Universidade De São Paulo Faculdade De Filosofia, Letras E Ciências Humanas Departamento De História Programa De Pós-Graduação Em História Social
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL FERNANDO SELIPRANDY IMAGENS DIVERGENTES, “CONCILIAÇÃO” HISTÓRICA: MEMÓRIA, MELODRAMA E DOCUMENTÁRIO NOS FILMES O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? E HÉRCULES 56. VERSÃO REVISTA São Paulo 2012 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL FERNANDO SELIPRANDY IMAGENS DIVERGENTES, “CONCILIAÇÃO” HISTÓRICA: MEMÓRIA, MELODRAMA E DOCUMENTÁRIO NOS FILMES O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? E HÉRCULES 56. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção de título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Marcos Francisco Napolitano de Eugênio. VERSÃO REVISTA (Exemplar original disponível no CAPH/FFLCH.) São Paulo 2012 Así fue desplegándose en el tiempo el populoso drama, hasta que el 6 de agosto de 1824, en un palco de funerarias cortinas que prefiguraba el de Lincoln, un balazo anhelado entró en el pecho del traidor y del héroe… Jorge Luis Borges, Tema del traidor y del héroe. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS, 6 RESUMO, 7 ABSTRACT, 8 INTRODUÇÃO, 9 Leituras cinematográficas da história: imagens de memória, 9 A presença do passado ausente: cinema, testemunho, memória e história, 13 Melodrama e reflexividade, 18 Uma história da memória: da imagem do passado ao presente da imagem, 21 CAPÍTULO I – ARTIFÍCIOS CINEMATOGRÁFICOS: CERTIFICAÇÃO, INSTRUÇÕES DOCUMENTARIZANTES E REFLEXIVIDADE, 24 A) INSTRUÇÕES DOCUMENTARIZANTES NO FILME O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?, 24 Ficção e História, 24 Ficção e Documentário, 26 Instruções documentarizantes, 31 B) A REFLEXIVIDADE DILUÍDA EM HÉRCULES 56, 41 Documentário e história, 41 Instruções reflexivas?, 45 Reflexividade diluída, 49 CAPÍTULO II – NARRATIVA DOS EVENTOS: ANTAGONISMOS, MELODRAMA E TOTALIDADE, 54 A) “AS DUAS PONTAS DA FERRADURA”: HENRIQUE E JONAS, NUANCE E EXCESSO, 54 Vilanias equivalentes, 55 Melodrama, nuance e excesso: a ferradura assimétrica, 59 Mal menor contra mal maior, 67 B) A VERSÃO TOTAL CONTRA A MEMÓRIA IMPERTINENTE, 70 “Montagem paralela”: autoridade e pluralidade testemunhais, 70 - As vozes autorizadas: rememoração das lideranças, 74 - A pluralidade das vozes dos libertos, 75 Imagens de arquivo: presença e evidência, 77 - A presença dos ausentes, 77 - A evidência documental: ilustração, sincronização e coerência espaço-temporal, 83 Totalidade e impertinência: a negação silenciosa de O que é isso, companheiro?, 93 - A negação de Gabeira e a sugestão da impostura testemunhal, 93 - Memória total contra memória impertinente: a busca da substituição de um consenso, 96 CAPÍTULO III – BALANÇO DO PASSADO: DESENCONTRO, INOCÊNCIA E UNIDADE, 100 A) INOCÊNCIAS: OS JOVENS LUNÁTICOS E O POVO QUE DORME E DELATA, 101 A inocência equivocada: os jovens lunáticos, 101 - Fernando: inocência cega e olhar superior, 103 - A inocência caricatural dos companheiros, 121 - Autocrítica, deboche e seus usos melodramáticos, 125 - Justiça melodramática: porão, banimento, purgação do equívoco e danação, 129 O povo que dorme e delata: inocência desprotegida e colaboração, 134 - Lilia e o sono do povo inocente, 134 - A delação: o povo do “lado certo”, 136 - Memória ingrata da tortura: separação e incompreensão do sacrifício de Henrique, 138 B) DIVERGÊNCIAS E MONTAGEM DA UNIDADE TELEOLÓGICA DA RESISTÊNCIA, 141 “Desastre” ou “equívoco triunfal”: divergências em torno do desencontro, 141 O “Brasil melhor porque lutamos”: montagem adversativa, inserções de desafogo e o télos democrático, 150 O encontro no cinema: deslocamento teleológico e montagem da unidade da Resistência, 155 - O rito da Resistência: potência, risco e dissolução da (auto)crítica, 156 CAPÍTULO IV – IMAGEM E PRESENTE: ENCERRAMENTO, DESCULPAÇÃO E MONUMENTALIZAÇÃO, 169 A) A ORDEM CATIVA: ELBRICK E O “MUNDO DE CABEÇA PARA BAIXO”, 169 O signo do bem: Elbrick, 170 - A hegemonia (neo)liberal elevada a ordem cósmica, 180 Melodrama revisionista: a negação moral da história, 184 - O peso do real: lastro e fardo, 184 - A pedagogia moral cont(r)a a história, 187 - Julgamento moral e impunidade histórica, 187 B) O TRIUNFO TARDIO DA RESISTÊNCIA: DISSOLUÇÃO DA CRÍTICA, SOLIDEZ DO MONUMENTO E ARMADILHAS INSTITUCIONAIS, 190 Enfim, o encontro: o operário eleito e a memória institucionalizante, 190 Monumento sólido: o risco da pedra sobre o passado, 197 - Documentário e impulsos à univocidade: os perigos de uma versão definitiva, 197 - Monumento sólido e consolidação da impunidade, 198 IMAGENS DIVERGENTES E “CONCILIAÇÃO” HISTÓRICA, 201 Imagens divergentes do passado: desculpação versus monumentalização, 201 Convergência no presente democrático: disputas de uma história encerrada, 203 O real intocado: “conciliação” e o fato da impunidade, 204 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 206 REFERÊNCIAS DOS FILMES ANALISADOS, 214 ANEXO – Fotogramas selecionados de O que é isso, companheiro? e Hércules 56, 215 AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Marcos Napolitano, pela orientação precisa e estimulante, sempre guiada pelo espírito amigável da livre interlocução. Ao Prof. Dr. Eduardo Morettin, pela pronta recepção no grupo de pesquisa “História e audiovisual: circularidades e formas de comunicação”, ambiente de rica e generosa troca acadêmica. A todos os que ali compartilharam suas pesquisas também vai o meu agradecimento. À Prof.a Dr.a Maria Helena Capelato e ao Prof. Dr. Henri Gervaiseau, pelas preciosas críticas no exame de qualificação (que serviram de norte à conclusão deste trabalho) e na banca final (que melhoraram esta versão revista). À Prof.a Dr.a Mônica Kornis, pelo debate e incentivo nos simpósios em que nos topamos. Ao grupo de estudos sobre memória e ditadura, composto por orientandos do professor Marcos e agregados, em cujas reuniões em torno da mesa da sala 19 surgiram muitas das ideias expostas adiante. Igualmente interessantes têm sido os encontros promovidos ao redor de outras mesas pela cidade. Aos colegas de turma da graduação que hoje são os amigos da vida: Daniel Lago Monteiro, Guilherme de Paula Costa Santos, Jhenefher Panas (adotada das Letras), João Paulo Marão, Renato Prelorentzou e Tárcio Vancim de Azevedo. Aos amigos mais recentes, com os quais a convivência intensa e festiva, ao redor de uma mesa ou de uma vitrola, faz do tempo um mero detalhe: Alexandre, Andréa, Eduardo, Fernanda, Julián (revisor desta versão), Lia e Tony. Às minhas famílias de nascimento e de união, pelo carinhoso suporte desde o início e pela amorosa acolhida. À Gazi, agradecer é pouco diante do desejo de que este trabalho seja apenas uma das aventuras ao seu lado. RESUMO O melodrama histórico O que é isso, companheiro? (Bruno Barreto, 1997) e o documentário Hércules 56 (Silvio Da-Rin, 2006) adotam gêneros cinematográficos distintos para representar uma das mais importantes ações da luta armada durante o regime autoritário no Brasil (1964-1985): o sequestro do embaixador dos EUA, Charles Elbrick, promovido por MR-8 e ALN em 1969. Produzidos em tempos democráticos, os filmes têm o testemunho como matriz de suas imagens, e a tensão entre os gêneros já sugere, em si, uma disputa em torno da fidedignidade da memória. Adaptação do relato pessoal homônimo de Fernando Gabeira publicado em 1979, O que é isso, companheiro? mobiliza o modo melodramático hollywoodiano em uma encenação do acontecimento que vilaniza a guerrilha, distribui inocências aos sujeitos sociais e redime os torturadores. Nessa imagem desculpadora da memória, o passado é moralmente julgado como um lapso aberrante superado na década de 1990, quando governava a ordem (neo)liberal. Em resposta, Hércules 56 reúne os protagonistas da ação e os presos políticos libertados em troca do diplomata em uma montagem de entrevistas e imagens de arquivo cuja coesão tende a instituir a totalidade narrativa do sequestro e a unidade teleológica da luta armada em geral. Inclinado ao tom da celebração, o documentário realinha os sentidos dos atos passados, enquadrando-os na trilha do longo percurso rumo ao triunfo democrático-institucional do PT nos anos 2000. Presta, assim, justíssima homenagem à militância pretérita, mas acaba neutralizando o dissenso crítico e transformando a luta incisiva em relíquia de um tempo extinto. Embora essencialmente antagônicas em termos estéticos e ideológicos, a memória desculpação e a memória monumentalizante elegem de forma paralela as respectivas conjunturas de produção dos filmes como ápices do devir histórico, sem discordar significativamente acerca das bases concretas da “conciliação” democrática brasileira. “Encerrada” aquela história, o embate fica circunscrito ao âmbito das representações cinematográficas da memória, restando intocada a real permanência da impunidade das violações dos direitos humanos no Brasil. Palavras-chave: Luta armada, cinema, memória, melodrama, documentário. ABSTRACT The historical melodrama Four days in September (Bruno Barreto, 1997) and the documentary Hércules 56 (Silvio Da-Rin, 2006) adopt different film genres to represent one of the most important actions of the guerrilla warfare throughout the authoritarian regime led by the military in Brazil (1964-1985): the kidnapping of the U.S. ambassador Charles Elbrick, carried out by MR-8 and ALN revolutionary organizations in 1969. Produced during democratic times, the underlying imagery and tension between genres of both films suggest, in themselves, a battle over the reliability of