Os Casos Do Ferrocarril De La Robla E Da Linha Do Tua André Pires, Francisco Diniz

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Os Casos Do Ferrocarril De La Robla E Da Linha Do Tua André Pires, Francisco Diniz www.ffe.es www.tecnica­vialibre.es O Impacto da Gestão do Caminho­de­ferro Regional – os casos do Ferro­ carril de La Robla e da Linha do Tua The Impact of the Regional Railway Management – The Ferrocarril de La Robla and the Tua Line cases André Pires* Mestre em Gestão pela Universidade de Trás­os­Montes e Alto Douro (UTAD) Francisco Diniz* Universidade de Trás­os­Montes e Alto Douro (UTAD) Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (CETRAD) Resumo Abstract Nas últimas três décadas, as orientações estratégicas definidas para The strategic guidelines adopted in the last three decades for the o sector ferroviário em Portugal contribuíram para o progressivo railway sector in Portugal contributed for the progressive closure of encerramento e desmantelamento da rede ferroviária nacional, com the national rail network with particular focus on regional rail particular incidência no transporte ferroviário regional. Em 25 anos transportation. In 25 years, only a section of previously closed line o único troço que reabriu ao tráfego ferroviário após encerramento has been reopened to rail traffic in 1995 and it was a section of the foi em 1995 e corresponde ao troço da Linha do Tua, entre Carvalhais Tua line between Carvalhais and Mirandela (4 km). The portuguese e Mirandela (4 km). A realidade portuguesa contrasta com a europeia, reality is in strong contrast with the european one where regional onde ferrovia regional é parte fundamental de uma rede de transportes, railways are a fundamental and integral part of a transport network desempenha um papel importante na mobilidade, na economia e no and it plays an important role in mobility, economy and local and desenvolvimento regional – motivos suficientes para a reabertura de regional development. linhas ao tráfego ferroviário. In Spain reopens in 2003, after being partially closed in 1991, the Em Espanha reabre em 2003, após encerramento parcial em 1991, Ferrocarril de La Robla. This paper presents a comparison Portugal o Ferrocarril de La Robla. Este artigo apresenta uma comparação entre and Spain, in what concerns to regional railway having as study cases Portugal e Espanha no que diz respeito ao caminho­de­ferro regional, the Tua Line and the Ferrocarril de La Robla. The methodology is tendo como objectos de estudo a Linha do Tua e o Ferrocarril de La qualitative and is a descriptive­comparative study. The data collection Robla. A metodologia é de carácter qualitativo e é um estudo method consisted not only in document analysis and literature review descritivo­comparativo. O método de recolha de dados consistiu, para but also in a semi­structured interview made to a Professor and além da análise documental e da revisão de literatura, numa entrevista Researcher in Transport Economics from a portuguese university. The semiestruturada efetuada a um Professor e Investigador em Economia final considerations show that the reopening of Ferrocarril de La dos Transportes de uma universidade portuguesa. As considerações Robla in its full length, contributed to improve the transportation of finais mostram que a reabertura do Ferrocarril de La Robla em toda a goods and passengers, potentiate railway tourism and it was a extensão, contribuiu para melhorar o transporte de mercadorias e de catalyst to the creation of new cultural and economic activities passageiros, potenciar turismo ferroviário e foi um catalisador­chave surrounding the railway reality. In opposition to this reality, the para a criação de novas atividades económicas e culturais em torno gradual closure of the Tua Line has brought negative consequences do caminho­de­ferro. Contrastando com esta realidade o encerramento to the municipalities that it once served.. progressivo da Linha do Tua trouxe consequências negativas aos municípios por ela servidos. keywords: Strategic Guidelines; Regional Railway; Linha do Tua; Ferrocarril de La Robla. Palavras­Chave: Orientações Estratégicas; Caminho­de­ferro Regional; Linha do Tua; Ferrocarril de La Robla. * [email protected], [email protected] Revista Vía Libre ­ Técnica 1 O Impacto da Gestão do Caminho­de­ferro Regional – os casos do Ferrocarril de La Robla e da Linha do Tua André Pires, Francisco Diniz 1. Introdução É em meados dos anos 80 que começava a ser preparado o encerramento de várias linhas da rede ferroviária portuguesa, a partir do “Plano de Modernização dos Caminhos de Ferro 1988­1994”, não estando previsto qualquer investimento nem na rede complementar nem em linhas de via métrica, cujo serviço era de carácter regional. Em 1987, num documento do Ministério das Obras Públicas Transporte e Comunicações (MOPTC) era referido que a rede ferroviária nacional devia e podia estar ao serviço da população e do país, mas em vez da sua expansão e modernização cada vez mais se assistia ao encerramento da mesma sem “critério visível” (Chenrim, 2008). Em 2006, o MOPTC apresenta as “Orientações Estratégicas para o Sector Ferroviário”, documento que propõe um conjunto de diretrizes específicas para o transporte ferroviário em Portugal. Os objetivos estratégicos propostos tinham como finalidade atingir várias metas até 2015 dos quais se destacam o aumento da densidade de rede e o aumento do número de passageiros transportados. No referido documento é reconhecida a falta de cobertura da rede ferroviária no território nacional e facto de o serviço ferroviário regional da CP apresentar uma a taxa de cobertura do serviço baixa (20,7%), sobretudo quando comparado com a da congénere espanhola Renfe. Apesar de ser feita a referência ao encerramento de linhas, o mesmo documento não apresentava nem orientações nem propostas concretas que visassem a reabertura ao tráfego ferroviário das linhas regionais encerradas em finais dos anos 80 e princípio dos anos 90. Em 2011 é apresentado pelo Ministério da Economia e do Emprego (ME) e pelo Gabinete do Secretário de Estado das Obras Públicas Transporte O “Plano Estratégico dos Transportes: Mobilidade Sustentável, Horizonte 2011­2015”. No documento é referido que uma das razões que está na génese do desequilíbrio financeiro do transporte ferroviário “reside na muito baixa taxa de cobertura dos custos pelas receitas de operação, de uma parte da rede ferroviária de índole regional, que apresenta níveis de procura extremamente baixos para suportar a existência de uma oferta ferroviária” (ME, 2011, p.53). São apresentadas medidas de racionalização da rede ferroviária, muito à semelhança do que aconteceu com planos anteriores e que contemplam a desativação do transporte ferroviário de passageiros em linhas regionais e a “suspensão do processo de reativação das Linhas do Corgo, Tua, Tâmega e Figueira da Foz, com circulação ferroviária interrompida em 2009” (ME, 2011, p.56). De acordo com o “Relatório Final” do Grupo de Trabalho para as Infraestruturas de Elevado Valor Acrescentado (GTIEVA), criado em 2013 por despacho do Gabinete do Secretário de Estados das Infraestruturas Transportes e Comunicações, a rede ferroviária nacional está concentrada no eixo litoral do país, é utilizada sobretudo para o transporte de passageiros e apresenta uma densidade por habitante baixa (287m/ habitantes) quando comparada com a média europeia (cerca de 410m/ habitantes). Em 2015 a Infraestruturas de Portugal1 (IP) apresenta o “Plano de Proximidade Médio Prazo – Ferrovia 2015­2019”. Foram identificadas e calendarizadas 802 intervenções a desenvolver ao longo de cinco anos e que representam um investimento de 414 milhões de euros. No entanto, este investimento não resolve os problemas da baixa taxa de cobertura do serviço regional nem da falta de escala da rede ferroviária no território nacional dado que não está prevista a expansão da mesma nem a reabertura de troços ou linhas encerradas ao tráfego ferroviário. O resultado de quase três décadas de encerramento e desmantelamento da rede ferroviária nacional e do serviço regional por ela prestado, resulta no facto de Portugal ser o único país da Europa Ocidental que mais perdeu passageiros no transporte ferroviário. O encerramento de ramais e troços um pouco por todo 1 Empresa pública que resulta da fusão entre a REFER, E.P.E. – Rede Ferroviária Nacional e a EP – Estradas de Portugal, S.A. Informação obtida no site da IP (http://www.infraestruturasdeportugal.pt/sobre­nos). 2 Revista Vía Libre ­ Técnica O Impacto da Gestão do Caminho­de­ferro Regional – os casos do Ferrocarril de La Robla e da Linha do Tua André Pires, Francisco Diniz o país (ex.: ramais a norte da linha do Douro; linhas do Tâmega, Sabor, Corgo e Tua) contribuíram para que a rede principal ficasse com menos passageiros dado que o transporte ferroviário regional seria diretamente afetado, ou praticamente deixaria de existir. Capitais de distrito como Vila Real ou Bragança ficaram sem serviço ferroviário. Segundo Cipriano (2011), das “231 milhões de viagens de comboio realizadas em 1988, passou­se para 131 milhões em 2009”, o que significa que houve uma redução de 43% e a “quota de mercado do caminho­de­ferro no transporte de passageiros afundou­se em cerca de 66% entre 1990 e 2008” (Cipriano, 2011). O artigo apresenta uma comparação entre Portugal e Espanha no que diz respeito à ferrovia regional, tendo como objeto de estudo duas linhas de caminho­de­ferro regionais de via estreita ­ a Linha do Tua e o Ferrocarril de La Robla, localizadas em regiões do interior norte. É efetuada uma revisão de literatura a temas como a definição de caminho­de­ferro regional, há importância do mesmo para as regiões rurais e de baixa densidade populacional e qual o seu papel a nível europeu. É apresentada a metodologia do estudo e posteriormente procede­se à caracterização da Linha do Tua e do Ferrocarril de La Robla, à análise e discussão dos resultados, à apresentação de uma infografia onde são apresentadas algumas hipóteses e propostas de investimento para a Linha do Tua e por último procede­se à apresentação das considerações finais. 2. Enquadramento teórico 2.1. Definição de transporte ferroviário regional Segundo Montada (1995), a definição de transporte ferroviário regional não é exata nem rígida na medida em que depende sobretudo dos critérios que cada país usa para o caracterizar.
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