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silêncio = morte [silence = death] Nos campos de concentração nazistas, os homossexuais foram marcados com um triângulo rosa e invertido, assim como os judeus com a Estrela de Davi. Nos Estados Unidos dos anos 1970, o símbolo, subvertido por alguns ativistas, passava a figurar de pé, em sinal de apoio à luta por direitos iguais que então despontava no país. No início da epidemia de AIDS, em 1987, um grupo de seis homens gays espalharam por Nova York cartazes com o triângulo rosa, sob um fundo preto, e as palavras SILENCE = DEATH (silêncio = morte), nome pelo qual o projeto ficou conhecido. O triângulo rosa passou de símbolo de humilhação e perseguição a signo de luta, orgulho e resistência queer. Ministério da Cultura, Itaú e Fundação Municipal de Cultura apresentam festival do filme documentário e etnográfico fórum de antropologia e cinema SUMÁRIO Apresentação 7 Sessão de Abertura 21 Mostra Queer e a Câmera 25 Mostra Contemporânea Brasileira 59 Mostra Contemporânea Internacional 81 Sessões especiais 99 Lançamentos 105 Seminário Queer e a câmera 111 Ensaios 121 Martírio: o genocídio lento e angustiante de um povo indígena nas lentes de Vincent Carelli Ruben Caixeta de Queiroz 123 Maracâmera – o tekoha contra o capital Leandro Saraiva 141 Retomada: teses sobre o conceito de história André Brasil 145 Manifesto Queer Nation 163 New Queer Cinema B. Ruby Rich 177 Desmontando a Caravela Queer Jota Mombaça 195 Cinema queer? Sugestões de-formativas Vitor Grunvald 203 Horizontes reduzidos Kiki Mazzucchelli 211 Cidade-sexo, mas não é sex in the city Eduardo de Jesus 215 Trânsitos, (des)aprendizados e cinema: uma conversa com Camila José Donoso, diretora de Naomi Campbel Marcos Martins 221 Pontes e cercas entre Teoria Queer e Movimento LGBT Anna Paula Vencato 227 Quando os Tikmu’ũ ñ viraram soldados sobre Grin, de Roney Freitas e Isael Maxakali Roberto Romero 239 Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos sobre filme de Sérgio Oliveira Jair Fonseca 247 Cabelo Mágico inspirado em Deixa na Régua, um filme de Emílio Domingues e seus amigos dos morros cariocas Junia Torres 249 Cinema Novo: do didatismo ao absoluto sobre filme de Eryk Rocha Leonardo Amaral 253 Olha a nossa situação aqui!: nós, espectadores, na missão com Kadu sobre filme de Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito Paula Kimo 257 Junho no plural sobre Vozerio, de Vladimir Seixas Vinícius de Andrade 261 A cidade onde envelheço sobre filme de Marília Rocha Carla Maia 265 E nada do que foi ouvido pode ser repetido com as mesmas palavras sobre Taego Ãwa, de Marcela Borela e Henrique Borela Ewerton Belico 269 A impureza da forma sobre Filme de Aborto, de Lincoln Péricles Marcelo Miranda 273 Câmara de espelhos sobre filme de Dea Ferraz Carla Italiano, Julia Fagioli 277 Quando dois mundos colidem sobre When Two Worlds Collide, de Heidi Brandenburg, Mathew Orzel Wellington Cançado 281 Ava Yvy Vera – a terra do povo do raio Ana Carvalho 287 Programação 289 Índices 296 Créditos 298 ! NOS .20A > Moi, un Noir, devir negro Oumarou Ganda, um imigrante que trabalha como estivador na BH . cidade de Abidjan, na Costa do Marfim e mora no bairro pobre de Treichville mudou pra sempre minha relação com o cinema e, posso dizer, com a antropologia, em uma sessão do primeiro forumdoc (e desde então, me emocionar pelo esforço da partilha UMDOC ou por achar beleza demais em um filme tem sido uma coisa só). R Oumarou e seus amigos encenam suas vidas diante da câmera, O F Oumarou interpreta a si mesmo e também a Edward G. Robinson, um boxeador americano. Oumaroutoma para si o filme, comenta, É! O inventa. De uma falta, Rouch faz, com seus amigos migrantes uma grande invenção: Moi, un Noir foi realizado sem som – o filme EV é de 1958 – e é na pós-sincronização que ainda mais compar- tilha o cinema, a invenção, o real e a invenção do real. Oumarou toma para si o papel que se atribui ao longo do filme. A fala de Oumarou Ganda descreve os lugares que se oferecem à imagem, uma descrição que não é uma interpretação nos termos de um observador, mas uma reivindicação pela apropriação de um sentido que não se submete a uma análise exterior e se afirma em sua autonomia. Enquanto encenam, os protagonistas inventam uma realidade, seu próprio mundo e o constituem. “O cinema verdade não é a verdade no filme. É a verdade do filme” (Vertov). Impossível buscar um ponto de vista único, impossível buscar uma evidência unívoca. Impossível buscar o documentário ou a ficção, o cinema ou a antropologia, Rouch ou Oumarou, o autor ou o personagem. E nunca se aprendeu tanto sobre Treichville. Em Moi, un Noir a existência é pouco a pouco percebida como uma escolha possível, uma construção autônoma e original, um campo de invenção, de criação e não uma simples etapa na ordem de um determinismo geral. Como disse Marc Piault, essa é uma das mais fortes propostas do filme: seus protagonistas não somente falam em seu próprio nome, mas olham do outro lado da tela em direção ao espectador que os espera em algum lugar. Precisamos repetir, tantas vezes, Moi, in Noir, Jean Rouch, Oumarou Ganda. [Junia Torres] 7 > 1997. O forumdoc.bh estreia como 1º Festival do Filme Documentário e Etnográfico. Fórum de Cinema, Vídeo e Antropologia. A abertura, dia 24 de novembro de 1997, às 19h, no Cine Humberto Mauro (PA), com os filmes Segredos da Mata, de Dominique Gallois e Vincent Carelli [Vídeo nas Aldeias] e Zapatista Women (1995), de Guadalupe Miranda e Maria Inês Roqué [Mostra Internacional do Filme Etnográfico]. Mas foi a sessão, dentre outras tantas memoráveis dessa edição de abertura, da película Nordeste Cordel, Repente Canção (1975), de Tânia Quaresma, aquela que não me sai da memória. Como esquecer da música de abertura do filme,um desafio de viola entre Zé Ramalho e Geraldo Azevedo. De Vezúvio, um cachorro de quintal, insistindo em fazer parte da cena enquanto sua dona tece com ele um diálogo surreal, levando a sala de cinema abaixo. Agabito Francisco Correia, Cego Oliveira, Palito - o invisível, Pinto do Monteiro, Olho de Gato, Beija Flor e Oliveira, dentre tantos outros artistas nordestinos, como esquecer, Caju & Castanha ainda crianças, cantando e tocando cocos e emboladas. O filme focado na divulgação de folhetos de cordel na música de cantadores, nas festas e feiras populares nos encantou tanto com suas cores e sons que iria figurar em diversas outras edições do festival, a ponto da diretora certa vez nos ter indagado o porquê de tantas exibições! Saudades das projeções de Nordeste Cordel, Repente Canção (1975) e toda aquela empolgação! [Paulo Maia] > Como éramos verdes quando começou esse devaneio, tudo se passava como se fôssemos íntimos dos cineastas mais incríveis. Ficamos tão amigos de Jean Rouch! Vimos tantos de seus filmes! As festas Segui, as baterias Dogon, Horendi, Yenendi ... seus ralenti: a dançarina flutuando... Uma nação inteira em festa, ornamentada em vermelho e amarelo! A voz off! As casas na terra e em tom de terra, os bosques baixos e as cavernas, longos caminhos! Caçada ao leão, aos hipopótamos, um filhote, brinquedo da meninada na beira do rio! O olhos dos Mestres Loucos! A camiseta branca do Negro, o Jaguar! Também nos tornamos fami- liares dos bosquímanos do Kalahari, caçadores de girafa! Que gaiata! Fugia depois de flechada, ia longe, andava em círculos, voltando de onde vinha. Aprendemos com de John Marshall as artimanhas vãs de um animal gigante para não se deixar capturar por humanos tão pequenos. Os bosquímanos estalam e assobiam para falar! Vimos a Amazônia, os últimos isolados, a década da destruição. Era a filmografia de Adrian Cowell denunciando o fim dos tempos, a colisão dos mundos! Mas antes, a beleza, a leveza elegante do caçador caiapó cercando a anta, correndo na ponta dos pés, acuando o animal no campo aberto até conseguir desfechar 8 a borduna fatal! Desde o começo, houve Vídeo nas Aldeias! Como cada filme era um mundo! Era possível reconhecer a riqueza das diferenças indígenas, mas também nossa parte nos índios, como a parte deles em nós! Ficamos mais indígenas com o capitão Vincent, Divino... O Glauber estava na derradeira sessão de domingo! Era dele o dever de encerrar a maratona. Glauber prevenia o próximo ano! Antes, no catálogo, havia um texto do Gato! Ah! os catálogos! A vaca! A boneca parida de Terezinha Maxakali! Os mutantes do Pedro Moraleida! É verdade, faz tempo, eu vi! Vimos coisas… [Renata Otto] > Conversas dentro de conversas. Assim me referi a Santo Forte, em um texto escrito por ocasião dos 10 anos do forumdoc. Folheando os catálogos à procura de um filme, reencontro inúmeras possibilidades... Tenho difi- culdade de escolher, então deixo falar a velha obsessão, retornando a este filme tão importante. Para, quem sabe, reter um pouco da presença sempre lúcida de Coutinho entre nós. Em 1999, terceira edição, o festival abriu com Santo Forte. Era a primeira (e então única) cópia do filme. Coutinho estava aqui, fumando intensamente, com sua bolsa a tiracolo, esperando para entrar na Humberto Mauro no final da projeção. O impacto da sessão foi imenso, e a conversa se estendeu. Algo do que a gente pensava, nós do forumdoc, antes mesmo da visita de Comolli (em 2001), encontrava em Santo Forte uma expressão poderosa. Um documentário do encontro, sem roteiro prévio, aberto ao mundo, menos retórico e mais indagativo, econômico nos recursos narrativos, deixando exposta a relação básica, constitutiva de qualquer documentário: aquela entre quem filma e quem é filmado. Além do mais, capaz de criar a cena provisória na qual aquelas mulheres pobres de Vila Parque da Cidade, como Dona Thereza (gran- diosa!), podiam se afirmar narradoras criativas e potentes, insubmetidas a preconceitos e estereótipos, livres das amarras e normatizações cotidianas, desamarradas dos clichês narrativos e de posições rígidas..