"Sementes De Felicidade": Um Ensaio Sobre a Consciência Alternativa E
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Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia Sementes de Felicidade Um ensaio sobre a consciência alternativa e sua relação com a felicidade humana Marianna Santiago de Castro Varella Brasília, 2017 2 Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia Monografia de Graduação Sementes de Felicidade Um ensaio sobre a consciência alternativa e sua relação com a felicidade humana Monografia apresentada ao Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília como um dos requisitos para obtenção do grau de bacharel em Ciências Sociais, com habilitação em Antropologia. Marianna Santiago de Castro Varella Orientador: Luis Abraham Cayón Durán (DAN/UnB) Examinador: João Miguel Sautchuk (DAN/UnB) Brasília, 2017 3 AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, ao meu pai Felipe, minha mãe Wiviane e minha avó Ana Clara, fontes de muito amor, que, preocupados com meu autodesenvolvimento e felicidade, sempre estiveram ao meu lado auxiliando-me e encorajando-me nos aprendizados da vida. Também agradeço aos outros membros de minha família tão unida – avós, tios e primos –, em especial ao meu primo Lucas e sua mãe Vera por terem me apresentado Dona Jurema, uma das principais interlocutoras deste trabalho. Sou grata a todos os interlocutores de minha pesquisa por terem me recebido em suas casas (na maioria das vezes) e me provido a atenção de seus dias. Sem eles este trabalho não existiria. Por conseguinte, agradeço a todo o povoado de Brumas Secas: especificamente aos nativos que me receberam com tanto carinho em seu amado território e, de forma geral, aos amigos, colegas e conhecidos que encontrei durante minha estadia no campo. Agradeço também aos meus amigos de Brasília que foram me visitar durante meu trabalho etnográfico, ajudando-me em minha primeira “aventura” de morar sozinha e longe de todos que conhecia. Ainda na linha das amizades, agradeço à minha amiga Jéssica por sempre me encorajar e motivar a crescer, mostrando-me caminhos para a resolução de problemas cotidianos. Sem a sua amizade minha trajetória acadêmica não teria sido a mesma. Agradeço aos professores que tive durante minha graduação em Antropologia, em especial ao orientador da presente etnografia, Luis Cayón, pela compreensão e paciência durante os últimos três semestres. Por fim, agradeço ao acaso que me possibilitou escrever sobre o tema da felicidade humana, abrindo meus olhos para novos conhecimentos sobre o mundo social, inspirando minha busca pessoal por felicidade. Espero que os leitores deste trabalho também possam se inspirar a serem mais felizes e humanos. 4 “When the moon is in the seventh house And jupiter aligns with mars Then peace will guide the planets And the love will steer the stars This is the dawning of the Age of Aquarius The Age of Aquarius Aquarius! Aquarius! Harmony and understanding Sympathy and trust abounding No more falsehoods or derisions Golding living dreams of visions Mystic crystal revalations And the mind’s true liberation Aquarius! Aquarius! Let the sunshine in (until the end)” Age of Aquarius, 5th Dimension, 1969 5 RESUMO No centro-oeste do Brasil, nordeste do estado de Goiás, situa-se um pequeno povoado nomeado Brumas Secas. Dentre os moradores não-nativos desse povoado, estão os interlocutores da presente pesquisa: seres humanos que buscam – como promessas de uma Nova Era anunciada – alternativas à vida urbana ocidental brasileira, que vinha deixando, desde a Ditadura Militar, muitas insatisfações. Dessa busca, baseada nos ideais de “paz e amor”, surgiu uma nova forma de conduta, moldada por uma consciência alternativa. É objetivo do presente trabalho desvendar a vida nos termos de uma consciência alternativa a modo de relacioná-la com o propósito da felicidade humana. PALAVRAS CHAVE Nova Era, Era de Aquarius, consciência alternativa, comunidades alternativas, liberdade, emoções, felicidade. 6 SUMÁRIO Introdução-------------------------------------------------------------------------07 1. Brumas Secas e os Alternativos----------------------------------------------13 1.1. O deslocamento dos alternativos para o nordeste goiano------------------------14 1.2. Três facetas de uma consciência alternativa multifacetada---------------------17 2. Sementes de uma Nova Consciência----------------------------------------19 2.1. A Revolução Artística------------------------------------------------------------------19 2.2. A Era de Aquarius-----------------------------------------------------------------------23 2.3. A Consciência Alternativa-------------------------------------------------------------30 3. A Vanguarda Novaerista-----------------------------------------------------34 3.1. Trocas-------------------------------------------------------------------------------------34 3.1.1. Das dádivas-------------------------------------------------------------------------38 3.1.2. Das permutas-----------------------------------------------------------------------40 3.2. Ecologia-----------------------------------------------------------------------------------42 3.3. Comunidade------------------------------------------------------------------------------46 4. O Jardim Floresce-------------------------------------------------------------54 4.1. Família Flor de Lótus-------------------------------------------------------------------56 4.2. Aventureiros Nômades-----------------------------------------------------------------64 5. Considerações Finais: A Consciência Alternativa e a Felicidade-----69 5.1. O Mundo Alternativo da Humanidade Imanente---------------------------------73 Referências Bibliográficas------------------------------------------------------78 7 INTRODUÇÃO Sementes de Felicidade diz respeito a ideias geradas por uma consciência alternativa vivida pelo ser humano burguês ocidental e moderno que busca “dar sentido à vida” nas chaves dos ideais humanitários de paz e amor. No presente ensaio, tive a oportunidade de etnografar um pequeno povoado, localizado num vale entre montanhas, denominado Brumas Secas. Na região, situada no nordeste do estado do Goiás, Brasil, reconheci uma forte influência da consciência alternativa brasileira e, durante meu trabalho de campo, pude destacar dos fatos empíricos alguns pontos específicos dessa consciência. A consciência alternativa – semelhante à anarquia1 – corresponde à busca de alternativas ao sistema social hegemônico ocidental capitalista. Considera-o incapaz de prover as necessidades subjetivas e contextuais dos seres humanos em face de sua crescente padronização em sensos comuns, cada vez mais materialistas e distantes da realidade dos fenômenos. Um exemplo é a destruição da natureza – nossa principal fonte de recursos indispensáveis como alimento e matéria-prima – em favor do lucro crescente no mercado capitalista, retroalimentado pela conduta consumista dos seres humanos ocidentais urbanos. Os alternativos estão em busca de um outro tipo de sistema, em que se respeitem, primeiramente, as particularidades da vida, não dependendo de regras ou instituições criadas para além dos contextos reais. Um sistema em que se cria a solução para as necessidades corriqueiras, um sistema autossustentável do bem-estar, que se fortalece no compartilhamento, pois “é melhor um projeto que atenda o resto da humanidade, assim tem mais força e mais solução”, nas palavras de uma interlocutora. No empenho de tal tarefa para o bem-estar, ou felicidade, o maior imperativo entre os alternativos é o da liberdade pessoal. Se sua liberdade, sua autonomia, é podada por regras para além de sua identidade, já não existe mais uma igualdade com o todo – outro imperativo da consciência alternativa que equilibra as relações e possibilita uma ampla solidariedade e fraternidade entre os seres. 1 Sobre anarquia em Bauman (2004, p.91): “o conceito de ‘anarquia’ carrega o peso de sua história essencialmente antiestatal. De Godwin a Kropotkin, passando por Proudhon e Bakunin, os teóricos e fundadores dos movimentos anarquistas apresentam esse termo como a designação de uma sociedade alternativa, o avesso de uma ordem coercitiva e imposta pelo poder”. 8 Esses indivíduos alternativos, buscadores de uma “vida plena”, encontram sua comunhão, portanto, na liberdade de buscar as alternativas, de “estar no caminho certo para a felicidade” ou de “achar sua missão na terra”. No fundo, agrupam-se pela legitimidade das ações individuais, isto é, pelo reconhecimento de que toda ação é uma criação. Esse agrupamento não corresponde a algum território estático, pois sua única especificidade é a orientação da ação nas linhas da consciência alternativa. Contudo, por essa consciência negar o monopólio de regras externas, a vida alternativa no território de centros urbanos torna-se dificultada pelos contextos da cidade de regras e normas. A conduta alternativa escolhe um caminho completamente oposto e, por isso, na maioria das vezes, é operada em áreas rurais, na “vida no mato”. Como corrobora o próprio título do trabalho, meu interesse em evidenciar uma consciência alternativa tem como finalidade relacioná-la com o tópico da felicidade humana. Minhas motivações para com este tema da felicidade surgiram durante o curso de Ciências Sociais. Quanto mais eu reconhecia que a dinâmica social estava completamente inter- relacionada às ações e decisões individuais – que existe uma relação intrínseca entre indivíduo e coletivo –, mais eu me questionava sobre a causa das insatisfações humanas. Pois, o que estaria impedindo o ser humano ocidental urbano de alcançar sua almejada felicidade?