Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biologia Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva

Sérgio Ricardo Brito Santos

Cientometria e análise geomorfométrica das espécies de pescadas e linguados exploradas comercialmente no estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro 2016 ii

Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biologia Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva

Sérgio Ricardo Brito Santos

Cientometria e análise geomorfométrica das espécies de pescadas e linguados exploradas comercialmente no estado do Rio de Janeiro

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Biodiversidade e Biologia Evolutiva.

Orientador: Marcelo Vianna

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AGRADECIMENTOS Aos meus avós Dinancy e Deolinda, agradeço pelo incentivo a minha educação e pela rica biblioteca em casa que despertou minha curiosidade desde a infância. Ao professor Marcelo Vianna, agradeço pela amizade, apoio, críticas construtivas e pela orientação. Sou grato também pelo próprio tema proposto, que me obrigou a sair da zona de conforto e buscar alternativas para a elucidação do problema. Agradeço também pelo incentivo e oportunidades profissionais não apenas agora, mas desde minha graduação, no longínquo ano de 2005 (Putz!). Ao tecnologista Jorge “Precioso” Alves de Oliveira, que fez parte do corpo técnico da Divisão de Caça e Pesca (Ministério da Agricultura), Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e IBAMA. As informações passadas pelo profissional e amigo nos últimos dez anos foram essenciais para descrever a atuação (ou falta de) dessas instituições ao longo do tempo. Aos amigos que participaram intensamente da minha formação profissional e pessoal mas que infelizmente não puderam estar presentes até o final: Gustavo Nunan, Wagner Bandeira e Jorge Oliveira. Ao Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva (PPGBBE-UFRJ), pela oportunidade em cursar o doutorado e pela extensão no prazo de conclusão da tese. Ao CNPq, pela bolsa de doutorado. Aos membros da banca de qualificação Érica Caramaschi, Leila Pessôa e Pedro Carvalho, pelas críticas e sugestões ao artigo baseado no capítulo I, tendo auxiliado na preparação do segundo artigo, baseado no capítulo II. Ao motorista Lenzi da Silva Conceição (IB-UFRJ), pelo auxílio na coleta e bom humor em percorrer a costa fluminense atrás de pontos de desembarque. Ao Márcio Luis Chagas Macedo, pela amizade e pelas sugestões na apresentação dos resultados de cientometria e a confecção das figuras 1.4.1.2 e 2.4.1.3, que explicaram melhor o resultado do que qualquer texto. À Beatriz Corrêa e Luana Prestelo, pelo auxílio na coleta de dados sobre a pesca de Cabo Frio e Macaé e no acompanhamento do desembarque de pescadas e linguados. Ao Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (SAPERJ), na figura de Flávio Leme e Eduardo Miranda, pela facilitação de acesso às embarcações de pesca industrial. Aos pescadores artesanais de diversas comunidades que compartilharam seu conhecimento e cederam exemplares para a pesquisa. Ao Guilherme Souza, Wagner Bandeira e Márcio Senna (L’Armata Brancaleone), pela amizade

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e pelo auxílio nas coletas e no registro fotográfico dos exemplares coletados. A equipe do Laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira pelo auxílio e bom humor não apenas nos trabalhos relacionados a esta tese, mas nos demais estudos em andamento: Camila, Felipe, Fernanda, Gabriel, Isabela, Larissa, Luana, Luiza, Márcio, Rafaela, Rebeca, Tainá, Thais. Aos amigos que liam o obituário esperando notíciais minhas, apresento a prova cabal do motivo da minha ausência e que justifica a queda no consumo de suco de cevada. Prometo em especial a Luiz Constantino, Márcio Macedo, Márcio Senna, Wellington Mattos, Guilherme Souza, Thiago Dibley, Leonardo Aranha e Leonardo Darbilly retornar às atividades etílicas assim que possível.

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RESUMO

A presença de pescadas e linguados, com suas variações, na estatística pesqueira brasileira tem representado um complexo problema que envolve a falta de identificação taxonômica, a grande variação regional e o acompanhamento falho por parte das agências públicas. A tese avaliou os impactos da ausência de um sistema de recolhimento específico de dados de desembarque para o conhecimento científico de duas categorias de pescado: pescadas/pescadinhas e linguados, levantar as espécies que atualmente são identificadas pelos nomes de referência e resgatar informações morfomerísticas capazes de serem tratadas como caracteres diagnósticos de fácil acesso. Para isto, uma análise cientométrica foi executada para doze espécies de e onze de , com ocorrência no Atlântico Ocidental pra explorar a evolução do conhecimento e tópicos abordados entre 1945 e 2015. Concomitantemente, foram visitados 14 pontos da costa fluminense com desembarque artesanal e quatro de desembarque industrial, entre 2013 e 2016, para registrar as espécies capturadas sob esses nomes vulgares. Um total de 500 artigos foram identificados para Cynoscion, com a espécie mais estudada sendo (213 documentos), C. regalis (125), C. guatucupa (87) e C. arenarius (51). Foram identificados 414 artigos focados em Paralichthys com predominância de duas espécies, ambas com ocorrência do Canadá ao EUA, Paralichthys dentatus (46,1% dos estudos) e P. lethostigma (32,1%). A terceira espécie mais estudada foi P. orbignyanus (11,7%), restrita do Brasil a Argentina. O resultado mostrou que a maioria dos estudos publicados, não apenas para a área da ciência pesqueira, foram fundamentados em levantamentos biológicos, sendo que mais da metade fizeram uso de dados de coleta oficiais para estoques monoespecíficos. Enquanto a maior parte dos estudos corresponderam a pesquisas de curta duração, de até três anos, todos os estudos de longa duração, acima de seis anos, foram necessariamente baseados em dados de desembarque ao nível de espécie, como foi observado para C. guatucupa, no Atlântico Sul, C. nebulosus, C. regalis, P. dentatus e P. lethostigma no Atlântico Norte e Golfo do México. Dessa forma, a presença considerável da pesca artesanal ao longo da costa brasileira e dos demais países tropicais, com a dificuldade inerente de monitoramento dessa pescaria, bem como a ampla variedade de nomes vulgares presente nos dados de produção, sem a devida correspondência taxonômica, limitaram o uso e a confiabilidade dos dados de captura dessas áreas. Foram obtidos 395 exemplares de dez espécies de pescado sob a categoria pescada e variações e 176 exemplares de quatro espécies registrados sob a categoria linguado. Enquanto a análise variada canônica afastou consideravelmente I. parvipinnis e M. hubbsi das demais

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pescadas, baseados no comprimento das nadadeiras dorsal e anal, o restante foi agrupado em três grupos, caracterizados pelo formato da cauda, perfil dorsal da cabeça e posicionamento da nadadeira pélvica em relação a peitoral e a cabeça. A análise para linguados identificou que o formato da cauda e o posicionamento relativo do olho e maxilar foram de grande importância para a separação das espécies.

ABSTRACT The presence of weakfishes and , with their variations, in the Brazilian fishery statistics has represented a complex problem that involves the lack of taxonomic identification, the great regional variation and the flawed monitoring strategy by the public agencies. The thesis evaluated the impacts of the absence of a species-level landing data collection system for the scientific knowledge of the two categories, to record the species that are currently identified by the reference names weakfishes and flatfishes and to recover morphomeristic information capable of being treated as easily accessible diagnostic characters. For this, a scientometric analysis was performed for eleven species of Paralichthys and twelve species of Cynoscion, occurring in the Western Atlantic to explore the evolution of knowledge and topics covered between 1945 and 2015. Concomitantly, 14 points of the coast of Rio de Janeiro with artisanal landing and four with industrial landings were visited between 2013 and 2016 to record the species caught under these common names. A total of 414 papers focused on Paralichthys with predominance of two species, both with occurrence from Canada to the USA, Paralichthys dentatus (46.1% of the studies) and P. lethostigma (32.1%). The third species most studied was P. orbignyanus (11.7%), restricted from Brazil to Argentina. A total of 500 articles were identified for Cynoscion, with the most studied species being Cynoscion nebulosus (213 documents), C. regalis (125), C. guatucupa (87) and C. arenarius (51). The results showed that most of the studies published, not only in the field of fisheries science, were based on biological surveys, with more than half using official collection data for monospecific stocks. While most studies corresponded to short-term surveys of up to three years, all long-term studies over six years were necessarily based on species-level landing data, as observed for C. guatucupa, In the South Atlantic, C. nebulosus, C. regalis, P. dentatus and P. lethostigma in the North Atlantic and Gulf of Mexico. Thus, the considerable presence of artisanal fishing along the Brazilian coast and other tropical countries, with the inherent difficulty of monitoring this fishery, as well as the wide variety of common names present in the production data, without due taxonomic

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correspondence, limited the use and reliability of catch data from these areas. A total of 395 specimens were obtained for ten species under the category weakfishes and variations and 176 specimens of four species registered under the category flatfishes. While the canonical analysis considerably removed I. parvipinnis and M. hubbsi from the other weakfishes, based on the length of the dorsal and anal fins, the remainder were clustered into three groups, characterized by the tail shape, dorsal head profile and pelvic fin position in relation to the pectorals and head. The analysis for flatfishes identified that the tail shape and the relative positioning of the eye and jaw were of great importance for the separation of the species.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1.4.1.1. Variação histórica da produção científica para 12 espécies de Cynoscion, do Atlântico Ocidental (n=500)...... 13 Figura 1.4.1.2. Distribuição latitudinal de 393 estudos, com base em levantamentos biológicos, de 12 espécies de Cynoscion do Atlântico ocidental... 15 Figura 1.4.1.3. Total de produção científica para 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental separados por país de origem (n=500)...... 16 Figura 1.4.2.1. Produção bibliográfica sobre estudos de ciência pesqueira de 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental, separados por país de origem (n=69)...... 16 Figura 1.4.2.2. Produção anual de estudos de ciência pesqueira (1990-2015) para 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental (n=69)...... 16 Figura 1.4.2.3. Produção bibliográfica sobre a ciência pesqueira das 12 espécies do Atlântico ocidental de Cynoscion, separados por sub-temas (número de estudos em parênteses) (n=69)...... 17 Figura 1.4.2.4. Extensão da série de dados utilizados em estudos de ciência pesqueira de 12 espécies de Cynoscion do Atlântico ocidental, composta ou não por dados oficiais de desembarque pesqueiro em nível de espécie (n=47)...... 17 Figura 2.4.1.1. Variação histórica da produção científica para as 11 espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental (PARALB – Paralichthys albigutta; PARDEN – P. dentatus; PARISO – P. isosceles; PARLET – P. lethostigma; PAROBL – P. oblongus; PARORB – P. orbignyanus; PARPAT – P. patagonicus; PARSQU – P. squamilentus; PARTRO – P. tropicus), resgatados das bases Web of Science e SciELO...... 42 Figura 2.4.1.2. Variação histórica da produção científica para 11 espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental, organizado por grandes temas (Biologia populacional, Ecologia de comunidades, Pesca, Poluição e Taxonomia), resgatados das bases Web of Science e SciELO...... 43 Figura 2.4.1.3. Distribuição latitudinal da produção científica para Paralichthys, do Atlântico Ocidental, baseados em 191 artigos resgatados das bases Web of Science e SciELO...... 45 Figura 2.4.2.1. Produção bibliográfica de ciência pesqueira, para 11 espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO e separadas por país de origem (n=81)...... 47 Figura 2.4.2.2. Produção bibliográfica em ciência pesqueira para 11 espécies de Paralichthys, com ocorrência no Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO e separados por subtemas (n=81)...... 48 Figura 2.4.2.3. Produção bibliográfica em ciência pesqueira para 11 espécies de Paralichthys, com ocorrência no Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO e separados por metodologias utilizadas (n=81)...... 48 Figura 2.4.2.4. Produção bibliográfica anual de estudos em ciência pesqueira para 11 espécies de Paralichthys, com ocorrência no Atlântico Ocidental (n=81), resgatados das bases Web of Science e SciELO...... 49 Figura 3.3.1.1. Estado do Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico. Onde: Paraty (1), Angra dos Reis (2), Mangaratiba (3), Rio de Janeiro (4), Magé (5), São Gonçalo (6), Niterói (7), Saquarema (8), Cabo Frio (9), Casemiro de Abreu (10), Macaé (11), Quissamã (12), Campos dos Goytacazes (13), São João da Barra (14), São Francisco de Itabapoana (15), (○=pesca artesanal, ●=pesca

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industrial). (modificado de ABREU, 2006)...... 74 Figura 3.3.2.1. a) Configuração dos pontos homólogos selecionados para a análise de geometria morfométrica das espécies desembarcadas no estado do Rio de Janeiro sob o nome de pescada/pescadinha e variações: ponta da pré- maxila (1), limites proximal (2) e distal da órbita ocular (3), limite distal do opérculo (4), origem da nadadeira pélvica (14), início (5) e fim da base da dorsal (6), início (13) e fim da base da anal (12); origem dorsal (7) e ventral dos raios procorrentes caudais (11), limites distais superior (8) e inferior da cauda (10), e limite distal dos raios medianos da cauda (9). Pontos brancos representam semi- marcos anatômicos. b) Principais medidas extraídas dos exemplares analisados (modificado de CHAO, 2002b)...... 76 Figura 3.4.1. UPGMA baseado nas distâncias de Procustes das formas de consenso de Merluccius hubbsi (Merhub), Isopisthus parvipinnis (Isopar), Macrodon atricauda (Macatr), Nebris microps (Nebmic), Cynoscion microlepidotus (Cynmic), C. virescens (Cynvir), C. acoupa (Cynaco), C. leiarchus (Cynlei), C. guatucupa (Cyngua) e C. jamaicensis (Cynjam), no Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico...... 79 Figura 3.4.2. Análise de variáveis canônicas dos dois primeiros fatores baseados em warp scores parciais dos marcos anatômicos, de exemplares de pescado comercializados como pescada, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro: Cynoscion acoupa (Cynaco), C. guatucupa (Cyngua), C. jamaicensis (Cynjam), C. leiarchus (Cynlei), C. microlepidotus (Cynmic), C. virescens (Cynvir), Isopisthus parvipinnis (Isopar), Macrodon atricauda (Macatr), Merluccius hubbsi (Merhub) e Nebris microps (Nebmic) (CV1+CV2=92.8%)...... 79 Figura 3.4.3. Análise de variáveis canônicas dos três primeiros fatores baseado em warp scores parciais dos marcos anatômicos de exemplares de pescado comercializado como pescada, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, excluindo Merluccius hubbsi e Isopisthus parvipinnis: Cynoscion acoupa (Cynaco), C. guatucupa (Cyngua), C. jamaicensis (Cynjam), C. leiarchus (Cynlei), C. microlepidotus (Cynmic), C. virescens (Cynvir), Macrodon atricauda (Macatr), e Nebris microps (Nebmic). a) CV1xCV2 (CV1+CV2=76,9%), b) CV1xCV3 (CV1+CV3=57,7%)...... 80 Figura 4.3.1.1. Estado do Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico. Onde: Paraty (1), Angra dos Reis (2), Mangaratiba (3), Rio de Janeiro (4), Magé (5), São Gonçalo (6), Niterói (7), Saquarema (8), Cabo Frio (9), Casemiro de Abreu (10), Macaé (11), Quissamã (12), Campos dos Goytacazes (13), São João da Barra (14), São Francisco de Itabapoana (15), (○=pesca artesanal, ●=pesca industrial). (modificado de ABREU, 2006)...... 92 Figura 4.3.2.1. I) Pontos homólogos usados como marcos para a análise de geometria morfométrica. II) Principais medidas lineares obtidas a partir das coordenadas de pontos homólogos: A) Comprimento do maxilar B), Distância do olho ao ângulo do maxilar, C) Diâmetro do olho inferior, D) Comprimento Total, E) Base da nadadeira dorsal, F) Base da nadadeira anal (modificado de FIGUEIREDO E MENEZES, 2000)...... 94 Figura 4.4.1. Análise de Componentes Principais dos dois primeiros fatores baseado em warp scores parciais dos marcos anatômicos de 110 exemplares de pescado comercializados como linguado, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro: Paralichthys isosceles (vermelho); P. patagonicus (laranja); P. orbignyanus (verde) e Xystreurys rasile (azul)...... 96 Figura 4.4.2. Análise de Variáveis Canônicas dos dois primeiros fatores baseado

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em warp scores parciais dos marcos anatômicos de 110 exemplares de pescado comercializado como linguado, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro: Paralichthys isosceles (vermelho); P. patagonicus (laranja); P. orbignyanus (verde) e Xystreurys rasile (azul)...... 96 Figura 4.4.3. UPGMA baseado nas distâncias de Procustes das formas de consenso de Xystreurys rasile (Xysras), Paralichthys orbignyanus (Parorb), P. patagonicus (Parpat) e P. isosceles (Pariso), capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, a partir de 14 marcos anatômicos ao longo do corpo...... 97 Figura 4.4.4. Formato da cauda em exemplares de Xystreurys rasile (a), Paralichthys isosceles (b), P. orbignyanus (c) e P. patagonicus (d) coletados na costa do estado do Rio de Janeiro (escala: 4 cm)...... 98 Figura 5.3.1. Estado do Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico. Onde: Paraty (1), Angra dos Reis (2), Mangaratiba (3), Rio de Janeiro (4), Magé (5), São Gonçalo (6), Niterói (7), Saquarema (8), Cabo Frio (9), Casemiro de Abreu (10), Macaé (11), Quissamã (12), Campos dos Goytacazes (13), São João da Barra (14), São Francisco de Itabapoana (15), (○=pesca artesanal, ●=pesca industrial). (modificado de ABREU, 2006)...... 109 Figura 5.4.1. Exemplar de Merluccius hubbsi desembarcado em Gradim, São Gonçalo em agosto de 2015 (40,5 cm CT)...... 111 Figura 5.4.2. Exemplar de Cynoscion acoupa desembarcado em Bancários, Ilha do Governador, Baía de Guanabara em novembro de 2015 (48,3 cm CT)...... 112 Figura 5.4.3. Exemplar de Cynoscion guatucupa desembarcado em Angra dos Reis em julho de 2015 (30,3 cm CT)...... 113 Figura 5.4.4. Exemplar de Cynoscion jamaicensis desembarcado em Angra dos Reis em maio de 2014 (30,1 cm CT)...... 114 Figura 5.4.5. Exemplar de Cynoscion leiarchus desembarcado em Muriqui, Mangaratiba em fevereiro de 2016 (40,5 cm CT)...... 115 Figura 5.4.6. Exemplar de Cynoscion microlepidotus desembarcado em Macaé em maio de 2014 (35,7 cm CT)...... 116 Figura 5.4.7. Exemplar de Cynoscion virescens desembarcado em Atafona, São João da Barra em fevereiro de 2016 (33,8 cm CT)...... 117 Figura 5.4.8. Exemplar de Isopisthus parvipinnis desembarcado em Barra de São João, Casemiro de Abreu em setembro de 2013 (20,2 cm CT)...... 118 Figura 5.4.9. Exemplar de Macrodon atricauda desembarcado em Gradim, São Gonçalo em outobro de 2015 (29,6 cm CT)...... 119 Figura 5.4.10. Exemplar de Nebris microps desembarcado em dezembro de 2013 em Macaé em julho de 2014 (26,8 cm CT)...... 120 Figura 5.4.11. Exemplar de Paralichthys isosceles capturado em Gradim, São Gonçalo em outubro de 2015 (29,7 cm CT)...... 121 Figura 5.4.12. Exemplar de Paralichthys patagonicus desembarcado em Angra dos Reis em março de 2016 (43,8 cm CT)...... 123 Figura 5.4.13. Exemplar de Paralichthys orbignyanus desembarcado em Copacabana, Rio de Janeiro em fevereiro de 2015 (42,5 cm CT)...... 124 Figura 5.4.14. Exemplar de Xysreurys rasile capturado em Gradim, São Gonçalo em outubro de 2015 (25,0 cm CT)...... 125 Figura 5.4.15. Detalhes úteis para o diagnóstico das espécies de pescadas e linguados capturadas na pesca fluminense. 2a. Olho pequeno (Nebris microps); 2b. Olho grande (Cynoscion acoupa); 2c. Cabeça com depressão dorso-ventral (C.virescens); 2d. Anal longa (Isopisthus parvipinnis); 2e. Anal curta (C. jamaicensis); 2f. Dorso com estrias oblíquas escuras (C. guatucupa); 2g.

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Nadadeira caudal truncada (C. leiarchus); 2h. Nadadeira caudal com expansão dos raios medianos (C. acoupa); 2i. Maxila curta (Xystreurys rasile); 2j. Maxila longa alcançando ou ultrapassando o limite distal da órbita ocular (Paralichthys orbignyanus); 2l. Dois ocelos perpendiculares a linha lateral, localizado sobre e abaixo da mesma (P. isosceles); 2m. Um ocelo sob a linha lateral, próximo a nadadeira peitoral (P. patagonicus)...... 128

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LISTA DE TABELAS Tabela 1.4.1.1. Estudos para 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental encontrados nas plataformas científicas Web of Science e SciELO...... 12 Tabela 2.4.1.1. Estudos publicados sobre as onze espécies de Paralichthys (), registrados nas bases de dados Web of Science e SciELO...... 41 Tabela 2.4.1.2. Origem dos dados do material biológico nos artigos publicados sobre Paralichthys do Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO...... 46 Tabela 3.4.1. Dados merísticos e morfométricos, de espécies de Cynoscion associadas ao nome vulgar pescada, a partir de exemplares capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico ...... 78 Tabela 4.4.1. Dados merísticos e morfométricos, de espécies de Paralichthyidae associadas ao nome vulgar linguado, a partir de exemplares capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, Brasil...... 105

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SUMÁRIO Introdução Geral………………………………………. 1 Importância das categorias comerciais pescadas e linguados no contexto da produção pesqueira fluminense...... 2 Objetivos………………………………………………... 4 CAPÍTULO I: Análise cientométrica da ciência pesqueira para as espécies de Cynoscion (: Acanthuriformes) do Atlântico Ocidental, com ênfase na comparação dos dados de captura entre a pesca norte- americana e a brasileira...... 6 1.1. Resumo...... 6 1.2. Introdução...... 6 1.3. Metodologia...... 9 1.4. Resultados...... 11 1.4.1. Estado do conhecimento das espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental...... 11 1.4.2. A ciência pesqueira de Cynoscion no Atlântico Ocidental...... 14 1.5. Discussão...... 17 1.5.1. Estado do conhecimento das espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental...... 17 1.5.2. A ciência da pesca de Cynoscion no Atlântico Ocidental...... 21 1.5.3. Estratégias para geração de dados de produção pesqueira específicos...... 25 1.6. Conclusões...... 27 1.7. Referências...... 28 CAPÍTULO II: Análise cientométrica da ciência pesqueira das espécies de Paralichthys (Paralichthyidae: Pleuronectiformes) do Atlântico Ocidental...... 36 2.1. Resumo...... 36 2.2. Introdução...... 36 2.3. Materiais e métodos...... 39 2.4. Resultados...... 40 2.4.1. Estado do conhecimento das espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental...... 40 2.4.2. Ciência pesqueira sobre Paralichthys no Atlântico Ocidental: pesca e aquacultura...... 46 2.5. Discussão...... 49 2.5.1. Estado do conhecimento das espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental...... 49 2.5.2. A Ciência pesqueira de Paralichthys do Atlântico Ocidental...... 53 2.5.3. Aquacultura como fomentador da pesquisa em Paralichthys...... 57 2.6. Conclusão...... 59 2.7. Referências...... 60 CAPÍTULO III: Geometria morfométrica aplicada na

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distinção taxonômica das espécies comercializadas sob o nome de pescada no sudoeste do Oceano Atlântico...... 70 3.1. Resumo...... 70 3.2. Introdução...... 71 3.3. Materiais e métodos...... 73 3.3.1. Área de estudo...... 73 3.3.2. Análise morfométrica e estatítica...... 74 3.4. Resultados...... 76 3.5. Discussão...... 80 3.6. Conclusões...... 85 3.7. Referências...... 85 CAPÍTULO IV: Uso de morfometria geométrica como ferramenta na distinção especifica dos linguados desembarcados pela pesca do Atlântico Ocidental: estudo de caso do Rio de Janeiro, no Atlântico Sul Ocidental...... 89 4.1. Resumo...... 89 4.2. Introdução...... 90 4.3. Materiais e métodos...... 91 4.3.1. Área de estudo...... 91 4.3.2. Análise morfométrica...... 93 4.4. Resultados...... 94 4.5. Discussão...... 98 4.6. Conclusão...... 102 4.7. Referências...... 102 CAPÍTULO V: Identificação das espécies de pescado constituintes das categorias comerciais pescadas e linguados no desembarque pesqueiro do estado do Rio de Janeiro...... 106 5.1. Resumo...... 106 5.2 Introdução...... 106 5.3. Material e Métodos...... 108 5.4. Resultados e Discussão...... 109 5.5. Referências...... 129 Discussão geral...... 132 Conclusões...... 137 Referências para introdução e discussão gerais...... 138

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Introdução Geral

A idéia que a atividade pesqueira carrega poucos efeitos sobre os ecossistemas marinhos tem sido abandonada nas últimas décadas dada a uma ampla gama de evidências em contrário. Os efeitos da pesca variam de acordo com os petrechos usados, as características dos ecossistemas explotados e a magnitude dos disturbios causados, com consequentes alterações na estrutura dos habitat marinhos e influências na diversidade, composição, biomassa e produtividade da biota associada (JENNINGS E KAISER, 1998; PAULY et al., 2005). A escala desses impactos tem sido avaliada, nos últimos anos, com base nos dados de produção mundial. Sendo evidente a relação da pesca industrial com a redução na biomassa das populações, das espécies explotadas, em especial os grandes predadores (MYERS E WORM, 2003; PAULY et al., 2005). O manejo ecossistêmico é definido por Long et al. (2015) como uma abordagem interdisciplinar que pondera princípios ecológicos, sociais e de governança, sob escalas temporais e espaciais apropriadas, em uma área geográfica distinta, com o intuito de alcançar o uso sustentável de um recurso. Contudo é essencial para essa abordagem o conhecimento científico e o monitoramento eficiente da atividade pesqueira (LONG et al., 2015).

Nesse contexto, a qualidade dos dados de produção é de especial interesse de estudo, já que fundamentam o manejo dos estoques e as políticas públicas para o setor. O entendimento da necessidade de dados mais acurados sobre a produção pesqueira brasileira como passo fundamental a gestão dos recursos não é novo, tendo sido apontado por diversos autores ao longo dos últimos 50 anos (CARVALHO, 1957; BRAGA, 1962; CASTELLO, 2008; FREIRE et al., 2015). Para atender essa demanda, estratégias de monitoramento foram introduzidas, ainda que associadas apenas a pesca industrial do sudeste-sul brasileiro (NOMURA, 1960; BRAGA, 1962; NOMURA, 1962). No entanto, a pesca extrativa brasileira ainda é caracterizada pela falta de políticas de manejo adequadas e o foco na pesca industrial, hoje aliado a uma realidade de estoques sobreexplotados e o colapso do sistema de coleta de dados de desembarque pesqueiro (VASCONCELLOS E GASALLA, 2001; ABDALLAH E SUMAILA, 2007; VIANNA, 2009; FREIRE E PAULY, 2010; FREIRE et al., 2015).

Considerável esforço tem sido devotado a avaliação da pesca artesanal e a necessidade de inserção desse componente na estratégia de monitoramento da produção que fundamenta a estatística pesqueira. Países e organismos internacionais têm dedicado mais atenção a esse setor historicamente preterido, dada a sua importância sócio-econômica e ecológica, com forte presença em regiões tropicais e ecossistemas reconhecidamente diversos e ameaçados

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(ASTLES et al., 2009; FAO/OSPESCA, 2010; RAMÍREZ-RODRÍGUEZ, 2011). Em 2006, um debate sobre estratégias para o aprimoramento dos sistemas de informação da pesca e métodos de recolhimento de dados de pesca foi organizado pela FAO - Food and Agriculture Organization, com foco nos países da América Central e Caribe (FAO/OSPESCA, 2010). Nessa conferência foram identificados vários obstáculos em comum, como a falta de capacitação; agências sem sistemas integrados de processamento; falta de coordenação interinstitucional, com atribuições dispersas entre agências governamentais; falta de metodologia para o recolhimento dos dados; falta de pessoal qualificado; canais de comunicação com pescadores falhos ou inexistentes, dentre outros. Informação essencial ao registro do desembarque da produção, a determinação taxonômica das espécies exploradas é delegada ao próprio pescador, proprietário das embarcações e ao monitor da pesca (JACQUET E PAULY, 2008; FAO/OSPESCA, 2010). O cenário brasileiro não é diferente do observado em outros países da América Latina, com os quais compartilha as mesmas deficiências no recolhimento dos dados de produção e falhas no manejo adequado dos recursos pelas agências governamentais (BRETON et al., 1996; FREIRE et al., 2015).

Importância das categorias comerciais pescadas e linguados no contexto da produção pesqueira fluminense

A produção pesqueira do estado do Rio de Janeiro apresenta grande relevância no panorama nacional, chegando a ser o segundo maior desembarque em volume de produção de pescado (PROZEE, 2005). A frota fluminense é caracterizada por uma grande diversidade, com uso prevalente de rede de arrasto no norte do estado, enquanto a linha-de-mão e o emalhe predominam no restante da costa (BEGOT E VIANNA, 2014). Várias agências tiveram participação no manejo dos recursos explorados e o controle quantitativo e qualitativo do desembarque pesqueiro fluminense (ABDALLAH E SUMAILA, 2007), sendo os mais recentes a FIPERJ (Fundação Instituto de Pesca do estado do Rio de Janeiro), o IBAMA (Intituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), e até recentemente o MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura), substituído em 2016 pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Os relatórios periódicos produzidos por essas instituições ainda são estruturados a partir do nome vulgar atribuído a uma espécie ou conjunto de espécies (FREIRE et al., 2015). Tal acompanhamento gera falhas já que não partem de uma classificação taxonômica para os diferentes componentes do pescado. Essas falhas têm origem

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no grande número de sinonímias aplicadas a um mesmo recurso, tanto entre pontos de desembarque, como alterações no nome vulgar usado ao longo do tempo no mesmo local. Dessa forma, o mesmo recurso pode ser agrupado sob uma categoria em um ponto de desembarque e em outro local, ser tratado como uma categoria distinta. Além disso, casos de homonimia, onde o mesmo nome vulgar é aplicado a mais de uma espécie, também são conhecidos (FREIRE E PAULY, 2005).

Em 2007 o anuário da produção pesqueira brasileira indica uma captura expressiva de linguados, de 2.566,0 toneladas, concentrada do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul (MMA, 2007). Deste total, o desembarque de Santa Catarina responde pela maior parte da captura (1.754 t), seguida pelo Rio de Janeiro (523 t) (MMA, 2007). Em 2012 a produção fluminense manteve um volume semelhante de captura de linguados (556,8 t) (FIPERJ, 2012). Apesar da importância econômica, alcançando valores de mais de R$ 8,5 milhões em 2007, dos quais R$ 1,6 milhão apenas no Rio de Janeiro, a dinâmica da pesca sobre as espécies explotadas é de difícil interpretação por estarem todas agrupadas em uma única categoria. Parte das ameaças aos estoques das espécies de linguado pode ser exemplificada pela indicação de uma possível sobreexplotação sobre Paralichthys patagonicus no Rio Grande do Sul (ARAÚJO E HAIMOVICI, 2000). Estado que apesar da recente baixa captura, já reportou desembarque de 2.157,0 t em 1990, entrando em declínio desde então (HAIMOVICI, 1998). A categoria de linguados representa o principal caso de homonimia da estatística pesqueira brasileira, com o nome vulgar sendo aplicado a várias espécies de Pleuronectiformes (FREIRE E PAULY, 2005).

A pesca de Sciaenidae na costa do Rio de Janeiro apresentou um desembarque de 12.025 t (MMA, 2007), o que inclui o segundo principal recurso pesqueiro do período, a corvina (Micropogonias furnieri). A categoria pescada, que alcançou 1.065 t, em 2007, no Rio de Janeiro, é de especial interesse por apresentar problemas de identificação taxonômica, já que consiste de um conjunto de espécies pertencentes ao gênero, Cynoscion, de distinção problemática. A produção de cianídeos movimentou 31,1 milhões de Reais, apenas no Rio de Janeiro (MMA, 2007), sendo a categoria pescada a de maior valor (R$ 7,60 de preço de primeira venda). Dados mais recentes demonstraram a queda na produção das pescadas, com volume desembarcado de 561,7 t, em 2012 (FIPERJ, 2012). Apesar de indicar uma queda considerável do patamar anterior, o resultado também pode ser fruto de mudanças metodológicas e alteração nas agências competentes, o que apenas exemplifica os problemas recorrentes do sistema de coleta de dados de desembarque pesqueiro (FREIRE et al., 2015).

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Objetivos

Com o intuito de contribuir para a melhora do complexo quadro da estatística pesqueira nacional e fluminense, a presente tese foca em duas categorias problemáticas, mas de claro interesse pesqueiro. As pescadas e variações, representada tradicionalmente por espécies de Cynoscion (Sciaenidae: Acanthuriformes) e os linguados (Pleuronectiformes). Apesar de possuírem trabalhos taxonômicos que estabeleceram o diagnóstico correto das espécies comerciais de Sciaenidae e Pleuronectiformes, estudos recentes abordam a necessidade de se reavaliar essa posição, seja pela possibilidade de espécies novas ou a validação daquelas já conhecidas (DÍAZ DE ASTARLOA, 2002; CHAO et al., 2015). A tese pretende avaliar os impactos da ausência de um sistema de recolhimento especifico de dados de desembarque para o conhecimento científico das duas categorias, levantar as espécies que atualmente são identificadas pelos nomes de referência pescadas/pescadinhas e linguados, resgatar informações morfomerísticas capazes de serem tratadas como caracteres diagnósticos de fácil acesso e, por fim, desenvolver uma ferramenta de uso prático com os resultados obtidos nas etapas anteriores e assim poder subsidiar os agentes públicos a efetuarem a correta determinação das espécies explotadas. Para tal o estudo foi subdividido nas seguintes etapas de acord com artigos já submetidos ou em preparação:

Capítulo I: Análise cientométrica da ciência pesqueira para as espécies de Cynoscion (Sciaenidae: Acanthuriformes) do Atlântico Ocidental, com ênfase na comparação dos dados de captura entre a pesca norte-americana e a brasileira. A análise cientométrica permite identificar padrões relacionados a temas abordados, às espécies e à importância pesqueira. A pesquisa examina a utilidade dos dados de produção para o avanço do conhecimento das espécies exploradas do gênero, em especial, a determinação do pescado desembarcado ao nível de espécie.

Capítulo II: Análise cientométrica da ciência pesqueira das espécies de Paralichthys (Paralichthyidae: Pleuronectiformes) do Atlântico Ocidental. O estudo tem os mesmos objetivos e métodos da análise para Cynoscion. Apesar da importância do gênero para as pescarias nessa região, não existem estudos que estabeleçam qual o estado do conhecimento para cada espécie da categoria.

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Capítulo III: Geometria morfométrica aplicada na distinção taxonômica das espécies comercializadas sob o nome de pescada no sudoeste do Oceano Atlântico. O foco é o potencial uso desses caracteres para o desmembramento de estoques multiespecíficos em uso, em grupos menores ou, preferencialmente, monoespecíficos.

Capítulo IV: Uso de morfometria geométrica como ferramenta na distinção especifica dos linguados desembarcados pela pesca do Atlântico Ocidental: estudo de caso do Rio de Janeiro, no Atlântico Sul Ocidental. A aparência similar compartilhada por todos os linguados, com a evidente assimetria bilateral, é analisada no contexto do uso do nome dentro da estatística pesqueira fluminense.

Capítulo V: Identificação das espécies de pescado constituintes das categorias comerciais pescadas e linguados no desembarque pesqueiro do estado do Rio de Janeiro. Este capítulo contem uma chave que permite ao usuário identificar as espécies que compõem as categorias de pescadas e linguados, sem necessidade de exame laboratorial. Essa etapa permite integrar os resultados dos capítulos 3 e 4.

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CAPÍTULO I

Análise cientométrica da ciência pesqueira para as espécies de Cynoscion (Sciaenidae: Acanthuriformes) do Atlântico Ocidental, com ênfase na comparação dos dados de captura entre a pesca norte-americana e a brasileira

1.1. Resumo Uma análise cientométrica foi realizada para doze espécies de Cynoscion do Atlântico ocidental para explorar a evolução do conhecimento e os temas abordados entre 1945 e 2015. A pesquisa baseou-se no número total de resultados encontrados em duas plataformas científicas, ISI Web of Science e SciELO, com destaque para os documentos relacionados a ciência pesqueira. Um total de 500 artigos foram identificados, com as espécies mais estudadas sendo Cynoscion nebulosus (213), C. regalis (125), C. guatucupa (87) e C. arenarius (51). A ciência pesqueira representou 14% da literatura para Cynoscion, que consistem principalmente de documentos norte-americanos e brasileiros, sendo responsável por 85,9% dos 69 estudos produzidos por 206 pesquisadores vinculados a 64 instituições. Os estudos visam principalmente a ecologia pesqueira, gestão de recursos, avaliação de estoques e sanidade do pescado e são na sua maioria (55,3%) com base em até três anos de amostragem. A presença considerável da pesca artesanal ao longo da costa brasileira, a dificuldade de monitorar este tipo de pesca, e uma grande variedade de nomes comuns que, na ausência de uma resolução taxonômica, são inseridos nos dados de desembarque, tornam impossível identificar quais estoques são efetivamente explorados, limitam o uso dos dados de captura de peixe e resultam em menos estudos pesqueiros. Palavras-chave: pesca marítima; pescadas; região costeira; estatística pesqueira

1.2. Introdução A produção mundial de pescado tem crescido de forma consistente nos últimos 50 anos, chegando a 158,0 milhões de toneladas em 2012, principalmente devido à expansão da aquicultura. Este padrão difere do volume produzido pela pesca marinha, onde a captura total estabilizou em 80,0 milhões de toneladas por ano entre 2007 e 2012 (FAO, 2014), mantendo valores semelhantes desde o final da década de 1980 (FAO, 2005). A produção pesqueira marinha compreende um complexo mosaico de diferentes níveis de exploração para as espécies comerciais. A avaliação de 441 estoques monoespecíficos ou grupo de espécies, com base em

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dados da pesca mundial entre 1974 a 2004, definiram que 52% dos estoques estão plenamente explorados, enquanto 20% são moderadamente explorados e 17% sobreexplotados (FAO, 2005). O estado da pesca mundial tem continuado a deteriorar-se e, em 2009, foi observado um aumento no número de estoques totalmente explotados (57,4%) ou esgotados (29,9%), bem como uma queda nos estoques moderadamente explotados (FAO, 2011). O agravamento do estado dos recursos pesqueiros mundiais, combinada com uma clara evidência de alterações na estrutura trófica dos ecossistemas explorados, é observado com base em mudanças nos desembarques pesqueiros (PAULY et al., 1998; FREIRE E PAULY, 2010). A reversão desse quadro requer uma visão holística da indústria pesqueira, a integração de dados de produção e a preservação desses ambientes e das populações de peixes nela inseridos (GARCIA et al., 2003). A abordagem ecossistêmica da gestão pesqueira tem sido considerada um modelo mais amplo para a governança do setor, apesar de enfrentar reveses na sua implementação (GARCIA et al., 2003;. PIKITCH et al., 2004; NGUYEN, 2012; PATRICK E LINK, 2015). A fim de implementar esta abordagem, os dados de desembarque devem ser refinados para o nível de espécie para possibilitar um quadro mais realista do total capturado de todas as espécies exploradas (PIKITCH et al., 2004; PAULY et al., 2014). A estatística pesqueira deve se estender também a avaliação dos estoques das espécies de menor valor econômico, comumente negligenciado em favor de espécies de maior valor, mas que respondem por mais de 99% dos estoques mundiais e mais de 80% do total de capturas (COSTELLO et al., 2012). Consequentemente, os dados de desembarques em nível específico são fundamentais para uma gestão pesqueira bem sucedida e a implementação do manejo ecossistêmica. A correlação entre os nomes comuns de peixes, originários do conhecimento popular, e o nome científico de uma espécie permite uma avaliação precisa dos estoques populacionais e facilita a comparação dos dados de captura com a literatura relevante disponível. FREIRE E PAULY (2005), em um estudo na costa brasileira, identificou uma correlação negativa entre a abundância de nomes comuns e a qualidade dos dados de desembarque, pois muitas espécies não são devidamente registradas. O problema é ainda maior quando a pesca artesanal é considerada, já que é caracterizada por uma produção altamente dispersa em vários desembarques isolados ao longo da costa, com o uso de uma grande variedade de artes de pesca e explora diversos estoques identificados por vários nomes comuns locais (VASCONCELLOS et al., 2007; PREVIERO et al., 2013).

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As espécies do gênero Cynoscion (Sciaenidae) são altamente valorizadas como fonte de alimento e são intensamente exploradas em toda a sua distribuição (CHAO, 2002b). Na costa brasileira, onde a maior riqueza do gênero no Atlântico Ocidental é encontrada, 13 espécies foram registradas sob um conjunto de nomes comuns: pescada e variações (FREIRE E PAULY, 2005), das quais oito pertencem ao gênero. As espécies de Cynoscion são conhecidas como goete, pescada, pescadinha, pescadinha-gó, pescada-amarela, pescada-branca, pescada- cambuçu, maria-mole, pescada-olhuda, pescadinha-real, pescada-perna-de-moça, pescada- cururuca, pescada-bicuda e pescada-dentão, com um alto grau de regionalismo e de mudanças ao longo do tempo, bem como os casos de homonímia com outros cianídeos e outras famílias (IBAMA, 2007; MPA, 2012). A distinção taxonômica das espécies de Sciaenidae foi estabelecida desde 1978, em grande parte, pelo esforço do Dr. Labbish Ning Chao (e.g. CHAO, 1978; CHAO, 2002a; CHAO, 2002b). As espécies de Cynoscion estão entre as maiores da família (CHAO, 2002b). Sua abundância em ambientes costeiros facilita o acesso de pescadores a esses estoques e aumenta a importância econômica de Cynoscion para a pesca de pequena e grande escala (CHAO, 2002b; MCEACHRAN E FECHHELM, 2005; NELSON et al., 2016). As espécies de Cynoscion são comumente encontradas no desembarque pesqueiro e muitas são de alto interesse econômico, tais como a pesca recreativa norte-americana de Cynoscion nebulosus (VANDERKOOY E MULLER, 2002; NMFS, 2015), a piscicultura experimental focada em C. steindachneri na Guiana (CHAO, 2002b) e a pesca comercial de C. guatucupa em águas brasileiras, uruguaias e argentinas (LUCENA E O'BRIEN, 2005; SABADIN et al., 2010; NORBIS E CALLI, 2013; CAZORLA et al., 2014). A pesca de Cynoscion difere na escala de produção e a importância relativa das espécies e seus métodos de captura. Estas disparidades específicas são desconhecidas, pois não há levantamento do estado de conhecimento de cada espécie, um passo necessário para identificar padrões e tendências nos estudos deste importante grupo de peixes, além de identificar as lacunas que podem prejudicar a correta gestão destas espécies. Enquanto C. nebulosus tem uma série temporal com desembarques que remontam a 1887 no Golfo do México e 1923 no Atlântico Noroeste (MERCER, 1984), a maioria das espécies do Atlântico sudoeste sofrem com o monitoramento falho, a falta de resolução taxonômica e grandes lacunas no conhecimento da biologia, ecologia e impactos humanos sobre elas. Neste contexto, foi realizada uma análise cientométrica dos estudos, das espécies do Atlântico ocidental, do gênero Cynoscion, com ênfase na produção de trabalhos de ciência pesqueira. A análise cientométrica é uma poderosa ferramenta para a identificação de padrões

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e tendências na literatura disponível. Ela permite a avaliação de mudanças na metodologia mais adequada para cada campo de estudo, temas, autoria e instituições, bem como a identificação de lacunas no conhecimento e áreas de estudo prioritárias (JARIC et al., 2012; ALVES E MINTE-VERA, 2013). A pesquisa busca identificar padrões relacionados aos temas abordados, às espécies pesquisadas e à importância pesqueira, além da metodologia, área de estudo, instituições e autoria desses estudos. A pesquisa também examina o uso dos dados de desembarque em trabalhos de ciência pesqueira e busca correlacionar com a resolução taxonômica presente nos dados de captura, com o intuito de identificar consequências ao conhecimento científico causadas pela falta de identificação correta das espécies exploradas. A pesquisa aborda dois casos distintos no tratamento taxonômico dos dados de captura, comparando o caso norte-americano, onde a associação entre espécies exploradas e os nomes comuns em uso já está estabelecida, com o exemplo brasileiro, onde a categoria pescadas inclui vários estoques multiespecíficos.

1.3. Metodologia Um estudo aprofundado foi realizado em duas plataformas científicas, Thomson Reuters (ISI) Web of Science e Scientific Electronic Library Online (SciELO), para avaliar a evolução da ciência pesqueira das 12 espécies de Cynoscion encontradas no Atlântico ocidental. A Web of Science é uma plataforma de pesquisa que inclui mais de 10.000 periódicos e é o mais antigo banco de dados mundial, abrangindo publicações nas áreas de tecnologia, ciência, medicina, entre outros, de 1945 até o presente (CHADEGANI et al., 2013). A plataforma consiste principalmente em periódicos de alto impacto, predominantemente no idioma inglês, com publicações na sua maioria a partir de 1990 (CHADEGANI et al., 2013). Tais revistas tendem a dar preferência a artigos com maior apelo a um público internacional, o que diminui a probabilidade de artigos regionais serem publicados (PAULY E STERGIOU, 2005; STERGIOU E TSIKLIRAS, 2006). Para reduzir esta influência e permitir a inclusão de estudos regionais, a plataforma SciELO, que abrange o trabalho científico de nove países da América Latina, foi incluído neste levantamento. A primeira pesquisa foi realizada na Web of Science para cada uma das 12 espécies válidas de Cynoscion do Atlântico Ocidental: Cynoscion acoupa (Lacépède, 1801), C. arenarius Ginsburg, 1930, C. guatucupa (Cuvier, 1830), C. jamaicensis (Vaillant e Bocourt, 1883), C. leiarchus (Cuvier, 1830), C. microlepidotus (Cuvier, 1830), C. nebulosus (Cuvier, 1830), C. nothus (Holbrook, 1848), C. regalis (Bloch e Schneider, 1801), C. similis Randall e

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Cervigón de 1968, C. steindachneri (Cuvier, 1829) e C. virescens (Cuvier, 1830). A pesquisa incluiu Cynoscion striatus (Cuvier, 1829), uma espécie válida até 1992. A espécie foi considerada nomen dubium, sendo C. guatucupa a identificação correta (FIGUEIREDO, 1992; CHAO, 2002a). Dessa forma, os seus resultados foram combinados aos da espécie válida. O levantamento incluiu estudos publicados entre 1945 e 17 de Outubro de 2015. A primeira pesquisa foi feita na Web of Science com os nomes científicos, entre aspas, no campo tópico e sem filtros. A segunda pesquisa na base de dados seguiu o mesmo procedimento, combinado com a inclusão de fishery AND fisheries como filtros. Os resultados de ambas as pesquisas foram exportados em um arquivo de formato compatível com o software Microsoft Excel 2013, contendo título, autoria, periódico e data de publicação. A busca na base de dados SciELO também foi realizada utilizando os nomes científicos de cada espécie entre aspas no campo de artigos de pesquisa. À medida que a busca resultou em poucos artigos, não foram utilizados filtros. Todos os manuscritos foram organizados em um banco de dados e, quando indisponível, foi utilizado seu resumo. Depois de uma cuidadosa avaliação, os artigos que apenas mencionavam espécies de Cynoscion, mas não incluiam informações relevantes foram excluídos. Depois de todos os artigos terem sido revisados, informações relevantes sobre uma espécie foram identificadas em manuscritos indicados para outras espécies, sem ter sido relacionado no resultado da primeira. O problema decorre das limitações do mecanismo de busca do banco de dados, onde a pesquisa para o termo escolhido é limitada às palavras no título, palavras-chave e resumos, sendo que estes últimos só estão disponíveis para as publicações de 1991 em diante (THOMSON REUTERS, 2009). Informações relevantes presentes no texto, mas ausentes nas áreas pesquisadas acabam omitidas nos resultados. Para uma imagem mais realista de todo o conjunto de informações disponíveis para cada espécie de Cynoscion, estudos com dados de mais de um taxon foram incluídos nos resultados de todas as espécies abordadas, mesmo que eles não estivessem listados em seus resultados. A tabulação dos estudos incluiu a autoria, periódico, plataforma científica, data de publicação, título, ecossistema, país de origem, principais temas (ecologia, biologia, pesca, taxonomia e poluição), área de estudo e espécies. Os artigos de ciência pesqueira foram examinados em maior detalhe, sendo classificadas por sub-tema (ecologia pesqueira, gestão, avaliação de estoque, sanidade do pescado, genética, economia pesqueira, aquicultura, ecologia humana, seletividade de petrechos, etnoconhecimento, capturas acessórias e impactos da pesca), além do período de coleta de dados. Os resultados para a ciência pesqueira de Cynoscion

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foram comparados com as estatísticas oficiais da pesca publicados pelas agências responsáveis nos Estados Unidos e Brasil e à resolução taxonômica encontrada nos dados de desembarque (ABDALLAH E SUMAILA, 2007; MPA, 2012; ESPINOSA-PÉREZ et al., 2013; NMFS, 2015). A comparação dos dois casos permite expor as diferenças na qualidade dos dados de captura de Cynoscion. Ambos os países foram escolhidos porque representam as maiores capturas de Cynoscion no Atlântico Ocidental, incluem todas as espécies em suas respectivas regiões costeiras e representam a maior parte da produção acadêmica para o gênero.

1.4. Resultados 1.4.1. Estado do conhecimento das espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental A pesquisa resultou em 724 estudos na base Web of Science e 33 para SciELO, dos quais 224 artigos da primeira plataforma e 15 da segunda foram excluídos por não incluírem dados originais para qualquer espécie de Cynoscion. Um total de 500 estudos foram associados com as 12 espécies do Atlântico Ocidental (482 para Web of Science e 18 para SciELO, excluindo sobreposições) (Tabela 1.4.1.1). A pesquisa resultou em 367 estudos voltados para as quatro espécies conhecidas das regiões costeiras do Atlântico noroeste e Golfo do México: , C. nebulosus, C. nothus e C. regalis. O primeiro estudo investigou o parasitismo em C. nebulosus (SAUNDERS, 1954), seguido de um estudo sobre a importância dos estuários como habitat para a mesma espécie (TABB, 1966). A maioria dos artigos publicados nas décadas de 1970 e 1980 foram dedicados à biologia de C. nebulosus e incluem um estudo experimental de aquicultura (FABLE et al., 1978). A partir de 1980, o volume da produção acadêmica se expande, mas a principal espécie estudada permaneceu Cynoscion nebulosus, seguida por C. regalis (Figura 1.4.1.1). Um total de 131 documentos envolveram sete espécies de Cynoscion com ocorrência nas Américas Central e do Sul e Caribe: Cynoscion acoupa, C. guatucupa, C. jamaicensis, C. leiarchus, C. microlepidotus, C. similis e C. virescens (Tabela 1.4.1.1). Os primeiros estudos foram publicados na década de 1960 e focaram nos temas pesca e ecologia na costa sul- americana. No primeiro, Richardson e Santos (1962) trataram da seletividade da malha de uma rede de arrasto típica, em uso pela frota de pesca, enquanto o segundo tratou da estrutura da população de Cynoscion petranus (= C. jamaicensis) (SANTOS, 1968), ambos baseados na produção pesqueira ao largo da costa de São Paulo (23º57'S, 46º19'W). Poucos estudos foram identificados para as décadas de 1970 e 1980 e foram restritos à biologia, especialmente sobre o parasitismo em Cynoscion (REGO et al., 1974; SARTOR,

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1986). A partir dos anos 1990, um aumento gradual, mas inconstante na produção científica é observado. Picos em publicações foram registrados em 1992, 1998, 2006 e 2011, seguido por um declínio ao longo dos anos seguintes. Um aumento nos estudos sobre os efeitos das atividades humanas sobre as populações de peixes foi observado nos últimos cinco anos (2011- 2015). A maior parte da literatura produzida para o Atlântico Sul se concentra na biologia, ecologia e pesca de Cynoscion guatucupa (48,9%) (Tabela 1.4.1.1 e Figura 1.4.1.1).

Tabela 1.4.1.1. Estudos para 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental encontrados nas plataformas científicas Web of Science e SciELO. Resultados Distribuição Web of SciELO Filtrados Ciência Science pesqueira América do Norte e Golfo do México Cynoscion arenarius EUA, México 54 3 51 5 Cynoscion nebulosus EUA, México 344 0 231 31 Cynoscion nothus EUA, México 12 0 17 3 Cynoscion regalis Canadá, EUA 198 0 125 12 Caribe e Américas Central e do Sul Cynoscion acoupa Panamá, Colômbia, 25 4 22 11 Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil, Uruguai, Argentina Cynoscion guatucupa Brasil, Uruguai, Argentina 50 17 87 11 Cynoscion jamaicensis Pequenas Antilhas, Porto 11 4 23 6 Rico, Jamaica, Panamá, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil, Uruguai, Argentina Cynoscion leiarchus Panamá, Colômbia, 18 4 23 5 Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil Cynoscion microlepidotus Venezuela, Guiana, 5 1 11 1 Suriname, Guiana Francesa, Brasil Cynoscion similis Venezuela, Guiana, 0 0 2 0 Suriname, Guiana Francesa, Brasil Cynoscion steindachneri Guiana, Suriname, Guiana 0 0 0 0 Francesa, Brasil Cynoscion virescens Panamá, Colômbia, 7 0 9 1 Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil

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Figura 1.4.1.1. Variação histórica da produção científica para 12 espécies de Cynoscion, do Atlântico Ocidental (n = 500).

A literatura para Cynoscion acoupa, C. jamaicensis e C. leiarchus mostrou valores intermediários de produção científica, com 12,4%, 12,9% e 12,9% de todos os estudos para o Atlântico Sul, respectivamente. Todos os três cianídeos representam as espécies mais amplamente distribuídas, e são encontradas desde a América Central, ao largo da costa do Panamá, até a Argentina e inclui parte das ilhas do Caribe, no caso de C. jamaicensis (CHAO, 2002b). Embora também distribuídos por uma grande área, C. microlepidotus (6,2%) e C. virescens (5,1%) tiveram uma parcela menor de estudos. As espécies Cynoscion similis e C. steindachneri foram as que apresentaram o menor número de artigos publicados, com dois estudos para a primeira e nenhum estudo encontrado para a segunda, tendo sua literatura restrita aos estudos taxonômicos para o gênero (CHAO, 1978; CHAO, 2002a; CHAO, 2002b). Embora poucos em número, apenas cinco artigos nas últimas décadas, os estudos taxonômicos têm se concentrado no uso da sistemática molecular para corroborar ou esclarecer lacunas não abordadas pela taxonomia clássica, com o objetivo de comparar espécies (LEVY E CASSANO, 1994) e a filogeografia de C. guatucupa (FERNÁNDEZ IRIARTE et al., 2011). Latitudinalmente, os artigos baseados em levantamentos biológicos mostraram uma produção científica focada no Atlântico Norte e Golfo do México (44ºN-24ºN), cobrindo a distribuição geográfica de C. regalis e a maior parte da área de ocorrência de C. arenarius, C. nebulosus e C. nothus (Figura 1.4.1.2). A produção científica para a espécie do Atlântico Sul

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está concentrada ao longo da costa sudeste do Brasil à costa argentina (21ºS-41ºS). A maior parte dos artigos foram produzidos nos Estados Unidos (354 estudos), seguido por Brasil (67) e Argentina (46) (Figura 1.4.1.3).

1.4.2. A ciência pesqueira de Cynoscion no Atlântico Ocidental Estudos de ciência pesqueira destinados a uma ou mais espécies de Cynoscion representaram 13,8% de todas as publicações encontradas (69 estudos). Ao todo 206 pesquisadores participaram dos estudos e foram ligados a 64 instituições, com os mais produtivos sendo o norte-americano National Marine Fisheries Service (NMFS ou NOAA Fisheries), o Texas Park and Wildlife Department (TPWD), a Universidade Federal do Pará, a Florida Fish and Wildlife Conservation Commission (FWC), e o Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET). Os principais periódicos utilizados pelos autores foram Fishery Bulletin (sete estudos), North American Journal of Fisheries Management (seis), Bulletin of Marine Science (cinco) e Boletim do Instituto de Pesca (três). A maioria dos estudos foi publicado por pesquisadores dos Estados Unidos (54,9%), seguidos pelo Brasil (30,9%) e Argentina (4,2%) (Figura 1.4.2.1), concentrados nas últimas duas décadas (Figura 1.4.2.2). Os principais temas discutidos foram a ecologia pesqueira, a gestão de recursos, a avaliação de estoques e a sanidade do pescado, o que representa 75% dos estudos de ciência pesqueira para Cynoscion (Figura 1.4.2.3). Os artigos de ciência pesqueira também foram avaliados pelo período de coletas de dados em que os estudos se baseiam. Um total de 47 artigos foi revisado e mais da metade das publicações (55,3%) foram baseadas em até três anos de pesquisas biológicas ou dados de desembarque pesqueiro (Figura 1.4.2.4). Apesar de ocorrer em menor número, todos os estudos baseados em uma série temporal de mais de seis anos usaram dados de captura de estoques considerados monoespecíficos. A mesma análise mostrou que, enquanto a participação dos EUA em ciência pesqueira foi dominante, representando 51,0% dos estudos de curto prazo (menos de três anos) e 63,6% dos de longo prazo, a contribuição brasileira representou 36,2% dos estudos de curto prazo, mas apenas 18,2% nos estudos com mais de seis anos de dados.

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Figura 1.4.1.2. Distribuição latitudinal de 393 estudos, com base em levantamentos biológicos, de 12 espécies de Cynoscion do Atlântico ocidental.

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Figura 1.4.1.3. Total de produção científica para 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental separados por país de origem (n=500).

Figura 1.4.2.1. Produção bibliográfica sobre estudos de ciência pesqueira de 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental, separados por país de origem (n = 69).

Figura 1.4.2.2. Produção anual de estudos de ciência pesqueira (1990-2015) para 12 espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental (n = 69).

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Figura 1.4.2.3. Produção bibliográfica sobre a ciência pesqueira das 12 espécies do Atlântico ocidental de Cynoscion, separados por sub-temas (número de estudos em parênteses) (n=69).

Figura 1.4.2.4. Extensão da série de dados utilizados em estudos de ciência pesqueira de 12 espécies de Cynoscion do Atlântico ocidental, composta ou não por dados oficiais de desembarque pesqueiro em nível de espécie (n=47).

1.5. Discussão 1.5.1. Estado do conhecimento das espécies de Cynoscion do Atlântico Ocidental A espécie de Cynoscion mais recorrente na literatura científica foi C. nebulosus, foco de mais de 38% de todos os estudos. A espécie não tem participação considerável na pesca comercial da América do Norte, mas é um dos principais peixes esportivos explorados pela pesca recreativa, que responde por mais de 90% de sua produção, com 7.000 toneladas capturadas em 2013 (NMFS, 2015). Já Cynoscion regalis foi a segunda espécie mais estudada apesar de sua produção comercial menor, de menos de 250 toneladas, no entanto ele é capturado pelas pescarias pescarias comercial e recreativa norte-americanas, com uma produção em maior escala no passado (NMFS, 2015). Um quadro semelhante a C. nebulosus foi observado para C. arenarius, mas em escala menor e, mesmo tendo uma literatura menos vasta que a encontrada nas duas principais espécies comerciais da região, C. arenarius apresentou mais estudos do que qualquer outra espécie do Atlântico Central e do Sul, exceto por C. guatucupa. O ranking de publicações científicas para estas três espécies do Atlântico norte foi idêntico ao posto que elas ocupam na produção pesqueira de Cynoscion da região, com a espécie mais capturada, C. nebulosus, sendo também a mais estudada. Este padrão era esperado, porque o alto investimento necessário para uma gestão bem sucedida da pesca e o financiamento da produção científica só

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se justificam quando aplicados a espécies de maior valor econômico (MAHON, 1997). Nesse sentido, C. nothus é a espécie menos conhecida e uma espécie comercial de pouca importância. A principal espécie estudada no Atlântico sudoeste foi Cynoscion guatucupa, com 14,5% de todos os estudos e 49,4% dos estudos para essa região. Apesar da distribuição geográfica restrita à costa sudeste do Brasil até as águas argentinas, a espécie tem um interesse pesqueiro considerável, para as pescas industrial e artesanal (MIRANDA E HAIMOVICI, 2007; CAZORLA et al., 2014). Este interesse, como esperado, promoveu um maior esforço de pesquisa para a espécie. Além disso, C. guatucupa é o único Cynoscion reconhecido como recurso nos desembarques de peixes da Argentina e do Uruguai, o que facilita o uso dos dados de captura para a espécie (DEFEO et al., 2011; CAZORLA et al., 2014). Em contraste com a presença exclusiva de C. guatucupa na pesca comercial de Cynoscion da Argentina e Uruguai, o que explicaria a razão de todos os estudos destes países terem sido direcionados a esta espécie (i.e. DEFEO et al., 2011; CAZORLA et al., 2014), a produção brasileira é composta de um maior número de espécies de Cynoscion, com pelo menos seis. Embora C. acoupa responda pela maior parte da produção de Cynoscion na produção pesqueira brasileira, as contribuições científicas nacionais se concentraram em C. guatucupa. Isto pode ser atribuído ao fato de que essa espécie é facilmente identificada, com um padrão de cor único, e, consequentemente, facilita a sua separação em dados de captura específicos. As espécies C. acoupa, C. leiarchus e C. jamaicensis são as mais amplamente distribuídas do gênero, com distribuição desde a América Central (Panamá) até a costa sul da América do Sul, incluindo, no caso de C. jamaicensis, as ilhas do Caribe. Como os estudos estão concentrados principalmente entre 21ºS-41ºS, e principalmente destinados a C. guatucupa, uma grande parte da costa (10ºN-21ºS) é, atualmente, pouco explorada. Esta vasta região se estende sobre a maior parte da área de distribuição geográfica de C. acoupa, C. leiarchus e C. jamaicensis, indicando uma lacuna no estado do conhecimento dessas espécies e a necessidade de estudos, entre 10ºN-21ºS. Apesar da espécie de maior porte C. acoupa poder ser identificada mais facilmente (pelo menos quando adulta), C. jamaicensis e C. leiarchus são mais difíceis de distinguir e podem ser incluídas em mais de uma categoria de pescado. Estas diferenças explicam por que a maioria dos poucos estudos encontrados nesta região são destinados à pesca e ecologia de C. acoupa, especialmente ao longo da costa do Pará, estado brasileiro com o maior volume de pesca para a espécie (BARLETTA-BERGAN et al., 2002; VINSON et al., 2004; BARLETTA et al., 2005; IBAMA, 2007; ISAAC et al., 2009; MOURÃO et al., 2009). Maior atenção deve ser dada também a C. similis e C. steindachneri. A área

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inexplorada entre 10ºN-21ºS abrange toda a área de distribuição para ambas as espécies (Figura 1.4.1.2). Enquanto C. similis, descrita apenas em 1968, não é atraente para a pesca embora de tamanho similar a outros membros de Cynoscion (CHAO, 2002b), C. steindachneri é explorada comercialmente ao longo da costa e é conhecida pela comunidade científica desde 1889. A produção recente de estudos que visam analisar os impactos antrópicos e efeitos da poluição podem estar relacionadas a vários fatores. A variedade de fontes e diferenças na intensidade do impacto, a diversidade dos ecossistemas envolvidos e a história da ocupação e atividades humanas, fazem com que cada ambiente seja um caso único, exigindo uma maior compreensão de todos esses fatores antes do estudo de impacto em si. Dos doze artigos identificados para o tema de impactos antropogênicos no Atlântico Sul, cinco lidam com populações em ambientes estuarinos, não só pela importância desses ambientes para reprodução, mas também devido ao seu valor para a ocupação humana, sendo mais expostas a degradação ambiental (FROEHNER et al., 2011; CARNEIRO et al., 2013). Além disso, um maior interesse público e cobertura da mídia aumentam a demanda por este tópico, especialmente após grandes catástrofes (HANSEN, 2011). Isso pode ser observado nos estudos publicados após a explosão e derramamento de óleo da plataforma petrolífera Deepwater Horizon no Golfo do México em abril de 2010. Xia et al. (2012) investigaram a contaminação por hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) em C. nebulosus e C. arenarius ao largo da costa do Mississipi. Fodrie e Heck Jr. (2011) avaliaram o comportamento de C. nebulosus em resposta à contaminação do derramamento de óleo do mesmo acidente e concluíram que a espécie possuía um baixo risco de exposição. Metade dos 36 artigos abordam os efeitos da contaminação por metais pesados, com especial atenção para o mercúrio, sobre as espécies tanto do Atlântico Norte (BURGER E GOCHFELD, 2011) quanto do Atlântico Sul (MOL et al., 2001; VIANA et al., 2005). Estudos relacionados com a biologia de Cynoscion, assim como a ciência pesqueira e ecologia, têm sido facilitados pelo desenvolvimento de ferramentas taxonômicas confiáveis (i.e. CHAO, 1978). Uma extensa revisão taxonômica para Sciaenidae foi publicado por Chao (1978), no qual ele listou 57 espécies de 21 gêneros para o Atlântico Ocidental. Além de uma descrição detalhada de todas as espécies, com base na morfologia interna e externa, o autor fornecia caracteres diagnósticos e uma chave taxonômica que tem sido a base para todos os estudos subsequentes (i.e. MENEZES E FIGUEIREDO, 1980; CHAO, 2002b). Das 12 espécies no Atlântico ocidental, dez foram descritas no século XIX e apenas duas no século XX, com Cynoscion similis sendo a mais recente. A ausência de espécies recém-descritas poderia

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significar que a costa atlântica ocidental das Américas foi totalmente explorada, com todos os ecossistemas devidamente avaliados. Esta ideia pode ser facilmente descartada quando a lacuna identificada do conhecimento entre 10ºN-21ºS abre a possibilidade de que novas espécies ainda possam surgir, como observado recentemente por Chao et al. (2015). A costa do Pacífico Oriental das Américas pode fornecer uma visão sobre o status taxonômico de Cynoscion, uma vez que envolve um quadro semelhante ao visto para o Atlântico Ocidental. Com também 12 espécies identificadas, oito foram descritas no século XIX e uma em 1976. No entanto, Béarez (2001) descreveu uma nova espécie ao largo da costa do Equador, Cynoscion nortoni. O caso é de especial interesse porque não só fornece a descrição de uma nova espécie, mas foi baseada em peixes comercializados a partir das pescarias locais (BÉAREZ, 2001). Um caso semelhante foi observado no Atlântico Ocidental para o gênero Macrodon, taxon relacionado a Cynoscion (SASAKI, 1989). Até 2010, apenas uma espécie, Macrodon ancylodon, era reconhecida para o Atlântico sudoeste. Num estudo de diferenciação genética entre populações de Sciaenidae com base na análise do ADN mitocondrial, Santos et al. (2003) identificou dois grupos geneticamente separados dentro M. ancylodon, com uma indicação clara de espécies distintas. A separação espacial entre as populações tropicais e subtropicais, e a ausência do fluxo gênico foram descritas num segundo estudo (SANTOS et al., 2006). Finalmente, um estudo taxonômico foi publicado por Carvalho-Filho et al. (2010) em que se confirmou a presença de diferenças morfológicas entre as populações tropicais e subtropicais, com este último associado a Macrodon atricauda, originalmente descrito por Günther (1880) e considerada um sinônimo de M. ancylodon em Chao (1978). O estado de conservação é avaliado a partir da literatura disponível para a espécie para indicar se o taxon ocorre no ambiente e quão provável é sua extinção no futuro. A Lista Vermelha de espécies ameaçadas é mantida pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e é reconhecida como a lista mais objetiva e qualificada de espécies ameaçadas (BUTCHART et al., 2006). Nesta lista, todas as espécies de Cynoscion foram classificadas como pouco preocupantes (IUCN, 2015). Em um artigo recente sobre a conservação das espécies de Sciaenidae da costa brasileira, Chao et al. (2015) observaram a necessidade de atenção especial para C. acoupa de ser re-avaliada como quase ameaçada. Conclusão similar foi alcançada por Rodrigues et al. (2008) com base nos baixos níveis de variabilidade genética observados para a espécie no norte do Brasil, considerando-se urgente a necessidade de um monitoramento cuidadoso da sua pesca. Em outras palavras, a natureza

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multiespecífica de muitas categorias comerciais de Cynoscion engloba espécies em diferentes níveis de ameaça, o que prejudica o desenvolvimento de estratégias de conservação.

1.5.2. A ciência da pesca de Cynoscion no Atlântico Ocidental Os estudos de ciência pesqueira em Cynoscion manteve o padrão observado para a literatura científica para o gênero, com alguns pontos que merecem ser sublinhados. A literatura consiste principalmente de publicações norte-americanas e brasileiras que juntas respondem por 85,9% dos estudos. Enquanto a maioria da literatura aborda aspectos biológicos e ecológicos, principalmente a partir da década de 1950 até a de 1990, a ciência pesqueira é, em sua maior parte, mais recente, a partir de 1990. A produção da pesca comercial de Cynoscion ao largo da costa da América do Norte tem uma baixa contribuição para a captura total na última década, com um claro declínio na sua participação, com variação de 0,17% em 2001 para 0,01% do total de desembarques de pescado em 2011 (NMFS, 2002; NMFS, 2012). Em oposição, dada a importância da pesca recreativa para a produção total de Cynoscion no Atlântico Norte, alguns dos estudos foram dedicados especificamente para este tipo de pesca, tais como a sobrevivência de C. nebulosus a pescaria do tipo "pesque e solte" (JAMES et al., 2007 ) ou o estado das espécies exóticos esportivas (HOWELLS E GARRETT, 1992). Os dados de captura em nível específico ao longo da costa norte-americana facilita a geração de dados úteis para a investigação científica e permite a definição das espécies prioritárias para estudos futuros. Este fato ajuda a compreender a predominância dos Estados Unidos na produção acadêmica para o gênero. Para tanto a ciência pesqueira como o restante da literatura disponível, as principais espécies estudadas no Atlântico Norte corresponderam à importância econômica das mesmas para a pesca regional. As espécies de Cynoscion possuem maior importância para a pesca brasileira e responderam por 6,5%-8,4% da produção pesqueira local entre 2001 e 2011 (IBAMA, 2003; MPA, 2012). A produção científica local, no entanto, não encontrou correspondência com os desembarques anuais para cada espécie, onde o principal Cynoscion explorado, C. acoupa (58,1% do total desembarcado), representou apenas 12,4% dos estudos para o Atlântico Sul, em contraste com a espécie mais estudada, C. guatucupa. A diferença entre o número de publicações para as espécies do Atlântico Norte e Sul, sugere uma falta de dados de produção confiáveis na pesca brasileira, restringindo o uso desta fonte de informação, para as espécies que são mais facilmente identificáveis, como C. guatucupa.

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A análise da ciência pesqueira de Cynoscion revelou que entre as principais organizações responsáveis pela produção bibliográfica estiveram as instituições públicas responsáveis pela gestão dos recursos da pesca. Estes podem ser em nível federal, como o National Marine Fisheries Service, dos EUA, ou a nível estadual, como o Parks and Wildlife Department do Texas e Fish and Wildlife Conservation Commission, da Florida. Essas instituições coordenam o registro de dados de desembarque pesqueiro. A presença de séries temporais longas, que podem se estender até a década de 1940 no caso da pesca comercial da costa atlântica dos EUA (RYAN et al., 2001), permite uma compreensão mais ampla dos padrões espaciais e sazonais de cada espécie (MCDONALD et al., 2009). Além de apoiar estudos mais aprofundados, como modelagem de dados (SCHIRRIPA E GOODYEAR, 1994), tais informações melhoram a eficácia das estratégias de gestão, o que pode ser verificado pelas capturas de peixe (WARNER et al., 2004; BOHNSACK, 2011), a identificação das capturas acessórias e o esforço de pesca (STALLINGS et al., 2014). Os estudos de ciência pesqueira de Cynoscion são direcionados principalmente para a ecologia pesqueira, abordando a biologia populacional e comunidades exploradas. Por esta razão, os estudos dependem de levantamentos biológicos para identificar padrões específicos, o que justifica que mais da metade dos estudos de ecologia pesqueira tenham sido fundamentados, ou pelo menos auxiliados, por dados de estatística pesqueira para estoques monoespecíficos. Como exemplo, Miranda e Haimovici (2007) estudaram a estrutura da população, crescimento e mortalidade de C. guatucupa, com base em dados oficiais de desembarque de 1976 a 2002 e sugeriu a possibilidade de sobre-explotação dessa espécie. Estudos publicados sobre a avaliação de estoque foram predominantemente focados nas espécies do Atlântico Norte, com apenas dois artigos produzidos para o Atlântico Sul, ambos para C. guatucupa; estes artigos descreveram a discriminação das unidades populacionais através da especificidade de parasitas (TIMI et al., 2005) e o colapso do estoque encontrado em Bahía Blanca, Argentina (CAZORLA et al., 2014). A abordagem ecossistêmica da gestão pesqueira exige informações sobre a captura acessória associada a pesca de Cynoscion. O presente estudo identificou seis artigos voltados para a pesca de camarão do Atlântico Norte, relacionados ao gênero estudado. Em contraste, apenas um artigo foi identificado para o Atlântico Sul. Rodrigues-Filho et al. (2015) descreveram a variação sazonal das capturas acessórias da pesca de camarão no litoral sul do Brasil, classificando Cynoscion guatucupa como a mais abundante de 53 espécies identificadas. Relevantes para esta questão, Vianna e Almeida (2005) já haviam observado a presença de C.

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jamaicensis, C. leiarchus, C. guatucupa e C. microlepidotus como parte da captura acidental de camarão no sudeste do Brasil. Como o artigo não mencionou a presença de Cynoscion no título, palavras-chave ou resumo, o estudo não foi listado entre os resultados do Web of Science e SciELO. Esta complicação foi encontrada nos resultados da pesquisa e indica que artigos relevantes incluídos nos bancos de dados podem ter sido omitidos, devido às limitações do mecanismo de busca. O conhecimento produzido a partir de séries temporais específicas permite uma gestão mais eficiente dos recursos explorados (MCBRIDE, 2014). No Atlântico Sul, o uruguaio Dirección Nacional de Recursos Aquáticos (DINARA) cumpre a mesma função que o argentino Instituto Nacional de Investigación y Desarollo Pesquero (INIDEP) e ambos produziram estudos com base em dados oficiais de captura. Os estudos foram baseados em séries temporais para Cynoscion guatucupa (LLOMPART et al, 2012;. NORBIS E GALLI, 2013), a única espécie do gênero comercialmente importantes para esses países. A série temporal que apoiou esses estudos só pôde ser construída porque o recurso é monitorado no nível de espécie. A comparação entre o intervalo das séries de dados em que os estudos de ciência pesqueira se basearam evidenciou dois padrões claros. Enquanto a maioria dos artigos para Cynoscion corresponderam a estudos de curto prazo, até três anos de dados, artigos baseados em séries de dados mais longas foram necessariamente auxiliados por informações de desembarques monitorados pelos órgãos oficiais. Além disso, as maiores contribuições para a ciência pesqueira vieram de agências oficiais, responsáveis pelo recolhimento e análise dos dados de captura. Todos os estudos com uma série temporal superior a seis anos foram dependentes de dados de captura em nível específico, como visto em C. guatucupa (MIRANDA E HAIMOVICI, 2007), C. nebulosus (BOHNSACK, 2011) e C. regalis (JIAO et al., 2012). Embora os padrões possam facilmente ser creditados às diferenças econômicas entre as duas regiões, com a América do Norte desenvolvida e uma ainda pouco desenvolvida América Latina, esta conclusão simplifica uma história complexa e limita a análise de estratégias que, com adaptações, podem resolver os problemas encontrados na pesca de Cynoscion. As diferenças entre a produção científica americana e brasileira, bem como entre as espécies de Cynoscion, não se limitam à disparidade dos recursos alocados à pesquisa e o seu manejo. Um ponto fundamental é a organização do sistema de registro dos dados de captura a nível específico. A resolução taxonômica gera séries temporais confiáveis para cada espécie explorada, sendo de extrema importância para estudos de longo prazo em uma gama de tópicos, como ecologia pesqueira, gestão e avaliação de estoques, bem como identificar quais as

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espécies exigem mais atenção da comunidade científica. Esta tendência já era esperada e pode ser vista na pesca do Atlântico Norte, onde as espécies mais conhecidas coincidem com as de maior importância econômica (MAHON, 1997; NMFS, 2015). Esta tendência também significou que uma espécie de baixo interesse comercial foi pouco abordada como objeto de estudo, já que C. nothus foi explorada em apenas 17 trabalhos. A demanda por resolução taxonômica para as espécies do Atlântico Norte resultou na formação da Comissão dos Nomes Comuns e Científicos (Committee on Common and Scientific Names) em 1933, com o objetivo de padronizar os nomes comuns utilizados pelos pescadores, poder público e acadêmicos. O resultado foi publicado em 1948 (CHUTE et al., 1948), uma lista de 570 espécies associadas a apenas um nome comum específico, sendo revista e ampliada ao longo do tempo. A estatística pesqueira dos Estados Unidos manteve o padrão específico de nomenclatura desde a primeira versão de 1948, permitindo a geração de séries longas de desembarque de pescado, o que se refletiu na produção acadêmica. A produção pesqueira no Brasil indica C. acoupa como a principal espécie explorada, seguido por C. guatucupa e C. jamaicensis, e C. leiarchus e C. virescens com capturas menores (MPA, 2012). Além disso, C. similis e C. steindachneri não são monitorados separadamente. No entanto, atrás apenas de C. acoupa, um estoque multiespecífico é registrado como pescada e tentativamente identificado como Cynoscion spp. e Macrodon spp. (MPA, 2012; CHAO et al, 2015). A produção científica para as espécies do Atlântico Sul, especialmente dentro da área de ciência pesqueira, foi composta em sua maioria por estudos sobre C. guatucupa e foi marcado por uma escassez de informações para as outras sete espécies na região. Nesse sentido, a produção científica baixa quando comparada a C. nebulosus e a raridade de dados de 10ºN- 21ºS poderia ser revertida se uma abordagem específica fosse aplicada a estatística pesqueira. Qualquer abordagem deve também ter em conta a considerável importância da pesca artesanal, não só para a pesca marinha brasileira, mas como uma característica comum a outros países tropicais e em desenvolvimento, sustentada pela exploração de uma diversidade maior de espécies, mas com estoques reduzidos (MAHON, 1997; MPA, 2012; CHAO et al., 2015). Os desembarques da pesca artesanal são geralmente dispersos ao longo da costa, não necessariamente integrados aos grandes centros de consumo e, em muitos casos, o pescado é consumido localmente. O isolamento dessas comunidades dificulta a avaliação da produção local por órgãos públicos ao mesmo tempo que facilita o desenvolvimento de uma cultura local, que multiplica a quantidade de nomes comuns aplicados à pesca (PREVIERO et al., 2013). Semelhante ao exemplo brasileiro, a estatística pesqueira mexicana compartilha a falta de

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resolução taxonômica, embora C. nebulosus, C. nothus e C. arenarius tenham distribuição no Golfo do México e possuam importância para as pescarias locais (AYALA-PÉREZ et al., 1998; AYALA-PÉREZ et al., 2003; CAMILO-ALEJANDRO et al., 2014). No caso dos Estados Unidos, estabelecer uma linha de comunicação entre pesquisadores, gestores e pescadores foi ajudado pelo fato de que a produção é resultado principalmente da pesca industrial, o que permitiu a resolução taxonômica e uma padronização nomenclatural específica ser implementada e utilizada pelos setores público e privado desde 1948. Consequentemente, séries temporais longas estão disponíveis para estudos científicos, especialmente de ciência pesqueira, o que se refletiu no elevado número de artigos para Cynoscion nebulosus e C. regalis. Embora a presença ostensiva da pesca artesanal gere um obstáculo considerável para o recolhimento de dados de desembarques no Brasil, a resolução taxonômica é facilmente resolvida, sendo dependente apenas da correta identificação das espécies exploradas ao longo da costa e no desenvolvimento de guias de campo para assegurar a determinação. O uso de guias de campo pode ser um passo fundamental para capacitar coletores de dados a informar corretamente as espécies de Cynoscion sendo desembarcadas. Fischer (2013) enumera como vantagens para o uso de guias de campo com base em chaves dicotômicas o baixo custo para tornar a ferramenta disponível para usuários qualificados ou não, a facilidade de uso e a possibilidade de melhoria contínua, sendo modificado de acordo com as exigências dos gestores da pesca. Estas características permitiriam melhorar muito a qualidade dos dados de captura de países tropicais da América Latina, como o Brasil, onde a pesca artesanal desempenha um papel socioeconómico importante e é responsável por uma captura anual considerável. A análise cientométrica já demonstrou a utilidade dos dados de captura em estudos sobre as espécies exploradas, bem como indicou que estudos de longo prazo só foram possíveis com o uso desses dados oficiais.

1.5.3. Estratégias para geração de dados de produção pesqueira específicos Embora a análise exponha a necessidade de estatísticas com caracterização precisa das espécies desembarcadas, alcançar este nível é uma discussão complexa, que depende de uma combinação de esforços acadêmicos, políticos e governamentais. Para auxiliar o debate, Fischer (2013) avaliou diversas ferramentas de identificação de espécies comparando-as a sua aplicabilidade na pesca (i.e. taxonomista in situ, coleção de referência local, sistema de reconhecimento por imagem, guias de campo com base em chaves dicotômicas, otólitos,

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genética, etc.). Apesar da promessa que ferramentas de identificação portáteis baseadas em morfometria e genética representam para o futuro, os desafios causados pela escassez de dados científicos e de produção pesqueira confiável para a maioria das espécies de Cynoscion de uma extensa região (10ºN-21ºS), tornam imperativo o desenvolvimento de estratégias capazes de avaliar tanto a pesca industrial como artesanal em nível de espécie. A utilização de uma região padronizada do DNA para verificar a identidade da espécie foi demonstrado ser vantajoso, especialmente quando as características morfológicas dos peixes deixam de estar disponíveis. O uso de DNA Barcoding foi elogiado por sua padronização metodológica, com base em sequências da região CO1 de DNA mitocondrial para peixe, e uma biblioteca de referência pública global que permite o acesso e aplicação em uma ampla gama de estudos (TELETCHEA, 2010; FISCHER, 2013). Sua utilidade para a ciência pesqueira, taxonomia integrativa e segurança alimentar tem sido o foco de vários estudos ao longo da costa atlântica das Américas (i.e. YANCI et al., 2008; WONG E HANNER, 2008; WEIGT et al., 2012; MABRAGAÑA et al., 2011; BRITO et al., 2015; CARVALHO et al., 2015). Estudos baseados em DNA barcoding podem ser aplicados em toda a cadeia produtiva da pesca, dos produtores aos consumidores, e a literatura já mostra o sucesso desta abordagem em casos de autenticação de frutos do mar (YANCI et al., 2008; BRITO et al., 2015; KHAKSAR et al., 2015). No entanto, o método requer acesso a centros de sequenciamento públicos e privados (FISCHER, 2013), bem como uma agência de controle da pesca eficiente, capaz de coordenar os esforços de um grande número de inspetores e de amostragem. Apesar da redução dos custos de sequenciamento (OGDEN, 2008; FISCHER, 2013), a quantidade de amostras analisadas pode representar um aumento de despesa apenas justificável para as pescarias industriais mais rentáveis, predominantes nas regiões onde os estudos já estão concentrados. Por exemplo, Stein et al. (2014) estimaram que os custos de identificação genética foram de 1,7 a 3,4 vezes mais caros do que a taxonomia tradicional, à base de morfologia, em avaliações biológicas dulcícolas nos Estados Unidos. Em contraste, as comunidades de pesca artesanal podem ser caracterizadas por seus baixos níveis de capital envolvido, volume de produção local e poder político, com a sua dispersão e isolamento sendo uma dificuldade adicional para superar (MCGOODWIN, 2001). Este é um aspecto importante na compreensão da falta de atenção governamental para este tipo de pesca (BÉNÉ, 2006). Os custos mais acessíveis e a disponibilidade de centros de sequenciamento favorecem a adoção de DNA Barcoding para inspecionar as pescarias industriais, como já demonstrado

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por Yanci et al. (2008) e Carvalho et al. (2015). No entanto, as dificuldades descritas para a pesca artesanal distanciam o uso de DNA barcoding no levantamento da pesca artesanal, já que dependente de novos dados científicos, do interesse público, do financiamento adequado e de uma série de adaptações institucionais para tornar a sua utilização viável a longo prazo. O uso da taxonomia tradicional baseado em morfologia oferece uma utilização mais imediata e contorna a maioria dos obstáculos descritos, uma vez que depende apenas de adaptar o conhecimento taxonômico existente em ferramentas a serem usadas pelos controladores de desembarque. Esta abordagem em nível de espécie seria uma grande melhoria para o monitoramento da pesca artesanal e industrial, gerando dados mais consistentes de estatística pesqueira e ampliando o conhecimento da dinâmica populacional das comunidades de peixes tropicais, além de não excluir o uso de DNA barcoding no futuro. Por fim, enquanto a inter-relação entre os dados de captura em nível de espécie e o estado do conhecimento das espécies Cynoscion é esperada e esta refletida nos resultados, a extensão da escassez de informação para a maioria das espécies foi surpreendente, bem como a concentração de estudos em duas áreas separadas por um imenso vazio, entre 10ºN e 21ºS, onde não só a sua participação na pesca local é em grande parte desconhecida, como as próprias espécies de Cynoscion são pouco conhecidas. Esta região abrange oito países mais as ilhas do Caribe e se estende por quatro Grandes Ecossistemas Marinhos (Mar do Caribe, Plataforma Norte do Brasil, Plataforma Leste do Brasil e Plataforma Sul do Brasil), com numerosos centros urbanos ao longo da costa e da presença considerável da atividade pesqueira (SALAS et al., 2011). Este cenário enfatiza a necessidade de adaptar as instituições governamentais para obtenção de dados de captura em nível específico, a fim de produzir estatísticas e estudos mais confiáveis que revertam esse quadro.

1.6. Conclusões

O levantamento apontou uma ampla concentração dos estudos para as espécies no Atlântico Norte, ao longo da costa dos Estados Unidos, principalmente para duas espécies de especial interesse pesqueiro: Cynoscion nebulosus e C. regalis. O resultado expôs uma escassez de estudos para as demais espécies e o restante da costa atlântica das Américas. A lacuna do conhecimento é ainda mais expressiva para as regiões costeiras tropicais, onde a pesca artesanal possui considerável participação. As agências públicas responsáveis pelo monitoramento da pesca contribuíram para a ampliação do conhecimento das espécies do Atlântico Norte, seja

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através de autores associados a elas, seja pela disponibilização de séries temporais específicas de produção pesqueira para análise pela comunidade científica. Além disso, estes dados foram essenciais para estudos de longa duração. Em oposição, a incapacidade em estabalecer um monitoramento específico da produção pesqueira brasileira, tanto para a pesca industrial quanto artesanal, limita o uso dos dados de coleta em estudos acadêmicos, bem como interfere na qualidade da estatística pesqueira nacional. O quadro é ainda pior quando associado à falta de dados para grande parte da costa brasileira. Apesar de vários métodos de identificação disponíveis, as limitações de custeio e infra-estrutura disponível restringem a viabilidade do seu uso no longo prazo. O uso de guias de campo se mostra o mais viável, baseado na facilidade de sua elaboração e revisão e na capacitação dos monitores.

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CAPÍTULO II

Análise cientométrica da ciência pesqueira das espécies de Paralichthys (Paralichthyidae: Pleuronectiformes) do Atlântico Ocidental

2.1. Resumo Espécies de linguados do gênero Paralichthys representam importantes recursos para a pesca artesanal, industrial e aquacultura. Uma análise cientométrica foi realizado sobre a literatura disponível para 11 espécies de Paralichthys com distribuição no Atlântico Ocidental em duas plataformas científicas, ISI Web of Science e Scielo, com ênfase nos documentos relacionados a ciência pesqueira. Foram identificados 414 artigos com predominância de duas espécies, ambas restritas do Canadá ao EUA, Paralichthys dentatus (46,1% dos estudos) e P. lethostigma (32,1%). A terceira espécie mais estudada e encontrada no Atlântico Sul foi P. orbignyanus (11,7%), restrita ao Brasil, Uruguai e Argentina. Os estudos de ciência pesqueira responderam por 20% (81 artigos) originários principalmente dos EUA, com 84% da literatura produzida, seguido pela Argentina (8,6%) e Brasil (2,5%), com apenas dois artigos. A predominância de artigos voltados para a aquicultura de Paralichthys superou qualquer outra área de estudo e foi orientado às espécies de maior interesse econômico. A literatura aponta para a aquicultura como o principal fomentador das pesquisas para o gênero, em especial nas últimas três décadas, com a perspectiva da produção comercial aquícola ou do repovoamento de estoques de P. dentatus, P. lethostigma e P. orbignyanus se sobrepondo ao interesse na produção extrativa dessas espécies. Palavras-chave: pesca marinha; linguados; estatística pesqueira; cientometria

2.2. Introdução Os linguados são reconhecidos facilmente pela assimetria bilateral presente em juvenis e adultos com a presença dos olhos num mesmo lado do corpo, após um complexo processo de migração cranial na fase larval (MUNROE, 2005). Constituem uma ordem de de grande interesse acadêmico, seja pela importância ecológica, ocupando diversos nichos em ambientes marinhos, estuarinos e dulcícolas, seja pelo interesse pesqueiro, já que algumas espécies de maior porte possuem populações suficientemente grandes para constituírem recursos pesqueiros de importância (MUNROE, 2005; NELSON et al., 2016). Principalmente da família Paralichthyidae que é composta por 111 espécies demersais, em 14 gêneros,

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distribuídas em águas marinhas e salobras associados a substratos inconsolidados (NELSON et al., 2016). Enquanto muitas espécies dessa família, apesar de capturadas em diversas artes de pesca, são pequenas e sem importância comercial, as do gênero Paralichthys representam importantes recursos para a pesca artesanal e industrial. O gênero é predominantemente restrito às costas pacífica e atlântica do continente americano, com exceção de Paralichthys olivaceus (TEMMINCK E SCHLEGEL, 1846), espécie que habita o Pacífico Ocidental e de grande importância pesqueira para a produção japonesa. Das 18 espécies reconhecidas para as Américas, sete são descritas para o Pacífico, enquanto as 11 restantes se distribuem ao longo da costa do Atlântico. A pesca de linguados está incluída na produção da frota de arrasto de fundo, a pescaria comercial mais rentável para o Canadá e EUA (MILLNER et al., 2005; FUS, 2015). A rentabilidade de linguados atingiu picos de US$ 54,9 milhões no Canadá e US$ 116 milhões no EUA em 1987, vindo a declinar nos anos seguintes, no entanto, os valores não incluem a importância da ordem para a pesca recreativa, onde a economia gerada nos EUA com a captura de Paralichthys dentatus e P. lethostigma movimentou US$ 196 milhões em 1990, mais que o dobro da pesca comercial de linguados no mesmo período (MILLNER et al., 2005). A produção pesqueira global tem crescido nos últimos 50 anos, alcançando 158 milhões de toneladas, em 2012, em grande parte devido a expansão da aquicultura. No entanto, o volume produzido pela pesca extrativa marinha estabilizou num patamar de captura média de 80 milhões de toneladas anuais, entre 2007 e 2012 (FAO, 2014), mantendo valores similares desde o final da década de 1980 (FAO, 2005). A produção pesqueira marinha também encobre um quadro complexo do estado de explotação das espécies capturadas. A avaliação de 441 estoques ou agrupamento de espécies, com base em dados da pesca mundial, de 1974 a 2004, indicou 52% destes em estado de explotação plena, 20% moderadamente explotados e 17% já sobreexplotados (FAO, 2005). O panorama da pesca continuou a deteriorar e já em 2009 foi possível observar o aumento da quantidade de estoques plenamente explotados e sobreexplotados (57,4% e 29,9%, respectivamente), bem como a queda dos estoques com explotação moderada (FAO, 2011). O agravamento do estado de explotação dos estoques globais, combinados com evidências claras de alterações na estrutura trófica dos ecossistemas explorados (PAULY et al., 1998; FREIRE E PAULY, 2010), demandam uma visão holística da atividade pesqueira, integrando aos dados de produção a necessidade de manutenção da saúde dos ambientes envolvidos (GARCIA et al., 2003). Esses dados precisam considerar também os estoques das espécies de menor valor econômico, preteridos em prol das espécies- alvo, mas que representam mais de 99% dos estoques globais e mais de 80% da captura total

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(COSTELLO et al., 2012). Enquanto a maior parte dos recursos costeiros compostos por linguados do Atlântico Norte Ocidental são monitorados e manejados por agências pesqueiras nacionais, americana e canadense, os estoques que se estendem para águas internacionais são controlados pela Northwest Atlantic Fisheries Organization (NAFO) (RICE et al., 2005). O manejo das principais espécies é feito com estratégias variadas como cotas, limitações ao esforço de pesca e tipos de petrecho, sendo fundamentado em dados de análise populacional e estrutura etária para os principais estoques, ou em índices baseados em dados de captura e levantamentos biológicos para as demais espécies (RICE et al., 2005). Em contraposição, o manejo dos estoques de linguados no Atlântico Sul Ocidental se encontra em situação precária. Dados de captura ainda são majoritariamente compostos por categorias sem determinação taxonômica, com monitoramento falho e intermitente. A condição básica para o sucesso de qualquer estratégia de manejo é a resolução taxonômica dos dados de produção pesqueira. A correlação entre o nome vulgar, originário do conhecimento popular, e o nome científico, proveniente da identificação taxonômica das espécies tratadas permite uma avaliação especifica dos estoques, além de facilitar a comparação dos dados de captura com estudos presentes na literatura especializada. Freire e Pauly (2005), em pesquisa conduzida no Brasil, identificaram uma correlação negativa entre a riqueza de nomes comuns e o sistema de registro de desembarque pesqueiro. Já que muitas espécies podem não ser registradas apropriadamente, o que impacta todos os setores da pesca. O problema é ainda maior na pesca artesanal, caracterizada pela pulverização da produção em diversos pontos de desembarque ao longo da costa, sendo exercida com um grande número de petrechos e atuando sobre diversos estoques, sob vários nomes vulgares regionalizados (VASCONCELLOS et al., 2007; PREVIERO et al., 2013). O presente trabalho é baseado na produção acadêmica voltada para as espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental, com ênfase em estudos de ciência pesqueira. Apesar da importância do gênero para as pescarias nessa região, não existem estudos que estabeleçam qual o estado do conhecimento para cada espécie do grupo. Aplicamos a análise cientométrica que é uma ferramenta eficiente em identificar padrões e tendências na literatura, permitindo avaliar metodologias, temas abordados, autorias e centros de referência, além de observar lacunas no conhecimento e áreas prioritárias para estudo (JARIC et al., 2012; ALVES E MINTE-VERA, 2013). A pesquisa tem por objetivo identificar padrões relacionados aos temas estudados, principais espécies pesquisadas, metodologias aplicadas, áreas abordadas, instituições envolvidas e autores. O estudo também examina o uso de dados de captura produzidos pelas

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agências nacionais de monitoramento da pesca em trabalhos de ciência pesqueira e a qualidade taxonômica dessa fonte de dados, permitindo identificar limitações ao avanço do conhecimento das espécies explotadas.

2.3. Materiais e métodos A pesquisa foi realizada na plataforma científica Thomson Reuters (ISI) Web of Science, uma das mais antigas bases bibliográficas, abrangindo mais de 10.000 periódicos indexados e representa o banco de dados mais antigo cobrindo a literatura sobre tecnologia, ciência, medicina e outros campos, de 1945 até a atualidade (CHADEGANI et al., 2013), e SciELO (Scientific Electronic Library Online) que contempla a produção científica de nove países latino-americanos. A inclusão dessa última, menor e mais recente do que a ISI Web of Science, se deve a presença de trabalhos regionais importantes, ainda que publicados em periódicos de menor circulação. A base ISI Web of Science é constituída em sua maioria por periódicos de maior impacto, predominantemente em língua inglesa e posteriores a 1990 (CHADEGANI et al., 2013). Além do alto custo associado ao uso da base, tais periódicos privilegiam artigos de alcance mais global, com maior apelo para o público internacional, o que diminui a probabilidade de pesquisas regionais serem publicadas (PAULY E STERGIOU, 2005; STERGIOU E TSIKLIRAS, 2006). O levantamento foi realizado para as 11 espécies de Paralichthys com distribuição no Atlântico Ocidental: Paralichthys albigutta Jordan & Gilbert, 1882, com ocorrência do EUA a Colômbia; Paralichthys brasiliensis (Ranzani, 1842), endemico da costa brasileira; Paralichthys dentatus (Linnaeus, 1766), dos EUA do Maine a Florida; Paralichthys isosceles Jordan, 1891, com ocorrência do Brasil a Argetina; Jordan & Gilbert, 1884, com distribuição do EUA ao México; Paralichthys oblongus (Mitchill, 1815), presente do Canadá a Flórida (EUA); Paralichthys orbignyanus (Valenciennes 1839), restrito às águas do Atlântico Sul Ocidental, do Brasil a Argentina; Paralichthys patagonicus Jordan, 1889, também presente do Brasil a Argentina; Paralichthys squamilentus Jordan & Gilbert, 1882, com ocorrência da Carolina do Norte (EUA) ao Golfo do México; Paralichthys triocellatus Miranda-Ribeiro 1903, com distribuição do Brasil ao Uruguai e Paralichthys tropicus Ginsburg 1933, da Colômbia ao Suriname. Problemas nomenclaturais foram identificados para o conjunto das espécies e a pesquisa incluiu oblonga (Mitchill, 1815) reconhecida por parte da comunidade acadêmica como o nome válido de P. oblongus (Munroe, 2003). O levantamento contemplou o período entre 1945 e 16 de fevereiro de 2016.

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Na primeira etapa do levantamento buscou-se a produção científica indexada na base Web of Science para cada uma das 11 espécies citadas, utilizando a denominação científica entre aspas no campo tópicos, sem filtros. O segundo levantamento na mesma base seguiu o mesmo procedimento, incluindo os termos Fishery AND Fisheries, no campo para refinamento dos resultados. As publicações resultantes dos dois levantamentos foram exportadas em arquivo compatível para Microsoft Excel 2013, contendo título, autoria, veículo e data de publicação. O levantamento complementar no SciELO foi executado utilizando também a denominação científica de cada espécie entre aspas no campo de procura de arquivos. Como a procura resultou em poucos artigos, não foram utilizados filtros. Para a avaliação do conteúdo, os documentos foram organizados em banco de dados e, quando indisponíveis, o resumo foi utilizado. Após a leitura dos artigos, foram excluídos aqueles que apenas mencionavam espécies de Paralichthys, mas sem tê-las como foco do estudo. Os trabalhos obtidos foram separados por autoria, veículo de publicação, base de dados, data de publicação, título, ecossistema, país de origem, tema abordado (ecologia de comunidades, biologia populacional, pesca, taxonomia e poluição), área de coleta e espécie. Os trabalhos de ciência pesqueira foram distintos, em temas específicos (ecologia pesqueira, manejo, avaliação de estoque, qualidade do pescado, genética, economia pesqueira, aquicultura, ecologia humana, tecnologia de pesca, etnoconhecimento, fauna acompanhante e impactos da pesca) e o tempo de duração da amostragem biológica. Os estudos sobre pesca de Paralichthys foram comparados ao histórico da produção pesqueira nos Estados Unidos e Brasil e a existência de resolução taxonômica da estatística pesqueira nos respectivos países (ABDALLAH E SUMAILA, 2007; MPA, 2012; ESPINOSA-PÉREZ et al., 2013; NMFS, 2015).

2.4. Resultados 2.4.1. Estado do conhecimento das espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental O levantamento nas bases de dados selecionadas resultou em 595 resultados resgatados na ISI Web of Science e 33 na SciELO. Após a análise de conteúdo os artigos não relacionados às espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental foram excluídos e 414 artigos foram selecionados para o presente estudo. Duas espécies foram predominantes em toda a literatura, ambas restritas do Canada ao EUA, Paralichthys dentatus (46,1%) e P. lethostigma (32,1%). A terceira espécie mais estudada e a que concentrou os estudos do Atlântico Sul, foi P. orbignyanus (11,7%), espécie restrita ao Brasil e Argentina (Tabela 2.4.1.1).

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O histórico de publicações que tratam das espécies de Paralichthys no Atlântico Ocidental mostra uma produção pouco expressiva de 1965 até o início da década de 1990, sendo restrita as quatro espécies do Atlântico Norte. Dos 34 artigos identificados para o período, Paralichthys dentatus (59%) e P. lethostigma (32%) foram às espécies mais abordadas, com predomínio de P. dentatus. Os estudos desse período foram voltados para a análise de aspectos biológicos e, em menor grau, das interações ecológicas de suas populações com os ecossistemas onde se inserem.

Tabela 2.4.1.1. Estudos publicados sobre as onze espécies de Paralichthys (Paralichthyidae), registrados nas bases de dados Web of Science e SciELO. Resultados Distribuição Web of SciELO Filtrados Ciência Science pesqueira Paralichthys albigutta EUA a Colômbia 19 0 9 0 Paralichthys dentatus Canadá e EUA 302 0 205 56 Paralichthys brasiliensis Brasil 0 4 1 0 Paralichthys isosceles Brasil, Uruguai, Argentina 14 2 9 1 Paralichthys lethostigma EUA 185 0 143 15 Paralichthys oblongus Canadá e EUA 2 0 5 0 Paralichthys orbignyanus Brasil, Uruguai, Argentina 56 17 48 5 Paralichthys patagonicus Brasil, Uruguai, Argentina, 14 2 17 3 Chile Paralichthys squamilentus EUA, México 1 0 1 0 Paralichthys triocellatus Brasil, Uruguai 0 0 0 0 Paralichthys tropicus Colômbia ao Suriname 2 0 2 1

O primeiro artigo identificado foi publicado no periódico American Zoologist, onde se descrevia a enzima lactato desidrogenase em amostras de Paralichthys dentatus. Os demais estudos da década de 1960 mantiveram o foco em aspectos da biologia de Paralichthys, principalmente P. lethostigma. Este último teve seu sistema excretor e método de eliminação de sais marinhos descritos em três publicações em 1968 (HICKMAN, 1968a; HICKMAN, 1968b; HICKMAN, 1968c). Diferenças foram observadas na década seguinte, onde, apesar de descreverem características morfológicas internas e externas (SMITH E FAHAY, 1970; STICKNEY E WHITE, 1975; MURCHELANO E ZISKOWSKI, 1977; SMITH E DAIBER, 1977), o foco maior dos estudos foi em Paralichthys dentatus. Os trabalhos, apesar de poucos em número, foram mais diversos, incluindo aspectos da dieta de P. dentatus e P. lethostigma em estuários da Carolina do Norte (POWELL E SCHWARTZ, 1979) e a descrição da pesca recreativa de P. dentatus em Nova Jersey (CHRISTENSEN E CLIFFORD, 1979). O mesmo padrão se repetiu na década de 1980 (Figura 2.4.1.1). A partir da década de 1990, uma grande expansão na escala de publicações para o gênero

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é observada. Exceto por 2002, todos os anos da primeira década do século XXI até 2015 registraram mais de dez artigos publicados por ano (Figura 2.4.1.1). O padrão observado desde o início da série se manteve, com predomínio de publicações sobre Paralichthys dentatus e P. lethostigma. No entanto, a partir do artigo de Wasielesky et al. (1994), onde o consumo de oxigênio por P. orbignyanus em cultivo experimental é avaliado em diferentes temperaturas e salinidades, a espécie passou a ser foco de pesquisas no Brasil, Argentina e Uruguai, vindo a se estabelecer como a terceira espécie em número de trabalhos. As sete espécies restantes responderam por 10% do total de estudos publicados, ou 45 artigos. O grupo é heterogêneo e reúne espécies com ampla distribuição (Paralichthys albigutta e P. patagonicus), distribuição restrita (Paralichthys triocellatus e P. brasiliensis), bem como de maior ou menor interesse pesqueiro.

Figura 2.4.1.1. Variação histórica da produção científica para as 11 espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental (PARALB – Paralichthys albigutta; PARDEN – P. dentatus; PARISO – P. isosceles; PARLET – P. lethostigma; PAROBL – P. oblongus; PARORB – P. orbignyanus; PARPAT – P. patagonicus; PARSQU – P. squamilentus; PARTRO – P. tropicus), resgatados das bases Web of Science e SciELO.

Os estudos publicados acerca da morfologia interna e externa e biologia populacional das espécies de Paralichthys representam não apenas a maior parte da literatura identificada, mas a mais antiga (Figura 2.4.1.2). A partir da década de 1990, os estudos sobre ecologia de comunidades passaram a ser mais presentes, com foco na distribuição de ovos e larvas de P. dentatus, entre Cape Cod e Cape Lookout (SMITH, 1973), na sobreposição da dieta de P. dentatus com três outras espécies, ao longo da costa de Nova Jersey (WUENSCHEL et al., 2013); na distribuição de linguados e uso de microhabitat na baía de Barataria, Louisiana (29ºN) (ALLEN E BALTZ, 1997) e nas variações sazonais na comunidade de peixes no estuário do rio Pando, Uruguai (34ºS) (PLAVAN et al., 2010). Trabalhos sobre os impactos de poluentes em Paralichthys ainda são raros, com 11 artigos no total, e voltados para P. dentatus, P.

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lethostigma e P. orbignyanus. Já estudos taxonômicos são mais escassos, ainda que algumas espécies sejam de identificação complexa. Dos 191 trabalhos realizados a partir de amostragens biológicas, duas áreas distintas concentraram os esforços (Figura 2.4.1.3). A primeira se estende ao longo da costa e estuários norte-americanos, em especial entre a Carolina do Norte e Nova York (34º-40ºN). Essa região concentra 74,8% de todas as amostragens identificadas na literatura para Paralichthys. O restante da produção científica se concentra na América do Sul, entre o sul do Brasil e a Patagônia Argentina, principalmente entre a costa do Uruguai e o Golfo de San Jorge, na Argentina (34º-43ºS). As duas áreas cobrem a totalidade da distribuição conhecida de Paralichthys dentatus e P. lethostigma, na primeira região e P. orbignyanus, na segunda.

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0 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Biologia Ecologia Pesca Poluição Taxonomia

Figura 2.4.1.2. Variação histórica da produção científica para 11 espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental, organizado por grandes temas (Biologia populacional, Ecologia de comunidades, Pesca, Poluição e Taxonomia), resgatados das bases Web of Science e SciELO.

A análise da produção científica para Paralichthys mostrou grande participação de estudos baseados em indivíduos provenientes de pisciculturas, sendo voltados tanto para teste de hipóteses em ambientes controlados, como para problemas associados a adaptação, alimentação e sobrevivência às condições de cultivo (Tabela 2.4.1.2). Indivíduos adquiridos em pisciculturas representaram 66% dos estudos sobre a biologia de Paralichthys, e incluem descrições dos estágios embriônicos e larval de P. dentatus (MARTINEZ E BOLKER, 2003),

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diferenciação gonadal em juvenis de P. orbignyanus (RADONIC E MACCHI, 2009), troca da composição da dieta de peixes, para soja, em cultivos de P. lethostigma (ALAM et al., 2011) e patologias em espécimes cultivados (HUGHES et al., 2002; WADA et al., 2009). Apesar dos estudos ecológicos serem majoritariamente baseados em amostragens biológicas em ambientes marinhos e estuarinos, estudos realizados em tanques de cultivo somaram 21,9% das publicações sobre o tema (Tabela 2.4.1.2). Sendo focados em testes feitos em ambientes controlados, permitindo controlar a resposta dos exemplares a alterações na temperatura (ITZKOWITZ et al., 1983; WATANABE et al., 1999; GARCIA et al., 2015) e salinidade (SCHREIBER E SPECKER, 1999; RUIZ-JARABO et al., 2015). Apesar de não ser a principal fonte de informações para os estudos de ciência pesqueira, a aquicultura responde por 38,3% dos estudos pesqueiros, voltados em sua maioria a produção de Paralichthys dentatus e P. lethostigma. Os estudos oriundos de pisciculturas experimentais são da década de 1960 para as duas espécies, enquanto artigos com foco em P. orbignyanus só começaram a ser publicados em 1994. Além dessas três espécies principais, Rosas et al. (1999) avaliou P. tropicus para a aquacultura local.

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Figura 2.4.1.3. Distribuição latitudinal da produção científica para Paralichthys, do Atlântico Ocidental, baseados em 191 artigos resgatados das bases Web of Science e SciELO.

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Tabela 2.4.1.2. Origem dos dados do material biológico nos artigos publicados sobre Paralichthys do Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO. Biologia Ecologia Pesca Poluição Taxonomia Aquaculture 132 25 31 4 0 Commerce/Collection 6 0 0 0 5 Biological survey 60 82 39 7 3 Review/model 2 7 11 0 0 TOTAL 200 114 81 11 8

Os 414 artigos selecionados foram produzidos em 11 países e publicados em 126 periódicos. Os estudos se concentraram majoritariamente na produção científica norte- americana, onde o país respondeu por 79,2% de toda a literatura disponível para o gênero, sendo seguido pelas publicações brasileiras (9,4%) e argentinas (7,0%). A China foi o quarto principal país em publicações, contribuindo com nove artigos sobre a aquacultura de Paralichthys dentatus e P. lethostigma. Os principais periódicos utilizados para divulgação foram Journal of the World Aquaculture Society (31 artigos), Aquaculture (29), Fishery Biology (20), Journal of Fish Biology (16), Transactions of the American Fisheries Society (15) and Fisheries Research (dez).

2.4.2. Ciência pesqueira sobre Paralichthys no Atlântico Ocidental: pesca e aquacultura Os estudos de ciência pesqueira responderam por 20% da literatura encontrada para Paralichthys no Atlântico Ocidental, ou 81 artigos originários de seis países (Figura 2.4.2.1). Os EUA continuaram respondendo pela maior parte da literatura produzida (84%), seguido pela Argentina (8,6%) e Brasil (2,5%), com apenas dois artigos. A China, também com dois artigos, superou os demais países em publicações sobre Paralichthys. Os estudos foram distribuídos em 40 publicações, sem predomínio de nenhum veículo sobre os demais. Os principais periódicos foram Aquaculture (8 artigos), Fisheries Research (7), Journal of the World Aquaculture Society (7), North American Journal of Fisheries Management (6) e Marine and Coastal Fisheries (5). Os autores dos estudos em ciência pesqueira foram veinculados a 32 instituições, sendo as principais a University of Rhode Island, que contribuiu com 15 artigos, todos estudos de piscicultura de Paralichthys dentatus e P. lethostigma, seguido pela National Marine Fisheries Service, agência federal norte-americana responsável pelo manejo dos recursos marinhos vivos (11,1% dos artigos) e pelas North Carolina State University (8,6%) e University of New Hampshire (8,6%). As universidades responderam por 70,4% dos estudos de ciência pesqueira enquanto as agências federais e estaduais foram responsáveis por 19,8% dos artigos,

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com 9,9% das publicações desenvolvidas por autores vinculados a institutos de pesquisa.

Figura 2.4.2.1. Produção bibliográfica de ciência pesqueira, para 11 espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO e separadas por país de origem (n=81).

Quando separados por subtemas, a produção científica voltada para as ciências pesqueiras mostrou uma forte associação com a piscicultura, sendo foco de 47% dos estudos (Figura 2.4.2.2). A forte presença dos estudos em piscicultura para Paralichthys foram direcionados a P. dentatus, P. lethostigma e, mais recentemente, P. orbignyanus. A avaliação dos estoques respondeu por 23 artigos (28% dos estudos), seguido por estratégias de manejo (9%), fauna acompanhante (9%) e qualidade do pescado (6%) (Figura 2.4.2.2). As principais metodologias envolvidas nos artigos foram estudos descritivos (51%), bioensaios (23%) e revisões (12%) (Figura 2.4.2.3). Com exceção do trabalho de Christensen e Clifford (1979) sobre a pesca recreativa em Nova Jersey, os estudos de ciência pesqueira são recentes, com publicações a partir de 1993. Entretanto apesar de um pico de 10 artigos em 1999, apenas nos últimos anos alcançaram uma produção acima de quatro artigos anuais (Figura 2.4.2.4). Um total de 39 estudos foram conduzidos utilizando dados de levantamentos biológicos, dos quais apenas 15 foram originários de dados oficiais disponibilizados por agências governamentais. Apesar de poucos em número, 10 artigos utilizaram séries temporais de captura que se estenderam de 3 a 60 anos. Os demais 24 artigos que apresentaram dados de coletas biológicas foram baseados em pesquisas de curta duração.

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manejo avaliação de 9% estoques fauna 28% acompanhante 6% sanidade do pescado 4% ecologia piscicultura pesqueira 47% 4%

etnoconhecimento 1% seletividade do petrecho 1% Figura 2.4.2.2. Produção bibliográfica em ciência pesqueira para 11 espécies de Paralichthys, com ocorrência no Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO e separados por subtemas (n=81).

bioensaio 23%

revisão 12% modelo 4% descritivo 51% recaptura 4% simulação 4% comparação 2%

Figura 2.4.2.3. Produção bibliográfica em ciência pesqueira para 11 espécies de Paralichthys, com ocorrência no Atlântico Ocidental, resgatados das bases Web of Science e SciELO e separados por metodologias utilizadas (n=81).

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0 1993 1994 1996 1997 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Figura 2.4.2.4. Produção bibliográfica anual de estudos em ciência pesqueira para 11 espécies de Paralichthys, com ocorrência no Atlântico Ocidental (n=81), resgatados das bases Web of Science e SciELO.

2.5. Discussão 2.5.1. Estado do conhecimento das espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental A espécie com a literatura mais extensa e que se estende desde a década de 1960 é o summer Paralichthys dentatus, que responde por 46,8% de toda a literatura obtida (Tabela 2.4.1 e Figura 2.4.1). A espécie é o principal linguado explotado na costa atlântica norte-americana, tendo sido capturados mais de 8,000 t em 2014, com 60% desse total na pesca comercial e o restante na recreativa (NMFS, 2015). O volume é muito inferior a pesca de linguados na costa do Pacífico, onde espécies como a yellowfin Limanda aspera, rock sole Lepidopsetta bilineata, arrowtooth flounder Atheresthes stomias e flathead sole Hippoglossoides elassodon, todas , ultrapassam 10.000 t anuais (MCCAUGHRAN, 1995; NMFS, 2015). Em menor grau P. lethostigma também apresenta importância para a pesca comercial e recreativa, tanto para o Golfo do México como para a costa Atlântica norte-americana (BLANDON et al., 2001; SMITH E SCHARF, 2010; NMFS, 2015) e correspondeu a 32,6% da literatura para Paralichthys. As duas espécies são os principais linguados capturados nos Estados Unidos e a concentração dos estudos nesses linguados, em detrimento das demais espécies de Paralichthys presentes na costa norte- americana (i.e. P. albigutta, P. oblongus e P. squamilentus), já era esperado. Mahon (1997) já havia identificado a tendência do esforço de pesquisa e práticas de manejo estarem concentrados nos maiores estoques.

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O linguado Paralichthys orbignyanus foi a terceira espécie mais estudada e concentrou 62,3% dos artigos do Atlântico Sul Ocidental e 11,0% do total (Tabela 2.4.1). A espécie está restrita às águas do sul do Brasil a Patagônia, região que corresponde a principal área de produção extrativa de linguados (MILLNER et al., 2005). A produção pesqueira do Atlântico Sul Ocidental possui uma estatística pesqueira falha, com o controle do desembarque não sendo feito ao nível específico (MILLNER et al. 2005), chegando inclusive a englobar todas as espécies comerciais de Pleuronectiformes em uma única categoria. No entanto, é possível afirmar que Paralichthys patagonicus e P. orbignyanus são as espécies mais exploradas pela pesca do Atlântico Sul Ocidental, sendo a primeira considerada a de maior importância para o setor pesqueiro (DÍAZ DE ASTARLOA, 2002; MILLNER et al., 2005). Apesar da pesca de linguados, em volume de produção, representar apenas uma pequena porção do total desembarcado, desde a década de 1980 tem sido observado um aumento do valor de Paralichthys no mercado (MILLNER et al., 2005). A ordem em que aparecem na literatura para Paralichthys, com 11,0% e 3,9% do total de publicações, respectivamente, inverte a importância econômica para as duas espécies, em especial quando P. patagonicus representa 96,3% do total desembarcado no Rio Grande do Sul, estado mais meridional da costa brasileira (HAIMOVICI, 1998; DÍAZ DE ASTARLOA, 2002) e 70% de todo desembarque de linguados na Argentina (DÍAZ DE ASTARLOA, 2002). Esse resultado inesperado pode ser explicado pela seleção de P. orbignyanus como espécie com potencial para a produção aquícola, baseado na sua boa aceitação pelo mercado consumidor, pelo alto valor de mercado (superior a P. patagonicus) e pela rusticidade da espécie, tolerante a um amplo espectro de fatores (SAMPAIO et al., 2001; SAMPAIO et al., 2007; LÓPEZ et al., 2009). O interesse para a aquacultura produziu uma série de estudos publicados desde 1997 quando Cerqueira et al. (1997) reportou sucesso na indução de desova de P. orbignyanus em cativeiro. As três espécies mais recorrentes na literatura, P. dentatus, P. lethostigma e P. orbignyanus, concentraram mais de 90% das publicações levantadas para o gênero e podem ser analisadas em maior acuidade do que as demais (Tabela 2.4.1). As sete espécies restantes são tratadas em apenas 42 artigos. Nesse conjunto, P. patagonicus, responde por 17 artigos focados em aspectos da biologia e ecologia, como alterações no padrão de coloração (DÍAZ DE ASTARLOA, 1995; DÍAZ DE ASTARLOA et al., 2006), presença de parasitas e sanidade do pescado (SURIANO E LABRIOLA, 1999; FONSECA et al., 2012) e a relação entre a espécie com fatores ambientais ao longo da costa uruguaia e argentina (DÍAZ DE ASTARLOA E FABRÉ, 2003). Os estudos voltados para P. albigutta, espécie do Atlântico Norte, e P.

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isosceles, da costa do Brasil a Argentina, somaram nove artigos cada, mas diferem nos temas em que foram abordados. A literatura para a primeira se concentrou em estudos ecológicos em estuários da baía de Apalachee, na Flórida (GLOECKNER E LUCZKOVICH, 2008) e da Carolina do Norte (WARLEN et al., 1998; HETTLER E HARE, 1998; WALSH et al., 1999), enquanto que os artigos para P. isosceles foram voltados para a biologia da espécie, em especial aos parasitas identificados em exemplares da costa brasileira (FELIZARDO et al., 2009; KNOFF et al., 2012) e argentina (ALARCOS E TIMI, 2012). Problemas de definição da correta nomenclatura para Paralichthys oblongus causaram uma divisão nos poucos estudos identificados para a espécie. Enquanto dois estudos trataram o taxon como P. oblongus (REICHERT E VANDERVEER, 1991; METHRATTA E LINK, 2007), três outros artigos apresentaram a espécie sob o nome Hippoglossina oblonga (LEONARD, 1971; GROTHUES E COWEN, 1999; SULLIVAN et al., 2000). O levantamento considerou ambas as designações e tratou o taxon como P. oblongus baseado na nomenclatura presente em Espinosa-Pérez et al. (2013), publicação que serve de base para a determinação específica do pescado norte-americano. Independente dos problemas taxonômicos os artigos para a espécie tratam de variações ontogenéticas na região entre Georges bank e Golfo do Maine (METHRATTA E LINK, 2007), padrões espaciais de recrutamento (SULLIVAN et al., 2000), estudos sobre a fase larval (LEONARD, 1971) e a correlação dessa fase ontogenética com a dinâmica de massas d’água em cabo Hatteras, na Carolina do Norte (GROTHUES E COWEN, 1999). As demais espécies: P. brasiliensis e P. triocellatus, descritas da costa do Brasil a Argentina, P. tropicus, restrita às águas do Caribe e P. squamilentus, da Carolina do Norte a Florida e o Golfo do México, são pouco conhecidas pela ciência. Os poucos estudos, abordando as espécies de toda a costa atlântica das Américas é um forte indicativo da falta de interesse da pesquisa para além daquelas espécies com maior produção pesqueira e rentabilidade comercial. Trabalhos sobre os efeitos de poluentes em populações de Paralichthys são recentes, posteriores a 2006 (Figura 2.4.2). Os artigos se restringem às espécies principais, novamente com amplo predomínio de P. dentatus e poucas contribuições para P. lethostigma e P. orbignyanus. Amado et al. (2006) identificou que exemplares de P. orbignyanus capturados na lagoa dos Patos expostos a poluentes, apresentaram danos ao DNA. Estudos sobre a contaminação por metais pesados foram identificados para P. dentatus e P. lethostigma (FARMER et al., 2010; STAUDINGER, 2011; PIRAINO E TAYLOR, 2013) e efeitos da dieta no processo de bioacumulação de mercúrio na baía de Narragansett, em Rhode Island (PAYNE E TAYLOR, 2010). Tanto o artigo de Payne e Taylor (2010), como Staudinger (2011) e Burger

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et al. (2009), que avaliou os fatores que afetam os níveis de mercúrio e selênio em linguados desembarcados em New Jersey, tiveram como objetivo atender a necessidade de se estabelecer a sanidade do pescado e avaliar os riscos dessas espécies para o consumo humano. Brown- Peterson et al. (2015) estudaram as condições de saúde de juvenis de P. lethostigma expostos a sedimentos contaminados por petróleo, motivado pelo derramamento de petróleo Deepwater Horizon e identificou alterações na microbiota associada ao intestino e brânquias, além de apresentarem redução na sobrevivência e crescimento. Os estudos taxonômicos (Figura 2.4.2), são restritos a descrições das espécies de Paralichthys, como a análise genética do hormônio de crescimento de P. lethostigma (LIU et al., 2011), a redescrição de P. patagonicus (DÍAZ DE ASTARLOA, 1996), onde o autor classificou P. bicyclophorus como sinônimo júnior da primeira e a redescrição de P. orbignyanus (DÍAZ DE ASTARLOA et al., 2006). Além do estudo de Lusk et al. (2014), onde os autores relataram juvenis de P. lethostigma em tributários da baía de Chesapeake, em Virgínia. Estudos comparativos foram registrados para o Atlântico Sul, como a caracterização citogenética e de cariótipo de P. orbignyanus e P. patagonicus (AZEVEDO et al., 2007) e uso de DNA barcoding para identificar P. orbignyanus, P. patagonicus e P. isosceles, na costa Argentina. Apesar de estudos regionais oferecerem chaves taxonômicas para o conjunto de espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental, como McEachran & Fechhelm (2005), com enfoque no Golfo do México, a chave proposta por Munroe (2003) voltada para o Atlântico centro-ocidental (área 31) e baseada na designação de áreas de produção pesqueira da FAO, e o estudo de Figueiredo e Menezes (2000) para o sudeste do Brasil, uma revisão taxonômica ampla para o grupo é necessária, não apenas para resolver problemas nomenclaturais ainda existentes, como o exposto para P. oblongus, e incorporar outro já resolvido, como o caso de P. bicyclophorus e P. patagonicus, mas para ampliar o conhecimento comparativo entre as espécies existentes, já que a maioria delas é analisada em poucos estudos e possuem áreas de ocorrência que se sobrepõem umas às outras e, principalmente, por serem espécies de difícil distinção, em especial quando características de padrões de coloração não são mais evidentes. A análise latitudinal das áreas de amostragem biológica baseada em 191 artigos mostrou claramente duas áreas distintas. A primeira no Atlântico Norte representada pelas pesquisas de instituições norte-americanas focadas em sua maioria em Paralichthys dentatus e P. lethostigma ao longo da costa dos Estados Unidos (44º-25ºN) e a segunda no Atlântico Sul, baseada em publicações brasileiras, uruguaias e argentinas, se estendendo do sul do Brasil ao Golfo de San Jorge, na Argentina (31º-47ºS). Abrangendo a maior parte da área de ocorrência

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de P. orbignyanus e parte da distribuição de P. patagonicus. Exceto por nove estudos realizados ao longo da costa do Rio de Janeiro (21º-23ºS) e a investigação sobre a abundância e distribuição de Pleuronectiformes de Manickchand-Heileman (1994), na costa caribenha da Colômbia ao Suriname, as regiões tropicais (23ºN-23ºS) são pouco estudadas. O dado é de extrema importância já que as áreas tropicais e subtropicais representam quase 74% da diversidade conhecida de linguados (MUNROE, 2005) e a maior parte dos dados pesqueiros da região tropical não são reportados em nível de gênero ou mesmo família (NAIR E GOPALAKRISHNAN, 2014). A falta de estudos demanda atenção imediata da comunidade científica para a exploração de uma ampla região da costa das Américas, bem como de agências governamentais responsáveis pelo manejo pesqueiro, sendo necessário o monitoramento específico da pesca de linguados, o levantamento da composição do descarte da produção pesqueira dessa região e, principalmente, a incorporação da pesca artesanal na estatística pesqueira. A lista vermelha da IUCN também evidencia o enorme desconhecimento para com as espécies de Paralichthys da costa atlântica das Américas. Das 11 espécies conhecidas, quatro são listadas como Least Concern (LC): Paralichthys albigutta, P. dentatus, P. oblongus e P. squamilentus. O P. lethostigma é classificado como Near Threatened (NT), sendo ameaçado pela pressão pesqueira com indicação de declínios populacionais em uma ampla região de ocorrência (ANDERSON et al., 2012; MUNROE, 2015a). Já P. tropicus foi considerada Data Deficient (DD), o que corrobora a falta de informações para a zona tropical das Américas, onde se distribui. No entanto, a espécie é apreciada no mercado consumidor venezuelano, tendo seu uso potencial para a piscicultura avaliado por Rosas et al. (1999). As cinco espécies restantes, todas da costa da América do Sul, não apresentam nenhuma avaliação do status de conservação pela IUCN, mesmo P. orbignyanus, espécie mais estudada da região. A pesca de linguados do Atlântico Sul foi avaliada por Díaz de Astarloa (2002) que mostrou que P. orbignyanus e P. patagonicus apresentaram uma exploração intensa de seus estoques, com tendência de queda na produção, tendo se baseado no estudo de Haimovici (1998). Três espécies, P. isosceles, P. triocellatus e P. brasiliensis, não apresentam dados que evidenciem seu estado de conservação.

2.5.2. A Ciência pesqueira de Paralichthys do Atlântico Ocidental Estudos sobre a pesca de Paralichthys responderam por 20% da literatura levantada, mas concentrados em apenas duas espécies, P. dentatus (79 artigos) e P. lethostigma (25), com

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participações pouco expressivas de quatro outras: P. orbignyanus (3), P. patagonicus (3), P. isosceles (2) e P. tropicus (1). A concentração nas espécies da costa nordeste da América do Norte pode ser explicada pelo longo histórico pesqueiro sobre os recursos demersais dessa região, em especial com a introdução dos grandes barcos de arrasto e a individualização da captura de linguados, ainda na década de 1920, com a produção acessória de Pleuronectes ferruginea e Pseudopleuronectes americanus, capturados junto ao haddock Melanogrammus aeglefinus (MILLNER et al., 2005). A produção pesqueira norte-americana registrou em 2014, 11.547,0 t de linguados, dos quais 4.939,0 t foram atribuídas a P. dentatus. A produção proveniente do Golfo do México é relativamente pequena quando comparada a costa atlântica dos EUA e apesar de lidar com uma diversidade maior de Paralichthys, o desembarque não é especificado e termina por englobar P. albigutta, P. dentatus e P. lethostigma (MILLNER et al., 2005; MUNROE, 2015c). A necessidade de resolução taxonômica para as espécies do Atlântico Norte resultou na formação do Comitê sobre nomes comuns e científicos, em 1933, com o objetivo de padronizar os nomes usados por pescadores comerciais e amadores, aquariofilistas e acadêmicos, não apenas para linguados, mas para toda a ictiofauna capturada na região. O resultado foi publicado em 1948 (CHUTE et al., 1948), com uma lista de 570 espécies associadas a apenas um nome vulgar específico e tem sido revisada e ampliada ao longo do tempo, sendo a versão mais recente publicada em 2013 (PAGE et al., 2013). A estatística pesqueira norte-americana tem mantido a nomenclatura específica padrão, estabelecida desde a primeira versão de 1948, o que permite gerar longas séries temporais de pesca, o que se reflete nas pesquisas acadêmicas. Entretanto, ainda que tenha sido atingida a resolução taxonômica da pesca de linguados, que possibilita a produção de séries temporais específicas em escala regional e nacional, três espécies do Atlântico Norte possuem uma literatura muito mais restrita. Enquanto Paralichthys squamilentus e P. oblongus não possuem importância para a pesca comercial e recreativa (MUNROE, 2003; MUNROE, 2015b), P. albigutta constitui um importante recurso regional do Golfo do México, em especial para a costa da Flórida (MUNROE, 2015c), o que evidencia que a importância da pesca extrativa não é o único fator a influenciar a produção científica de estudos pesqueiros de Paralichthys. A pesca de linguados no Atlântico Sul Ocidental é pouco desenvolvida (MILLNER et al., 2005) e padece de problemas institucionais, bem como de lacunas no conhecimento regional. A produção de linguados, no entanto, não pode ser desconsiderada já que se assemelha a produção norte-americana monitorada na costa atlântica e do Golfo do México, com o

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desembarque argentino superando 10.000,0 t anuais entre 1989 e 1998 (DÍAZ DE ASTARLOA, 2002) e atingindo no Brasil 2.566,0 t em 2007 (IBAMA, 2007). Ainda que a participação de P. patagonicus e P. orbignyanus nos trabalhos de ciência pesqueira tenha sido a mesma, com três artigos, no total de estudos levantados, a segunda se sobrepõe a primeira com 31 artigos a mais. Essa diferença pode ser creditada a escolha de P. orbignyanus como candidata preferencial para o desenvolvimento da tecnologia de cultivo, com o intuito de uso na produção intensiva e no repovoamento dos estoques selvagens (CERQUEIRA et al., 1997; BAMBILL et al., 2006; ROCHA et al., 2008). Apesar de serem capturadas junto a pesca direcionada a P. patagonicus e P. orbignyanus, as demais espécies da costa sulamericana não são foco de estudos pesqueiros. A falta de informações também é um indicativo das falhas na geração de dados pelo monitoramento pesqueiro, ainda realizado sem correlação com o conhecimento taxonômico vigente (DÍAZ DE ASTARLOA, 2002), de forma que predominam o uso de nomes vulgares de uso local e com variações regionais, mesmo para as principais espécies desembarcadas. Nair e Gopalakrishnan (2014) relataram o problema da qualidade dos dados reportados a Food and Agriculture Organization (FAO), onde as capturas de linguados não são identificadas ao nível de espécie, com 54 a 80% não sendo reportado nem em nível de gênero ou família. A análise de subtemas permitiu identificar que quase metade dos 81 estudos avaliados foram dedicados a piscicultura de Paralichthys, enquanto 28%, ou 23 artigos, avaliaram os estoques dessas espécies. Mesmo os estoques avaliados foram restritos a duas espécies, P. dentatus e, em menor grau, P. lethostigma. O resultado expõe o desconhecimento sobre as condições dos estoques de todas as outras espécies, incluindo as de maior captura no Atlântico Sul Ocidental como, Paralichthys orbignyanus e P. patagonicus. Para o Atlântico Norte, estudos sobre P. dentatus incluem a simulação do estoque do nordeste dos EUA sob influência da dinâmica predador-presa, a capacidade de recomposição dos estoques (BUCHHEISTER et al., 2015) e a extensa revisão de Terceiro para a espécie, que se estende de 1975 a 2010 (TERCEIRO, 2002; TERCEIRO, 2011). Artigos voltados para a análise da produção comercial e pesca recreativa (ABLE et al., 2011; BOCHENEK et al., 2012; MAUNDER, 2012; HENDERSON E FABRIZIO, 2013; HENDERSON E FABRIZIO, 2014) e a avaliação de estratégias de repovoamento a partir do sucesso obtido no cultivo de juvenis (KELLISON et al., 2003; KELLISON E EGGLESTON, 2004). Os estudos para P. lethostigma se concentraram na avaliação dos estoques por análise de otólitos (MIDWAY et al., 2014), longas séries temporais de desembarque pesqueiro (FROESCHKE et al., 2011), mortalidade (SMITH et al.,

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2009) e maturidade (MIDWAY E SCHARF, 2012). Apesar de poucos, os estudos baseados em informações de produção, demonstraram que dados disponíveis para cada espécie ajudaram na realização de trabalhos de longo prazo, como a reconstrução de uma série temporal de 40 anos de alterações na temperatura das águas no nordeste do Atlântico, associando às flutuações com dados de produção, possibilitando observar o declínio da produtividade com o aquecimento das águas estuarinas (BELL et al., 2014). Enquanto dados de desembarque pesqueiro específicos, como os disponíveis para P. dentatus e P. lethostigma, possibilitam estudos amplos, como Bell et al. (2014), com o controle do desembarque em grupos multi-específicos, para P. albigutta. O caso das espécies do Atlântico Sul, ainda baseado no uso de nomes vulgares regionais, não apenas cria um obstáculo a avaliação dos estoques, mas inviabiliza o uso das informações em pesquisas acadêmicas que poderiam ajudar a reduzir as lacunas do conhecimento (Tabela 2.4.1). A pesca extrativa marinha brasileira, assim como a de outros países tropicais e em desenvolvimento, possui um forte elemento artesanal, sustentado na explotação de várias espécies, com estoques reduzidos (MAHON, 1997; MPA, 2012). O desembarque pesqueiro artesanal geralmente é pulverizado ao longo da costa, não necessariamente integrado aos grandes centros consumidores, sendo, em muitos casos, absorvidos pela própria comunidade produtora e circunvizinhas. O isolamento dessas comunidades facilita a construção de uma cultura própria, o que multiplica a quantidade de nomes vulgares (PREVIERO et al., 2013) e dificulta o acompanhamento das pescarias e da produção local pelos órgãos públicos competentes. Freire e Pauly (2005) já haviam associado o nome linguado, usado na estatística pesqueira brasileira, para designar os Pleuronectiformes, inclusive Paralichthys, aplicado a 31 espécies de cinco famílias, sendo o principal caso de homonimia para a pesca brasileira. Apesar da produção em volume não ser comparável às principais categorias de pescado do Atlântico Ocidental, como Atlantic menhaden Clupea harengus nos EUA (93 mil t, em 2014), sardinha-verdadeira Sardinella brasiliensis no Brasil (56 mil t, em 2007) e merluza Merluccius hubbsi na pesca argentina (281 mil t, em 2010) (SÁNCHEZ et al., 2012), a pescaria de linguados movimenta valores consideráveis. A rentabilidade de linguados nos mesmos períodos atingiu 6,5 mil dólares/t para Paralichthys dentatus nos EUA e 1,75 mil dólares/t no Brasil. Dessa forma, o setor pesqueiro tem se beneficiado da pesca extrativa de um recurso de alto valor e aceitação no mercado, mas ainda pouco estudado. Sendo assim, a responsabilidade pelo financiamento das pesquisas necessárias para o manejo adequado dos estoques de Paralichthys precisa ser compartilhada entre os governos e o setor pesqueiro. Enquanto os

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Estados Unidos têm continuamente, nos últimos 30 anos, investido no desenvolvimento da piscicultura e no repovoamento das populações naturais, os estudos sobre a pesca extrativa de linguados continuam sendo tratados em segundo plano, como demonstrado nesta analise. Esse conhecimento é de interesse direto do setor produtivo já que quantificam os estoques explorados por eles. Assim, seria interesse do próprio setor financiar estudos sobre os estoques de Paralichthys, bem como dos ecossistemas onde eles se inserem, de forma a identificar não apenas os limites sustentáveis de captura, como as regiões de interesse para proteção, sejam estuários com função de berçário ou áreas com necessidade de maior atenção.

2.5.3. Aquacultura como fomentador da pesquisa em Paralichthys Estudos baseados em indivíduos de Paralichthys provenientes de pisciculturas chamaram a atenção. Ainda que algumas avaliações biológicas necessitem de ambientes controlados, como a tolerância a poluentes (MARTINEZ et al., 2007; SOFFIENTINO et al., 2010; BROWN-PETERSON et al., 2015) e descritores ambientais como luminosidade, salinidade e temperatura (WASIELESKY et al., 1994; WASIELESKY et al., 1995; DANIELS et al., 1996; SAMPAIO E BIANCHINI, 2002), as pesquisas em cultivo superaram qualquer outra área de estudo. A predominância de artigos em aquicultura de Paralichthys foi orientado às espécies de maior interesse econômico, o que permitiu inferir que o principal fomentador das pesquisas foi a perspectiva da produção aquícola ou do repovoamento de estoques de P. dentatus, P. lethostigma e P. orbignyanus e não a produção extrativa dessas espécies. Além disso, apesar da avaliação sobre a viabilidade do cultivo de P. tropicus (ROSAS et al., 1999), as espécies restantes de Paralichthys não foram tratadas como potenciais aquícolas e terminaram por receber pouca atenção da academia. Muitas espécies de Pleuronectiformes de maior porte são capturadas em diversas partes do mundo por serem apreciadas pelo mercado consumidor. Como a pesca européia do Atlantic Hippoglossus hippoglossus, Scophthalmus maximus e common sole Solea solea e de Paralichthys na costa asiática do Pacífico Ocidental e litoral pacífico e atlântico das Américas (HOWELL E YAMASHITA, 2005). Os altos valores desses recursos obtidos pela pesca extrativa as tornam candidatas potenciais para o desenvolvimento da piscicultura. O Japão respondeu pela maior produção pesqueira extrativa de linguados no Pacífico Norte ao longo da maior parte do século XX, vindo a declinar a partir da década de 1960 e ser substituída pelos EUA na década de 1980. Sendo que o principal linguado capturado pela frota japonesa foi o japanese flounder Paralichthys olivaceus, que respondeu por 7 a 11%, entre 1988 e 1998

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(WILDERBUER et al., 2005). Concomitante ao declínio da produção, o Japão investiu desde a metade da década de 1970 na aquacultura de P. olivaceus, não por ser o principal linguado pescado pela frota nacional, mas também pelo alto valor de mercado, possuindo rentabilidade até três vezes superior ao yellowtail Seriola quinqueradiata e o red sea beam Pagrus major, espécies já cultivadas com sucesso (KIKUCHI E TAKEDA, 2001). O linguado P. olivaceus é o principal caso de sucesso de adaptação para aquacultura, onde foi possível estabelecer a produção comercial em larga escala, sendo cultivado no Japão, Coréia e China e alcançando mais de 30.000 toneladas anuais (HOWELL E YAMASHITA, 2005). A produção de alevinos, além de sustentar a piscicultura comercial, também serviu para o repovoamento dos estoques pesqueiros de P. olivaceus da costa japonesa, em especial para conter a queda na produção na segunda metade do século XX. O repovoamento também obteve sucesso, já que foi observado que a soltura de juvenis aumentou a produção, ainda que existam outros fatores que influenciam essa eficiência, como a disponibilidade de presa e degradação do habitat (HOWELL E YAMASHITA, 2005; TOMIYAMA et al., 2008). O sucesso do cultivo japonês de Paralichthys olivaceus, aliado ao declínio drástico na captura de P. dentatus e outras espécies, motivou o governo norte-americano a investir no desenvolvimento da piscicultura de Paralichthys na década de 1990, tendo como foco P. dentatus e P. lethostigma (BENGSTON, 1999; LEE E OSTROWSKI, 2001; CARROLL et al., 2005; BENGSTON E NARDI, 2010; WARD et al., 2016). O interesse econômico se tornou fator preponderante no desenvolvimento do conhecimento para ambas as espécies, o que terminou por gerar o predomínio das pesquisas voltadas para a piscicultura, observado na literatura (Tabela 2.4.2). Enquanto a produção comercial de juvenis se encontra bem estabelecida desde 1996, o cultivo de Paralichthys para o mercado americano ainda não é economicamente atrativa pelo alto custo de produção e muito do conhecimento gerado nos últimos anos vem a atender essa demanda por menores custos de produção. Como o uso de soja como fonte proteica para P. dentatus (WARD et al., 2016), de rotíferos na alimentação de larvas (BENGSTON et al., 1999), redução do canibalismo na larvicultura (FRANCIS JR. E BENGSTON, 1999), identificação das patologias em larvas e juvenis (ALVES et al., 1999; GAUGER et al., 2006) e o monitoramento da luz, salinidade e densidade no cultivo (DANIELS et al., 1996). Em menor grau, e ainda mais recente, o interesse na piscicultura das espécies do Atlântico Sul Ocidental também foi observado na literatura de Paralichthys. Os estudos ainda se limitam a manutenção das matrizes em cativeiro (BAMBILL et al., 2006; ROCHA et al.,

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2008) e desenvolvimento larval (CERQUEIRA et al., 1997; SAMPAIO et al., 2001; SAMPAIO et al., 2007), sendo desenvolvido em pisciculturas de universidades brasileiras (Universidade Federal de Santa Catarina e Fundação Universidade do Rio Grande) e do Instituto Nacional de Investigación y Desarollo Pesquero, da Argentina. Apesar da presença de quatro espécies de Paralichthys na região e do principal pescado produzido ser P. patagonicus, os esforços se concentraram no cultivo de P. orbignyanus, motivados pela abundância, qualidade de carne, alto valor de mercado (BAMBILL et al., 2006) e tolerância a variações de salinidade (SAMPAIO et al., 2007). Link (2002) já havia mostrado a importância do conhecimento ecológico no manejo pesqueiro, descrevendo a necessidade de informações sobre dinâmica populacional, influência dos impactos antrópicos nos ecossistemas, papel que as espécies assumem nos ambientes e a capacidade das diferentes populações de linguados suportarem o esforço de pesca a que estão expostas. A íntima relação das populações de Pleuronectiformes com ambientes estuarinos, muitos dos quais com função de berçário (ABLE, 2005; ABLE et al., 2005; CABRAL et al., 2007; PAPE E COGNEZ, 2016), demanda ainda mais estudos sobre os impactos sofridos nesses ecossistemas, devido a importância dos estuários para o histórico de colonização e atividades humanas (TEICHERT et al., 2016). Apesar do sucesso do repovoamento de P. olivaceus, ainda não foi detectado aumento da rentabilidade da pesca atrelado as tentativas de repovoamento das populações de Paralichthys na América do Norte (MILLER et al., 2010). Muitas das recomendações de Miller et al. (2010) para o sucesso do repovoamento vai de encontro com a necessidade de maior conhecimento ecológico proposto por Link (2002), bem como sobre a própria espécie, suas patologias e necessidades, além das dificuldades que um indivíduo cultivado tem em se estabelecer no habitat natural. O conhecimento ecológico permite o desenvolvimento de modelos que compatibilizem os efeitos desejados para o repovoamento com a redução dos custos operacionais, como demonstrado por Kellison e Eggleston (2004) para P. dentatus. Essa necessidade vai de encontro com a carência de informações para a maioria das espécies de Paralichthys do Atlântico Ocidental. Onde mesmo as principais espécies explotadas ainda necessitam de estudos das populações naturais para subsidiar políticas de manejo mais efetivas, com o uso do repovoamento.

2.6. Conclusão O estudo permitiu entender como se encontra o conhecimento das espécies de Paralichthys no Atlântico Ocidental. Foi observado grande concentração em P. dentatus, P.

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lethostigma e, em menor grau, P. orbignyanus, em detrimento de todas as espécies restantes. Ainda que essa diferença fosse esperada, com o predomínio de trabalhos voltados para as espécies de maior valor econômico, o levantamento identificou que a pesquisa está mais associada a produção aquícola, do que a pesca extrativa. Esse dado acabou por ser melhor explicitado no fato de que, exceto por P. dentatus e P. lethostigma, a pesca de Paralichthys ainda é pouco conhecida. A literatura para Paralichthys mostrou que apesar de 20% dos estudos terem sido de ciência pesqueira, muito ainda precisa ser pesquisado sobre a produção extrativa de todas as espécies, sobre a relação dessas espécies com os ecossistemas, bem como os impactos nos estoques e habitat. O conhecimento detalhado das condições ambientais associadas à sobrevivência de Paralichthys é básico no sucesso de qualquer estratégia de repovoamento. Além disso, muito do atraso nos estudos de ciência pesqueira pode ser creditado a falhas no monitoramento da produção desembarcada, seja pela falta de dados a nível específico, seja pela falta de dados de produção artesanal, setor da pesca importante em países tropicais e em desenvolvimento, e responsável por uma produção desconhecida de Paralichthys. O caso brasileiro do uso do nome linguado a 31 espécies, de cinco famílias exemplifica a dificuldade em se adequar a realidade da pesca artesanal às necessidades da estatística pesqueira, sendo, no entanto, passo fundamental para a correta avaliação da produção de Paralichthys.

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CAPÍTULO III

Geometria morfométrica aplicada na distinção taxonômica das espécies comercializadas sob o nome de pescada no sudoeste do Oceano Atlântico

3.1. Resumo A presença de pescadas na estatística pesqueira representa um problema complexo que envolve a falta de identificação taxonômica específica dos componentes dessa categoria, a grande variação regional e o acompanhamento falho por parte do poder público. Tradicionalmente atribuída às espécies do gênero Cynoscion, o nome pode ser estendido a outros gêneros de Sciaenidae. Para distinguir esse problema foram visitados 14 pontos de desembarque artesanal e quatro de desembarque industrial, ao longo da costa do Rio de Janeiro, no sudoeste do Oceano Atlântico, entre 2013 e 2016, tendo sido obtidos 395 exemplares comercializados sob a categoria pescada e variações. Imagens padronizadas foram utilizadas em uma análise de geometria morfométrica, com base em marcos anatômicos, que foi empregada para identificar como as espécies se distribuíam no morfoespaço e apontar características diagnósticas não usadas na literatura clássica para o grupo. Foram identificadas dez espécies, de cinco gêneros e duas famílias: Cynoscion acoupa, C. guatucupa, C. jamaicensis, C. leiarchus, C. microlepidotus, C. virescens, Isopisthus parvipinnis, Macrodon atricauda, Nebris microps pertencentes a Sciaenidae (Acanthuriformes), além de Merluccius hubbsi (Merlucciidae, Gadiformes). A análise de variáveis canônicas afastou consideravelmente I. parvipinnis e M. hubbsi como as formas mais diferentes das demais associadas a pescada. Esta última, apesar de oficialmente registrada como merluza também é chamada de pescada-portuguesa no desembarque. A separação teve como base o posicionamento dos marcos anatômicos da base da dorsal e anal. As demais espécies foram agrupadas em três grupos, caracterizados pelo formato da cauda, perfil dorsal da cabeça e posicionamento da nadadeira pélvica em relação a peitoral e a cabeça. As demais espécies de Sciaenidae foram separadas com base nos marcos do perfil da cabeça e nadadeiras caudal e pélvica. A geometria morfométrica foi útil não só para quantificar diferenças em estruturas pouco estudadas, mas como ferramenta para identificar a consistência da categoria pescada, em uso pela estatística pesqueira brasileira, bem como apontar caracteres de fácil acesso para seu desmembramento em categorias monoespecíficas. Palavras-chave: morfometria, nomes comuns, estatística pesqueira, Sciaenidae, Cynoscion

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3.2. Introdução A atividade pesqueira atua sobre várias populações de peixes e tem sido avaliada nas últimas décadas quanto às suas consequências negativas ou deletérias nos ecossistemas explotados. A literatura aponta o colapso de vários estoques globais e regionais, com impactos não apenas na sanidade desses ambientes como na continuidade da pesca como atividade econômica (PAULY et al., 1998; PAULY et al., 2005; COSTELLO et al., 2016). Uma avaliação do estado de 441 estoques mono e multiespecíficos identificou que 57,4% já se encontram plenamente explotados enquanto 29,9% estão sobreexplotados (FAO, 2011). Dessa forma, faz-se necessário que o monitoramento da pesca não apenas atenda a demanda por dados para orientar a administração do setor, mas gere informações precisas sobre os estoques explorados e o esforço de pesca utilizado. No entanto, o manejo desses recursos demanda investimentos em estudos sobre biologia e ecologia das espécies explotadas, não sendo restrito apenas àquelas de maior interesse comercial (MAHON, 1997; JOHANNES, 1998). Tal condição ainda é mais importante em áreas tropicais, onde a pesca artesanal é responsável pela maior parte da produção (FREIRE et al., 2015). A maioria dos estudos, modelos e estratégias de manejo se baseiam em regiões temperadas e países onde predominam a pesca industrial, o que facilita a obtenção de dados e o monitoramento da atividade. Já a pesca artesanal é caracterizada pela dimensão local da produção, a dispersão geográfica do desembarque, a escassez ou inexistência de dados sobre os recursos explorados e a diversidade do conhecimento ecológico local (MAHON, 1997; JOHANNES, 1998). Isto termina por resultar em uma grande variedade de nomes comuns aplicados a fauna. Nenhuma outra pescaria envolve tantas espécies, habitats, petrechos e pescadores (JOHANNES, 1998). A produção pesqueira do estado do Rio de Janeiro, no sudoeste do Oceano Atlântico, apresenta grande relevância no volume total pescado em águas brasileiras, sendo o segundo maior desembarque em volume de produção de pescado (FREIRE et al., 2016). Apesar do interesse econômico e da existência de instituições públicas responsáveis pelo monitoramento desse setor da economia, a estatística pesqueira ainda sofre com um sistema de registro de dados de captura problemático (FREIRE et al., 2015). Os documentos produzidos pelas instituições responsáveis pelo controle quantitativo e qualitativo do desembarque pesqueiro no Rio de Janeiro, Fundação Instituto de Pesca do estado do Rio de Janeiro-FIPERJ e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA, ainda são estruturados a partir do nome vulgar atribuído a espécie ou conjunto de espécies (FREIRE E PAULY, 2005; FREIRE et al., 2015;

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MPA, 2012; FIPERJ, 2012). Tal acompanhamento gera erros pela falta da classificação taxonômica precisa e constituem em importante obstáculo a avaliação dos estoques (FREIRE E PAULY, 2005). Esses erros têm origem no grande número de sinonímias aplicadas a um mesmo pescado, tanto entre pontos de desembarque, como nas variações temporais no nome comum utilizado. Dessa forma, os registros atualmente gerados, baseados na nomenclatura sem precisão taxonômica, impedem a separação de categorias monoespecíficas e mantém um conjunto desconhecido de espécies sob categorias multiespecíficas, com grande variação específica espacial e sazonal. O conhecimento gerado a partir de séries temporais específicas possibilita gerir de forma mais eficiente os recursos explorados (MCBRIDE, 2014), subsidiando medidas de ordenamento, avaliação dos estoques e estratégias eficientes de manejo. Um importante exemplo dos problemas nomenclaturais pode ser observado na costa brasileira, onde 13 espécies foram registradas sob um mesmo conjunto de nomes vulgares, pescadas e variações, aplicada às espécies de Sciaenidae, do gênero Cynoscion (FREIRE E PAULY, 2005). Sciaenidae é a família mais diversa de Acanthuriformes (CHAO, 2002a; NELSON et al., 2016). Os cianídeos ocorrem nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, onde habitam águas rasas associadas a substratos inconsolidados, incluindo espécies dulcícolas de bacias americanas voltadas para o Atlântico (NELSON et al., 2016), com várias espécies de Cynoscion, associadas a estuários, seja como residentes, dependentes ou oportunistas (CHAO, 2002b; MCEACHRAN E FECHHELM, 2005). A abundância em ambientes costeiros, como estuários, facilita o acesso de pescadores aos estoques dessas espécies e dessa maneira, adquirem importância econômica tanto a pesca artesanal, como na industrial (CHAO, 2002b). As espécies do gênero Cynoscion são exclusivas do continente americano, sendo encontradas nas regiões costeiras do Atlântico e Pacífico. São, em geral, comuns no desembarque pesqueiro e muitas possuem elevado interesse econômico, seja na pesca recreativa como o spotted seatrout, Cynoscion nebulosus, nos Estados Unidos (VANDERKOOY E MULLER, 2002; NMFS, 2015), no cultivo - smalltooth weakfish, C. steindachneri na Guiana (CHAO, 2002b) ou na pesca comercial como a pescada-maria-mole, C. guatucupa, na Argentina (SABADIN et al., 2010; CAZORLA et al., 2014). Apesar da resolução taxonômica para os Sciaenidae, incluindo Cynoscion, estar estabelecida desde 1978 (e.g. CHAO, 1978; CHAO, 2002b), as capturas ainda são registradas como pescadas/pescadinhas e variações. Sendo ignorado se as designações são constantes temporal ou espacialmente (IBAMA, 2007; FIPERJ, 2013). O sistema falho de registro de captura termina por gerar inconsistências entre

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os dados oficiais de desembarque. A falta de determinação taxonômica das formas associadas aos nomes de referência usados pela estatística pesqueira demanda um estudo que determine as espécies desembarcadas. A pesca no Rio de Janeiro oferece uma perspectiva única, por reunir considerável frota artesanal e industrial, permitindo estudar diferenças no conjunto de espécies associadas ao nome pescada/pescadinha nessas frotas. O uso de uma ferramenta exploratória, como geometria morfométrica, permite identificar potenciais caracteres diagnósticos que facilitem o desmembramento de estoques multiespecíficos em grupos menores ou monoespecíficos. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar as evidências morfológicas que sustentam o uso do nome vulgar pescadas, identificando as espécies associadas a esse nome comum e comparando-as com uso da geometria morfométrica, para definir taxonômicamente as espécies encontradas.

3.3. Materiais e métodos 3.3.1. Área de estudo O litoral do estado do Rio de Janeiro, no sudoeste do Oceano Atlântico, possui extensão aproximada de 800 km, se estendendo da foz do rio Itabapoana (21°18’S) a Ponta de Trindade (23º22’S), sendo permeado de enseadas, estuários e lagunas (Fig. 1). Essa costa é caracterizada pela presença da massa d’água costeira, com temperatura acima de 18ºC e salinidade menor que 35. Encontrada junto ao litoral e sob influência direta do aporte da drenagem continental (COSTA, 1998; MUEHE E VALENTINI, 1998); águas tropicais superficiais, constituídas pela combinação da massa costeira com águas tropicais, com temperatura superior a 18ºC e salinidade acima de 36, com inserção periódica via ressurgência das Águas Centrais do Atlântico Sul (ACAS), definida por águas entre 6º e 18ºC e salinidade 34,5 e 36. As águas tropicais superficiais se estendem verticalmente da superfície a 250 m de profundidade e são carreadas para o sul pela corrente do Brasil (VIANA et al., 1998). Abaixo dessa massa, é encontrada ACAS, entre 300 e 550 m, aflorando em eventos de ressurgência mediada pelo regime de ventos na região de Cabo Frio (23ºS, 042°W) (VALENTIN et al., 1987; VIANA et al., 1998). Os espécimes, capturados e comercializados como pescadas, foram obtidos junto a pescadores em 14 pontos de desembarque artesanal e quatro de desembarque industrial, ao longo da costa do Rio de Janeiro, entre 2013 e 2016 (Fig. 1). Informações relativas ao pescado eram obtidas junto a um pescador da embarcação, sendo registrado o nome vulgar utilizado, o

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período da pescaria, a arte de pesca e o petrecho utilizado. Os espécimes foram refrigerados e encaminhados ao laboratório onde foi realizada a identificação taxonômica, utilizando chaves dicotômicas e a diagnose segundo literatura especializada (CHAO, 1978; MENEZES E FIGUEIREDO, 1978; CHAO, 2002a; CHAO, 2002b).

Figura 3.3.1.1. Estado do Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico. Onde: Paraty (1), Angra dos Reis (2), Mangaratiba (3), Rio de Janeiro (4), Magé (5), São Gonçalo (6), Niterói (7), Saquarema (8), Cabo Frio (9), Casemiro de Abreu (10), Macaé (11), Quissamã (12), Campos dos Goytacazes (13), São João da Barra (14), São Francisco de Itabapoana (15), (○=pesca artesanal, ●=pesca industrial). (modificado de ABREU, 2006).

3.3.2. Análise morfométrica e estatítica O levantamento de caracteres merísticos e morfométricos foi baseado em Hubbs e Lagler (1958) e complementado com a pesagem em balança de precisão digital (Marte AS5500C, 0,01g). As contagens e medidas foram tomadas sempre do lado esquerdo do corpo, exceto quando a estrutura se encontrava danificada, quando então era realizada do lado direito. Foi efetuada a contagem de raios nas nadadeiras dorsal, anal, peitoral e pélvica; e espinhos das nadadeiras dorsal e anal. A morfometria foi composta por 14 medidas tomadas com o auxílio de ictiômetro e paquímetro digital. Onde: CT – comprimento total, CC – comprimento da cabeça, CF – comprimento do focinho, DO – diâmetro da órbita, CBD – comprimento da base da dorsal, CBA – comprimento da base da anal, HC – altura do corpo, DPD – distância pré- dorsal, DPA – distância pré-anal, DPP – distância pré-pélvica, DAP – distância anal-pélvica.

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O lado esquerdo dos exemplares foi fotografado com uma câmera digital (Nikon L830) sobre uma base com escala milimétrica. As fotografias foram utilizadas para obter as coordenadas dos pontos homólogos para posterior análise, segundo a metodologia descrita em Zelditch et al. (2004). Foram selecionados 14 pontos, tomados da cabeça para a cauda e digitalizados em tpsDig2 2.26. Sendo: Cabeça – ponta da pré-maxila, limites proximal e distal da órbita ocular, limite distal do opérculo; Tronco – origem da nadadeira pélvica, início e fim da base da dorsal, início e fim da base da anal; Cauda – origem dorsal e ventral dos raios procorrentes caudais, limites distais superior e inferior da cauda, e limite distal dos raios medianos da cauda (Fig. 2). As coordenadas obtidas de todos os pontos levantados em cada indivíduo fotografado foram superimpostos através da análise generalizada de Procrustes, usando o software MorphoJ 1.06d (KLINGENBERG, 2011). A análise de deformações relativas foi construída a partir da análise de componentes principais dos scores das deformações parciais, sendo a melhor opção para estudos exploratórios e taxonômicos (BOOKSTEIN, 1993), e executada com uso do software tpsRelw 1.63 (ROHLF, 2010). Adicionalmente, cinco semi-marcos anatômicos foram utilizados para descrever o perfil entre a ponta do focinho e o início da dorsal (GREEN, 1986; BOOKSTEIN, 1997).

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Figura 3.3.2.1. a) Configuração dos pontos homólogos selecionados para a análise de geometria morfométrica das espécies desembarcadas no estado do Rio de Janeiro sob o nome de pescada/pescadinha e variações: ponta da pré-maxila (1), limites proximal (2) e distal da órbita ocular (3), limite distal do opérculo (4), origem da nadadeira pélvica (14), início (5) e fim da base da dorsal (6), início (13) e fim da base da anal (12); origem dorsal (7) e ventral dos raios procorrentes caudais (11), limites distais superior (8) e inferior da cauda (10), e limite distal dos raios medianos da cauda (9). Pontos brancos representam semi-marcos anatômicos. b) Principais medidas extraídas dos exemplares analisados (modificado de CHAO, 2002b).

3.4. Resultados Foram processados 395 exemplares comercializados sob o nome vulgar pescada, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro. As 10 espécies registradas pertencem a cinco gêneros, duas famílias e duas ordens. Os táxons identificados foram os Sciaenidae (Acanthuriformes) Cynoscion acoupa (Lacépède, 1801), C. guatucupa (Cuvier, 1830), C. jamaicensis (Vaillant & Bocourt, 1883), C. leiarchus (Cuvier, 1830), C. microlepidotus (Cuvier, 1830), C. virescens (Cuvier, 1830), Isopisthus parvipinnis (Cuvier, 1830), Macrodon atricauda (Günther, 1880), Nebris microps Cuvier, 1830 e o Merlucciidae (Gadiformes) Merluccius hubbsi Marini, 1933. Ainda que o principal grupo associado ao nome vulgar pescada tenha sido formado pelas seis espécies do gênero Cynoscion (Tabela 3.4.1), dois outros Sciaenidae, N. microps (pescada-banana) e M. atricauda (pescadinha), foram identificados como variações do nome

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pescada. As duas espécies restantes, I. parvipinnis e M. hubbsi, apresentaram uma sobreposição parcial no uso do nome. A faneca I. parvipinnis foi registrada também em conjunto com as espécies de pescadinha: C. guatucupa, C. jamaicensis e C. leiarchus. Já M. hubbsi, apesar de conhecida mais comumente como merluza, também foi referida como pescada-portuguesa no desembarque industrial. A análise de UPGMA, baseada nas distâncias de Procrustes, das formas de consenso (Figura 3.4.1), mostrou um quadro diverso das espécies que compõem a categoria de referência, pescada e variantes. A pescada-portuguesa, M. hubbsi, foi bastante distinta das demais, o que era esperado já que pertence a família e ordem diferentes das demais espécies. Sendo facilmente identificada pela presença da nadadeira dorsal dividida em três segmentos distintos, ou, como os marcos anatômicos expuseram, com bases dorsal e anal maiores do que encontrados nas demais. Dentre as espécies de Sciaenidae, I. parvipinnis foi a mais distante devido a forte influência dos marcos anatômicos que delimitam a nadadeira anal, caracteristicamente longa nessa espécie. Os demais Sciaenidae foram segregados em dois grupos baseados primariamente na configuração dos marcos anatômicos que delimitam a cauda: As pescadas C. leiarchus, C. guatucupa e C. jamaicensis foram caracterizadas pela nadadeira truncada, sem alongamento dos raios medianos. Já C. microlepidotus, C. virescens e M. atricauda foram distintas pelo prolongamento dos raios medianos da caudal, variando de arredondada a lanceolada. A análise de variáveis canônicas permitiu identificar as estruturas mais importantes para a dispersão das espécies, sendo estas as derivadas dos marcos anatômicos que delimitam as nadadeiras anal e dorsal (CV1) e os marcos que definem a forma da nadadeira caudal e perfil dorsal da cabeça (CV2). O resultado, como esperado, separa as espécies I. parvipinnis e M. hubbsi. Destaca-se também os agrupamentos entre C. guatucupa, C. jamaicensis e C. leiarchus, distinto daquele constituído por C. microlepidotus, C. virescens, C. acoupa, M. atricauda e N. microps (Figura 3.4.2).

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Tabela 3.4.1. Dados merísticos e morfométricos, de espécies de Cynoscion associadas ao nome vulgar pescada, a partir de exemplares capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico.

Cynoscion leiarchus Cynoscion microlepidotus Cynoscion virescens (n=75) (n=51) (n=37) min max med SD min max med SD min max med SD CF 1,23 2,85 1,96 0,43 0,79 1,60 1,16 0,21 1,17 5,05 2,31 1,17 CC 6,95 12,74 9,08 1,48 5,33 8,49 6,90 0,75 6,04 23,47 11,45 5,66 DPD 9,30 15,86 11,73 1,57 7,41 10,26 8,66 0,87 7,56 28,85 15,23 7,86 CT 28,72 49,94 36,82 4,75 26,64 37,71 31,06 2,87 26,85 94,10 50,80 24,63 DPA 18,38 32,90 23,77 3,31 17,10 24,48 20,08 2,07 16,16 64,20 34,08 18,45 DPP 8,51 15,20 11,06 1,56 6,61 10,15 8,08 0,92 7,15 25,83 13,71 6,78 DO 0,99 1,98 1,39 0,22 0,93 1,41 1,19 0,13 0,78 2,23 1,23 0,50 CBD 12,20 23,25 16,64 2,35 12,79 18,29 14,90 1,52 12,05 49,70 25,41 13,15 HC 5,92 11,61 7,87 1,13 5,47 7,58 6,45 0,58 4,30 17,80 9,20 4,59 CBA 2,63 5,35 3,90 0,53 2,59 3,95 3,14 0,33 2,02 6,95 3,67 1,74 DAP 9,98 19,17 13,36 2,01 9,93 16,32 13,04 1,49 9,48 42,63 21,19 12,19 Nº espinhos 10 10 10 dorsais Nº raios i+20-24 i+22-25 i+27-31 dorsais Nº espinhos 2 2 2 anais Nº raios 8--9 8--10 10--12 anais Nº raios 17--19 18--21 18--19 peitorais Rastros 8--11 7--10 7--11 branquiais Cynoscion acoupa Cynoscion guatucupa Cynoscion jamaicensis (n=34) (n=68) (n=53) min max med SD min max med SD min max med SD CF 1,45 2,55 2,04 0,39 1,17 3,13 1,80 0,49 1,08 2,11 1,55 0,25 CC 8,31 15,12 11,55 1,97 6,20 13,49 8,69 1,73 5,14 8,33 6,79 0,82 DPD 10,05 22,03 15,43 3,48 7,06 15,70 10,37 2,03 6,27 9,74 8,23 0,90 CT 34,04 75,30 52,40 12,2322,89 48,92 32,40 6,33 19,03 30,08 25,47 2,76 DPA 20,10 47,55 32,07 8,06 15,07 32,05 21,21 4,22 12,86 20,74 17,06 1,96 DPP 9,44 19,49 13,74 2,75 7,10 16,61 10,26 2,07 6,07 9,55 8,06 0,93 DO 1,21 2,05 1,62 0,23 1,15 2,22 1,60 0,24 1,05 1,84 1,45 0,19 CBD 15,64 36,85 24,92 6,43 9,82 22,08 14,63 2,89 8,47 14,43 12,03 1,38 HC 6,86 16,10 10,75 2,62 4,70 10,82 7,38 1,41 4,19 7,57 6,18 0,71 CBA 2,79 6,22 4,29 1,00 1,68 3,98 2,49 0,53 1,63 2,73 2,08 0,24 DAP 10,94 29,75 18,95 5,58 8,25 17,95 11,64 2,43 7,19 12,41 9,57 1,20 Nº espinhos 10 10 10 dorsais Nº raios dorsais i+17-22 i+18-21 i+22-27 Nº espinhos 2 2 2 anais Nº raios anais 7--8 8--9 8--10 Nº raios 15-19 16--18 16-18 peitorais Rastros 10--16 21--26 9--13 branquiais

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Figura 3.4.1. UPGMA baseado nas distâncias de Procustes das formas de consenso de Merluccius hubbsi (Merhub), Isopisthus parvipinnis (Isopar), Macrodon atricauda (Macatr), Nebris microps (Nebmic), Cynoscion microlepidotus (Cynmic), C. virescens (Cynvir), C. acoupa (Cynaco), C. leiarchus (Cynlei), C. guatucupa (Cyngua) e C. jamaicensis (Cynjam), no Rio de Janeiro, sudoeste do Oceano Atlântico.

Figura 3.4.2. Análise de variáveis canônicas dos dois primeiros fatores baseados em warp scores parciais dos marcos anatômicos, de exemplares de pescado comercializados como pescada, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro: Cynoscion acoupa (Cynaco), C. guatucupa (Cyngua), C. jamaicensis (Cynjam), C. leiarchus (Cynlei), C. microlepidotus (Cynmic), C. virescens (Cynvir), Isopisthus parvipinnis (Isopar), Macrodon atricauda (Macatr), Merluccius hubbsi (Merhub) e Nebris microps (Nebmic) (CV1+CV2=92.8%).

Dada a maior influência da primeira variável e do afastamento de I. parvipinnis e M. hubbsi. Os grupos formados foram melhor caracterizados em uma análise secundária realizada

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com a retirada dessas espécies, com o intuito de permitir a melhor visualização das espécies restantes (Figuras 3.4.3a e b). Já C. leiarchus foi distinta das demais espécies com base nos marcos anatômicos que delimitam a nadadeira anal. Enquanto isso, o formato da cauda novamente separa dois grupos já caracterizados anteriormente, marcados pela presença ou não de alongamento dos raios medianos da caudal.

Figura 3.4.3. Análise de variáveis canônicas dos três primeiros fatores baseado em warp scores parciais dos marcos anatômicos de exemplares de pescado comercializado como pescada, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, excluindo Merluccius hubbsi e Isopisthus parvipinnis: Cynoscion acoupa (Cynaco), C. guatucupa (Cyngua), C. jamaicensis (Cynjam), C. leiarchus (Cynlei), C. microlepidotus (Cynmic), C. virescens (Cynvir), Macrodon atricauda (Macatr), e Nebris microps (Nebmic). a) CV1xCV2 (CV1+CV2=76,9%), b) CV1xCV3 (CV1+CV3=57,7%).

3.5. Discussão Além de congregar um conjunto extenso de espécies, um dos principais problemas para o uso do nome vulgar, pescada e variações, presente na estatística pesqueira brasileira, é a falta de fundamentação taxonômica no uso desses nomes, gerados a partir de levantamentos taxonômicos que comprovem a quais espécies efetivamente se referem, apesar de tradicionalmente serem relacionadas a Cynoscion. A costa brasileira, onde a maior riqueza de Cynoscion é encontrada, registra o nome pescada e variações sendo aplicado para 13 espécies na estatística pesqueira (FREIRE E PAULY, 2005). Uma extensa análise cientométrica da literatura para as espécies de Cynoscion da costa atlântica das Américas identificou uma clara escassez de estudos para as espécies do Atlântico Sul, exceto para C. guatucupa (SANTOS E VIANNA, no prelo). Essa situação é ainda mais grave entre 10ºN e 21ºS, o que engloba uma extensa área de ocorrência de diversas espécies de

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Cynoscion. Em recente artigo, Chao et al. (2015) reavaliaram o status de conservação das espécies de Sciaenidae para a costa brasileira, incluindo Cynoscion, e registraram uma piora nas condições de C. acoupa, reavaliada como quase ameaçada (Near Threatened). As demais espécies mantiveram a categoria pouco preocupantes (Least Concern). No entanto, Chao et al. (2015) aponta a necessidade de mais estudos já que claramente a exploração dos estoques dessas espécies é grandemente subestimada, dada a dificuldade de geração de dados de captura confiáveis para a pesca artesanal. O estudo de Chao et al. (2015) coincide com o resultado de Santos e Vianna (no prelo), não apenas em relação a clara escassez de informações para a relação entre Cynoscion e a pesca artesanal, mas também a falta de acurácia taxonômica presente na estatística pesqueira, com consequências para o manejo eficiente desses recursos. Nesse contexto, a comparação morfológica entre espécies de Cynoscion é passo fundamental para tentar facilitar a segregação das espécies desse gênero. O esforço é ainda mais importante se levantar caracteres diagnósticos de fácil reconhecimento na hora do desembarque e assim permitir a correta determinação das espécies de Cynoscion capturadas, com consequente melhoria na qualidade dos dados de estatística pesqueira. A análise de variáveis canônicas permitiu avaliar as diferenças morfológicas dos espécimes e observar os agrupamentos constituídos, bem como sua correlação com a taxonomia das espécies registradas. Os grupos foram associados às 10 espécies identificadas, com grau variado de sobreposição. Como esperado, a mais distinta das demais foi M. hubbsi, única espécie não pertencente a Sciaenidae. Apesar de tratada comumente como merluza, seja pela literatura especializada (FIGUEIREDO E MENEZES, 1978) como pelos dados estatísticos da pesca (MPA, 2012; FIPERJ, 2013), os espécimes capturados pela pesca também foram denominados pescada, especificamente pescada-portuguesa. A origem da associação não está ligada a similaridade morfológica, já que a espécie pode ser facilmente distinta pelas nadadeiras dorsal e anal características, alongadas e com três lobos na primeira e duas na segunda. A menção pode ser atribuída a influência portuguesa no etnoconhecimento dos pescadores. Em Portugal, o nome pescada, pescada-branca ou pescada-europeia é atribuído a Merluccius merluccius, um dos principais recursos pesqueiros locais (RODRIGUES et al., 1975; LEITÃO et al., 2014; DGRM, 2016), sendo que o uso do nome pescada e variações se estende a outras espécies de Merluccidae, como a pescada-negra Merluccius senegalensis, pescada-de-Cabo Merluccius capensis e pescada-de-Angola Merluccius polli (DGRM, 2016). Apesar do restante das espécies pertencerem a Sciaenidae, I. parvipinnis foi separada das demais principalmente com base na nadadeira anal, mais longa. No entanto, a forma de

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Isopisthus é bem similar a Macrodon e Cynoscion, como já havia sido exposto por Chao (1978), que junta as três espécies em um mesmo grupo. O mesmo conjunto também foi observado na análise filogenética de Sciaenidae (Sasaki, 1989) e no estudo de filogenia molecular com as espécies de Sciaenidae do Atlântico Sul Ocidental (SANTOS et al., 2013). Isopisthus parvipinnis é denominada faneca, no desembarque artesanal, mas sempre agrupada com os espécimes menores de pescada e pescadinha (C. leiarchus, C. guatucupa, C. microlepidotus, C. jamaicensis e Macrodon atricauda). No entanto, os dados estatísticos não incluem a captura dessa espécie, nem a lista como desembarcada em conjunto com outras espécies sob um nome comum. Macrodon atricauda e N. microps foram agrupadas com as espécies de Cynoscion nas análises de UPGMA e de variáveis canônicas. Consequentemente é coerente que o principal nome aplicado a ambas as espécies sejam variações de pescada. A pescadinha M. atricauda foi caracterizada pelos marcos anatômicos da cauda, com formato lanceolado, junto de C. microlepidotus, de forma mais arredondada. A proximidade dos gêneros Macrodon e Cynoscion já havia sido reportada em estudos anteriores, compartilhando também o prognatismo da maxila inferior e a compressão lateral do corpo, mas sendo distinta pela dentição característica (CHAO, 1978). A pescada C. microlepidotus foi especialmente próxima dessa espécie, com base nos marcos anatômicos da cauda arredondada, mas pode ser facilmente caracterizada pela ausência de uma dentição pronunciada na maxila inferior, exposta inclusive com a boca fechada. A pescada-banana N. microps formou um grupo próximo das demais espécies de Cynoscion, mais especificamente C. acoupa. A associação não tem base filogenética, já que o gênero é reconhecido como mais próximo de Larimus (CHAO, 1978; SANTOS et al., 2013), mas foi formada com base na distribuição dos marcos anatômicos da cabeça e os semi-marcos do perfil dorsal. Tanto N. microps como C. acoupa compartilham o perfil relativamente arredondado da cabeça, diferente do focinho pontudo e maxila mais prognata que caracteriza o restante dos Cynoscion. O conjunto C. leiarchus, C. jamaicensis e C. guatucupa compõe um grupo caracterizado pela cauda truncada, além de atingirem tamanhos menores aos verificados para C. acoupa e C. virescens. O grupo também foi por vezes reconhecido como pescadinha nos pontos de desembarque da pesca artesanal, sendo particularmente recorrente no caso de C. leiarchus. Esta também se destaca do grupo devido a nadadeira anal mais longa do que a encontrada nas outras espécies do gênero. A diferença é pouco perceptível a olho nú, exceto quando feita a contagem de raios, caráter diagnóstico já explorado pela literatura (e.g. CHAO, 1978; FIGUEIREDO E

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MENEZES, 1978), no entanto, a análise de variáveis canônicas permitiu a distinção baseada nessa estrutura. As três espécies são tratadas, a princípio, em separado na estatística pesqueira: C. leiarchus como pescada-branca ou perna-de-moça, C. jamaicensis como goete, e C. guatucupa como maria-mole (MPA, 2012; FIPERJ, 2013). Entretanto o desembarque e mesmo a comercialização junto a pesca artesanal sob nome de pescada/pescadinha, em especial para C. leiarchus, pode estar sendo incluído em uma categoria indistinta de pescadas, presente em dados nacionais (MPA, 2012) e regionais (FIPERJ, 2013), ou nos dados de pesca de pescadinha, atribuída unicamente a M. atricauda. Por fim, as espécies de maior porte, C. virescens e C. acoupa, foram agrupadas em um conjunto separado, com base na nadadeira caudal arredondada. As duas espécies atingiram os maiores comprimentos dos exemplares coletados, sendo C. acoupa a mais valorizada economicamente. As duas espécies foram separadas, nas análises de UPGMA e de variáveis canônicas, pelo posicionamento dos marcos da cabeça e dorso. Enquanto C. acoupa foi caracterizada por apresentar a cabeça mais arredondada, fato que a aproximou de N. microps, C. virescens é marcada pela cabeça mais deprimida do que a identificada para os demais membros de Cynoscion. A pescada-amarela C. acoupa e a pescada-cambuçu C. virescens são reconhecidas como tal desde pelo menos a compilação feita por Travassos e Pinto-Paiva (1957), baseado no pescado desembarcado no extinto Entreposto Federal de Pesca do Rio de Janeiro. Contudo no norte da região amostrada foram observados casos de C. virescens sendo tratado como pecada-amarela. O estudo contribui para diminuir um problema crítico da estatística pesqueira brasileira e de muito outros locais do sudoeste do Oceano Atlântico. Com uso de métodos de geometria morfométrica, foi possível observar que a categoria, pescadas, carece de uma morfologia única que justifique o seu uso. O método permitiu separar com clareza todas as espécies amostradas e ainda apontar estruturas que geralmente são ignoradas nos caracteres diagnósticos oferecidos pela literatura especializada, em especial o formato da cauda, posicionamento da nadadeira pélvica e comprimento da base da anal. Ainda que uma categoria multiespecífica se caracterize por mais de uma espécie capturada, ela pode esconder diferentes níveis de dificuldade de identificação das espécies que a compõem. O caso pode ser comparado ao da piranjica, categoria representada por duas espécies de peixes: Kyphosus sectatrix (Linnaeus, 1758) e Kyphosus incisor (Cuvier, 1831). Poucos caracteres diagnósticos podem ser utilizados, com a diagnose restrita a contagem de rastros branquiais e de raios dorsal e anal (CARPENTER, 2003). Nesse sentido, a manutenção de uma categoria multiespecífica para o gênero Kyphosus

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é justificável com base na dificuldade de identificação em campo. As pescadas, no entanto, sempre se mostraram um grupo complexo, envolvendo uma longa lista de nomes vulgares aplicado a cada espécie e, em muitos casos, com mudanças ao longo do tempo (TRAVASSOS E PINTO-PAIVA, 1957; FIGUEIREDO E MENEZES, 1978; MPA, 2012; FIPERJ, 2013). Os resultados mostraram um conjunto de dez espécies associadas ao nome pescada passíveis de serem separadas a partir dos caracteres diagnósticos apontados pelas análises de UPGMA e de variáveis canônicas. Desse conjunto, duas espécies carecem de qualquer indicação junto a estatística oficial, a faneca I. parvipinnis e a pescada-banana N. microps. Ambas foram observadas em desembarques artesanais junto das espécies de Cynoscion ao longo dos três anos de estudo, o que indica se tratar de pescado comumente capturado e comercializado. Apesar das duas espécies serem de fácil diagnóstico, como demonstrado nas análises, ambas podem estar sendo inclusas nas categorias pescadas ou mistura, ou até mesmo, se trata de pesca não reportada. Os dois casos exemplificam a problemática situação da categoria pescadas. Duas espécies de fácil separação, com taxonomia bem definida (e.g. CHAO, 1978; FIGUEIREDO E MENEZES, 1978), bem distintas morfologicamente de Cynoscion, passíveis de serem tratadas como categorias monoespecíficas, permanecem agrupadas dentro de uma categoria multiespecífica. Essa situação não apenas interfere no entendimento da ação da pesca sobre os estoques de N. microps e I. parvipinnis, como corrompe a qualidade dos dados sobre as sete espécies com quem compartilham o nome pescada. Apenas a pescada-portuguesa M. hubbsi não seria afetada por essa situação já que é referenciada primariamente como merluza. Nebris microps é muito frequente em desembarques da pesca artesanal de São Paulo (MOTTA et al., 2014) onde é conhecido como pescada-banana, pescada-rosa ou pescada-rolão. A espécie, no entanto, aparece nos dados de desembarque de São Paulo (ÁVILA-DA-SILVA et al., 2003; CARNEIRO et al., 2013), em contraste com os dados do Rio de Janeiro (FIPERJ, 2013) ou do Brasil (IBAMA, 2007; MPA, 2012). A questão implica que sua produção é somada às demais espécies de pescada/pescadinha ou totalmente omitida. Em ambos os casos, qualquer avaliação da espécie através da estatística pesqueira oficial se torna inviabilizada. A pesca não reportada é um problema comum em vários países e ocorre em todos os tipos de pescarias. Constitui um dos grandes problemas dos estoques mundiais de pescado e impossibilitam a efetividade de medidas de manejo (GALLIC E COX, 2006). Christensen (2016) mostrou a correspondência direta entre a vigilância e o monitoramento da pesca com a existência da pesca ilegal ou não reportada. O presente estudo feito sobre a categoria pescadas

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e as dez espécies envolvidas apenas demonstra que a prevalência do uso de nomes vulgares na estatística, sem qualquer correlação com as espécies efetivamente capturadas, compromete o uso dos dados de captura para avaliação dos estoques. Apenas um monitoramento pesqueiro que registre dados de captura especificos permitirá resolver o problema da riqueza de nomes vulgares na estatística pesqueira, do qual pescada representa um dos principais complexos.

3.6. Conclusões O grupo de espécies associado às categorias pescadas e suas variações foi caracterizado pela sua diversidade, inclusive morfológica. Taxons berm distintos, como Nebris microps e Merluccius hubbsi estão associadas às espécies de Cynoscion, grupo mais representativo de pescadas. Além de segregar as espécies, a geometria morfométrica permitiu verificar o carater diagnóstico de estruturas anatômicas. A prevalência do uso de nomes vulgares no registro da produção pesqueira e na estatística pesqueira decorrente tem sido fonte de de críticas ao longo do tempo. O estudo permitiu demonstrar a ferramenta tem uso prático na determinação taxonômica, possibilitando reorganizar a coleta de dados de captura por espécie.

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CAPÍTULO IV

Uso de morfometria geométrica como ferramenta na distinção especifica dos linguados desembarcados pela pesca do Atlântico Ocidental: estudo de caso do Rio de Janeiro, no Atlântico Sul Ocidental

4.1. Resumo A estatística pesqueira mundial e especificamente a brasileira ainda encontra-se limitada pela aplicação de nomes vulgares a categorias multiespecíficas das quais pouco se conhece quais espécies efetivamente a compõem. A correlação entre o nome vulgar, originário do conhecimento popular, e o nome científico, proveniente da identificação taxonômica, permite a geração de dados precisos de captura, melhorando a qualidade da estatítica pesqueira disponível. O problema é potencializado quando tais grupos taxonômicos carecem de estudos morfológicos e cladísticos e da existência de chaves dicotômicas confiáveis. A homonimia é um obstáculo conhecido para as espécies de Pleuronectiformes exploradas comercialmente, com a maior parte desses recursos sendo tratados sob o nome linguado. Durante o estudo foram visitados 14 pontos de desembarque pesqueiro artesanal e quatro de desembarque industrial, ao longo da costa fluminense, entre 2013 e 2016, tendo sido obtidos 176 exemplares de pescados registrados sob a categoria linguado. Imagens padronizadas foram utilizadas para uma análise de geometria morfométrica com base em marcos anatômicos que foi realizada para identificar como as espécies se distribuiam no morfoespaço e apontar características diagnósticas não utilizadas pela literatura clássica para o grupo. Complementarmente, foram registrados dados morfomerísticos presentes em exemplares recém-coletados, como padrões de cor. Foram identificados Paralichthys isosceles Jordan, 1891, P. patagonicus Jordan, 1889, P. orbignyanus (Valenciennes, 1839) e Xystreurys rasile (Jordan, 1891) como as espécies que compõem a categoria comercial linguados. A análise de variáveis canônicas apresentou uma forte associação entre P. patagonicus e P. orbignyanus e o isolamento de P. isosceles e X. rasile, sendo corroborado por uma UPGMA de distâncias Procustes a partir das formas de consenso. A análise identificou que o formato da cauda e o posicionamento relativo do olho e maxilar foram de grande importância para a separação das espécies. A combinação dos resultados das análises e das características de coloração em indivíduos recém-capturados permitiu selecionar caracteres diagnósticos para todas as espécies, sem necessidade de exame laboratorial. A

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geometria morfométrica foi útil não só para quantificar diferenças em estruturas pouco estudadas, mas como ferramenta para identificar a consistência da categoria de pesca linguado, em uso pela estatística pesqueira, bem como apontar caracteres de fácil acesso para seu desmembramento em categorias monoespecíficas. Palavras-chave: geomorfometria, nomes comuns, estatística pesqueira, Pleuronectiformes, Paralichthyidae, Paralichthys

4.2. Introdução

Os linguados constituem uma ordem de Actinopterygii de grande interesse acadêmico, seja pela importância ecológica, ocupando diversos nichos em ambientes marinhos, estuarinos e dulcícolas, seja pelo interesse pesqueiro, já que algumas espécies de maior porte possuem populações suficientemente grandes para constituírem recursos pesqueiros relevantes (MUNROE, 2005; NELSON et al., 2016). A família Paralichthyidae, composta por 111 espécies, em 14 gêneros, distribuídos em águas marinhas e salobras (NELSON et al., 2016), apresenta o maior número de espécies comerciais presentes na pesca do Atlântico Ocidental. Desse grupo, as do gênero Paralichthys representam os principais linguados capturados pela pesca artesanal e industrial. No entanto, o manejo dos estoques de linguados no Atlântico Sul Ocidental se encontra em situação precária. Os dados de captura ainda são majoritariamente compostos por categorias sem determinação taxonômica, com monitoramento falho e intermitente. A condição básica para o sucesso de qualquer estratégia de manejo é a resolução taxonômica dos dados de produção pesqueira. A correlação entre o nome vulgar, originário do conhecimento popular, e o nome científico, proveniente da identificação taxonômica, permite uma avaliação especifica dos estoques, além de facilitar a comparação dos dados de captura com estudos presentes na literatura especializada. Freire e Pauly (2005), em pesquisa conduzida no Brasil, identificaram uma correlação negativa entre a riqueza de nomes comuns e o sistema de registro de desembarque pesqueiro, já que muitas espécies podem não ser registradas apropriadamente, o que impacta todos os setores da pesca. No mesmo estudo, os linguados representaram o maior de número de espécies associadas ao mesmo nome vulgar. O problema é ainda maior na pesca artesanal, caracterizada pela pulverização da produção em diversos pontos de desembarque ao longo da costa. Sendo exercida com um grande número de petrechos e atuando sobre diversos estoques, com vários nomes vulgares regionalizados (VASCONCELLOS et al., 2007). Apesar

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da importância pesqueira, os linguados apresentam uma grande escassez de estudos, inclusive taxonômicos, e em especial para o Atlântico Sul (GARCÍA E MENNI, 1990; DÍAZ DE ASTARLOA, 2002). Esse fato é potencializado pela similaridade morfológica entre várias espécies, o que gera obstáculos a resolução taxonômica de categorias multiespecíficas (GARCÍA E MENNI, 1990), comprometendo a qualidade da estatística pesqueira e o desenvolvimento de políticas de manejo específico. A geometria morfométrica tem se desenvolvido nas últimas décadas como uma ferramenta confiável de análise da forma em diversos estudos (e.g. KENDALL, 1984; BOOKSTEIN, 1986; ROHLF E BOOKSTEIN, 1990; ZELDITCH et al., 2004; CRUZ- AGUERO et al., 2014). Tendo sido utilizada em estudos taxonômicos, filogenéticos e de evolução. Mesmo a biologia pesqueira tem feito uso dessa ferramenta para explorar a morfologia externa de espécies comerciais (KARAHAN et al., 2014). O potencial do método vem de ferramentas de uso prático e constantemente aprimorados, como a série TPS (ROHLF, 2002) ou o software MorphoJ (KLINGENBERG, 2011), que permitem quantificar estruturas pouco usadas em estudos morfomerísticos clássicos, como a forma das nadadeiras e as correlações entre distâncias de marcos anatômicos. O presente estudo teve por objetivo verificar a possibilidade de distinção das espécies componentes da categoria de pescado linguado, fazendo uso de métodos de geometria morfométrica baseados em marcos anatômicos. O trabalho buscou verificar se o agrupamento das espécies é motivado por uma correlação morfológica, onde formas muito similares não permitem a distinção específica e justificam o uso da categoria no registro do desembarque. Ou se o método permite levantar caracteres morfométricos que, combinado a caracteres externos de exemplares recém-capturados como coloração e maculas, podem ser utilizados para a separação das espécies desembarcadas.

4.3. Materiais e métodos 4.3.1. Área de estudo O litoral do estado do Rio de Janeiro, no Atlântico Sul Ocidental, possui extensão aproximada de 800 km, se estendendo da foz do rio Itabapoana (21°18’S) a Ponta de Trindade (23º22’S), sendo permeado por baías, estuários e lagunas. A costa fluminense é caracterizada pela presença de três massas d’água: as águas costeiras, com temperatura acima de 18ºC e salinidade menor que 35, encontrada junto ao litoral e sob influência direta do aporte da drenagem continental (COSTA, 1998; MUEHE E VALENTINI, 1998); as águas tropicais

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superficiais, constituídas pela combinação da massa costeira com águas tropicais, com temperatura superior a 18ºC e salinidade acima de 36, com inserção periódica via Águas Centrais do Atlântico Sul (ACAS), caracterizada por águas entre 6º e 18ºC e salinidade 34,5 e 36. As águas tropicais superficiais se estendem verticalmente da superfície a 250 m de profundidade e são carreadas para o sul pela corrente do Brasil (VIANA et al., 1998). Abaixo dessa massa, é encontrada a ACAS, entre 300 e 550 m, transportada em eventos de ressurgência mediada pelo regime de ventos (VALENTIN et al., 1987; VIANA et al., 1998). Entre 2013 e 2016 foram amostrados 14 pontos de desembarque artesanal e quatro de industrial, na costa do Rio de Janeiro (Figura 4.3.1.1). Os exemplares comercializados como linguado foram obtidos diretamente com os pescadores e informações relativas ao pescado foram resgatadas, como nome vulgar utilizado, período da pescaria, local de pesca e petrecho utilizado. Os espécimes foram levados ao laboratório onde foram realizadas as contagens merísticas e morfométricas e identificação taxonômica, utilizando a literatura especializada para Pleuronectiformes (e.g. GINSBURG, 1952; FIGUEIREDO E MENEZES, 2000). A autoria e a validade das espécies identificadas foram confirmadas através do Catalog of Fishes (ESCHMEYER et al., 2016).

Figura 4.3.1.1. Estado do Rio de Janeiro, com destaque para os municípios amostrados (○=pesca artesanal, ●=pesca industrial). Localidades: Paraty (1), Angra dos Reis (2), Mangaratiba (3), Rio de Janeiro (4), Magé (5), São Gonçalo (6), Niterói (7), Saquarema (8), Cabo Frio (9), Casemiro de Abreu (10), Macaé (11), Quissamã (12), Campos dos Goytacazes (13), São João da Barra (14), São Francisco de Itabapoana (15) (modificado de ABREU, 2006).

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4.3.2. Análise morfométrica A morfometria geométrica foi aplicada com o intuito de quantificar o quão homogênea é a variação de forma das espécies desembarcadas sob o nome de referência linguado. O lado oculado dos exemplares foi fotografado em escala milimétrica, com uma câmera DSLR 16.0 megapixels para posterior análise e registro do padrão de cor do corpo e nadadeiras. Foram selecionados 15 pontos homólogos ao longo do corpo dos espécimes (Figura 4.3.2.1), tendo suas coordenadas registradas com uso do software tpsDig v.2.28 (ROHLF, 2002). O procedimento de superposição de Procustes foi efetuado para permitir remover informações de tamanho, posição e orientação. Uma análise de componentes principais (ACP) foi realizada para quantificar as variações de forma entre as espécies e uma análise de variáveis canônicas (AVC) para associar as variações de forma interespecífica. A superposição de Procustes e as análises ACP e AVC foram calculadas no software MorphoJ v.1.06d (KLINGENBERG, 2011). Por fim, uma analise de cluster (UPGMA) baseado nas distâncias de Procustes, entre as formas de consenso das espécies identificadas, foi gerada através do software PAST 3.13 (HAMMER et al., 2001).

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Figura 4.3.2.1. I) Pontos homólogos usados como marcos para a análise de geometria morfométrica. II) Principais medidas lineares obtidas a partir das coordenadas de pontos homólogos: A) Comprimento do maxilar B), Distância do olho ao ângulo do maxilar, C) Diâmetro do olho inferior, D) Comprimento Total, E) Base da nadadeira dorsal, F) Base da nadadeira anal (modificado de FIGUEIREDO E MENEZES, 2000).

4.4. Resultados Foram processados 176 Pleuronectiformes desembarcados pela pesca artesanal e industrial, ao longo da costa do estado do Rio de Janeiro, pertencendo a seis espécies e quatro gêneros de Paralichthyidae. Sendo Paralichthys isosceles Jordan, 1891, P. patagonicus Jordan, 1889, P. orbignyanus (Valenciennes, 1839) e Xystreurys rasile (Jordan, 1891). As espécies Syacium papillosum (Linnaeus, 1758) e Citharichthys macrops Dresel, 1885, são normalmente descartadas a bordo, mas exemplares foram comercializados como mistura em dois pontos de pesca artesanal. Para restringir as analises apenas as espécies efetivamente incluídas na categoria comercial linguado, as medições merísticas e morfométricas (Tabela 1), as análises de componentes principais (ACP), canônica variada (AVC) e de cluster (UPGMA), focaram

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especificamente nas primeiras quatro espécies que são de efetivo interesse comercial e representam o pescado comercializado sob esse nome vulgar. Os três primeiros componentes da análise de ACP, com dados do formato do corpo das quatro espécies de linguado (Figura 4.4.1), responderam por 62,7% da variação de forma nos exemplares coletados. O principal componente (PC1=29,5%) se mostrou relacionado a diferenças de forma na cauda, variando de um contorno mais lanceolado, em P. isosceles e X. rasile, para uma nadadeira com menor destaque para os raios medianos, com aspecto mais próximo de uma cauda emarginada, com os raios medianos e das extremidades dorsal e ventral levemente maiores que o demais, presente em P. patagonicus e P. orbignyanus. O segundo componente (PC2=19,6%) separou as espécies do gênero Paralichthys, de X. rasile e se relaciona com os pontos de referência na cabeça, em especial o posicionamento da margem posterior da maxila superior. A análise de variáveis canônicas apresentou uma forte associação entre P. patagonicus e P. orbignyanus e a distinção de P. isosceles e X. rasile (Figura 4.4.2). Os primeiros dois eixos responderam cumulativamente por 98,0% da variação nos dados. O primeiro eixo (CVA1=70,8%) foi relacionado a cauda, mais especialmente aos pontos homólogos #9, #10 e #11, localizados nas extremidades dorsal, mediana e ventral da nadadeira caudal, diferença que já havia sido encontrada na ACP. Já o segundo eixo (CVA2=27,3%) correspondeu às proporções da cabeça e nadadeira caudal. Paralichthys isosceles reúne características únicas, como o formato da cauda mais similar a X. rasile do que a dos demais Paralichthys, bem como o maxilar não ultrapassando a margem distal do olho inferior, condição presente nas demais espécies de Paralichthys. No entanto, compartilha a origem da nadadeira dorsal sobre a metade anterior do olho superior, característica que compartilha com Paralichthys e a distancia de Xystreurys, que apresenta o início da dorsal sobre o terço posterior do olho.

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Figura 4.4.1. Análise de Componentes Principais dos dois primeiros fatores baseado em warp scores parciais dos marcos anatômicos de 110 exemplares de pescado comercializados como linguado, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro: Paralichthys isosceles (vermelho); P. patagonicus (laranja); P. orbignyanus (verde) e Xystreurys rasile (azul).

Figura 4.4.2. Análise de Variáveis Canônicas dos dois primeiros fatores baseado em warp scores parciais dos marcos anatômicos de 110 exemplares de pescado comercializado como linguado, capturados na costa do estado do Rio de Janeiro: Paralichthys isosceles (vermelho); P. patagonicus (laranja); P. orbignyanus (verde) e Xystreurys rasile (azul).

A UPGMA de distâncias de Procustes das formas de consenso revelou um quadro esperado e coincidente com as análises de componentes principais e de variáveis canônicas. As

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formas médias de Paralichthys orbignyanus e P. patagonicus foram as mais aparentadas entre si e distantes de P. isosceles e X. rasile (Figura 4.4.3).

Figura 4.4.3. UPGMA baseado nas distâncias de Procustes das formas de consenso de Xystreurys rasile (Xysras), Paralichthys orbignyanus (Parorb), P. patagonicus (Parpat) e P. isosceles (Pariso), capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, a partir de 14 marcos anatômicos ao longo do corpo.

O peso que as características de posicionamento do osso maxilar e do olho, e, em especial, do formato da cauda, possuíram nos agrupamentos obtidos nas análises ACP e CVA foram posteriormente estudadas nos exemplares processados. Apesar das chaves de identificação disponíveis não terem dado importância para essas relações, às mesmas possuem caráter diagnóstico e, quando associados à coloração e presença de ocelos, permitiram a distinção das quatro espécies, sem necessidade de outros procedimentos. Seja pelos raios medianos alongados, como em X. rasile, ou pela curta projeção dos raios ventrais, dorsais e medianos, presente em P. orbignyanus e P. patagonicus, ou mesmo na forma intermediária observada em P. isosceles, o método de geometria morfométrica permitiu separar as espécies com segurança (Figura 4.4.4).

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Figura 4.4.4. Formato da cauda em exemplares de Xystreurys rasile (a), Paralichthys isosceles (b), P. orbignyanus (c) e P. patagonicus (d) coletados na costa do estado do Rio de Janeiro (escala: 4 cm).

4.5. Discussão As contagens especificas, merísticas e morfométricas, obtidas durante esse estudo, foram coincidentes com a literatura disponível para as quatro espécies de linguado (e.g. GINSBURG, 1952; FIGUEIREDO E MENEZES, 2000). Entretanto existem poucos estudos para Paralichthyidae, família de grande interesse econômico no Atlântico Ocidental, e revela um quadro de grandes lacunas no conhecimento para o grupo. García e Menni (1990) já haviam creditado esse cenário a homogeneidade morfológica que resulta em dificuldades taxonômicas e soma-se a isso a principal referência para a taxonomia da família ainda ser o estudo de Ginsburg (1952), base das chaves taxonômicas para a região. Contudo, apesar de escassa, Díaz de Astarloa (1996) confirmou a validade de P. patagonicus e tornou-o sinônimo sênior de P. bicyclophorus Miranda-Ribeiro, 1915 e em estudo mais recente Díaz de Astarloa et al. (2006), redescreveram Paralichthys orbignyanus e examinaram a validade dessa espécie e Paralichthys

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brasiliensis (Ranzani, 1842), com quem compartilha várias características, como escamas ciclóides nos dois lados do corpo. Díaz de Astarloa et al. (2006) consideram as espécies válidas, sendo que os dados merísticos e morfométricos fornecidos na redescrição coincidiram com os exemplares identificados como P. orbignyanus no presente estudo. A presença de Paralichthys isosceles no presente estudo contradiz parte da literatura sobre a espécie. Figueiredo e Menezes (2000) e Menezes e Figueiredo (2003) citam a distribuição da espécie da costa do Paraná (26º30’S) a Patagônia argentina (45º05’S), sendo que P. triocellatus, espécie com quem compartilha várias características diagnósticas, ocorre da costa de Cabo Frio (22º52’S) ao Uruguai. No entanto, Bernardes et al. (2005), baseado em amostragens com arrasto de fundo, entre Cabo de São Tomé (21º59’S) e Cabo de Santa Marta (28º36’S), registraram a presença de ambas espécies, mas com abundância absoluta de P. isosceles. Nosso estudo corrobora a distribuição dada por Haimovici et al. (1994), que estende a ocorrência até o Rio de Janeiro. Além disso, P. isosceles foi descrita a partir de três exemplares coletados em prospecção biológica na costa da Bahia, no nordeste do Brasil (JORDAN, 1891; RATHBUN, 1898), o que sustenta uma distribuição geográfica maior do que a relatada por parte da literatura. Os exemplares de P. isosceles analisados no presente estudo apresentaram características morfomerísticas que coincidem com o descrito para a espécie, enquanto as análises ACP e AVC confirmaram o agrupamento de todos os indivíduos de P. isosceles em um grupo único e coeso, separado das demais espécies. O resultado da ACP mostrou diferenças fundamentais, na separação entre as espécies, em duas partes do corpo, a cauda e a cabeça. O formato da nadadeira caudal distinguiu dois grupos, o primeiro agrupou P. isosceles e X. rasile, enquanto o segundo foi constituído por P. patagonicus e P. orbignyanus. A primeira forma é similar à descrição dada para os adultos do gênero Paralichthys (GINSBURG, 1952), onde a cauda se modifica de um formato arredondado em juvenis, para bicôncavo em adultos. Já o segundo grupo se assemelha a descrição dos juvenis, inclusive no fato dos raios mais dorsais e ventrais serem maiores que os demais (GINSBURG, 1952). O mesmo autor já havia observado que o comprimento da cabeça é caracteristicamente mais longo em Paralichthys, em especial em indivíduos jovens. Além disso, o distanciamento da extremidade posterior do maxilar em relação ao limite distal do olho tende a aumentar com o crescimento do indivíduo (GINSBURG, 1952). As duas observações corroboram a dispersão dos dados obtida nos primeiros eixos da ACP. A variação ontogenética sobre o maxilar se mostrou mais evidente em P. orbignyanus, espécie com a maior amplitude de tamanho na amostra e que apresentou maior dispersão no gráfico.

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A AVC agrupou os dados de maneira mais objetiva, isolando X. rasile e P. isosceles e, mesmo que parcialmente sobrepostos, P. orbignyanus e P. patagonicus. A distinção observada para P. isosceles, já havia sido apontada por Ginsburg (1952) quando posicionou a espécie em um gênero próprio Pseudorhombus, considerado intermediário entre Hippoglossina e Paralichthys. Mabragaña et al. (2011) utilizou DNA barcoding para identificar peixes na Argentina e obteve agrupamentos similares ao verificado nas análises morfométricas do presente estudo, com P. orbignyanus e P. patagonicus associados entre si e distante de P. isosceles. Assim como Ginsburg (1952), Mabraganã et al. (2011) afirmam que a distância entre os dois grupos é acima do esperado para espécies de mesmo gênero, dando suporte ao posicionamento da espécie em um gênero distinto. A AVC baseada nas distâncias de Procustes corrobora esses estudos e a UPGMA das formas de consenso deu base aos resultados das ACP e AVC. Os resultados obtidos permitiram explorar a consistência morfológica do pescado comercializado com o nome vulgar linguado. Ainda que Pleuronectiformes tenha uma ampla riqueza especifica na costa brasileira e no Atlântico Sul Ocidental (FIGUEIREDO E MENEZES, 2000; MENEZES E FIGUEIREDO, 2003), poucas espécies de Paralichthyidae possuem interesse comercial. Apesar da presença de Syacium papillosum e Citharichthys macrops, dentre os exemplares coletados, estas espécies foram tratadas como mistura na pesca, não sendo comercializadas como categoria distinta de pescado e sendo normalmente descartadas devido ao peso e tamanho reduzidos. O foco da pesca nas espécies do gênero Paralichthys, além de X. rasile, era esperado e corrobora o conhecido sobre a captura de linguados no Atlântico Ocidental, onde Paralichthys representa as maiores espécies da família (MILLNER et al., 2005). As dificuldades taxonômicas na identificação das espécies de Pleuronectiformes são bem representadas pelos estudos sobre a validade de P. orbignyanus e P. patagonicus (DÍAZ DE ASTARLOA, 1996; DÍAZ DE ASTARLOA et al., 2006), as duas principais espécies de Paralichthys desembarcadas no Atlântico Sul (DÍAZ DE ASTARLOA, 2002; MILLNER et al., 2005). Mesmo a distribuição geográfica pode ser ponto contencioso, como já discutimos para P. isosceles. Os problemas taxonômicos ampliam e adiam a resolução específica das espécies desembarcadas pela pesca com o nome vulgar linguado, considerado por Freire e Pauly (2005) como o principal caso de homonimia presente na ictiofauna brasileira, com consequências diretas para a qualidade dos dados de captura. Os resultados obtidos neste estudo permitem explorar a consistência morfológica do

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agrupamento linguado presente no desembarque pesqueiro. O levantamento morfomerístico tradicional permitiu identificar as quatro espécies coletadas e o uso de métodos de morfometria geométrica mostrou-se uma ferramenta útil para avaliar estruturas de difícil quantificação, como a cauda. Ainda que Ginsburg (1952) tenha mostrado a capacidade diagnóstica dessa parte do corpo para distinção de algumas espécies, as chaves dicotômicas continuaram a valorizar caracteres de mais fácil registro, como escamas, raios e rastros branquiais, mas pouco práticos para identificação em campo e por profissionais não ligados à taxonomia. O método de geometria morfométrica com marcos anatômicos separou as espécies corretamente, além de permitir observar que os caracteres diagnósticos são estáveis ao longo do intervalo de tamanho, dos indivíduos amostrados. As maiores espécies, Paralichthys patagonicus (36,9 - 76,1 cm, CT) e P. orbignyanus (18,82 - 55,55 cm, CT) foram consistentemente caracterizadas pela nadadeira caudal arredondada em todos os comprimentos. Essa amplitude equivale à variação encontrada no desembarque comercial, o que justifica o uso do caracter em guias práticos de identificação de campo, em conjunto com padrões de coloração (dado perdido em exemplares tombados em coleção). Também consistente, a posição relativa do olho inferior e do maxilar é de difícil mensuração por se tratar do posicionamento relativo das estruturas, e não apenas uma razão matemática entre eles. Apenas fazendo uso de métodos geomorfométricos e do registro das coordenadas de marcos anatômicos foi possível identificar as diferenças intraespecíficas, entre indivíduos de vários tamanhos, como entre espécies diferentes. Utilizada principalmente em estudos evolutivos e taxonômicos, a geometria morfométrica foi útil não só para quantificar diferenças em estruturas pouco estudadas, mas como ferramenta para identificar a consistência dos nomes vulgares em uso na estatística pesqueira. O método permitiu separar complexos de espécies próximas (P. orbignyanus e P. patagonicus) e daquelas mais distintas e passíveis de serem tratadas como categorias de pescado monoespecíficas. Apesar das análises terem permitido identificar caracteres morfológicos passíveis de serem usados para um diagnóstico rápído, nem todas as espécies puderam ser caracterizadas por diferenças perceptíveis a olho nú. Ainda que o resultado das análises de ACP e AVC tenha conseguido separar graficamente Paralichthys orbignyanus e P. patagonicus, a diferença morfológica é sutil, sendo necessário o exame laboratorial e o uso das chaves dicotômicas conhecidas para essas espécies (GINSBURG, 1952; FIGUEIREDO E MENEZES, 2000). No entanto, esse ponto acaba por demonstrar que o método é sensível o suficiente para avaliar diferenças morfológicas em Paralichthys e apontar estruturas úteis para o diagnóstico,

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mas depende de seleção acurada de acordo com a necessidade. Um carater pode ser diagnóstico para a identificação taxonômica a partir de um registro fotográfico, mas não claro o suficiente para o diagnóstico de uma espécie em campo, que requer praticidade.

4.6. Conclusão O método de geometria morfométrica foi eficiente para a identificação das espécies desembarcadas de linguado, além de ter permitido avaliar o carater diagnóstico de estruturas como cauda e cabeça. Além disso, foi possível verificar a importância de Paralichthyidae para a categoria desembarcada no estado do Rio de Janeiro, em especial as espécies de Paralichthys. Apesar da semelhança anatômica entre elas, o método conseguiu separá-las em espécies, o que demonstra o potencial uso como ferramenta no levantamento de dados de produção. A estratégia permitiria gerar dados de captura por espécie, sendo passo fundamental para uma estatística pesqueira de qualidade e o manejo eficiente desses recursos.

4.7. Referências Bernardes R.A., J.L. Figueiredo, A.R. Rodrigues, L.G. Fischer, C.M. Vooren, M. Haimovici e C.L.D.B. Rossi-Wongtschowski. Peixes da zona econômica exclusiva da região Sudeste-Sul do Brasil: Levantamento com armadilhas, pargueiras e rede de arrasto de fundo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (2005). Bookstein F.L. Size and shape spaces for landmark data in two dimensions. Statistical Science 1:181-222 (1986). Costa H. Uma avaliação da qualidade das águas costeiras do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação de Estudos do Mar – Femar (1998). Cruz-Agüero J.D.L., F.J. Vergara-Solana e F.J. García-Rodríguez. Geometric morphometrics support the proposed molecular taxonomy for three Eucinostomus species (Perciformes: Gerreidae) along the coasts of Mexico. Zoomorphology 134(1): 125-134 (2015). Díaz de Astarloa J.M. Paralichthys patagonicus Jordan, in Jordan and Goss, 1889, a senior synonym of P. bicyclophorus Miranda Ribeiro, 1915 (Paralichthyidae: Pleuronectiformes). Copeia 1996 (4):1035-1037 (1996). Díaz de Astarloa J.M. A review of the flatfish fisheries of the South Atlantic Ocean. Revista de Biología Marina y Oceanografia 37(2): 113-125 (2002). Díaz de Astarloa J.M., T.A. Munroe e M. Desoutter. Redescription and holotype clarification of Paralichthys orbignyanus (Valenciennes, 1839) (Pleuronectiformes: Paralichthyidae). Copeia 2006 (2): 235–243 (2006). Eschmeyer W.N., R. Fricke e R. van der Laan (Ed) Catalog of Fishes: Genera, Species, References. (http://researcharchive.calacademy.org/research/ichthyology/catalog/fishcatmain.asp). (2016). Electronic version accessed 02 09 2016.

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Tabela 4.4.1. Dados merísticos e morfométricos, de espécies de Paralichthyidae associadas ao nome vulgar linguado, a partir de exemplares capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, Brasil.

Paralichthys isosceles Paralichthys orbignyanus Paralichthys patagonicus Xystreurys rasile (n=37) (n=39) (n=41) (n=32) min max med SD min max med SD min max med SD min max med SD Comprimento do maxilar 2,31 4,70 3,14 0,48 2,93 7,63 4,72 1,09 1,87 5,91 3,70 1,38 1,38 2,59 1,84 0,30 Comprimento do focinho 1,00 1,94 1,38 0,20 1,06 3,84 1,95 0,59 0,90 2,32 1,48 0,47 0,62 1,35 0,89 0,17 Diâmetro do olho 1,06 1,92 1,33 0,16 1,01 2,07 1,43 0,27 0,66 1,87 1,31 0,37 0,94 1,70 1,25 0,21 Distância olho-maxilar 1,12 2,47 1,67 0,38 1,62 3,09 2,26 0,42 0,88 2,93 1,80 0,56 0,85 1,61 1,15 0,20 Comprimento da cabeça 5,25 9,32 6,87 0,86 7,37 17,08 10,52 2,17 4,19 11,65 7,81 2,49 3,74 7,02 5,22 0,96 Comprimento total 23,99 38,97 30,35 3,47 36,93 76,16 50,12 9,60 18,82 55,55 36,49 11,51 21,34 36,18 28,04 4,34 Distância pré-anal 7,14 13,49 8,94 1,40 9,56 21,13 13,55 2,87 5,34 15,27 10,03 3,06 4,38 10,12 7,14 1,72 Distância pré-pélvica 5,52 9,39 6,82 0,94 7,51 16,99 10,64 2,26 4,42 12,65 8,09 2,54 3,54 7,32 5,32 1,12 Base da dorsal 17,22 29,96 22,90 2,85 26,27 55,15 36,80 6,79 12,97 41,27 27,17 9,28 14,77 26,65 19,88 3,44 Base da anal 13,46 23,12 18,17 2,39 19,60 41,97 28,77 5,13 9,44 32,92 21,39 7,21 12,17 21,59 16,23 2,74 Distância pélvica a anal 1,42 4,97 2,28 0,69 1,59 5,15 3,09 0,91 1,05 3,63 2,11 0,90 0,91 3,79 1,91 0,69 Distância pré-dorsal 1,35 2,74 1,81 0,33 2,10 5,00 3,09 0,77 1,19 3,38 2,03 0,56 1,74 3,96 2,26 0,60 Nº raios dorsais 77 89 71 76 82 85 75 89 Nº raios anais 60 71 52 56 61 65 60 71 Nº raios peitorais 10 11 9 11 10 11 8 10 Rastros branquiais 11 14 17 19 11 13 14 17

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CAPÍTULO V

Identificação das espécies de pescado constituintes das categorias comerciais pescadas e linguados no desembarque pesqueiro do estado do Rio de Janeiro

5.1. Resumo O estado do Rio de Janeiro tem importante participação na pesca extrativa marinha brasileira. No entanto, as análises estatísticas ainda são falhas e carecem de melhoria quanto a taxonomia das espécies que compõem algumas categorias. O estudo foca na identificação dos componentes de duas categorias comerciais multiespecíficas reconhecidamente complexas, tanto pelo número de espécies, quanto pela diversidade de casos de sinonímias e homonimias, as pescadas e os linguados. Foram coletados 395 exemplares identificados como pescadas e 176 como linguados, a partir de visitas a 14 pontos de desembarque artesanal e quatro de desembarque industrial, ao longo da costa fluminense, entre 2013 e 2016. Espécies associadas ao nome pescada/pescadinha, foram Cynoscion acoupa, C. guatucupa, C. jamaicensis, C. leiarchus, C. microlepidotus, C. virescens, Isopisthus parvipinnis, Macrodon atricauda, Nebris microps pertencentes a Sciaenidae (Acanthuriformes), e Merluccius hubbsi, incluso em Merlucciidae (Gadiformes). Os linguados na pesca comercial foram Paralichthys isosceles, P. patagonicus, P. orbignyanus e Xystreurys rasile, todos Paralichthyidae. Foi elaborada uma chave de identificação de uso simplificado, para uso em campo, com base no levantamento morfomerístico dos exemplares recém-coletados, para facilitar a segregação das categorias multiespecíficas de pescada e linguado, em categorias monoespecíficas. Palavras-chave: nome vulgar, estatística pesqueira, Sciaenidae, Paralichthyidae

5.2 Introdução A produção pesqueira do estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil, apresenta grande relevância no volume total pescado em águas brasileiras (IBAMA, 2007; MPA 2012). No entanto, apesar do interesse econômico, os documentos produzidos pelas instituições públicas responsáveis pelo controle quantitativo e qualitativo da produção ainda são estruturados a partir do nome vulgar atribuído a espécie ou conjunto de espécies, sem a devida correspondência taxonômica (FREIRE E PAULY, 2005; FREIRE et al.,

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2015). A falta de uma classificação taxonômica precisa constitui um importante obstáculo a avaliação dos estoques (FREIRE E PAULY, 2005), sendo passo fundamental no manejo eficiente dos estoques (MCBRIDE, 2014). O uso de nomes de referência (ou comerciais) expõe a estatística pesqueira a um grande número de homônimos, com variações específicas tanto entre pontos de desembarque, como nas variações temporais, no nome comum utilizado. Importantes exemplos desses problemas nomenclaturais podem ser observados na costa brasileira, onde 13 espécies foram registradas sob um mesmo conjunto de nomes vulgares, pescada e variações, tradicionalmente aplicada às espécies de Cynoscion, bem como o uso de linguado, aplicado a todas as espécies de Pleuronectiformes de interesse comercial ou não (FREIRE E PAULY, 2005). Sciaenidae é a família mais diversa da ordem Acanthuriformes (NELSON et al., 2016). Os cianídeos ocorrem nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, onde habitam águas rasas associadas a substratos lamosos e arenosos, usualmente próximos a regiões continentais, incluindo espécies dulcícolas encontradas em bacias americanas voltadas para o Atlântico (NELSON et al., 2016). Várias espécies se encontram associadas a estuários, seja como residentes, dependentes ou oportunistas (CHAO, 2003; MCEACHRAN E FECHHELM, 2005). As espécies de maior porte, como as do gênero Cynoscion, utilizam o ambiente estuarino sazonalmente como berçários ou zonas de alimentação, enquanto outras são residentes estuarinas (CHAO, 2003). A abundância em ambientes costeiros, em especial estuários, facilita o acesso de pescadores aos estoques dessas espécies e dessa maneira, adquirem importância econômica tanto na pesca artesanal, como na industrial (CHAO, 2003). As espécies do gênero Cynoscion são exclusivas do continente americano, sendo encontradas nas regiões costeiras do Atlântico e Pacífico. São, em geral, comuns no desembarque pesqueiro e muitas possuem elevado interesse econômico (VANDERKOOY E MULLER, 2002; CHAO, 2003; SABADIN et al., 2010; CAZORLA et al., 2014). Apesar da resolução taxonômica para as espécies de Sciaenidae, incluindo Cynoscion, estar estabelecida desde 1978 (e.g. CHAO, 1978; CHAO, 2003), as capturas comerciais ainda são registradas como pescadas/pescadinhas e variações. Os linguados, Pleuronectiformes, constituem uma ordem de Actinopterygii de grande interesse acadêmico, seja pela importância ecológica, ocupando diversos nichos em ambientes marinhos, estuarinos e dulcícolas, seja pelo interesse pesqueiro, já que algumas espécies de maior porte possuem populações suficientemente grandes para

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constituírem recursos pesqueiros relevantes (MUNROE, 2005; NELSON et al., 2016). A família Paralichthyidae, é composta por 111 espécies, em 14 gêneros, distribuídos em águas marinhas e salobras (NELSON et al., 2016). Apresenta o maior número de espécies comerciais na pesca do Atlântico Ocidental. Sendo as do gênero Paralichthys os principais linguados capturados pela pesca artesanal e industrial. Com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade dos dados de captura que fundamentam a estatística pesqueira fluminense, o presente estudo tem como objetivo identificar as espécies que compõem duas categorias de interesse econômico, mas com um longo histórico de problemas no monitoramento de suas pescarias: as pescadas e os linguados. O trabalho objetivou gerar uma ferramenta prática que permita ao usuário identificar a espécie, sem necessidade de exame laboratorial. Tal ferramenta pode fundamentar a separação das categorias multiespecíficas, atualmente utilizadas em unidades compostas, por uma única espécie Permitindo ao gestor monitorar os efeitos da atividade pesqueira sobre cada espécie desembarcada, o que hoje não ocorre.

5.3. Material e Métodos O litoral do estado do Rio de Janeiro possui cerca de 800 km, se estendendo da foz do rio Itabapoana (21°18’S) a Ponta de Trindade (23º22’S), sendo permeado de enseadas, estuários e lagunas (Figura 1). A costa fluminense é caracterizada pela presença de três massas d’água: as águas costeiras, com temperatura acima de 18ºC e salinidade menor que 35, é encontrada junto ao litoral, sob influência do aporte da drenagem continental (COSTA, 1998; MUEHE E VALENTINI, 1998); as águas tropicais superficiais, constituídas pela combinação da massa costeira com águas tropicais, com temperatura superior a 18ºC e salinidade acima de 36, com inserção periódica via ressurgência das Águas Centrais do Atlântico Sul (ACAS), caracterizada por águas entre 6º e 18ºC e salinidade 34,5 e 36. As águas tropicais superficiais se estendem verticalmente da superfície a 250 m de profundidade e são carreadas para o sul pela corrente do Brasil (VIANA et al., 1998). Abaixo dessa massa, é encontrada a ACAS, entre 300 e 550 m, transportada em eventos de ressurgência mediada pelo regime de ventos na região de Cabo Frio (23ºS, 042°W) (VALENTIN et al., 1987; VIANA et al., 1998). Os espécimes capturados e comercializados como pescadas ou linguados foram obtidos junto a pescadores em 14 pontos de desembarque artesanal e quatro de desembarque industrial, ao longo da costa fluminense, entre 2013 e 2016 (Figura 1).

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Informações relativas ao pescado eram obtidas junto aos pescadores da embarcação, sendo registrado o nome vulgar utilizado, o período da pescaria, a arte de pesca e o petrecho utilizado. Os espécimes foram acondicionados em caixas térmicas e encaminhados ao laboratório onde foi realizada a identificação taxonômica, utilizando chaves dicotômicas e a diagnose segundo literatura especializada (CHAO, 1978; FIGUEIREDO E MENEZES, 1978; CHAO, 2003).

Figura 5.3.1. Estado do Rio de Janeiro, com destaque para os municípios amostrados (○=pesca artesanal, ●=pesca industrial). Localidades: Paraty (1), Angra dos Reis (2), Mangaratiba (3), Rio de Janeiro (4), Magé (5), São Gonçalo (6), Niterói (7), Saquarema (8), Cabo Frio (9), Casemiro de Abreu (10), Macaé (11), Quissamã (12), Campos dos Goytacazes (13), São João da Barra (14), São Francisco de Itabapoana (15) (modificado de ABREU, 2006).

5.4. Resultados e Discussão Foram obtidos 395 exemplares comercializados ou reconhecidos sob o nome vulgar pescada, capturados ao longo da costa do estado do Rio de Janeiro. As 10 espécies coletadas pertencem a cinco gêneros, de duas famílias e duas ordens diferentes. Os taxons identificados foram Cynoscion acoupa (Lacépède, 1801), C. guatucupa (Cuvier, 1830), C. jamaicensis (Vaillant & Bocourt, 1883), C. leiarchus (Cuvier, 1830), C. microlepidotus (Cuvier, 1830), C. virescens (Cuvier, 1830), Isopisthus parvipinnis (Cuvier, 1830), Macrodon atricauda (Günther, 1880), Nebris microps Cuvier, 1830

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pertencentes à Sciaenidae (Acanthuriformes), e Merluccius hubbsi Marini, 1933, incluso em Merlucciidae (Gadiformes). Ainda que o nome vulgar pescada seja comumente associado às seis espécies do gênero Cynoscion, duas espécies de Sciaenidae, Nebris microps e Macrodon atricauda, são reconhecidas por variações do nome pescada: pescada-banana e pescadinha. As duas espécies restantes, Isopisthus parvipinnis e Merluccius hubbsi, apresentaram uma sobreposição parcial no uso do nome. A faneca I. parvipinnis foi registrada também em conjunto com as espécies associadas a pescadinha: Cynoscion guatucupa, C. jamaicensis e C. leiarchus. Já a merluza M. hubbsi, apesar de conhecida mais comumente pelo nome vulgar especifico, também foi referida como pescada-portuguesa no desembarque. Foram amostrados 176 Pleuronectiformes desembarcados pela pesca artesanal e industrial, ao longo da costa do estado do Rio de Janeiro, pertencendo a seis espécies e quatro gêneros de Paralichthyidae. Os linguados Paralichthys isosceles Jordan, 1891, P. patagonicus Jordan, 1889, P. orbignyanus (Valenciennes, 1839) e Xystreurys rasile (Jordan, 1891) foram associados efetivamente a pesca comercial. Já as espécies Syacium papillosum (Linnaeus, 1758) e Citharichthys macrops Dresel, 1885, são normalmente descartadas a bordo, mas exemplares foram comercializados como mistura em dois pontos de pesca artesanal. Contudo as análises foram restritas apenas às espécies efetivamente incluídas na categoria comercial linguado. As espécies identificadas estão organizadas segundo Nelson et al. (2016), com identificação do nome de referência atualmente em uso nos dados estatísticos federal (MPA, 2012) e estadual (FIPERJ, 2013). Entre parênteses se encontram as sinonímias reconhecidas. A distribuição é baseada na literatura especializada, acompanhada de dados levantados durante o estudo:

Superordem Paracanthopterygii Ordem Gadiformes Família Merlucciidae Gênero Merluccius Merluccius hubbsi Marini, 1933 Nome de referência: merluza (F - RJ) Nome vulgar: merluza, pescada-portuguesa

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Figura 5.4.1. Exemplar de Merluccius hubbsi desembarcado em Gradim, São Gonçalo em agosto de 2015 (40,5 cm CT).

Distribuição: Rio de Janeiro (BERNARDES et al., 2005) a Patagônia argentina (54ºS) (COHEN et al., 1990; DÍAZ DE ASTARLOA et al., 2011). Teve sua captura identificada apenas no desembarque pesqueiro da frota industrial e apesar de tratada mais comumente como merluza, também foi mencionada como pescada-portuguesa, no desembarque e durante a comercialização A menção pode ser atribuída a influência portuguesa no etnoconhecimento dos pescadores, já que o nome pescada é comumente atribuído a espécies de Merlucciidae pela pescaria lusitana. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo até a margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 15,6 a 20,9% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 22,1 a 31,3% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 14 a 15 rastros branquiais. Corpo alongado e comprimido, coberto por pequenas escamas ciclóides. Nadadeira dorsal separada em duas partes ou três lobos, a primeira com um raio e 10 a 12 raios e a segunda, com dois lobos, com 37 a 40 raios. Raios da nadadeira peitoral com 16 raios. Nadadeira anal com 38 ou 40 raios. Nadadeira caudal truncada. Coloração prateada ao longo do corpo, mais esbranquiçada em direção ao ventre, sem estrias ou máculas. Caudal acinzentada escura. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 31,7 a 47,2 cm.

Superordem Acanthopterygii Ordem Acanthuriformes Família Sciaenidae Gênero Cynoscion Cynoscion acoupa (Lacépède, 1801)

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Nome de referência: pescada-amarela (F - RJ) Nome vulgar: pescada-amarela

Figura 5.4.2. Exemplar de Cynoscion acoupa desembarcado em Bancários, Ilha do Governador, Baía de Guanabara em novembro de 2015 (48,3 cm CT).

Distribuição: Panamá a Argentina (CHAO, 2003). Apesar da conhecida associação exclusiva entre o nome vulgar e a espécie ao longo do tempo (TRAVASSOS E PAIVA, 1957; TRAVASSOS E REGO-BARROS, 1971; MPA, 2012), o desembarque pesqueiro artesanal da costa norte fluminense também associou o nome pescada-amarela a C. virescens. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 13,5 a 14,5% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 20,0 a 24,4% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 10 a 16 rastros branquiais. Corpo alongado, coberto por escamas ctenóide, fracamente comprimido. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com dez espinhos e a segunda com um espinho e de 17 a 22 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 15 e 19. Nadadeira anal com 7 ou 8 raios. Nadadeira caudal rombóide. Coloração variando de um padrão mais escuro próximo ao dorso, variando para acinzentado em direção ao ventre. Nadadeiras peitoral, pélvica, caudal amarelado a alaranjado. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 34,0 a 75,3 cm.

Cynoscion guatucupa (Cuvier, 1830) Nome de referência: pescada-olhuda (maria-mole) (F - RJ)

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Nome vulgar: maria-mole, pescadinha

Figura 5.4.3. Exemplar de Cynoscion guatucupa desembarcado em Angra dos Reis em julho de 2015 (30,3 cm CT).

Distribuição: Rio de Janeiro a Patagônia argentina (43ºS) (FIGUEIREDO E MENEZES, 1980; COUSSEAU E PERROTTA, 2004). A categoria foi previamente associada a Cynoscion striatus nos trabalhos estatísticos até a correção para C. guatucupa (FIGUEIREDO, 1992). A espécie foi observada tanto no desembarque da frota artesanal, quanto industrial. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 16,5 a 18,5% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 27,1 a 27,6% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 21 a 25 rastros branquiais. Corpo alongado e comprimido, coberto por escamas ctenóide. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com dez espinhos e a segunda com um espinho e de 18 a 21 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 16 e 18. Nadadeira anal com 8 ou 9 raios. Nadadeira caudal truncada. Coloração variando de um padrão acinzentado escuro próximo ao dorso, clareando até o ventre. Estrias oblíquas escuras sob a base da dorsal, bem evidentes. Nadadeiras peitoral, pélvica e anal amareladas. Caudal acinzentada escuro. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 22,9 a 48,9 cm.

Cynoscion jamaicensis (Vaillant & Bocourt, 1883) Nome de referência: goete (pescadinha-goete) (F); goete (RJ)

114

Nome vulgar: goete, pescadinha

Figura 5.4.4. Exemplar de Cynoscion jamaicensis desembarcado em Angra dos Reis em maio de 2014 (30,1 cm CT).

Distribuição: Panamá, Pequenas Antilhas e Porto Rico a Argentina (CHAO, 2003). A espécie foi observada tanto no desembarque da frota artesanal, como industrial. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 22,1 a 20,4% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 27,0 a 27,6% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 9 a 13 rastros branquiais. Corpo alongado e comprimido, coberto por escamas ctenóide. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com dez espinhos e a segunda com um espinho e de 22 a 27 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 16 e 18. Nadadeira anal com 8 ou 10 raios. Nadadeira caudal truncada. Coloração acinzentado claro pelo corpo, sem marcações ou estrias. Nadadeiras peitoral, pélvica e anal amareladas. Caudal acinzentada. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 19,0 a 30,1 cm.

Cynoscion leiarchus (Cuvier, 1830) Nome de referência: pescada-branca (F); perna-de-moça, marmota (pescada-branca) (RJ) Nome vulgar: pescadinha, pescada-branca

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Figura 5.4.5. Exemplar de Cynoscion leiarchus desembarcado em Muriqui, Mangaratiba em fevereiro de 2016 (40,5 cm CT).

Distribuição: Panamá ao sul do Brasil (CASATTI E MENEZES, 2003; CHAO, 2003). A espécie apresentou um elevado número de sinonímias sendo aplicada em várias localidades diferentes. Foi identificada como pescadinha-verdadeira em Mangaratiba, lombo-azul na Baía de Guanabara, marmota em Cabo Frio, além de perna-de-moça, pescada-branca e pescadinha, recorrente nas demais localidades. Foi observada no desembarque da frota artesanal. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 14,2 a 15,6% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 24,2 a 25,5% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 8 a 11 rastros branquiais. Corpo alongado e comprimido, coberto por pequenas escamas ciclóides. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com dez espinhos e a segunda com um espinho e de 20 a 24 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 17 e 19. Nadadeira anal com 10 ou 12 raios. Nadadeira caudal truncada. Coloração acinzentada no dorso variando para prateado em direção ao ventre, sem marcações ou estrias. Nadadeiras peitoral, pélvica e anal claras. Caudal acinzentada clara. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 28,7 a 49,9 cm.

Cynoscion microlepidotus (Cuvier, 1830) Nome de referência: não listada (F); pescada-bicuda (RJ)

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Nome vulgar: pescada-bicuda, pescadinha

Figura 5.4.6. Exemplar de Cynoscion microlepidotus desembarcado em Macaé em maio de 2014 (35,7 cm CT).

Distribuição: Venezuela ao sudeste do Brasil (CASATTI E MENEZES, 2003). Foi observada no desembarque da frota artesanal. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 16,7 a 17,5% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 20,0 a 22,5% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 7 a 10 rastros branquiais. Corpo alongado e comprimido, coberto por pequenas escamas ciclóides. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com dez espinhos e a segunda com um espinho e de 22 a 25 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 17 e 19. Nadadeira anal com 8 ou 10 raios. Nadadeira caudal romboidal. Coloração acinzentada no corpo, sem marcações ou estrias. Nadadeiras peitoral, pélvica e anal amareladas. Caudal acinzentado escuro, enegrecida na extremidade distal. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 26,6 a 37,7 cm.

Cynoscion virescens (Cuvier, 1830) Nome de referência: pescada-cambuçu (pescada-cururuca) (F); não listada (RJ) Nome vulgar: pescada-cambuçu, pescada-amarela

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Figura 5.4.7. Exemplar de Cynoscion virescens desembarcado em Atafona, São João da Barra em fevereiro de 2016 (33,8 cm CT).

Distribuição: Panamá ao sudente do Brasil (CASATTI E MENEZES, 2003). Apesar de ser conhecida ao longo da costa fluminense de Paraty a Macaé como pescada-cambuçu, foi associada a pescada-amarela no desembarque artesanal entre Farol de São Tomé (Campos dos Goytacazes) e Gargaú (São Francisco de Itabapoana). Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Cabeça deprimida na região nucal, com olho pequeno comparado aos demais membros de Cynoscion, com diâmetro entre 17,5 a 12,9% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 22,5 a 24,9% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 7 a 11 rastros branquiais. Corpo alongado e comprimido, coberto por escamas ciclóides. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com dez espinhos e a segunda com um espinho e de 27 a 31 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 18 e 19. Nadadeira anal com 8 ou 9 raios. Nadadeira caudal romboidal. Coloração acinzentada no corpo, mais escuro no dorso, sem marcações ou estrias. Nadadeiras peitoral, pélvica e anal amareladas. Caudal acinzentado escuro. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 26,9 a 94,1 cm.

Gênero Isopisthus Isopisthus parvipinnis (Cuvier, 1830) Nome de referência: tortinha (F); não listada (RJ) Nome vulgar: faneca, pescadinha

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Figura 5.4.8. Exemplar de Isopisthus parvipinnis desembarcado em Barra de São João, Casemiro de Abreu em setembro de 2013 (20,2 cm CT).

Distribuição: Costa Rica a Santa Catarina (CASATTI E MENEZES, 2003). A espécie localmente é conhecida como faneca, em especial no desembarque artesanal, mas comumente agrupada junto às espécies menores de pescada e pescadinha (C. leiarchus, C. guatucupa, C. microlepidotus, C. jamaicensis e Macrodon atricauda). Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 18,0 a 20,7% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 21,3 a 24,9% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 8 a 11 rastros branquiais. Corpo alongado e fortemente comprimido, coberto por escamas ciclóides. Nadadeira dorsal separada em duas porções bem separadas, a primeira com oito espinhos e a segunda com um espinho e de 20 a 21 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 17 e 18. Nadadeira anal com 18 a 20 raios. Nadadeira anal mais longa do que a observada para Cynoscion, Nebris e Macrodon, variando entre 17,7 a 19,0% do comprimento total (7,0 a 11,3% nas demais). Nadadeira caudal truncada. Coloração prateada, sem marcações ou estrias. Nadadeiras peitoral, pélvica e anal claras. Caudal acinzentada clara. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 20,3 a 28,2 cm.

Gênero Macrodon Macrodon atricauda (Günther, 1880) Nome de referência: tortinha (F); milonga (RJ) Nome vulgar: pescadinha, milonga

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Figura 5.4.9. Exemplar de Macrodon atricauda desembarcado em Gradim, São Gonçalo em outobro de 2015 (29,6 cm CT).

Distribuição: Espírito Santo ao norte da Argentina (CARVALHO-FILHO et al., 2010). A espécie foi reconhecida comumente como pescadinha e, por vezes, como milonga. No entanto, a denominação pescadinha-real ou pescadinha-verdadeira, atribuída a espécie nos dados estatísticos, foi aplicada apenas a C. leiarchus. Vale notar que até 2010, apenas uma espécie era reconhecida para o sudoeste do Atlântico, Macrodon ancylodon (Bloch & Schneider, 1801), sendo referenciado assim dos dados de produção nacional e estadual. Em estudo acerca da diferenciação genética entre populações de cianídeos baseado na análise de DNA mitocondrial, dois grupos geneticamente distintos foram observados, com clara indicação de que se tratavam de espécies distintas (SANTOS et al., 2003). Em estudo posterior, também foram identificadas a separação espacial entre os dois e a falta de fluxo gênico (SANTOS et al., 2006). Por fim, CARVALHO-FILHO et al. (2010), correlacionaram as evidências levantadas com as formas descritas para Macrodon, tendo sido reconhecido que as populações tropicais correspondiam a M. ancylodon, enquanto que as subtropicais, incluindo o Rio de Janeiro, foram associadas a Macrodon atricauda, originalmente descrita por Günther (1880) mas considerada em revisões posteriores sinônimo de M. ancylodon. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Dentição da maxila inferior com caninos bem evidentes, com o ápice em forma de seta. Diâmetro do olho entre 14,7 a 17,4% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 22,5 a 24,5% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 9 a 11 rastros branquiais. Corpo alongado e comprimido,

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coberto por pequenas escamas ciclóides. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com dez espinhos e a segunda com um espinho e 28 raios. Raios da nadadeira peitoral com variação entre 16 e 17. Nadadeira anal com 9 ou 10 raios. Nadadeira caudal romboidal. Coloração acinzentada no corpo, sem marcações ou estrias. Caudal acinzentado escuro, enegrecida na extremidade distal. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 25,3 a 33,6 cm.

Gênero Nebris Nebris microps Cuvier, 1830 Nome de referência: não listada (F); não listada (RJ) Nome vulgar: pescadinha-banana, pescadinha-rolão, pescadinha-rosa

Figura 5.4.10. Exemplar de Nebris microps desembarcado em dezembro de 2013 em Macaé em julho de 2014 (26,8 cm CT).

Distribuição: Venezuela ao sudente do Brasil (CASATTI E MENEZES, 2003). Apesar de ter sido recorrente no desembarque da frota artesanal e reconhecida por nomes vulgares exclusivamente aplicados a ela, não figura como uma categoria distinta nos dados estatísticos estaduais. Caracteres diagnósticos: Boca oblíqua, com a maxila inferior prognata se estendendo além da margem posterior do olho. Dentição formada por dentes cônicos pequenos. Olhos pequenos, com diâmetro entre 7,4 a 9,1% do comprimento da cabeça. A cabeça se estende entre 19,5 a 23,9% do comprimento total e possui perfil arredondado. Primeiro arco branquial com 21 a 22 rastros branquiais. Corpo alongado e sem compressão lateral, coberto por pequenas escamas ciclóides. Nadadeira dorsal separada em duas porções, a primeira com oito espinhos e a segunda com um espinho e 31 a 32 raios. Raios da

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nadadeira peitoral com 16 raios. Nadadeira anal com 9 ou 10 raios. Nadadeira caudal romboidal. Coloração pardacenta a roseada no corpo, com bandas oblíquas largas ao longo do tronco. Caudal acinzentado escuro. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 26,0 a 31,9 cm.

Ordem Pleuronectiformes Família Paralichthyidae Gênero Paralichthys Paralichthys isosceles Jordan, 1891 Nome de referência: linguado (F); linguado-da-areia (RJ) Nome vulgar: linguado-da-areia, linguado

Figura 5.4.11. Exemplar de Paralichthys isosceles capturado em Gradim, São Gonçalo em outubro de 2015 (29,7 cm CT).

Distribuição: Paraná ao Golfo de São Jorge, Argentina (FIGUEIREDO E MENEZES, 2000; DÍAZ DE ASTARLOA, 2002; MENEZES E FIGUEIREDO, 2003). Apesar de ser a única espécie comercial de linguado segregada como categoria monoespecífica, foi registrada sua presença no desembarque da frota industrial junto de P. patagonicus e X. rasile, todas sob o nome linguado-da-areia. A presença de Paralichthys isosceles no presente estudo contradiz parte da literatura existente para a espécie. FIGUEIREDO E MENEZES (2000) e MENEZES E FIGUEIREDO (2003) descrevem a distribuição da espécie da costa do Paraná (26º30’S) a Patagônia argentina (45º05’S), sendo que P.

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triocellatus, espécie com quem compartilha várias características diagnósticas, ocorre da costa de Cabo Frio (22°52’S) ao Uruguai. No entanto, BERNARDES et al. (2005), baseado em amostragens com arrasto de fundo, entre Cabo de São Tomé (21º59’S) e Cabo de Santa Marta (28º36’S), registraram a presença de ambas espécies, mas com abundância absoluta de P. isosceles. Esse estudo corrobora a distribuição dada por HAIMOVICI et al. (1994), que estende a ocorrência até o Rio de Janeiro. Além disso, P. isosceles foi descrita a partir de três exemplares coletados em prospecção biológica na costa da Bahia, no nordeste do Brasil (JORDAN, 1891; RATHBUN, 1898), o que sustenta uma distribuição geográfica maior do que a relatada por parte da literatura. Os exemplares de P. isosceles analisados no presente estudo apresentaram características morfomerísticas que coincidem com o descrito para a espécie. Caracteres diagnósticos: Boca terminal com dentes caninos expostos, se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 20,1 a 20,6% do comprimento da cabeça. Cabeça representa 21,8 a 23,9% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 11 a 14 rastros. Corpo oval alongado coberto com escamas ctenóides no lado oculado e cego. Nadadeira dorsal com 77 a 89 raios. Nadadeira peitoral do lado oculado com 10 a 11 raios. Nadadeira anal com 60 a 71 raios. Nadadeira caudal com formato arredondado, sem raios mais ventrais e dorsais proeminentes. Nadadeira pélvica com uma mancha circular bem evidente. Coloração parda ao longo do corpo com três ocelos bem distintos, dois alinhados verticalmente no meio do corpo, sobre e sob a parte reta da linha lateral. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 24,9 a 39,0 cm.

Paralichthys patagonicus Jordan, 1889 Nome de referência: linguado (F, RJ) Nome vulgar: linguado-da-areia, linguado-alvo

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Figura 5.4.12. Exemplar de Paralichthys patagonicus desembarcado em Angra dos Reis em março de 2016 (43,8 cm CT).

Distribuição: Cabo Frio, no Rio de Janeiro a Terra do Fogo, na Argentina (FIGUEIREDO E MENEZES, 2000; MENEZES E FIGUEIREDO, 2003). DÍAZ DE ASTARLOA (1996) confirmou a validade de P. patagonicus e tornou-o sinônimo sênior de P. bicyclophorus Miranda-Ribeiro, 1915. A espécie foi observada tanto no desembarque da frota artesanal como industrial. Caracteres diagnósticos: Boca terminal com dentes caninos expostos, se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 15,8 a 16,1% do comprimento da cabeça. Cabeça representa 20,9 a 22,2% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 11 a 13 rastros. Corpo oval alongado coberto com escamas ctenóides no lado oculado e cego. Nadadeira dorsal com 82 a 85 raios. Nadadeira peitoral do lado oculado com 10 a 11 raios. Nadadeira anal com 61 a 65 raios. Nadadeira caudal arredondada, com raios mais ventrais e dorsais destacados, mais longos que os demais. Coloração parda ao longo do corpo com dois ocelos bem distintos, um posicionado próximo à junção da parte reta e curva da linha lateral, e o segundo na linha lateral na parte posterior do corpo, próximo à nadadeira caudal. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 24,9 a 39,0 cm.

Paralichthys orbignyanus (Valenciennes, 1839) Nome de referência: linguado (F, RJ) Nome vulgar: linguado-preto, linguado

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Figura 5.4.13. Exemplar de Paralichthys orbignyanus desembarcado em Copacabana, Rio de Janeiro em fevereiro de 2015 (42,5 cm CT).

Distribuição: Rio de Janeiro ao Golfo de São Matias (40º-42ºS), na Argentina (MENEZES E FIGUEIREDO, 2003). Foi a espécie mais associada a pesca artesanal, predominando sobre as demais nesse tipo de pescaria, com o registro de exemplares de tamanho superior ao das demais espécies capturadas pela frota industrial (até 761,6 mm CT). DÍAZ DE ASTARLOA et al. (2006), redescreveram P. orbignyanus e examinaram a validade dessa espécie e P. brasiliensis (Ranzani, 1842), com quem compartilha várias características, como a presença de escamas ciclóides em ambos os lados do corpo. DÍAZ DE ASTARLOA et al. (2006) consideram as espécies válidas, sendo que os dados merísticos e morfométricos fornecidos na redescrição coincidiram com os exemplares identificados como P. orbignyanus no presente estudo. Caracteres diagnósticos: Boca terminal com dentes caninos expostos, se estendendo além da margem posterior do olho. Diâmetro do olho entre 12,1 a 13,7% do comprimento da cabeça. Cabeça representa 19,9 a 22,4% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 17 a 19 rastros. Corpo oval alongado coberto com escamas ciclóides no lado oculado e cego. Nadadeira dorsal com 71 a 76 raios. Nadadeira peitoral do lado oculado com 9 a 11 raios. Nadadeira anal com 52 a 56 raios. Nadadeira caudal com formato arredondado, com raios mais ventrais e dorsais destacados, mais longos que os demais. Coloração parda ao longo do corpo sem ocelos bem distintos. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 36,9 a 76,2 cm.

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Gênero Xystreurys Xystreurys rasile (Jordan, 1891) Nome de referência: linguado (F); não listada (RJ) Nome vulgar: linguado-da-areia, linguado

Figura 5.4.14. Exemplar de Xysreurys rasile capturado em Gradim, São Gonçalo em outubro de 2015 (25,0 cm CT).

Distribuição: Rio de Janeiro a Patagônia (53ºS) (FIGUEIREDO E MENEZES, 2000; MENEZES E FIGUEIREDO, 2003). Única espécie não inclusa em Paralichthys observada na pesca comercial de linguado, não é registrada nos dados de produção do Rio de Janeiro. A espécie foi observada no desembarque da frota industrial. Caracteres diagnósticos: Boca terminal com dentes caninos cobertos, se estendendo até o meio da órbita ocular. Diâmetro do olho entre 24,2 a 25,1% do comprimento da cabeça. Cabeça representa 17,5 a 19,4% do comprimento total. Primeiro arco branquial com 14 a 17 rastros. Corpo oval alongado coberto com escamas ciclóides no lado oculado e cego. Nadadeira dorsal com 75 a 89 raios. Nadadeira peitoral do lado oculado com 8 a 10 raios. Nadadeira anal com 60 a 71 raios. Nadadeira caudal com formato arredondado, com raios mais ventrais e dorsais destacados, mais longos que os demais. Coloração parda ao longo do corpo com dois ocelos bem distintos, um posicionado próximo a junção da parte reta e curva da linha lateral, e o segundo na linha lateral na parte posterior do corpo, próximo a nadadeira caudal. Comprimento total: Exemplares analisados variaram de 21,3 a 36,2 cm.

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Chave de identificação para as espécies de pescada/pescadinha no desembarque pesqueiro do estado do Rio de Janeiro (em negrito, caracteres diagnósticos de uso prático): 1a. Presença de três lobos nas nadadeiras dorsais e dois anais...... Merluccius hubbsi 1b. Presença de dois lobos na nadadeira dorsal e um na anal (Fig. 2d e 2e)……………………………………………………………………………..... 2 2a. Nadadeira anal longa (4,8 a 5,6 vezes no comprimento total) (Fig. Isopisthus 2d)...... parvipinnis 2b. Nadadeira anal curta (8,8 a 14,2 vezes no comprimento total) (Fig. 2e)...... 3 3a. Olho pequeno (11,0 a 13,5 vezes no comprimento da cabeça) (Fig. Nebris 2a)...... microps 3b. Olho grande (4,5 a 8,8 vezes no comprimento da cabeça) (Fig. 2b)...... 4 4a. Dentes anteriores da arcada inferior expostos, mesmo com a boca fechada; Todas as nadadeiras com tonalidade amarelada, em especial Macrodon a anal...... atricauda 4b. Dentes anteriores da arcada inferior não expostos...... 5 5a. Dorso marcado por listras escuras oblíquas (Fig. 2f); 18 a 21 raios dorsais; 8 a 9 raios anais; 16 a 18 raios peitorais; 21 a 26 rastros Cynoscion branquiais...... guatucupa 5b. Corpo sem padrões de manchas evidentes (Fig. 2e)...... 6 6a. Nadadeira caudal truncada (Fig. 2g)...... 7 6b. Nadadeira caudal com expansão dos raios medianos (Fig. 2h)...... 8 7a. Tronco de textura lisa (escamas pequenas ciclóides); nadadeira anal branca; 20 a 24 raios dorsais; 8 a 9 raios anais; 17 a 19 raios peitorais; 8 a Cynoscion 11 rastros...... leiarchus 7b. Tronco de textura rugosa (escamas grandes ctenóides); nadadeira anal amarelada (Fig. 2e); 22 a 27 raios dorsais; 8 a 10 raios anais; 16 a 18 Cynoscion raios peitorais; 9-13 rastros branquiais...... jamaicensis 8a. Cabeça longa e deprimida dorsoventralmente (Fig. 2c); 27 a 31 raios dorsais; 10 a 12 raios anais; 18 a 19 raios peitorais; 7 a 11 rastros Cynoscion branquiais...... virescens 8b. Cabeça não deprimida (Fig. 2b)...... 9 9a. Tronco com tonalidade escura no dorso e amarelada no ventre; Corpo com fraca compressão lateral; 17 a 22 raios dorsais; 7 a 8 raios Cynoscion anais; 15 a 19 raios peitorais; 10 a 16 rastros branquiais...... acoupa 9b. Tronco acinzentado claro, sem grandes variações; corpo com compressão lateral; 22 a 25 raios dorsais; 8 a 10 raios anais; 18 a 21 raios Cynoscion peitorais; 7 a 10 rastros branquiais...... microlepidotus

Chave de identificação para as espécies de linguados no desembarque pesqueiro do estado do Rio de Janeiro: 1a. Boca pequena, não ultrapassando a metade da órbita inferior (Fig. 2i); Boca com dentes não expostos quando fechada; Nadadeira com um

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lobo mediano; 14-17 rastros branquiais; 60-71 raios anais; 75 a 89 raios Xystreurys dorsais...... rasile 1b. Boca grande, ultrapassando a metade da órbita inferior (Fig. 2j); Boca com dentes expostos quando fechada (Fig. 2j)...... 2 2a. Presença de dois ocelos perpendicular a linha lateral, póximo do fim da peitoral (Fig. 2l), mais um ocelo no pedúnculo caudal. Nadadeira com um lobo mediano; 11 a 14 rastros branquiais; 60 a 71 raios anais; 77 Paralichthys a 89 raios dorsais...... isosceles 2b. Não possui três ocelos no corpo; Nadadeira arredondada...... 3 3a. Presença de um ocelo sob a linha lateral, próximo do fim da peitoral (Fig. 2m), mais um ocelo no pedúnculo caudal; 11 a 13 rastros braquiais; Paralichthys 61 a 65 raios anais; 82 a 85 raios dorsais...... patagonicus 3b. Sem ocelos evidentes no corpo; 17 a 19 rastros branquiais; 52 a 56 Paralichthys raios anais; 71 a 76 raios dorsais...... orbignyanus

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Figura 5.4.1. Detalhes úteis para o diagnóstico das espécies de pescadas e linguados capturadas na pesca fluminense. 2a. Olho pequeno (Nebris microps); 2b. Olho grande (Cynoscion acoupa); 2c. Cabeça com depressão dorso-ventral (C.virescens); 2d. Anal longa (Isopisthus parvipinnis); 2e. Anal curta (C. jamaicensis); 2f. Dorso com estrias oblíquas escuras (C. guatucupa); 2g. Nadadeira caudal truncada (C. leiarchus); 2h. Nadadeira caudal com expansão dos raios medianos (C. acoupa); 2i. Maxila curta (Xystreurys rasile); 2j. Maxila longa alcançando ou ultrapassando o limite distal da órbita ocular (Paralichthys orbignyanus); 2l. Dois ocelos perpendiculares a linha lateral, localizado sobre e abaixo da mesma (P. isosceles); 2m. Um ocelo sob a linha lateral, próximo a nadadeira peitoral (P. patagonicus).

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5.5. Referências

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Discussão geral Apesar de representarem recursos demersais típicos da produção pesqueira brasileira, a análise cientométrica permitiu identificar a escassez de dados publicados para as espécies de pescadas e linguados, sendo Cynoscion e Paralichthys as mais associadas a essas categorias. Ainda que diferenças específicas fossem esperadas, com algumas espécies mais estudadas enquanto outras são preteridas (MAHON, 1997), a extensão dessa desigualdade e o padrão que ela descreve eram desconhecidos (PAULY E ZELLER, 2016; ZELLER et al., 2016). A costa brasileira mostrou uma concentração de estudos na região sudeste-sul do Brasil, em detrimento da costa norte e nordeste do país, em ambas as categorias de pescado. Ainda assim, quando a análise engloba todas as espécies do Atlântico Ocidental, o quadro brasileiro, mesmo para a costa sudeste-sul, mostra uma defasagem de estudos para as espécies brasileiras de Cynoscion e Paralichthys e, consequentemente, das principais espécies associadas a pescadas e linguados. As lacunas no conhecimento coincide com a demanda por mais estudos apontada para as duas categorias por outros autores (DÍAZ DE ASTARLOA, 2002; CHAO et al., 2015; FREIRE et al., 2015) Os estudos voltados para as espécies do Atlântico Norte predominaram em ambas as análises, sendo voltados em sua maioria aos linguados Paralichthys dentatus e P. lethostigma e às pescadas Cynoscion nebulosus e C. regalis. O grupo corresponde às espécies de maior interesse econômico para os EUA dentro dos gêneros a que pertencem. Entretanto, para as demais áreas das costas norte e centro-americanas, a biologia e ecologia das mesmas espécies são praticamente desconhecidas o que demonstra que diferenças nacionais foram bem evidenciadas nos resultados. Quando comparados a situação do Atlântico Sul, ainda que em menor escala, a relação foi similar. Focando nas espécies de maior interesse econômico no caso dos linguados (P. orbignyanus e P. patagonicus) e na principal espécie de pescada explorada pela pesca industrial (C. guatucupa). Esse último dado ajuda a explicar os quadros observados para o Atlântico Norte e Sul. As áreas de maior importância pesqueira para a pesca industrial da América do Sul é coincidente com as áreas evidenciadas nos estudos de cientometria, se estendendo do sudeste-sul brasileiro ao norte da Patagônia Argentina. A mesma relação é observada no Hemisfério Norte, com os EUA, caracterizado pelo predomínio da pesca industrial, sendo responsável por quase toda a produção científica de linguados e pescadas para a região.

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Por outro lado, a escassez de dados publicados para a costa mexicana, centro e sul-americana até o nordeste brasileiro cobre uma extensa área onde a pesca artesanal tem forte participação na produção pesqueira. Esse fato expõe dois obstáculos ao conhecimento das espécies marinhas locais exploradas sob os nomes pescadas e linguados. O primeiro é o já mencionado desconhecimento da pesca artesanal e das espécies capturadas por esse tipo de pescaria (BÉNÉ, 2006). Essa pesca é de difícil monitoramento pelo isolamento das comunidades ou as dificuldades de se padronizar uma variedade de nomes comuns sem que a associação com as devidas espécies taxonômicas tenha sido estabelecida. O fato já é conhecido e se repete nas pescarias de outros países tropicais americanos, sendo necessário o desenvolvimento de estratégias que contemplem essas dificuldades (BÉNÉ, 2006). O segundo é que o conhecimento para as espécies de Paralichthys e Cynoscion foi oriundo de pesquisas conduzidas em áreas limitadas da costa americana, sendo desconhecido se padrões observados nesses estudos se repetem nas áreas inexploradas, como períodos reprodutivos, estuários usados para postura e crescimento, sanidade do pescado e características das populações locais. Mesmo a ocorrência e a distribuição das espécies podem estar sendo ocultas nessa ampla região costeira sem estudos. A observação coincide com as conclusões do estudo de Chao et al. (2015) que buscou estabelecer o estado de conservação das espécies da família e onde a possibilidade de novas espécies de Sciaenidae foi levantada. A necessidade por estratégias que permitam a correta identificação taxonômica do pescado precisa fazer parte de qualquer estruturação das estatísticas nacionais e estaduais brasileiras. O fato não é novo, tendo sido já proposto em tentativas anteriores para a resolução do problema (CARVALHO, 1957; TRAVASSOS E PAIVA, 1957) mas a falha fundamental é o foco dado apenas na pesca industrial, à semelhança da estratégia norte- americana. No entanto, enquanto a produção pesqueira dos EUA é caracterizada pelo predomínio do setor industrial e ausência da pesca artesanal, no Brasil a pesca industrial está intimamente relacionado a costa sudeste-sul do país, com presença expressiva da pesca artesanal ao longo da costa, em especial no norte-nordeste. Apesar da necessidade de dados precisos sobre a produção de toda a frota pesqueira, independente de ser artesanal ou industrial, a estratégia utilizada não pode ser a mesma, devido às características próprias de cada uma. O estabelecimento de um entreposto pesqueiro com presença de técnicos de agências governamentais para controle da produção atende a demanda para a pesca

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industrial, mas é impraticável para a pesca artesanal, que não necessariamente faz uso das mesmas estruturas e é caracterizado pelo espalhamento ao longo da costa. A capacitação dos agentes de campo e a existência de ferramentas práticas de identificação, de manuseio fácil o suficiente para serem utilizadas por técnicos sem familiaridade com a taxonomia de peixes, é a estratégia mais imediatamente disponível. O leque de opções já foi amplamente avaliado (FISCHER, 2013) e o custo de implementação e a infra-estrutura necessária são obstáculos para a viabilidade de um plano de monitoramento em escala nacional ou estadual a longo prazo. Nesse sentido, o desenvolvimento de um guia de campo para as espécies identificadas como constituintes das categorias pescadas e linguados é o primeiro passo para a resolução taxonômica da estatística pesqueira, tanto artesanal como industrial. Os estudos apresentados nos capítulos 3 e 4 foram desenvolvidos nesse sentido, devotados a elucidação do conjunto de espécies atualmente associadas às categorias pescadas e linguados. Dez espécies foram registradas como pescadas, evidenciando uma grande diversidade dentro dessa categoria, sendo já esperada o predomínio de espécies do gênero Cynoscion (6). No entanto, foi possível observar três casos de espécies de Sciaenidae tipicamente associadas a pescadinha mas com históricos variados de exploração comercial e de nomes vulgares em uso. Enquanto a pescadinha Macrodon atricauda e a faneca Isopisthus parvipinnis já compartilhavam uma conhecida similaridade morfológica e filogenética (CHAO, 1978; SASAKI, 1989), o agrupamento destas sob o nome pescadinha foi verificado nos pontos de desembarque acompanhados. Entretanto, ainda que a similaridade não motive a inclusão da pescada-banana Nebris microps e a pescada-portuguesa Merluccius hubbsi junto das demais pescadas, o uso histórico dos seus nomes vulgares específicos já era conhecido previamente (CARVALHO, 1957; TRAVASSOS E PAIVA, 1957). Os linguados foram associados a quatro espécies de Paralichthyidae, pertencentes aos gêneros Paralichthys e Xystreurys. A forte associação com a família era esperada já que a maior parte das espécies da ordem com ocorrência no Brasil são de pequeno porte e sem interesse comercial. A exceção são as espécies de Paralichthyidae, em especial os incluídos em Paralichthys e Xystreurys, que atingem tamanhos atrativos a pesca comercial. O uso de geometria morfométrica permitiu explorar estruturas geralmente desconsideradas como diagnósticas pela dificuldade de se quantificar a variação entre as espécies analisadas. Ainda que autores (GINSBURG, 1952; CHAO, 1978) tenham

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descrito estruturas como formato da cauda e observado diferenças marcantes, as chaves dicotômicas estabelecidas se voltam a analisar exemplares em laboratório, onde é possível fazer um exame mais acurado, como identificar tipo de escama, contagem de raios, espinhos e escamas da linha lateral. Se a necessidade de dados de produção por espécie foi exposta nos capítulos 1 e 2, a demanda por uma ferramenta para identificação taxonômica passa necessariamente por sua praticidade de uso, o que exclui as chaves existentes já que estas não são de fácil manuseio em campo. Dessa forma, a análise geomorfométrica permitiu auferir a importância de caracteres diagnósticos evidentes em exemplares recém-coletados, e, a partir desse ponto, incluir essas características mais evidentes em chaves passíveis de serem usadas por agentes públicos em campo, onde é possível fazer a correção necessária para os dados de captura. Os resultados obtidos foram utilizados para combinar as diferenças apontadas na análise geomorfométrica a taxonomia conhecida do grupo, com o intuito de gerar uma ferramenta de uso prático para agentes responsáveis pela coleta de dados. A possibilidade de se estabelecer a correta identificação taxonômica elimina o principal obstáculo a qualidade dos dados de captura produzidos pelo monitoramento do desembarque fluminense. O uso indiscriminado dos nomes vulgares na estatística pesqueira ainda está presente nos dados estaduais e nacionais (MPA, 2012; FIPERJ, 2013; FREIRE et al., 2015) e com base nestes infuencia a política pública para o setor (MAPA, 2015), mesmo que o problema já tenha sido exposto a décadas. A necessidade de se estabeler um sistema ostensivo de coleta de dados pesqueiros influenciou a vinda do ictiólogo George Sprague Myers para o Brasil entre 1942 e 1944 (WEITZMAN E MENEZES, 1989). Além de taxonomista, Myers era membro do Comitê sobre Nomes Científicos e Comuns de Peixes, encarregado pelo governo dos EUA de estruturar os nomes vulgares em uso na produção pesqueira com base na identificação taxonômica de todas as espécies capturadas e o estabelecimento de nomes vulgares específicos para cada uma delas (Chute et al., 1948). No entanto, as diferenças fundamentais da pesca norte- americana e brasileira, como predomínio da pesca industrial na primeira e a presença ostensiva da pesca artesanal na segunda, inviabilizaram a reprodução do modelo americano no Brasil, ou pelo menos restringiu sua viabilidade às áreas onde a pesca industrial brasileira está concentrada. Nesse caso, a acumulação de estudos no sudeste- sul do Brasil, evidenciado nas análises cientométricas de Paralichthys e Cynoscion, seria consequência desta última.

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A Instrução Normativa Nº29/2015 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) busca fazer o mesmo papel que a lista de nomes comuns e científicos dos EUA e Canadá exerceu na pesca norte-americana desde sua publicação em 1948 (CHUTE et al., 1948). No entanto, reproduz as mesmas falhas que têm sido repetidas ao longo do tempo, sob diversas agências governamentais (JABLONSKI E MOREIRA, 1997; IBAMA 2007; MPA, 2012; FIPERJ, 2013) ao se basear em categorias sem confirmação das espécies que a constituem. Espécies como Cynoscion virescens são associadas oficialmente a mais de uma categoria, três no caso dessa espécie, e incluem agrupamentos multiespecíficos como pescada, e nomes vulgares tentativamente específicos, como pescada-cambuçu e pescada-corvina. Oculto nessa categorização está o caráter regional desses nomes, de forma que estabelecer a priori uma determinação taxonômica baseada no nome vulgar em uso nos dados de produção, sem confirmação in loco, é uma estratégia inviável. A própria instrução vigente mencionada, com alcance nacional, ignora as diferenças regionais na nomenclatura já conhecidas, quando comparadas espécies marinhas comerciais em diferentes fontes estaduais (FIPERJ, 1996; FIPERJ, 2013; CARNEIRO et al., 2013; UNIVALI, 2013). Mesmo a pescada Cynoscion acoupa, a principal espécie do gênero produzida no país e tratada comumente como pescada-amarela não foi associada a uma única categoria como esperado. Tendo sido mencionada como pescada-verdadeira no norte fluminense, é tratada no como pescada-amarela no restante do estado, sendo a mesma denominação registrada na estatística pesqueira. Por fim, uma comparação entre a literatura sobre o tema ao longo do tempo permite ilustrar as alterações temporais dos nomes vulgares. A pescada-branca, atribuída nos dados estatísticos atuais (MPA, 2012) e na legislação vigente (MAPA, 2015) a Cynoscion leiarchus era associada a C. virescens em 1957, baseado em desembarque no Entreposto de pesca da Praça XV, no Rio de Janeiro (TRAVASSOS E PAIVA, 1957). Dessa forma, ainda que os nomes em uso atualmente sejam os mesmos encontrados em dados estatísticos anteriores, a ausência de uma correspondência específica inviabiliza a comparação de dados, principalmente em casos de categorias multiespecíficas. É importante destacar que ainda que sejam grupos taxonômicos distintos e com histórico de produção pesqueira característicos (homonimias, diferenças regionais, nomes vulgares em uso), os linguados e as pescadas são recursos demersais explorados pela pesca industrial e artesanal brasileira. É necessário avaliar outras categorias que envolvam

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diferentes níveis tróficos e agrupamento de espécies para se verificar se o mesmo padrão observado nas análises cientométricas se repetem. É esperado que sim, já que se o presente estudo evidenciou que a produção pesqueira é fator fundamental no estímulo para a pesquisa científica sobre uma dada espécie, as falhas na estatística pesqueira brasileira vão ser refletidas nas categorias multiespecíficas ainda em uso, independente de se tratar de recurso demersal, pelágico ou recifal. Estudos acerca de outras categorias, como os vermelhos (Lutjanus spp.), as cavalas (Scomberomorus spp.), os badejos (Mycteroperca spp.) e as garoupas (Epinephelus spp.), envolvem espécies pelágicas, demersais de fundo consolidado e recifais, intimamente relacionadas a pesca artesanal e sofrem as mesmas falhas estatísticas observadas para Cynoscion e Paralichthys.

Conclusões • A análise cientométrica identificou uma predominância de publicações norte- americanas para as espécies de Cynoscion e Paralichthys. A resolução taxonômica dada a estatística pesqueira local, ainda na década de 1940, permitiu alinhar a pesquisa acadêmica às demandas por dados científicos por parte das agências governamentais com o intuito de orientar o manejo desses estoques. Por conseguinte, a falta desse tratamento específico nos dados de produção pesqueira brasileiros respondem pela defasagem nos estudos para ambos os gêneros na costa brasileira. • A distribuição dos estudos de Cynoscion baseados em levantamentos biológicos permitiu identificar uma concentração em duas áreas ao longo da costa atlântica dos EUA e do sudeste brasileiro ao norte da Partagônia. Resultado semelhante foi observado também para Paralichthys. As duas regiões são separadas por uma ampla região sem estudos que corresponde a 10ºN a 21ºS. A região é de especial interesse devido a presença ostensiva da pesca artesanal e comprova o desconhecimento das espécies exploradas na região. A falta do monitoramento dessa pescaria coincide e potencializa o desconhecimento das espécies comerciais de Cynoscion e Paralichthys da região. • A análise cientométrica identificou que o principal fomentador para os estudos em Paralichthys foi o interesse em viabilizar o cultivo de espécies comerciais do gênero, em especial P. dentatus no Atlântico Norte e, mais recentemente P. orbignyanus no Atlântico Sul. Esse foco ocorreu em detrimento dos estudos sobre as populações exploradas das espécies de linguados, com poucos estudos identificados para os estoques capturados pela pesca comercial.

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• A série temporal de dados de captura foi fundamental para os estudos de longo prazo, a partir de seis anos, sendo possível apenas quando o monitoramento foi feito a nível específico. Esse fato explica o predomínio de estudos norte-americanos sobre os brasileiros e exemplifica a necessidade da discriminação da produção pesqueira por espécie. • Foram identificadas dez espécies associadas à categoria pescadas ao longo da costa fluminense, com predomínio das espécies de Cynoscion nesse grupo, como esperado. Já a categoria linguados foi associada a quatro espécies de Paralichthyidae, com predomínio do gênero Paralichthys. • A análise geomorfométrica permitiu estabelecer a variação morfológica das pescadas linguados e comprovar que as espécies possuem formas bem distintas, sendo injustificável a manutenção destas sob uma mesma categoria. O método identificou diferenças de formas em estruturas como cauda e cabeça passíveis de serem utilizadas para a identificação dessas espécies. • O resultado das análises orientou o desenvolvimento de uma chave prática de identificação para as 14 espécies capturadas pela pesca artesanal e industrial na costa do estado do Rio de Janeiro, agrupadas nas categorias pescadas e linguados. A chave tem uso limitado a costa fluminense devido ao característico regionalismo dos nomes vulgares e variações no conjunto de espécies associadas ao nomes pescadas e linguados.

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