímidos e deve existir alguma verdade nisso. No meu caso sinto que estar em palco me proporciona expor uma parte de mim que normalmente está mais res- guarda no meu quotidiano. Mas o palco é isso mesmo, permite-nos ser maiores do que a vida. Nunca gostei de músicos ou de actores que vão pa- ra palco para serem a máscara do que são no dia a dia. Isso não me interes- sa nada. O palco é uma experiência libertadora nesse sentido? Sim, totalmente. Podemos expor emoções que normalmente tendemos a esconder, da fúria à ternura. No meu dia à dia não gosto de ser o centro das atenções. Ali sinto que através da mú-

Terna é a fúria É uma das revelações dos últimos meses. Inglesa de ascendência italiana, acabou de lançar u Uma dualidade que ela acaba por refl ectir também, diz-nos. Vítor B

12 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon correr do processo temos que nos Tem razão, mas não deixa de ser cha- Nick Cave também lhe adaptar às surpresas e às dúvidas que to ser confrontada com isso a toda a endereçou palavras de elogio. vão surgindo. hora, até porque é preguiçoso. Res- Deve ser óptimo, claro. Mas Imagino que goste de filmes peito imenso o trabalho de PJ Harvey, também lhe coloca alguma que projectem uma certa é uma grande artista, mas não creio pressão em cima agora que SÃO transcendência, que não sejam que tenhamos muito a ver, sincera- lança o primeiro álbum. de todo “realistas”. mente. As minhas influências são mui- Não a sinto, a sério. Estou a fazer ape- Sim, é verdade. Tenho tendência pa- to diferentes e o que tento fazer com nas aquilo em que acredito e é óptimo LUIZ ra coisas que não sejam esteticamen- as canções também. sentir que há pessoas que gostam do te realistas, mas que não o sendo, nos O que a levou a escolher Rob que faço. Tivemos oportunidade de FEV ~11 ajudem a perceber e a sentir a reali- Ellis para a produção? nos conhecermos [andou em digres- dade à nossa volta de uma forma, por Ele gosta da mesma música clássica são com os Grinderman de Nick Cave] vezes, mais profunda. É isso que sin- que eu, de Ravel a Olivier Messiaen, e foi um grande momento porque ele to ao ver filmes de David Lynch, Gus e é alguém que entende quando digo é um dos meus heróis musicais. van Sant, Wong Kar-wai ou Hitchcock, que ao tocar guitarra tento imaginá-la Não tem qualquer treino vocal, para quem a música era muito impor- como se fosse uma orquestra. A gui- mas possui uma voz muito tante na criação dos momentos de tarra tem que ser extremamente ex- personalizada. Canta desde tensão e distensão dramática. pressiva. A comunicação com ele é muito nova? Deve estar saturada que lhe fluída e isso é raro de encontrar. Apenas comecei a cantar há cinco falem de PJ Harvey, como termo É filha de pai italiano e gosta de anos. Antes tinha imensa vergonha e de comparação, mas quando dizer que esse facto acaba por nem me atrevia... [risos]. Quando di- se está a começar são naturais reflectir-se na sua música. De go isto hoje as pessoas riem-se mas é essas analogias. Por outro lado que forma? verdade. Comecei a cantar a ouvir contou na produção com Rob O meu pai é da Toscânia e ali encontro Maria Callas, Edith Piaf e Nina Simo- Ellis, habitual colaborador dela, um pouco da vibração que está pre- ne, tentando imitá-las e, ao mesmo o que não deve ajudar a dissipar sente na minha música, qualquer coi- tempo, tentando entendê-las. comparações. sa entre a vulnerabilidade e a vontade E percebeu o que faz delas resistente e apaixonada de viver em cantoras de eleição? 3 A 6 FEV toda a plenitude. Por outro lado foi A sua força advinha da forma extre- através do meu pai que descobri Ma- mamente vulnerável como cantavam. QUINTA A DOMINGO ÀS 21H00 ria Callas, a ópera italiana e composi- Foi assim que comecei, praticando SALA PRINCIPAL M/3 W W tores clássicos como Lorin Maazel, de seis horas por dia, tentando encontrar W . T E A T R O S A O L U I Z . P T quem gosto. a minha voz através delas. Aprendi Voltando às comparações, Brian ouvindo, trabalhando no duro até Eno, que a tem elogiado muito, perceber como poderia tirar o máxi- também não resistiu a uma, mo da minha voz, mas é verdade que quando disse, depois de a ver nunca estudei técnica. Talvez um dia, pela primeira vez ao vivo, que quem sabe, mas nesta fase o melhor tinha sido o melhor primeiro professor que posso ter é conhecer a concerto que vira de alguém, minha voz, pegar na guitarra e come- depois de Patti Smith há muitos çar a cantar. anos atrás. Numa entrevista confessava Ok, é verdade, mas é diferente...[ri- que ainda não atingiu, com sos]. Aí ele estava apenas a comparar as palavras, o nível que sente o tipo de emoção que havia sentido e já ter alcançado enquanto PRODUÇÃO APOIO À DIVULGAÇÃO não estava a colocar-me na mesma compositora e cantora. O que prateleira que Patti Smith. falta? Ele também disse outra coisa Com as palavras ainda não me sinto SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETES À VENDA EM WWW.TEATROSOALUIZ.PT, interessante: que não precisava tão à vontade, mas acabo por não dis- RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA WWW.BILHETEIRAONLINE.PT E ADERENTES [email protected]; TEL: 213 257 640 BILHETEIRA DAS 13H00 ÀS 20H00 www.teatrosaoluiz.pt dos serviços dele como sociar as duas realidades – a música TEL: 213 257 650 / [email protected] produtor porquê você já sabia e as palavras. É um processo incons- exactamente o que queria fazer. ciente a forma como escrevo. Às vezes Acho que o que ele queria dizer é que, é necessidade. Ando sempre com um normalmente, produz grupos que, gravador atrás para registar esses mo- SÃO 11 e 12 Fev por uma razão ou outra, estão num mentos. Às vezes é apenas uma ideia processo de alguma indefinição. Não tosca, mas depois as coisas vão ga- 21h é o meu caso, é verdade. É lisonjeiro nhando forma em termos líricos e em SALA PRINCIPAL LUIZ M/3 ouvir isso da boca de alguém como termos melódicos. Gosto da depura- ele. Não creio que alguma vez me te- ção que o tempo traz. Cada nota, co- FEV ~11 nha querido comparar a Patti Smith. mo cada palavra, deve justificar-se Carlos do Carmo Normalmente é mais a Siouxsie Sioux, por si própria. Se estiverem lá por es- convida António Victorino d’Almeida que ouvi pela primeira vez depois de tar não me interessam e de imediato António Serrano me começaram a falar dela. vão para o lixo. Carlos Bica guitarras: Carlos Manuel Proença José Maria Nóbrega Fernando Araújo José Manuel Neto Ricardo Rocha

e Orquestra Sinfonietta de Lisboa Dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo Carlos doCarmo o fado e os a de Anna Calvi músicos r um disco de canções ternas mas também imponentes. APOIO À DIVULGAÇÃO r Belanciano

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 13 A verdade dos Jon Spencer Blues E Nos anos 1990, abalaram certezas com um descaramento épico, mostrando sem paninhos q ser daí em frente. Ouvimos as reedições da sua discografi a e exclamamos: agradeçamos a

Jon Spencer é por estes dias um ho- Feita esta inflamada declaração que ro bluesman, RL Burnside, primo de mem feliz. Em 2008, fartou-se de es- podia ter saído das tiradas à pregador Muddy Waters). Pondo de parte as tar farto dos Blues Explosion e juntou- profano que lhe ouvimos nos concer- acusações delirantes de racismo, fei- se novamente a Judah Bauer e a Rus- tos, ouvimos-lhe uma frase importan- tas por “branquelas arranjadinhos, sel Simins. Os Blues Explosion te: “Os Jon Spencer Blues Explosion totós da música vivendo em medo e regressaram, mas não para preparar somos nós a dizer ‘é isto o rock’n’roll, cheios de sentimentos de culpa libe- o sucessor de “Damage”, o último ál- e é isto que rock’n’roll pode ser’”. Es- ral” (citamos o texto de apresentação bum de originais, editado em 2004. se movimento constante entre dois de “Controversial Negro”, título que, Há dois anos que andam a tocar as desejos - o de encarnar o passado como se depreende, é uma reacção à canções de “Orange” ou “Now I Got projectando-se no futuro -, foi e é o “polémica”), os Jon Spencer Blues Worry”, dois dos monumentos que segredo da banda que gravou com o Explosion eram acusados, generica- gravaram na década de 1990. Entre- veterano bluesman RL Burnside, mas mente, de não serem sinceros. De não tanto, Jon Spencer mergulhou nos que também chamou o então “state serem, atente-se, verdadeiros. arquivos para devolver ao mundo, em of the art” Beck para uma colabora- Convencionou-se que a noção de generosas reedições, a história toda: ção; que resgatou o pioneiro soul Ru- verdade é aquilo que separa o trigo os berros e guitarradas da extraordi- fus Thomas em “Now I Got Worry” e do joio no blues, no rock’n’roll ou no nária e mui suada invenção que a ban- que, depois, entregou a produção de punk. Mas a ideia de verdade não in- da nova-iorquina deflagrou nas fuças “ACME”, entre outros, a Dan The Au- teressa a Jon Spencer. Não tem qual- da música popular urbana quando os tomator, respeitado produtor hip hop, quer relação com o que são e com anos 1990 andavam entretidos em ser ou a Calvin Johnson, herói do punk aquilo que interessa nos Blues Explo- muito sérios e compenetrados. de Washington, fundador dos Beat sion. “Nah, não compro nada disso”, E por isso Jon Spencer é um homem Happening e da K Records. resmunga. “Podes fazer o que quise- feliz. Feliz de uma forma peculiar: res, podes dizer a maior mentira do “Ainda estou lixado com todo o O “primitivista” Jon Spencer mundo. Rock’n’roll significa liberta- rock’n’roll de merda que existe por Nos concertos dos Blues Explosion res-te e apresentares ao mundo dife- aí. Era assim antes e é assim agora.” não há (nunca houve) alinhamento rentes versões de ti próprio. O rele- Estar lixado, como sabemos, é um definido. Jon Spencer, invariavelmen- vante é isto: fazer por ti mesmo, ar- óptimo combustível criativo. “Vejo te de cabedal negro, canta e meneia cando com as responsabilidades que falta de imaginação e falta de criativi- as ancas como um Elvis em “speeds”, isso acarreta. Os Blues Explosion fi- dade”. Pausa: “Falta de tomates”. rebola pelo chão como Lux Interior zeram o seu próprio caminho e, onde Ora, isso irrita o homem feliz que é e estica a mão até ao “theremin” para quer que tenhamos chegado, chegá- hoje Jon Spencer. Até porque se há que o zumbido eléctrico se torne ain- mos através de suor e muito traba- coisa que nunca faltou aos Jon Spen- da mais intenso e perturbador. Atrás lho”. Trabalho e acção. cer Blues Explosion foi um nada dis- de si, Russel Simins toca como pode- Spencer define-se como um “pri- creto par de tomates. A edição de rosíssima locomotiva que mantém mitivista” que não acredita em “téc- “Year One” e as reedições de “Extra tudo em movimento feroz, sem uma nica”, mas sim em “paixão”. Quando Width”, “Orange”, “Now I Got Wor- única falha (Simins nunca dá um tiro abordamos discos como o celebrado ry”, “ACME” e “Controversial Negro”, ao lado). A seu lado, Judah Bauer, gui- “Orange” ou “Now I Got Worry”, cobrindo o período de 1991 a 1998, tarrista com a história toda na ponta obras-primas de trabalho de estúdio são explícitas quanto aquele porme- dos dedos, desdobra-se em sons ca- onde encontrávamos colagens sono- nor anatómico. vernosos, em guitarra slide infernal: ras vanguardistas ou ideias de produ- Voltemos ao início. Jon Spencer con- colide o funk com riffalhada Stones, tinua “lixado” como sempre. Não foi surge corrosão punk em groove isso, porém, que tornou os Blues Ex- rhythm & blues. plosion especiais. Em 1994, Spencer Um concerto dos Jon Spencer Blues dizia à revista Mojo, “se andar tudo à Explosion é um festim arrebatador. volta do ‘vai-te foder’, então pura e Uma cerimónia profana sem regras simplesmente não há esperança”. Ho- para cumprir, com o mestre-de-ceri- mem formado no underground do mónias Spencer a assomar como fi- punk americano, integrou em 1985 os gura que encarna todos os gloriosos Pussy Galore, niilistas ferozes que se excessos do rock’n’roll: a sua sede propunham, a partir de esconsas ca- inconformista, a sua noção de espec- ves de Washington ou Nova Iorque, táculo e a sua caminhada no fio da homenagear e destruir no mesmo ges- navalha, acenando com prazer micro to o cânone rock’n’roll. A banda onde clichés (os vibratos Elvis no final das “Ainda estou lixado também encontrávamos Neil Michael frases ou a auto glorificação típica do Hagerty, que formaria depois os ma- hip hop: “Raise your hand for the com todo o rock’n’roll ravilhosamente decadentes Royal Blues Explosion”) e uma vontade de Trux, era, argumenta Spencer, uma ser, à uma, provocação e exaltação de merda que existe manifestação de “horror total” e de hedonista: “I’m talking about fucking! “ódio” perante a mediocridade vigen- Eating pussy! Making love! Sucking por aí. Era assim te. Era, classifica, “uma trip negativa”. cock!”, incita algures em “Controver- Os Blues Explosion escolheram outra sial Negro”. antes e é assim agora. forma de confronto, a celebração: “[a Por tudo isso, a banda nunca foi Vejo falta de banda] somos nós a gritar ‘o rock’n’roll consensual. Nos Estados Unidos, por é uma coisa belíssima, é música fan- exemplo, acusaram-nos de desrespei- imaginação e falta tástica, alegre, exultante, bonita e es- tar o blues (eles que nunca foram uma tranha. É música que tem a misteriosa banda de blues) e de ridicularizar os de criatividade. vibração da electricidade, é subir a um músicos e cantores negros (eles a palco e atingir um pico de êxtase co- quem Rufus Thomas chamava “my Falta de tomates” munal em que seja possível perdermo- people”, eles que gravaram e anda- nos.” ram em digressão com um verdadei- Jon Spencer

14 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon 28 A 3O JAN SÃO SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 DOMINGO ÀS 17H30 LUIZ SALA PRINCIPAL JAN ~ 11 s Explosion quentes que raio era isso do rock’n’roll e que raio podia aos deuses pela Blues Explosion. Mário Lopes

ção hip hop fluindo harmoniosamen- te entre a amálgama de guitarras, teclados reverberantes e baterias ri- bombantes, quando tentamos mer- gulhar no processo criativo da Blues Explosion, Spencer não tem mais a dizer que isto: “Não separo a música em cantos diferentes da sala. Quase tudo acontece a um nível subcons- ciente. Quando ouço discos ou quan- do vejo concertos, não tiro notas pa- ra utilizar mais tarde. Tenho sons na cabeça e sinto-os nas entranhas. É instintivo. Se acredito, ajo”. Entre 1992 e 1998, os álbuns dos Blues Explosion saíram com cadência próxima a um por ano e os concertos VÍDEOS FÁBIO IAQUONE, LUCA ATTILII MÚSICA ORIGINAL E DIRECÇÃO MUSICAL MÁRIO LAGINHA COREOGRAFIAS PAULO terão andado próximo do milhar. RIBEIRO CENOGRAFIA NUNO LACERDA LOPES FIGURINOS BERNARDO MONTEIRO DESENHO DE LUZ RUI SIMÃO DESENHO DE SOM FRANCISCO LEAL VOZ E ELOCUÇÃO JOÃO HENRIQUES ASSISTÊNCIA DE ENCENAÇÃO MANUEL TUR INTERPRETAÇÃO Afloraram o mainstream quando JOSÉ MANUEL BARRETO, RAQUEL TAVARES (FADISTAS); EMÍLIA SILVESTRE, PEDRO ALMENDRA, PEDRO FRIAS (ACTORES); CARLA RIBEIRO, FRANCISCO ROUSSEAU, MÁRIO FRANCO (BAILARINOS); MÁRIO LAGINHA, CARLOS PIÇARRA ALVES, MÁRIO FRANCO, DIOGO CLEMENTE, MIGUEL AMARAL (MÚSICOS) COLABORAÇÃO ESPECIAL EM VÍDEO ALBANO JERÓNIMO, ANTÓNIO “Afro”, single de “”, co- DURÃES, JOÃO REIS, TERESA MADRUGA PRODUÇÃO TEATRO NACIONAL SÃO JOÃO COLABORAÇÃO OPART M/12 meçou a passar na MTV, e estiveram

quase a instalar-se nele com o suces- CO-PRODUÇÃO so de público e crítica de “Orange”. Não chegaram lá. Ou melhor, chega- ram por interposta pessoa, quando SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETES À VENDA EM WWW.TEATROSOALUIZ.PT, O trio infernal, no início dos anos 00 começámos a RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA WWW.BILHETEIRAONLINE.PT E ADERENTES [email protected]; TEL: 213 257 640 BILHETEIRA DAS 13H00 ÀS 20H00 www.teatrosaoluiz.pt Judah Bauer, ouvir falar do “renascimento do TEL: 213 257 650 / [email protected] Russel rock’n’roll” e de bandas como os Whi- Simins, te Stripes. Ultrapassados pelos acon- Jon Spencer tecimentos e pelo frenesim mediático, passaram a ser vistos como sobrevi- SÃO ventes de um passado longínquo – não terá ajudado o facto de “Plastic LUIZ Fang” e “Damage”, álbuns de 2002 e JAN ~ 11 2004, serem os mais conservadores JAn e menos inspirados da banda. 9 S Daí para cá, Jon Spencer dedicou-se 2 ÁBAD O aos Heavy Trash, ao lado de Matt Ver- ÀS ta-Ray, ex-Speedball Baby, e Judah . 23H30 Bauer integrou, por exemplo, a banda JAR de Cat Power. “Sentia-me esgotado e lU DIM queria tocar outro tipo de música, C DE INVE com outras pessoas”, confessa o vo- RNO calista. Agora? Agora que nos fala des- de Nova Iorque, acabado de chegar E de uma digressão australiana, tudo B mudou. Regressaram aos concertos, nos últimos tempos têm passado de dA quando em vez pelo estúdio e até po- de ser que haja um novo disco a ca- minho “Tem sido óptimo voltar a to- as A com V car com os Blues Explosion e foi óp- participaçõesde R timo reeditar o catálogo. Fi-lo por llage uma razão apenas: não estavam dis- Chu a poníveis e acho que são bons”. + Bons? ivan LINS Nos anos 1990 do grunge, nesses + P l anos 1990 em que os géneros se que- a co-produção riam estanques e bem compartimen- mitó produções tados, os Jon Spencer Blues Explosion (a naifa) fictícias abalaram certezas com um descara- + mento épico, mostrando sem pani- silva o melhor daI nhos quentes que raio era isso do a palavra em rock’n’roll e que raio podia ser daí em o sentinel frente. + português Duas décadas depois, a sua música ant Do C silva!designers ónio hiado à Cova da M de Ipa oura, não envelheceu um ano que seja. jorge nema à Baía de Lua de Vin nda, Mantém uma carga icónica impres- hais a Salvaterra gonçalves de sionante, uma vitalidade inescapável, Magos, m/16 um fulgor criativo inimitável. Agrade- çamos aos deuses do rock’n’roll pela http://videos.sapo.pt/ Jon Spencer Blues Explosion. tag.html?clubedapalavra

Ver crítica de discos págs. 28 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 15 Em “Com que Voz”, documentário sobre Alain realizado pelo seu filho Nicholas Oulman, descobre-se Alain Oulman tinha um íman. A sua a história de recia sempre em segundo plano, aque- documentário sobre Alain realizado presença puxava outras, qualquer ci- le que escapa aos olhares mais rápidos pelo seu filho Nicholas Oulman, des- dade onde se demorava o suficiente um homem que não e que só uma visualização atenta e cobre-se a história de um homem que para o seu magnetismo ensopar o ar cuidada consegue descortinar, aquele não queria ser contado e cujo nome enviava-lhe como oferendas aos deu- queria ser contado com quem toda a gente falava e se con- tentou resguardar sempre da avidez ses os seus seres mais criativos. À sua fessava mas de quem se sabia pouco dos holofotes. Daí que Nicholas ache volta, por entre garfadas da melhor e cujo nome tentou mais do que a sua ocupação do mo- “chocante” que, em tantas horas que comida e goles dos melhores vinhos, mento e o imenso talento. Alain e Amos estiveram lado a lado, gente ligada às artes passava noites resguardar sempre da O escritor israelita Amos Oz igno- comparando palavra a palavra as tra- inteiras em animadas tertúlias. Oul- avidez dos holofotes rou durante anos que Alain Oulman duções para francês dos textos do man sentava toda a gente à mesa, mas era músico e tivera um passado vital israelita, nunca o seu pai tenha apro- depois era como se desaparecesse. para a história do fado e para a ido- veitado uma pausa para um cigarro Era alérgico aos holofotes, confundia- latria a Amália Rodrigues. Não era, ou um café para deixar escapar um se com a sala, era aquele que nas fo- afinal, apenas o seu editor francês na “‘Olha, nunca te disse, mas sabes que tografias ou nos vídeos da noite apa- Calmann-Lévy. Em “Com que Voz”, também faço música?’”. Nicholas tem um nome para isto – compartimentação. E é uma das revelações que “Com que Voz” trou- xe ao filho realizador: “Como é que uma pessoa consegue compartimen- tar tanto a vida? Não sabia que isto era tão drástico”. Ou seja, no máximo da sua reserva, Alain dividia de forma tão rigorosa cada área da sua vida, que só se permitia mostrar uma das suas facetas a quem tinha de lidar di- rectamente como ela. Era uma pos- tura quase geométrica: se alguém se colocar junto a uma pirâmide, dela não terá outra imagem que não a do lado escolhido. Talvez que, como o filme de Nicholas sugere, alguma coi- sa desta postura provenha da pressão que subitamente recaiu sobre si após a morte do seu irmão mais velho, Jo- sé. Até aí um espírito livre, com o ir- mão destinado a prosseguir os negó- cios do pai em Lisboa, Alain tinha estudado música na Suíça, começado a compor, partido para Nova Iorque e ficado absolutamente fascinado com o jazz. José, que ouvira nas palavras do general De Gaulle um chamamento com reverberação interior, alistou-se na Royal Air Force com o desígnio de libertar a Europa do jugo nazi, e num voo picado em 1944 despenhou-se em solo holandês. Alain foi então chama- do a vir para Lisboa, deixando a sua vida e assumindo a do irmão. Mas houve sempre uma recusa deste pa- pel. E enquanto passava os dias no escritório da empresa familiar, em Lisboa, de auscultador colado ao ou- vido a tratar de assuntos relacionados com carvão, cereais ou café, ao lado da pesada papelada burocrática des- tacavam-se outras folhas onde a sua mão caía repetidamente. As pautas, onde rabiscava notas todo o dia, per- mitiam-lhe a fuga constante ao fado dinástico que parecia cercá-lo. O ou- tro fado, aquele que havia de confun- dir-se com a voz de Amália, consumir- lhe-ia a criatividade durante os anos seguintes, depois de ter dirigido tea- Os poetas, foi tro nos Lisbon Players (onde conhe- Alain que os ceu Felicity Serra, a mulher) e, mais levou a tarde Eunice Muñoz e João Perry em Amália; as “The Rainmaker” de Richard Nash. músicas Depois, Amália começa a revolu- também ção: canta Camões, canta Alexandre Lá na sombra, era Alain “Com que Voz”, fi lme de Nicholas Oulman sobre o pai Alain Oulman, estreou-se ontem. Tempo para c mudou o fado e Amália, mas que foi também encenador, editor de Amos Oz e dono de um magnetis m

16 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon Filho de um filho sobre o Pai? Nicholas diz que é, antes, um filme sobre a vida de uma pessoa e as escolhas que ela O INSTITUTO CERVANTES É A INSTITUIÇÃO teve de fazer CRIADA POR ESPANHA EM 1991 PARA A DIFUSÃO DO ESPANHOL E DA CULTURA. CURSOS DE filho sobre o pai”. O que queria era contar a vida de uma pessoa e as es- colhas que esta teve de fazer. Para ESPANHOL 2011 isso, foi fundamental a presença da mãe em frente às câmaras, único ga- rante de que “Com que Voz” não se tornaria uma peça de glorificação, fazendo Alain humano aos olhos do INSCRIÇÕES PARA OS CURSOS público. “Se fosse um filme de glori- ficação, passados dez minutos já es- A PARTIR DE 1 DE FEVEREIRO tava toda a gente farta. Sem entrar em intimidades devassas, era importante QUADRIMESTRAIS GERAIS mostrar também o lado humano. É a (TODOS OS NÍVEIS) - 60 HORAS história de uma pessoa, que fez coisas 21 de Fevereiro a 27 de Junho boas e menos boas; se calhar há quem tenha sofrido pelas escolhas que ele CURSOS DE PREPARAÇÃO PARA A UNIVERSIDADE fez. Só mostrar as qualidades torná- 60 HORAS lo-ia sobre-humano”. 21 de Fevereiro a 27 de Junho Daí que se oiça Felicity confessar que talvez ele nunca se devesse ter O’Neil, canta David Mourão-Ferreira, que... Sabia que existiam certas coi- casado ou ter filhos, numa sequência Horário de Secretaria: canta o disco “Busto” (1962), um as- sas, mas estava tudo desorganizado”. que tanto pode ser justificada pela 2ª a 5ª das 09:00h às 17:45h e 6ª das 09:30h às 14:00h sombro interpretativo com o piano Ao fazer esse trabalho de desencaixo- frequente ausência da vida familiar Para mais informações sobre os cursos, horários, preços e provas de nível, consultar: intrometido numa fórmula que até tamento, Nicholas descobriu um filme devido aos obsessivos períodos cria- Tel.: 213 105 032/38/27 então era musicalmente mais limita- a desenhar-se por moto próprio à sua tivos, como também deixa no ar uma E-mail: [email protected] I [email protected] I [email protected] da. Os poetas, foi Alain que os levou frente, ao ser confrontado “com todas ambiguidade relativamente à sexua- http://lisboa.cervantes.es a Amália; as músicas também. Quan- as áreas de que tinha ouvido falar co- lidade do compositor. Nicholas nega design: www.formasdopossivel.com do a polémica estalou, Amália teve de mo filho e não como pessoa do outro a intenção, mas diz que a interpreta- responder pela ‘heresia’ de cantar lado da barreira”. Como pai, recorda ção lhe passou igualmente pela cabe- Camões e de confiar a mais portugue- Nicholas, Alain “não era uma pessoa ça na montagem e preferiu não a sub- DEPARTAMENTO CULTURAL sa das músicas a um compositor es- de grandes conversas, era um traba- trair. Não passando de uma coincidên- Tel.: 213 105 031 I E-mail: [email protected] trangeiro. “Que eu saiba o Alain não lhador, ‘workaholic’, e nunca falava cia, o filho lembra que na vida comum BIBLIOTECA é estrangeiro; que eu saiba nasceu no muito daquilo que fazia”. que tiveram em Paris Alain “trabalha- Tel.: 213 105 023 I E-mail: [email protected] Dafundo”, respondeu na RTP. Mas nesse processo, Nicholas per- va e às sextas-feiras normalmente Horário: 2ª a 5ª das 11:00h às 19:00h I 6ª das 11:00h às 15:00h cebeu logo que a sua maior dificulda- havia um jantar com autores, pessoas CONTACTOS GERAIS Lisboa-Paris de seria contar a história do pai quan- com quem trabalhava ou elementos Rua de Santa Marta, 43 F, r/c, 1169-119 Lisboa do ele se esquivava espantosamente de júris de prémios literários que era Tel.: 213 105 020 I Fax: 213 152 299 I http://lisboa.cervantes.es -Nova Iorque-Lisboa de todos os momentos públicos. “Co- preciso cortejar”. “Havia essas tertú- Nicholas Oulman viveu com o pai dos mo o meu pai estava sempre em se- lias lá em casa, depois eles saíam, eu onze aos dezoito anos, em Paris. De- gundo plano, sabia que não ia haver ficava em casa, e aí já não sei o que pois de ter sido preso pela PIDE, muita coisa, mas na verdade não en- acontecia”. As interpretações estão Alain foi libertado com um conside- contrei absolutamente nada”. Foi um aí para ser feitas e, para seu espanto, rável esforço diplomático e deporta- mergulho nos arquivos em seco, sem há quem lhe tenha dito que este não do. De certa forma, descobriu aí uma nada que o amparasse. Por isso, “Com é um filme sobre Alain Oulman, mas nova liberdade, e seguiu sozinho pa- que Voz” vai levantando o véu sobre sim sobre mulheres abandonadas: ra França, deixando a família em Por- Alain Oulman, desembocando numa Felicity e Amália. tugal e dedicando-se obcecadamente cena final que, para Nicholas, é o des- É provável que para o escasso pú- à editora literária Calmann-Lévy, ca- fecho inevitável, Alain de súbito em blico para quem o nome de Alain Oul- sa de autores como Amos Oz, Patricia voz e imagem, num ensaio com Amá- man soasse já familiar, “Com que Voz” Highsmith ou Chaterine Clément, e lia, que desnuda num par de minutos seja na mesma uma enorme desco- pela qual foi publicado em pleno Es- “a relação de trabalho, amizade, ad- berta. Para Nicholas, no entanto, não tado Novo o livro de Mário Soares miração e respeito” entre os dois. mudou nada de relevante na imagem “Portugal Bailloné” (“Portugal Amor- Confortável com o facto de o perí- que tem do pai. Na sua memória, virão daçado”). Foi lá que viveu até à mor- odo retratado maioritariamente no sempre em primeiro lugar as discus- te aos 61 anos (1990), chegada quan- documentáriontário respeitarrespeitar a um sõessões que tiveramtiveram quandoquando AlainAlain lhelhe do Nicholas se iniciava nas artes dos tempo que,ue, como ffilho,ilho,, chamavachc amava a atenção para aalgumalguma filmes. Em 1993, Nicholas partiu para Nicholas nnãoão viveu – nasnas-- coisacoc isa ou o ddiaia em qque,ue, aos 13 Nova Iorque para estudar cinema e cido em 1967 e tentendodoo anos,anos, o paipai lhe ppassouassou ppelaela ppri-ri- por lá andou, a realizar “umas curtas- passado ttodaoda a InfânciInfânciaa meiramem ira vez o vvolanteolante ddoo ccarroarro metragens nos Estados Unidos, aque- em Portugal,ugal, via espo-espo-- parapara as mãos.mãos. las coisas que uma pessoa quando radicamenteente o pai atatéé pensa que vai ser o próximo não sei ir viver comom eelele em Pa- VerVer crítica de filmesfilmes págs. quantos…”. ris no finalal dos anoanoss 333 e sesegs.gs. Regressou a Portugal em 2002 e 70 –, Nicholasholas sabsabiaiaa quando preparava o argumento para que tinhaa aí uumamaa a sua primeira longa foi abordado pe- defesa paraara evi- lo Museu do Fado para saber da exis- tar uma terrívelerrível tência de materiais que ajudassem a armadilha:ha: a montar uma exposição sobre o pai. de “fazerer “Quando o meu pai faleceu muitas um filmee das coisas foram postas em caixotes, simples- andámos de um país para o outro, mente depois estive dez anos em Nova Ior- de um

Nicholas Oulman viveu com o pai dos onze aos dezoito anos, em Paris S UE a conhecer o compositor quee Q O HENRI Ã s mo raro. Gonçalo Frota HENRIQUES JOÃO JO

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 17 Poetas a quem o ensinou a A poesia portuguesa em diálogo com o movimento das imagens do cinema. O cinema “faz parte nenhum momento em que não me lembro de não ter visto fi lmes”, diz-nos José Miguel Silva, um “Poemas com Cinema”. Francisco Valente

“Morreu a mais bela mulher do mun- do”, escreveu Ruy Belo sobre Mari- lyn Monroe, para quem pediu “em vez de marilyn dizer mulher”. A eter- nidade da imagem de Marilyn, supe- rior à mortalidade da vida, encon- trava também caminho no movimen- to da poesia de Ruy Belo, onde viveria ainda o calor da imagem de Natalie Wood (“eu sei que deanie loomis não existe/mas entre as mais essa mulher caminha/e a sua evolu- ção segue uma linha/que à imagina- ção pura resiste”). Em “Poemas com Cinema” (Assí- rio & Alvim) é-nos proposto um olhar sobre esses caminhos: a poesia por- tuguesa em diálogo com o movimen- to das imagens do cinema. “Quería- mos lançar pistas para uma reflexão sem dar uma leitura teórica”, diz Rosa Maria Martelo, co-organizado- ra da antologia. “A estrutura da an- tologia, no fundo, remete para essas pistas.” O resultado é um trabalho inédito na edição portuguesa: um livro exclusivamente centrado na poesia portuguesa e nos seus pontos de contacto com outra forma de es- crita — a das imagens e da sua mon- tagem. “Conhecíamos algumas an- tologias mas não havia uma para a poesia portuguesa”, diz Martelo, “achámos que poderia ser interes- sante ver como a situação se equa- cionava”. O ponto de partida é “um texto de Herberto Helder que faz uma reflexão entre a poesia de tra- dição moderna e o cinema”, afirma. “Era a sua ideia de território parti- lhado que nos interessava pôr em evidência, e esse território prende-se muito com a tradição moderna: a da poesia da imagem.” Um refl exo da vida A associação entre cinema e poesia resultará, no fundo, do fascínio mú- tuo pela projecção de imagens, espe- lhada na montagem dos versos e pla- nos de cada uma das formas de ex- pressão. “Poemas com Cinema” sugere, em primeiro plano, uma re- Armando Silva Carvalho lação dos poetas com o cinema como poeta e tradutor dos livros de Ingmar fonte de inspiração emocional. “O Bergman “Lágrimas e Suspiros, cinema é uma experiência emocional seguido de Persona e Dependência” e “Persona” e e intelectual pelos desafios que colo- “Fanny e Alexandre” “Lágrimas e ca, uma interpelação que pode mo- “Fui para o cinema de calções, vi muita coboiada e Suspiros”, de tivar a escrever”, diz José Miguel Sil- gozei que nem um bruto com a veloz realidade das Ingmar va (n. 1969). “Faz parte do ar que fitas, ensinaram-me a ver o mundo para lá do Bergman respiramos. Não houve nenhum mo- salazarento à minha volta”. Antes da faculdade, via imagens pelo cinema ambulante, “medíocres filmes de cobóis e melosos xaropes com Milu e António Silva”, até se dedicar ao “filme de autor, Fellini ou Bergman, e alguma ‘nouvelle vague’ que me passou por cima.”

18 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon o cinema    a ver e do ar que respiramos. Não houve m dos poetas da antologia “Nostalgia” e “Stalker”, de Tarkovsky www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv T 220 120    ^        O            ^

MECENAS CICLO JAZZ MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA

José Miguel Silva “Um dos primeiros cineastas que me interessou foi SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO Tarkovsky, com ‘Nostalgia’ PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES E VÁLIDA APENAS PARA UM CONVITE POR JORNAL. (1983) e ‘Stalker’ (1979). Na minha adolescência, foi marcante. Podia ser comparado às grandes obras literárias: a lentidão, o cuidado com a composição das Teatro 5+6 imagens. Foi uma revolução.” Nacional Fev São João 2011

mento em que não me lembro de não guido de Persona e Dependência” e ter visto filmes.” “Fanny e Alexandre”, ed. Assírio & O poeta, incluído na antologia, é Alvim), evoca o cinema como uma dos exemplos mais marcantes da pre- descoberta de um mundo para além sença do cinema na poesia portugue- da sua realidade. “Fui para o cinema sa, uma escrita que chama as expe- de calções, vi muita coboiada e gozei riências vividas nas salas. “Um dos que nem um bruto com a veloz reali- primeiros cineastas que me interes- dade das fitas, ensinaram-me a ver o sou foi Tarkovsky, com ‘Nostalgia’ mundo para lá do salazarento à minha (1983) e ‘Stalker’ (1979). Na minha volta”. Antes da faculdade, via ima- adolescência, foi marcante. Podia ser gens pelo cinema ambulante, “medí- comparado às grandes obras literá- ocres filmes de cobóis e melosos xa- rias: a lentidão, o cuidado com a ropes portugueses com Milu e Antó- composição das imagens. Foi uma nio Silva”, até se dedicar, em Lisboa, revolução.” Hoje evoca John Cassa- ao “filme de autor, Fellini ou Berg- vetes como referência. “‘Maridos’ man, e alguma ‘nouvelle vague’ que (1972) provocou-me uma comoção me passou por cima.” A sua experi- muito grande: pessoas comuns numa ência no cinema enquanto “argumen- noite de farra, com conversas banais, tista profissional” assim como junto com quem não teríamos dificuldades à mesa de montagem ajudaram-no “a em falar ou adoptar uma perspectiva cortar metodicamente no tempo pa- diferente para os abordar. Acabou ra conseguir a síntese na escrita.” por ser um filme chave na minha es- Pedro Mexia (n. 1972) também vi-

tética.” veu com o cinema na escrita e na sua fotografia direcção, espaço interpretação co-produção Armando Silva Carvalho (n. 1938), vida profissional. O universo do po- Rui Horta cénico, desenho de luz Gilles Baron Centro Cultural de Belém Rui Horta Katarzyna Sitarz O Espaço do Tempo Zsófia Gergely, poeta e tradutor dos livros de Ingmar eta, ex-subdirector da Cinemateca e coreografia Marcus Baldemar Centro Cultural Vila Flor Rui Horta, em conjunto Milán Újvári TEMPO – Teatro Municipal Bergman (“Lágrimas e Suspiros, se- tradutor de “Notas sobre o Cine- com todos os intérpretes Noemí Viana Garcia de Portimão textos Silvia Bertoncelli Câmara Municipal Rui Horta Vít Barták de Montemor-o-Novo design Tiago Rodrigues TNSJ música e direcção musical músicos João Lucas Anthony Wheeldon dur. aprox. 1:30 Joana Monteiro assistente do coreógrafo (guitarra e electrónica) M/12 anos Anabelle Bonnery DJ Ride (turntable e electrónica) sábado 21:30 Marco Santos domingo 16:00 (percussão e electrónica) Paulo Temeroso (sopros e electrónica) banda filarmónica Banda O TNSJ É MEMBRO DA MECENAS TNSJ da Sociedade Carlista (Montemor-o-Novo) www.tnsj.pt LINHA VERDE 800-10-8675

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 19 imagem cinematográfica, e como maneira para transpor para a poesia, é a alucinação. Interessa-me fazer narrativas com a montagem das ima- gens do cinema.” Na antologia, Gusmão cria o seu movimento poético a partir de “Cró- nica de Ana Madalena Bach” (1968) de Jean-Marie Straub e cruza as suas memórias de “O Herói Sacrílego” (1955) de Kenji Mizoguchi com “Rap- sódia em Agosto” (1991) de Kurosawa. “É a possibilidade de montagem entre realizadores diferentes, e em poesia isso é a possibilidade da citação.” A experiência de visionamento e me- mória toma as imagens dos filmes, pela sua escrita, como já suas. “Muitas vezes, não tenho a certeza de como é uma imagem no filme, e sei que há casos em que a modifiquei. O que me interessa é essa modificação.” O jogo Pedro Mexia de citação, para Gusmão, é fonte de “Um dos meus filmes preferidos é ‘Paris, Texas’ Desnos, Antonin Artaud) dominadas Gusmão, onde “a relação com o cine- criação para o “fazer da linguagem”, (1984). A questão que põe sobre o casal... Acho que por “uma lógica do insólito e da as- ma é estruturante da sua própria po- um ponto comum entre as duas ex- não tenho escrito sobre outra coisa” sociação”. Mais tarde, surgem artistas ética, mas o modo como cada um po- pressões artísticas. “Godard joga mui- multifacetados como Jean Cocteau, de pensá-la é único.” to com elementos do jogo de palavras que “dividiu a sua obra completa em Para Manuel Gusmão (n. 1945), quando fala, por exemplo, de ‘faux- poesia para teatro ou para cinema”, “vários filmes” passam na sua poe- tographie’ [“falsa-tografia”, “Fim-de- “Paris Texas”, matógrafo” de Robert Bresson “foi ou Pasolini, que explorou a verbali- sia: “‘A Fera Humana’ (1938) de Re- Semana”, 1967]. Isso é um exercício de Wim formado por alguns filmes”, diz-nos. dade na poesia e cinema. Em Portu- noir ou ‘Johnny Guitar’ (1954) de poético: recorrer a algo da linguagem Wenders, e “No caso de Bresson, o impacto é gal, afirma Mexia, “vemos ‘Trás-os- Nicholas Ray, com importação de verbal ou à manipulação retórica da “Pickpocket”, nítido: são filmes que têm muita im- Montes’ (1976) de António Reis e não frases que sei hoje de cor”, diz-nos. linguagem no cinema.” de Robert portância, por razões estéticas e não estranhamos aquela pessoa ter escri- “É por associação às imagens do ci- Os diálogos entre o cinema e a po- “Crónica de Bresson só. Não posso negar que o seu cato- to poesia.” nema que monto a minha biografia. esia revelam, assim, uma inspiração Ana Madalena licismo me interessa.” Para Mexia, Joana Matos Frias, co-organizadora ‘Deus Sabe Quanto Amei’ [Minnelli, pela projecção das suas imagens que Bach”, de o cinema é também uma experiência da antologia, esclarece que “entre po- 1958] surge relacionado com aconte- nos ensina a ver melhor. Como escre- Straub, emocional, à semelhança do que po- esia e cinema, como com outra arte, cimentos da minha vida afectados veu Ruy Belo, “poemas onde o cine- “Johnny derá alimentar a inspiração da escri- não existe tradução ou a sua possibi- pelo filme que trato de contar [no ma me ensinou a ver”. Ou Godard, Guitar”, de ta. “Vemos filmes que nos dizem lidade”, mas “um processo de meta- poema].” O poeta assume, deste mo- fechando “Pedro o Louco” (1965) Nicholas Ray muito pela altura em que os vimos, morfose que pode ter consequências do, o desejo de montagem pessoal a com versos de Rimbaud, encontran- e “Deus Sabe o que não deixa de ser poético. Lem- distintas.” Na antologia, essa mutação partir das imagens dos outros. “O do a eternidade na junção do sol com Quanto Amei”, bro-me de um filme do qual tinha existe em Herberto Helder ou Manuel que me interessa na narrativa e na o mar. de Minnelli uma ideia sublime: ‘Verão de 42’ de Robert Mulligan, a descoberta da sexualidade com Jennifer O’Neill. Na altura, teve um impacto brutal, e não desprezo o impacto de filmes menos bons. Gosto muito do lado emotivo do cinema em que a estética não é tudo.” O poeta vê ainda paralelos na sua escrita. “Um dos meus filmes preferidos é ‘Paris, Texas’ (1984). A questão que põe sobre o casal... Acho que não tenho escrito sobre outra coisa.” Um movimento para a escrita Para além desse fascínio, coloca-se a questão sugerida pelos últimos capí- tulos da antologia: uma influência do cinema que abre novos caminhos na escrita poética. No fundo, uma mon- tagem de imagens no ecrã que inter- vém, pelo trabalho do autor, na mon- tagem dos seus versos e na projecção das suas palavras. Segundo Rosa Ma- ria Martelo, “a relação entre a poesia e visualidade é muito importante na construção da ideia moderna de po- esia, como no fascínio pela velocida- de e movimento. A captação deste e a relação com a imagem coloca-se de Manuel Gusmão maneira muito forte, e tanto a poesia “Vários filmes” passam na sua poesia: “‘A Fera como o cinema respondem a isso.” Humana’ (1938) de Renoir ou ‘Johnny Guitar’ (1954) Pedro Mexia lembra o espírito de de Nicholas Ray, com importação de frases que sei contaminação das artes no século XX. hoje de cor. É por associação às imagens do cinema “As primeiras obras-primas do cine- que monto a minha biografia. ‘Deus Sabe Quanto ma a serem discutidas começam com Amei’ [Minnelli, 1958] surge relacionado com Griffith em 1917. Em 1922, temos ‘The acontecimentos da minha vida afectados pelo filme Waste Land’ de T.S. Elliot, em que a que trato de contar [no poema].” montagem de referências é um exer- cício intensíssimo de citações e influ- ências culturais.” Com o surrealismo vem o surgimento da “grande esco- la”, adaptações de poetas (Robert

20 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon Tudo teria sido diferente se, naquele Outono, Stieg e Eva se tivessem casado Stieg por Eva A companheira do escritor Stieg Larsson, Eva Gabrielsson, publicou as suas memórias. Um desejo de vingança mais do que grandes revelações Isabel Coutinho

O último Verão que Eva Gabrielsson de ruptura entre ela e a família de vestigação”. Como é que isto foi pos- vezes juntos. Conta também que em passou com o seu companheiro, o Ao ritmo a que vão Stieg. Perpassa no livro um desejo de sível?, pergunta. A explicação que dá 2005, o seu representante fez uma escritor sueco Stieg Larsson, foi dife- vingança e o relato de uma cerimónia é simples: “São as nossas vidas e os proposta ao pai e irmão de Stieg, os rente dos outros. Finalmente, o casal as coisas, escreve Eva, com textos da mitologia escandinava, nossos 32 anos de vida em comum herdeiros segundo a lei sueca, e à edi- tinha tempo um para o outro. Stieg não ficará admirada que lhe serviu de terapia, é revelador que formam a base de dados destes tora Norstedts, para que ela ficasse assinara o contrato para a publicação da perturbação de Eva depois da mor- livros. São fruto da experiência de com a gestão dos direitos morais da de três livros da série “Millennium” e se um dia deparar te de Stieg e depois de ter perdido tu- Stieg, mas também da minha. Dos obra de Stieg, de maneira a poder tra- estava feliz. Nessas férias os dois visi- do: até a esperança. nossos combates, das nossas lutas, balhar nos textos do companheiro e taram amigos e alugaram uma cabana com o nome No último capítulo Eva fala do quar- das nossas viagens, das nossas pai- terminar o quarto volume. Os Larsson no arquipélago de Estocolmo. No final to volume da série – o manuscrito que xões, dos nossos medos... Estes livros recusaram. Eva continua a lutar por do mês de Agosto, em que Stieg fez do companheiro Larsson deixou inacabado e que teria são o puzzle das nossas vidas.” ter esse direito. Não quer que o nome 50 anos, o escritor disse timidamente numa garrafa de como título provisório “A Vingança É por isso que Eva não consegue de Stieg Larsson continue a ser “uma à arquitecta com quem vivia há 32 de Deus” – mas não dá pormenores. dizer o que é que nos livros vem dela indústria e uma marca”. Ao ritmo a anos: “E se nos casássemos agora?”. cerveja, num pacote Conta que no dia seguinte à morte de ou do companheiro. Coloca-se sem- que vão as coisas, escreve, não ficará Combinaram então que, no Outo- Stieg, a irmã de Eva foi entregar a mo- pre numa posição ambígua. Tanto diz admirada se um dia deparar com o no, fariam uma festa para comemo- de café ou a dar nome chila do escritor na redacção da “Ex- que Stieg gastou anos de trabalho em nome do companheiro numa garrafa rarem os 50 anos. Chamariam os ami- po”. Esse saco continha a sua agenda, cada livro, como diz que tinham uma de cerveja, num pacote de café ou a gos e, no final, revelariam que se tra- a um carro com o sumário e detalhes da edição linguagem comum, escreveram várias dar nome a um carro. tava da festa de casamento. “Desde da revista que preparavam, e o com- uma viagem que fizemos a Lisboa, em putador portátil que pertencia à re- 2001, guardávamos para a festa dos vista. Ali estavam os seus artigos, a ENCENAÇÃO e REALIZAÇÃO VÍDEO FIGURINOS nossos 50 anos uma garrafa de vinho correspondência, as suas investiga- JOÃO LOURENÇO BERNARDO MONTEIRO do Porto ‘Quinta Noval 1976’. Contu- ções, os contactos das fontes, etc. “O MÚSICA COREOGRAFIA do não tivemos tempo, nem para o quarto volume de Millennium encon- MAZGANI CLÁUDIA NÓVOA casamento, nem para a festa. Esta da revista “Expo”. Eva estava noutra tra-se aqui...talvez.”, escreve Eva. CENÁRIO SUPERVISÃO AUDIOVISUAL garrafa aparece no segundo volume cidade. Quando chegou o companhei- “Tem mais de duas centenas de pági- ANTÓNIO CASIMIRO AURÉLIO VASQUES de ‘Millennium’, no apartamento no- ro estava morto. Nas memórias conta nas pois quando fomos para férias, JOÃO LOURENÇO LUZ vo de Lisbeth Salander. A garrafa está com pormenor o que se passou nesses no último Verão que passámos juntos, MELIM TEIXEIRA agora na minha cozinha. Nunca a irei dias, nos meses e nos anos seguintes. Stieg já tinha escrito mais de 160”, diz [ m/12 ] abrir”, escreve Eva Gabrielsson em Os direitos já foram vendidos para Eva, que arrisca afirmar que o seu “Millénium - Stieg et moi”, livro de dezanove países mas ainda não foram companheiro talvez tenha conseguido QUARTA A SÁBADO 21H30 DOMINGO-MATINÉE 16H00 memórias publicado a semana passa- adquiridos para Portugal. escrever mais 50 páginas até ao dia da, em França, pela editora Actes Sud. em que morreu. “Não pretendo con- Escrito pela viúva de Stieg, com a aju- Vingança tar aqui a trama do quarto volume. da da jornalista francesa Marie-Fran- “Millénium - Stieg et moi” tem cerca Mas tenho vontade de dizer que, nes- çoise Colombani, a obra conta a sua de 200 páginas e não nos revela nada te livro, Lisbeth liberta-se pouco a versão dos acontecimentos que viveu de muito surpreendente. Embora Eva pouco dos seus fantasmas e dos seus depois da morte do escritor, em 2004, conte de forma estruturada e, por ve- inimigos. Cada vez que ela se conse- e fala da sua indignação quando se zes, detalhada, o que se passou na sua gue vingar de uma pessoa que lhe fez VERSÃO JOÃO LOURENÇO | VERA SAN PAYO DE LEMOS viu confrontada com a lei da sucessão vida antes e depois da morte de Stieg mal, fisicamente ou psicologicamen- BERTOLT BRECHT DRAMATURGIA VERA SAN PAYO DE LEMOS sueca. Quando não há testamento, os Larsson, já contou grande parte do te, apaga a tatuagem que para ela re- COM herdeiros são os familiares mais pró- que ali é descrito em entrevistas, no- presenta essa pessoa. Enquanto os ANTÓNIO PEDRO LIMA | CÁTIA RIBEIRO ximos, neste caso o irmão e o pai de meadamente naquela que deu ao íp- piercings correspondem a um fenó- ESTRUTURA PATROCINADA PELO CARLOS MALVAREZ | CRISTÓVÃO CAMPOS Stieg. silon, em Estocolmo, o ano passado meno de moda entre as pessoas da FRANCISCO PESTANA | JOÃO FERNANDEZ LUIS BARROS | MAFALDA LENCASTRE Tudo teria sido diferente se, naque- (edição de 30 de Abril 2010). A novi- sua idade, para Lisbeth as tatuagens MAFALDA LUÍS DE CASTRO | MARTA DIAS le Outono, Stieg e Eva se tivessem ca- dade é a publicação de uma carta que são uma pintura de guerra”, lê-se na MIGUEL GUILHERME | MIGUEL TAPADAS sado. O escritor morreu a 9 de No- Stieg escreveu antes de partir para página 184. APOIO PATRÍCIA ANDRÉ | RUI MORISSON vembro, num hospital de Estocolmo, África, em 1977, e que ela só encontrou Eva conta que Stieg escreveu duas SARA CIPRIANO | SÉRGIO PRAIA SOFIA DE PORTUGAL na sequência de uma crise cardíaca: depois da sua morte; a transcrição dos mil páginas em dois anos, “quase sem VASCO SOUSA sentiu-se mal ao subir as escadas do diários de Eva dos últimos anos onde notas, sem pesquisa, a não ser em re- edifício onde trabalhava, a redacção assistimos, passo a passo, ao processo lação a pequenos detalhes, sem in-

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 21 ALEMANHA

Berlim FRANÇA Nanterre

ITÁLIA

Palermo

Tel Aviv ISRAEL

BURKINA FASO

Bobo-Dioulasso

22 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon Teatros de portas abertas ao

“Third Generation”, Habimah National Theatre (Tel Aviv) / Schaubühne (Berlim) A dramaturga e encenadora israelita Yael Ronen tem feito sucessivas experiências de cruzamento das narrativas identitárias de Israel com mundo Yael Ronen pôs israelitas, palestinianos e alemães a lamberem as feridas histórias contíguas como a da Palestina, da Alemanha e do Holocausto e da ocupação. Matteo Bavera abriu um teatro num da Polónia. “Third Generation” é a última dessas bairro infrequentável e salvou miúdos com textos de Shakespeare. Jean- experiências. Louis Martinelli levantou uma “Medeia” do chão do Burkina Faso. Hoje e amanhã, eles vêm ao Porto dizer o que o teatro pode fazer pelo mundo – numa sala, o S. João, que tem o mundo inteiro nas traseiras. Inês Nadais

Há quatro anos, quando o barbeiro com a Schaubühne de Berlim, foi a tro. De qualquer modo, não é um te- argelino Samir Moussa foi preso na sua última e mais transformadora ex- “O conflito israelo- ma que eu possa evitar. O conflito Rua Cimo de Vila por suspeita de li- periência: um espectáculo triangular israelo-árabe incomoda-me demasia- gações ao terrorismo internacional, em que quatro israelitas, quatro pa- árabe incomoda-me do no meu dia-a-dia. Se me limitasse o Porto acordou para o facto de ter o lestinianos e quatro alemães da ter- demasiado no meu a montar Shakespeare e Molière, sen- mundo inteiro, Al-Qaeda eventual- ceira geração pós-Holocausto abrem tir-me-ia uma hipócrita”. Também mente incluída, nas traseiras do Tea- as bonecas russas de uma longa nar- dia-a-dia. Se me não seria o Habimah (de que o seu tro Nacional S. João (TNSJ). Até hoje, rativa de culpa e vitimização. pai, Ilan Ronen, é aliás um dos direc- esse mundo de barbearias argelinas, É provável que amanhã, no Porto, limitasse a montar tores artísticos) a pedir-lhe para evitar lojas de pedras preciosas bengalis, Ronen repita o que disse ao Ípsilon o tema: as missões estatutárias do te- talhos “halal” e balconistas paquista- por telefone, desde Tel Aviv, quando Shakespeare atro nacional israelita incluem “pro- neses, de um lado, e, do outro, o mun- lhe perguntámos o que é que o teatro duzir peças que confrontem as rela- do do S. João, onde nem a parte da pode fazer pelo entendimento israe- e Molière, sentir-me-ia ções israelo-árabes, as tensões entre Rua do Cimo de Vila que é mais “na- lo-árabe: “Como é óbvio, absoluta- uma hipócrita” judeus religiosos e seculares e entre cional” (a das tascas com presuntos mente nada. E no entanto as pessoas israelitas imigrantes e nativos, e ainda “Shakespeare Salvato suspensos do tecto e “boîtes” à antiga são influenciadas pelas mais variadas Yael Ronen o estatuto da mulher, a corrupção dai Ragazzini”, Teatro portuguesa) costuma entrar, continu- coisas: incidentalmente, uma dessas burocrática, o fosso geracional, o Ho- am a ser realidades paralelas. Mas é coisas pode ser a minha peça de tea- locausto”. Garibaldi alla Kalsa de casos em que o teatro saiu à rua (Palermo) que se vai falar hoje e amanhã no TNSJ: o colóquio que abre o programa O Teatro Garibaldi investe na Odisseia traz ao Porto a israelita que produção de textos clássicos pôs judeus, palestinianos e alemães com um elenco formado por a lamberem juntos as feridas do Ho- adolescentes da burguesia e locausto e da ocupação, o italiano que do proletariado de Palermo. reabriu um teatro em ruínas num bairro infrequentável de Palermo e No ano passado, o cineasta salvou miúdos da delinquência com Raoul Ruiz rodou um textos de Shakespeare, e o francês documentário com eles, que foi ao Burkina Faso levantar uma “L’Estate Breve”. “Medeia” do chão para depois a es- trear em Nanterre. Dizem que é como andar de bicicleta: depois de apren- der como se faz, nunca se esquece. Yael Ronen ( Jerusalém, 1976) tem, digamos, andado várias vezes de bi- cicleta nos últimos anos. Faz política por outros meios desde que, em 2005, estreou “Plonter” no Cameri Theatre de Tel Aviv – lá fora o Governo cons- truía um muro para isolar a Faixa de Gaza, lá dentro ela juntava israelitas e árabes israelitas num drama políti- “Médée”, Théâtre de co sobre a interminável história de violência de Israel em que todas as Nanterre-Amandiers partes do conflito perdiam a face. Três (Nanterre) anos depois, foi para Wroclav traba- lhar com actores polacos sobre a me- Depois de uma viagem ao mória do Holocausto (ou seja: abrir a Burkina Faso, o encenador ferida da colaboração da sociedade Jean-Louis Martinelli quis civil polaca no extermínio dos judeus fazer uma “Medeia” só com da Europa), ao mesmo tempo que o encenador polaco Michal Zadara fazia actores africanos. Vieram de o movimento inverso e se instalava Bobo-Dioulasso para ensaiar em Tel Aviv para tratar o outro lado e estrear em Nanterre. A peça da questão (a história mal contada dos continua em digressão e polacos anónimos a quem muitos ju- estará no Porto em Maio. deus devem a vida) com actores isra- elitas. Dessas linhas cruzadas resultou um díptico, “Bat Yam” / “Tykocin Ex- press”, que resume o método de tra- balho de Yael Ronen: nos espectácu- los dela, os actores não representam, mudam verdadeiramente de pele (e com eles os espectadores). “Third Generation” (2009), coprodução do Habimah National Theatre de Tel Aviv

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 23 O Garibaldi, em Palermo, é absoluta mente singular (ou pelo menos era, até às obras de restauro que ainda não estão termi- nadas): sem tecto e sem palco, é um teatro onde qualquer pes soa, qualquer gato, pode entrar a qualquer hora

“O melhor teatro toridades de Tel Aviv fizeram cons- Shooting” com imagens do “mais be- truir um abrigo anti-aéreo que pode lo teatro do mundo, o Garibaldi”). que se pode fazer acolher até 1600 pessoas em caso de “Nunca faço audições para o projecto. bombardeamento. Encontro uns miúdos, que depois é o teatro não trazem outros, e a companhia forma- Garibaldi, teatro aberto se sozinha. Quando começámos, hou- profissional. Dois mil quilómetros a Oeste de Tel ve um criminoso aqui do bairro que Aviv, numa cidade mais a Sul da Eu- me pediu para pôr as suas duas filhas É o único que muda ropa do que certos pontos do Norte no projecto. E depois descobrimos realmente as pessoas” de África, Matteo Bavera (Santa Aga- um miúdo que se escondia para as- ta de Militello, Sicília, 1955) também sistir aos ensaios e depois na escola Matteo Bavera, decidiu aventurar-se numa zona de dizia Shakespeare de cor. O melhor guerra: Kalsa, um bairro infrequen- teatro que se pode fazer é o teatro não Teatro Garibaldi tável de Palermo (um teatro em ruínas profissional. É o único que muda re- inaugurado em 1862 pelo próprio Ga- almente as pessoas”, explica o direc- ribaldi e depois sucessivamente aban- tor do Garibaldi. Nos últimos 14 anos, donado e reconvertido em cabaré, viu o teatro passar de ruína “off-li- Quando se estreou em Berlim, cinema porno, “hall” de boxe, e à vol- mits” a acontecimento europeu, mas “Third Generation” tinha em cima um ta todos os tipos de tráfico e de crimi- “foi muito difícil”: “Um teatro signi- estágio de um mês em que os actores nalidade, a pobreza e a Máfia, outra fica luzes e projectores, e o bairro tiveram de lidar em conjunto com história interminável). Chamou um vivia sobretudo do tráfico. As luzes todo o pesado historial dos seus pas- encenador, Carlo Cecchi, e pergun- não eram bem-vindas. Às tantas per- sados cruzados, uma série de encon- tou-lhe se queria reabrir o Garibaldi ceberam que éramos um teatro, não tros com especialistas (historiadores, com ele: “Aquilo não era só a ruína espiões da polícia. E quando alguém jornalistas, terapeutas) e visitas de de um bairro em ruínas. Era o espelho roubava a vespa de um espectador, estudos a lugares cruciais da “Shoah” da história trágica de Palermo e da eu punha-me a gritar e a mota acaba- e do conflito israelo-palestiniano Itália. As guerras, as Brigadas Verme- va por aparecer. Isso também tem a (campos de concentração, memo- lhas, a Máfia, num século passámos ver com o facto de termos falado, nas riais, “checkpoints”). “Sentimos alívio de um horror a outro”, recordava Cec- nossas peças, do proletariado paler- nos espectadores, como se finalmen- chi há uns anos ao “Le Monde”. mitano, que é invisível mas ainda exis- te alguém falasse daquilo de que to- Quando Bavera o ocupou, em 1996, te, e dos imigrantes, que vivem numa dos queremos falar mas não temos o Garibaldi estava abandonado há 30 espécie de enclave fora da civilização. coragem. Sobretudo na Alemanha”, anos e a população do bairro tinha E também se deve aos miúdos, que diz Ronen. É tudo mais fácil entre is- pilhado todo o recheio, mas o encan- fizeram a ponte com o bairro”. raelitas e alemães, por causa da dis- to era justamente esse: era “o esque- Veio o bairro, vieram os espectado- tância: “Com os alemães sentimos o leto de um teatro”, uma sala verda- res, veio até a especulação imobiliá- poder de perdoar, o poder de esque- deiramente aberta à cidade, sem tec- ria: “O bairro mudou verdadeiramen- cer. Com os palestinianos, ainda é to nem palco, onde qualquer pessoa te por causa de um teatro”, sublinha tudo muito emocional. E há uma linha (qualquer gato) podia entrar a qual- Bavera. Esse teatro está fechado há vermelha: sempre que aparecia a quer hora. A primeira encenação de três anos para restauro e como, ape- comparação entre o Holocausto e a Cecchi para o Garibaldi foi um “Ha- sar de tudo, esta ainda é “uma histó- ocupação, era o fim da discussão”. mlet” (“Queria reabrir um teatro- ria siciliana”, as obras demoraram Por lamber feridas que estão longe fantasma com um fantasma. As pes- tempo a mais e parte do dinheiro de- de sequer começar a cicatrizar, e soas do bairro vieram. Pensavam que sapareceu. “O nosso projecto foi tra- questionar a importância despropor- a peça tinha sido escrita para elas por- ído – só queríamos reforçar a segu- cionada do Holocausto na identidade que ouviam um homem a dizer ao rança, mas vedaram o teatro à luz do israelita, o Governo não ficou dema- filho: tens de te vingar”), e a partir daí sol e perdemos as maravilhosas pare- siado contente com a peça: “O Minis- o teatro começou a funcionar a duas des descascadas que ainda eram do tério dos Negócios Estrangeiros achou velocidades: cruzando a atenção aos tempo do Garibaldi. Vamos perder que este triângulo era demasiado ex- autores locais (Emma Dante, Davide imenso tempo a reverter as obras”. plosivo”. “Third Generation” provo- Enia, Franco Scaldati, Giuseppe Mas- A lição do Garibaldi, apesar de tu- cou “discussões apaixonadas, verda- sa) com a atenção aos grandes do te- do, é que nenhum tempo é tempo deiras lutas entre espectadores” no atro europeu (Chéreau, Brook, Dodin, perdido, nenhum público é público Habimah, mas não conseguiu sair de Warlikowski), e depois investindo nu- perdido. Amanhã, Bavera vem ao Por- Tel Aviv para fazer a programada di- ma formação de públicos que é uma to contar essa história – e Yael Ronen gressão num país onde, mesmo não verdadeira formação artística, através contará a dela, que também ainda podendo fazer, “como é óbvio, abso- do projecto “Shakespeare Salvato dai não sabemos se irá acabar bem. Jean- lutamente nada”, o teatro é uma for- Ragazzini”, que põe adolescentes de Louis Martinelli (Rodez, 1951), direc- ma verdadeiramente popular: “Aqui Palermo a fazerem os clássicos. tor do Théâtre Nanterre-Amandiers, as pessoas vão mais ao teatro do que “É o nosso grande cartão-de-visita”, estará na mesma mesa para dizer co- ao futebol. Mas os três teatros de re- diz ao Ípsilon Matteo Bavera, lem- mo se vai ao Burkina Faso encontrar pertório produzem em hebraico. As brando que o cineasta Raoul Ruiz foi uma “Medeia”. Depois disso talvez o audiências não são muito mistas”. a Palermo de propósito para filmar o TNSJ, e o seu público, possam come- Ninguém acredita verdadeiramen- projecto para o documentário çar ir ao fim da rua Cimo de Vila sem te que venham a sê-lo nos próximos “L’Estate Breve” (e também que Wim ser como quem vai ao fim do mun- tempos. Debaixo do Habimah, as au- Wenders termina o seu “Palermo do.

24 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon FOTOGRAFIAS DE DANIEL ROCHA DE DANIEL FOTOGRAFIAS

O mundo extraterrestre Nas obras de João Maia Gusmão e Pedro Paiva, inesperadas, insolentes, divertidas e profundas, as leis do universo humano cessam de ser úteis. Eis “Breve História da Lentidão e da Vertigem”. Nuno Crespo

João Maria Gusmão (Lisboa, 1979) e peças humorísticas (criam situações Pedro Paiva (Lisboa, 1977) conheceram- O trabalho destes insólitas que provocam riso: mesmo se na Faculdade de Belas Artes em Lis- tratando-se de um riso cínico que as- boa onde ambos estudaram pintura e artistas não sinala um território de compreen- começaram a expor conjuntamente é contemplativo. são), depois percebe-se tratar-se de em 2001. Em 2005 ganharam o Prémio peças pertencentes a um mais vasto EDP Novos Artistas e tornaram-se num O espectador mecanismo de criação de imagens. fenómeno de popularidade, reconhe- Não é uma máquina reprodutiva a cimento e interesse. Foram convidados é colocado qual torna visível o mundo, mas a para a Bienal de São Paulo, estiveram criação da visibilidade, a qual surge na Manifesta e em 2009 foram os re- na situação no trabalho destes artistas como lu- presentantes oficiais de Portugal na gar de decepção. 53ª Bienal de Veneza. Já este ano a de explorador A exposição recentemente inaugu- londrina Tate Modern (um dos mu- extravagante: tem rada, “Breve História da Lentidão e seus mais importantes do mundo) da Vertigem”, tem como mote uma adquiriu para a sua colecção um con- de descobrir história acerca das coisas que termi- junto de treze filmes da dupla, escolha nam em rabo de peixe: “conta-se que feita com a ambição de ser uma amos- movimentos, [...] os marinheiros podiam ver e ou- tra coerente do conjunto da totalida- vir nas marés perigosas, imaginando de da obra de Paiva e Gusmão. subtilezas, segredos o que lhes faltava, Vénus despidas Sempre ligados à Galeria Zé dos aos processos criativos e por as suas obras e as palavras são as dos ensaios declinadas nas rochas, sorrindo e Bois e mais tarde à galeria Graça Bran- obras serem inesperadas, insolentes, que escrevem. suspirando canções hipnóticas [...] dão, fizeram exposições muito rele- divertidas e profundas. conta-se ainda que os marinheiros vantes para a construção do que se Se o seu trabalho tem boa recepção As coisas com rabo de peixe inebriados imaginando a genitália da pode chamar “cena da arte portugue- crítica, coleccionadores e uma circu- Gusmão e Paiva criam coisas que no ilha dos amores [...] se atiravam ao sa contemporânea”: os seus “Eflúvios lação internacional pouco comum seu conjunto constroem uma dimen- mar descobrindo tarde demais ser Magnéticos” (2006) e a “Abissologia” para artistas portugueses, isso não se são (fluida, vaga e inconstante) na difícil a cópula com ais fêmeas, por- (2008) inauguraram novas modalida- deve a operações de relações públi- qual as leis do universo humano ces- que afinal tinham escamas.” (texto des estéticas e introduziram novos cas: recusam a mediatização pessoal, sam de ser úteis: passam a corres- da exposição) vocábulos no discurso artístico por- porque só o trabalho é público. Acom- ponder a simples artifícios retóricos, A história aprendida de Horácio é tuguês. São jovens e o trabalho que panharam o Ípsilon na visita à sua palavras ocas sem sentido ou signi- constituída por diferentes camadas, desenvolvem é uma novidade, não mais recente exposição em Lisboa, ficado. não se trata só da sereia ou da ebrie- por ser recente, mas por constituir mas não se deixam citar ou fotografar: Se à primeira vista os seus filmes, dade dos marinheiros, mas de uma uma abordagem inesperada e fértil as imagens que importam são as das fotografias e esculturas são simples metáfora potente acerca da visão

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 25 dos homens. A qual é lugar de en- As ligações gano e decepção: julga-se que as ima- gens dizem as coisas tal-qual elas são, estabelecidas entre mas depois descobre-se terem rabo de peixe. filme, esculturas Este acontecimento assinala a exis- tência de uma zona de indecisão e e o reino animal intervalo na qual é possível assistir-se à criação de figuras, fantasmas e fá- são de tal modo novas bulas. Esse intervalo expressa o que e férteis que criam está entre as coisas e as imagens que os homens fazem delas e é para esse um horizonte lugar que confluem todas as apari- ções e alucinações. Não existe qual- extraterrestre quer tipo de lamento face a esta tra- gédia do olhar humano porque é: “inevitável que existem problemas sem solução” (ibidem). Esta história introduz o visitante da exposição no contexto adequado para poder integrar os diferentes fragmentos que constituem as muitas permanente risco de tomar o rabo de obras, as quais são acontecimentos peixe pela musa mais bela e inspira- insólitos: animais voadores, frutos dora. E o trabalho de Gusmão e Paiva pairantes e batatas com poderes de são um caso exemplar deste risco. levitação. “Sempre se julgou encontrar no rei- Se por um lado, as imagens produ- no animal, entre os bichos fabulados zidas pelo olhar humano são lugar de e os verdadeiros, uma ingenuidade decepção por não se poder copular [...]. Esse mistério — o do homem e do com a realidade, por outro são fonte mundo — surge assim [...] numa Zoo- de prazer: descobrem-se as capaci- logia Extraterrestre que estuda [...] o dades criativas e projectivas ineren- que liga a morte ao mundo e o que tes à inteligência e isso é o garante do liga o mundo à vida, à vida sem con- prazer da arte. siderações, só soluço, lampejo.” Esta Estar sujeito a enganos e a erros frase dos artistas enquadra as acções perceptivos é o motivo estético do animais nos seus trabalhos enquanto trabalho de Gusmão e Paiva e é daqui preocupação zoológica, a qual não que surge o insólito fixado nas foto- ensaia uma classificação das espécies grafias em que os gatos voam, as ga- animais, mas uma fixação descritiva linhas ficam bêbedas, os objectos, das formas improváveis como os ani- permanecendo iguais, multiplicam- mais (reais, possíveis e imaginários) se e certas comidas têm o poder de se comportam. Veja-se o filme “O so- fazer os guerreiros vencer dragões nho de uma raia” ou as fotografias cuspidores de fogo. “Gato a Cair” e “Galinha Bêbeda”, Como conclusão escrevem os ar- Os animais de Gusmão e Paiva são tistas: “há quem chame ao que não extraterrestres porque a sua origem se vê indiscernível e nessa sequência reside no anseio de compreender os em que o homem se alimenta do ritmos formativos das formas visíveis. mundo, representando e idealizando A sua estratégia não é a ridicularização o que o rodeia, também ele é devo- das criações fantásticas (como as coi- rado pelos monstros marinhos e por sas que terminam em rabo de peixe), todos os desconhecidos que esprei- mas fazer a sua genealogia. E nesse tam à esquina.” esforço descobre-se o reino fabulado com a região privilegiado do pasmo Reconstrução do paganismo essencial de Caeiro. Uma zoologia não Se o fantástico e inesperado é um dos dirigida exclusivamente ao reino ani- fios da trama do conjunto destes tra- mal, mas a todas as formas reconhe- balhos, outro é a reconstrução do pa- cíveis: a descrição que materializam ganismo, isto é, Gusmão e Paiva, her- estende-se dos animais aos sólidos deiros do Caeiro de Pessoa, são os geométricos e aos movimentos celes- descobridores da natureza e reconhe- tes e planetários (veja-se os modelos cem no natural, isto é, em todo o fe- astronómicos das câmaras obscuras nómeno que se manifesta, uma divin- “Acerca do Movimento Astronómico” dade. Os artistas constroem uma am- e a fotografia “Sistema Planetário”). bição sensível que anula a lógica Nestes trabalhos nem tudo são fá- discursiva e conceptual e dá lugar ao bulas e metáforas barrocas. Essa exu- anseio pelo contacto directo com to- berância formal e conceptual é acom- das as coisas: “toda a coisa que vemos, panhada por um esforço de rigor devemos vê-la sempre pela primeira traduzido em filmes de acções escul- vez, porque realmente é a primeira tóricas ou, se se preferir, de esculturas vez que a vemos” escreve Caeiro no em movimento. “Guardador de Rebanhos”. O trabalho destes artistas não é con- Recuperar o olhar primitivo é apre- templativo. O espectador é colocado sentado pelo mestre de Álvaro de na situação de explorador extravagan- Campos como um pasmo. Ele que não te: tem de descobrir movimentos, tem filosofia, mas “sentidos… / se fa- subtilezas, segredos. Os enigmas pro- lo na Natureza não é porque saiba o postos não são feitos pelo simples que ela é, / mas porque a amo, e amo- prazer do difícil, mas são desafios co- a por isso” , e é um poeta cujo o olhar locados à sensibilidade e exigidos pe- é “nítido como um girassol […] e o la complexidade imaginativa das fá- que vejo a cada momento / é aquilo bulas que criam. que nunca antes eu tinha visto, / e eu Tudo diz respeito a uma elaborada sei dar por isso muito bem… / sei ter técnica de construção de objectos e, o pasmo essencial.” (ibidem) desta forma, todos os filmes e fotos Se, como escreve o Guardador de podem ser vistos como documenta- Rebanhos, “a nossa única riqueza é ção de processos de criação escultó- ver” e os pensamentos “todos sensa- rica. A relação não é literal ou didác- ções […] pensar uma flor é vê-la e tica (os objectos não estão ao lado dos cheirá-la / e comer um fruto é saber- filmes como se deles fossem ilustra- lhe o sentido”, então está-se no reino ções), mas existe. em que as coisas recuperam uma voz As ligações estabelecidas entre fil- própria e falam na primeira pessoa. me, esculturas e o reino animal são E este discurso, já não conformado à de tal modo novas e férteis que criam matriz humana, revela-se fonte de um horizonte extraterrestre, ou seja, espanto. Ver as coisas sem filosofia, são obras onde se assiste à extrapola- sem projecção ou representação, é ção e exorbitância do curso habitual ficar pasmado porque se submete ao da órbita celeste.

26 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon James Blake Tem 22 anos e é dos “acontecimentos” de 2011. Pág. 28 PEDRO CUNHA PEDRO LIEVEN VAN ASSCHE/ AFP VAN LIEVEN

Charles Mike Leigh Camané Um instantâneo quatro noites Uma Bradley desencantado sobre no S. Luiz. estreia aos 62 anos, a solidão: “Um ano a Pág. 30 um monumento de mais”. Pág. 33 soul. Pág. 28



        

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Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 27

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Pop um som minimalista, atmosférico, hammond fervilhando para se nelas, a soul como vitória sobre os de emoções quase suprimidas. destacar ou remetendo-se, humilde, tormentos da vida. Acontece agora com James Blake, aos bastidores da canção, tem os E, em todas elas, a elegância e A voz alguém que emerge na cena metais acentuando frases ou sabedoria da Menahan Street Band: londrina do dubstep para criar uma oferecendo novos escapes metais em desvio afro-beat em “The sonoridade também ela minimalista, melódicos, tem percussão para world (is going up in flames)”, a visionária de espaçosa, alojando algumas acentuar a elegância do ritmo e um citação enviesada de “Season of the dinâmicas do dubstep (os sub- vibrafone que dá tom de fantasia witch”, pelos Vanilla Fudge, em “I James Blake graves, os ecos, o design sonoro) nocturna a música que é suor de believe in your love”, as figuras de para erguer a sua própria realidade, vida, que é realidade “in your face”, guitarra apontando a uma projectada em baladas soul cheias sem espaço para escapismo. inesgotável fonte soul chamada Ritmo, alma e silêncio. de distorção, lamentos em forma de Charles Bradley não poderia estar Steve Cropper (dos Booker T & MGs) Atitude visionária, narrativas lacónicas e voz alterada em melhor companhia. A Menahan e i, controlo perfeito das dinâmicas minimalismo elegante e digitalmente, algures entre Bon Iver, Street Band, composta por membros musicais, seguindo Bradley nos seus Antony e André 3000 dos OutKast. da Budos Band, dos Dap-Kings, dos caminhos de angústias não uma voz que suspende os Há momentos de quase silêncio, Antibalas ou dos Expressions, resolvidas, de questionamento sentidos. Eis o álbum de mas também apontamentos acompanhantes desse digníssimo social, de conforto e pacificação estreia de James Blake. electrónicos quase industriais. Há veterano chamado Lee Fields, é um encontrados nos braços de uma Vítor Belanciano batimentos cardíacos digitais super grupo versado e rodado em mulher. (“Unluck”, “Wilhelms scream”), toda a música negra. Não são meros Charles Bradley, 62 anos, é o JamesJames BlBlakeake mudanças de intensidade quase conhecedores de todo o funk e toda presente. Valeu a pena a espera. gospel (“Measurements”), mas a soul: são verdadeiramente a soul e

Discos JJamesames BBlakelake AAtlas,tlas, distri. UniversalUnive também canções vulneráveis em o funk. Quando se lhes depara uma carne viva ao piano (“Limit to your voz como a de Charles Bradley, de mmmmmmmmmm love”, versão de uma canção da uma rouquidão exigente, dramática Blues canadiana Feist, ou “Give me my na catarse e na ternura, é como se O inglês James month” e “Why don’t you call me”). cumprissem o seu destino. Blake, 22 anos, Composto, produzido e gravado Quando ouvimos uma voz como a Explosion marcou o ano inteiramente por Blake, o álbum de Charles Bradley, falar de transacto com apresenta-se tal e qual foi feito no revivalismo torna-se um absurdo. é o número 1 três magníficos seu quarto, porque recusou as Sim, “No Time For Dreaming” é um EPs (“The bells sugestões das editoras que o álbum de soul clássica, filiação Stax, sketch”, “CMYK” pretendiam regravar com um James Brown, Marvin Gaye. Mas que Reedição da discografia que e “K“Klavierwerke”).lavierwerke”) Para os mais produtor. Fica-lhe bem a atitude. isso não nos desvie do essencial: interessa. Mário Lopes aatentos,tentos, não é nenenhumn Porque é um disco de canções Bradley não surge aqui como ddesconhecido.esconhecido. O álbumá de estreia, secretas, de climas introspectivos, veterano que nos recorda mitos de Jon Spencer Blues Explosion qqueue agora é lançadolançad em todo o de sensibilidade melódica, com uma ontem. Construiu-se nessa história Year One mmundo,undo, surgesurge enenvoltov com o economia narrativa e pormenores para se apresentar perante nós, carimbocarimbo dede “acontecimento”,“aco com digitais de produção únicos, e que agora, com a sagacidade de uma mmmnn o que isso temte de potenciador apetece partilhar com poucos, vida longa e com a ambição de um de curiosidadecurios e também apesar de, felizmente, muitos se novato desejoso de deixar a sua de possíveisposs efeitos irem deixar enredar nas suas marca. prejudiciais.prejud malhas. Ainda bem. “No Time For Dreaming” é um Extra Width Ou seja, não é um álbum de acusações e de alertas, de álbumálbu para o qual se salvação e concórdia. É a vida de um mmmmn partapar com um olhar Monumento homem ou, perdoe-se a límpido.lím Como redundância, a alma de um homem aconteceaco quase tornada canção. Estupendas sempresem nestes casos, soul canções: o desespero sem Orange o olharo de muitos já resignação do primeiro single, “The estáes radicado em A estreia de Charles Bradley, world (is going up in flames)”, a mmmmm juízosju pré-definidos. exuberância de “Golden rule” ou a AtéA nesse sentido 62 anos. Mário Lopes autobiografia como motor criativo serás uma obra Charles Bradley nas turbulentas “HowHow long”long e “WhyWhy incontornáveli de isis itit so No Time For Dreaming Now I Got Worry 2011.2 A história de Dunham / Daptone Records hard”hard” JamesJ Blake, como – mmmmn todas,t é nova e mmmmm velha.v Nova, porquepo aquilo que No fim, tudo sese temtem para propor é resume a estaa voz. Controversial realmenterealmente sisingular.n Velha, Uma voz Negro porqueporque é recorrentereco na música imponente, todaoda James Blake: popular sursurgiremg projectos em ela urgência, já um dos mmmnn determinadodeterminado momento do uma voz em “aconte- crescimentocrescimento de uma que acreditamos, sem cinismo cimentos” linguagemlinguagem (neste(n caso do e sem reservas. Há algo de de 2011 dubstep)dubstep) quequ a elevam a novos demasiado real, de ACME patamares,patamares, criando vasos indiscutivelmente verdadeiro comunicantescomunicant com um na voz de Charles Bradley, 62 mmmnn públicopúblico maisma plural. anos e álbum de estreia acabadoo AconteceuAconteceu ccom Arthur Russell de editar – e, sim, temos perfeitaa Charles Todos Shove; comcom o movimentomovi “disco”, consciência que “verdade” é umm distri. Popstock apesar de sósó recentemente ter conceito de aplicação perigosa nana Bradley: sidosido redescoberto;redesc com os música popular. Ainda assim, é issoisso a alma de SSer os Jon Spencer Blues PortisheadPortishead nno período pós- que sobressai neste monumentoo um homem EExplosion, maravilhosos hip-hop;hip-hop; ou com os The xx, soul que é “No Time For Dreaming”.ing”. tornada bbastardos do rock’n’roll que mais recentemente,recente através de Álbum sem tempo, tem o órgãoão canção rreescreveram a história toda

28 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon base de tudo e as ancas como alvo A cada ano que passa, a influência a crescer. privilegiado. avassaladora de Bill Evans cresce e Pepper Adams é, juntamente com Com “Orange”, os Blues Explosion atinge não só pianistas de jazz de Gerry Mulligan, o mais influente venderam às centenas de milhar e todos os quadrantes (Hancock, saxofonista barítono da sua geração, encheram concerto atrás de Jarrett, Mehldau, Moran) como encontrando-se no topo da galeria concerto das suas intermináveis pianistas das mais diversas áreas jazz ao lado de Harry Carney ou digressões. “Now I Got Worry” musicais, da clássica ao rhythm & Serge Chaloff. Bastante menos (1996) foi a resposta ao novo blues. É hoje difícil encontrar um reconhecido do que Mulligan, estatuto. Abre com um berreiro practicante do instrumento que Adams espalhou o seu talento por tétrico, acelera demencial no não o referencie. “Waltz for Debby”, gravações de gente tão ilustre como “hardcore” de “Identify” e, em uma das suas gravações mais Aretha Franklin, Charles Mingus, “Fuck shit up”, versão dos Dub importantes, complementa um Carmen McRae, Thelonious Monk, Narcotic Soundsystem, leva a um outro registo de referência, “Sunday Joe Williams ou Dizzy Gillespie. Com extremo vanguardista, psicótico, a at the Village Vanguard”, gravado na uma reputação construída em inspiração nas produções hip hop mesma sessão, e fornece-nos pistas Detroit, Adams possuia um estilo aflorada em “Orange”. “Now I Got valiosas, sob a forma de música, explosivo que acabaria por lhe valer Worry”, versão negra do seu para compreender a atracção a alcunha de “the knife”, sendo exuberante antecessor, é o segundo mágica e magnética da sua obra. impossível ficar indiferente à forma melhor álbum da Blues Explosion. Gravado ao vivo no famoso incisiva e “quente” como Depois dele, “ACME” (1998). clube de Nova Iorque com o trio improvisava. Da sua extensa Produzido em grande parte por lendário formado por Evans, o discografia, destacam-se “Mingus Ah Ser os Jon Dan The Automator, é um festim de contrabaixista Scott LaFaro (que Um”, gravado com Mingus, “At Town Spencer Blues Farfisas e produções luxuriantes. São acabaria por falecer poucos dias Hall”, com Monk, e em nome Explosion, os Blues Explosion concentrados após a sessão) e o baterista Paul próprio, “10 to 4 at the 5-Spot”, um maravilhosos como nunca antes na textura do som, Motian, “Waltz for Debby” inclui clássico de 58 em que participa o bastardos do na demanda do groove soul, mas interpretações intemporais de “My grande Elvin Jones, e este “Plays rock’n’roll que falta-lhe o sentido de urgência dos foolish heart”, “Waltz for Debby”, Charles Mingus”, gravação realizada reescreveram álbuns anteriores. Falta-lhe, por “My Romance” e “Milestones”. em quinteto e octeto que inclui Thad a história exemplo, a chama que ilumina Evans foi um dos primeiros a Jones, Zoot Sims, Hank Jones e Paul toda sem que “Controversial Negro”, bootleg ao democratizar o papel do contrabaixo Chambers, entre outros. Com o ninguém vivo de um concerto no Tucson, em e da bateria no seio do trio, dando- material escolhido em conjunto com percebesse o 1996, que preserva para a posteridade lhes total liberdade para uma maior o próprio Mingus, é um álbum de que se estava o portento que era em concerto da interactividade musical, conferindo jazz intenso, hard-bop de alta a passar, não banda agora regressada aos palcos. à sua música uma rotatividade, contaminado pelo terá sido nada Spencer, exibicionista como se contemporaneidade que não se blues e pelo conturbado período menos que deseja, provocador como se impõe, esgota, continuando, pelo contrário, político que se vivia na altura. glorioso exaltava a multidão com o seu teatro de uivos e vibrato em tom grave, com sem que ninguém percebesse Negro” aumentado com as canções o grito que se faz ouvir, novamente e exactamente o que se estava a de um outro concerto, registado em por fim: “The blues is number 1”. passar, não terá sido nada menos 1994. Depois destes discos, ainda que glorioso. Na nossa memória, Aquilo que começou como colisão vieram os canónicos “Plastic Fang” A cada ano pelo menos, fixaram-se assim: furiosa e aparentemente (2002) e “Damage” (2004), mas que passa, “Bellbottoms”, toda ela o groove desgovernada de ruído punk e nestes anos 1990 em que os ouvimos a infl uência bombástico do imenso Russel Simins bravado rockabilly (com versão de novamente, é tudo verdade avassaladora (o baterista), o uivo tresloucado de Jerry Lee Lewis, “Lovin’ up a storm”, “Number 1”. de Bill Evans Spencer, o vocalista que encarnou em “Year One”) tornou-se cresce Jagger e Presley como em BD de Lux rapidamente uma máquina criativa Interior, e os riffs de Judah Bauer impressionante. Em “Extra width” Jazz montados em fluxo de consciência. (1993), com “Afro”, com “Soul O início com orquestração à Isaac typecast”, os Blues Explosion Hayes, a libidinosa aceleração final e abrem-se à soul e aos teclados Valsas o rock’n’roll a cumprir-se como Booker T sem perder as qualidades possibilidade de futuro, como corrosivas e experimentam o e hard bop descontrolo cuidadosamente estúdio de forma consistente, encenado para nossa libertação. criando algo como “Inside the world Os Jon Spencer Blues Explosion, of the Blues Explosion” - bateria e Dois registos obrigatórios confirmamo-lo agora, vinte anos Hammond trabalhados como que nos relembram a depois de se terem formado das produção hip hop. Em “Orange” importância da tradição cinzas dos Pussy Galore, foram (1994), floresce tudo o que precisamente isso, uma libertação. semearam anteriormente. O estúdio histórica nos rumos actuais As reedições que nos devolvem tudo torna-se, mais que nunca, um do jazz. Rodrigo Amado aquilo que interessa da sua carreira, instrumento fundamental, e as ou seja ,da compilação “Year One” canções transformam-se em Bill Evans (os álbuns, EPs e demais gravações laboratório de experiências: “play Waltz for Debby do primeiro ano de vida) a “ACME”, the blues, punk!”, outro berro Riverside, dist. editado em 1998, quando o grito de emblemático, mostra que se Universal todos os conce rtos, “The blues is mantém a pose confrontante, mas, number 1!”, já tinha ensurdecido q.b. nesta altura, os Blues Explosion mmmmm o mainstream, mostram-nos que surgem como algo novo – uma banda sim. Confirma-se. É isso mesmo Jon, experimental que desconstruía o Pepper Adams “the blues is number 1” - e agora, em blues em estilhaços, que Plays Charles reedições “deluxe”: “Extra Width” transformava o legado dos Meters Mingus em conjunto com “Mo Width”, em funk para sintetizador e cowbell Fresh Sound, dist. “Orange” com “Experimental (“my father was sister Ray”, avisa Mbari Remixes”, “Now I Got Worry” com Spencer), que demonstrava prazer 16 faixas bónus, “ACME” com “XTRA genuíno em chafurdar na sujidade e mmmmn ACME”, e o ao vivo “Controversial no ruído – tinham o rock’n’roll como

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 29 Pop No São Luiz, além dos temas do disco, haverá cada noite um tema diferente, retirado do repertório de Camané para canções de amor de David Mourão- Ferreira, como “Noite apressada”, “Abandono” ou “Praia de Outono”. mais dias Porque, diz o fadista, “têm a ver com a temática do disco”, onde a “Do Amor e dos Dias” em presença do poeta é já forte. Haverá também um outro tema, que ele não quatro noites no São Luiz. quer revelar ainda, que cantará nas Nuno Pacheco quatro noites. Um tema de que ele gosta muito há vários anos e que será Camané uma surpresa para os que o forem ouvir. Os que já conhecem o disco Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz - Sala Principal. R. Antº Maria Cardoso, 38-58. De 5ª, 3, a Dom., 6, têm-no felicitado. “Muitas pessoas às 21h. Tel.: 213257650. 10€ a 20€. me vêm falar da identificação que têm com os fados, até pessoas muito Quando estreou “Do Amor e dos mais novas, crianças que falam no Dias” no CCB, a 7 de Outubro de fado do periquito…” 2010, Camané não sabia ainda o que Para Camané, este disco é muito o esperava: um espectáculo perto da importante. “Deu-me a oportunidade perfeição e a declaração do disco, de crescer como intérprete. O facto por voto praticamente unânime da de ter um registo emocional mais Um monumento da liturgia ortodoxa no CCB crítica, como o melhor da produção irónico, mais extrovertido, fez com portuguesa do ano passado. Agora, é que eu saísse mais de mim e já com essa responsabilidade sobre conseguisse até surpreender-me. É GB Records, Ondine e Naïve) incluem Letónia será também o protagonista os ombros que ele se lança à estrada um disco que me ensinou a fazer peças de compositores letões como da abertura do ciclo Sofia para levar esse trabalho a outros diferente.” Na véspera da primeira Kristaps Petersons e Martins Vilums Gubaidulina. palcos, a começar já pelo do São noite no São Luiz, dia 2 pelas 21h, (primeiro prémio da UNESCO Luiz, nas noites de 3, 4, 5 e 6 de será inaugurada no Museu do Fado International Rostrum of Composers) Fevereiro. “Já houve uma certa uma exposição sobre Camané, onde e grandes obras da história da música Diálogo de culturas rodagem do disco, com concertos em “será possível ouvir as primeiras coral como a “Liturgia de São João Novembro, já estou mais livre para gravações, conhecer a génese do Crisóstomo”, de Rachmaninov. Al-Kindi Ensemble descobrir outras coisas e os músicos culto fadista na sua tradição familiar” Será precisamente com outro Direcção Musical de Julien Jâlal também já estão mais à vontade”, diz e, anuncia-se, “conhecer a fundo o grande monumento musical da Eddine Weiss. Camané. “A passagem para repertório imaculado da sua liturgia ortodoxa da autoria de Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian - Grande espectáculo foi complicada porque discografia”. Rachmaninov que o Coro da Rádio da Auditório. Av. Berna, 45A. 2ª, 31, às 21h. Tel.: este é um disco com muita Letónia regressa ao Centro Cultural 217823700. 15€ a 20€. informação, mais difícil de tocar e de de Belém. No próximo dia 3, sob a Músicas do Mundo. cantar também. Mas o facto de Clássica direcção de Sigvards Klava, interpreta estarmos mais à vontade agora as Vésperas op. 37, do compositor O ensemble Al-Kindi, um dos também não nos deve descansar russo, uma obra-prima de intensa melhores agrupamentos mundiais no muito, porque gosto da possibilidade Espirituali- espiritualidade e magnificência domínio da música clássica árabe, é

Concertos e a esperança de fazer melhor.” sonora composta em 1915. Trata-se de um dos próximos convidados do dade russa um ciclo de 15 cânticos para ciclo dedicado às Músicas do Mundo contralto, tenor e coro “a cappella”, na Gulbenkian. Na próxima segunda- que cobrem uma série de rubricas do feira, traz ao Grande Auditório um Além das canções do disco, O Coro da Rádio da Letónia Ofício Divino segundo o uso programa ambicioso, que gira em Camané vai incluir um traz as “Vésperas” de monástico (com um paralelo nas torno da adoração da Virgem Maria tema diferente por concerto, Vésperas, nas Matinas e na Hora por muçulmanos e cristãos. Aos NUNO FERREIRA SANTOS Rachmaninov, obra lapidar retirado do repertório Prima da Igreja Católica Romana), e habituais cinco instrumentistas do de David Mourão-Ferreira do repertório ortodoxo. que era designado originalmente por Al-Kindi, liderados por Julien Jâlal Cristina Fernandes “Vigília”. Apoiando-se em antigas Eddine Weiss, junta-se um conjunto melodias de várias tradições da Igreja de 20 figuras, incluindo um coro Coro da Rádio da Letónia Ortodoxa (canto “znamenny”, o bizantino, derviches sírios com as Direcção Musical de Sigvards Klava. equivalente russo do gregoriano) e na suas rodopiantes danças rituais e o harmonia modal, Rachmaninov cantor soufi Sheikh Habboush. Lisboa. Centro Cultural de Belém - Pequeno Auditório. Pç. Império. 5ª, 3, às 21h. Tel.: 213612400. utiliza o princípio da “orquestração Criado em 1983 por Julien Jâlal 12,5€ a 15€. coral”, recorrendo à junção e à Eddine Weiss, o Al-Kindi dedica-se às Obras de Rachmaninov. oposição de timbres e a uma grande tradições musicais eruditas do variedade de técnicas de escrita. No Próximo e do Médio Oriente. Grande Fundado em 1940, o Coro da Rádio dia 5, sábado, o Coro da Rádio da virtuoso do kanun (cítara áárabe),rabe), da Letónia é actualmente um dos agrupamentos corais mais importantes da Europa. Ao longo das últimas duas décadas, ganhou vários prémios e participou nos mais prestigiados festivais. Desempenha também um papel crucial na promoção dos compositores da Letónia através da encomenda anual de uma média de dez novas obras. Os Ao Ensemble Al-Kindi vai juntar-se, na Gulbenkian, elementos do coro exploram também um conjunto de 20 fi guras, incluindo um cantor soufi , novas técnicas de canto, constituindo derviches sírios e um coro bizantino um verdadeiro laboratório de apoio à criação contemporânea. As suas gravações (em etiquetas como a BIS,

30 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon Luther “Guitar Junior” abre o Fátima ciclo Hootenanny Miranda Os Young Gods na Guarda em digressão

Julien Weiss nasceu e cresceu em Paris, tendo começado por estudar Agenda guitarra clássica, mas cedo começou a pôr em causa os valores da cultura Sexta 28 ocidental. Em 1976, depois de ter realizado viagens à Califórnia, a Deolinda Marrocos e às Antilhas, a audição de Lisboa. Coliseu. R. Portas St. Antão, 96, às 21h30. um disco do iraquiano Mounir Bachir Tel.: 213240580. 15€ a 35€. (grande mestre do oud, alaúde Pedro Abrunhosa oriental) impressionou-o de tal modo Famalicão. Casa das Artes - Grande Auditório. Pq. de Sinçães, às 21h30. Tel.: 252371297. 15€. que trocou a guitarra clássica e as harmonias do jazz pelo estudo da Nelson Cascais Quinteto música micro-tonal oriental, do Lisboa. Onda Jazz. Arco de Jesus, 7, às 22h30. Tel.: 919184867. 8€. alaúde árabe e das múltiplas possibilidades do kanun. Em Sábado 29 conjunto com as suas pesquisas sobre música árabe, Weiss dedicou-se ao Luther “Guitar Junior” & The estudo das teorias musicais gregas, Magic Rockers persas, turcas, bizantinas e ocidentais Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco do Cego, às 21h30. Tel.: 217905155. 5€ a 18€. e fez experiências comparativas com Ciclo Hootenanny. diferentes práticas musicais. Neste percurso foi decisiva a criação do Yasmin Levy Lisboa. Fundação Gulbenkian. Av. Berna, 45A, às ensemble Al-Kindi, cujo nome faz 21h. Tel.: 217823700. 15€ a 20€. referência ao filósofo, matemático e astrónomo iraquiano do século IX The Young Gods Porto. Hard Club. Pç. Infante, 95, às 22h. 15€. Abu Yusuf Al-Kindi, pai da teoria musical árabo-muçulmana. C.F. Deolinda Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96, às 21h30. Tel.: 213240580. 15€ a 35€. Jazz Rodrigo Leão Almada. Teatro Municipal de Almada. Av. Prof. Recorte clássico Egas Moniz, às 21h30. Tel.: 212739360. 25€. Pedro Abrunhosa Famalicão. Casa das Artes - Grande Auditório. Afonso Pais Trio Pq. de Sinçães, às 21h30. Tel.: 252371297. 15€. Porto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho de Fátima Miranda Albuquerque. Dom., 30, às 22h. Tel.: 220120220. 10€. Guarda. Teatro Municipal - Pequeno Auditório. Ciclo Jazz Galp. R. Batalha Reis, 12, às 21h30. Tel.: 271205241. 10€. O guitarrista Afonso Pais é um dos Orquestra Sinfónica do Porto Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de músicos de jazz nacionais com maior Albuquerque, às 18h. Tel.: 220120220. 20€. consistência. Mantendo-se afastado 2001: Odisseia no Espaço. de modas ou tendências do momento, tem desenvolvido um Orquestra Sinfónica Portuguesa percurso sólido, apoiado pela edição Lisboa. CCB - Grande Auditório. Pç. Império, às de registos que documentam bem a 21h. Tel.: 213612400. 5€ a 20€. sua evolução musical. No seu último Mês Janácek. disco, “Fluxorama”, gravado em trio com uma formação idêntica à que se Domingo 30 apresenta agora na Casa da Música - OM + Gabriel Ferrandini Pais na guitarra eléctrica, Albert Sanz Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. da Barroca, 59, às no órgão Hammond e R.J. Miller 22h. Tel.: 213430205. 15€. (aqui substituido por Luis Candeias) The Young Gods na bateria –, o guitarrista revisita de Lisboa. Café Teatro Santiago Alquimista. R. novo duas das suas grandes paixões Santiago, 19, às 22h30. Tel.: 218884503. 20€. musicais, os cancioneiros norte- americano e brasileiro. Optando Segunda 31 invariavelmente por uma abordagem Guy Davis sóbria, de recorte clássico, a Lisboa. Culturgest - Pequeno Auditório. R. Arco linguagem de Afonso Pais evoca não do Cego, às 21h30. Tel.: 217905155. 5€. só os grandes mestres do jazz como Ciclo Hootenanny. Jim Hall ou Wes Montgomery, mas também os grandes estetas da Terça 1 gguitarrauitarra bbrasileira,rasileira, ou mmesmo da Phil Wiggins Duo gguitarrauitarra clássica. ApostandoAposta aqui no Lisboa. Culturgest - Pequeno Auditório. R. Arco celebrado fformatoormato de gguitarra-órgão-u do Cego, às 21h30. Tel.: 217905155. 5€. bbateria,ateria, o trio poderápoderá ininterpretart Ciclo Hootenanny. orioriginaisginais dodo guitarristaguitarrista e algumas The Young Gods ((grandes)grandes) cancançõesções como “Con alma” Guarda. Teatro Municipal . - Grande Auditório. (Dizzy(Dizzy GGillespie), R. Batalha Reis, 12, às 21h30. Tel.: 271205241. 15€. Afonso Pais “Medo“Medo dde amar” explora duas (Vinicius(Viniciu de Quinta 3 das suas Moraes),Moraes) “You’d be Bernardo Sassetti paixões (os so nice tot come Lisboa. Culturgest - Pequeno Auditório. Rua Arco cancioneiros home to”to (Cole do Cego, às 21h30. Tel.: 217905155. 5€. brasileiro e Porter) ouo “Soul Ciclo Hootenanny. americano) eyes” (Mal(M Mão Morta na Casa da Waldron).Waldr Porto. Rivoli Teatro Municipal. Pç. D. João I, às Música RodrigoRodr Amado 21h45. Tel.: 223392200. 12,5€.

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 31 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

A actriz, dramaturga nas Jornadas “Sombras”, e encenadora de Dramaturgia de Ricardo AAngélica Liddell Espanhola Pais, a partir cchegah a Coimbra Contemporânea de hoje na próxima sexta- da Escola da Noite, em Lisboa MANUEL ROBERTO Confe-onfe- feirafe para dois Liddell segue para a Dançando com a rênciasncias diasdi de leituras e Culturgest, em Lisboa, Diferença em Aveiro conferênciasco no onde apresentará o TeatroTe da Cerca monumental “La Casa Eugene dede São Bernardo. de la Fuerza” dias 11 O’Neill DepoisDep desta escala e 12. em dose dupla na Amadora

Agenda

Valentim. SUSANA PAIVAA SUSANA Teatro Lisboa. Teatro da Trindade. Lg. Trindade, 7 A. Até 27/02. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às 17h. Tel.: Continuam 213420000. 8€. Life and Times - Episode 1 Glória ou como De Pavol Liska, Kelly Copper. Pelo Penélope Morreu de Tédio Nature Theater of Oklahoma. Com De Cláudia Chéu. Encenação de Ilan Bachrach, Gabel Eiben, Anne Cláudia Chéu. Com Albano Gridley, entre outros. Jerónimo. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala Experimental. Pç. D. Pedro IV. Até 30/01. 4ª a Sáb. Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Até 29/01. às 21h45. Dom. às 16h. Tel.: 213250835. 5ª a Sáb. às 20h30. Tel.: 218438801. 6€ a 12€. Mãe Coragem A Higiene do Assassino De Bertolt Brecht. Encenação de De Amélie Nothomb. Pela Efémero. João Garcia Miguel. Com Custodia Encenação de Vítor Correia. Com Gallego, Paula Diogo, entre outros. André Roussel, Filipa Braga Cruz, Lisboa. Centro Cultural de Belém - Pequeno Luís Moura, entre outros. Auditório. Pç. Império. Até 30/01. 2ª, 5ª, 6ª e Sáb. Aveiro. Estaleiro Teatral. Parque Infante D. Pedro. às 21h. Dom. às 16h. Tel.: 213612400. 10€ a 12,5€. Até 29/01. 4ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 234386524. 5€. Actores ou personagens? Sombras E Não se Pode Matá-los? A Mala Voadora expõe as convenções De Ricardo Pais. Com José Manuel De Alicia Guerra. Encenação de João do teatro em “3D” Barreto, Raquel Tavares, Emília Mota. Com Carlos Paulo, Alvaro Silvestre, Pedro Almendra, Pedro Correia, Mia Farr, entre outros. tão verdadeira quanto uma casa num Frias, Mário Laginha, entre outros. Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 27/03. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 217221770. 5€ Teatro palco pode ser verdadeira, mesmo Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria a 10€. que pertença realmente ao Cardoso, 38-58. De 28/01 a 30/01. 6ª e Sáb. às 21h. e outras encenador –, as mesmas personagens Dom. às 17h30. Tel.: 213257650. 10€ a 20€. Teleganza que falam, eventualmente para quem Hughie + Antes do Pequeno De Jorge Louraço Figueira. Pelo está à frente delas, mas, no fundo, Almoço Teatro Nova Europa. Encenação de falsidades com elas mesmas. De Eugene O’Neill. Pela Companhia António Durães. Com João Miguel O facto de estas personagens de Teatro de Almada. Encenação de Mota, Tânia Dinis, Tiago Correia. Joaquim Benite. Com Anabela Porto. Estúdio Zero. R. Heroísmo, 86. Até 30/01. 3ª A Mala Voadora está estarem no mesmo espaço, ao a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 225373265. 5€. mesmo tempo, não é garantia de Teixeira, entre outros. Amadora. Espaço preparada para o que que pertençam à mesma história (se Noite de Reis Cultural Recreios da De William se segue: um teatro tão houver só uma história). Em “3D”, Amadora. Av. Santos Shakespeare. vários textos cruzam-se com dois Mattos, 2. Até 30/01. 5ª a falso como o que trouxe a Sáb. às 21h30. Dom. às Pelo Teatrão. companhia até aqui. actores que usam os seus nomes 16h. Tel.: 214927315. 6€ a Encenação de verdadeiros. E outros corpos, tão 10€. Marco Antonio Tiago Bartolomeu Costa reais quanto as falsas personagens, Salomé Rodrigues. Com continuam no seu mundo, a De Oscar Wilde. Inês Mourão, cozinhar, a passar a ferro, a pintar, a Pelo Centro Isabel Craveiro, 3D Rodrigo Santos, Pela Mala Voadora. Direcção de ter relações sexuais. No fundo, a Dramático realidade como ela é, revista e Galego. entre outros. Jorge Andrade. Com Anabela Coimbra. Oficina Encenação de Almeida, Jorge Andrade. ampliada no palco de um teatro que O Teatro Municipal do Teatro. R. se resume a três paredes de Carlos Santiago. do Eléctrico Pedro Nunes. Até 29/01. Lisboa. Negócio. R. de O Século, 9, porta 5. Até Com María Mera, 5ª a Sáb. às 21h30. Tel.: contraplacado condensando a na Comuna 30/01. 4ª a Dom. às 21h30. Tel.: 213430205. 5€ a Pepe Penabade, 239718238. 5€ a 10€. realidade em hora e meia. 7,5€. Hugo Torres, Para os dois directores da O Senhor Puntila e o Seu Criado entre outros. Matti Pode uma companhia ambicionar, companhia, esta é uma Braga. Theatro Circo - Sala Principal. Av. ao fim de mais de dez anos de oportunidade para a observação, ao Liberdade, 697. De 28/01 a 29/01. 6ª e Sáb. às 21h30. De Bertolt Brecht. Pelo Teatro Tel.: 253203800. 5€ a 8€. Aberto. Encenação de João trabalho consecutivo, mudar de microscópio, dos mecanismos que Lourenço. Com Miguel Guilherme, direcção, arrumar ideias e partir tornam “real” a ficção que vemos à A Porta Fechou-se e a Casa era Sérgio Praia, entre outros. para um outro universo? Em “3D”, nossa frente. As palavras de Noel Pequena Lisboa. Teatro Aberto - Sala Azul. Pç. Espanha. Até em cena até domingo no Negócio, Coward (“Design for living”), T.S. De Ricardo Neves-Neves. Pelo Teatro 27/02. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: em Lisboa, é a isso que se propõe a Elliot (“Cocktail Party”) e António do Eléctrico. Encenação de Ricardo 213880089. 7,5€ a 15€. companhia Mala Voadora, dirigida Pedro (“Desimaginação - Farsa do Neves-Neves. Com Ricardo Neves- Neves, Vitor Oliveira. Dança pelo actor e encenador Jorge Quotidiano”) são, entre outras, Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. De 01/02 a Andrade e pelo arquitecto e mecanismos para forçar a realidade 17/02. 3ª a 5ª às 21h45. Tel.: 217221770. 5€ a 7,5€. cenógrafo José Capela. Dizem que o a expor-se (entendendo-se aqui por Continuam O Homem Elefante se segue é um novo capítulo de um realidade o modo como ela é um De Bernard Pomerance. Encenação Nortada livro aberto há muito tempo, e há produto da imaginação, da de Sandra Faleiro. Com António De Olga Roriz. Pela Companhia Olga muitas peças. conveniência e da estratégia). Fonseca, Rita Lello, Cláudio da Silva, Roriz. Se os espectáculos desta No fundo, o que a Mala Voadora Portalegre. Centro de Artes do Espectáculo. Pç. Vera Kalantrupmann, entre outros. Republica, 39. Dia 29/01. Sáb. às 21h30. Tel.: Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até companhia nos foram sempre propõe com “3D” é arrumar a sua 245307498. 10€. mostrando um desejo de explorar o principal linha de trabalho: o teatro 30/01. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. teatro como um exercício de existe porque se diz que existe. E A Praça De Né Barros. Fala da Criada dos Noailles... construção de verosimilhanças, onde porque a enunciação de uma acção Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Av. o que vemos não é se não o resultado produz consequências que, ao fim De Jorge Silva Melo. Pelos Artistas Serpa Pinto. Dia 29/01. Sáb. às 21h30. Tel.: Unidos. Encenação de Jorge Silva Teatro/Dança de um pacto de confiança de um tempo, se organizam – 229392320. 7,5€. Melo. Com Elsa Galvão, Vânia estabelecido entre os autores e os mesmo que arbitrariamente –, Levanta os Braços Como espectadores, em “3D” esse frágil sugerindo uma forma, uma norma, Rodrigues, entre outros. Lisboa. Teatro da Trindade. Lg, Trindade, 7 A. Até Antenas Para o Céu + Beautiful pacto é levado a um limite um conjunto de regras. O ponto 29/01. 4ª a Sáb. às 21h. Dom. às 16h. Tel.: People vertiginoso. O cenário, e o próprio onde esta companhia chegou, agora, 213420000. 8€ a 14€. De Clara Andermatt, Rui Horta. Pelo início da peça, são uma colagem a um é ao momento em que as velhas Grupo Dançando com a Diferença. Demónios de Macbeth espectáculo anterior, “Single”. As regras precisam ser substituidas por Aveiro. Teatro Aveirense - Sala Principal. Pç. De William Shakespeare. Encenação mesmas paredes, representando uma outras. Mesmo que falsas, como as República. Dia 28/01. 6ª às 21h30. Tel.: 234400922. de Sofia de Portugal. Com Elsa 8€. casa que nos dizem ser verdadeira – do teatro.

32 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“O Último Airbender” e “A Foram nomeados para já são repetentes, como Saga Twilight: Eclipse” “Pior Filme”, junto com Robert Pattinson, Taylor foram “distinguidos” “O Sexo e a Cidade 2”, Lautner e Kristen Stewart RRazzie com nove nomeações “Ex-Mulher Procura- em “A Saga Twilight: para os Razzie Awards, se” e “Ponha Aqui o seu Eclipse”, Megan Fox em os prémios para o pior Dentinho”. Nas categorias “Jonah Hex” e Ashton que se fez no cinema de interpretação, muitos Kutcher em “Beijos & durante o último ano. actores dos nomeados Balas” MARTIN BUREAU/ AFP BUREAU/ MARTIN

Estreiam Paradoxalmente, “Um Ano Mais”, exemplar do método Leigh no seu melhor, tem sido um dos seus As vidas trabalhos menos unânimes desde que estreou em Cannes 2010, com as opiniões a abrangerem o espectro da dos outros aclamação incondicional à recusa mais absoluta. Mas já demos por nós Um instantâneo a pensar que “Um Ano Mais” é tão incisivo e desencantado que talvez desencantado sobre a seja essa franqueza que incomoda solidão pelos olhos de quem quem vê. Para nós, é o melhor Leigh não a sente. Jorge Mourinha desde o magistral “Segredos e Mentiras” - e isto, num ciclo que Um Ano Mais incluiu “Topsy-Turvy” ou “Vera Another Year Drake”, não é dizer pouco. De Mike Leigh, “Um Ano Mais”: um casal feliz como fi o condutor com Jim Broadbent, Lesley Manville, Estranha forma Ruth Sheen, Peter Wight, Oliver álcool e nos sonhos impossíveis para altaneira ou o desprezo que muitos Maltman, David Bradley. M/12 combater a sua solidão. críticos teimaram em ver no filme. de filme O que há de invulgar no caso de A verdade é que todos conhecemos MMMMn Manville é que ela não é a gente como a que faz parte deste Alain Oulman - Com Que Voz personagem principal do filme. “Um filme – gente que se esforça por ser De Nicholas Oulman, Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª Domingo 3ª 4ª Ano Mais” é um filme de conjunto, e feliz e que dá graças pelas suas com . M/12 14h30, 17h, 19h30, 22h 6ª Sábado 2ª 14h30, 17h, a Mary a que a actriz dá corpo e alma pequenas bênçãos. Personagens que 19h30, 22h, 00h30; Medeia Saldanha Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª é apenas um dos “satélites” que ficam desenhadas com meia dúzia de MMnnn 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h; UCI Cinemas - El Corte orbitam à volta dos “heróis” pinceladas magistrais e que Inglés: Sala 3: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, aparentes: Tom e Gerri, um casal transformam “Um Ano Mais” na mais Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5: 5ª 6ª 19h10, 21h50, 00h30 Domingo 11h30, 14h, 16h35, londrino que parece ter a vida recente manifestação do olhar Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55; CinemaCity 19h10, 21h50, 00h30; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 5: 5ª Alegro Alfragide: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h40, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h25, 19h05, 21h45 6ª Cinema perfeita, ele engenheiro geólogo, ela cirúrgico que Leigh lança sobre a 17h45, 19h50, 21h50, 23h50 Sábado Domingo Sábado 13h55, 16h25, 19h05, 21h45, 00h25; ZON assistente social. (Desenganem-se se Inglaterra contemporânea, 19h50, 21h50, 23h50; CinemaCity Classic Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª acharem que os nomes, Tom e Gerri, erradamente descrito como fazendo Alvalade: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h30, 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h45, 21h20, 24h; ZON 19h30, 21h30 6ª 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30, Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª são coincidência.) parte do “realismo social”. Definição 23h40 Sábado 11h30, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 3ª 4ª 13h10, 16h10, 19h10, 21h50, 00h20; ZON Mas este casal feliz (que está longe tecnicamente correcta mas que falha 21h30, 23h40 Domingo 11h30, 13h30, 15h30, 17h30, Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado 19h30, 21h30 Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h45, 18h40, 21h25, de ser tão santo como o olhar porque Leigh não está tanto 00h05; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª superficial sugere) é mais o “fio interessado no “realismo social” por Porto: ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h25, 16h05, 18h45, condutor” do filme do que o centro si próprio, mas antes em captar uma Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h10, 18h35, 21h35, 00h15 21h, 23h30 deste olhar desencantado sobre a vibração emocional no trabalho dos Porto: Arrábida 20: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 13h45, 16h25, 19h15, 22h05, 00h55 3ª 4ª 16h25, solidão. São personagens que Leigh actores que transponha a barreira Num momento em que o 19h15, 22h05, 00h55; ZON Lusomundo Dolce Vita usa como “substitutos” dos entre o real e a ficção e evite a lógica documentário ganhou foros de Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, espectadores, que, tal como nós, fechada das narrativas tradicionais, género maior no panorama das 15h30, 18h10, 21h10, 23h50; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª assistem à litania de misérias e excertos de um contínuo sem estreias nacionais, não admirará a 12h50, 15h40, 18h10, 21h10, 23h40 grandezas que os seus convidados princípio nem fim. Os riscos desse programação para os grandes trazem à sua casa confortável ao trabalho são constantes no cinema de Há uma tradição de grandes longo das quatro estações do ano. Leigh, que alinha clássicos e obras interpretações nos filmes do inglês Espectadores investidos nas vidas menores numa sequência irregular, Mike Leigh. A David Thewlis (“Nu”), dos outros: Mary, claro, mas também mas é reconfortante ver alguém que Brenda Blethyn (“Segredos e Ken, o velho amigo que parece estar a não se acomoda. Basta ver como a Mentiras”), Imelda Staunton (“Vera matar-se aos poucos, Joe, o filho que própria estrutura “televisiva”, Drake”) e Sally Hawkins (“Um Dia de ainda não assentou, Ronnie, o irmão episódica, da narrativa consegue Cada Vez”) vem-se agora juntar viúvo que não sabe o que fazer da uma densidade que as exigências do Lesley Manville, no papel de uma vida. Espectadores investidos mas, pequeno écrã só raramente secretária solitária que se refugia no atenção, sem a condescendência permitem.

Saiba mais em www.fpc.pt Inscrições 15 vagas por curso Rua do Instituto Industrial, 16 Participação gratuita 1200-225 Lisboa [email protected] Objectos em Silêncio Fundação Portuguesa Número verde: 800 215 216 das Comunicações / O Património Científico e Técnico em Portugal Museu das Comunicações www.fpc.pt Datas e horário dos cursos Cursos de natureza teórico-prática para 24 a 28 de Janeiro 17 a 21 de Outubro profissionais, estudantes e interessados na área Fundação Portuguesa das Museu de Portimão; da preservação do património científico e técnico, Comunicações/ Museu das 21 a 25 de Novembro Comunicações (Lisboa); Museu de Ciência da destinados à formação ao nível do inventário, 9 a 13 de Maio Universidade de Lisboa. organização, estudo e conservação de artefactos Museu dos Transportes e da ciência e técnica. Comunicações (Porto); 2ª a 6ª das 9h às 13h e das 14h às 18h.

Organização: Projecto co-financiado pelo Ministério da Cultura/Instituto dos Museus e da Conservação, através do Programa ProMuseus Apoio:

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 33 Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Um ano mais mmmmn nnnnn nnnnn mnnnn O amor é o melhor remédio mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn Biutiful A mnnnn nnnnn A Chantrapas mmnnn mmmmn nnnnn mmnnn

Cinema Alain Oulman- com que voz mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn Hereafter - Outra Vida mmnnn nnnnn mmmmn mnnnn A Minha Alegria mmmnn mmmnn nnnnn mmmmn 72 horas mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn Tron- o Legado mmmnn nnnnn mnnnn nnnnn Vais conhecer o homem dos teus sonhos mmnnn mmmnn nnnnn mmnnn Jake Gyllenhall em “O Amor é o Melhor Remédio”: o charme ligado no máximo

ecrãs de “Alain Oulman – Com Que estrutura, tendo em conta a sua “Biutiful” que nos vem mudar as Bardem mais bovino e esbugalhado Voz”, biografia comovida e, por projecção numa sala de cinema: ideias: trata-se de um “bluff” tão que alguém alguma vez filmou, e o vezes, comovente do homem que “Alain Oulman – Com Que Voz” faz grande como qualquer outro filme de pior é que é só disso que Iñarritu está operou a radical transformação do sentido enquanto documentário para Iñarritu. à procura. Luís Miguel Oliveira propaganda médica ambicioso e fado, oferecendo à voz de Amália televisão, mas depois de “Ruínas”, de A “pequena história” por trás de mulherengo e uma artista cujo alguns dos temas mais espantosos e a Manuel Mozos, “Fantasia Lusitana”, “Biutiful” regista que depois de O Amor é o Melhor Remédio diagnóstico de Parkinson precoce oportunidade de cantar poemas que de João Canijo, sofisticados modos de Iñarritu se ter zangado com o seu Love & Other Drugs tornou cínica e misantropa. O não caberiam na estreiteza melódica interrogar o passado português, ou, argumentista Guillermo Arriaga (que De Edward Zwick, encontro entre estes dois egoístas e harmónica dos fados tradicionais. se quisermos reverter para a se achava o responsável pela “obras com Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, viciados em sexo desenrola-se nos E o que é “Com Que Voz”? Uma memória familiar, “Florette”, de primas” de Iñarritu) se aventurou Oliver Platt, Hank Azaria, Josh Gad. anos 1990, sob fundo do lançamento interessante recolha de materiais de Serge Treffaut, este filme faz figura de aqui pela primeira vez a “solo”. A M/12 do Viagra, e é um olhar de arquivo, alguns deles já conhecidos, mitigada, embora fascinante, primeira conclusão é óbvia: não era devastadora irrisão sobre as da longa biografia de Amália, biografia para passar em horário por causa de Arriaga que Iñarritu era MMMnn manigâncias da indústria “Estranha Forma de Vida”, excertos nobre de uma televisão. mau, porque mesmo sem ele farmacêutica, uma comédia sexual de programas de televisão (o muito continua a sê-lo. Mas há uma Lisboa: Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 5: 5ª mal comportada sem falsos citado “julgamento” de Amália, por consequência, porque Iñarritu não 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h50, moralismos, e uma comédia 21h30, 24h; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 6: 5ª se “atrever” a cantar Camões com Óful quis seguir a marca dos argumentos 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h55, 18h35, 21h35, 23h50 romântica com gente lá dentro em música de um “estrangeiro”) ou de Arriaga (as estruturas em Sábado Domingo 11h30, 13h45, 15h55, 18h35, 21h35, vez de construções de argumentista, actuações seleccionadas da Diva, “mosaico”, que levaram tanta gente 23h50; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 2: 5ª 6ª alinhando sem pruridos situações de Biutiful Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h45, 18h10, interpretando temas clássicos da sua De Alejandro González Iñárritu, ao êxtase perante a “montagem” de 21h40, 23h55; CinemaCity Campo Pequeno Praça de que a maior parte das comédias Touros: Sala 4: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h30, extensa colaboração com Oulman. com Javier Bardem, Maricel Álvarez, “Babel”, por exemplo), e agarrou-se a românticas foge como o diabo da Tudo aparece, porém, sob uma uma história contada com uma 19h10, 22h, 00h10 Sábado Domingo 14h20, 16h30, cruz. O elenco que Zwick reuniu Eduard Fernández. M/16 18h40, 22h, 00h10; Medeia Fonte Nova: Sala 1: 5ª nova perspectiva e uma nova ordem, linearidade absoluta ou quase 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, ajuda, até porque Jake Gyllenhaal e quase sempre cronológica, de forma Mnnnn absoluta, com uma personagem 22h; Medeia Saldanha Residence: Sala 7: 5ª 6ª Anne Hathaway raras vezes têm a traçar um retrato de corpo inteiro central ( Javier Bardem) e uma Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30, papel que lhes permita ligar o 24h; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª de um homem que se desdobrou em Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 2ª geografia concentrada na cidade de Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h30, 19h, 21h40, 00h10 charme no máximo deste modo. múltiplas actividades: encenador de 3ª 4ª 16h30, 21h 6ª 16h30, 21h, 00h15 Sábado Barcelona. Muda isto alguma coisa? Domingo 11h30, 14h05, 16h30, 19h, 21h40, Nem sempre a gestão dos vários tons 12h50, 16h30, 21h, 00h15 Domingo 12h50, 16h30, teatro; editor literário, à frente do Só se for que, desprovido de 00h10; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 10: 5ª Domingo é feita a contento, mas o que noutras 21h; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 7: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h25, 19h10, 21h35 6ª Sábado gigante francês, a Calmann-Levy, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h30, 21h30, “truques”, o cinema de Iñarritu se 13h50, 16h25, 19h10, 21h35, 00h10; ZON Lusomundo mãos seria uma confusão empresa familiar (Oulman era filho 00h25; CinemaCity Campo Pequeno Praça de expõe mais na sua falta de subtileza e Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª desgraçada dá todos os passos certos Touros: Sala 8: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 1520, 18h20, 21h20, da filha do fundador da editora), se tal era possível no seu 13h40, 16h20, 18h55, 21h30, 00h30; ZON nas de Zwick. J. M. 00h15 Sábado Domingo 12h, 1520, 18h20, 21h20, Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado ocasião para falar do seu papel como 00h15; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 4: 5ª oportunismo. São ainda as “dores da Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30, 21h20, divulgador da obra de Patrícia Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, 21h20 6ª Sábado humanidade”, em fundo de miséria 24h; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 15h20, 18h20, 21h20, 00h10; Medeia Saldanha 72 Horas Highsmith e para entrevistar dos (como em “Babel”, com uma leve Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h30, 18h10, 21h30, Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 00h05; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª The Next Three Days 4ª 13h10, 16h, 18h50, 21h40, 00h30; UCI Cinemas - autores de sucesso que incentivou no caução anti-globalização, que inclui Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h30, 18h10, De Paul Haggis, mundo das letras, Catherine Clément El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª cenas de tumultos de rua e tudo), e 21h10, 23h50; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 15h, 18h15, 21h30, 00h25 Domingo 11h30, 15h, 18h15, com Russell Crowe, Elizabeth Banks. e o israelita Amos Oz, projectando-os temperada com um “intimismo” 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h10, 21h30, 00h25; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª 21h10, 23h50; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala M/12 no mercado francês e europeu; Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h30, 20h50, psicologizante oriundo da “tragédia 4: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª 15h30, militante de esquerda, 24h; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª pessoal” da personagem de Bardem 18h30, 21h30, 00h10 Sábado 13h, 15h30, 18h30, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h30, 21h, MMnnn estranhamente ligado à cisão maoista (a relação com a mulher, doente 21h30, 00h10 Domingo 13h, 15h30, 18h30, 00h10; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 21h30; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 2: 5ª do Partido Comunista Português Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 17h, 21h, 00h15; ZON mental). Tudo é solene e soturno, 6ª 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h10, 21h20, 23h50 Sábado Lisboa: Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 6: 5ª (muito curiosa a escolha de Zita Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado mas a solenidade e a soturnidade são Domingo 12h50, 15h20, 18h10, 21h20, 23h50; ZON 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h45, 21h, 00h15; ZON 18h30, 21h20, 00h10; CinemaCity Alegro Seabra para vocalizar mais uma fabricadas como ornamentos (a Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h40, 21h30, Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª bicada à politica sectária do Partido a Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h50, 21h, 00h15 fotografia, a música) ou, pior ainda, 00h10; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª 4ª 13h35, 15h50, 18h30, 21h40, 23h55; CinemaCity Beloura Shopping: Cinemax: 5ª 6ª Sábado que pertenceu) e expulso do Portugal Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado como “guias de leitura” pré- Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h45, 18h20, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h05, 18h30, 21h25, Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10, 18h25, 21h35, 21h20, 00h05; Zon Lusomundo Freeport: 5ª 2ª 3ª de Salazar, depois de ter estado preso definidos, a condicionarem o modo 23h40; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 10: 5ª 6ª 00h40; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª 4ª 16h, 18h30, 21h10 6ª 16h, 18h30, 21h10, 23h40 Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h15, 22h, 00h30 pela PIDE, salvo “in extremis” pelos Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 17h20, 21h, como o espectador deve olhar para Sábado 13h20, 16h, 18h30, 21h10, 23h40 Domingo Domingo 11h30, 14h20, 16h50, 19h15, 22h, bons contactos familiares e pelo facto 00h15; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª aquilo. E o espectador sofre, de facto, 13h20, 16h, 18h30, 21h10 00h30; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 8: 5ª Domingo 2ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h30, 20h50, de ser cidadão francês. e sofre bastante. Por exemplo com Porto: Arrábida 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado 3ª 4ª 13h45, 16h15, 18h55, 21h30 6ª Sábado 13h45, 00h10 Ou seja, esta biografia de Alain todas as cenas de “família” e de Domingo 2ª 13h50, 16h25, 19h05, 21h50, 00h35 3ª 16h15, 18h55, 21h30, 00h05; ZON Lusomundo Oulman, compositor e homem de Ele há gostos para tudo, mas somos “intimidade”, maçadoras, falhas de 4ª 16h25, 19h05, 21h50, 00h35; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h35, 21h40, 00h20; ZON Lusomundo cultura, desdobra-se numa dos que pensam que Alejandro imaginação, um suposto naturalismo 13h20, 16h, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, complicada retrospectiva histórica, Gonzalez Iñarritu é o grande “bluff” básico mas desprovido de energia – GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h10, 21h20, 24h; ZON Lusomundo esboçando um retrato do país nas da primeira década do século XXI. E Cassavetes, se ressuscitasse, 13h20, 16h10, 18h55, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 12h50, 15h40, 18h20, 21h30, 00h15; ZON décadas de 60 e 70, sem esquecer a a dimensão do “bluff” tem muito a arrependia-se de alguma vez ter feito 16h20, 19h, 21h40 6ª Sábado 13h40, 16h20, 19h, Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª inclusão de imagens inevitáveis, mas ver com o facto de esta ter sido a “Faces”, o filme que deu a impressão 21h40, 00h30; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30, 21h15, 23h55; ZON breves, do 25 de Abril. Conduzido, de década em que a Internet se que isto era fácil de fazer. 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h20, Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h20, 24h; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª 18h10, 21h10 6ª 15h30, 18h10, 21h10, 23h50 Sábado início, pelos depoimentos das irmãs consagrou como território da E Javier Bardem, no meio disto? É Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 16h, 18h50, 21h50, 13h, 15h30, 18h10, 21h10, 23h50 Domingo 13h, mais velhas, que historiam a (mesma) “opinião” replicada ad um óptimo actor e os actores como 00h40; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª 15h30, 18h10, 21h10; ZON Lusomundo Oeiras problemática de uma família judia nauseam, mas não vale a pena ir ele nunca perdem completamente a Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h20, Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª 15h40, 18h20, 21h20, 24h; ZON Lusomundo Torres luso-francesa, com um pai agora por aí. Sejamos sucintos: não é dignidade; mas sejamos francos, é o Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h25, 19h05, Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, impositivo, um irmão morto durante 21h45, 00h25 16h, 18h40, 21h25, 00h25; ZON Lusomundo Vasco a guerra, com cuja estatura teve de Edward Zwick é realizador que gosta da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h25, 18h, 21h, 23h40; Castello Lopes - C. C. medir-se, alargado depois à dos gestos grandes e épicos, que Jumbo: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 16h, 18h40, 21h20 6ª participação de outros familiares e da tanto acerta (“Tempo de Glória”, 16h, 18h40, 21h20, 24h Sábado 13h20, 16h, 18h40, ex-mulher (extremamente “Diamante de Sangue”) como falha 21h20, 24h Domingo 13h20, 16h, 18h40, 21h20; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª comovente o momento em que ela (“Lendas de Paixão”, “O Último 6ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30, 00h10 Sábado fala da morte prematura e limpa uma Samurai”). Daí que vê-lo a atirar-se à Domingo 12h40, 15h30, 18h30, 21h30, 00h10; ZON lágrima), o filme aparece filtrado pela comédia romântica comece por Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 15h10, 18h, 21h, homenagem póstuma do filho, inspirar alguma desconfiança, antes 23h50; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Nicholas, realizador e argumentista: de nos devolver o melhor Zwick, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h10, 18h50, logo trata-se de uma visão intimista e aquele que criou, ajudou a escrever 21h30, 00h15 próxima de quem quer recuperar o e dirigiu vários episódios da seminal Porto: Arrábida 20: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 13h45, 16h15, 18h50, 21h30, 00h20 3ª 4ª 16h15, que conheceu pouco (ou nada), um série televisiva “Os Trintões”. “O 18h50, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Dolce Vita interessante documento, bem Amor É o Melhor Remédio” é uma Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, pesquisado e correctamente Bardem é um óptimo actor, comédia romântica politicamente 16h30, 19h10, 21h50, 00h30; ZON Lusomundo mas este é o Bardem mais bovino e esbugalhado Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª encadeado. incorrecta, sobre o romance 13h20, 15h50, 18h30, 21h30, 00h10; ZON O único problema passa pela que alguém alguma vez fi lmou improvável entre um delegado de Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado

34 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Bryan Singer (“Os servirá de base do fi lme. vencendo em 1972 com Suspeitos do Costume” e Ainda não foi divulgado “Cabaret, Adeus Berlim”. “Superman – O Regresso”) quem vai escrever o guião. Em 1979, realizou e Biopic vai realizar um fi lme Bob Fosse (1927-1987), escreveu “O Espectáculo sobre o coreógrafo e fi gura incontornável e Vai Começar”, um fi lme encenador Bob Fosse. A inovadora da coreografi a, autobiográfi co que HBO comprou os direitos venceu nove Tony Awards venceu a Palma de Ouro da biografi a “Bye, Bye e um Óscar. Foi nomeado de Cannes. Life: The Loves and para o Óscar de Melhor Concertos para Famílias Deaths of Bob Fosse”, que Realizador por três vezes,

DOMINGO,  DE JANEIRO, H

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h, 18h30, 21h35 6ª Sábado 13h35, 16h, 18h30, 21h35, 24h; Medeia Vais Conhecer o Homem GRANDE AUDITÓRIO DO CCB Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª dos Teus Sonhos 4ª 14h15, 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; UCI Cinemas - You Will Meet a Tall Dark El Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª Stranger 14h10, 16h45, 19h20, 21h55, 00h30 Domingo 11h30, Orquestra Académica Metropolitana 14h10, 16h45, 19h20, 21h55, 00h30; UCI Dolce Vita De Woody Allen, Tejo: Sala 9: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h35, com Antonio Banderas, Josh Brolin, 19h15, 21h45 6ª Sábado 14h05, 16h35, 19h15, 21h45, Adriana Ferreira flauta 00h25; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Anthony Hopkins, Gemma Jones, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h40, 21h10, Freida Pinto, Lucy Punch, Naomi Jean-Marc Burfin direcção musical 00h10; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Watts. M/12 Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 19h, 21h40, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 19h10, 22h, 00h20; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª 00h45; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h35, 15h20, 18h10, MMnnn Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h40, 21h05, 00h05; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª obras de 21h40, 00h25; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 2: Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h45, 18h45, Lisboa: Castello Lopes - Londres: Sala 2: 5ª 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h40, 21h30 6ª 15h40, 18h40, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Dolce Vita Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h15, 21h45 6ª Darius Milhaud 21h30, 00h15 Sábado 12h50, 15h40, 18h40, 21h30, Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; Castello 00h15 Domingo 12h50, 15h40, 18h40, 21h30; ZON 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; ZON Lopes - Loures Shopping: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h30, 18h10, 21h05, Wolfgang Amadeus Mozart 13h, 15h50, 18h50, 21h40 6ª Sábado 13h, 15h50, 18h30, 21h30 6ª 15h40, 18h30, 21h30, 00h10 Sábado 23h30; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 9: 5ª 6ª 18h50, 21h40, 00h30 12h55, 15h40, 18h30, 21h30, 00h10 Domingo 12h55, 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 24h Sábado Lowell Liebermann 15h40, 18h30, 21h30; ZON Lusomundo Oeiras Domingo 11h50, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, É, no espaço de três semanas, a Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de terceira “remake” americana de um 15h35, 18h30, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Touros: Sala 5: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h10, Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 18h10, 20h10, 22h10, 00h20 Sábado Domingo CO-PRODUÇÃO filme francês que chega às salas, 12h45, 15h30, 18h20, 21h10, 00h10; ZON Lusomundo 13h50, 14h05, 16h10, 18h10, 20h10, 22h10, depois de “O Preço da Traição” e “O Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 00h20; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine Teatro: Turista” - e é a terceira “remake” com 12h45, 15h30, 18h30, 21h20, 00h10; Algarcine - Sines 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, : Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30 20h, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala “pedigree”, entregue aos bons 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 24h; Castello Lopes 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h10, cuidados de Paul Haggis, - C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h30, 23h55 Domingo 11h30, 14h15, 16h45, 19h10, argumentista do “Million Dollar 21h30 6ª 15h40, 18h30, 21h30, 00h10 Sábado 13h, 21h30, 23h55; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª APOIOS 15h40, 18h30, 21h30, 00h10 Domingo 13h, 15h40, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h20, 18h45, Baby” de Eastwood e realizador de 18h30, 21h30; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 21h50, 00h15; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª PREÇO ÚNICO: 5€ “Crash”, aqui adaptando um 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h10, 21h20 6ª 15h20, 18h10, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, 17h50, “thriller” de Fred Cavayé (“Pour 21h20, 24h Sábado 12h40, 15h20, 18h10, 21h20, 24h 21h10, 23h30; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª Domingo 12h40, 15h20, 18h10, 21h20; Castello Lopes 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 16h, 18h50, 21h15, Elle”, pouco visto fora de França). - Rio Sul Shopping: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 23h40; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Russell Crowe substitui Vincent 18h20, 21h10, 24h Sábado Domingo 13h, 15h40, Domingo 2ª 3ª 13h, 15h35, 18h, 21h05, 23h40 4ª Lindon no papel de um professor 18h20, 21h10, 24h; ZON Lusomundo Almada Fórum: 13h, 15h35, 18h, 23h40; ZON Lusomundo Oeiras 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 18h, universitário tão seguro que a esposa 18h30, 21h10, 24h; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 21h45, 00h25; Castello Lopes - Rio Sul está inocente do homicídio pelo qual 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, Shopping: Sala 7: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 16h10, 19h, 22h, foi condenada que articula um 18h25, 21h25, 00h10 00h30 Sábado Domingo 13h40, 16h10, 19h, 22h, 00h30; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Porto: Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado arriscado plano de evasão. Mas esta é Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h35, 18h05, Domingo 2ª 13h55, 16h35, 19h20, 22h05, 00h50 3ª 21h05, 23h30 também a terceira “remake” falhada, 4ª 16h35, 19h20, 22h05, 00h50; Vivacine - já que Haggis não consegue resolver a Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado contento o dilema que o interessou: 13h50, 17h, 21h, 23h50; ZON Lusomundo Dolce Vita Domingo 2ª 14h15, 16h40, 19h05, 21h35, 00h05 3ª Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 4ª 16h40, 19h05, 21h35, 00h05; ZON Lusomundo conciliar um “thriller” de factura 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª clássica (conseguido) com uma Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40,18h30, 19h30, 22h, 00h35; ZON Lusomundo meditação sobre o amor 21h20 6ª Sábado 15h40,18h30, 21h20, 00h05; ZON NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Lusomundo GaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h20, 19h, 21h30, 24h; ZON Lusomundo incondicional (falhada). “72 Horas” 13h, 15h50, 18h40, 21h20 6ª Sábado 13h, 15h50, Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª brinca com a ambiguidade (Lara é ou 18h40, 21h20, 00h30; ZON Lusomundo 4ª 13h30, 16h30, 19h10, 22h, 00h15; ZON não realmente culpada?) e evoca aqui NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 12h50, 15h40, 18h40, 21h40, 00h30; ZON 3ª 4ª 13h55, 16h35, 19h05, 21h40, 00h15 e ali as questões morais levantadas Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado por esta transformação de pai de Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h25, 18h30, 21h20, Esta tem sido a “démarche” de família e professor em criminoso 00h10; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 4: 5ª 2ª Woody Allen nas cidades (Londres ou 3ª 4ª 16h, 18h50, 21h40 6ª 16h, 18h50, 21h40, justiceiro e implacável, mas acaba 00h20 Sábado 13h20, 16h, 18h50, 21h40, 00h20 Barcelona): sem curiosidade já para o por abandoná-las sem nunca as levar Domingo 13h20, 16h, 18h50, 21h40; ZON que é diferente e apenas muito longe para se concentrar Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª aproveitando os cenários que lhe dão finalmente no lado de “thriller”. J.M. 14h40, 17h40, 21h 6ª Sábado 14h40, 17h40, 21h, 24h para repor obsessões, motivos e as E Clint ficou atolado na mixórdia do figuras de sempre – veja-se como a filme de argumentista com narrativas prostituta deste filme, Lucy Punch, é Continuam paralelas programadas para se uma reedição, trejeitos e tudo, das cruzarem. Demasiados planos prostitutas de outros filmes, da Mira Hereafter - Outra Vida turísticos de ligação e demasiados Sorvino de “Poderosa Afrodite” ou da Hereafter planos de aviões – mas, afinal, o Bebe Neuwirth de “Celebridades”. De Clint Eastwood, argumento ordena que se Ou seja, é coisa de oportunidade, em com Matt Damon, Cécile de France, transportem as personagens de S. que o “outro” não regista ou é Jay Mohr, Bryce Dallas Howard, Francisco e de Paris para Londres a passeio turístico. E no entanto, em George McLaren, Frankie McLaren. tempo de um “happy end” que é das “Vais conhecer o homem dos teus M/12 coisas mais feias que Clint já filmou. sonhos”, essa clausura de velho - é Uma história francesa ao “estilo um filme descarnado até ao osso, Mnnnn internacional”, isto é, sem estilo; aparentemente já sem paciência para uma história americana que merecia “construir”, despejando actores num Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª o filme todo (a sequência das aulas de cenário a recitarem um texto e sem 3ª 4ª 15h30, 18h20, 21h30 6ª 15h30, 18h20, 21h30, cozinha prometia...) – é o mais perto outra alternativa a não ser servirem 00h10 Sábado 13h, 15h30, 18h20, 21h30, 00h10 Domingo 13h, 15h30, 18h20, 21h30; Castello Lopes que Clint chega das zonas que mais de veículo do que foi escrito por... - - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, gostamos que ele tacteie, a escuridão; carrega este filme sobre o destino 19h, 21h30 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, finalmente, uma versão de plástico com uma claustrofobia pegajosa. E 24h; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, do melodrama social britânico. subitamente, aquilo que parecia 21h10, 23h50; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: Nenhuma das histórias tem vida Woody Allen em piloto automático, é 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h05, própria, sofre sempre da condição de máquina em movimento, o realizador 18h40, 21h35, 00h10; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª estar “ao lado” de uma outra, ao lado instituindo-se como “deus ex- 4ª 13h30, 16h15, 18h50, 21h35, 00h10; CinemaCity e desalmada, condenada ao machina” a fazer o cerco às Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 2: 5ª 6ª cruzamento. E depois, a metafísica personagens. E subitamente ficamos Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h30, 24h; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 1: 5ª por computador... Vasco Câmara também cercados. V. C.

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 35 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Dubravka Ugreši escreveu uma história sobre morte, sexualidade e envelhecimento que ilustra a tendência de algumas sociedades para “demonizar” as mulheres idosas

Ficção resultando numa acumulação de comentário, feito num registo mais entre a Peste Negra partes narrativas e de polifonia de ensaístico, às duas primeiras partes, de 1350 e o 11 de registos, num patchwork narrativo por uma personagem que aparece Setembro de 2001, As velhas em construção. Antes da quase no início, uma jovem tarefa impossível desagregação da antiga Jugoslávia, estudante de folclore eslavo que sem o domínio Dubravka Ugreši – que estudou e ilumina o leitor quanto às perfeito dos bruxas ensinou literatura russa e as suas correspondências do que foi narrado recursos narrativos. vanguardas – escreveu romances com o mito de Baba Yaga. Este é um Salmón atingiu o Romance originalíssimo cómicos e arremedos pós- romance originalíssimo sobre patamar da modernistas de histórias românticas feminilidade e envelhecimento, consagração com a Trilogia do Mal: sobre feminilidade com um final feliz, uma espécie de sexualidade e identidade, amor e “A Ofensa”, várias vezes premiado e e envelhecimento, exercícios de ironia paródica. Mas segredos. unânimemente considerado o sexualidade, amor e veio a Guerra dos Balcãs e os tempos melhor romance espanhol de 2007; segredos. José Riço mudaram: ela foi obrigada a deixar o “Derrocada” (2008) e “O Revisor” ensino em Zagreb, viveu entre Um tempo de (2009). O terceiro acaba de ser Direitinho “residências artísticas” até se fixar traduzido. em Amesterdão, e tornou-se numa impostores A trilogia que “O Revisor” encerra Baba Yaga Pôs Um Ovo autora mais “séria”, passando a é uma reflexão sobre as raízes do Dubravka Ugreši escrever (alternando entre o registo Mal: massacre de inocentes e outros (trad. Paula Reis) de ficção e o de ensaio) sobre temas A dimensão heróica convive episódios aviltantes da II Grande

Livros Teorema como o exílio, a vida de escritor, os Guerra (“A Ofensa”); condição nacionalismos ou a imposição mal com a crónica literata, humana e bestialidade na cidade mmmmm arbitrária de fronteiras e de mas a secura da prosa imaginária de Promenadia, que é identidades. proporciona momentos como quem diz, Gijón (“Derrocada”) “Baba Yaga Pôs Um Baba Yaga é a verdadeira (e e, a fechar, estupor, mentira e Ovo” é mais um livro suprema) bruxa do folclore eslavo: fortes. Eduardo Pitta sequelas dos atentados de 11 de da colecção “Mitos”, violenta, poderosa, de apetites O Revisor Março de 2004 em Madrid: “Quando que por cá tem vigorosos, ela é uma guardiã de Ricardo Menéndez Salmón o primeiro comboio foi pelos ares, vindo a ser saberes secretos. Foi nesta figura (Trad. Helena Pitta derramando sobre as nossas publicada pela mítica – descrita nas histórias Porto Editora pequenas e esforçadas vidas um Teorema. A ideia populares como uma velha de nariz aluvião de sangue, cólera e medo, eu original é um vermelho que vive numa casa assente mmmnn [...] corrigia umas provas de projecto da casa em gigantescas patas de galinha – que ‘Demónios’ de Fiódor Dostoiévski.” editorial escocesa Canongate, que a autora se inspirou para a escrita Entre os autores espanhóis com Vladimir, o narrador, é revisor convidou vários autores (entre deste romance de personagens menos de 40 anos, Ricardo literário, ou seja, alguém que sabe muitos outros há nomes como Milan (quatro mulheres velhas) que vivem Menéndez Salmón (n. 1971) é um dos que a linguagem cria e modifica a Kundera, Rushdie, Achebe, Maalouf, na fronteira entre a tragédia e a farsa. mais interessantes. Publicou realidade: «Perverter a realidade Margaret Atwood ou Jeanette Dubravka Ugreši escreveu uma romances (oito), ensaio, poesia, através da linguagem [...] é uma das Winterson) a reescreverem espécie de tríptico – uma história teatro e crónica. O livro mais maiores conquistas do poder.” livremente alguns dos mitos sobre morte, sexualidade e recente, “La luz es más antigua que Escrito a partir das Astúrias como universais. Calhou agora a vez da envelhecimento – que ilustra a el amor” (2010), faz um “travelling” se de uma crónica se tratasse (o escritora e ensaísta croata Dubravka tendência de algumas sociedades Ugreši (n. 1949), uma das vozes mais para “demonizar” as mulheres originais e eruditas da literatura da idosas. A primeira e a segunda partes Europa Central e que até agora se são histórias aparentemente encontrava inédita em português. (A desligadas; na primeira (“Vai lá… não publicação de um dos seus romances sei aonde… e traz-me… uma coisa mais conhecidos, uma obra-prima da que me faz falta”) narra a memória ironia, “Museu da Rendição do envelhecimento da mãe da Incondicional”, foi anunciada pela narradora, o desaparecimento de editora Cavalo de Ferro para 2011.) De palavras, a sua substituição apressada entre os livros publicados nesta por outras que têm um significado colecção, este é, sem dúvida, o mais diferente, a perda de faculdades conseguido. cognitivas, a mania de ter tudo A mestria técnica de Ugreši é uma sempre arrumado e sem mudar de das suas características mais notadas, sítio, e a incompreensão mútua de ao conseguir juntar, por exemplo, pessoas de diferentes idades; a subtis intertextualidades (ela conhece segunda parte (“Não me faças bem as tradições literárias e perguntas, que eu não te conto filosóficas europeias) com diálogos mentiras”), em jeito de subversiva (e bastante assertivos que iluminam absurda) história de fadas, tem lugar sátiras corrosivas; ou como consegue num “spa” pós-comunista para onde fazer uso do seu extraordinário três mulheres velhas e caquéticas sentido de observação para os (Pupa, Beba e Kukla) vão em busca detalhes sócio-culturais. A de tentar manter os seus corpos e complexidade do seu pensamento é mentes “apresentáveis”; lá expressa, normalmente, com uma encontram um estranho médico e simplicidade tocante. A estrutura dos ainda um massagista com uma romances é quase sempre episódica, “erecção permanente” devido a um distúrbio causado pela explosão de uma bomba na guerra da Bósnia… ESCRITOR pretende: pelo meio, para além de muitas e deliciosas reflexões sobre memória e • Estabelecer parceria com Pessoa habilitada para digitar, semanalmente, os seus loucura, há a morte de uma delas e a manuscritos (em Lisboa); tentativa de preservação do corpo Entre os autores espanhóis com menos de 40 anos, Ricardo • Actividade interessante, em situação de reforma, com partilha dos direitos de Autor. num gigantesco ovo de madeira. A Menéndez Salmón é um dos mais Contacto: Tel. 91 886 97 75 terceira parte (“Quem sabe demais, cedo demais envelhece”) é um interessantes

36 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon narrador “arruma” os Poesia vigorosamente “político”, José Miguel acontecimentos de que foi considera esse exercício quase Ciberescritas testemunha um ano antes), nem por impossível. Vê no apogeu florentino o isso este romance perde tensão Malcontente triunfo do catolicismo, e o Nada (e tudo) de cultura dialéctica. Truques de catolicismo, segundo ele, é uma metalinguagem, elipses, envios forma de dominação, um tráfico de (Platão, Nabokov, DeLillo, etc.), i.e., Uma peregrinação céptica a consolo, uma degradação da material atinente à profissão de Itália. Pedro Mexia compaixão e uma repressão dos legria, alegria. O escritor Paulo Roberto Pires Vladimir, não iludem o essencial: instintos. A atitude mais pacífica seria (durante anos director editorial da Agir e “Ninguém, desde que existem Erros Individuais a tal abstracção estética, que não se Nova Fronteira – foi o editor de Rubem ágoras, mentiu tanto como os José Miguel Silva detém na ideologia, como defendia A Fonseca quando o escritor saiu da políticos.” Salmón está zangado. Relógio D’Água Gramsci acerca de Dante; mas o Companhia das Letras) andava desaparecido. Porém, se por vezes a moral turva o poeta português assume a sua O blogue que mantinha na revista brasileira “Bravo!” – juízo (estamos de volta à literatura mmmnn dificuldade e a sua irritação. uma revista mensal de cultura onde escreve - estava há comprometida), a secura da prosa Ao elogio do “espiritual”, meses parado. Mas aquele que é agora o editor da resiste a boa altura. Palavras suas: “a Que faz um céptico contrapõe realidades terrenas e Isabel “serrote”, uma revista quadrimestral (sai em Março, literatura, por definição, é a hedonista e carnais. Cenas bíblicas geram nele Coutinho Julho e Novembro) de ensaios, literatura, fotografia e arte fraternidade do detalhe.” quezilento no país uma apetência pela pintura publicada pelo Instituto Moreira Salles (IMS), deu à costa. Num tempo em que os conceitos da arte sacra? É a doméstica holandesa. E quando vê A boa notícia é que podemos agora ler os seus textos no de justiça, democracia e liberdade pergunta de José uma natividade (de Ghirlandaio) Blog do IMS, que foi lançado a 24 de Janeiro. “É com a perdem o sentido, o demónio são os Miguel Silva em apetece-lhe dizer que vale mais não liberdade da primeira pessoa e a eleição livre de temas outros. Os políticos foram “Erros Individuais”, nascer. Ainda assim, tem perfeita que começo hoje minha terceira encarnação de aperfeiçoando a arte da mentira, de um livro de poemas noção de que aquilo que para os blogueiro”, diz ele (as encarnações anteriores foram as modo que “os bons tempos já estão florentinos que não antigos era catequese, de tal modo suas participação no site em NoMínimo e na “Bravo!”). a chegar ao fim há umas quantas cede ao deslumbramento esteticista e que até os analfabetos entendiam, se Nesta primeira crónica, Paulo fala da leitura que fez de primaveras”. Corolário: “há-de ir demonstra antes uma desconfiança tornou para os modernos um jogo de “How to live – A life of Montaigne in one question and tudo para a merda.” Não admira que hostil. Florença é um museu, e em formas e volumes: “Para nós é tudo twenty atempts at an answer”, de Sarah Bakewell. Heraclito seja chamado à colação. grande medida um museu religioso, vago, / duvidoso. Só as formas / nos O Blog do IMS é um complemento do website do Para Salmón não há inocentes. Os um “intérmino desfile / de agonias, consolam, e as cores, / a impostura instituto cultural brasileiro (www.ims.com.br). Tem masacres de Atocha (três bombas), El ascensões e pietás”. E se em geral os da beleza” (pág. 28). conteúdos exclusivos e secções fi xas. Por exemplo, Pozo del Tío Raimundo (duas), Santa incréus concedem uma moratória Em Itália, não é apenas a religião “Sala 21”: convida fotógrafos brasileiros a produzirem Eugenia (uma) e calle de Téllez estética ao belo cristão, isso não que incomoda o poeta, mas o um ensaio visual, onde mostram imagens inéditas ou (quatro), com o seu cortejo de horror, acontece de todo com José Miguel dinheiro. A secção chamada “Via dei propõem novo olhar sobre seu trabalho. “A proposta mortos (191) e feridos (dois mil), Silva. Para ele, a arte cristã é Malcontenti” leva uma citação de é formar, ao fi m da série, um recorte signifi cativo da interpelam directamente o poder: “publicidade” a uma “patranha” e Lewis Mumford, que diz que o ideal fotografi a brasileira contemporânea a partir de nomes Aznar, chefe do governo, mentiu. um “negócio”. E é esse assumido democrático foi corrompido pelo que não integram o acervo IMS, mas que exercem Otegi, líder do Batasuna e “vigário da desconforto que faz a singularidade capitalismo. Florença foi uma capital trabalhos relevantes e de grande interesse documental e ETA na arena política”, não deste volume. financeira, e José Miguel Silva estético”, explica-se. A primeira galeria virtual publicada convenceu ninguém. Naquele dia, Voltemos à citação inicial: “Que faz abomina o “homo economicus”. O nessa secção - “Série 6x6” – foi realizada pelo fotógrafo centenas de satélites focavam “os um céptico hedonista e quezilento / comércio e a especulação são vistos Luiz Braga (artista convidado do pavilhão brasileiro seus olhos de silício sobre o coração no país da arte sacra? Como pode / como uma peste, à maneira das na Bienal de Veneza em 2009). Na secção “Quadro a de Madrid”, porque o mundo “tinha libertar-se da noção de que estes epidemias que grassavam nas cidades quadro”, pinturas e desenhos do acervo de artes plásticas parado sobre a sucata dos quatro jogos / de volumes, estes planos italianas antigas. A opulência do IMS serão comentados por comboios.” vivamente / coloridos, representam florentina prova que a arte é muitas convidados – na estreia do Escrito a dois tempos, o da tudo aquilo em / que não crê: o vezes uma glorificação do dinheiro. O Blog do IMS foi blogue, é o crítico e escritor indignação (Madrid) e o do tédio fanatismo, a videiterna, / o sacrifício Os ricos, mortais tal como os pobres, Davi Arrigucci Jr. que escreve (algures nas Astúrias), o discurso do corpo? Deambula / pelas salas sonham com a posteridade, e lançado a 24 de Janeiro sobre o quadro “Duas fi guras” perde fôlego quando o narrador se como um cão esfomeado / por um durante séculos conseguiram uma (1920), de Ismael Nery. E perde numa horta, “entre cenouras, campo de tremoço, sem achar / em posteridade artística, pois eram na secção “Por dentro do acervo” obras de fotógrafos morangos e urtigas.” O primeiro tem tão exótica e senil mitologia / firma mecenas. Isso, reconhece o poeta a consagrados que pertencem ao acervo do IMS são dificuldade em descobrir “o pathos carne onde ferrar o pensamento” contragosto, é um bem. Embora ele comentadas (em áudio) por especialistas – o antropólogo do Mal ao deambular entre os [seus] (p(pág. g 25). ) Turista desconfiado no se coloqueqp de preferência ao lado dos Eduardo Viveiros de Castro fala, na estreia, sobre imagens vizinhos como um deus homérico meimeioo de turistturistasas “malcontentes”, os condenados ou de índios feitas por Maureen Bisilliat, Marc Ferrez, José diante das muralhas de Tróia.” O eempáticos,mpáticos, JosJoséé desprovidos. Daí que,qu numa igreja, Medeiros, Henri Ballot, Alice Brill e Albert Frisch. segundo discreteia sobre a profissão MMigueliguel SilvaSilva deixadeixa recorecolhalha imaimaginadasginad vozes de A revista de ensaios “serrote” também tem o seu de revisor... Verdade que nada disto eestasta interrogaçãointerrogação diversosdiversos malcontentes,malcon que olham espaço nesta página web. Secção “Desentendimento”: impede momentos fortes, como importante: até os tectos magnímagníficosf enquanto vídeos onde se debatem temas importantes de cultura e sejam as reflexões sobre a orientação qqueue pontoponto desfiamdesfiam a suasua “raiva“r e política. O Lulismo é o primeiro assunto discutido, com cognitiva (a ‘Weltanschauung’) do ssomosomos cacapazespazes desconsolo”.desconsolo”. uma conversa entre os cientistas políticos André Singer líder do Batasuna, um homem que de nos abstrair A viagem em IItália é mais e José Arthur Giannotti, mediada pelo jornalista Mário “teria dançado o Deutschland über ddosos aspectos amenaamena noutrasnoutras pparagens,a e Sergio Conti. alles ou o raio da dança da chuva em iideológicosdeológicos na aparecem exemplosexemplo de como é Blog do IMS Por fi m, “Correspondência” é uma secção muito cima das nossas tumbas.” Diria que a ccontemplaçãoontemplação possívelpossível conjugarconjugar “bom“b gosto e bom http://blogdoims. engraçada. Dois convidados, que já se conhecem, dimensão “heróica” convive mal com eestética?stética? governo”. A TosToscânia,c um edénico uol.com.br/ trocam mensagens cujo tema será escolhido por eles a crónica literata deste tempo de Poeta “parque“parque do possível”,p é próprios. A primeira conversa é entre o escritor Daniel impostores. mesmomesmo ocasião de (Ciberescritas já é Galera (publicado por cá, na Caminho) e o editor A título de curiosidade refira-se algunsalgu raros um blogue http:// André Conti. Durante dois meses, os dois trocarão que, além de Salmón, outros momentosm de blogs.publico.pt/ cartas semanalmente. Falam de livros, literatura, jogos, escritores espanhóis utilizaram os simpless entrega ciberescritas) Internet e de tatuagens. Já se pode espreitar a primeira atentados de Madrid como tema estética,e e depois carta de Galera: “Tava pensando em te consultar a literário: Luis Mateo Díez, “La piedra surgems cidades respeito de um assunto, e esse assunto é: tatuagens”, en el corazón” (2006), Blanca ondeo se reconhece diz o escritor. “Queria tatuar ‘This is water’, a expressão Riestra, “Madrid blues” (2008), Para José Miguel Silva a arte o equilíbrio imortalizada pelo David Foster Wallace no discurso de Adolfo García Ortega, “El mapa de la cristã é “publicidade” a uma renascentista, paraninfo do Kenyon College. Sei que é um clichê, mas vida” (2009) e Manuel Gutiérrez “patranha” e um “negócio” vagamente laico, o próprio DFW era defensor do valor dos clichês, desde Aragón, “La vida antes de marzo” e é esse assumido desconforto e menos que bem empregados.” (2009). Quanto sei, o de Salmón é o que faz a singularidade aristocrático do único publicado em Portugal. deste volume que [email protected]

Ípsilon • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • 37 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Livros

sensatamente burguês: “Nas portuguesa, ou insondáveis opções de que os animais servem para dar cidades educadas, como Siena, / as editoriais, deixaram cair: “A History lições aos homens, os autores casas fazem os homens e não / os of Sin” (1993). buscam nos outros primatas a homens as casas” (pág. 43), escreve Os problemas desta tradução são, justificação para a necessidade José Miguel Silva, num verso que tem aliás, frequentes: “Têm havido humana de poligamia. Dizem que os ecos de Pound. numerosas doutrinas” (p.53); “o únicos primatas monogâmicos são os A Itália, auge da civilização direito à sepultura viria a ser um dos gibões e concluem que “nenhuma renascentista, é um modelo que José direitos tradicionais do homem mais espécie de primatas gregários é Miguel Silva não repudia, embora arreigado e inalienável” (p.87). monogâmica, a não ser, segundo a reclame uma aceitação a benefício de O autor é formado em História pela narrativa padrão, a espécie humana” inventário, e a título estritamente Trinity College, em Cambridge, foi (p. 64). “O sexo por prazer, com ateu e desencantado. Talvez não professor de Comunicação Social e vários parceiros, é muito mais fosse necessária, por isso, a coda História na Universidade de Glasgow ‘humano’ que animal” (p. 85). portuguesa. Sena e Magalhães e actualmente dirige uma agência de Um dos argumentos é tão original escreveram que baste sobre o país da publicidade – informa a badana do quanto questionável: “Porque é que lisonja, da fealdade, da livro. Sendo uma pessoa de ciência, muitos homens heterossexuais ficam mediocridade, do egoísmo, da estranha-se que faça as seguintes extasiados com filmes pornográficos obediência, de modo que os últimos afirmações: “O lesbianismo, ou a em que vários homens têm sexo com poemas de “Erros Individuais”, que adopção de hábitos masculinos por uma única mulher? […] Várias voltam a essa toada, acrescentam parte das mulheres […] disseminou- explicações são possíveis, mas uma pouco. Essa “peregrinatio ad loca se no mundo inteiro na década de 60 delas é a de que esse interesse encaixa infecta” é previsível. Mas a e foi racionalizado com mais eficácia bem numa Pré-História caracterizada peregrinação a Itália tinha deixado do que nunca, nomeadamente pela competição espermática” (p. algumas perguntas pessoais, através do argumento de que se 231). Logo, caracterizada por incómodas e agudas. justifica enquanto meio de controlo sociedades poligâmicas. populacional” (p.43). “A necessidade Um problema se levanta neste de uma defesa comum contra os argumentário: a ideia de que os Ensaio animais [por parte do Homem de comportamentos dos animais e da Neandertal] e, mais tarde, contra humanidade pré-histórica são um outros homens, tornou-se na base do referente para os humanos de hoje. O sexo como patriotismo tribal e da ética militar. É, no mínimo, fazer de conta que a Levou também ao papel subsidiário evolução das espécies nunca existiu pecado das mulheres” (p. 87). “Filipe de e, ao mesmo tempo, insistir num Orleães, um alcoólico e travesti que “naturalismo” das coisas, que as usava maquilhagem, […] dava-se com Ciências Sociais defendem não fazer A ortodoxia sexual na ‘coquettes’ e o que eram chamados “Sex at Dawan”: separar pratica e simbolicamente sentido. “Naturalismo” que ora serve origem de quase todos os ‘roués’, viciados numa ronda a sexualidade do amor e o desejo da intimidade para justificar a poligamia ora é a códigos morais. Bruno interminável de orgias mesquinhas” forma de “animalizar” os humanos. (p. 255). Ryan e Jethá rebatem algumas das Horta A capacidade de síntese do autor América e do trabalho infantil no (Segundo se lê no site criado para ideias de Thomson, nomeadamente a Sex at Dawn atraiçoa-o, portanto. Mas noutros condado inglês de Lancashire uma promover a obra, sexatdawn.com, questão da “unidade familiar básica”. Christopher Ryan e momentos é valiosa. Thomson virtude” (p. 23). Cacilda Jethá nasceu em O “nikah misyar” (casamento formal Cacilda Jethá resume cinco factores que Na segunda parte, Thomson entra Moçambique, numa família de entre pares que vivem separados) e o Harper Collins influenciam a criação de códigos no tema. Começa cedo, nos origem goesa, estudou medicina em “nikah mut’ah” (casamento informal, morais: compaixão, amor pela caçadores-recolectores, e vem até ao Portugal, regressou a Moçambique celebrado entre um homem e uma mmmnn família, autodefesa cooperativa, século XX, muitas vezes em registo de para trabalhar na área do VIH/sida e prostituta), ambos da tradição desejo de aprovação e preferência catálogo de crueldades. Na terceira depois voltou a Lisboa para fazer a muçulmana sunita, são dados como História do por processos decisórios fáceis. Três parte, a mais curta, deixa uma visão especialidade em psiquiatria, no exemplo de que neste aspecto não há Pecado componentes de protecção de futuro: “A moral bem-sucedida hospital Júlio de Matos. Actualmente, um modelo universal. “Muitas das Oliver Thomson sistematicamente presentes nos tem-se baseado no medo. Medo de vive em Barcelona, tal como o co- características que o Ocidente Guerra & Paz sistemas éticos: protecção da vida, do sofrer, do castigo, do ridículo, da autor do livro.) considera serem hoje fundamentais ciclo reprodutivo e da provisão censura ou de tormentos eternos. […] Ryan e Jethá rejeitam, grosso num casamento são tudo menos mmnnn alimentar. E cinco princípios O desafio para o século XXI está em modo, os códigos morais dominantes universais: exclusividade sexual, fundamentais desses códigos: construir um novo ‘ethos’ de relativos ao casamento, à estrutura transmissão de propriedade, relação Oliver Thomson reciprocidade (recompensa/castigo), maturidade baseado em objectivos familiar e à sexualidade. Defendem prolongada no tempo. Nada disto é (Birmingham, 1936) altruísmo (“ama o teu próximo como positivos e não negativos” (p. 353). que a poligamia e a promiscuidade esperado em muitas das relações a confessa a a ti mesmo”, diz o livro que foi Moisés A poligamia é um conceito a que o sexual (“relacionamentos sexuais que os psicólogos e antropólogos impotência: “Na quem disse, mas foi Deus a dizer-lhe autor dedica alguma atenção, mas simultâneos”) são comportamentos evolucionistas querem chamar História social, é a ele); obediência (humildade como também aqui parece cair na síntese naturais nos humanos e noutros casamento” (p. 122). possível registar uma melhoria virtude), absolutos (tabus; sim e não; fácil. “Poucas sociedades optaram primatas. A cultura é que opera a Igualmente diferente da de regular no bem-estar material, nos preto e branco) e costumes por negar ou reduzir o valor da repressão desses comportamentos, o Thomson é a opinião que Ryan e cuidados de saúde, na tecnologia, (comportamento como extensão unidade familiar básica enquanto que muitas vezes está na origem do Jethá têm sobre o início da nos transportes, e assim por diante. estética dos padrões éticos). núcleo de desenvolvimento social e insucesso das relações, sobretudo o subalternização social das mulheres. Até na História política poderá haver A obra está dividida em três partes. de carácter”, mas são “numerosas as casamento. Deu-se há cerca de 10 mil anos, no alguma linha de progresso na Na primeira, figuram as origens dos sociedades que têm apoiado a A proposta dos autores é a de Neolítico, não no Paleolítico (período evolução da democracia e dos códigos morais de diversas épocas e poligamia, seja sob a forma de separar pratica e simbolicamente a a que pertence o Homem de direitos humanos.” Mas na História comunidades. “Um código moral poligenia [a tradução volta a falhar, sexualidade do amor e o desejo da Neandertal). “Claramente, quem moral a subjectividade domina e as pode ser definido enquanto sistema querendo, por certo, referir-se a intimidade. “Não achamos que os mais perde com a revolução agrícola, fontes são caprichosas, pelo que “não de padrões éticos pelo qual poliginia] ou poliandria” (p. 39). Teria humanos nasçam hippies marxistas para além dos escravos, são as se pode fazer uma verdadeira determinada sociedade controla o sido útil definir “unidade familiar ou que o amor romântico não fosse mulheres, que deixam de ter o papel tentativa de registar o comportamento dos seus indivíduos” básica” e ir além daquilo a que as importante para as comunidades central e respeitável da fase desenvolvimento ético de nações ou (p.25). A filiação elitista da teorias queer chamam pré-históricas. Dizemos, antes, que a recolectora, tornando-se mais uma comunidades”. moralidade é sublinhada com “heterossexismo compulsivo”. cultura contemporânea desvirtua a das propriedades que o homem tem Porquê, então, chamar ao livro insistência: “Quem detém os cordões Neste particular, “Sex at Dawn: The relação entre amor e sexo. Com ou de adquirir e defender, tal como a “História do Pecado”? O título da da bolsa [utiliza-a] para ajudar a Prehistoric Origins of Modern sem amor, a sexualidade aleatória era casa, os escravos e o gado” (p. 14). edição original dá uma resposta instilar o tipo de ética mais passível Sexuality”, do psicólogo Christopher a norma entre os nossos Não é ainda uma pós-sexualidade o convincente, através do artigo de manter essa riqueza. Deste modo, Ryan e da psiquiatra Cacilda Jethá é antepassados pré-históricos” (p. 6). que “Sex at Dawn” propõe. Mas anda indefinido que a tradução o algodão fez da escravatura na mais equilibrado. Um pouco mais. Seguindo a máxima de La Fontaine lá perto.

38 • Sexta-feira 28 Janeiro 2011 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Julião Sarmento profundamente a sua vai estar no Starr obra (a memória, o Em Auditorium da Tate sexo, a transgressão, a LondresL Modern, em Londres, moral). É já no dia 12 de para uma conversa Fevereiro e os bilhetes com o crítico Adrian custam de cinco a nove Searle sobre os temas libras. que marcam mais DANIEL ROCHA DANIEL

por exemplo), decerto porque a A ética ficção ou, se se quiser, a literatura – e já agora, a arte – pressupõem uma do artista espécie de contrato entre leitor ou espectador e artista: sabemos As muitas facetas de Vasco sempre que não é verdade, mas Araújo numa exposição que agimos como se de verdade se tem a mentira por tema. tratasse no momento em que fruímos Luísa Soares de Oliveira da peça. Cada uma destas peças, quer o armário cheio de roupa ou os Mente-me (Lie to Me) diversos colarinhos engomados de De Vasco Araújo. fardas de outros tempos, reforça o sentido teatral das ficções criadas Lisboa. Galeria Filomena Soares. Rua da pelo artista. Encontrámos Manutenção, 80. Tel.: 218624122. Até 19/03. 3ª a Sáb. das 10h às 20h. mecanismos semelhantes noutras Fotografia, Vídeo e Escultura. exposições de Vasco Araújo, nomeadamente “Debret”, que esteve mmnnn em 2010 no Pavilhão Branco, e até mesmo na sua participação no A mentira é um tema de primeira prémio BESPhoto de 2007. importância na política dos nossos É no filme que as coisas não dias. Se ela é considerada como uma andam tão bem. “Telos” consiste falta de grandeza nos países de numa divagação sobre a ética da tradição capitalista e protestante, as mentira que chega à conclusão de coisas funcionam de outro modo que esta, afinal, é humana, estando nos de cultura predominantemente apenas isentos dela os animais (ou católica, como o nosso. Por isso, a melhor, um cão, a quem Vasco mais recente exposição de Vasco Araújo empresta a sua voz). A peça, Araújo, “Mente-me” terá impactos implicitamente, condena diferentes consoante o público a que moralmente todos aqueles que se se destina. A tradução inglesa do vangloriam de estar isentos de falta, filme que constitui a parte principal e, ao contrário do que o autor da exposição (“Telos”, uns longos 17 As peças que recuperam roupa e acessórios pretende, não levanta questões: minutos de boa produção de um de vestir antigos reforçam o sentido teatral apenas enuncia verdades que, dada texto adaptado de Rousseau – que já das fi cções criadas por Vasco Araújo a complexidade do tema, serão agora se escreve sem x no fim, ao também cantor lírico, e os diversos identidade), e sobretudo em apenas meias verdades... De facto, contrário do que surge no genérico) papéis que era levado a interpretar “Amneris”, sobre uma cantora de possuir a verdade é – deve ser – acentua a vocação internacional que surgem ainda pontualmente em ópera que era a melhor Amneris de muito complicado. Mas também é o artista pretende dar à sua obra, e obras suas. No caso presente, Moscavide… As peças tri e um facto que certa arte justificará talvez os muitos erros encontramos sinais dessa bidimensionais, dispostas na sala contemporânea, como certos ortográficos do português que apropriação da identidade alheia nas principal da galeria, expõem todas partidos políticos, se julga na pontua obras centradas na séries “Telefonemas” (fotografias do elas uma ficção e uma imagem com obrigação de esclarecer o público articulação entre imagem e texto. autor representando diversas ela relacionada. As mais interessantes sobre os males e defeitos que o A obra de Vasco Araújo tem-se personagens e textos que são aquelas onde o artista recupera assolam. Mesmo que seja com construído sobre a questão da reproduzem conversas telefónicas roupa e acessórios de vestir antigos Rousseau, que até parece que alteridade. Além de artista, Araújo foi marcadas por equívocos de (“Dos sapatos” ou “o meu criado”, pensava que todos nascíamos bons. Agenda Inauguram Tinta nos Nervos - Banda 54 - 1ºE. Tel.: 213950177. Até 25/03. 3ª a Sáb. das 14h Continuam Desenhada Portuguesa às 19h. Exposições Obra Gráfica, Outros. Gil J. Wolman Breve História da Lentidão De Richard Câmara, Diniz Conefrey, - Sou Imortal e da Vertigem Eduardo Batarda, José Carlos Encenações e Estou Vivo De João Maria Gusmão, Pedro Paiva. Fernandes, António Jorge Gonçalves, De Manuel Amado. Porto. Museu Lisboa. Galeria Graça Brandão. R. dos Caetanos, 26. entre outros. Lisboa. Sociedade Nacional de Belas Artes. R. Tel.: 213469183/4. Até 12/03. 3ª a Sáb. das 11h às 20h. de Serralves. R. Dom João de Castro, 210. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. Império - Centro Barata Salgueiro, 36. Tel.: 213138510. Até 15/03. 2ª Tel.: 226156500. De 28/01 a 27/03. 3ª a 6ª das 10h Vídeo. Fotografia. Escultura. Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 27/03. Sáb. a Sáb. das 14h às 20h. às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Ver texto na pág. 25 e segs. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. Pintura. Inaugura hoje às 22h. Desenho, Ilustração, Outros. Pintura, Filme, Outros. Muros de Abrigo Guimarães, Arte Retratos Contemporânea 2011 Diários Gráfi cos De Ana Vieira. Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo de Mulheres De André Banha, Dalila Gonçalves, Em Almada: Não Somos Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: 217823474. De Man Ray, Jorge Até 03/04. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Diogo Evangelista, entre outros. Desenhadores Perfeitos Martins, Julião Guimarães. Laboratório das Artes. Larg. do Toral. Instalação, Outros. De Clara Marta, Eduardo Salavisa, Sarmento. Até 10/04. 6ª e Sáb. das 16h às 19h. Francisco Vidal, Javier de Blas, Lisboa. Fundação Arpad Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Av. D. Afonso Casa Comum - Obras da Colecção Szenes - Vieira da Silva. entre outros. do CAM Henriques, 701. Tel.: 253424700. Até 10/04. 3ª a Cova da Piedade. Museu da Cidade de Almada. Pç. Pç. Amoreiras, 56/58. Tel.: Sáb. das 10h às 19h. Dom. das 14h às 19h. Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo João Raimundo. Tel.: 212734030. De 29/01 a 16/04. 213880044. Até 30/04. 2ª, Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: 217823474. 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. das Instalação, Pintura, Desenho, 3ª a Sáb. das 10h às 18h. Inaugura amanhã às 17h. Até 03/04. 3ª a Dom. das 10h às 18h. 10h às 18h. Escultura, Outros. Desenho. Instalação, Outros. Fotografia. Que Horas São? Mappamundi Não Confi em Uma história de amor De Alexandre Conefrey. De Guillermo nos Arquitectos De Bruno Pacheco. Lisboa. Giefarte. R. Arrábida, 54B. Tel.: 213880381. Kuitca, Noriko De Didier Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Lg. Chiado, Até 16/03. 2ª a 6ª das 11h às 20h. Ambe, Neal Beggs, Faustino. 8 - Edifício Sede da Mundial-Confiança. Tel.: Pintura. Daniel Chust Lisboa. Centro 213237335. Até 11/03. 2ª a 6ª das 12h às 20h. Peters, entre outros. de Arte Moderna Fotografia, Outros. Casa-Carrossel Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. Império - - José de Azeredo Perdigão. R. Dr. Nicolau De Fátima Mendonça. Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. De 31/01 Bettencourt. Tel.: 217823474. Até 03/04. Que Sais-Je? Porto. Galeria 111. R. D. Manuel II, 246. Tel.: 3ª a Dom. das 10h às 18h. a 24/04. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h De Braço de Ferro, Isabel Carvalho, 226093279. Até 26/02. 3ª a 6ª das 10h às 19h30. 2ª às 19h. Inaugura 31/1 às 19h30. Vídeo, Instalação, Escultura, Von Calhau!, Ana Jotta, entre outro. e Sáb. das 15h às 19h30. Pintura, Outros. Performance, Outros. Lisboa. Vera Cortês - Agência de Arte. Av. 24 de Julho, Pintura.

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