Contra o gênero: a “ideologia de gênero” na Câmara dos Deputados brasileira1 Raniery Parra Teixeira (Doutorando/Unb) Flávia Biroli (Docente/Unb)

Resumo Este artigo tem por objetivo analisar a reação à agenda de igualdade de gênero e diversidade sexual, por meio da mobilização da noção de “ideologia de gênero” na Câmara dos Deputados brasileira. Para tanto, foram analisadas as proposições parlamentares que fizeram menção a essa noção, entre os anos de 1988 e 2018. Sua aparição e concentração foi relacionada ao contexto global e nacional das disputas de gênero. Identificamos seus objetivos e quais parlamentares recorreram a essa estratégia, considerando seu partido, religião e sexo. Foi possível constatar que a adoção da noção de “ideologia de gênero” fomentou a convergência de diferentes atores, em sua maioria conservadores católicos e pentecostais, em torno de dois temas principais: educação sexual e identidade de gênero. Desse modo, procurou-se contribuir para as reflexões acerca da dimensão nacional desse fenômeno, situando-o em um contexto transnacional de reações conservadoras que apresentam potenciais desafios para os sentidos da democracia e da laicidade do Estado. Palavras-chave: “Ideologia de Gênero”; Câmara dos Deputados; Conservadorismo; Democracia.

Abstract This article aims to analyze the reaction of political actors to gender equality and diversity as they resorted to the notion of “gender ideology” in the Brazilian Chamber of Deputies. To this end, we analyzed bills mentioning this expression between 1988 and 2018. Its appearance and frequency were connected to the global and local context of gender disputes. We identified its aims and mapped which parliamentarians resorted to this political strategy, considering their party, their religion and gender. As a result, we point to the fact that the notion of “gender ideology” fostered the convergence between different actors, mostly conservative catholic and evangelical, around two main themes: sex education and gender identity. The study

1 Trabalho submetido ao 44º Encontro Anual da ANPOCS – SPG41: “Religião, Política e Democracia na América Latina: Instituições, Atores e Subjetividades”. 1 contributes to the reflections on the national dimension of this phenomenon, placing it in a transnational context of conservative reactions which present potential challenges to the meanings of democracy and laicity. Key-words: “Gender Ideology”; Câmara dos Deputados; Conservatism; Democracy.

Contra o gênero: a “ideologia de gênero” na Câmara dos Deputados brasileira

Introdução A politização do gênero foi promovida por intelectuais e movimentos feministas e LGBT desde os anos 1980. Tratou-se, sobretudo, de questionar os fundamentos “naturais” das hierarquias e violências fundadas na heteronormatividade e nos papéis tradicionalmente reservados a mulheres e homens na sociedade, explicitando seu caráter relacional e contextual. Por outro lado, na politização reativa do gênero que se iniciou nos anos 1990, os direitos reprodutivos são interpretados como um ataque à vocação feminina à maternidade e ao matrimônio interpretado à luz da família; os direitos sexuais, por sua vez, como uma ameaça à natureza humana e à complementariedade entre os sexos (Vaggione, 2016; Rosado- Nunes, 2015). A desqualificação do gênero como ideologia serve aos propósitos de segmentos conservadores religiosos e laicos de reverter uma agenda de direitos e conquistas que foram produzidas nas décadas recentes, recuperando um ideal de família tradicional. A sobrevivência institucional desse ideal depende, entre outras coisas, da reprodução de uma ordem social alicerçada na hierarquia entre os sexos e na heterossexualidade normativa (Miskolci, 2007). No Brasil, os conflitos em torno da descriminalização do aborto, da criminalização da homofobia, do reconhecimento da união civil homoafetiva e da educação sexual têm correspondido, desde o início dos anos 2000, a uma dinâmica de ação e reação entre atores que defendem agendas políticas conflitantes. De um lado, estão movimentos feministas e LGBT, assim como outros grupos que aderem a concepções e plataformas internacionais referenciadas pela igualdade de gênero e pelo respeito à diversidade sexual. De outro, grupos

2 conservadores, em sua maioria religiosos, que mobilizam a ideia de “defesa da família” contra o gênero. Nessa dinâmica, uma nova estratégia política permitiu intensificar a atuação conjunta de conservadores católicos, evangélicos e que não se definem por sua identidade religiosa. Também se transformou em recurso para mobilizações populares em defesa de valores “tradicionais”, “nacionais” e da “maioria cristã”. Trata-se da noção de “ideologia de gênero”. Essa noção foi inicialmente elaborada por atores católicos e leigos conservadores como reação à inclusão do conceito de gênero em documentos oficiais das Organizações das Nações Unidas (ONU), nos anos 1990 (Villazón, 2015; Lacerda, 2018; Corrêa, 2009; 2018). Em 1998, foi mencionada pela primeira vez em um documento oficial da Igreja Católica, publicado pela Comissão da Mulher da Conferência Episcopal Peruana2. O combate à “ideologia de gênero” se intensificaria, na forma de uma estratégia política, no entanto, na segunda década dos anos 2000. A partir daí, a noção de “ideologia de gênero” se transformaria em uma estratégia política transnacional, que conta com organizações e atores em diferentes países, europeus e latino-americanos, ocupando espaço nos debates públicos, nos processos eleitorais e em protestos de rua. Trata-se de um fenômeno global, que apresenta padrões regionais e nacionais que ainda precisam ser melhor compreendidos, e que vão além da oposição aos direitos sexuais e reprodutivos, disputando o próprio sentido da democracia (Biroli, 2019a e 2019b; Caminotti e Tabbush, 2019; Graff, 2018; Roggeband e Krizsán, 2018; Korolczuk e Graff, 2018; Velez et alii, 2018). Desde 2012, na Europa, e de 2016, no Brasil, a campanha contra a “ideologia de gênero” tem levado milhares de pessoas às ruas de diferentes países e cidades. Nos dois casos, a reação é a leis ou decisões favoráveis à união entre pessoas do mesmo sexo, à adoção por casais homoafetivos e à educação sexual integral, isto é, referenciada pela igualdade de gênero e pela diversidade sexual (Biroli, 2019a). Na América Latina, a campanha #ConMisHijosNoTeMetas” e as Marchas pela Família demonstram seu potencial de mobilização popular. Ao mesmo tempo, processos políticos como o do plebiscito sobre o acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC, em 2016, e as eleições presidenciais no Brasil e na Costa Rica, em 2018, mostram que o gênero tem se transformado em clivagem política, para além das disputas específicas sobre direitos reprodutivos e sexuais.

2 “La ideología de Género, sus peligros y alcances”, assinado pelo Mons. Oscar Alzamora Revoredo, à época bispo auxiliar de Lima. Cf. https://www.aciprensa.com/controversias/genero.htm [último acesso em 2 de julho de 2019]. 3 Há também efeitos concretos nas políticas públicas na região. Em outubro de 2017, o Ministério da Educação e Ciência do Paraguai proibiu a “difusão e utilização de materiais impressos ou digitais, referentes à teoria de gênero e/ou ideologia de gênero, em instituições educativas”, por meio da Resolução 29.664. Para compreender como a campanha contra a “ideologia de gênero” ganhou força no Brasil é importante retroceder alguns anos e compreender as disputas políticas que ocorreram no Parlamento brasileiro, sobretudo em torno do debate sobre o Plano Nacional de Educação (2011-20), de que falaremos neste artigo. Trata-se, também, de um período de crescente polarização política, em que se deu o controverso processo que levaria à deposição da presidente , em 2016. Mais tarde, a noção de “ideologia de gênero” seria mobilizada na campanha eleitoral de 2018 e incluída no discurso inaugural do presidente eleito de extrema-direita, , em janeiro de 2019. Com o objetivo de colaborar para essa compreensão, analisamos como a expressão “ideologia de gênero” foi mobilizada em proposições apresentadas na Câmara dos Deputados brasileira. Esses dados serão apresentados na primeira sessão do artigo e consistem em Projetos de Leis (PLs), Projetos de Decretos Legislativos (PDCs), Requerimentos (REQs) e Requerimentos de Informação (RICs) que recorreram à expressão “ideologia de gênero” ou mencionam conjuntamente “gênero” e “ideologia”, opondo-se à agenda da igualdade de gênero e da diversidade sexual. A análise permitiu identificar quais parlamentares mobilizaram essa linguagem e se engajaram nas disputas relacionadas ao gênero dessa perspectiva, considerando partido, religião e sexo. A principal hipótese da pesquisa, comprovada pela análise dos dados, é que essa estratégia permitiu a convergência de diferentes atores, que assumem uma linguagem comum e se articulam com o objetivo de restringir o alcance da agenda da igualdade de gênero e da diversidade sexual no país. Verificamos que as proposições corresponderam a reações dos parlamentares a políticas públicas, atos normativos e decretos referenciados pela agenda política da igualdade de gênero e do reconhecimento da diversidade sexual. Seu contexto é o da incorporação dessa agenda nas diretrizes de ministérios e também em decisões no âmbito do Judiciário, como as decisões do Supremo Tribunal Federal reconhecendo a união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar (2011) e regulamentando o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (2013). Embora se trate de uma reação que envolve, sobretudo, atores

4 conservadores religiosos, a “ideologia de gênero” permitiu que, numa linguagem laica, se apresentassem como defensores da família e dos direitos das crianças. Nesse sentido, é possível distinguir analiticamente ao menos dois eixos de reação ao que esses atores políticos identificam como sendo instrumentos de difusão da “ideologia de gênero” no Brasil: a) o âmbito das políticas de educação sexual e b) a revisão do ordenamento jurídico e de atos normativos do Poder Executivo referentes à administração pública em geral. Em ambos os casos tratam-se de reações à agenda política de igualdade de gênero em legislações e políticas públicas, mais especificamente daquelas que visam promover o reconhecimento da diversidade de gênero e orientação sexual. Tal distinção nos permitiu uma análise mais detalhada dos objetivos, do conteúdo e da autoria das proposições. Essa análise será apresentada na segunda e na terceira sessão, que se concentram nesses dois eixos, respectivamente. Como se verá, a oposição entre família e Estado acompanha a oposição entre os valores de uma maioria e a ameaça promovida por uma minoria. A conclusão sintetiza os principais resultados, caracterizando a estratégia política da “ideologia de gênero” e suas implicações já conhecidas ou potenciais para a democracia.

1. A “ideologia de gênero” na Câmara dos Deputados No Brasil, e mais especificamente no Poder Legislativo Federal, a expressão “ideologia de gênero” adquiriu notoriedade a partir das discussões relacionadas à inclusão das diretrizes diretrizes de combate à discriminação de gênero e de orientação sexual no Plano Nacional de Educação (2011-2020), apreciado na forma do PL 8.035/2010, que foi proposto pelo Poder Executivo. Embora seja possível verificar citações pontuais à expressão “ideologia de gênero” no combate à promoção do Programa Brasil sem Homofobia (PBH, 2004), entre os anos de 2003 e 2004, nossos dados revelam o aumento gradativo de mobilização da expressão em discursos parlamentares em Plenário e Comissões na Câmara dos Deputados a partir de 2013, alcançando seu pico no ano de 2017.

5 Gráfico 1 – Número de discursos em Plenário e em Comissões na Câmara dos Deputados que mencionam o gênero como ideologia.

Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos da base de dados da Câmara dos Deputados, acessível pelo http://www2.camara.leg.br/ .

Nesse período, ocorreram diversos eventos na Câmara dos Deputados nos quais o termo “ideologia de gênero” passou a ser mobilizado. Essa passou a ser a estratégia comum para a defesa de uma concepção de família convencional (heteronormativa e orientada para a reprodução), da identidade sexual biológica, da recusa ao direito ao aborto e à educação sexual (Lacerda, 2016). Em audiências públicas ocorridas nesse período, atores religiosos e membros de ONGs Pró-vida e Pró-família foram convidados a falar sobre esses temas e denunciaram a inserção da “ideologia de gênero” no Judiciário e em outros aparatos institucionais do Estado (Machado, 2018). Em 2013, o Padre Ricardo Azevedo, católico carismático atuante contra o direito ao aborto3, foi convidado pelo deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), à época presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), para que abordasse os perigos da “ideologia de gênero” naquela Comissão. Já nesse período se pode observar, além da presença religiosa de padres e pastores, o destaque às mulheres. Foi o caso do seminário “Família, Mulher e Gênero”, organizado pelo Partido Social Cristão (PSC) e pelo Observatório Interamericano de Biopolítica, na Câmara dos Deputados, em 2014. Ligadas a ONGs Pró-Vida, Pró-Família e à Renovação Carismática

3 Padre da Arquidiocese de Cuiabá (MT), ele oferece cursos online, é atuante no Facebook e divulga os escritos de Olavo de Carvalho, que, segundo consta em sua página na internet, influenciou profundamente seu pensamento. Cf. https://padrepauloricardo.org/episodios/o-minimo-que-voce-precisa-saber-para-nao-ser-um- idiota (último acesso em 18 de outubro de 2019). 6 Católica (RCC) Renata Gusson, Isabela Mantovani Gomes, Vilma Galadinovil Alvim e Fernanda Takitani falaram respectivamente sobre as “Raízes Históricas da Cultura da Morte”, a “Elaboração e Evolução das Estatísticas de Aborto no Mundo”, o “Desenvolvimento dos Protocolos de Atenção Pré e Pós Aborto” e “Os antecedentes históricos e filosóficos da questão de gênero”. O primeiro documento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a tratar do assunto é de 2015 e teve como objetivo interferir no debate sobre o Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020), manifestando-se abertamente contrário à difusão de uma “ideologia de gênero” no currículo educacional. Pelos eventos, se pode perceber em relação a quais problemas – e com quais atores – os debates na casa seriam travados. Mas são as proposições que trataram da “ideologia de gênero” que permitem compreender a temporalidade dessas disputas em um aspecto central, o engajamento direto de parlamentares de religiões e segmentos distintos na Câmara dos Deputados. O objeto de pesquisa corresponde a essas proposições e foi coletado no site da Câmara dos Deputados, em pesquisa por texto integral preenchendo o campo assunto com a palavra- chave “ideologia de gênero” e selecionando as matérias de produção de Projetos de Leis (PL), Projetos de Decretos Legislativos (PDC), Projetos de Lei Complementar (PLP) Projetos de Emendas Constitucionais (PEC), Requerimentos (REQ) e Requerimentos de Informação (RIC). A pesquisa foi feita anualmente e de forma regressiva o que nos permitiu identificar todas as menções à expressão “ideologia de gênero” em proposições parlamentares desde a sua primeira aparição até o ano de 2018. A ferramenta de busca do site oferece duas opções de pesquisa: simples e avançada. A pesquisa simples coleta os documentos cujos assuntos versam sobre a temática “ideologia de gênero” no teor de justificativa do documento, já a pesquisa avançada permite restringir a coleta documental apenas àqueles documentos que mencionam exatamente a expressão “ideologia de gênero” no caput da lei ou na ementa do requerimento. Todos os documentos que retornaram na “pesquisa avançada” estavam contidos na coleta no modo “pesquisa simples”. Dessa forma, optamos por analisar o conjunto daqueles assim coletados uma vez que oferece uma amostra maior de resultados. Excluído o material que retornou nessa busca, mas não correspondia ao recurso à “ideologia de gênero” contra a agenda da igualdade de gênero e da diversidade sexual, o corpus inicial consiste em 43 proposições, 11 PLs, 16 PDCs, 12 REQs e 4 RICs4. 4 Foram excluídas as proposições que não faziam referência à “ideologia de gênero” contra a agenda da igualdade de gênero. Por isso, de um total de 19 PLs, 16 PDCs, 21 REQs e 4 RICs restou o corpus total de 43 7 Do ponto de vista partidário, as proposições revelam uma articulação plural. De um total de 28 partidos políticos que dispunham de representação política na Câmara dos Deputados durante a realização dessa pesquisa, 22 deles se envolveram no combate à “ideologia de gênero”. São eles: PSB, PRB, PMDB, DEM, PSD, PSDB, PR, PEN, PSC, PMN, SD, PTC, PR, PHS, PROS, PTB, PP, PV, PDT, PSL, PTdoB, . No que diz respeito à distinção por gênero entre os autores dos projetos, identificamos a participação de um total de 140 parlamentares; desses, 133 são homens e apenas 7 são mulheres. Entre os mais atuantes, destacam-se os deputados federais Diego Garcia (PHS/PR) e Victório Galli (PSC/MT), que assinaram nove proposições cada. Flavinho (PSB/SP) assinou oito proposições; Eros Biondini (PTB/MG) e Marco Feliciano assinaram sete proposições cada um, seguidos de Alan Rick (PRB/AC), que assinou seis proposições. Entre as mulheres, Geovânia de Sá (PSDB/SC) assinou três proposições e Rosângela Gomes (PRB/RJ) assinou duas; as demais assinaram apenas uma. Quanto à filiação religiosa, dos 140 parlamentares, 34 são declaradamente católicos, sendo 4 deles católicos carismáticos, e 68 são declaradamente evangélicos. Foram encontrados também sete parlamentares que se identificam apenas como cristãos, além de um mórmon e um maçom. Não foi possível identificar o vínculo religioso de 29 deputados, que são conservadores, mas não mobilizam identidade ou filiação religiosa em seu mandato ou em sua atuação na vida pública. Apesar do baixo número de católicos carismáticos, eles estão entre os mais atuantes nessa agenda: entre eles estão Diego Garcia (PHS-PR), Flavinho (PSB-SP) e Eros Biondini (PTB-MG), já mencionados acima, e também Evandro Gussi (PV-SP), autor de cinco proposições. Entre os 68 deputados evangélicos, 19 são membros da Assembleia de Deus, 9 da Igreja Universal do Reino de Deus e 5 da Igreja Batista. Nossa análise mostrou, também, que as proposições que tramitaram na Câmara dos Deputados concentram-se em dois eixos temáticos: gênero na educação e reconhecimento da identidade de gênero. São 20 as proposições sobre reconhecimento da identidade de gênero e 23 as que tratam do tema educação. Embora haja um relativo equilíbrio entre os temas no universo das proposições, entre os Requerimentos analisados, 13 (todos os RICs e 9 REQs) versam sobre a temática de educação, enquanto 3 tratam da identidade de gênero (REQs em todos os casos). Quando analisados os PDCs, essa lógica se inverte, sendo que apenas 4 abordam a educação e proposições mencionado. A pesquisa não gerou retorno de nenhuma PEC e PLP.

8 12 a identidade de gênero. A elaboração de PLs é a mais equilibrada entre as duas temáticas, sendo 6, inicialmente, sobre educação e 5 sobre identidade de gênero. Entre os projetos de lei sobre educação que retornaram na coleta, quatro tramitam em conjunto com o PL 7.180/2014, que não compunha o corpus inicial. O projeto não faz menção à “ideologia de gênero”, por isso não havia retornado na coleta realizada. Ele é fundamental, no entanto, para a tramitação das matérias que recorrem a essa expressão no eixo da educação e aborda em sua justificativa um elemento importante no léxico utilizado pelos opositores da inserção de gênero nas diretrizes e currículos educacionais: a prevalência dos valores de ordem familiar sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa. Dessa forma, sua tramitação foi incluída no escopo de análise dos dados, elevando o número de proposições apreciadas para 44. Abaixo, analisamos as proposições nos dois eixos temáticos mencionados, o da educação e o da diversidade sexual.

2. O sistema educacional brasileiro como palco do combate ao gênero

A articulação política dos parlamentares em oposição à agenda de igualdade de gênero concentrou-se em revisar atos legislativos, normativas oficiais, requerimentos, portarias e diretrizes que faziam menção aos termos gênero e orientação sexual.

No Quadro 1, abaixo, estão as proposições no eixo temático educação, com seus respectivos autores, indicando também vínculo partidário, religioso, o objetivo da proposição e situação de tramitação.

Quadro 1. Proposições parlamentares no eixo temático Educação

Projeto Autor Vínculo Religioso Objetivo Situação PL Erivelton Santana Diácono da Assembleia de Os valores familiares Aguardando 7.180/2014 (PEN/BA) Deus passam a ter precedência deliberação na sobre os aspectos Comissão Especial relacionados à educação destinada a proferir moral, sexual e religiosa parecer

9 PL Alan Rick Pastor da Igreja Batista Veda a aplicação da Tramita em 1.859/2015 (PRB/AC)5 “ideologia de gênero”, o conjunto com o PL termo “gênero” ou 7.180/2014 “orientação sexual” das políticas de ensino PL Eros Biondini Renovação Católica Proíbe a utilização dos Retirado de 2.731/2015 (PTB/MG) Carismática termos “gênero”, tramitação pelo “orientação sexual” e seus autor derivados como expressão da “ideologia de gênero” na educação nacional PL Marco Feliciano Pastor da Catedral do Exclui a promoção da Retirado de 3.236/2015 (PSC/SP) Avivamento, ligada à “ideologia de gênero” por tramitação pelo Assembleia de Deus qualquer meio ou forma autor do PNE. PL Professor Victírio Pastor da Assembleia de Proíbe o MEC de Tramita em 5.487/2016 Galli (PSC/MT) Deus distribuir livros às escolas conjunto com o PL públicas que abordem 7.180/2014 temas relacionados à orientação e diversidade sexual PL Cabo Daciolo Pastor da Assembleia de Veda a promoção de Tramita em 10.577/2018 (PATRIOTA/RJ) Deus políticas de ensino e conjunto com o PL atividades culturais que 7.180/2014 promovam a “ideologia de gênero” nas instituições educacionais PL Delegado Waldir Não identificado Não interferência e Tramita em 10.659/2018 (PSL/GO) respeito às convicções conjunto com o PL religiosas, morais e 7.180/2014 políticas do aluno, vedada a promoção da “ideologia de gênero”.

5 Assinam este PL outros 13 deputados: Antonio Carlos Mendes Thame – PSDB/SP; Antonio Imbassahy – PSDB/BA; Bonifácio de Andrada – PSDB/MG; Celso Russomanno – PRB/SP; Eduardo Cury – PSDB/SP; Eros Biondini – PTB/MG; Evandro Gussi – PV/SP; Givaldo Carimbão – PROS/AL; Izalci – PSDB/DF; João Campos – PSDB/GO; – PMDB/RJ; Luiz Carlos Hauly – PSDB/PR; Rosangela Gomes – PRB/RJ; Stefano Aguiar - PSB/MG 10 PDC Flavinho Renovação Católica Susta os efeitos da Devolvido ao autor 122/2015 (PSB/SP)6 Carismática inclusão da “ideologia de pela MESA gênero” no Documento Final do CONAE – 2014 PDC Professor Victório Pastor da Assembleia de Susta a Portaria nº Tramita na 213/2015 Galli (PSC/MT) Deus 916/2015 do MEC que Comissão de instituía o Comitê de Educação e Gênero, por tratar-se de aguarda parecer de promoção da “ideologia relatoria de gênero” PDC Pastor Eurico Pastor da Assembleia de Idem ao PDC 213/2015. Apensado ao PDC 214/2015 (PHS/PE)7 Deus. 213, tramita em conjunto na Comissão de Educação PDC Diego Garcia Renovação Católica Susta a Portaria nº Atualmente está 1.094/2018 (PODE/PR) Carismática 1.120/2018 do MEC que sob posse da Mesa trata da atualização das Diretora da Câmara Diretrizes Curriculares e será designado à Nacionais para o Ensino Comissão de Médio por mencionar, Educação e à explicitamente, as Comissão de palavras “gênero”, Constituição, “identidade de gênero” e Justiça e Cidadania “orientação sexual”

6Assinam este PDC outros 65 deputados federais: Nelson Marquezelli – PTB/SP; Evandro Gussi – PV/SP; Paulo Foletto – PSB/ES; Marcus Pestana – PSDB/MG; Luiz Carlos Hauly – PSDB/PR; Izalci – PSDB/DF; Moroni Torgan – DEM/CE; Goulart – PSD/SP; Silas Câmara – PSD/AM; César Messias – PSB/AC; Tenente Lúcio – PSB/MG; Adilton Sachetti – PSB/MT; Givaldo Carimbão – PROS/AL; Pr. Marco Feliciano – PSC/SP; Eros Biondini – PTB/MG; Lincoln Portela – PR/MG; Alan Rick – PRB/AC; Roberto Alves – PRB/SP; Ronaldo Martins – PRB/CE; Antonio Bulhões – PRB/SP; Rogério Peninha Mendonça – PMDB/SC; Jair Bolsonaro – PP/ RJ; Márcio Marinho – PRB/BA; Miro Teixeira – PROS/RJ; Júlio Delgado – PSB/MG; Joaquim Passarinho – PSD/PA; Sóstenes Cavalcante – PSD/RJ; Alexandre Serfiotis – PSD/RJ; João Rodrigues – PSD/SC; Jefferson Campos – PSD/SP; Ezequiel Teixeira – SD/RJ; Fábio Sousa – PSDB/GO; Walter Ihoshi – PSD/SP; Vitor Lippi – PSDB/SP; Eduardo Cury – PSDB/SP; Marcelo Aro – PHS/MG; Kaio Maniçoba – PHS/PE; Vitor Valim – PMDB/CE; Macedo – PSL/CE; Missionário José Olimpio – PP/SP; Francisco Floriano – PR/RJ; Geovania de Sá – PSDB/SC; Diego Garcia – PHS/PR; Evandro Roman – PSD/PR; Carlos Gomes – PRB/RS; Esperidião Amin – PP/SC; Fábio Mitidieri – PSD/SE; Hildo Rocha – PMDB/MA; Alceu Moreira – PMDB/RS; Alberto Filho – PMDB/MA; Lelo Coimbra – PMDB/ES; Walter Alves – PMDB/RN; Hugo Motta – PMDB/PB; Veneziano Vital do Rêgo – PMDB/PB; Laudivio Carvalho – PMDB/MG; Cabuçu Borges – PMDB/AP; Luiz Lauro Filho – PSB/ SP; Clarissa Garotinho – PR/RJ; Herculano Passos – PSD/SP; Leopoldo Meyer – PSB/PR; Heitor Schuch – PSB/RS; – PSB/PE; Baleia Rossi – PMDB/SP; Marcos Rogério – PDT/RO; Evair de Melo – PV/ES; Fernando Francischini – SD/PR. 7Assinam este PDC outros 47 deputados federais: Alan Rick – PRB/AC; Alberto Fraga – DEM/DF; Anderson Ferreira – PR/PE; Andre Moura – PSC/SE; Antonio Bulhões – PRB/SP; Aureo – SD/RJ; Capitão Augusto – PR/ SP; Carlos Andrade – PHS/RR; Carlos Gomes – PRB/RS; Celso Russomanno – PRB/SP; Diego Garcia – PHS/PR; Domingos Neto – PROS/CE; Elizeu Dionizio – SD/MS; Evandro Gussi – PV/SP; Ezequiel Teixeira – SD/RJ; Fábio Sousa – PSDB/GO; Fabricio Oliveira – PSB/SC; Flavinho – PSB/SP; Francisco Floriano – PR/RJ; Geovania de Sá – PSDB/SC; Givaldo Carimbão – PROS/AL; Jair Bolsonaro – PP/RJ; Jefferson Campos – PSD/ SP; Jhonatan de Jesus – PRB/RR; João Campos – PRB/GO; Júlia Marinho – PSC/PA; Leonardo Quintão – PMDB/MG; Marcelo Aguiar – DEM/SP; Marcelo Aro – PHS/MG; Marcos Rogério – PDT/RO; Missionário José Olimpio – PP/SP; Moroni Torgan – DEM/CE; Nilton Capixaba – PTB/RO; – PMDB/RS; Pastor Franklin – PtdoB/MG; Pr. Marco Feliciano – PSC/SP; Professor Victório Galli – PSC/MT; Roberto Alves – PRB/SP; Rocha – PSDB/AC; Rogério Rosso – PSD/DF; – PROS/DF; Rosangela Gomes – PRB/RJ; Silas Câmara – PSD/AM; Sóstenes Cavalcante – PSD/RJ; Stefano Aguiar – PSB/MG; – PSB/MS;Vinicius Carvalho – PRB/SP. 11 REQ Flavinho (PSB/SP) Renovação Católica Convoca o Ministro da Arquivada 186/2015 Carismática Educação para prestar esclarecimentos a respeito do documento final do CONAE – 2014. REQ Izalci Lucas Católico Inclui dois nomes à Arquivada 129/2015 (PSDB/DF) Audiência Pública solicitada pelo REQ 083/2015 que trata do tema de “ideologia de gênero” nos planos estaduais e municipais de educação REQ Professor Victório Pastor da Assembleia de Requer Audiência Pública Arquivada 134/2015 Galli (PSC/MT) Deus para discutir a promoção da “ideologia de gênero” no Colégio Federal Pedro II – RJ REQ Fernando Assembleia de Deus Requer cópia dos livros Arquivada 137/2015 Francischini didáticos de história, (SD/PR) geografia e biologia aprovados pelo MEC para educação básica, a fim de verificar se há promoção da “ideologia de gênero” REQ Rogério Marinho Não identificado Requer Audiência Pública Arquivada 144/2015 (PSDB/RN) para discutir o conteúdo do ENEM 2015, a fim de discutir a promoção de “ideologia de gênero” nas questões da prova REQ Carlos Andrade Assembleia de Deus Requer a realização de Arquivada 213/2015 (PHS/PR) Audiência Pública para apresentar os malefícios da “ideologia de gênero” à sociedade. REQ Givaldo Carimbão Católico Requer a realização de Arquivada 083/2015 (PROS/AL)8 Audiência Pública para discutir a promoção da “ideologia de gênero” nos planos estaduais e municipais de educação REQ Marcelo Aguiar Igreja Renascer em Cristo Requer a criação de Arquivada 2290/2015 (DEM/SP) Comissão Externa Temporária para acompanhar a aprovação dos planos estaduais e municipais de educação

8 Assinam este REQ outros 3 deputados federais: Diego Garcia – PHS/PR; Flavinho – PSB/SP; Eros Biondini – PTB/MG. 12 REQ Sóstenes Assembleia de Deus Requer a criação de Arquivada 5591/2016 Cavalcante (DEM/ Comissão Externa RJ) Temporária para acompanhar uma diligência ao Colégio Federal Pedro II – RJ RIC Izalci Lucas Católico Requer informações do Encaminhamento 565/2015 (PSDB/DF)9 Ministro da Educação de resposta sobre o conteúdo do conforme Ofício documento final do 1ªSec/RI/I/n. CONAE – 2014 1105/15, de 24 de julho de 2015 RIC Alan Rick Pastor da Igreja Batista Requer informações da Encaminhamento 689/2015 (PRB/AC)10 Casa Civil da Presidência de resposta da República acerca do conforme Ofício documento final elaborado 1ªSec/RI/I/n.1192/2 pelo CONAE – 2014 015, de 06 de agosto de 2015 RIC João Campos Assembleia de Deus Requer informações do Aguardando 2818/2017 (PRB/GO) Ministro da Educação deliberação na sobre competências da mesa Diretoria de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania do Ministério da Educação por conter expressões que promovem a “ideologia de gênero” RIC Flavinho (PSB/SP) Renovação Católica Requer informações do Ratificado o 2783/2017 Carismática Ministro da Educação parecer "ad sobre a introdução da referendum" “ideologia de gênero” nos Conteúdos Curriculares da Base Nacional Comum Curricular Fonte: Elaboração própria.

Como dito anteriormente, foi com as discussões em torno da inserção de diretrizes de promoção da igualdade de gênero e do respeito à diversidade sexual no Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020) que o termo “ideologia de gênero” passou a ser mobilizado com mais frequência. O PNE, apreciado na forma do PL 8.035/2010, foi apresentado pelo Poder Executivo no dia 20/12/2010 e tinha por objetivo definir diretrizes e metas para a educação durante aquele decênio. O PL passou pela primeira fase de tramitação na Câmara dos

9Assinam este REQ outros 8 deputados federais: Professora Dorinha Seabra Rezende – DEM/TO; Lelo Coimbra – PMDB/ES; Professor Victório Galli – PSC/MT; Diego Garcia – PHS/PR; Evandro Gussi – PV/SP; Leandre – PV/PR; Eros Biondini – PROS/MG; Flavinho – PSB/SP. 10 Assinam este RIC outros 7 deputados federais: Diego Garcia – PHS/PR; Roberto Alves – PRB/SP; Geovânia de Sá – PSDB/SC; Carlos Gomes – PRB/RS; Takayama – PSC/PR; Evandro Roman – PSD/PR; Carlos Andrade – PHS/PR. 13 Deputados e, em seu retorno do Senado Federal para a Comissão Especial da Câmara, em 2013, é que as referências ao combate às desigualdades de gênero e à promoção do respeito à diversidade sexual passaram a ocupar o centro do debate (ROSADO-NUNES, 2015; MACHADO, 2018). As principais reações dos parlamentares conservadores foram à emenda ao artigo 2º do projeto, apresentada pelo relator deputado federal Angelo Vanhoni (PT-SC), que propunha superar as desigualdades educacionais dando ênfase à igualdade racial, regional, de gênero e orientação sexual. Opuseram-se também à estratégia 3.9 da Meta 3 do projeto, que tinha como objetivo reduzir a evasão escolar motivada pelo preconceito e discriminação à orientação sexual ou à identidade de gênero. Em ambos os casos, o termo gênero e os trechos mencionados foram suprimidos da redação final do documento sancionado pela presidente Dilma Rousseff, correspondente à Lei nº 13.005/2014. Apesar das alterações, a Conferência Nacional de Educação (CONAE), naquele mesmo ano, por decisão do Fórum Nacional de Educação (FNE), vinculado ao MEC, elaborou um documento reafirmando o princípio da superação das desigualdades de gênero e orientação sexual11. Por servir como referência e subsídio para a formulação de diretrizes e políticas públicas educacionais nos âmbitos estaduais e municipais, foi interpretado pelos parlamentares como um desrespeito à decisão do Congresso Nacional e como imposição da “ideologia de gênero” por outras vias. Houve reações em três frentes: intensificaram-se os questionamentos sobre a legitimidade do documento e de uma ação via Executivo; foram apresentadas propostas de reformulação da Lei nº 13.005/2014 a fim de inserir dispositivos que proibissem a utilização de termos relacionados à agenda de gênero em qualquer âmbito da educação nacional; e, em terceiro lugar, ampliaram-se as propostas de fiscalização e penalização dos estados e municípios que adotassem a linguagem de gênero em seus planos educacionais. Assim, foram apresentados 3 PLs, 2 PDCs e 1 REQ que tratavam da Lei 13.005/201412 e 1 PDC, 4 REQs e 2 RICs que solicitavam a realização de audiências públicas para tratar da incidência da “ideologia de gênero” nas instituições de ensino do país. Os principais alvos de questionamentos foram o MEC e a Casa Civil da Presidência de República.

11 Disponível no site: http://conae2014.mec.gov.br/images/pdf/doc_referencia.pdf [último acesso em 18/12/2018]. 12PL: 2731/2015; 3236/2015; 5487/2016. PDC: 213/2015; 214/2015; REQ: 137/2015. 14 Na mesma direção, o deputado federal Fernando Francischini (SD-PR), delegado de polícia e membro da Igreja Assembleia de Deus, apresentou o REQ 137/2015, solicitando que o Ministério da Educação enviasse ao Congresso Nacional as cópias dos livros de geografia, história e biologia distribuídos para a educação básica entre os anos de 2005 e 2015. Segundo o deputado, havia diversas denúncias de que esses materiais faziam apologia a “ideologias políticas”, entre elas a “ideologia de gênero”. O PL 2.731/2015, apresentado pelo dep. federal Eros Biondini (PTB-MG), médico veterinário, cantor gospel, católico carismático e autor de 7 proposições parlamentares coletadas por essa pesquisa é representativo do escopo da fiscalização e penalização, pressupondo a proibição desde o veto ao gênero no PNE. Para o deputado, a “ideologia de gênero” estimula um comportamento sexual que não é o “habitual” e “majoritário” na sociedade brasileira e, por isso, deve-se garantir sua exclusão do sistema educacional. Entre os parlamentares mais atuantes nessa agenda está o católico carismático e membro da Frente Parlamentar Católica, deputado Flavinho (PSB-SP). Como se pode ver no Quadro 1, ele atuou nessas três frentes. Apresentou proposições com o objetivo de eliminar a agenda de gênero das políticas públicas e do ordenamento jurídico, reagiu à decisão do CONAE, propondo a suspensão de todas as disposições que fizessem referências às expressões gênero, diversidade sexual ou orientação sexual no documento. O parlamentar apresentou, ainda, quatro requerimentos solicitando audiências públicas com os Ministros da Educação e da Casa Civil. No REQ 186/2015, solicitava que o então Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, esclarecesse os motivos pelos quais o documento aprovado pelo FNE reproduzia as referências à “ideologia de gênero”, uma vez que já estaria, segundo ele, comprovado que tal ideologia tinha por objetivo a sexualização de crianças nas escolas e o desrespeito aos costumes e valores de cada núcleo familiar. De autoria de um parlamentar evangélico, o deputado federal Marcelo Aguiar (DEM/SP), membro da Igreja Renascer em Cristo, o REQ 2.290/2015 tinha objetivos muito semelhantes e solicitava a criação de uma Comissão Externa Temporária, sem ônus para a Câmara dos Deputados, para acompanhar a aprovação dos planos estaduais e municipais de educação em todo o país. Se em um primeiro momento a atuação para excluir a perspectiva de gênero do PNE uniu conservadores católicos e evangélicos, em seguida eles consolidariam essa aliança em sua reação à decisão do CONAE e com o objetivo de desenvolver “fiscalização” contrária à “ideologia de gênero” nas escolas. 15 As audiências públicas promovidas pela Câmara expõem uma aliança que inclui, além de católicos e evangélicos, leigos a eles alinhados que promovem abordagens apresentadas como científicas. Os convidados para audiência pública sobre a “ideologia de gênero” e seus efeitos na Comissão de Educação foram, de acordo com os REQs 083/2015 e 129/2015: um representante do Ministério da Educação/FNE; conselheiros estaduais de educação; um representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Dom Valério Breda, Bispo Diocesano de Penedo (AL); Felipe Nery, presidente do Observatório Interamericano de Biopolítica e da Rede Nacional de Direito e Defesa da Família, também diretor do Instituto Sophia Perennis; Fernanda Takani, professora de história e integrante do Instituto de Biopolítica Zenit; Eduardo Melo, presidente desse instituto e membro do Observatório presidido por Nery; um Representante do Conselho Nacional de Pastores do Brasil (CNPB); o Professor Hermes Rodrigues Nery, especialista em bioética pela PUC-SP, presidente da Associação Pró-Vida e Pró-Família e coordenador do Movimento Legislação e Vida, Miguel Nagib, advogado que ganhou notoriedade como coordenador do movimento “Escola Sem Partido”. O primeiro requerimento foi assinado por quatro parlamentares, entre eles o deputado federal Givaldo Carimbão (PROS-AL), comerciante católico eleito cinco vezes consecutivas deputado federal pelo Estado de Alagoas e presidente da Frente Parlamentar Católica na 55ª Legislatura. Em sua atuação na agenda de gênero, destacava-se anteriormente o PL 4917/2001, que objetivava tipificar o aborto como crime hediondo. O REQ 129/2015, por sua vez, foi assinado por Izalci Lucas (PSDB-DF), também católico e autor de várias proposições no âmbito dessa pesquisa. Neste caso, destaca-se o fato de ser o autor do PL 867/2015, denominado “Escola Sem Partido”, sobre o qual voltaremos a falar mais adiante, que visa coibir a “doutrinação ideológica” no sistema educacional brasileiro. Em 2018, foi eleito senador com apoio da Frente Cristã em Defesa da Família13. Entre os PLs que faziam referência à Lei 13.005/2014, apenas o PL 5.487/2016 permanece ativo e tramita em conjunto com o PL 7180/2014. Seu objetivo é proibir que o MEC distribua materiais didáticos que abordem a temática de orientação e diversidade sexual às escolas públicas, ou seja, que promovam a “ideologia de gênero”. Esse PL foi apresentado pelo deputado federal Professor Victório Galli (PSC-MT), pastor da Assembleia de Deus e professor de teologia, que é membro da Frente Parlamentar evangélica e um dos deputados

13http://www.jornaldebrasilia.com.br/politica-e-poder/candidato-ao-senado-izalci-lucas-ganha-apoio-de-frente- crista/ Visualizado (último acesso em 18/12/2018). 16 evangélicos mais atuantes contra o gênero, tendo apresentado 9 proposições parlamentares coletadas por essa pesquisa. O PL 7180/2014, mencionado há pouco, merece destaque definir claramente uma das principais agendas dos parlamentares engajados na reação à chamada “ideologia de gênero”, a prevalência da família em relação ao Estado e a agenda de justiça social que possam colidir com suas crenças e valores. Seu objetivo é alterar a redação do artigo 3º da Lei 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, inserindo o inciso XIII que define que a autoridade familiar prevalece em relação à instituição escolar em temas relacionados à educação moral, sexual e religiosa. O projeto se fundamenta no Pacto de San José da Costa Rica, de 22 de novembro de 1969, ratificado pelo Brasil por meio do decreto presidencial de nº 678 de 6 de novembro de 1992, e que tem em seu inciso IV, do artigo 12, a garantia de que a educação religiosa e moral das crianças esteja de acordo com as convicções de seus pais e tutores. O PL foi apresentado pelo deputado federal Erivelton Santana (PEN-BA), diácono da Assembleia de Deus. Ele tem exatamente a mesma compreensão e linguagem dos que foram propostos por conservadores católicos, como o deputado Flavinho (PSB-SP). Mobilizando o slogan “Eu acredito na Família”, Santana se define como um cristão em defesa da família, reunindo em sua trajetória a oposição ao aborto e à “ideologia de gênero”14. O relator do PL em 2015, deputado federal Diego Garcia (PHS-PR), católico da RCC e ex-Presidente do Conselho Diocesano na Diocese de Jacarezinho-PR, concedeu parecer favorável à aprovação do projeto. O deputado já havia proferido relatorias favoráveis aos projetos conhecidos como “Estatuto da Família” (PL 6.583/2013) e “Estatuto do Nascituro” (PL 478/2007), o que indica uma atuação focada na defesa da heteronormatividade e do aborto, de maneira similar ao parlamentar católico. Na última legislatura, foi presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família e instituiu na casa o Grupo de Oração Beata Elena Guerra, ligado à RCC15. Ao PL 7.180/2014, de que falávamos nos parágrafos acima, foi apensado em 2015 o PL 867/2015, denominado “Escola Sem Partido”, já mencionado. Foi esse o momento em que o combate à “ideologia de gênero” entrou formalmente na agenda política dos defensores do programa Escola sem Partido, criado em 2004. Embora seu objetivo inicial fosse o combate à “doutrinação marxista”, ele adquiriu protagonismo ao integrar-se à campanha contra a “ideologia de gênero”, confeccionando PLs que serviriam de subsídio para a elaboração de 14 https://pt-br.facebook.com/deputadoeriveltonsantana [último acesso em 11/07/2019]. 15Informações disponíveis em: https://www.diegogarciapr.com.br, [último acesso em 19/12/2018]. 17 políticas educacionais em âmbitos federal, estadual e municipal. Assim, ficava mais explícita a dimensão do controle sobre o sistema educacional por meio da censura. Em todos esses projetos, a autoridade da família na criação dos filhos é o ponto central. A “doutrinação política e ideológica”, que para movimento Escola Sem Partido seria característica do debate político e de conjuntura, assim como da educação moral, sexual e religiosa nas escolas, deveria ser atributo da família – e tão somente da família, esse é o ponto. A ideia de que professores procuram corromper a infância corresponde à demanda pela restrição de políticas e diretrizes públicas, tanto quanto da liberdade de expressão. Os demais projetos apensados ao PL 7.180/2014, que tramitam em conjunto na Comissão Especial de Educação Comissão de Seguridade Social e Família – PL 1.859/2015; PL 5.487/2016; PL 10.577/2018; e PL 10.659/2018 – têm todos o objetivo de proibir os termos gênero, orientação sexual e derivados na lei de diretrizes e bases educacionais. O PL 1.859/2015 é de autoria de Alan Rick (PRB-AC), autor de outros quatro PDCs que constam no Quadro 1. Rick, que se autodefine como “servo de Deus” e lança mão de linguagem religiosa de maneira explícita, é pastor da Igreja Batista e, antes de ingressar na vida política, fez carreira como jornalista político na TV GAZETA. O PL veda a aplicação do termo “gênero” e “orientação sexual” das políticas educacionais e afirma que a menção a essas palavras é parte do projeto totalitário de poder dos difusores da “agenda de gênero”; que teria, segundo indicado na justificativa, em Karl Marx, Max Horkheimer, Kate Millett e Judith Butler seus principais ideólogos. Cabo Daciolo, que ficou nacionalmente conhecido após se candidatar ao cargo de presidente da República, em 2018,é autor do PL 10.577/2018. Nele, o pastor evangélico cita o livro bíblico de Gênesis para afirmar que Deus criou o homem e a mulher para que sejam férteis e se multipliquem e que a “ideologia de gênero” tem por objetivo destruir a família natural, uma vez que faz apologia à diversidade sexual, vista pelo autor como consequência de uma instituição familiar desorganizada e que estaria relacionada à pedofilia. Em linguagem de direitos ou linguagem abertamente religiosa, entre católicos e evangélicos envolvidos na campanha contra o gênero a justificativa da autoridade “natural” da família na criação dos filhos vem atrelada à ideia de que existe uma ameaça às famílias e às crianças, à qual é necessário reagir. Educação e identidade sexual também aparecem sobrepostas, embora nesse primeiro eixo – e sessão do artigo – tenhamos destacado a primeira. Em 2014, uma aluna transexual passou a utilizar o uniforme feminino do Colégio Federal Dom Pedro, sediado no 18 . Na ocasião, a direção do Colégio informou que tal conduta feriria o Código de Ética Discente em vigor. Após manifestação de apoio dos colegas de turma em favor da aluna16, a direção do Colégio reviu sua posição e passou a adotar medidas a fim de suprimir as diferenças de gênero em avisos e documentos institucionais17, bem como reviu a política de distinção por gênero de uniforme, deixando a cargo dos e das estudantes a escolha de qual seria compatível com sua identidade de gênero18. Os desdobramentos desse fato deram origem a mais dois REQs apresentados na Câmara dos Deputados. O deputado federal professor Victório Galli (PSC-MT), pastor da Assembleia de Deus, apresentou o REQ 134/2015, solicitando que o Reitor do Colégio, Prof. Oscar Halac, explicasse a supressão das marcas na língua portuguesa do gênero masculino e feminino pela letra “x”, ato que incitaria a “ideologia de gênero” no âmbito educacional, contrariando o Plano Nacional de Educação aprovado em 2014 com a supressão de trechos já mencionada. O REQ 5.591/2016, apresentado pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante, membro da mesma denominação evangélica, solicitou a criação de uma Comissão Externa Temporária para acompanhar os “abusos de poder por parte da Reitoria da escola que aboliu a distinção dos uniformes escolares por gênero e está impondo a Ideologia de Gênero sem consultar os pais e alunos” (BRASIL, 2016). A justificativa do requerimento é que, nesse caso, a dimensão do sexo, apresentada como elemento definidor do ser humano, estaria sendo deixada de lado. Quando o tema é a identidade sexual, a ideia de natureza humana ganha centralidade, como se verá adiante. A crítica se volta especificamente à ideia de que as pessoas poderiam definir sua identidade de gênero ao longo da vida, independentemente do sexo biológico com o qual foram identificadas ao nascer.

3. O apagamento das referências ao “gênero” e diversidade sexual no ordenamento jurídico e na administração pública federal.

O reconhecimento da identidade de gênero e da diversidade sexual no ordenamento jurídico e pela administração pública foi alvo de revisões e contestações normativas e legislativas por parte de parlamentares contrários à sua difusão. No Quadro 2, listamos as proposições que incidem sobre os temas de reconhecimento da identidade de gênero e 16 https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/meninos-do-colegio-pedro-ii-vao-escola-de-saia-em-apoio- colega-transexual-13893794 [último acesso 21/12/2018]. 17 https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/professores-do-pedro-ii-adotam-termo-alunxs-para-se-referir- estudantes-sem-definir-genero-17564795 [último acesso 21/12/2018]. 18 https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/colegio-pedro-ii-extingue-distincao-de-uniforme-por-genero- 20139240, último acesso em 21/12/2018. 19 diversidade sexual, com seus respectivos autores, indicando, como no Quadro 1, vínculo partidário, religioso, o objetivo da proposição e situação da tramitação.

Quadro 2. Proposições parlamentares no eixo temático Identidade e Diversidade Sexual.

Projeto Autor Vínculo Religioso Objetivo Situação PL Marco Feliciano Pastor da Catedral do Acrescentar ao ECA artº Tramita na 3235/201519 (PSC/SP) Avivamento, ligada à 234-A que criminaliza o Comissão de Assembleia de Deus fomento à “ideologia de Defesa dos Direitos gênero” em atos da da Mulher administração pública federal com pena de detenção de seis meses a dois anos, e multa PL Eros Biondini Renovação Católica Retira a menção ao gênero Retirado de 477/2015 (PTB/MG) Carismática da Lei 11.340/2006 (Lei tramitação pelo Maria da Penha); autor e devolvido à substituindo o termo Coordenação de gênero por sexo Comissões Permanentes PL Professor Victório Pastor da Assembleia de Acrescenta ao Decreto-Lei Comissão de 5686/2016 Galli (PSC/MT) Deus das Contravenções Penais Coordenações (nº 3.688/1941), Permanentes constituindo contravenção PL Comissão de usar banheiro público 5774/2016 Defesa dos Direitos diferente de seu gênero da Mulher masculino ou feminino PL Vinícius Carvalho Pastor da Igreja Universal Altera o ECA dispondo Apensado ao PL 9.948/2018 (PRB/SP) do Reino de Deus sobre classificação de 2.415/1996. programas com conteúdo que aborde “ideologia de gênero” PDC Marco Feliciano Pastor da Catedral do Susta as decisões do STF Arquivado pela 637/2012 (PSC/SP) Avivamento, ligada à (ADI 4277 e ADPF 132) Coordenação de Assembleia de Deus que reconhece como Comissões entidade familiar a união Permanentes entre pessoas do mesmo sexo PDC Susta a aplicação da Tramita na 16/2015 Resolução nº 12 de 2015 Comissão de da Secretaria de Direitos Direitos Humanos Humanos, da Presidência e Minorias; da República, que aguarda designação reconhece a identidade de de relatoria gênero nos sistemas e instituições de ensino PDC Susta a aplicação da Tramita na 17/2015 Resolução nº 11 de 2014 Comissão de

19 Apesar de o PL propor, entre outras coisas, a proibição de elaboração e divulgação de materiais didáticos orientados à perspectiva de igualdade de gênero, tal proposição foi analisada nessa sessão por se tratar de uma alteração legislativa mais ampla no Estatuto da Criança e do Adolescente, com a inserção do art. 234-A. 20 da Secretaria de Direitos Direitos Humanos Humanos, da Presidência e Minorias; da República, que inclui o aguarda designação reconhecimento da de relatoria identidade de gênero nos boletins de ocorrência pelas autoridades policiais no Brasil PDC Ezequiel Teixeira Pastor da Igreja Projeto Idem PDC 16/2015 Tramita em 26/2015 (SD/RJ) Vida Nova conjunto com o PDC 16 PDC Eros Biondini Renovação Católica Idem PDC 16/2015 30/2015 (PTB/MG)20 Carismática PDC Professor Victório Pastor da Assembleia de Idem PDC 16/2015 48/2015 Galli (PSC/MT) Deus PDC Fábio Sousa Bispo da Igreja Fonte da Idem PDC 16/2015 91/2015 (PSDB/GO) Vida PDC Alfredo Kaeser Não identificado Idem PDC 16/2015 115/2015 (PSDB/PR) PDC Jair Bolsonaro Católico Idem PDC 17/2015 Tramita em 18/2015 (PSC/RJ) conjunto com o PDC 17 PDC Silas Câmara Pastor da Assembleia de Idem PDC 17/2015 61/2015 (PSD/AM) Deus PDC Alan Rick Pastor da Igreja Batista Idem PDC 17/2015 90/2015 (PRB/AC) PDC João Campos Assembleia de Deus Susta o Decreto nº Tramita na 395/2016 (PRB/GO)21 8.727/2016 que reconhece Comissão de

20Assinam este PDC outros 73 deputados: Fausto Pinato – PRB/SP; Josué Bengtson – PTB/PA; Walney Rocha – PTB/RJ; Flavinho – PSB/SP; Hugo Leal – PROS/RJ; Jhc – SD/AL; Leonardo Quintão – PMDB/MG; Andre Moura – PSC/SE; João Campos – PSDB/GO; Moroni Torgan – DEM/CE; Evandro Gussi – PV/SP; Paulo Freire – PR/SP; Lincoln Portela – PR/MG; Evair de Melo – PV/ES; Celso Maldaner – PMDB/SC; Major Olimpio – PDT/SP; Subtenente Gonzaga – PDT/MG; André Fufuca – PEN/MA; José Carlos Aleluia – DEM/BA; Valdir Colatto – PMDB/SC; Marx Beltrão – PMDB/AL; Irmão Lazaro – PSC/BA; Diego Garcia – PHS/PR; Ronaldo Martins – PRB/CE; Pastor Eurico – PSB/PE; Missionário José Olimpio – PP/SP; Tenente Lúcio – PSB/MG; Professor Victório Galli – PSC/MT; Nilton Capixaba – PTB/RO; Alan Rick – PRB/AC; Roberto Alves – PRB/SP; – PTB/RS; Leonardo Picciani – PMDB/RJ; Mendonça Filho – DEM/PE; Anderson Ferreira – PR/PE; Marcelo Aguiar – DEM/SP; Sóstenes Cavalcante – PSD/RJ; Givaldo Carimbão – PROS/AL; Marcelo Aro – PHS/MG; Delegado Éder Mauro – PSD/PA; Antônio Jácome – PMN/RN; Capitão Augusto – PR/ SP; Marcos Rogério – PDT/RO; Francisco Chapadinha – PSD/PA; Eduardo Bolsonaro – PSC/SP; Carlos Gomes – PRB/RS; Rogério Rosso – PSD/DF; Rodrigo Martins – PSB/PI; Vinicius Carvalho – PRB/SP; Esperidião Amin – PP/SC; Renzo Braz – PP/MG; Antonio Bulhões – PRB/SP; Cleber Verde – PRB/MA; Luiz Lauro Filho – PSB/SP; Ricardo Tripoli – PSDB/SP; Ezequiel Teixeira – SD/RJ; Miguel Lombardi – PR/SP; Francisco Floriano – PR/RJ; Jair Bolsonaro – PP/RJ; Edmar Arruda – PSC/PR; Nelson Marquezelli – PTB/SP; Jose Stédile – PSB/RS; Sérgio Moraes – PTB/RS; Raquel Muniz – PSC/MG; Uldurico Junior – PTC/BA; Jefferson Campos – PSD/SP; Brunny – PTC/MG; Gonzaga Patriota – PSB/PE; Júlio Delgado – PSB/MG; Paulo Foletto – PSB/ES; Luciano Ducci – PSB/PR; Stefano Aguiar – PSB/MG; Roberto Sales – PRB/RJ. 21Assinam este PDC outros 27 deputados: Evandro Gussi (PV – SP); Paulo Freire (PR – SP); Diego Garcia (PHS – PR); Gilberto Nascimento (PSC – SP); Flavinho (PSB – SP); Geovania de Sá (PSDB – SC); Pastor Eurico (PHS – PE); Ronaldo Nogueira (PTB – RS); Pastor Marco Feliciano (PSC – SP); Givaldo Carimbão (PHS – AL); Professor Victório Galli (PSC – MT); Eros Biondini (PROS – MG); Carlos Andrade (PHS – RR); Missionário José Olimpio (DEM – SP); Ezequiel Teixeira (PODE – RJ); Elizeu Dionísio (PSDB – MS); Anderson Ferreira (PR – PE); Marcelo Aguiar (DEM – SP); Alan Rick (PRB – AC); Ronaldo Fonseca (PROS – DF); Marcos Rogério (DEM – RO); Sóstenes Cavalcante (DEM – RJ); Tia Eron (PRB – BA); Jony Marcos (PRB – SE); Rosangela Gomes (PRB – RJ); Carlos Gomes (PRB – RS); Silas Câmara (PRB – AM). 21 a identidade de gênero na Constituição, administração pública Justiça e Cidadania federal direta, autárquica e fundacional REQ Flavinho (PSB/SP) Renovação Católica Requer Moção de repúdio Arquivada 7.581/2017 Carismática pela participação de Judith Butler no seminário internacional realizado no SESC Pompeia, em São Paulo, em 2017 REQ Diego Garcia Renovação Católica Requer a inclusão de Arquivada 759/2018 (PHS/PR) Carismática membros na Audiência Pública que dispõe sobre o direito à modificação da orientação sexual em atenção à dignidade humana REQ Requer a realização de Tramitação do 8.362/2018 Sessão Solene em Requerimento homenagem à Rede pelo Finalizada Bem Fonte: elaboração própria.

No que diz respeito ao reconhecimento da identidade gênero, as proposições de projetos de leis foram direcionadas à revisão de três leis específicas: O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 8.069/90), a Lei Maria da Penha (11.340/2006) e o Decreto-Lei nº 3.688/1941, que trata de Contravenções Penais.

O ECA foi objeto de dois PLs com o objetivo de indexar dispositivos na lei que garantam que materiais didáticos pedagógicos e programas de televisão que tratem de temas relacionados à diversidade sexual, gênero e orientação sexual não sejam direcionados a crianças e adolescentes. Deste modo, persiste o argumento, tal como exposto em matéria de educação, de que o público infantil e jovem deve ser protegido do acesso a conteúdos que trabalhem aquelas temáticas.

Enquanto no eixo temático da educação o argumento é o de que o Estado não poderia implementar conteúdo educacional que discutisse gênero e diversidade sexual, isto é, que permitisse a crítica a violências e hierarquias, no eixo temático da identidade e diversidade sexual, trata-se de demandar do Estado regulação que incida sobre empresas de comunicação e outras organizações de caráter privado que produzem e difundem entretenimento e arte.

O PL 9948/2018 se destaca entre os que têm como objetivo restringir os conteúdos dos programas direcionados às crianças e adolescentes. Apresentado pelo deputado federal 22 Vinícius Carvalho (PRB-SP), pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, propõe que seja estabelecida classificação indicativa para programas que questionem as distinções biológicas entre os sexos, bem como o conceito tradicional e legal de família. Carvalho construiu sua carreira na TV Record, que desde 1990 pertence ao bispo Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal. Atuou como diretor da rádio e como diretor administrativo, financeiro e executivo da emissora.

No combate ao reconhecimento da identidade de gênero, teve destaque o deputado Marco Feliciano, autor de 7 proposições coletadas nesta pesquisa. Pastor da Catedral do Avivamento, uma dissidência da Assembleia de Deus, ele se tornou nacionalmente conhecido no combate à agenda dos movimentos LGBT, sobretudo quando presidiu a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (2013-14). Durante seu mandato, liderou a aprovação do projeto de lei popularmente conhecido como “cura gay”, de autoria de João Campos (PSDB- GO), membro da Assembleia de Deus.

Em outros casos, tratava-se de restringir o escopo de legislação existente ao sexo biológico. É o que pretendia o deputado católico Eros Biondini (PTB-MG) ao propor o PL 477/2015, que tem como objetivo alterar os artigos 5º e 8º da Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, substituindo o termo gênero por sexo. O relator do projeto na CDHM foi o deputado Flavinho (PSB-SP), também católico da RCC. Em seu parecer favorável à aprovação, afirmou que a substituição do termo gênero por sexo garantiria a efetiva proteção à mulher, uma vez que seu significado não seria “desvirtuado por discussões político-ideológicas”. Nota-se, assim, que a atuação ultrapassa matérias que regulamentam a identidade sexual, procurando fundar no sexo biológico normas que digam respeito de algum modo às relações de gênero na sociedade, ainda que estejam relacionadas, como nesse caso, à temática da violência.

Os esforços para barrar o reconhecimento da identidade de gênero em espaços públicos se opunham mais diretamente a demandas relacionadas à transsexualidade e à transgeneridade. Foi esse o objetivo de dois PLs de autoria do deputado Professor Victório Galli (PSC-MT), já mencionado, para impedir que banheiros públicos sejam utilizados de modo que não seria compatível com a identidade legal masculina ou feminina. Cumpre ressaltar que os referidos PLs (5686/2016 e 5774/2016) foram os únicos dois documentos que encontramos nos quais parlamentares contrários ao reconhecimento da diversidade sexual 23 mencionam a categoria gênero na elaboração da lei sem questioná-la, reconhecendo a possibilidade de que pessoas trans utilizem banheiro “conforme seu gênero”, desde que a transição tenha sido reconhecida por decisão judicial transitada em julgado. Em todos os outros casos aqui analisados, gênero não é sequer uma palavra aceitável e, quando mencionada, o objetivo é desqualificar seu uso em normas legais e políticas públicas e deslegitimar seus fundamentos.

Houve também reações voltadas especificamente para a administração pública federal, como os PDCs que buscavam sustar as resoluções emitidas por órgãos do Poder Executivo com o objetivo de garantir o reconhecimento, acesso e permanência de pessoas trans e travestis nos órgãos e atos da administração. Reagem às resoluções de nº 11 e 12 emitidas pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT (CNDC-LGBT), nos anos de 2014 e 2015, respectivamente. A resolução de nº 11 inclui os termos “orientação sexual”, “identidade de gênero” e “nome social” nos boletins de ocorrência emitidos pelas autoridades policiais no Brasil. Já a resolução de nº 12 tem por objetivo garantir o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais e as condições de acesso e permanência dessas pessoas nos sistemas e instituições de ensino. A resolução de nº 11 foi objeto de 4 PDCs. Já a resolução de nº 12 foi objeto de 6 PDCs.

Em todos esses PDCs encontram-se (i) a denúncia de que o órgão exorbitou seu poder regulamentar legislando no lugar do Poder Legislativo, (ii) a denúncia de que se utilizou de termos estranhos ao ordenamento jurídico vigente, como gênero, identidade de gênero e nome social, e (iii) o argumento de que o reconhecimento da identidade de gênero em espaços públicos e órgãos da administração pública federal resultaria em desordem e caos social.

O Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016, assinado pela presidente Dilma Rousseff, que tratava do reconhecimento da identidade de gênero no âmbito da administração pública federal, foi um dos objetos de contestação em um contexto particularmente conflitivo, o do impeachment que seria votado na Câmara pouco depois. Naquela ocasião, a abertura do processo de impeachment contra a presidente já havia sido aprovada e o decreto foi interpretado como uma ofensiva do Governo Federal contra a bancada religiosa conservadora.

A reação a ele veio com o PDC 395, de maio de 2016, de autoria do deputado João Campos (PRB-GO), entre outros. Delegado de política e Pastor Auxiliar da Igreja Assembleia

24 de Deus de Vila Nova (GO), ele ficou nacionalmente conhecido por apresentar o já mencionado projeto da “cura gay”, o PDC 234/2011. No mesmo ano, ele havia apresentado também a PEC 99/11, com o objetivo de incluir as entidades religiosas de âmbito nacional entre aquelas que poderiam propor Ações Diretas de Inconstitucionalidade e Ações Diretas de Constitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal. O projeto encontra-se na CCJC e recebeu parecer favorável à sua aprovação pelo deputado Lincoln Portela (PR-MG), pastor evangélico da Igreja Batista Solidária, apresentador de televisão e radialista.

Vale observar, ainda, a sintonia entre as reações na Câmara dos Deputados e episódios que envolvem organizações internacionais contra o gênero, como CitizenGo. Foi o caso dos protestos contra a vinda da filósofa norte-americana Judith Butler ao Brasil, para participar do colóquio Os fins da democracia, no Sesc Pompéia, em São Paulo, em 2017. O deputado federal Flavinho (PSB/SP), católico da RCC muitas vezes mencionado neste artigo, solicitou que a Câmara dos Deputados aprovasse uma moção de repúdio contra a palestra, por meio do REQ 7.581/2017. Segundo o deputado, a vinda de Butler serviria aos propósitos de difundir a “ideologia de gênero” no país, promovendo a pedofilia e atos libidinosos em locais públicos, assim como a promiscuidade sexual, relacionada por ele ao aumento de DSTs, e a “discriminação” de segmentos religiosos da população.

Os requerimentos não foram, no entanto, apenas de caráter negativo, isto é, contrários a medidas e ao debate público numa perspectiva de gênero, embora tenham sido em sua maioria reativos. Em 2018, Diego Garcia (PHS/PR) apresentou o REQ 8.362, em que requisitava a realização de Sessão Solene, pelo Plenário da Câmara dos Deputados, em homenagem à Rede pelo Bem. Trata-se de uma organização da sociedade civil criada em 2018 para “promover a defesa da família”, o combate à corrupção e ao aborto. Apesar de ter sido criada por iniciativa da comunidade católica, o movimento apresenta uma rede ampla de parceiros de diferentes denominações religiosas e de redes Pró-Vida e Pró-Família22.

É possível, assim, observar o contraponto entre o envolvimento de parlamentares conservadores católicos e evangélicos com redes nacionais e internacionais contrárias ao direito ao aborto e que combatem a agenda da igualdade de gênero e da diversidade sexual. Estas são tratadas como promotoras de valores morais legítimos e conectadas à “família”, às

22 http://www.redepelobem.com.br/ [último acesso em 03/01/2018]. 25 pessoas “de bem”, à “maioria cristã”, e mesmo à ciência e à natureza. De outro lado estariam movimentos sociais e organizações definidos como uma ameaça.

Considerações finais Nesse artigo, procuramos contribuir para o estudo da dimensão nacional de oposição a agenda de igualdade de gênero e da diversidade sexual a partir da análise de todas as proposições parlamentares que recorreram à noção de “ideologia de gênero” contra essa agenda política, apresentadas Câmara dos Deputados, até o ano de 2018. Mostramos que essas proposições foram reações a leis, resoluções e portarias do Executivo, assim como às políticas públicas, concentradas em dois eixos analiticamente distintos: educação sexual e revisão normativa e legislativa de referências à igualdade de gênero e a diversidade sexual. A noção de “ideologia de gênero” permitiu a convergência entre conservadores católicos e evangélicos, que se apresentaram como um bloco cristão em defesa da família e da infância. Alinhados a valores “majoritários”, eles se opuseram a desvios que se fundariam em valores estranhos às tradições nacionais, ativados pelo Estado ou por atores privados, como empresas de comunicação com concessão pública. Movimentos feministas e LGBT, as teóricas e teorias feministas de gênero e organizações internacionais como a ONU e a OEA foram posicionados em um polo contrário às famílias, em que foram incluídos também, de maneira genérica, professores e professoras do sistema educacional público e privado. Embora a ampla maioria dos parlamentares engajados na apresentação das proposições tenha identidade pública religiosa, sua linguagem foi predominantemente laica e de direitos. Daí uma ideia-chave da ideologia de gênero: trata-se de defender a infância e, para isso, não seria necessária uma crença específica. Afinal, a ameaça às crianças é que demandaria a atuação firme, contra os “inimigos” da família. A propagação da homossexualidade como livre escolha seria o grande risco da incorporação do gênero nos conteúdos escolares, atentando com a natureza dos sexos e a complementariedade entre o feminino e o masculino. A pedofilia também apareceu como um risco, na medida em que o relativismo seria propagado por pessoas definidas como sexualmente pervertidas. A heteronormatividade serviria, assim, a dois fins: permitiria reafirmar a natureza contra o desvio “ideológico” e diferenciar aqueles que merecem proteção daqueles que são os inimigos. Corrompidos e abjetos, os últimos são apresentados como ameaça e não como sujeitos de direitos.

26 Apesar dos PLs e PDCs analisados por essa pesquisa não terem, até o momento, entrado em vigor no sistema legislativo brasileiro, a mobilização da “ideologia de gênero” como estratégia política tem produzido efeitos. Segundo declarações dos próprios ministros, integra, hoje, a agenda de três ministérios, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o Ministério da Educação e o Ministério das Relações Exteriores. Entendemos que, para além de mudanças específicas em leis e políticas, o recurso à “ideologia de gênero” faz parte de disputas que envolvem os sentidos da democracia, como mencionado. A noção de maioria é chave para justificar políticas que colocam em xeque a laicidade do Estado e o pluralismo político. Pode, ainda, justificar mudanças legais e constitucionais contrárias aos direitos de segmentos da população definidos como minoritários, naturalizar a violência contra aqueles que seriam desviantes em relação aos valores morais dominantes e contribuir para a criminalização de movimentos sociais. Outro aspecto relevante é que nas campanhas contra o gênero os direitos se deslocam dos indivíduos para a família. Como a família é apresentada como natural e não como instituição, o problema não estaria no grau de justiça dos arranjos existentes, mas na sua correspondência com uma suposta natureza. O Estado é, assim, visto com desconfiança ou chamado a regular as relações em nome da família. Assim, este estudo se soma a outros que têm indicado que as reações contra o gênero precisam ser compreendidas em seus diferentes níveis – nacional, regional e internacional -, e como uma estratégia política que se desenvolve em um contexto específico. Nele, a reação ao gênero está relacionada às disputas sobre os sentidos da própria democracia.

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