Ano 26 | Março 2018 | Edição 342

From the Top Carlos Zarlenga, presidente da GM

LANÇAMENTO Cronos revitaliza fábrica Argentina de Córdoba

INTEGRAÇÃO DO MERCOSUL Somos mesmo um bloco só?

ETANOL FLERTA COM OS ELÉTRICOS Desse namoro sai casamento?

REDE DE DISTRIBUIÇÃO Número de concessionárias vai parar de cair em 2018

Indústri_ _utomotiv_ teme que diferenç_ n_ velocid_de de re_ç_o dos fornecedores _tr_p_lhe os pl_nos de crescimento AUTODATA p_r_ 2018 PERGUNTA Nova seção estreia com Greg Scheu, da ABB

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4 » ÍNDICE

FORNECEDORES A principal dúvida prática que o setor automotivo enfrenta hoje no V_I F_LT_R PEÇ_? 20 Brasil é: vai faltar peça? A resposta certamente será sim, e já a partir do segundo semestre, se nada for feito agora

LANÇAMENTO O novo sedã da Fiat deu à unidade argentina da FCA os mesmos FIAT CRONOS 32 padrões tecnológicos e de qualidade de produção das fábricas brasileiras de Pernambuco e Betim, MG Divulgação/FCA

ESTRATÉGIA Montadoras no Brasil e Argentina se esforçam para tornar o Mercosul MERCOSUL 38 automotivo de fato um bloco só, mas o todo esbarra na diferença de tamanho dos mercados

TECNOLOGIA O etanol, biocombustível que tem no Brasil seu maior expoente, ETANOL + ELÉTRICOS 42 se mostra par perfeito para a mobilidade elétrica. Mas o namoro dependerá de muito desenvolvimento para virar casamento

MERCADO Como diz Alarico Assumpção Jr., da Fenabrave, a rede de CONCESSIONÁRIAS 48 distribuição saiu da UTI. Não deveremos ver novas casas esse ano, mas também nenhuma deve fechar as portas

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LENTES FROM THE TOP AD PERGUNTA GENTE & NEGÓCIOS FIM DE PAPO Os bastidores do Carlos Zarlenga, Elegemos Movimentações As manchetes setor automotivo. presidente da GM mensalmente um de executivos e mais relevantes e E as cutucadas Mercosul, explica tema e convidamos outras novidades da irrelevantes do mês, nos vespeiros que a integração da um especialista indústria automotiva escolhidas a dedo ninguém cutuca. fabricante na região para responder brasileira pela nossa redação

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AD 342 - Índice.indd 4 05/03/2018 12:54:31 » EDITORIAL 5

ara nós da AutoData Editora a missão de uma revista é muito simples: ela deve ser relevante para o leitor. Se assim não Pfor, não servirá nem para decorar sala de espera. E para ser relevante uma revista precisa do trabalho sério e dedicado de Seriedade, sua equipe de jornalistas e de arte. Estamos atentos a todo e qualquer movimento que possa, de alguma forma, ser relevante a você, nobre leitor. Antes de escrever, o jornalista precisa ouvir. E ouvir muito – o que, no jargão jornalístico, chamamos de apurar. relevância No caso específico deAutoData , não só a mais importante e tradicional mas a única publicação mensal brasileira dedicada da primeira à última página à cobertura da indústria automotiva, essa e bom relevância precisa ser ainda mais aprofundada. As informações aqui contidas contribuem para os(as) executivos(as) entenderem os rumos deste transatlântico: qual a previsão do tempo, o tama- nho das ondas, onde podem existir icebergs, pedras submersas humor e recifes de corais. E até, quem sabe, tesouros escondidos. Essas informações ajudam as inúmeras empresas da longa Por Marcos Rozen, editor cadeia automotiva a planejar melhor suas ações, ajustar modos de gestão dos negócios, programações de produção, investi- mentos, contratações. AutoData ajuda na tomada de decisões do setor automotivo. E é assim que deve ser, pois isso é o rele- vante para o nosso leitor. Mas é importante não confundir seriedade com sisudez. Uma revista séria não precisa ser carrancuda. Ao contrário: um toque de bom humor torna muito mais prazerosa a leitura de temas, sim, muito sérios, como o tratado na capa desta edição de mar- ço. Porém é justamente essa leveza que nos permite chamar atenção para encarar de forma direta e imediata assuntos que não podemos deixar para depois. E que ajuda o leitor a procurar as melhores soluções. Aqui na nossa redação ainda acreditamos muito no relacio- namento que as pessoas têm com as revistas que leem, tanto em papel quanto no formato digital. E podemos assegurar que, do lado de cá, trabalhamos com extremo afinco para queAuto - Data seja cada vez mais relevante. Esperamos, porém, que nem por isso você, leitor, a terá sempre por perto apenas por mera obrigação profissional mas, também, por simples e puro prazer.

www.autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora @autodataeditora

Diretoria Márcio Stéfani, publisher Conselho Editorial Márcio Stéfani, S Stéfani, Vicente Alessi, filhoRedação Leandro Alves, dire- tor adjunto de redação e novos negócios, Marcos Rozen, editor Colaboraram nesta edição Bruno de Oliveira, Caio Bednarski, Gilmara Santos Projeto gráfico/arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR e divulgação Foto Capa FCA Mídias sociais Allex Chies Comercial e publicidade tel. PABX 11 5189 8900: André Martins, Érika Coleta, Luiz Giadas Assinaturas/atendimento ao cliente tel. PABX 11 5189 8900 De- partamento administrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira Distribuição Correios Pré-impressão e impressão Eskenazi Indústria Gráfica Ltda., tel. 11 3531-7900 ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora Ltda., rua Pascal, 1 693, 04616-005, Campo Belo, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte.Jornalista respon- sável Márcio Stéfani, MTB 16 644

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8 » LENTES

REDUCIONISMO CONFIAR É UM RISCO Coisas que acontecem em Confiar em números, índices e dados estatísticos de órgãos épocas reducionistas, quando públicos é um risco, como mostra a Inrix, empresa baseada em empresas conseguem acreditar Kirkland, Washington, perto de Seattle, www.inrix.com. Sua tarefa que administradores de empresas, foi medir congestionamentos em 1 mil 360 cidades de 38 países com MBA de marketing a bordo, por em todos os continentes. São Paulo, que em 2016 era a sexta exemplo, são excelentes potenciais cidade mais congestionada do mundo, cresceu duas posições gerentes de imprensa e de relações no ano passado – e passou ao quarto lugar, desbancando públicas, numa daquelas mostras São Francisco, Califórnia, e Bogotá, Colômbia, e mantendo a antecipadas de que a bola errada liderança na América do Sul. Seu ICI, de Inrix Congestion Index, entrará, mais uma vez, na caçapa é 16,9 contra 18,3 de Los Angeles, Califórnia, a primeirona do para estragar seu jogo: a subsidiária ranking. Aqui, em 2017, 22% do tempo dos motoristas foi gasto em da Porsche no Brasil indicou o congestionamentos, o que representou 86 horas. Causa óbvia: o administrador de empresas Rodrigo crescimento da velocidade permitida nas avenidas marginais dos Soares, detentor de MBA em rios Pinheiros e Tietê? marketing, como seu novo gerente de imprensa e RP. Em comunicado diz que Rodrigo tem “ampla experiência no segmento automotivo”, no qual iniciou carreira em 2004. Não conta onde.

REDUCIONISMO 2 Mas a Porsche conta que desde 2015 Rodrigo foi seu gerente de vendas, “tendo um papel importante no sólido crescimento da companhia”. Não conheço Rodrigo e acredito que ele não tenha jornalistas amigos a quem recorrer numa hora dessas para consultar a respeito da oportunidade – será que vale a pena? Pois esse mundo no qual ele adentra, agora, acredito, deva ser exercido por gente do ramo.

REDUCIONISMO 3 Deve ser mais uma daquelas soluções domésticas à guisa de economia porca. Já cansamos de ver isso. Acredito, de maneira intransigente, que profissionais de imprensa e de RP, gente da área da comunicação social, é que assume essas posições – da mesma maneira que, certamente, administradores têm o seu lugar reservado na estrutura das empresas. Os casos em que esse tipo de indicação funciona conformam uma absoluta exceção. A não ser que a Porsche Brasil tenha uma formidável boa experiência com profissionais exercendo funções fora de sua área de

formação. Corneti Públicas/Oswaldo Divulgação/Fotos

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FORD uma troca 2 por 1. Como ouvido, e às JÁ EM RIBEIRÃO... vezes lido, é conhecido o tamanho A falta de profissionais do prejuízo sucessivo, exercício a adequados nos seus exercício, da companhia na região – devidos lugares e isso deve dizer alguma coisa aos gera incredulidade e analistas. Principalmente porque o muita risada nas boas mundo automotivo está às vésperas redações do mundo. de mais uma grande revolução, tipo Pois vejam: no mesmo

Divulgação/Ford aquela da instituição do fordismo e dia em que AutoData suas linhas de montagem. Mas nada a recebeu o press Ford se manterá ativa na América ver com os chamados velhos tempos. release da Porsche do Sul como produtora de veículos? chegou, também, o de Esta pergunta se faz a respeito da FORD 3 pequena assessoria de Ford e de mais meia dúzia de outras Assim, ao mesmo tempo em que imprensa de Ribeirão fabricantes. Mas, no caso, há mais se deseja frear o preju por aqui é Preto, SP. Com um pistas disponíveis. Tudo começou fundamental preparar a estrutura título catastrofal, como a ficar mais claro na quinta-feira, presumivelmente restante para o rotularia Jean Melé, 8 de fevereiro, com a divulgação os novos tempos – nos quais a criador do finado, de reportagem do jornalista Caio companhia, com sua história e e combativo, diário Bednarski, da Agência AutoData de tradição, também quer exercer papel Notícias Populares: Notícias: citando fonte da indústria de alta relevância, igualzinho ao que Novo Polo É Eleito o fornecedora de autopeças antecipava aconteceu na primeira revolução, Carro mais Premiado. o encerramento da produção do como admitia o vice-presidente É inimaginável que um Focus na fábrica de General Pacheco, Rogelio Golfarb em conversa durante press release com esse na Província de Buenos Aires, para o Salão de Detroit, em janeiro. Talvez título seja distribuído até 2019 e deixava a porta aberta seja esse, então, o pensamento – mas foi. Coisas que para a pergunta: e-a-nova-geração:- estratégico predominante aplicado acontecem, claro. Falha onde-será-produzida? E no meio às operações na América do Sul: da gestão de qualidade desse balaio argentino também está reduzir a organização para preparar o da assessoria, sem o destino da picape Ranger, que não futuro. (No caso o futuro mais próximo dúvida – mas será tem traço de sucessão. será composto de várias alternativas que há essa gestão da elétricas e o de longo prazo de qualidade do material FORD 2 variados graus de direção autônoma enviado às redações? Na penúltima semana de fevereiro com altíssima incidência de tecnologia Mais um sintoma a Coluna De Carro por Aí, editada a e conectividade. Mas sempre a bordo do reducionismo? partir de Brasília, DF, por José Roberto de ve-í-cu-los.) Entendem o que digo? Nasser, e distribuída nacionalmente, também enfrentou o assunto. Nasser FORD 4 tirou do embornal a relação dos Quem observa percebe o grande maiores acionistas com o board elenco de acordos da Ford fora da companhia e a questão crucial: do mundo dos carros e dentro do qual-é-o-futuro-da-Ford? Como se mundo da inteligência artificial e da percebe é comprido o pano de fundo alta conectividade. Quem conversa de mais esta história. Poderia implicar, com os Ford guys mundo afora também, o fim das atividades na entende melhor a que a companhia fábrica do Taboão, em São Bernardo pretende se destinar: nada menos o Por Vicente Alessi, filho do Campo, SP, hoje Fiesta e Cargo, primeiro lugar no futuroso universo da Sugestões, críticas, comentários, com toda a força sendo concedida à mobilidade. Daí a síntese, quase uma ofensas e assemelhados de Camaçari, BA, hoje Ka e EcoSport. lei geral: na América do Sul encolher para esta coluna podem ser Lá, em 2019, nasceria um novo seria sinônimo de crescer ao longo dirigidos para o e-mail produto para substituir Fiesta e Ka, dos anos que vêm. [email protected]

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12 FROM THE TOP » CARLOS ZARLENGA, GM Entrevista a Leandro Alves, Márcio Stéfani, Marcos Rozen e S Stéfani O homem que

trocou a fachada Divulgação/GM

ecentemente os puristas público interno e externo que uma na fabricante a partir da área de do setor automotivo nacio- nova e inédita estrutura, que unifi- finanças, e pela GM já peregrinou nal levaram um choque: a cou completamente as operações em diversos mercados – até mes- quase centenária fachada da fabricante no Brasil e na Argen- mo no longínquo Uzbesquistão. Rdo Portão 1 da General Motors na tina, havia nascido. Nesta entrevista exclusiva ele Avenida Goiás, em São Caetano O homem que mandou trocar conta como funcionou o processo do Sul, SP, foi alterada. Sem aviso a fachada foi o argentino Carlos de integração no último ano, os e cerimônia, a tradicionalíssima Zarlenga, 44 anos, presidente da novos investimentos da fabricante inscrição General Motors do Brasil GM do Brasil desde setembro de aqui, suas preocupações sobre o que ladeava a entrada foi substitu- 2016 e da GM Mercosul a partir de Rota 2030 e muito mais. Além de ída por General Motors Mercosul. janeiro de 2017, quando a nova es- revelar, é claro, suas razões para Foi uma forma de mostrar ao trutura foi criada. Ele fez carreira mandar trocar a fachada.

Como funciona essa produção integrada Que tipo de ganhos essa unificação gerou da GM no Brasil e na Argentina? para a GM? O que a gente fez foi criar uma estru- A vantagem de fazer isso é que toda a tura em torno da operação que já exis- burocracia que ficava escondida, ten- tia, a produção em si já era integrada. tando se beneficiar de duas empresas A separação das operações de Brasil separadas, desaparece. Então reduzimos e Argentina era quase artificial. Como custo, aceleramos a tomada de decisões você consegue separar dois países onde e geramos oportunidades de trabalho vendemos praticamente os mesmos mais interessantes para as pessoas. Além produtos? Hoje a complementarieda- disso aumentou a compreensão regio- de do nosso portfólio é de quase 99%, nal: muitos aqui no comitê executivo da praticamente tudo que vendemos aqui GM já tinham responsabilidade pela Ar- vendemos lá. Na cadeia de fornecedo- gentina, mas isso acontecia por meio de res, temos empresas de lá atendendo uma pessoa que ficava lá. A partir disso plantas daqui e daqui atendendo fábri- alguns diziam que conheciam o mercado cas lá. E geralmente são as mesmas argentino, mas depois que juntamos as empresas, globais, e mesmo as regionais operações eles se deram conta de que também, muitas vezes são as mesmas não conheciam. Várias coisas que acha- aqui e lá. Os consumidores igualmente vam que eram iguais aqui e na Argentina são bem similares. As redes aqui e lá descobriram que não, não eram, e a partir têm os mesmos problemas, a mesma daí tudo passou a ficar super integrado, e necessidade de eficiência, de melhorar eu acho que está funcionando bem. Nós processos, de aprender uns com os ou- sempre fazemos pesquisa de satisfação tros. Na realidade o que a gente fez foi dos empregados, e eu estava um pouco formalizar o que já existia. preocupado com os resultados, pois foi

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tecnologia, crescimento, investimento. Negociamos um ano inteiro, tendo a data “A incerteza sobre as metas de eficiência certa de finalização do Inovar e um plano que chegava para o futuro em mãos, para energética coloca em dúvida o depois disso acontecer uma mudança investimento da indústria” de opinião no final. Acho que isso não é bom. Não gera credibilidade para investir a longo prazo no Brasil. Nesse primeiro bimestre aconteceram muitas conversas uma mudança importante. Fizemos uma com o governo nesse sentido, por meio pesquisa no segundo semestre do ano da Anfavea ou mesmo as montadoras in- passado, bons meses depois da inte- dividualmente, e eu espero sinceramente gração, e o resultado foi que cresceu a que exista um caminho para chegarmos empolgação e a satisfação, ambos ex- a um acordo sobre o Rota 2030. Os inves- pressivamente. Está sendo muito positivo. timentos que estão sendo feitos agora foram pensados para níveis eficiência E precisava mexer na histórica fachada? energética que estão dentro deste plano, Somos uma mesma empresa, um mes- mas sem sabermos quais serão as metas, mo negócio, estamos 100% juntos, e para diante destas incertezas, coloca-se em isso temos que abrir mão de algumas dúvida o investimento da indústria. Esse coisas. Eles têm que abrir mão de se é um setor que trabalha a longo prazo e chamar GM Argentina, e aqui temos que precisa de normas claras. abrir mão de nos chamar GM do Brasil. Não há nada de errado com a tradição O Sr. acredita que o Rota possa sair, mas e a experiência, elas estão aí e ninguém apenas parte por parte, em etapas, em nunca vai tirar o que aconteceu. A GM lugar de um pacote completo? Mercosul só é um caminho para a frente, Acho que o que está sendo discutido até para criar uma nova tradição. agora está bem fundamentado, tem uma boa base, as conversas foram sólidas. Como funciona a GM Mercosul em termos Creio que como está deveria sair. De novo: geográficos para os cargos de direção? se não sair é dar à indústria uma mensa- Ela independe do país. Pegamos onde gem de incerteza, de que as regras não estavam os talentos e pronto, tanto faz são claras no País para investir. Pode até a localização. Selecionamos os melho- ser que saia uma parte e não saia outra, res: algumas áreas ficam na Argentina, mas eu diria que isso geraria ainda mais outras aqui no Brasil, sempre atendendo dúvidas, expectativas e incertezas para a região inteira. O time de vendas, por o futuro. exemplo, agora tem uma pessoa que é responsável pelo Mercosul e abaixo dela O Sr. acaba de confirmar um novo inves- ficam outras responsáveis por três áreas, timento da GM no Brasil. Essa questão com volumes semelhantes, cada uma do Rota 2030 pode afetar a credibilidade com um responsável. Temos um time de global a ponto de pensarmos que pode inteligência, dividido em partes, sempre não haver mais GM do Brasil no futuro? com os melhores, independente do país. Não, acho que isso é muito radical. Mas O mesmo acontece em finanças e com posso dizer claramente que quando há as outras áreas. um plano de longo prazo, como é o Rota 2030, ele representa a base a partir da Em sua opinião como fica o Rota 2030? qual se investe. Sim, confirmamos agora Acho que a previdência e o Rota são um investimento gerado a partir desta temas separados. O setor automotivo expectativa do Rota 2030 (veja na pág. 56). se beneficiou muito do Inovar-Auto, em Mudar as regras no meio do caminho nos

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faz repensar o futuro. Mas por causa disso vamos anunciar mudanças na estratégia da GM? Não, de jeito nenhum, porque eu acho que o Rota 2030 vai sair.

A falta de uma política automotiva no Brasil pode atrapalhar também a inte- gração no Mercosul? Hoje temos um trabalho de convergência de normas nos dois países que come- çou e que está evoluindo muito bem. Não aconteceu tudo que queríamos, mas o tema tem evoluído. A discussão da integração hoje é uma coisa central, algo que há um ano e meio atrás não era. Harmonização de normas, consumo, emissões, segurança... é um ponto chave para todo mundo, inclusive para Anfavea e Adefa. Nesse contexto, quando se tenta modificar coisas altamente complexas como são as normativas de ambos pa- íses, sempre é bom ver que um plano de longo prazo existe. É muito mais fácil acreditar nessa convergência quando há um passo como o Rota 2030 dado do que quando não há. E há outros pontos, como por exemplo as conversas de li- vre comércio. Eu acho que essa abertura para a indústria com a União Europeia é normas que iriam valer daqui para fren- uma coisa boa. Mas não pode haver livre te. O mercado crescente neste ano tem comércio com a UE se não houver do relação muito mais com a recuperação Brasil com a Argentina e com o México. da confiança do consumidor do que com Podemos acreditar nessas propostas de os produtos em si. Eu acho que há essa longo prazo quando não fechamos nem compreensão. Sou otimista e creio que mesmo as normas da própria indústria este tema vai evoluir neste trimestre. do País? Tudo fica menos crível. Acredito que o governo vai entender esse ponto. Imaginando que o Rota 2030 saia sem contemplar incentivos para P&D: o quan- Esse cenário do primeiro bimestre, com to isso atrapalharia a modernização dos investimentos, diversos lançamentos e veículos nacionais? crescimento das vendas não pode ser Qual é a carga tributária total da indústria interpretado em Brasília, DF, como um automotiva no Brasil? Falamos de número sinal de que o setor se vira muito bem por volta de 50%, é um dos maiores do sozinho e que não precisa do Rota 2030? mundo. Então quando falamos de bene- Eu não subestimo o entendimento que fícios fiscais para a indústria automotiva, há em Brasília sobre os prazos médios quando se olha para o pacote inteiro, a de desenvolvimento da indústria auto- conta inteira, não é uma grande diferença. motiva. Acho que o País e o governo en- O ponto aqui é que todos os elementos tendem bem como ela funciona. E que são vinculados: a eficiência energética o investimento da GM foi trabalhado no está atrelada a um investimento que tem ciclo anterior pensando claramente nas que ser feito, que foi pensado dentro do

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investimento que o governo também faz Terceiro: a expectativa de emprego é me- para desenvolver as tecnologias, como lhor, isso gera um impacto importante. aconteceu no Inovar-Auto. Se você tira Há menos apreensão nas pessoas em uma parte e não tira outra, tudo tem que perder o emprego. Nas nossas pesquisas ser repensado. No Inovar a indústria gerou o consumidor está confiante para fazer R$ 40 bilhões em investimento e a parte um gasto em um carro novo. correspondente do governo foi muito pequena perto disso. O que explica esse aumento da confiança mesmo diante das atuais circunstâncias? Qual é a projeção de crescimento da Se você é funcionário da GM, hoje você produção GM Mercosul para 2018 ante está com um pouquinho mais de con- 2017? fiança do que estava em 2013. O pior já 22%, de 517 mil unidades para 630 mil, passou, no final é nisso que todos acredi- ou um pouco acima de 100 mil unidades tam. E mês a mês a gente continua vendo adicionais de um ano para outro. Estamos o mercado crescer. O mais interessante crescendo em participação de merca- é que a gente costuma avaliar o cresci- do no Brasil e na Argentina, mesmo no mento em volume, em unidades, mas se quarto trimestre do ano passado já cres- fizermos uma análise em Reais veremos cemos acima da média da indústria. Em que a evolução é muito maior, mesmo outubro estimávamos mercado total de descontando a inflação. Os produtos an- 2,4 milhões a 2,6 milhões, e agora esta- tigos foram todos substituídos por mo- mos vislumbrando de 2,5 milhões a 2,7 delos com muito mais tecnologia, com milhões, e bem perto mais perto dos 2,7 um ticket médio muito mais alto. Assim do que dos 2,5. o crescimento da indústria em Reais foi muito maior do que em volume no ano passado. O consumidor gastou mais para comprar carros melhores, com mais tec- nologia, mais conteúdo etc. “O crescimento da indústria brasileira Isso ajudou a rentabilidade? em Reais foi muito maior do que em Melhoramos bastante. Reportamos um 2017 muito melhor que 2016 mas com vo- unidades no ano passado” lume quase parecido, bem próximo, com pouco crescimento. De qualquer forma, ficamos bem abaixo do que já alcança- mos como pico. Um fator Importante é Qual a razão desta nova expectativa? que baixamos muito o ponto de equilíbrio Primeiro: janeiro. É um dado para não da empresa durante a crise, o que deve esquecer. Foi um mês bem forte compa- funcionar também para esse ano e o ano rado com o que esperávamos. Dezembro que vem. Em 2013 reportamos equilíbrio foi igualmente forte, assim como novem- na América do Sul, 2014, 2015 e 2016 fo- bro e também fevereiro. A confiança do ram anos de perdas e 2017 voltamos ao consumidor continua crescendo, não ti- ponto de equilíbrio, depois de três anos. vemos um mês de redução desse índice desde julho de 2016. Segundo: aconte- E nos mercados onde a GM não tem bons ceu uma série de lançamentos, coisas resultados ela não costuma ficar... realmente novas no mercado. Não é só A GM é a número um na América do Sul, trocar um carro por outro igual 0 KM, são fizemos investimentos, a nossa marca produtos de fato novos, evoluções que tem um reconhecimento muito forte aqui, não haviam antes. Isso gera uma vontade quase o melhor do mundo. A América nas pessoas de voltar para o mercado. do Sul é um ponto chave, estratégico e

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foco da GM. Não sou eu quem diz isso, é a Mary [Mary Barra, CEO global]. Acho que muito disto está ligado ao trabalho “A primeira coisa necessária para entender que fizemos durante a crise. Se estivés- semos hoje fora do ponto de equilíbrio, o modelo de negócio do carro autônomo sem melhorar a rentabilidade, não sei é produzir um carro autônomo” se a resposta seria a mesma. Aliás, nem deveria ser: estamos em um negócio no qual o investimento deve gerar retorno para os acionistas. Mas da forma que es- que há uma necessidade importante, e tamos, com perspectiva de crescimento conseguiremos fazer isso porque temos somada aos investimentos, entendo que o OnStar. Até se consegue fazer sem ele, dificilmente você vai achar um momento mas da forma que resolvemos tecnolo- da GM no passado melhor do que o atual. gicamente ele é muito útil, muito bom para o cliente. Queremos liderar o com- A GM quer estar na frente em conectivi- partilhamento no mundo inteiro, não só dade na região. Quais os planos? nos Estados Unidos, e também liderar Fomos os primeiros com o MyLink e a eletrificação na América do Sul e no depois somamos o OnStar. E teremos Mercosul. ainda mais, itens revolucionários nesse mercado, coisas que o cliente não espera, A GM está vendo uma mudança radical especialmente em carros de entrada. A no modelo de negócio? GM tem uma visão global de três zeros: Se olharmos para os próximos dez, quin- zero emissões, zero acidente e zero con- ze anos, acho que haverá uma mudança gestionamentos. Ao mesmo tempo a GM importante. O segmento de serviços de está desenvolvendo sua marca de car transporte será uma parte do DNA da sharing, a Maven, que vamos expandir GM, sem dúvida. no Brasil e na Argentina, porque achamos Vocês têm uma visão clara do que vem pela frente, incluindo os autônomos? O modelo exato de negócio do mundo autônomo eu não sei. Ainda haverá muito teste, temos muita coisa para aprender e absorver até este momento. O impor- tante é que para entender o modelo de negócio do mundo do carro autônomo a primeira coisa necessária é ter um carro autônomo. E a GM terá um, comercial- mente viável, na rua, no ano que vem. Ele agora está saindo da linha de produção, não está sendo feito artesanalmente. A quantidade de informações que gera- mos diariamente por meio dos testes que fazemos quase ninguém tem. Há muita gente falando ‘vai ser assim vai ser assado’, mas eles se esquecem de um pormenor: a tecnologia não é simples. Ela é muito difícil, está longe de ser um commodity. A evolução é passo a pas- so, mas vamos chegar ao mercado bem antes do que outros.

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20 FORNECEDORES » VAI FALTAR PEÇA? Por Marcos Rozen Um bom problema. Mas ainda assim

A gangorra da produção nacional de autoveículos

um problema.

2010 3,38 +14% fa! O primeiro bimestre de 2018 De um lado montadoras otimistas e de outro uma fechou em alta de quase 20% nas 2011 3,40 +1% base da cadeia enfraquecida: o desafio do setor vendas, e ao que tudo indica o ano 2012 3,40 0% deverá ser positivo no mercado in- automotivo neste ano é ajustar essa relação para Uterno em dois dígitos gordinhos, que se 2013 3,71 +10% somam aos 9% de crescimento registrado que não faltem peças nas linhas de montagem. em 2017 ante 2016. 2014 3,15 -15% As vendas internas se unem à puxada das exportações, que deverão bater novo 2015 2,43 -23% recorde em 2018, para 800 mil unidades. 2016 2,16 -11% Com isso, é claro, vai bem para cima a produção: em 2017 foi 25% melhor que 2017 2,69 +25%

2018* 3,05 +13%

*Previsão A gangorra da produção brasileira de autoveículos

Fonte: Anfavea *Previsão. Fonte: Anfavea +10% +14% +1% 0%

2010 2011 2012 2013 2014

-15%

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2016 e a previsão da Anfavea para este VW JÁ SENTE ano, elevação de 13%, já é vista por diversos No que se refere à possibilidade de executivos como pessimista, em especial lacunas no fornecimento de componentes diante dos resultados do primeiro bimestre na linha de montagem de longe a mais – a projeção foi calculada pela associação preocupada é a Volkswagen, que fala em em dezembro. crescer 20% neste ano. Ocorre que para Tudo parece ótimo e só haveria motivos ela a questão não é se vai faltar peça: já para comemorar, não fosse o setor auto- falta peça. motivo cheio de nuances e particularidades Pablo Di Si, presidente para América do extremamente próprias. Esse forte avanço Sul, revela que desde o fim do ano passado da produção, ainda mais vindo de pano- a VW do Brasil têm em seus pátios carros rama no qual os números de fabricação incompletos, aguardando componentes de veículos caíram dois dígitos de 2014 para finalização da produção. Para minimi- a 2016, não encontra respaldo linear por zar a questão a fabricante promove espécie toda a cadeia. de varredura para verificar a situação de Isso porque de um lado há montadoras seus fornecedores, tanto em termos de bem mais otimistas, ansiosas por recu- capacidade quanto saúde financeira. perar perdas, que falam em crescer seus “Existe um temor de não crescermos números individuais de produção na faixa tanto por falta de peças. Há fornecedores de 20% ou até mais, 25%. E do outro há que têm dificuldades até para comprar fornecedores, especialmente os Tier 2 e 3 matéria-prima, por isso estamos sendo para baixo, bem mais conservadores, ainda proativos em ajudar a cadeia, para que ela lambendo as feridas da crise, trabalhando possa nos acompanhar no mesmo ritmo. com índice de um dígito para alta em suas E no geral ela está respondendo bem”. linhas para esse ano. Uma das iniciativas VW foi aproximar Esse descompasso, naturalmente, os fornecedores do BNDES, com o apoio pode desaguar em falta de peças no se- do pessoal de compras e financeiro da gundo semestre ou 2019, caso nada seja fabricante. feito até lá. É, sem dúvida, um bom, ótimo problema se comparado àqueles enfrenta- dos nos últimos três anos, quando a ques- +25% tão era absolutamente inversa – sobrava peça para carro que não seria produzido por falta de comprador. Mas ainda assim é um problema, e pre- cisa ser enfrentado imediatamente. +13%

2014 2015 2016 2017 2018*

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AD 342 - Autopeças.indd 21 05/03/2018 16:09:03 22 FORNECEDORES » VAI FALTAR PEÇA?

de Brasil e Argentina. O executivo afirma que até o momento a fabricante não re- “Há fornecedores em gistrou falta de componentes, em parte por “trabalho de racionalização da rede dificuldades até para de fornecedores realizado durante a crise”. comprar matéria-prima” MAIS E AINDA MAIS Pablo Di Si, da Volkswagen Por sua vez a Nissan endossa o coro das

Christian Castanho estatísticas bem acima da Anfavea: projeta elevar seus índices produtivos em 25% no País neste 2018, graças, em boa parte, à Carlos Zarlenga, presidente da GM Mer- consolidação da produção local do Kicks, cosul, divide as preocupações do colega lançado no segundo semestre de 2017. da VW. Ele considera que “a capacidade Marco Silva, presidente da Nissan do dos fornecedores será uma dificuldade Brasil, revela que para os fornecedores, na com a qual toda a indústria terá de convi- prática, o aumento será ainda maior, pois ver nos próximos três a quatro anos, pelas além do crescimento da produção em si taxas de crescimento previstas”. a fabricante ainda conduz programa de O executivo compreende que para a aumento dos índices de nacionalização, cadeia “crescer é difícil, requer capital de substituindo importações. giro, manutenção e investimentos que “Estamos discutindo agora com os for- precisam ser feitos em um período de re- necedores a possibilidade de um novo cuperação da crise”. Uma das questões aumento da produção, para além do que envolvidas no processo, em seu ponto já está contratado.” Um estudo da Nissan de vista, é que durante a fase áurea do revelou que 80% dos parceiros estão oti- mercado brasileiro “muitas decisões de mistas e veem essa chance como opor- investimento não foram as melhores do tunidade, mas 20% nutrem alguma resis- ponto de vista de eficiência e sustentabi- tência. “Ela vem do passado dos últimos lidade. Alguns fornecedores improvisaram três anos, quando alguns não consegui- ações só para atender a demanda, sem se ram sobreviver e os que conseguiram foi preocupar com o expertise, a qualidade”. a duras penas. Para estes uma reação é Assim, revela, a GM têm conversado a mais demorada, depende do quanto estão respeito com seus fornecedores desde o capitalizados.” ano passado tentando tapar qualquer bre- Para este grupo a Nissan está realizan- cha que ameace suas planilhas. “Tomara do estudos individualizados, chegando in- que achemos o caminho. Até agora está clusive a oferecer apoio financeiro, técnico funcionando, mas a parte mais forte do e de gestão, ainda que estes sejam casos crescimento ainda não veio”, alerta. restritos, segundo Silva. A projeção da GM é crescer sua produ- A Nissan trabalha em Resende, RJ, em ção em 22% neste ano, somadas as fábricas dois turnos cheios, mas se houver “consis- tência no crescimento do mercado” pode até lançar mão de um terceiro turno. “Não descartamos essa possibilidade.” Quem não reparte destas preocupa- “Não descartamos a ções é Stefan Ketter, COO da FCA América Latina. Para ele, é uma questão de “como possiblidade de produzir em cada empresa trabalha. Em Pernambuco, três turnos no Brasil” por exemplo, está tudo preparado, geren- ciamos de doze meses para frente. Lá não Marco Silva, da Nissan pode faltar peça. Trabalhamos muito na

Ana Colla questão preventiva”.

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veem crescer além da média, mas isso deve ser compensado por redução em “Há montadoras otimistas, outras. Se somarmos todas as projeções das empresas mais otimistas a conta não mas o mercado tem uma fecha, fica um bolo maior que 100%. O mer- certa limitação” cado tem uma certa limitação pra crescer”. Ele conta que neste primeiro bimestre Marcos Zavanella, da Schaeffler a produção já roda acima deste um dígito,

Divulgação/Schaeffler “o que é bom, ajuda a usar a capacidade da fábrica, reduzindo os custos totais” – em algumas áreas a Schaeffler está trabalhan- do em dois turnos e outras em três. No ano passado, inclusive, contratou duzentos “Quem dependia funcionários para a produção. Ele confirma que a parte de baixo da exclusivamente do OEM cadeia “está fragilizada, com saúde finan- sofreu muito” ceira complicada. Há sinais de que algumas empresas não estão conseguindo se sus- Gilberto Heinzelmann, da Zen tentar, atrasando impostos e salários”. Para

Divulgação/Zen ele “de alguma maneira elas têm que ser ajudadas, pois a maior preocupação atual é o quanto a cadeia conseguirá sustentar O mesmo conceito foi repetido na uni- o crescimento”. dade de Betim, MG, e segundo o executi- O presidente lembra que diversas em- vo “nunca tivemos tão poucos problemas presas têm que arcar com matéria-prima de peças como agora”. Ele acredita que e salários antes de receber o pagamento eventuais gargalos atualmente estão con- por suas peças fornecidas, o que complica trolados e alguma dificuldade adicional o fluxo de caixa especialmente daque- pode ocorrer um pouco mais à frente, em las que não são de perfil multinacional. dois a três anos. “Trabalhando bem com os “Já auxiliamos algumas em situação mais fornecedores, vamos conseguir. Se houver complicada, antecipando pagamentos e problema será algo relacionado a uma até arcando com as compras de matéria- má gestão.” -prima.” Já Gilberto Heinzelmann, presidente DO LADO DE LÁ da Zen, argumenta que a empresa tem Do outro lado os fornecedores demons- boa margem de manobra em suas opera- tram, sim, certa cautela, mas a ampla maio- ções OEM, reposição e de exportações, o ria garante que têm como acompanhar o que ajuda a “acertar as velas para navegar aumento da demanda, cada uma a seu com qualquer vento”. No ano passado sua modo. Mas, da mesma forma, revelam suas produção cresceu 15% e para este ano a preocupações com elos mais abaixo da projeção é ainda mais forte, 25%. cadeia, a partir dos Tier 3, que consideram “Pode parecer número extremamente fragilizados. otimista, mas a base é baixa”, justifica. A Marcos Antonio Zavanella, presidente e Zen fechou o terceiro turno em 2016 e ini- CEO da Schaeffler América do Sul, revela ciou sua reativação na segunda metade do que 2017 surpreendeu positivamente ao ano passado, em parte para atender novos fechar em alta de 15% na produção. Para contratos de exportação, em particular 2018 a empresa trabalha com elevação de para o México. um dígito no índice produtivo, o que não O executivo explica que a empresa é preocupa o executivo: bastante verticalizada, o que reduz sua “Realmente algumas montadoras pre- dependência de elos abaixo de si na ca-

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em Goiana, PE. “Vamos produzir lá, já está decidido.” A produção começa no segundo “O apoio da matriz na crise semestre, mas Kneissler salienta que a iniciativa tem mais relação com estratégia nos deixou agora em logística do que com a reação de mercado posição privilegiada” propriamente dita. Por sua vez Célio Takata, diretor de Ven- Jürgen Kneissler, da Cooper Standard das OEM da NGK do Brasil, conta que a

Divulgação/Cooper Standard Divulgação/Cooper empresa estava bem pessimista quanto a 2017. Esperava-se queda ante 2016, mas o segundo semestre ajudou e o resultado deia. Mas para ele ”quem dependia exclu- acabou em empate, ajudado por exporta- sivamente de fornecimento OEM sofreu ções. Para 2018 a empresa acompanha a muito, há um stress financeiro em vários previsão da Anfavea, ou seja, na casa de elos. As montadoras terão muito trabalho 13%, ainda que o executivo considere este pela frente para acertar tudo”. índice como “bastante otimista”. Ele justifica esta posição explicando que DIVINA PASTORA há fatores para este ano que precisam ser Quem também está trabalhando com ponderados no que se refere às projeções projeção de dois dígitos para 2018 é a de venda, como copa do mundo de fute- Cooper Standard, de acordo com Jürgen bol e eleições. “O mercado ainda não está Kneissler, seu diretor geral para a América muito equilibrado.” do Sul: de 20% a 25% sobre 2017, que já foi Pela característica técnica do sistema 15% melhor que 2016. de produção de velas, principal produto A empresa hoje opera em sua maio- da NGK, a empresa opera sempre em dois ria em dois turnos, mas algumas áreas já turnos – não pode reduzir para um mas avançaram ao terceiro. também não pode crescer para três. O executivo considera que a empresa Isso não impede, entretanto, um au- está em “situação privilegiada”, pois con- mento do fornecimento, explica Takata. tou com auxílio da matriz estadunidense Durante a crise a NGK se segurou bem durante a crise, o que a deixou pronta para exportando para outras unidades ao redor a reação que está acontecendo agora. “Se do mundo e agora, caso necessário, pode for necessário podemos crescer ainda mais negociar com a matriz japonesa um novo este ano.” desenho produtivo local que privilegie o A Cooper Standard decidiu formalizar próprio abastecimento do mercado in- agora plano de investimento que passou terno. os últimos dois anos em banho-maria, e Esse apoio do matriz, inclusive, foi fun- a partir de abril vai montar nova unidade damental para a empresa nos últimos dois produtiva no município de Divina Pastora, anos, nos quais não só manteve investi- no Estado de Sergipe, para atender a FCA mentos como chegou a contratar pessoal, ainda que em números não revelados pelo executivo. Já está confirmada, inclusive, uma nova nacionalização: velas de ignição mais “Consideramos bastante modernas e duráveis que a empresa im- portava do Japão serão produzidas em otimista a atual projeção Mogi das Cruzes, SP, ainda este ano. “Nos da Anfavea” preparamos para aumento da capacidade não só para este ano, mas inclusive mais à Célio Takata, da NGK frente, 2020, 2021, como parte de ciclo de

Divulgação/NGK investimentos iniciado em 2016.”

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Gisela Pinheiro, vice-presidente de Materiais e Soluções Funcionais da Basf para América do Sul, revela que a em- “Janeiro deu margem para a presa também trabalha alinhada às ex- pectativas da Anfavea. “Mas janeiro deu projeção de 2018 parecer bastante margem para questionamento conservadora” deste número, que pareceu conservador diante do resultado.” Gisela Pinheiro, da Basf

De qualquer forma ela entende que Divulgação/Basf projeções por volta de 20% a 25% de alta em 2018 são “bem agressivas”, mas as- segura que caso necessário a Basf está preparada – a operação da empresa corre em regime de três turnos em algumas “As fábricas de caminhões áreas desde o fim do ano passado. A executiva acredita que para a cadeia encurtaram coletivas, o que a saída mais fácil e rápida para atender um há tempos não se via” crescimento além do previsto é, mesmo, aumentar o ritmo de trabalho. “Ainda há Luis Marques, da Meritor

capacidade ociosa. Além disso contrata- Divulgação/Meritor ções fariam bem à própria economia, já que o índice de desemprego é um dos únicos que ainda não reagiram com maior ainda é extremamente baixa, e calcula que intensidade.” o mercado de caminhões neste ano, mes- mo com essa vigorosa elevação estatística, PEGANDO PESADO será mais ou menos metade daquele al- Nos veículos comerciais o cenário é cançado em 2011, tempo áureo. Isso, por ainda mais impressionante. Depois de uma suas contas, representaria alta de 20% na retração violenta a reação parece vir com a produção da indústria ante 2017. mesma intensidade: no primeiro bimestre Sinal dos tempos, diversas montadoras as vendas de caminhões e ônibus cres- do segmento até encurtaram período de ceram 58% ante mesmo período de 2017, férias coletivas no fim do ano passado, segundo a Fenabrave. “algo que há muito não se via” – e que a Luis Marques, gerente de marketing e Meritor acompanhou. aftermarket da Meritor para a América Do A empresa opera em dois turnos mas Sul, acrescenta que para as sistemistas apenas em algumas áreas, o que lhe dá do segmento o cenário de crise foi ainda certa margem para reforçar mais a produ- mais devastador do que para as monta- ção caso necessário. Terceiro turno, por doras, “pois quando tudo começou a cair enquanto, nem pensar. elas ainda tinham estoques de peças à Marques endossa o entendimento de disposição”. que também nessa área “a cadeia está Por conta disso agora o que ocorre é fragilizada. A retomada traz desafios não justamente o contrário: “Nosso ritmo de só para nós, mas para toda indústria”. crescimento neste momento é maior do Falando em indústria como um todo que o das próprias fábricas, porque não só o Sindipeças, representante maior do temos que recompor esse estoque como segmento, foi procurado por AutoData também dar conta das exportações”. para tecer suas impressões sobre esta Por isso a Meritor cresceu 30% em volu- delicada e importante questão. Mas, até me de produção em 2017 e projeta superar o fechamento desta edição, não retornou 20% neste 2018. pedido de entrevista com o presidente da Ele lembra que a base de comparação associação, Dan Ioschpe.

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30 AUTODATA PERGUNTA » ELETRIFICAÇÃO Por Leandro Alves, de Santiago, Chile

Greg Scheu, da ABB

Formado em engenharia elétrica em 1983 pela Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, no mesmo ano começou a trabalhar na Westinghouse Electric na gerência de produtos e vendas. Em 1986 transferiu-se à Allen-Bradley, atual Rockwell Automation, onde chegou à vice-presidência de vendas. Em 2000 foi nomeado CEO e presidente da Source Alliance, adquirida pela ABB em 2001.

Divulgação/ABB Na empresa suíça ele foi nomeado Chefe de eBusiness global. A partir daí passou por diversas posições de comando até ser apontado membro do conselho em 2012, posto que acumula desde 2015 com os cargos de presidente para a região Américas e também do Grupo de Serviços e Integração de Negócios. Ele ainda é membro da diretoria da NEMA, associação nacional das fabricantes do setor elétrico dos Estados Unidos,

O futuro automotivo é, Nesse movimento, qual o próximo passo? inevitavelmente, de baixa 1 emissão? 2 Veremos frotas de carros como parte de grandes sistemas, como os veículos usados por governos, O que vemos é o modelo movidos a energia elétrica. Eles serão feitos para emergente de que mais serem mais acessíveis, pois o custo da tecnologia e mais carros estão se está claramente caindo: as baterias, os motores. tornando elétricos. E ainda Assim que as fábricas de automóveis adotarem estamos nos primeiros esses padrões o que virá será a produção em dias desse acontecimento. massa, assim como o que está acontecendo com Não há dúvida de que os o Tesla Model 3. Eles oferecem o carro em uma fabricantes de automóveis versão básica por US$ 35 mil e a ideia como um vão mover suas linhas de todo é conseguir mais gente para dirigi-los. produtos para oferecer baixa emissão. Vemos isso acontecendo inclusive com Qual o modelo para abastecimento dos carros de alto desempenho: elétricos? Parecido com os postos de BMW, Porsche e, é claro, 3 combustível que temos hoje em dia? Tesla. As pessoas estão ficando mais conscientes O que precisa acontecer é um trabalho conjunto do ponto de vista social e dos governos com a iniciativa privada para garantir querem dirigir algo verde, que tenhamos estações de carregamento, pois para que possam ter um as pessoas precisam ter a mesma liberdade retorno sustentável. de dirigir um carro elétrico assim como têm ao dirigir um carro movido a gasolina, para que possam ir aonde e quando quiserem. Não haverá somente a possibilidade de carregá-los em casa, mas também em lojas, ou ainda estações de abastecimento que ofereçam não somente gasolina mas também carregamento elétrico. Tudo isso acontecerá depois dos passos iniciais.

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O Sr. está seguro de que este é um movimento sem volta? 5 Imagine você dividir o uso de um carro que não agride o meio ambiente e cujo combustível está vindo do sol ou do vento. Ou seja: todo o círculo de como você faz as coisas é sustentável. E quando você olha para o momento atual, essas conexões de rede serão mais e mais frequentes. A rede elétrica pode lidar com isso. A ABB, claro, conhece muito este sistema, estamos envolvidos e podemos ajudar nossos clientes, fazer os planos certos e juntos construirmos essas conexões.

Estamos falando de quanto tempo? 6 Por volta de 5 anos? Há alguma preocupação Levará algum tempo. Acho que estamos com a infraestrutura caminhando. Mais veículos estarão disponíveis, para que a energia elétrica mais e mais estações de carregamento serão seja colocada à venda configuradas e, em seguida, o custo do carro 4 nesses locais? elétrico cairá e se tornará mais acessível para as pessoas. Alguns estão prevendo que em 2025 O bacana sobre a as fábricas de automóveis serão completamente eletricidade e os carros convertidas e todos os novos modelos serão de carregamento elétrico elétricos. Outros dizem que pode ser mais ou é que você não precisa menos em 2035. É difícil prever o ano exato, mas construir canalizações, acho que todas essas coisas se juntam no futuro e não precisa de grandes isso vai ser muito positivo. É como dizemos na ABB: tanques subterrâneos. A vamos escrever o futuro juntos. eletricidade está disponível em muitos lugares para que os empreendedores O Sr. dirige um carro elétrico? desse sistema tenham a capacidade de oferecer 7 Sim, eu dirijo um carro elétrico! Eu não possuo um, estações de carregamento. mas dirijo um. Mas as configurações dessas estações precisam ser dimensionadas de forma correta, pois exigem grande Por que a ABB decidiu patrocinar a Fórmula E? carga. 8 A Fórmula E é a parceira perfeita para a gente. Isto é sobre inovação em alto desempenho e de como a tecnologia pode ajudar a guiar um mundo mais sustentável. Decidimos patrocinar esta categoria porque vemos nela o mesmo ideal da ABB: desenvolver tecnologia líder e pioneira de várias maneiras para que possamos ajudar a sociedade e o mundo como um todo.

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AD 342_AD-Pergunta.indd 31 05/03/2018 12:17:28 32 LANÇAMENTO » CRONOS Por Leandro Alves

O senhor do tempo do Mercosul Fabricado na Argentina, o Fiat Cronos representa a unificação dos padrões de produção da FCA em todas as fábricas da região

m 2016, quando esteve em Córdoba, Argentina, para anunciar US$ 500 milhões à unidade fabril de uma das marcas mais anti- Egas daquele país – a Fiat completará 100 anos lá em 2019 – pouco foi dito sobre a integração que levou a fábrica do bairro de Ferreyra a ter pela primeira vez as mesmas referências de produção e qualidade das unidades FCA no Brasil. Esta talvez seja a melhor notícia so- bre o Cronos, sedã compacto premium que acaba de ser lançado – as vendas começaram no final de fevereiro no Brasil e na Argentina: a partir de agora todos os modelos produzidos pela FCA das marcas Jeep e Fiat na região contam com as mes- mas tecnologias e padrões de qualidade do sistema industrial global da companhia multimarca. Coube a Stefan Ketter conduzir esse desenvolvimento, que levou 195 robôs de solda a laser para a estamparia, uma cadeia de fornecedores locais, muitos de- les recém-chegados à Argentina, além de promover reformulação de todo o proces- so produtivo, transformando Córdoba em uma irmã de Goiana, fábrica da Jeep em Pernambuco, e de Betim, MG. “É um projeto completo de produção. Podemos dizer que Córdoba é compe-

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“Córdoba agora é um espelho de Pernambuco e de Betim” Stefan Ketter

titiva com todas as nossas fábricas. Ela é o espelho de Pernambuco e de Betim agora” diz, sem esconder o entusiasmo, o vice-presidente mundial de manufatura da FCA e COO da região América Latina. Não à toa Ketter, apesar da missão de conduzir toda a manufatura global da FCA, tem sua base de atuação na América do Sul. Aqui está um mercado relevante para as aspirações das marcas Fiat e Jeep. Além disso o ótimo desempenho da fábrica de Goiana motivou a companhia a realizar essa transição em suas unidades produ- tivas por aqui. Dessa forma, apesar das parcas declarações quando do anúncio do investimento em Córdoba, era de se esperar que a FCA, assim como está acon- tecendo com outras fabricantes, promo- vesse unificação dos padrões produtivos na região.

EM 24 MESES Antes mesmo de tornar pública a inten- ção de produzir veículo totalmente novo na Argentina um processo de transferên- cia do conhecimento e das exigências de manufatura teve início em Minas Gerais, segundo Claudio Demaria, diretor de en- genharia da FCA: “Todo o desenvolvimento industrial ocorreu em Betim. Também reali-

Divulgação/FCA zamos os treinamentos da equipe do chão

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AD 342 - Lançamento Fiat Cronos.indd 33 05/03/2018 14:50:33 34 LANÇAMENTO » CRONOS

de fábrica argentino aqui no Brasil. Esse processo ocorreu nos últimos 24 meses”. Somente a automação para a solda das estruturas de aço promoveu um salto na qualidade por conta da precisão que essa tecnologia oferece na montagem do veículo, algo ainda inédito para a fábrica argentina. Demaria destaca esse impor- tante investimento como um dos mais relevantes do ciclo: “Os robôs elevaram de 15% para 85% o índice de automação da fábrica. A eficiência e precisão desses equipamentos são requisitos que não abrimos mão na produção de um veículo. Acredito que esse investimento foi muito importante para Córdoba”. Em paralelo ao desenvolvimento do projeto em Betim Ketter esteve à frente das conversas com os setenta fornecedores de mais de seiscentas partes do Cronos. “Esse processo requereu muita coragem A produção do Cronos atraiu quatro novos da nossa parte para fazer um carro novo na Argentina.” fornecedores para a Argentina. 53% do Destas setenta empresas na Argentina conteúdo do sedã é produzido ali mesmo que abastecem a produção quatro são recém-instaladas no país. “São fornece-

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nos não é um projeto global da FCA, mas um veículo desenvolvido pela e para a região, especialmente Brasil e Argentina. Segundo Ketter dois terços da produ- ção será exportada, sendo o Brasil o prin- cipal destino. Ou seja, a expectativa mais otimista é que até cinquenta mil unidades sejam vendidas por aqui, enquanto outras trinta mil teriam como destino os mercados relevantes para a FCA na região. Ainda, porém, é cedo para avaliar o desempenho do sedã, dizem os executivos da FCA, que preferem olhar com cautela um possível sucesso do Cronos na Colômbia, Chile, Uruguai, Peru e outros vizinhos que even- tualmente recebam o lançamento – a FCA não detalhou, por enquanto, toda sua es- tratégia de exportação. “Foi um carro pensado para os perfis do consumidor da região, então acreditamos na boa aceitação por parte deles, que têm preferências muito semelhantes”. De acor- do com as contas de Ketter quarenta mil unidades devem ser vendidas somente na Argentina. Durante a inauguração oficial da fábri- ca, no início de fevereiro – a FCA já havia iniciado a produção em janeiro para abas- dores globais que trabalham com a gen- tecer os concessionários – o presidente da te em Pernambuco.” Vinte fornecedores, república local ressaltou a importância de incluindo os quatro novatos, estão em um veículo produzido exclusivamente em Córdoba. No total, 53% do conteúdo do seu país: “Cada vez que encontrarmos um Cronos é feito na Argentina – esse índice Fiat Cronos vamos lembrar que ele só é subirá rapidamente a 55%, segundo Ketter. feito na Argentina. Isso significa que não De 5% a 10% das peças são importadas e o exportamos apenas matéria-prima, mas restante vem de outros países da América produtos de alto valor agregado”. Latina, prioritariamente do Brasil. Ele também sinalizou novos investi- A unidade produtiva recebeu ainda mentos FCA na Argentina, apesar de Ketter nova linha de montagem final e de testes despistar quando questionado sobre o para a transmissão automática, maior au- assunto. “Espero voltar aqui em três me- tomação de todas as etapas da fabricação, ses para discutir um novo projeto”, disse um sistema de aplicação automática de o mandatário argentino em seu discurso. adesivos e novas áreas de validação da Considerando que a fábrica de Córdo- qualidade do produto. “Temos agora a me- ba tem capacidade para produzir 250 mil lhor tecnologia de manufatura disponível, unidades/ano e os recentes investimentos o pessoal da fábrica ainda mais motivado que trouxeram o mesmo padrão de pro- e preparado e parceiros que garantirão o dução da FCA na região, um novo projeto sucesso do Cronos”, acredita Ketter. ali, de fato, não seria um disparate. A fábrica de Córdoba tem capacidade Há também um projeto do governo para produzir 120 mil unidades em doze argentino para aumentar os empregos e a meses. É importante esclarecer que o Cro- industrialização do país que está ampara-

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AD 342 - Lançamento Fiat Cronos.indd 35 05/03/2018 14:50:42 36 LANÇAMENTO » CRONOS

do no incremento da atividade automotiva. Objetivo: 1 milhão de unidades produzidas em 2020. Durante a inauguração da produção em Ferreyra o governador da província de Córdoba ressaltou a necessidade de mais investimentos que fomentem a naciona- lização na cadeia de fornecimento, para que a indústria automotiva tenha “bases sólidas no país”. Por tudo que representa, já que o Cro- nos parece fechar o ciclo de renovação da manufatura da FCA na América do Sul, a expectativa sobre essa nova estrutura, muito mais eficiente e com novos produ- tos, é grande. Este ciclo, que começou com a fábrica da Jeep em Pernambuco, passou pela multimarca com a Jeep e a Fiat, e particu- modernização de Betim e agora Córdoba larmente acredito que estamos prepara- e deu origem a sete novos produtos, está dos para o crescimento do mercado que terminando, segundo Ketter. vai ajudar a melhorar o resultado em 2018.” “Oferecemos mais valor ao cliente com Usando o significado de Cronos na Toro, Mobi, Ducato e o Argo. Em 2016 nos- mitologia grega para representar o atual so resultado foi melhor que zero e em 2017 momento FCA na região, é plausível dizer tivemos um desempenho interessante. que ‘o senhor do tempo’ inaugura um novo Propomos um novo modelo de negócio capítulo na história da empresa.

Bem na fita

A marca Fiat, supostamente, compra o status e a inovação quebra oferece o maior porta- poderia ter uma vantagem – duas prerrogativas bastante malas da categoria, com 525 no posicionamento de preço exploradas pelo Virtus. litros. do Cronos, que começou Os candidatos a perder parte O posicionamento de preços a ser vendido no Brasil nos da clientela com a chegada das versões mostra que últimos dias de fevereiro. Isso do Cronos são modelos que já o Cronos com motor 1.3 – porque parecia certo que o há algum tempo lideram esse transmissão manual e GSR modelo chegaria para brigar segmento: Chevrolet Prisma, automatizada – responderá diretamente com o VW Virtus, Hyundai HB20S e Toyota Etios pela maioria das escolhas dos apresentado no fim de 2017 – , respectivamente o clientes. Com pouco mais de portanto a FCA já saberia os primeiro, terceiro e quarto mais R$ 50 mil dá para levar a família valores de tabela do adversário vendidos no ano passado. para passear, compartilhar o na hora de definir os seus. Além do design muito bem carro com a esposa, carregar Mas este não é o alvo da Fiat. resolvido o Cronos é equipado, muita coisa no porta-malas. O Cronos foi desenvolvido e confortável e espaçoso, Tudo que as pessoas com esse configurado para disputar um critérios importantes para o perfil mais desejam. Com o público mais familiar, que não consumidor, segundo estudo Cronos, elas estarão bem na tem na lista de prioridades de de mercado da Fiat. E de fita.

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38 ESTRATÉGIA » MERCOSUL Por Gilmara Santos

Quando tamanho importa ARGENTINA Montadoras tentam integrar produção no Mercosul, mas práticas esbarram na diferença de porte dos dois mercados

Fábricas

ue a Argentina é o maior parceiro comercial da indústria automotiva brasileira e que os dois países for- mam praticamente toda a estrutura Qprática do Mercosul para a indústria de veículos não há dúvida. Mas quando se trata de avaliar esse processo como parte de um efetivo blo- co comum as dificuldades continuam a aparecer, ainda que menores do que há algum tempo. A diferença de porte dos dois países, por exemplo, tanto em vo- lume produtivo quanto mercado interno, gera fissuras nessa relação(veja quadros).

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Fábricas

empresas

BRASIL AGCO Caterpillar Honda John Deere Renault Agrale CNH Industrial HPE (Mitsubushi) Komatsu Scania Audi DAF Hyundai MAN Toyota BMW FCA International Mercedes-Benz Volkswagen CAOA Ford Jaguar Land Rover Nissan Volvo General Motors PSA Peugeot Citroën

FCA PSA Peugeot Citroën Ford Mercedes-Benz Scania empresas General Motors Nissan Toyota Honda Volkswagen

Fonte: Anfavea e Adefa

Ainda que as regras estabelecidas somaram pouco mais de US$ 3,5 bilhões. prevejam livre comércio automotivo nos Em conta simplista, assim, a média ficou dois países, essa diferença abissal levou em cerca de US$ 1,85, já razoavelmente em 2015 à criação do chamado flex, uma distante dos US$ 1,50. fórmula que tenta equilibrar essa balança: Em volumes, o Brasil exportou no ano para cada US$ 1 que a Argentina exporta passado quase 554 mil unidades para a ao mercado brasileiro em veículos e auto- Argentina – mais de 70% do total de seus peças o Brasil pode exportar US$ 1,50 livre embarques – enquanto as importações de de impostos. Prevista para durar apenas um lá foram de 140,6 mil unidades, também ano, em 2016 a regra foi alongada até 2020. de acordo com o MDIC. Isso, entretanto, não foi o suficiente. O Para Felipe Rovera, diretor da empresa governo argentino alega que diversas em- PDC, de Process Development Corpora- presas estão descumprindo esse cálculo tion, e ex-presidente da GM Argentina e e recentemente indicou que pretende co- da Adefa, “há um desequilíbrio grande do brar individualmente, além dos impostos volume produzido no Brasil e na Argen- relativos, multas para coibir esta prática. tina. Por aqui há projeções de quatro mi- lhões de unidades, enquanto lá se fala em ACIMA DE R$ 2 chegar a um milhão. Há necessidade das Segundo dados do MDIC em 2017 o montadoras em equilibrar essa diferença”. valor exportado pela indústria automoti- Por seus cálculos, há empresas operando va brasileira para a Argentina chegou a a em flex acima de US$ 2. US$ 6,5 bilhões enquanto as importações Uma das empresas a exceder o cálculo

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do flex em US$ 1,5 é a Volkswagen. Pablo da picape Frontier, que será exportada Di Si, presidente e CEO da Volkswagen para cá. América do Sul, revelou que o governo Já o diretor de relações públicas e go- argentino estipulou para a empresa um vernamentais da Toyota, Ricardo Bastos, valor para depósito como garantia. Segun- assegura que a estratégia da empresa no do ele a iniciativa “não foi uma surpresa, Mercosul vem desde o fim dos anos 90. pois já havíamos conversado com a matriz “Nosso objetivo é contar com produtos sobre isso no ano passado”. complementares.”

De acordo com o executivo a VW se Divulgação/Toyota A empresa produz na Argentina a pi- esforça em busca de “reequilibrar o cál- cape Hilux e o SUV SW4. No total foram culo para o menor valor possível. Esta- 126 mil unidades dos dois modelos fa- mos trabalhando para exportar mais a um bricadas ali no ano passado, sendo que mercado que cresceu 35% ano passado”. metade foi exportada para o Brasil. A linha Uma das saídas, naturalmente, é ampliar de montagem argentina fornece ao todo as importações da Argentina para o Brasil: para vinte países na América Latina e pas- “Temos que trazer mais modelos como sou recentemente por expansão produtiva Amarok e SpaceFox e também compo- que demandou investimentos de US$ 800 nentes como transmissões”. milhões. Quem igualmente se encontra em si- Já da produção Toyota brasileira, Co- tuação de desequilíbrio é a Nissan. Para rolla e Etios, cerca de 25% é exportada para a fabricante o cálculo tende a ficar ainda a Argentina. “A integração é importante mais desfavorável no primeiro semestre, porque se um mercado tem queda nas já que March e Versa Made in Brazil ga- vendas o outro pode ajudar a enfrentá-la”, nharam na Argentina companhia do Kicks destaca o executivo. fluminense, lançado lá em janeiro. Fabrício Biondo, vice-presidente do De acordo com Marco Silva, presidente Grupo PSA, também considera que a com- da Nissan do Brasil, a situação tende a plementação é uma maneira de driblar melhorar a partir do segundo semestre, eventuais dificuldades locais: “A integração quando será iniciada na por lá a produção Brasil-Argentina é uma realidade nas nos-

Raio X do Mercosul automotivo em 2017

Em unidades. Fonte: Anfavea, Adefa e MDIC

Produção Produção total

2 699 167 472 158 3 171 325

Exportação total Exportação total

786 493 209 587 996 080

Exportação para a Argentina Exportação para o Brasil Exportação regional total

553 911 140 594 694 505

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AD 342 - Mercosul.indd 40 05/03/2018 15:40:47 41 Divulgação/Citroën Argentina Divulgação/Citroën

sas plantas.” A fábrica de Porto Real, RJ, acesso a outros mercados. Neste sentido envia Peugeot 208 e 2008 e Citroën C3 e a padronização é fundamental, porque Aircross ao parceiro de Mercosul. vai reduzir custos com a adaptação de Enquanto isso a unidade El Palomar produtos”. recebe investimentos de US$ 320 milhões Rovera, da PDC, acrescenta que “a in- para produção de veículos baseados na dústria automotiva é a que está mais bem nova plataforma CMP a partir de 2019. Atu- direcionada neste sentido e isso se deve almente manda para o Brasil os Peugeot mais ao esforço das montadoras do que 308, 408 e Partner, além do Citroën C4 ao papel dos governos”. Lounge – que acaba de ser reestilizado. Mas, para ele, os fornecedores argenti- nos não estão em condições de competir DESFRUTAR com os brasileiros – mais uma vez devido No fim do ano passado os governos à questão dos volumes bem diferentes. do Brasil e Argentina iniciaram tratativas “O governo argentino poderia oferecer para criar legislação conjunta de forma algum incentivo aos fornecedores locais, a padronizar os veículos produzidos nos porque a logística do Brasil para a Argen- dois países. O objetivo da medida é reduzir tina é muito cara”. obstáculos e custos do comércio bilateral, Di Si, da VW, por sua vez, afirma que além de aumentar a competitividade dos produzir peças na Argentina tem custo produtos produzidos na região em outros reduzido quando comparadas às do Brasil. mercados. “Tanto assim que a Volkswagen produz Para Antônio Jorge Martins, coorde- transmissões lá que são exportadas para nador do MBA em gestão estratégica de cá. Outras montadoras fazem o mesmo”. empresas da cadeia automotiva da FGV, Ele salienta que “em linhas gerais a agen- Fundação Getúlio Vargas, “é importante da do governo argentino tem como meta desfrutarmos do Mercosul para obtermos também fortalecer as autopeças locais”.

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AD 342 - Mercosul.indd 41 05/03/2018 15:40:49 42 TECNOLOGIA » ETANOL + ELÉTRICOS Por Lucia Camargo Nunes O casamento perfeito

Etanol desponta como boa possibilidade global para formar parzinho com os elétricos, desde os híbridos até a célula de combustível

s indefinições que ainda rondam os engenheiros e suas associações, e já conta incentivos à pesquisa e desenvol- com pelo menos dois projetos importantes vimento do setor automotivo não em estágio avançado. frearam, ao menos por enquanto, Um deles é da Nissan, que utiliza o Aas explorações em busca de novas tec- biocombustível para gerar hidrogênio e nologias para motores que utilizam etanol. assim movimentar veículo movido a célula O combustível vegetal, que tem no de combustível. O protótipo foi montado Brasil seu maior expoente, surge como em uma van NV200 e utiliza a tecnolo- um forte protagonista global na direção gia SOFC, sigla em inglês para Célula de de novas tecnologias. É defendido por Combustível de Óxido Sólido.

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O veículo foi exibido no Brasil, onde matriz existem vários projetos em desen- passou por bateria de testes, e no fim do volvimento e acreditamos que esse é o ano passado retornou ao Japão para pros- mais fácil de chegar um dia ao Brasil”. seguimento das pesquisas. A filial brasileira Um estudo sobre SOFC da Universi- aguarda ansiosa os próximos passos da dade Federal do ABC, ou simplesmente matriz para o projeto. UFABC, encontrou uma forma de eliminar De acordo com Ricardo Abe, gerente o reformador dentro do sistema. Porém de engenharia da Nissan, a tecnologia é o professor responsável pela pesquisa, ideal para países em desenvolvimento e Daniel De Florio, lamenta que nenhuma que já utilizam o etanol – ou seja, o Brasil montadora tenha mostrado interesse. se encaixa feito luva. Para ele isso ocorre por uma lacuna nos “É uma das alternativas em estudo pela sistemas de pesquisa e engenharia avan- Nissan para o futuro, que será eletrificado. çadas no Brasil, já que nesse campo os A vantagem de usar a SOFC é sua facilida- trabalhos têm sido em sua ampla maioria de de operação em países que não têm realizados pelas matrizes das fabricantes. estrutura pronta para abastecimento de A pesquisa da UFABC é realizada des- veículos elétricos.” de 2006 em colaboração com o IPEN- Por enquanto o reformador, equipa- -USP e o governo francês. “Chegamos a mento que separa o hidrogênio do etanol, mostrar, recentemente, a não necessidade é um dos maiores desafios técnicos do do reformador, o que implica em melhor sistema. “Atualmente ele ocupa parte da aproveitamento da energia gerada pelo área útil do veículo, e estamos tentando etanol. Esse conceito é conhecido como reduzir seu tamanho para proporcionar Célula a Combustível de Óxidos Sólidos a melhor utilização prática.” etanol direto ou, em inglês, Direct-Ethanol SOFC.” O funcionamento ocorre por refor- VINTE QUILÔMETROS POR LITRO ma interna ou oxidação direta: “Algumas O protótipo já obteve níveis satisfató- características das SOFCs como tempe- rios de autonomia: percorreu seiscentos ratura de operação e materiais do anodo, quilômetros com trinta litros de etanol, ou o eletrodo do combustível, fazem o papel seja, obteve marca de vinte km/l. do reformador”. Além da van mais um protótipo da Nis- san com tecnologia SOFC foi testado no Brasil. “Os veículos estavam instrumenta-

Divulgação/Nissan dos e como o País tem disponibilidade de Onde tem carro movido etanol em qualquer local, abastecemos e a célula de combustível rodamos em diversas condições. Esses abastecendo com dados foram gravados e enviados ao Ja- etanol? Pergunta lá no pão, que agora processa as informações Posto Ipiranga e dá continuidade ao desenvolvimento, assim como toda a parte de combustível, reconhecimento do etanol e durabilidade do sistema.” Não há definição exata de quando uma comercialização em larga escala da Para o professor “essa é uma pesquisa tecnologia poderia começar, mas certa- em que o Brasil está bem à frente, já que mente será depois de 2020. “Não é pela somos o segundo maior produtor de eta- novidade técnica por si só. Dependemos nol do mundo e o nosso, diferentemente de toda a cadeia de abastecimento e de do que acontece nos Estados Unidos, não fornecedores de sistema para torná-lo compete com a questão alimentícia”. viável comercialmente”, argumenta Abe. Para De Florio o próprio conceito é Ele considera, entretanto, que “dentro da novo. “Há alguns anos se falava em SOFC

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apenas para geração de energia estacio- poderia facilitar as coisas para produção nária. Até pouco tempo existia uma con- local também do modelo com essa nova vergência de que as células a combustível tecnologia híbrida flex. de baixa temperatura de operação seriam Como parte do desenvolvimento do utilizadas. O Mirai, da Toyota, foi basea- híbrido flex Toyota o próximo passo será do nessa tecnologia. Mas ele precisa ser realização de viagem São Paulo-Brasília a abastecido com hidrogênio puro, o que bordo do protótipo – cerca de 1 mil quilô- dificulta sua amplitude no mercado.” metros separam as duas cidades. Para Ricardo Bastos, diretor de rela- A CAMINHO DE BSB ções públicas e governamentais da Toyota, A Toyota é outra montadora de origem “novas tecnologias ambientalmente res- japonesa com projetos importantes na ponsáveis, como o sistema híbrido flex, área do etanol. No Brasil caminha a pas- possibilitarão ao Brasil avançar em uma sos largos para uma solução inédita, a nova etapa de aprimoramento tecnológico do veículo híbrido flex, ou seja, aceitando de toda a cadeia. E ainda elevarão sua etanol ou sua mistura à gasolina em qual- quer proporção como combustível líquido, que aciona motor a explosão que por sua vez alimenta as baterias de motor elétrico. Os testes estão ocorrendo em um Prius “O híbrido precisa de algumas importado do Japão. Nos próximos anos a montadora de- adaptações para se tornar flex, mas verá lançar no Brasil a nova geração do não é nenhum projeto da Nasa” Corolla, baseada na mesma plataforma do atual Prius, a TNGA, de Toyota New Alfred Szwarc, consultor da Unica Global Architecture – o que eventualmente Divulgação/Itaipu binacional

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competitividade em prol do desenvolvi- porte coletivo e o agronegócio. “Se as mento de novas soluções sustentáveis”. condições se mostrarem atrativas existem Não há data estipulada – ou mesmo tecnologias em desenvolvimento avança- certeza – para uma possível chegada do das e protótipos promissores”, garante o Toyota híbrido flex ao mercado, mas as consultor da Unica. chances parecem bem fortes para curto ou médio prazo. VAI DE ÔNIBUS A Unica, União da Indústria de Cana- O engenheiro Márcio Massakiti é um -de-Açucar, que representa a indústria do dos responsáveis pelo Programa Veículo etanol, está participando com a Toyota Elétrico da Itaipu Binacional, que atua em do projeto do híbrido flex. Alfred Szwarc, projetos na área de mobilidade elétrica. A seu consultor de emissões e tecnologia, empresa desenvolve um projeto de ônibus assegura que “o etanol tem espaço no híbrido a etanol. mercado por muitos anos e busca par- O primeiro experimento surgiu em cerias na eletromobilidade”. 2010, com apresentação demonstrativa Ele, que é engenheiro, não vê gran- de um protótipo no qual o motor a com- des dificuldades na parte técnica de um bustão interna fornece energia mecânica híbrido flex, “É preciso adaptar o motor a um gerador elétrico. a combustão para o etanol, refazer sua Atualmente, e com aporte de R$ 10 calibração e aspectos afins, mas não é milhões da Finep, a Itaipu finaliza um tra- nenhum projeto da Nasa.” balho no aperfeiçoamento do protótipo Em seu entendimento a tecnologia do ônibus, com a revisão de testes. Uma híbrida flex representa “um casamento segunda fase será a abertura de um edi- perfeito, por agregar as qualidades de alta tal pela Finep para chamada pública de eficiência energética com as ambientais”. montadoras interessadas na produção O consultor da Unica revela que “a do ônibus. Toyota nos acenou com a possibilidade Segundo Massakiti “o veículo traz efi- de nacionalização dessa tecnologia, e as ciência de 85% no consumo de energia, conversas a este respeito estão aconte- enquanto no Ciclo Otto o rendimento é cendo há aproximadamente dois anos. de apenas 15 a 20%”. Os híbridos devem fazer parte dos novos Para Marcos Clemente, vice-presidente cenários de mobilidade e vemos boas da AEA, Associação Brasileira de Enge- oportunidades de coexistência de versão nharia Automotiva, “não cabe discutir se híbrida com motor flex. O próximo pas- o futuro pertence ao motor a combustão so seriam os híbridos flex plug-in, ainda interna ou à eletrificação. É viável ter os que provavelmente em número menor dois, e a participação de cada tecnologia de modelos”. vai depender das características de cada Na ponta final Szwarc aposta em tec- região. E no Brasil é viável usar o etanol”. nologias que usem baterias elétricas ou Para ele ainda há espaço para melhorar células a combustível com energia gera- a eficiência dos motores a explosão nos da a partir do etanol. “Uma das grandes próximos anos: “Os motores de combustão barreiras aos elétricos, além dos custos, interna, com qualquer combustível, ainda é a autonomia. E o protótipo da Nissan serão importantes em 2030, 2040, mas já mostrou que essa questão pode ser serão mais eficientes que os atuais. Essa superada.” busca prosseguirá e passa por sistemas Pelos cálculos do engenheiro hoje 30% mais compactos, combustão gerando da composição de preço de um carro elé- carga térmica cada vez maior com turbo, trico vem exclusivamente das baterias. injeção direta, controles de admissão mais Outros segmentos, além do mercado sofisticados. E a ideia é fazer no futuro de automóveis de passeio, também po- motores otimizados para combustíveis dem fazer uso do etanol, como o trans- de alta octanagem.”

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A sequência da evolução, para ele, se- ria continuar desenvolvendo a combustão interna de forma a tirar maior proveito do etanol. Nessa escala depois viriam os híbri- dos flex e, a seguir, célula a combustível. “Os veículos de célula de combustível com etanol, como o projeto da Nissan, têm apelo sensacional, mas antes precisam resolver questões de engenharia.” A Bosch do Brasil, pioneira na tecno- logia que elimina a necessidade do tan- quinho de gasolina para a partida a frio de veículos abastecidos com etanol, passa por uma reestruturação interna para lidar com a eletrificação. Fabio Ferreira, diretor de produtos, revela: “Vemos no etanol uma chance para melhoria na emissão global de CO2, no cálculo do poço à roda. A mis-

Divulgação/Toyota tura maior de etanol à gasolina tende a Protótipo do Toyota melhorar a questão ambiental em vários Prius híbrido flex fará países”. Para Clemente no Brasil faz mais sen- viagem-teste de São Para o executivo o desafio é melhorar tido incentivar o uso de biocombustíveis Paulo, Capital, a Brasília, a eficiência dos motores a etanol para que DF, destino certamente em detrimento de combustíveis fósseis. interessante alcancem maior autonomia e diminuam a “O País tem além do etanol, por exemplo, diferença de consumo para a gasolina. E biogás, biodiesel, bioquerosene, biomassa. também emissões, “lembrando que em É genial.” 2022 teremos a entrada da nova norma de emissão PL7”. PELO FIM DA DIFERENÇA Ricardo Takahira, da Comissão Veículos Uma discussão que já existe há bom Elétricos e Híbridos da SAE, defende a tempo tanto na área técnica quanto nas adoção de políticas que incentivem pes- mesas de negociação governamentais é quisa e desenvolvimento nesta área. “A a redução da diferença de consumo de Ford poderia fazer com o Fusion Hybrid o motores flex quando abastecidos com mesmo que a Toyota estuda com o Prius.” gasolina e com etanol – muitas vezes ainda Ele argumenta que “desafio é não ter chamado de álcool pelos motoristas nos política pública. Nunca tivemos um P&D postos, força do hábito. local. Chegamos a contar com uma época Para o representante da AEA “se houver boa com o flex, que na verdade é uma combustível de alta octanagem na bomba calibração. Agora não temos política séria e incentivos para aumentar a autonomia o de elétricos e híbridos. O flex foi o auge de uso do etanol crescerá no País”. autonomia e P&D locais mas ultimamente Ele explica que “a discussão gira em temos perdido tudo devido à adoção de torno de aproximar a gasolina boa do plataformas globais. Só colocamos circui- etanol bom com uma regulagem quase tos específicos”. ótima para os dois”. Atualmente o etanol Takahira alerta que “se nada for feito hidratado brasileiro tem 92,4% de pureza rumo à eletrificação nosso parque de au- e o restante de água, enquanto nos Esta- topeças vai sumir. O mundo todo dá sinais dos Unidos esse índice é de 98,2%. “Seria de que as coisas estão mudando e acho preciso verificar a implicação disso na frota que temos como nos posicionar e traba- circulante. Poderia ocorrer uma migração lhar em soluções paralelas com o mundo gradual até a unificação.” automotivo que acabem por convergir”.

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48 MERCADO » CONCESSIONÁRIAS Por Marcos Rozen

Divulgação/GM

rede de concessionárias no Brasil vai parar de diminuir de tamanho em 2018. Essa é a expectativa de Alarico Assumpção Jr., presidente da Fena- Da sopa Abrave, Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores. Pelos cálculos da entidade o País per- deu 1 mil 274 casas nos últimos três anos, para carne considerando de janeiro de 2015 a janeiro de 2018. Destas, 726 eram concessionárias de automóveis e comerciais leves, 196 de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas e 352 de motocicletas. assada Na prática o volume total de casas que fecharam as portas é maior, 1 mil 890, mas Número de casas da rede de distribuição a média final é menor pela abertura, no não deve crescer no Brasil neste ano. mesmo período, de 616 lojas, em especial das marcas que estavam estruturando no- Mas pelo menos vai parar de cair. vas redes como Audi, BMW e Jeep, além algumas marcas de motos premium. Para chegar a esse número a Fenabra- ve precisou fazer um cálculo complicado. Até então a referência utilizada era a de fechamento de CNPJs, mas a associação percebeu que este processo mascarava a verdade: por vezes o concessionário en- cerrava os negócios de uma unidade mas mantinha o CNPJ ativo para não arcar com

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Projeções de mercado da Fenabrave para 2018

Em unidades. Fonte: Fenabrave

Total geral 3 437 444 +10,3%

Automóveis + comerciais leves Caminhões + ônibus +11,9% +8,6% 2 430 653 72 939

+12.6% +8,1% +9,5% +5,4% +7,8% +6,5%

Automóveis Comerciais leves Caminhões Ônibus Implementos rodoviários Motos

2 088 762 341 861 57 025 15 914 27 598 906 254

ainda mais custos e processos burocráticos distribuição ainda está internado mas saiu e, até, quem sabe, por pensar em retomar da UTI e se recupera no quarto. Já parou o negócio um dia. de tomar só sopa e agora vai passar para A associação então isolou os CNPJs carne assada”. que passaram pelo menos seis meses As projeções da Fenabrave são otimistas sem emitir uma única nota fiscal de venda e indicam vendas em 2018 cerca de 10% de veículo 0 KM. E então neste período os acima do ano passado, considerando a mé- 7 mil 330 viraram 6 mil 56, incluindo aí os dia de todos os segmentos da distribuição

CNPJs criados para novas casas. Divulgação/Fenabrave (veja quadro completo acima). Assumpção O impacto destes fechamentos no Jr. considera que o cenário econômico à mercado de trabalho foi brutal, atesta a frente justifica as projeções, e garante que Fenabrave. Por suas contas foram corta- “o que vende carro é juro barato e o que dos nestes três anos 169,5 mil empregos vende caminhão é PIB”. na rede de concessionárias, considerados No primeiro item ele elenca a queda nesse cálculo as vagas perdidas pelas ca- da Selic, as atuais taxas de inadimplên- sas que deixaram de funcionar e também cia em patamar controlado e um provável as que enxugaram seus quadros, mesmo maior apetite dos bancos por aumentar mantendo as portas abertas. suas carteiras do segmento como fatores fundamentais. “Os bancos ganhavam com FORA DA UTI a inflação, e como ela agora está baixa as Mas esse cenário, ao que tudo indica, instituições deverão ter maior disposição ficou para trás. ParaAlarico Assumpção Jr., para financiar mais clientes.” “2015 e 2016 representaram o pior momento E no segundo ele usa como referência a vivido pelo setor automotivo, sem prece- própria previsão da assessoria econômica dente. O último trimestre de 2017 apontou da Fenabrave, que aponta elevação de 3,5% alguma recuperação, porém lamentavel- no PIB para este ano. mente voltamos dez anos em volume”. Além do bom cenário do primeiro bi- Ou, em linguagem coloquial, “o setor da mestre, que fechou em alta de 19,5% nas

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afins: “Não há uma padronização: não é porque o concessionário é pequeno ou “O que vende carro é juro barato grande que ele está mal ou bem em termos de capitalização”. e o que vende caminhão é PIB” Segundo a entidade 90% da rede bra- Alarico Assumpção Júnior, presidente da Fenabrave sileira de concessionários ainda é formada por empresas de capital nacional, origina- das a partir de negócios familiares, ainda que parte já esteja profissionalizada. vendas – 18,6% nos leves e 58% nos pe- Os movimentos de mudanças de mãos, sados, segundo a própria Fenabrave –, o assim, devem continuar: “Há espaço para presidente da entidade também aponta os grandes grupos crescerem mais. Quem outro índice promissor: no último semestre tiver interesse em vender terá gente interes- de 2017 o segmento da distribuição con- sada em comprar, independente da razão: tratou quatro mil pessoas. “Ainda estamos pode ser dificuldade financeira, falta de um muito longe de recuperar o que foi perdido, sucessor... mas esse processo é natural”, mas é um dado muito positivo para quem insiste o dirigente. “Por exemplo: se você até o período anterior estava demitindo.” tem cinco concessionárias que vendem No que se refere ao tamanho da rede vinte unidades cada ao mês, a tendência Assumpção Jr. entende que o número de é que um ou dois grupos assumam esse casas de hoje é suficiente para cobrir o que negócio. É do processo, não uma decor- se espera deste ano. “Vamos levar ainda rência da crise.” alguns anos para buscar a base que per- O dirigente ainda faz questão de aplau- demos. Precisamos de mais consistência, dir o segmento de pesados, compreen- o que ainda não temos. Não há como recu- dendo caminhões, ônibus e maquinário perar tudo que perdemos em um semestre agrícola. “Sem desmerecer o trabalho feito ou um ano: é muito pouco tempo.” na área de leves a evolução na distribuição Ou seja: ao que tudo indica, nada de de pesados é invejável. O trabalho em qua- novas casas no curto prazo. “A rede atual lificação de pessoal foi muito forte, houve está no tamanho do volume projetado para um novo olhar para este ponto e uma forte 2018. Novas concessões só com volume profissionalização. Talento faz diferença, e maior, o que deve ocorrer por volta de 2021 nesse ponto muita coisa foi feita e efetivada.” ou 2022.” Independente das mãos que controlam as casas o que parece não sofrer abalo é MESMO TAMANHO EM NOVAS MÃOS a velha máxima de que um bom relacio- Isso não significa necessariamente que namento com a rede é a primeira e funda- o perfil da rede deverá permanecer imóvel. mental receita de sucesso para montadora Para o presidente da Fenabrave o processo que deseje bons números de venda. de compra e venda de concessões deve prosseguir, ainda que os tempos para as vendas aparentemente estejam bem me- lhores. “Ocorreram alguns movimentos no mer- “O fato de uma fábrica que nutre bom cado nos últimos anos, houve grupo que comprou grupo, troca de titularidade etc., relacionamento com a rede obter mas isso é natural da atividade, não foram iniciativas ligadas diretamente à crise.” números expressivos de venda não Para ele, inclusive, a questão de tama- é uma mera coincidência” nho ou porte não está automaticamente correlacionada a questões financeiras do Daniel Kelemen, presidente da Abrahy negócio de vender carros, caminhões e

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Um excelente exemplo disso é o da Ge- Enxugando a rede neral Motors, líder de mercado nos últimos Número de concessionárias ativas no Brasil dois anos com a marca Chevrolet. Segundo Posição em 1º de janeiro de cada ano. Fonte: Fenabrave Carlos Zarlenga, presidente da fabricante, “esse momento que a GM está vivendo hoje, de liderança de mercado, tem tudo 7 330 a ver com a relação com a rede. Grande Automóveis e comerciais leves parte do nosso sucesso é por causa deles”. 4 120 PARTE DA CASA O executivo explica que recentemente foi realizado um trabalho junto aos conces- sionários, “principalmente durante a crise, 6 056 para melhorarmos o desempenho e a qua- Automóveis e comerciais leves lidade na distribuição”. A rede Chevrolet hoje é do tamanho adequado, calcula. 3 394 Para Zarlenga “os concessionários não são parceiros comerciais, são parte da casa. Trabalhamos a estratégia em conjunto com a Abrac [Associação Brasileira de Conces- sionárias Chevrolet], e a estrutura deles é muito boa. Reagimos rápido ante o que a rede nos informa, é um desafio conjunto”. O presidente da GM Mercosul revela que quando o portfólio Chevrolet foi to- talmente renovado no País “foram os con- cessionários que nos deram o caminho, o melhor jeito de chegar ao consumidor. Acreditamos muito no conhecimento que eles têm do cliente”.

Caminhões, ônibus e máq.agríc. Um item sempre discutido nas relações das fabricantes com seus distribuidores é a 760 rentabilidade, e segundo Zarlenga também aqui houve boa evolução: “melhorou muito Caminhões, ônibus e máq.agríc. e neste ponto o volume ajuda. Mas também Motos 564 é preciso destacar que a rede fez um ótimo 2 450 trabalho de redução de custo. Agora digo a Motos eles: mantenham o custo no nível que está 2 098 e deixem que as vendas cresçam”. Quem também concorda com a tese de que relação boa significa resultado bom é Daniel Kelemen, presidente da Abrahy, Associação Brasileira dos Concessionários Hyundai, fundada em 1994. Um bom resu- mo é a atual situação da marca no merca- do, como atesta o dirigente: “Tudo o que é produzido, vendemos”. A rede HMB, que comercializa os Hyun- dai produzidos em Piracicaba, SP, ou seja, a linha HB20 e o Creta, conta com aproxima- 2015 2018 damente trezentos pontos de venda con-

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trolados por oitenta grupos econômicos. O pria Fenabrave, fecharam 2017 em patamar presidente da Abrahy não vê muito espaço de quase 40% dos números totais de co- para incremento no número de casas em mercialização de automóveis e comerciais 2018 – em compensação nenhuma loja foi leves. fechada nos últimos dois anos. Este resultado foi quatro pontos por- No que se refere à relação com a fábrica centuais acima de 2016 e onze além do Daniel Kelemen a define como “muito boa”. registrado em 2015 e 2014. Segundo ele “qualquer mudança sempre Sobre este forte aumento do índice o

é discutida. O diálogo é aberto e parte Divulgação/Abrahy presidente da Fenabrave argumenta que sempre do princípio que as questões de “não foram as vendas diretas que subiram um lado afetam o outro, independente de mas sim o varejo que caiu” – o que, natu- qual seja”. ralmente, em seu entendimento, gerou Um bom exemplo deste vínculo amis- elevação estatística da comercialização toso foi o último encontro da Abrahy – o via direta perante o bolo total. evento é realizado a cada dois anos. Em De qualquer forma Assumpção Jr. não 2017 foi sediado em Cancún, no México, e minimiza a situação e avisa que “a Fena- durou quatro dias, atravessando feriado no brave não é contra a venda direta, mas Brasil, 15 de novembro: não só houve 97% sim contra a forma com que é feita: o que de adesão da rede como participaram pela consideramos errado e imoral é o preço Hyundai Motor Brasil o próprio presidente praticado. Temos um contrato comercial da fabricante e seu diretor de vendas. que deve ser respeitado. Nós somos filhos Ele sacramenta que “não é coincidência” legítimos das fábricas, e não se pode ven- a conexão do bom relacionamento junto der um carro mais barato para o vizinho do à fábrica com os excelentes números de que para seu próprio filho”. venda dos Hyundai nacionais – o HB20 ha- Houve avanços, afirma, como proces- tch, mesmo cinco anos após o lançamento, so de autorregulamentação assinado em terminou o ano passado como vice-líder no conjunto com a Anfavea e o Confaz, Con- ranking dos modelos mais vendidos do País selho Nacional de Política Fazendária. Se- em 2017, atrás apenas do Chevrolet Onix. gundo a Fenabrave em dezesseis Estados O Creta ficou na nona posição, à frente de da Federação frotista que antecipar em concorrentes diretos como Jeep Renegade, doze meses a venda do veículo adquirido Nissan Kicks e Ford EcoSport. por modalidade direta têm de arcar com Alarico Assumpção Jr., da Fenabrave, pagamento dos impostos respectivos a também acredita na importância desta re- este período. lação e entende que a maioria das redes Mas o presidente da associação confir- no País mantém relações saudáveis com ma que ainda há o que fazer a este respeito, suas respectivas marcas. “Mesmo durante inclusive nas próprias relações fábrica-rede. o pior momento da crise a maior parte das “As associações de marca também têm associações preservou comportamento sua responsabilidade. Várias ainda não extremamente respeitoso com sua fábrica. dispõem de convenções tratando deste Muitas andaram de mãos dadas, sem atri- capítulo, e deveriam trabalhar no tema. As tos. Claro que existem marcas que tiveram que dispõem e dela fazem uso não têm mais dificuldades do que outras e foram problemas com isso.” mais afetadas. Mas, de maneira geral, gran- Apesar deste cenário e ao que tudo de parte se comportou bem em termos de indica, respeitando a lógica da Fenabra- relacionamento.” ve, a tendência é de redução ao menos estatística das vendas diretas em 2018, ERRADO E IMORAL considerando-se que o varejo deve crescer, Um ponto clássico no que diz respeito invertendo, assim, a curva de participação a atritos de redes com suas fábricas é o de cada modalidade no geral do mercado das vendas diretas, que, segundo a pró- interno.

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EXCLUSIVA 1 EXCLUSIVA 2 EXCLUSIVA 3 A Ford deve encerrar a O Grupo Vidroforte, de Caxias Outra informação revelada produção da atual geração do Sul, RS, obteve deferimento com exclusividade pela do Focus na Argentina, a pedido de recuperação Agência AutoData foi a nas versões hatch e sedã, judicial. A medida inclui as oito expansão do modelo de segundo comunicado empresas do grupo, que atua negócios para venda de recentemente enviado pela no fornecimento de vidros carros usados da Unidas, com fabricante a fornecedores. A para a indústria automotiva e inauguração de mais quatro informação foi revelada com também de construção civil. casas que funcionam em exclusividade pela Agência Informação divulgada em estilo ‘outlet’: Zonas Leste e AutoData de Notícias. primeira mão pela Agência Sul de São Paulo, Capital, Rio AutoData. de Janeiro, RJ, e Recife, PE.

ENCONTRO VIATURA REGIONAL MWM A Troller forneceu A MWM Motores 50 unidades do realizou seu modelo T4 para o primeiro encontro Governo do Ceará: regional com serão utilizadas a rede de como viaturas distribuição, de Batalhão de batizado MWM Policiamento na Estrada, em Turístico, Corpo de Jundiaí, SP. Plano Bombeiros, Detran é promover mais e outros órgãos

dez edições estaduais. Divulgação/Troller no Brasil e Exterior em 2018, abordando as CENTÉSIMA SCHULER expectativas e A Prensas Schuler comemora venda da estratégias da centésima linha de estamparia a quente empresa. para a indústria automotiva. A primeira foi comercializada em 1993, para a Ford estadunidense. Divulgação/Itaipu Binacional

CARRO A BIOMETANO Protótipo CH4PA, movido a biometano, foi apresentado no 30° Show Rural Coopavel, em Cascavel, PR. Projeto da Itaipu Binacional com o Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás, o CIBiogás, e agência austríaca de desenvolvimento. Ideia é veículo misto para uso no campo,

em particular agricultura familiar. Divulgação/Schuler

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SHC E JLR O Grupo SHC, de Sérgio Habib, inaugurou a concessionária Jaguar Land Rover GB Cars Anália Franco, situada na Zona Leste de São Paulo, Capital. Esta é a segunda casa do grupo para a marca na cidade, somada à unidade Villa Lobos, localizada no bairro Vila Leopoldina, Zona Oeste, bem próxima à sede da empresa brasileira. Com mais esta inauguração agora ao todo o Grupo SHC chega à marca de 45 concessionárias, das marcas Jac Motors, Citroën, Peugeot e Volkswagen, além da própria Jaguar Land Rover.

DEU BRANCO A cor branco domina o mercado mundial JMALUCELLI E CASE IH de veículos leves, com quase 40% da A JMalucelli Agromáquinas Ltda. é a nova revendedora Case IH preferência. A conclusão é de estudo no Estado do Paraná, com três filiais nas cidades de Cascavel, global da Basf, sobre dados de 2017. Na Medianeira e Vitorino. E assim torna-se único concessionário Europa, somados, branco, preto, cinza a oferecer tanto as linhas de máquinas agrícolas quanto de e prata representaram 78% do total da construção da fabricante. preferência por cores. Divulgação/YPF Divulgação/BBA Divulgação/Scania Divulgação/Pirelli Divulgação/Ford

LUCHETTA CARVALHO BASTOS SPINETTO GALHOTRA Pablo Luchetta Ricardo Garcia da Adolpho Bastos Marco Spinetto, Kumar Galhotra é o novo CEO da Silva Carvalho foi foi nomeado head para é o novo YPF Brasil: até nomeado diretor- diretor-geral inovação presidente então, gerente de executivo da da Lots para a estratégica da Ford para vendas. Sucede Belgo Bekaert América Latina. e gestão do América do a Ramiro Ferrari, Arames, a A empresa, parte conhecimento Norte. Sucede que retorna BBA, parceria do grupo Scania, da Pirelli, a Raj Nair, à matriz na ArcelorMittal e chega ao Brasil representou demitido por Argentina com a Bekaert Group no oferecendo a empresa comportamento missão de buscar Brasil. Até então expertise em na entrega inapropriado novos negócios vice-presidente identificação de do prêmio perante o código internacionais. de Recursos desperdícios e Fabricante de de conduta da Humanos e TI oportunidades Pneus do Ano, empresa. da ArcelorMittal em fluxos de concedido na Central e transporte, com Tire Technology América do Sul. vistas à redução Expo 2018, em de impactos Hannover, na ambientais e Alemanha. melhoria da rentabilidade.

AutoData | Março 2018

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GM INVESTE 1 1 965 751 QUILÔMETROS RODADOS A GM pormenorizou mais uma parte de seu ciclo de A Iveco descobriu um Stralis 570S 41T investimentos de R$ 13 bilhões no Brasil para o período 2014- NR com exatos 1 965 751 quilômetros 2020: R$ 1,2 bilhão irá para a unidade de São Caetano do Sul, SP, apontados em seu hodômetro. O que terá sua capacidade ampliada de 250 mil/ano para 330 mil caminhão estava na Grande Porto unidades/ano, além de incorporar tecnologias de Indústria 4.0. Alegre, no Rio Grande do Sul. Apesar da estupenda quilometragem seu motor, Cursor 13, se mantém nas condições GM INVESTE 2 originais e nunca passou por reparos. A GM ainda inaugurou novas instalações da fábrica de motores de Joinville, SC: R$ 1,9 bilhão deu origem a novo prédio que abriga linhas de usinagem de blocos, cabeçotes, sub- CONGRESSO GLOBAL NCAP montagem de cabeçotes e montagem de motores. O Global NCAP, entidade que reúne diversas organizações regionais de análise de segurança veicular, realizará seu primeiro congresso mundial. Será dos dias 26 a 29 de setembro deste ano em Delhi, na Índia. Experiência do Latin NCAP será um dos temas em debate.

ECOSPORT PARA PCD A Ford lançou o EcoSport SE Direct 1.5 AT para atender o segmento PCD e frotistas, sempre em venda direta. Já linha 2019, R$ 68,7 mil. Motor 1,5L de 137 cv e câmbio automático de seis marchas. Divulgação/GM

GM INVESTE 3 Com isso a fábrica catarinense quadruplicou de tamanho em área, de 15 mil m² para 61,8 mil m². Capacidade anual para motores também deu forte salto, de 120 mil para 420 mil. Quatrocentos novos empregos diretos e indiretos. Divulgação/Ford

GEELY COMPRA 1 GEELY COMPRA 2 GEELY COMPRA 3 A chinesa Geely pagou US$ 9 Em dezembro Shufu gastou A Geely é ainda dona da bilhões por 9,7% de participação outros US$ 3,9 bilhões para se Lotus, lendária fabricante na Daimler. Com isso seu tornar o maior acionista da Volvo britânica de carros esportivos chairman e fundador, Li Shufu, Trucks. Em 2010 já adquirira, das e de competição. E da Proton, se tornou o maior acionista mãos da Ford, a Volvo Cars, por montadora da Malásia. E individual da montadora alemã, US$ 1,8 bilhão. A Geely, aliás, da Terrafugia, startup que ultrapassando com folga o começou a produzir automóveis desenvolve um carro voador. E governo do Kwait, que detém somente em 1997. da LEVC, fabricante dos lendários 6,8% da companhia. táxis pretos londrinos.

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58 » FIM DE PAPO 43 597 357 25 642 582 unidades é a atual frota de autoveículos – unidades era a frota brasileira de autoveículos automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus há dez anos, também segundo números da – circulante no Brasil, segundo dados da Anfavea. Anfavea divulgados em seu anuário 2018.

“Estamos revoltados porque não se fala a verdade, se joga o problema para os outros” José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro, Sindicato do Comércio Varejista de derivados de petróleo do Estado de São Paulo, em entrevista à Rádio Bandeirantes comentando decisão da Petrobras de divulgar o preço em Reais da gasolina e do diesel cobrado nas refinarias

“Falta fiscalização de tudo quanto é tipo: prefeitura, Estado, ANP, todo mundo” 300 000 De dono de posto de combustíveis que não quis se identificar sobre o comércio de gasolina adulterada na cidade de São Paulo, unidades é a projeção de exportações em entrevista ao jornal SPTV1, da Rede Globo da indústria argentina para 2018

é o salto ante 2017 que esse da energia consumida no mundo volume representaria: no ano % provém de combustíveis fósseis % passado a Argentina exportou 81,1 43 209,6 mil unidades. provém de usinas 2,5% hidrelétricas “A Volkswagen tomará ações para assegurar que suas pesquisas estejam alinhadas provém de sistemas com seus padrões éticos e morais” 0,8% eólicos e solares De comunicado da fabricante, após denúncias de que macacos e seres humanos foram expostos a gases tóxicos durante pesquisas Fonte: International Energy Agency. sobre emissões de motores diesel na Alemanha Dados relativos a 2016, os últimos disponíveis.

“Todo o trabalho feito, em comparação ao de outros países, é de tirar o chapéu” Stefan Ketter, CEO da FCA para América Latina, sobre as dicussões que envolveram a formulação do Rota 2030

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