Alfama: Estudo Calcula Investimento De 45 Milhões Para Pôr Ɗm À Pobreza Energética
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Meio: Imprensa Pág: 26 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 31,00 cm² ID: 90711936 18-01-2021 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Economia Índice de vulnerabilidade por freguesia Alfama: estudo calcula investimento de 45 milhões para pôr Ɗm à pobreza energética Estudo da FCT-Nova calculou o potencial de renovação do ediÄcado e da integração de energias renováveis em Alfama, para descarbonizar o bairro e combater a pobreza energética volver-se a nível europeu, exploram- nização, o investigador considera que Ana Brito -se várias dimensões como a renova- um dos grandes desaÆos é saber Num país em que “só se consome 5% ção do ediÆcado e a integração de como é que se pode apoiar a transição da energia que se deveria consumir energias renováveis para se criarem nas cidades sem “sem deixar os con- para cumprir o regulamento térmico localizações neutras em termos de sumidores mais vulneráveis para trás; de conforto interior” das habitações, emissões, em que se procura que a isso é que é o mais importante”. a capital, Lisboa, é um exemplo de energia produzida supere a que é Se o Governo lançar programas como a má qualidade dos edifícios, consumida. que co-Ænanciem, “por exemplo, aliada às condições socioeconómicas Em Alfama, concluiu-se que “a rea- 70% de investimento em janelas ou da população, pode empurrar uma bilitação total resulta numa redução carros eléctricos, estará a alcançar a franja signiÆcativa de portugueses das necessidades energéticas no classe média, média alta”. Se assim para uma situação de pobreza ener- Inverno e no Verão, respectivamente, for, “vamos ter uma parte da popu- gética que só agora começa a estar de 84% e 20%, com um investimento lação com solar fotovoltaico e carro no topo das prioridades a nível euro- total de 45 milhões de euros”, que eléctrico e que se calhar até conse- peu e nacional. inclui a renovação de coberturas e guiu isolar a sua casa, mas os restan- A aplicação a Lisboa do índice de janelas, isolamento de paredes e a tes Æcam ainda mais vulneráveis, vulnerabilidade à pobreza energética instalação de tecnologias de produ- porque em vez de usarem as renová- por freguesia desenvolvido por inves- ção fotovoltaica. veis para conseguir baixar o preço da tigadores do Cense (Center for Envi- Com este diagnóstico feito (e que energia, se calhar, como há menos ronmental and Sustainability pode ser replicado para o resto do consumidores [a pagar os custos Research) da Faculdade de Ciências país), a autarquia lisboeta poderá usar Æxos da rede], o preço ainda pode e Tecnologia da Universidade Nova os dados “para perceber que tipo de subir”, exempliÆca. de Lisboa (FCT-Nova) mostra as zonas Ænanciamento é que consegue dese- A descarbonização do país e das da cidade onde há maior probabilida- nhar, com base naquelas que são as cidades “tem de ser equitativa, por- de de encontrar pessoas em situação suas prioridades”, explica João Pedro que senão ainda vão aumentar ainda de pobreza energética, no Inverno e Gouveia. mais as desigualdades sociais, num no Verão, ou seja, pessoas cuja quali- país que já é dos mais desiguais a nível dade de vida e saúde são directamen- Transição equitativa europeu em termos de rendimentos”, te afectadas pelo desconforto térmico Considerando a cidade de Lisboa “um sublinha o especialista, que defende das suas habitações. E Alfama está bom exemplo”, em que existem a criação de “programas orientados entre as mais vulneráveis do municí- “objectivos concretos” de mitigação para as pessoas com menos capaci- pio, principalmente no Inverno. da pobreza energética e de descarbo- dade socioeconómicas”. “A pobreza energética está intima- Hoje, o único instrumento directo mente ligada à qualidade dos edifí- de apoio à população em pobreza cios, não há volta a dar”, sublinha ao energética (que se estima que em Por- PÚBLICO o investigador do Cense que tugal sejam pelo menos dois milhões lidera a equipa que desenvolveu o de pessoas) são as tarifas sociais de índice regional de pobreza energéti- electricidade e de gás natural, que são ca, João Pedro Gouveia. Quase me soluções de curto prazo e não atacam “É claro que as pessoas também o problema na raiz. não têm dinheiro para se aquecer, questiono como é João Pedro Gouveia, que está a aju- mas se tivessem uma casa minima- que Portugal se dar o executivo a desenhar a estraté- mente confortável, outros problemas gia nacional de combate à pobreza já não seriam tão graves”, refere o pode chamar um energética, entende que os municí- investigador, que liderou um projecto país desenvolvido pios são fundamentais “numa escala (incluído na iniciativa europeia Sushi mais alargada de longo prazo” no — Sustainable Historic City District) quando há pessoas combate a este problema, porque têm que diagnosticou o problema de com dez graus ou um contacto mais directo com certas pobreza energética em Alfama e tra- fatias da população. Em Lisboa, os çou um roteiro de soluções para apli- menos em casa dados indicam que há muito trabalho car nesta zona emblemática da capital João Pedro Gouveia pela frente. portuguesa o conceito de bairro de Investigador do Center for O índice do Cense, que mede a dife- O problema que se encontra em Alfama energia positiva. Environmental and Sustainability rença entre a quantidade de energia “é transversal ao país inteiro” Neste conceito, que está a desen- Research da FCT-Nova que, em teoria, um edifício deveria Meio: Imprensa Pág: 27 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 31,00 cm² ID: 90711936 18-01-2021 Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 ENRIC VIVES-RUBIO Aplicação do índice de vulnerabilidade à pobreza energética nas freguesias de Lisboa VERÃO INVERNO Parque Parque 9,0 - 9,6 8,2 - 8,8 das Nações das Nações 9,6 - 10,1 8,8 - 9,4 Sta. Clara Sta. Clara 10,1 - 10,7 9,4 - 10,0 10,7 - 11,3 10,0 - 10,6 11,3 - 11,9 10,6 - 11,2 Lumiar Olivais Lumiar Olivais Alfama Alfama Carnide Carnide Alvalade Alvalade Marvila Marvila S. Domingos S. Domingos de Benfica de Benfica Av. Areeiro Av. Areeiro Novas Novas Benfica Benfica Campolide Penha de Campolide Penha de Beato Beato ArroiosFrança ArroiosFrança Sto. Sto. C. Ourique C. Ourique António António Alcântara S. Vicente Alcântara S. Vicente Ajuda Ajuda Estrela Sta. Maria Maior Estrela Sta. Maria Maior Belém Belém Misericórdia Misericórdia Fonte: CENSE, FCT - Nova PÚBLICO consumir para garantir uma tempe- Estas medidas, que garantem o Foi também estudado o potencial “Se calhar, para testar projectos de ratura interior confortável e aquela cumprimento dos requisitos deÆni- de produção de electricidade com renovação e quais são os melhores que é consumida, e que avalia tam- dos no actual regulamento de desem- painéis fotovoltaicos, avaliando-se esquemas de Ænanciamento e como bém a capacidade das famílias em penho energético dos edifícios de diferentes energias, e concluiu-se que se integram bem as renováveis, devía- implementar medidas de mitigação habitação, resultaram, num cenário a parte nordeste de Alfama, com mos começar pelos bairros sociais, já do desconforto (avaliando variáveis de reabilitação total, numa redução maiores alojamentos tipo moradia, que os municípios são donos dos bair- socioeconómicas como o rendimen- das necessidades energéticas (consi- ou seja, prédios de dois andares, tem ros e é mais fácil fazer essa interven- to, a idade e a escolaridade), demons- derando não os consumos energéti- maior potencial para produção (cerca ção”, sugere o perito. tra que é em freguesias como Ajuda, cos reais, mas aqueles que seriam de 87% das subsecções têm um poten- O problema que se encontra em Santa Maria Maior, São Vicente, necessários para as pessoas estarem cial de produção menor ou igual a Alfama “é transversal ao país inteiro Penha de França, Beato e Marvila que confortáveis no interior) de 84% no 0,67 GWh por ano, enquanto que cer- e a questão que se coloca é perceber é mais provável encontrar pessoas Inverno e de 20% no Verão. ca de 17% regista potenciais entre 1,3 como é que se Ænancia esta dinâmica, que não têm capacidade Ænanceira Para a redução das necessidades de e 2 GWh por ano). seja em Lisboa, seja no Porto ou nou- para aquecer devidamente as suas aquecimento, concluiu-se que a reno- tra cidade”. casas nos meses frios. vação das paredes é a solução mais Dinheiro e informação É preciso muito dinheiro, e o con- Já no Verão, estão no topo do eÆcaz, resultando numa redução de João Pedro Gouveia reconhece que a texto de pandemia não é fácil, porque ranking Ajuda, Beato, Marvila e San- 48%, seguida da renovação das cober- transição energética dos bairros e é preciso acudir a tudo, “mas a reali- ta Clara, o que signiÆca que nos turas (27%) e das janelas (10%). “Para cidades do país não acontecerá “de dade existe e é mesmo preciso traba- meses quentes haverá maior proba- o arrefecimento, a renovação das hoje para amanhã”, nem existe uma lhar nisto”, frisa João Pedro Gouveia. bilidade de encontrar aqui as pessoas coberturas é de longe a medida mais receita certa para todos os municí- “Quase me questiono como é que que não se conseguem proteger dos eÆcaz (27%)” — de uma forma geral, a pios. No caso de Alfama, “esse inves- Portugal se pode chamar um país des- efeitos do calor. renovação das coberturas foi consi- timento [45 milhões de euros] é se envolvido quando está nesta situação Repartido entre Santa Maria Maior derada a medida “mais custo eÆcaz”, formos melhorar tudo. Mas o muni- e há pessoas com dez graus ou menos e São Vicente, Alfama (com uma ou seja, com melhores resultados cípio, consoante os seus objectivos em casa”, aÆrma.