ESTE JORNAL FOI INTEIRAMENTE ESCRITO E REVISTO a LÁPIS AZUL. 02 I ABRIL, 2011 Ilustração

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ESTE JORNAL FOI INTEIRAMENTE ESCRITO E REVISTO a LÁPIS AZUL. 02 I ABRIL, 2011 Ilustração ABRIL, 2011 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DISCURSO SEM PALAVRA JUNTA A TUA DIRECTO MORDAÇA DE ORDEM À NOSSA VOZ As histórias de uma vida de Alípio de Freitas: o Demos liberdade de expressão a Jorge Perei- Rádio Macau, Cacique 97, Os Golpes, Rui Pre- Lançámos o repto: que slogan escreverias hoje padre progressista, agitador social e grande de- rinha Pires, Afonso Cruz, Pedro Vieira e Mário gal da Cunha, Aldina Duarte, Social Smokers, numa parede? Neste jornal, leia o mural das in- fensor da liberdade que inspirou Zeca Afonso. Caeiro. Manuel Freire, Dealema e Velha Gaiteira dizem quietações contemporâneas. de sua justiça. ESTE JORNAL FOI INTEIRAMENTE ESCRITO E REVISTO A LÁPIS AZUL. 02 I ABRIL, 2011 Ilustração . YUP/Paulo.Arraiano ABRIL, 2011 I 03 EDI TO RIALEm Portugal, tempos houve em que a habilidade cómico e dependiam muito de recursos retóricos. no uso da metáfora e a destreza de estilo eram Eram cheias de subtilezas e trocadilhos e tinham ÍNDICE TAL COMO NAS ANTERIORES EDIÇÕES, armas temidas pelos regimes opressores. Os um estilo muito provocatório. Desde então, e até NESTE JORNAL OS TÍTULOS DOS autores, poetas e letristas viam-se obrigados aos nossos dias, estas ferramentas foram sendo ARTIGOS CORRESPONDEM A CANÇÕES a grandes subtilezas para, nas entrelinhas, aperfeiçoadas, refinadas e trabalhadas sempre DOS MÚSICOS CONVIDADOS transmitir as mensagens que queriam passar a com o intuito de criticar e provocar o poder “A NOSSA GUERRA É OUTRA” Dealema 04 “AManHÃ É SEMPRE LOngE DEMAIS”Rádio Macau quem as queria ouvir. instituído. Era uma espécie de jogo do gato e do rato. Não Mas, hoje, de outros tempos falamos; os regimes “ESTRADA DA VIDA” Social Smokers raros eram os casos em que, simplesmente, as 05 neo-liberais deram a volta à questão: se, por canções não tinham qualquer mensagem e um lado, a massificação dos media e as novas “ACORDAR”Rádio Macau nasciam pelo puro gozo de ludibriar os censores 06 tecnologias dificultam o trabalho dos censores e – o non sense e um certo toque surrealista serviam 07 “Eu QUERO TUDO” Cacique 97 para pôr à prova a capacidade de decifração dos é cada vez mais difícil calar a voz de quem critica homens do lápis azul. A ausência de mensagem ou prever o alcance da mensagem que a canção 08 “TERRITÓRIO JUSTO” Os Golpes tornava-se por si própria uma forte mensagem. transmite, por outro lado, o poder de controlo Neste país, muitos foram os que, ao longo de dos grandes grupos de comunicação social e a 10 “EI-LOS QUE PARTEM” Manuel Freire algumas décadas, refinaram esta capacidade de força das indústrias ligadas ao lazer trataram irritar o sistema tendo, por isso, sido perseguidos, de banalizar essa mesma luta, transformando-a 11 “PEDRA FILOSOFAL”Manuel Freire obrigados a recorrer ao exílio e emigrar para países em modas de carácter cíclico e por vezes di- onde, pelas mesmas razões, eram acarinhados reccionadas apenas a determinados grupos da 12 “CONVERSA DE ESQUINA””JP Simões & Afonso Pais e apoiados na sua luta. Muitos foram também sociedade. “MURO VAZIO”Aldina Duartes os que passaram pelas prisões e lá escreveram Será que hoje a canção ainda é uma arma eficaz 13 algumas das poesias e letras mais emblemáticas da contra o poder estabelecido? Será que com a “VOCIFEROZ”JP Simões & Afonso Pais luta contra o regime. palavra e a poesia ainda se constroem hinos à 14 Tratava-se de uma luta fundamental pela liberdade? Será ainda possível que a força de uma “A VELHA A FIAR”Velha Gaiteira criatividade, pela liberdade de expressão e, em 15 “RIMANDO CONTRA A MARÉ”Zeca Medeiros cantiga a torne num símbolo de um determi- última análise, pela própria existência do livre nado momento, movimento ou geração? Nesta pensamento. terceira edição do jornal e do Festival Lisboa Desde a idade média, com os trovadores, que a canção procura abordar e enfatizar a crítica Capital República Popular, procurámos lançar social. As cantigas de escárnio e maldizer eram, o debate convidando personalidades de diversas por natureza, poemas cantados que procuravam áreas culturais a reflectirem sobre o tema da satirizar indirectamente algo ou alguém recor- liberdade de expressão, relembrando a revolução rendo ao duplo sentido, aos jogos semânticos que de Abril e servindo-nos mais uma vez da canção as palavras ofereciam. Estas cantigas, em que não como uma arma para a reflexão. se identificava o destinatário, tinham um carácter MUSICBOX FICHA TÉCNICA: DESIGN: YUP/PAULO ARRAIANO WWW.MUSICBOXLISBOA.COM DIRECÇÃO DO PROJECTO: ALEXANDRE CORTEZ ILUSTRAÇÃO: YUP/PAULO ARRAIANO, TIAGO CHAGAS MUSICBOX: GONÇALO RISCADO, ALEXANDRE CORTEZ, Media Partners E GONÇALO RISCADO COLABORADORES: AFONSO CRUZ, ANA CRISTINA FERRÃO, JOÃO TORRES, JOÃO RISCADO, DÉBORA MARQUES, PEDRO DIRECÇÃO EDITORIAL: MAFALDA LOPES DA COSTA J.P. SIMÕES, JOÃO POMBEIRO, JORGE PEREIRINHA PIRES, AZEVEDO, JANINE LAGES E SANDRA SILVA JOSÉ LUÍS PEIXOTO, JOSÉ MÁRIO SILVA, LUANDA COZETTI, COORDENAÇÃO EDITORIAL: FERNANDA BORBA MÁRIO CAEIRO, PAULO FERREIRA, PEDRO VIEIRA PRODUÇÃO EDITORIAL: 101 NOITES | WWW.101NOITES.COM IMPRESSÃO: GRAFEDISPORT REDACÇÃO: FERNANDA BORBA, MAFALDA LOPES DA COSTA, IMPRESSÃO E ARTES GRÁFICAS, S. A. PATRÍCIA RAIMUNDO, SANDRA SILVA TIRAGEM: 10 MIL EXEMPLARES 04 I ABRIL, 2010 Ilustração . Tiago Chagas ABRIL, 2011 I 05 “A NOSSA GUERRA É OUTRA” ONDE SE FAZEM AS REVOLUÇÕES DO SÉCULO XXI? EM 1971, GIL SCOTT-HERON DIZIA AO MUNDO QUE A REVOLUÇÃO NÃO IA PASSAR NA TELEVISÃO. TRÊS DÉCADAS DEPOIS, MALCOLM GLADWELL RENOVA A PROFECIA DO MÚSICO NORTE-AMERICANO E VEM DIZER QUE TAMBÉM NÃO É NO TWITTER QUE AS GRANDES MUDANÇAS SE FAZEM. NA ERA DAS REDES SOCIAIS E DOS “GUERRILHEIROS VIRTUAIS” A PERGUNTA IMPÕE- SE: AFINAL PODE A REVOLUÇÃO SER FEITA A 140 CARACTERES? Passar a palavra e marcar protestos no Facebook, comunicar no terreno por tweets, mostrar os resul- Da mesma maneira que pode juntar pessoas por uma causa, por um movimento social ou mobilizar tados no Youtube. Foi assim em Janeiro de 2011, no Egipto, e outra coisa não seria de se esperar. Afinal, populações pela liberdade ao ponto de fazer cair governos, a internet tem mostrado outra grande estamos em plena era digital e as populações sempre souberam utilizar os melhores meios que tinham potencialidade: a formação de verdadeiras guerrilhas on-line. O marketing digital chegou em força à OPINIÃO à disposição na altura para se fazerem ouvir. O século XXI não foi excepção: aproveitou o enorme política mundial e hoje qualquer campanha eleitoral inclui especialistas em internet e redes sociais. potencial da internet e das redes sociais e inaugurou aquilo a que muitos chamam já de activismo on- A candidatura vitoriosa de Barack Obama foi talvez a primeira a levar tão a sério o poder dos novos -line. media, mas não foi a única. Nas últimas eleições presidenciais brasileiras, muito se falou no “bunker” A revolução que deitou por terra o regime de Hosni Mubarak não foi pioneira neste tipo de activismo. secreto onde se planeava toda a campanha de comunicação de Dilma Roussef. Segundo uma Em 2009, já os jovens moldavos utilizavam o Twitter e o Facebook para organizar os protestos contra reportagem d’ O Globo era ali que se concentrava um verdadeiro batalhão de guerrilheiros virtuais a vitória comunista nas eleições parlamentares. Para muitos, o contributo das redes sociais e das cuja missão passava, entre outras funções, por criar centenas de perfis no Facebook e Twitter que novas tecnologias foi decisivo para que a população da Moldávia aderisse em massa às manifestações serviam tanto para atacar os outros candidatos como para defender Dilma dos ataques adversários. convocadas. A “Grape Revolution” passou rapidamente a “Twitter Revolution” e o exemplo replicou-se Para além destas verdadeiras batalhas campais on-line entre candidatos a cargos políticos, há outro tipo ESTRADA depois na Tailândia, em 2010, na Tunísia, Egipto e Líbia, já em 2011. de “guerrilhas” a operar na sombra da rede. O Wikileaks é o exemplo mais óbvio, ou não tivesse tomado Hoje, não há manifestação ou movimento social que não explore em pleno as potencialidades dos proporções gigantescas. O site que publica documentos secretos e divulga informações disponibili- novos media. Por cá, o Protesto da Geração à Rasca, que nasceu e cresceu na Internet, espelhou bem zadas por fontes anónimas veio revolucionar o jornalismo mundial e questionar até que ponto a a força que as redes on-line têm quando é preciso pôr gente na rua por uma causa. No Facebook, informação circula livremente no mundo democrático. O projecto do australiano Julian Assange é quase 70 mil confirmaram a presença numa das onze cidades que acolheram os protestos, mas só em Lisboa acabaram por ser mais de 200 mil os que responderam ao apelo lançado por três jovens fartos um alvo constante de ataques de outros hackers, que tentam a todo o custo eliminar o Wikileaks da DA VIDA da precariedade e da falta de emprego no país. rede, mas a enorme aposta na segurança tem mantido o site on-line numa dura batalha virtual sem rosto SÓBOLES nem lei. Um pouco por todo o mundo, começam a surgir projectos semelhantes que utilizam a mesma Estas recentes movimentações sociais apoiadas nas novas formas de comunicar em massa têm feito QUE AFINAL O QUE IMPORTA NÃO É HAVER GENTE COM FOME . PORQUE ASSIM COMO ASSIM AINDA HÁ MUITA GENTE QUE crescer o entusiasmo pelo activismo digital, mas para Malcolm Gladwell – jornalista da The New Yorker estratégia das fontes anónimas para denunciar casos de corrupção, terrorismo ou violação dos direitos COME . MÁRIO CESARINY, “PASTELARIA” que já é considerado um dos mais influentes pensadores contemporâneos – não é na Internet que se humanos e há até quem pretenda disponibilizar a tecnologia utilizada no Wikileaks para que outros lhe O ESPECTÁCULO NÃO É UM CONJUNTO DE IMAGENS, MAS UMA RELAÇÃO SOCIAL ENTRE PESSOAS, MEDIATIZADA POR fazem as revoluções.
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