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ANO 12 / NÚMERO 143 R$ 14,90 NACIONALISTAS EUROPEUS POR QUE HOJE? EDUCAÇÃO RESISTE A ASCENSÃO DE O SOCIALISMO A VIVÊNCIA EM UMA SALVINI NA ITÁLIA RENASCE NOS EUA UNIVERSIDADE PÚBLICA POR MATTEO PUCCIARELLI 9 BHASKAR SUNKARA 18 POR ELVIO MARQUES 34 00143 LE MONDE 9 771981 752004 diplomatiqueBRASIL 2 Le Monde Diplomatique Brasil JUNHO 2019 ESCALADA CONTRA O IRÃ Um capricho norte-americano POR SERGE HALIMI* © Daniel Kondo Daniel © m Estado que, sem motivo con- A Bolton, não faltam nem experiên- da monarquia saudita, ele se apegava Washington acha que seu embargo creto, rompe um acordo inter- cia nem coerência de ideias. Em março ainda mais à sua “mudança de regi- obrigará Teerã a capitular. Na verdade, nacional de desarmamento ne- de 2015, quando seu fanatismo em fa- me”: “A política oficial dos Estados Bolton e Pompeo não ignoram que es- gociado durante muito tempo vor da invasão do Iraque diminuía sua Unidos”, escreveu, “deveria ser o fim sa mesma estratégia de guerra econô- Upode depois ameaçar de agressão mi- influência, ele publicou no New York da revolução islâmica iraniana antes mica fracassou na Coreia do Norte e litar outro Estado signatário? Pode or- Times um artigo intitulado “Para deter de seu quadragésimo aniversário. Isso em Cuba. Esperam, pois, uma reação denar aos outros países que se ali- a bomba iraniana, é preciso bombar- apagaria a vergonha de termos tido iraniana que em seguida apresentem, nhem com suas posições caprichosas dear o Irã”. Após alegar que Teerã não nossos diplomatas mantidos como re- triunfalmente, como uma agressão a e belicosas, pois do contrário sofrerão negociaria jamais o fim de seu progra- féns durante 444 dias. E esses antigos exigir a “resposta” norte-americana. também sanções exorbitantes? Quan- ma nuclear, ele concluiu: “Os Estados reféns poderiam cortar a fita por oca- Deturpações, falsificações, mani- do se trata dos Estados Unidos, a res- Unidos poderiam efetuar um trabalho sião da inauguração de uma nova em- pulações, provocações: após Iraque, posta é “sim”. cuidadoso de destruição, mas só Israel baixada em Teerã”.2 Líbia e Iêmen, os neoconservadores já Em suma, é absolutamente inútil é capaz de fazer o necessário. [...] O ob- O atual presidente dos Estados escolheram sua presa. perder tempo estudando as razões in- jetivo será a mudança de regime em Unidos fez campanha contra a política vocadas pela Casa Branca para justifi- Teerã”.1 das “mudanças de regime”, ou seja, *Serge Halimi é diretor do Le Monde car sua escalada contra o Irã. É de su- Três meses depois, um acordo nu- das guerras de agressão. Portanto, ain- Diplomatique. por que John Bolton, consultor de clear com o Irã era assinado por todas da não se pode esperar o pior. Mas a Segurança Nacional do presidente as grandes potências, incluindo os Es- paz deve ser bem frágil para depender, Donald Trump, e Mike Pompeo, se- tados Unidos. Segundo a Agência In- aparentemente, da capacidade de cretário de Estado, confiaram aos di- ternacional de Energia Atômica, Teerã Trump de controlar os consultores 1 John Bolton, “To stop Iran’s bomb, bomb Iran” plomatas e serviços de informação respeita escrupulosamente os termos bravios que ele nomeou. Asfixiando [Para deter a bomba iraniana, é preciso bombar- norte-americanos uma missão do ti- desse acordo. No entanto, Bolton não economicamente o Irã com a ajuda dear o Irã], The New York Times, 26 mar. 2015. 2 Idem, “Beyond the Iran nuclear deal” [Além do po: “Encontrem os pretextos, eu me desiste. Em 2018, ultrapassando a pos- dos capitais e das grandes empresas acordo nuclear com o Irã], The Wall Street Journal, encarrego da guerra”. tura agressiva do governo israelense e ocidentais (coagidas e submissas), Nova York, 15 jan. 2018. JUNHO 2019 Le Monde Diplomatique Brasil 3 EDITORIAL Idiotas úteis POR SILVIO CACCIA BAVA © Claudius© oucos sabem que o governo fe- É importante salientar que essas lhão de pessoas às ruas no dia 15 de Pois os “idiotas úteis” vão engrossar deral, no ano de 2017, deixou de isenções tributárias incidem, em sua maio. O governo não se sensibilizou a greve geral em 14 de junho. O que está arrecadar R$ 270,4 bilhões por maioria, nos tributos que financiam a com as mobilizações e o presidente em jogo é o futuro das novas gerações e conceder isenções tributárias a Seguridade Social, a Previdência. Isso classificou os manifestantes de “idio- a possibilidade de os pobres serem ad- Pempresários de vários setores da eco- para não falarmos da isenção de tri- tas úteis”. Segundo Jair Bolsonaro, mitidos nas universidades – 61% dos nomia. Se somarmos às isenções tri- butos sobre os lucros e dividendos “são ‘massa de manobra’, manipula- alunos da Unifesp, por exemplo, são de butárias outros benefícios financeiros que, considerando os últimos dados dos por ‘uma minoria espertalhona’ família com renda mensal menor que e creditícios, a conta chega a R$ 373,3 divulgados pela Receita Federal, de que compõe as universidades públicas cinco salários mínimos.9 bilhões em 2017.1 A isenção fiscal se dá 2016, apontam a renúncia fiscal de R$ no Brasil”.7 Nesse mesmo dia, como As universidades e os institutos fe- quando o governo abre mão da co- 70 bilhões neste ano. Esses dados, já uma retaliação às amplas manifesta- derais podem fechar se os cortes não brança de determinado imposto para divulgados na edição anterior do Le ções por todo o Brasil, Bolsonaro assi- forem revertidos. E é em defesa da edu- um público específico.2 Monde Diplomatique Brasil, mostram nou um decreto presidencial retirando cação que novas e maiores mobiliza- Dois exemplos são marcantes. Em que o corte de R$ 1,7 bilhão que atin- a autonomia das universidades a par- ções vão ocorrer. A ampliação do mo- 2017, o governo abriu mão de receber giu as 63 universidades federais e os tir de 25 de julho. É um decreto incons- vimento de resistência é uma reação do setor do agronegócio, em impostos, 38 institutos federais de ensino pode- titucional. É uma provocação. esperada em razão da truculência do R$ 26,2 bilhões. Estima-se que essa re- ria ser facilmente evitado se apenas Esse decreto impõe que a nomea- governo Bolsonaro, que acende uma núncia seja de R$ 29 bilhões em 2018 e, uma pequena parte das renúncias fis- ção de pró-reitores e de outros cargos fogueira na qual pode se queimar. em 2019, segundo a Lei de Diretrizes cais fosse revertida.5 de direção das universidades seja sub- Orçamentárias, de R$ 33 bilhões. Em Os limites orçamentários, portan- metida à aprovação de órgãos federais. 2020, o valor deve chegar a R$ 35,1 bi- to, não são o que levou o governo Bol- O ministro da Educação e a Secretaria 1 Mauricio Lettieri, “Por que não se fala de benesses 3 fiscais quando o assunto é ajuste econômico?”, Le lhões e, em 2021, a R$ 37,2 bilhões. sonaro a cortar o orçamento das uni- Geral de Governo ficam responsáveis Monde Diplomatique Brasil, maio 2019. Já a Medida Provisória n. 795, pro- versidades e dos institutos federais. por aceitar ou vetar as indicações dos 2 Suno Research. Disponível em: <www.sunore- mulgada por Temer e aprovada no Segundo o atual ministro da Educa- reitores. A Agência Brasileira de Inteli- search.com.br/artigos/renuncia-fiscal/>. 3 Rute Pina, Brasil de Fato – São Paulo, 14 jun. 2018. Congresso em novembro de 2017, con- ção, Abraham Weintraub: “Universi- gência (Abin) é vista como parte desse 4 Fábio Góis, Congresso em Foco, 29 nov. 2017. cede benefícios fiscais a empresas pe- dades que, em vez de procurar me- aparato que ataca a autonomia univer- 5 Luiza Tenente e Patrícia Figueiredo, G1, 15 maio trolíferas, tais como a Shell e a British lhorar o desempenho acadêmico, sitária. Nesse cerco aos “idiotas mani- 2019. 6 Luiza Tenente e Patrícia Figueiredo, op. cit. Petroleum, que atuarão em blocos das estiverem fazendo balbúrdia terão pulados”, o governo anuncia também 7 Redação Rede Brasil Atual, 15 maio 2019. camadas pré-sal e pós-sal. Essa isen- verbas reduzidas”.6 corte drástico nas bolsas de pós-gra- 8 Informações apresentadas em recente reunião do ção tributária impõe perdas da ordem O corte nas verbas da educação, es- duação e o descredenciamento de Fórum Nacional de Pró-Reitores em Pesquisa e Pós-Graduação com a presidência da Capes. de R$ 1 trilhão à União nos próximos pecialmente das universidades e dos 1.200 cursos de mestrado até o fim do 9 Relatório Unifesp 25 anos – Universidade inclusiva 25 anos.4 institutos federais, levou mais de 1 mi- presente mandato.8 e com redução das desigualdades. 4 Le Monde Diplomatique Brasil JUNHO 2019 CAPA Os direitos LGBT sob o governo Bolsonaro Mobilizando valores associados à defesa da família tradicional, à heterossexualidade compulsória e a uma visão de mundo religiosa, as bandeiras do presidente eleito refletem o êxito de um pânico moral há tempos alimentado e que coloca em linha de tiro, precisamente, a comunidade LGBT POR RENAN QUINALHA* © Caio Borges Brasil é comumente representa- cias sexuais, afetivas e identitárias. diversas análises, ainda inconclusivas. além de respaldar os já alarmantes ín- do como um país que não ape- Basta lembrar, para colocar em pers- Certamente há variáveis explicativas dices de violência letal contra LGBTs. nas tolera, mas também procla- pectiva essa “ideologia de gênero” idí- que vão desde a violência estrutural Não à toa, o resultado eleitoral des- ma e até mesmo valoriza suas lica, que, apenas em 2018, de acordo naturalizada na formação da socieda- pertou uma severa apreensão da popu- Odiversidades. Prevalece, no senso co- com o Grupo Gay da Bahia (GGB), de brasileira até o colapso institucio- lação LGBT em relação aos possíveis mum e em alguns saberes especializa- contabilizou-se o assassinato de 420 nal da Nova República, passando pelo resultados dessa vitória.