Carolina Michaëlis De Vasconcelos: Uma Homenagem
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Carolina Michaëlis de Vasconcelos: uma homenagem Valéria Gil Condé Lênia Márcia Mongelli Yara Frateschi Vieira Organizadoras Valéria Gil Condé, Lênia Márcia Mongelli , Yara Frateschi Vieira (Org.) UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO CAROLINA MICHAËLIS DE VASCONCELOS: UMA HOMENAGEM FFLCH-USP SÃO PAULO 2015 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO REITOR: Prof. Dr. Marco Antonio Zago VICE-REITOR: Prof. Dr. Vahan Agopyan FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIENCIAS HUMANAS DIRETOR: Prof. Dr. Sérgio França Adorno de Abreu VICE-DIRETOR: Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria COMISSÃO ORGANIZADORA COORDENAÇÃO GERAL: Valéria Gil Condé, Lênia Márcia Mongelli, Yara Frateschi Vieira PRODUÇÃO GRÁFICA: Érica Santos Soares de Freitas CAPA: Dorli Hiroko Yamaoka FOTO: A Vida e a Obra de Carolina Michaëlis de Vasconcelos: Evocação e Homenagem. Exposição bibliográfica e documental. Organização da Biblioteca da Universidade de Coimbra e Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Coordenação Científica: Maria Manuela Gouveia Delille. Catalogação: Isabel João Ramires. Design: António Barros. Infografia + Catálogo: Carlos Costa e Imprensa da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009. NEHiLP Núcleo de apoio à pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa www.nehilp.org COORDENAÇÃO: Mário Eduardo Viaro ISBN 978-85-7506-249-4 NEHiLP Núcleo de apoio à pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa www.nehilp.org ISBN 978-85-7506-249-4 Valéria Gil Condé, Lênia Márcia Mongelli , Yara Frateschi Vieira (Org.) UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO CAROLINA MICHAËLIS DE VASCONCELOS: UMA HOMENAGEM Núcleo de apoio à pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa (NEHiLP) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Universidade de São Paulo (USP) São Paulo 2015 SUMÁRIO Apresentação 7 Breves considerações sobre Lições de Filologia Portuguesa de Carolina 13 Michaëlis de Vasconcelos - Bruno Fregni Bassetto Das edições de Carolina Michaëlis de Vasconcelos: teoria da crítica 24 textual na prática - César Nardelli Cambraia A Filologia perene e o ideal da bata branca - José Augusto Cardoso 47 Bernardes Carolina Michaëlis e a edição crítica. Entre arte e método - Maria Ana 67 Ramos Inês de Castro e a insigne rainha Isabel de Portugal revisitadas por 101 Carolina Michaëlis de Vasconcelos - Maria Isabel Morán Cabanas Carolina Michaëlis de Vasconcelos: um perfil - Maria Manuela Gouveia 121 Delille O jogo da sátira galego-portuguesa e certo juízo de Carolina Michaëlis 145 de Vasconcelos - Paulo Roberto Sodré "Com resumos em alemão” as traduções do Cancioneiro da Ajuda por 160 Carolina Michaëlis de Vasconcelos - Simone Homem de Mello APRESENTAÇÃO Este livro é o resultado final de uma proposta de trabalho iniciada em 2011, quando tivemos a oportunidade de visitar a Exposição itinerante “A Vida e a Obra de Carolina Michaëlis de Vasconcelos: Evocación e Homenaxe” (15 de março a 14 de abril de 2011), então abrigada na Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela, mas realizada, originalmente e com o mesmo título: “A Vida e a Obra de Carolina Michaëlis de Vasconcelos – Evocação e Homenagem”, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, em 2009. Testemunhando a numerosa e significativa recolha do acervo do Espólio da filóloga custodiado na Biblioteca coimbrã (incluindo, além da sua biblioteca, documentos da vida pessoal e profissional, exemplares de trabalho e epistolografia), pensamos que seria importante transplantá-la ao Brasil, hipótese que imediatamente teve a melhor acolhida por parte dos organizadores ali presentes, a Professora Doutora Maria Manuela Gouveia Delille e o Professor Doutor João Nuno Corrêa-Cardoso. Além de oferecer ao público da Biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo a oportunidade de conhecer a trajetória pessoal e intelectual da filóloga, era também nossa intenção: ressaltar o diálogo interdisciplinar que a homenageada praticara enfaticamente na sua exemplar vida acadêmica; celebrar o espírito científico da estudiosa que, em seu tempo, cultivou amplas e fecundas relações com os círculos eruditos contemporâneos; e salientar sua importância como mulher à vanguarda de sua época, ativa colaboradora no então crescente movimento feminista mundial. A exposição que pensamos para a Biblioteca Florestan Fernandes da Universidade de São Paulo respeitou, na medida do possível – dentro das nossas condições bibliográficas, documentais e espaciais concretas –, o formato original, dividido em três partes: Anos de Berlim, Anos do Porto, Anos de Coimbra e do Porto. Procuramos destacar também o diálogo intelectual que D. Carolina manteve com Oskar Nobiling, alemão como ela, naturalizado brasileiro e professor catedrático no Ginásio de Carolina Michaëlis de Vasconcelos: uma homenagem 7 Estado de São Paulo, figura nacional de grande importância, pela competência e pelo rigor com que tratou os estudos de filologia galego-portuguesa no Brasil. Dessa forma, cremos que os usuários da nossa Biblioteca puderam mergulhar no mundo dos filólogos dos séculos XIX e XX. Acompanhando a Exposição e para promover o debate, organizamos, a exemplo do que fizera a Universidade de Coimbra, um “Colóquio Internacional em Homenagem a Carolina Michaëlis de Vasconcelos”, com o intuito de proporcionar interlocução em áreas interdisciplinares – como a filologia românica, as literaturas galega e portuguesa, a filologia e língua portuguesa. O diálogo que nessa ocasião se estabeleceu entre as universidades brasileiras – a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal do Espírito Santo –, cujas vozes fizeram coro às dos convidados estrangeiros, trouxe aportes de caráter histórico-filológico, cada vez mais vigorosos no Brasil desde os anos 80 do século XX. O Colóquio reuniu um grupo de investigadores que abordou, a partir da perspectiva contemporânea, aspectos e questões ainda hoje suscitados pela obra de Carolina Michaëlis: o trabalho de edição crítica; o conceito de filologia e sua contribuição para as filologias galega, portuguesa e brasileira; os contributos para os estudos de história da língua e da literatura em português, espanhol e galego-português; a troca de ideias e informações com os romanistas da época; o contato que ela estimulou entre as culturas portuguesa e alemã. Os resultados desse profícuo encontro publicam-se neste livro. Deles damos a seguir uma breve notícia, organizando-os por aproximação temática. Como texto de abertura ao Congresso, fruto da familiaridade adquirida no íntimo contacto com o Espólio de Carolina Michaëlis, Maria Manuela Gouveia Delille (“Carolina Michaëlis de Vasconcelos: um perfil”) oferece-nos o perfil da filóloga, dividindo-o em três períodos: os anos de Berlim, em que dá conta da formação familiar e intelectual da jovem Carolina até o momento em que se casa com Joaquim de Vasconcelos; os anos do Porto, a fase mais produtiva da sua vida, quando publica obras fundamentais, como as edições críticas das Poesias de Sá de Miranda e do Cancioneiro da Ajuda, entre outras; e os anos de Coimbra e do Porto, marcados pela docência na 8 Carolina Michaëlis de Vasconcelos: uma homenagem Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A autora ressalta, nesse riquíssimo percurso, o papel de Dona Carolina como representante do ideal de cultura universal e humanista adquirido nos anos de formação berlinense, que inspirou seu rigoroso trabalho filológico e sua atividade de mediadora científica e cultural entre as duas pátrias, a de nascimento e a de adoção. Partindo de uma instigante metáfora – a da “bata branca” e luvas, que os filólogos do século XIX, lidando com uma Filologia acusada de “imperial”, usavam como marca do rigor e da impessoalidade de seu trabalho – o texto de José Augusto Cardoso Bernardes (“A Filologia Perene e o ideal da bata branca”) incide sobre as causas e as dimensões dos conflitos atuais entre a Filologia (por sua “epistemologia empirista”) e os Estudos Literários (por seu “subjetivismo interpretativo”). Ambas as disciplinas deveriam unir-se, tanto no âmbito da investigação, quanto no do ensino: no primeiro caso, porque é impossível examinar bem um texto cuja edição não é confiável; no segundo, porque o aluno precisa conhecer a materialidade do objeto que tem em mãos antes de buscar o seu “sentido”. Daí a dupla utilidade da Filologia. As edições de Carolina Michaëlis receberam também atenção especial. Reconhecendo seu papel como introdutora do rigor na fixação de textos literários portugueses que, até os seus estudos, não tinham sido objeto de tratamento editorial, Maria Ana Ramos (“Carolina Michaëlis e a edição crítica. Entre arte e método”) passa em revista, primeiro, o panorama da Filologia em Portugal até a vinda de Dona Carolina para o Porto. Depois de examinar os métodos filológicos então em evidência, sobretudo na Alemanha e na França, e considerando que a edição do Cancioneiro da Ajuda não inclui uma declaração de intenções, visando a explicitar o método que lhe está subjacente, entende que a filóloga, cônscia das restrições do público que a leria, preferiu editar entre método e arte, silenciando a reflexão teórica, mas oferecendo-lhe textos fiáveis. O artigo de César Nardelli Cambraia (“Das edições de Carolina Michaëlis de Vasconcelos: a crítica textual na prática”) centra-se no exame técnico das treze edições de textos preparadas e assinadas por ela própria. Essa prática editorial apresenta-se em duas fases bem distintas: de 1870 a 1875, quando a autora ainda vivia em Berlim; e dez Carolina