A Nobreza Togada As Elites Jurídicas E a Política Da Justiça No Brasil
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA A NOBREZA TOGADA AS ELITES JURÍDICAS E A POLÍTICA DA JUSTIÇA NO BRASIL Frederico Normanha Ribeiro de Almeida Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Ciência Política Orientadora: Profª. Drª. Maria Tereza Aina Sadek São Paulo 2010 À memória de meu avô Ugo Alves de Almeida, bacharel sem diploma, e de Gildo Marçal Brandão, exemplo de professor, intelectual, homem político. Mas, se é permitido ao sociólogo, ao menos uma vez, fazer previsões, é sem dúvida na relação cada vez mais tensa entre a grande e a pequena nobreza de Estado que reside o princípio dos grandes conflitos do futuro... Pierre Bourdieu 3 Agradecimentos Atribuir ao autor toda a responsabilidade pelas incorreções e pelos erros ainda presentes numa tese é uma praxe do protocolo acadêmico que faz todo sentido quando tantas e tão importantes pessoas e instituições são citadas numa nota de agradecimentos que, ao mesmo tempo em que mostra a gratidão, refaz um percurso de vida. Seria injusto compartilhar com essas pessoas as minhas imperfeições como pesquisador, mas se posso dizer que minha trajetória até a conclusão do doutorado me trouxe a algum lugar, seria ainda mais injusto se eu não reconhecesse a importância de amigos, familiares, parceiros e colaboradores. Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais, Maria Inêz Normanha e João Thomaz Ribeiro de Almeida, cujos investimentos na educação dos filhos não foram feitos sem a dose necessária de carinho e compromisso ético com o mundo e a formação da prole. Cientes de que ascenderam por meio da educação, quiseram que seus quatro filhos alcançassem o mesmo – e fossem além. Estou certo de que, com razão, se sentem satisfeitos e orgulhosos dos filhos e dos netos que têm. Ainda em família, agradeço a Ricardo Normanha Ribeiro de Almeida, sociólogo e irmão caçula, que me ajudou com a tabulação dos dados sobre os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo. Agradeço também à minha orientadora Maria Tereza Sadek. A autonomia e a liberdade que sempre me concedeu na condução de minhas pesquisas e de meus estudos não foram capazes de afastar o aprendizado rigoroso da pesquisa e da visão científica do mundo, ao qual ela me submeteu com respeito e generosidade. Em uma resenha dos estudos sobre o sistema de justiça no Brasil, ela atribui aos bacharéis em direito que se aventuraram pelas ciências sociais uma espécie de crise de identidade, decorrente do deslocamento e da falta de lugar em um e em outro mundo. Se hoje superei esse deslocamento, e me arrisco a dizer que sou um cientista político, é porque ela me deu os meios e a segurança para me afirmar como tal. Foram minhas mestras, também, Eneida Gonçalves de Macedo Haddad e Jacqueline Sinhoretto. Antes mesmo de meu ingresso no mestrado em ciência política, elas foram as primeiras a me apresentar e a me treinar na pesquisa sociológica, no Núcleo de Pesquisas do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, e nesse aprender-fazendo surgiu uma gostosa amizade. À Jacqueline, devo dizer, 4 agradecendo: como nas relações entre irmãos mais velhos e mais novos, muito do que me tornei como cientista social foi buscando me distanciar dela, ao mesmo tempo em que me espelhava em sua postura como socióloga, uma das mais competentes que conheci. Ainda no IBCCRIM, agradeço ao Alberto Silva Franco, pelo apoio às nossas pesquisas. Agradeço também ao Renato Sérgio de Lima e à Liana de Paula, com quem aprendi muito sobre o trabalho científico. Aos amigos que fiz ou reencontrei na Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas: Adriana Ancona de Faria, Alessandro Octaviani, Emerson Ribeiro Fabiani, Flávia Scabin, José Garcez Ghirardi (que me ajudou com o abstract desta tese), Luciana Gross Cunha, Maíra Machado, Mario Gomes Schapiro, Marta Machado, Oscar Vilhena Vieira, Paulo Eduardo Alves da Silva. O convívio agradável com esses e outros companheiros de trabalho num ambiente de produção intelectual tão intensa e criativa foi sem dúvida um grande aprendizado. Aos diretores da Escola, professores Ary Oswaldo Mattos Filho, Antonio Angarita e Paulo Goldschimidt, e a toda a equipe de professores, funcionários e estagiárias da Coordenadoria de Prática Jurídica, agradeço o apoio e a oportunidade de realizar um dos trabalhos pelos quais eu mais me orgulho, e cuja influência nesta tese é visível. Minha mudança para Brasília, para assumir funções no Ministério da Educação, foi fundamental para que eu adquirisse outro ponto de vista sobre a atividade de governo e sobre as políticas de educação superior, tema importante de minha pesquisa. Além disso, essa mudança me deu a disciplina e a paz de espírito que eu precisava para concluir esta tese. A vida um tanto solitária nessa cidade, que até hoje me impressiona pela beleza, não foi um sofrimento porque fui bem acolhido por velhos amigos, alguns dos quais companheiros de Ministério: Ademir Picanço, Carolina Stuchi, Cristina Nunes, Demian Calça, Diogo Santana, Fábio Sá e Silva, João Paulo Bachur, Lívia Sobota, Maria Aparecida Abreu, Vinícius Carvalho. A Fernando Haddad e a Maria Paula Dallari Bucci, agradeço pelo convite para compor sua equipe na Secretaria de Educação Superior do MEC, pelo incentivo durante a elaboração desta tese, e pela oportunidade de desenvolver um trabalho de governo tão importante, sob sua orientação tão competente. Certamente, essa foi a experiência da minha vida profissional que mais me realizou, e devo isso ao apoio, ao comprometimento e à confiança de uma equipe engajada na democratização e 5 na qualidade do ensino, e na construção de uma verdadeira política pública para a educação superior: Claudio Mendonça Braga, Cleunice Rehem, Gustavo Henrique Moraes, Leila Moraes, Maria Neusa Lima Pereira, Paulo Roberto Wollinger, Rubia Baptista, Samuel Martins Feliciano. A toda equipe da Coordenação-Geral de Supervisão da Educação Superior, agradeço a paciência e o comprometimento. Aos professores, funcionários e colegas do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, que contribuíram decisivamente para minha formação. À Maria Raimunda dos Santos (Rai) e à Vivian, especialmente, agradeço por todo o apoio e a paciência com um estudante que, mesmo após seis anos e meio, ainda é um tanto desorientado nas burocracias e rotinas do Departamento. Aos professores Matthew Taylor e Rogério Bastos Arantes, em especial, agradeço pelo aprendizado que tive durante o doutorado, e pelo exemplo como pesquisadores e docentes. Embora já tenha dedicado esta tese à memória de Gildo Marçal Brandão, não é demais afirmar: foi ele certamente o professor e o intelectual que mais me impressionou desde que migrei para as ciências sociais, e sinto-me privilegiado por ter sido seu aluno. Aos professores Sérgio Adorno e Sérgio Miceli, do Departamento de Sociologia da FFLCH/USP, pelos comentários e orientações feitas por ocasião de meu exame de qualificação, e que muito contribuíram para o resultado final desta tese. Ao Augusto Iriarte, pela revisão da versão final da tese. Durante a elaboração deste trabalho, especialmente no ano de 2009, tive a oportunidade de apresentar resultados preliminares e capítulos em desenvolvimento em diversos eventos científicos, e os comentários e debates que se seguiram me ajudaram a aperfeiçoar minha pesquisa. Agradeço a Maria da Glória Bonelli e a Jacqueline Sinhoretto pelos debates e comentários feitos no XIV Congresso Brasileiro de Sociologia; a Renato Perissinotto, Adriano Codato e Miguel Serna, que coordenaram e comentaram a sessão do 33º Encontro Anual da ANPOCS, na qual apresentei meu paper; a Ernani Carvalho, que comentou meu trabalho no I Fórum Brasileiro de Pós-graduação em Ciência Política; a Christian Lynch, que comentou meu trabalho no II Seminário de História das Instituições, da UNIRIO; a Adolfo Queiroz, coordenador da sessão na qual apresentei trabalho no III Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política 6 (COMPOLÍTICA); e a todos os pesquisadores presentes nesses eventos, e que me deram a oportunidade de uma proveitosa troca de ideias. Por fim, mas não por último na escala de importância das pessoas que fizeram parte desse percurso, agradeço à minha querida Juliana, com quem aprendo a amar e a ser amado, de um jeito que sempre me comove. Nas noites e madrugadas e nos fins de semana de trabalho solitário nesta tese, sua presença à distância me reconfortava e me dava ânimo para seguir em frente. Não sei se eu saberia chegar até o final do dia sem você. 7 Resumo O objetivo deste trabalho é a compreensão das relações entre direito e política, a partir do estudo da posição dos juristas no Estado e de suas lutas concretas pelo controle da administração do sistema de justiça. A principal hipótese que orientou a pesquisa foi a de que há um campo político da justiça, representado pelo espaço social de posições, capitais e relações delimitado pela ação de grupos e instituições em disputa pelo controle do direito processual e da burocracia judiciária. No interior desse campo político da justiça, a pesquisa buscou identificar, ainda, as posições dominantes das elites jurídicas – lideranças institucionais e associativas, e intelectuais especializados em determinadas áreas de conhecimento – cuja influência sobre a administração da justiça estatal e as estruturas de seus capitais sociais, políticos e profissionais os diferenciam dos demais agentes do campo jurídico. Palavras-chave: sistema de justiça; campo jurídico; elites jurídicas; profissões jurídicas; reformas judiciais Abstract This dissertation examines the relationship between Law and Politics by studying the position of lawyers within the State and their struggle for the control of the administration of the judicial system. The main hypothesis is that there is a political field of Justice, represented by a social space of positions, capitals and relationships, and defined by the actions by groups and institutions vying for the control both of procedural law and of the judicial bureaucracy.