Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 1

Marcos Silveira

Edson da Silva

Renato Abreu Lima

(Organizadores)

Biodiversidade e Biotecnologia no

Brasil

Rio Branco, Acre

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 1

Stricto Sensu Editora CNPJ: 32.249.055/001-26 Prefixos Editorial: ISBN: 80261 – 86283 / DOI: 10.35170 Editora Geral: Profa. Dra. Naila Fernanda Sbsczk Pereira Meneguetti Editor Científico: Prof. Dr. Dionatas Ulises de Oliveira Meneguetti Bibliotecária: Tábata Nunes Tavares Bonin – CRB 11/935 Foto da Capa: Marcos Silveira Capa: Elaborada por Led Camargo dos Santos ([email protected]) Avaliação: Foi realizada avaliação por pares, por pareceristas ad hoc Revisão: Realizada pelos autores e organizadores

Conselho Editorial

Profa. Dra. Ageane Mota da Silva (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Acre) Prof. Dr. Amilton José Freire de Queiroz (Universidade Federal do Acre) Prof. Dr. Benedito Rodrigues da Silva Neto (Universidade Federal de Goiás – UFG) Prof. Dr. Edson da Silva (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) Profa. Dra. Denise Jovê Cesar (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina) Prof. Dr. Francisco Carlos da Silva (Centro Universitário São Lucas) Prof. Dr. Humberto Hissashi Takeda (Universidade Federal de Rondônia) Prof. Msc. Herley da Luz Brasil (Juiz Federal – Acre) Prof. Dr. Jader de Oliveira (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP - Araraquara) Prof. Dr. Jesus Rodrigues Lemos (Universidade Federal do Piauí – UFPI) Prof. Dr. Leandro José Ramos (Universidade Federal do Acre – UFAC) Prof. Dr. Luís Eduardo Maggi (Universidade Federal do Acre – UFAC) Prof. Msc. Marco Aurélio de Jesus (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia) Profa. Dra. Mariluce Paes de Souza (Universidade Federal de Rondônia) Prof. Dr. Paulo Sérgio Bernarde (Universidade Federal do Acre) Prof. Dr. Romeu Paulo Martins Silva (Universidade Federal de Goiás) Prof. Dr. Renato Abreu Lima (Universidade Federal do Amazonas) Prof. Msc. Renato André Zan (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia) Prof. Dr. Rodrigo de Jesus Silva (Universidade Federal Rural da Amazônia)

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Ficha Catalográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B615 Biodiversidade e biotecnologia no Brasil 1 / Marcos Silveira, Edson da Silva, Renato Abreu Lima (org.). – Rio Branco: Stricto Sensu, 2020.

283 p.:il.

ISBN: 978-65-86283-28-0

DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280

1. Biodiversidade. 2. Biotecnologia. 3. Biologia. I. Silveira, Marco. II. Silva, Edson da. III. Lima, Renato Abreu. IV. Título.

CDD 22. ed. 577.9181

Bibliotecária Responsável: Tábata Nunes Tavares Bonin / CRB 11-935

O conteúdo dos capítulos do presente livro, correções e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitido o download deste livro e o compartilhamento do mesmo, desde que sejam atribuídos créditos aos autores e a editora, não sendo permitido à alteração em nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.

www.sseditora.com.br

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APRESENTAÇÃO

A Biodiversidade ou também conhecida como Diversidade Biológica compreende uma rica variabilidade entre os seres vivos de todas as origens, seja ela terrestre, marinha ou aquática. As plantas, animais e microrganismos fornecem diferentes matérias-primas, alimentos e medicamentos, por exemplo, que são utilizadas pela espécie humana. É necessário considerar que a Biodiversidade abrange em dois níveis diferentes: todas as formas de vida, assim como os genes contidos em cada indivíduo e as inter-relações, na qual a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras. No Brasil, a Amazônia é a floresta que abriga a maior riqueza de flora, fauna e funga, porém vem sofrendo com vários impactos devido à ação antrópica. Nos últimos anos, os índices de queimadas e desmatamento vêm acelerando e com isso, haverá grandes perdas ao meio ambiente, impactando de forma direta e indiretamente nossas vidas. Por conseguinte, uma Biodiversidade protegida só terá benefícios ao planeta Terra e aos seres humanos se a mesma for utilizada de forma racional, harmônica e equilibrada. Assim, a Biodiversidade deve ser amplamente estudada do ponto de vista do método científico, pois atualmente, o desafio é conseguir uma sincronia sustentável entre essa área do conhecimento para que haja uma reflexão sobre a relação e a integração da natureza com a sociedade de forma harmônica. Esse modelo deve ser construído de forma interativa e com ampla cooperação com a coletividade pensando na preocupação mundial com os seres vivos, uma vez que cresce a necessidade de criar e fortalecer programas que façam o mapeamento e planejem de forma sustentável a exploração econômica ambiental e estejam amplamente associados às questões sociais de nosso país. A obra “Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1” traz aos leitores diversos temas da área, reunindo 17 trabalhos científicos, na qual o leitor poderá conferir pontos da Conservação da Natureza, Educação Ambiental, Zoologia, Botânica Aplicada, Etnobotânica, Saúde Humana, Limnologia, dentre outras. A abrangência desses temas nos diversos setores da sociedade é um ponto crucial nesta obra, uma vez que proporcionará um enriquecimento sobre o tema e as experiências relatadas por diversos pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Neste sentido, ressaltamos a importância desta leitura, pois o nosso objetivo em produzir esta obra se fundamenta na condição de incrementar e valorizar o conhecimento da aplicabilidade da Biodiversidade em nosso dia a dia. Espera-se que este livro forneça um

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suporte para as atividades do ensino, pesquisa e extensão de cursos de graduação e pós- graduação nas diferentes áreas do conhecimento, uma vez que este livro terá o seu acesso livre para consultas e leituras de forma a ser um objetivo de compartilhamento de informação e sapiência agregada acerca dos temas aqui abordados. Gostaria de agradecer a colaboração de todos os autores, e esperamos continuar contando com o apoio da comunidade científica para o aprimoramento constante desta obra, fortalecendo assim a pesquisa para todos.

Desejo a todos uma ótima leitura

Prof. Dr. Renato Abreu Lima

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SUMÁRIO

CAPÍTULO. 1...... 12

DIVERSIDADE MORFOLÓGICA DAS ESCAMAS DE (, OSTARIOPHYSI) DO ALTO RIO JURUÁ, EXTREMO OESTE DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Karina da Silva Alencar (Universidade Federal do Acre) Francisco Ricardo Negri (Universidade Federal do Acre) André Luis da Silva Casas (Universidade Federal do Acre) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.01

CAPÍTULO. 2...... 31

ICTIOFAUNA DO IGARAPÉ PRETO, CRUZEIRO DO SUL - ACRE, BRASIL

Tiago Ricardo Fernandes Jacó (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) Ronaldo Souza da Silva (Universidade Federal do Pará) Hericles Correia da Silva (Universidade Federal do Acre) Lucena Rocha Virgílio (Universidade Federal do Acre) Flávio César Thadeo de Lima (Universidade Estadual de Campinas) André Luis da Silva Casas (Universidade Federal do Acre) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.02

CAPÍTULO. 3...... 50

PEIXES COMERCIAIS DO MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL, ACRE, BRASIL

Tiago Ricardo Fernandes Jacó (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) Ronaldo Souza da Silva (Universidade Federal do Pará) Aline Nayara Poscai (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho") Hericles Correia da Silva (Universidade Federal do Acre) Flávio César Thadeo de Lima (Universidade Estadual de Campinas) André Luis da Silva Casas (Universidade Federal do Acre) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.03

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CAPÍTULO. 4...... 68

CARRAPATOS DO ESTADO DO ACRE E SUA INFECÇÃO POR Rickettsia spp.: UMA REVISÃO E PERSPECTIVAS PARA ESTUDOS FUTUROS

Simone Delgado Tojal (Universidade Federal do Acre) Thiago Fernandes Martins (Universidade de São Paulo) Dionatas Ulises de Oliveira Meneguetti (Universidade Federal do Acre) Ivaneide Nunes da Costa (Instituto Oswaldo Cruz) Marcelo Bahia Labruna (Universidade de São Paulo) Karoline Silva da Cruz (Universidade Federal do Acre) Luís Marcelo Aranha Camargo (Universidade de São Paulo) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.04

CAPÍTULO. 5...... 91

UMA REVISÃO DA DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES DE CULICÍDEOS (DIPTERA: CULICIDAE) REGISTRADAS NO ESTADO DO ACRE, BRASIL

Andreia Fernandes Brilhante (Universidade Federal do Acre) Marcia Bicudo de Paula (Universidade de São Paulo) Sandra Sayuri Nagaki (Universidade de São Paulo) Marcia Moreira de Ávila (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre) Ricardo da Costa Rocha (Universidade Federal do Acre) Janis Lunier de Souza (Prefeitura Municipal de Rio Branco) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.05

CAPÍTULO. 6...... 107

FAUNA EDÁFICA COMO INDICADOR DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS IMPACTADAS PELA ATIVIDADE MINERÁRIA NA FLORESTA NACIONAL DO JAMARI, AMAZÔNIA BRASILEIRA

Maria Aurea Pinheiro de Almeida Silveira (Universidade Federal de Rondônia) Sian de Souza Gadelha (Universidade Federal de Rondônia) Débora Cristina Castro de Sousa (Instituto Federal de Rondônia) Camila Moura Lemke (Ação Ecológica Guaporé) Carolina Machado Brum (Sete Soluções e Tecnologia Ambiental)

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Paula Raiele Reis da Silva (Universidade Federal de Rondônia) Sani Maira de Farias (Universidade Federal de Rondônia) Matheus de Araújo Paz (Universidade Federal de Rondônia) Letícia Nery Rodrigues dos Santos (Universidade Federal de Rondônia) Fábio Medeiros da Costa (Oikos Consultoria e Projetos) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.06

CAPÍTULO. 7...... 125

AMEBAS TESTÁCEAS ASSOCIADAS A MACRÓFITAS SUBMERSAS DA SUBBACIA DO IGARAPÉ QUINOÁ-AC

Ronnilda Maria Gonçalves Araujo (Universidade Federal do Acre) Guilherme Sampaio Cabral (Universidade Federal do Acre) Ronaldo Souza da Silva (Universidade Federal do Acre) João Antônio Rodrigues Santos (Universidade Federal do Acre) Pedro Paulo Pereira (Universidade Federal do Acre) Andressa Crystine Souza da Silva (Universidade Federal do Acre) André Ricardo Ghidini (Universidade Federal do Acre) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.07

CAPÍTULO. 8...... 140

A RIQUEZA DE MACROFUNGOS NO SUDOESTE DA AMAZÔNIA, BRASIL

Felipe Sant’ Anna Cavalcante (Universidade Federal do Amazonas) Milton César Costa Campos (Universidade Federal da Paraíba) Janaína Paolucci Sales de Lima (Universidade Federal do Amazonas) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.08

CAPÍTULO. 9...... 156

MACROFUNGOS DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL LAGO DO AMAPÁ E NOVAS OCORRÊNCIAS PARA O ESTADO ACRE

Chirley Gonçalves da Silva (Universidade Federal do Acre) Márcia de Araújo Teixeira-Silva (Universidade Federal do Acre) Marcos Silveira (Universidade Federal do Acre) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.09

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CAPÍTULO. 10...... 177

CONECTANDO BIODIVERSIDADE, BIOTECNOLOGIA E SAÚDE HUMANA

Teresinha de Jesus Aguiar dos Santos Andrade (Instituto Federal do Maranhão) Nerilson Marques Lima (Universidade Federal de Juiz de Fora) Patrícia e Silva Alves (Universidade Federal do Piauí) José Williams Gomes de Oliveira Filho (Instituto Federal do Piauí) Maria das Dores Alves de Oliveira (Universidade Federal do Piauí) Francisco Soares Santos Filho (Universidade Estadual do Piauí) Giovanna Carvalho da Silva (Instituto Federal do Maranhão)

Nayra Micaeli dos Santos Sousa (Instituto Federal do Maranhão) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.10

CAPÍTULO. 11...... 197

AS PRINCIPAIS PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA EM BENJAMIN CONSTANT – AM

Anna Caroline dos Santos Moura (Universidade Federal do Amazonas) Catharine Montiel dos Santos Moura (Universidade Federal do Amazonas) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.11

CAPÍTULO. 12...... 207

LEVANTAMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS E FRUTÍFERAS EM QUINTAIS URBANOS NO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – AM

Doraci Brito de Souza (Universidade Federal do Amazonas) Guilherme Abadia da Silva (Universidade Federal do Amazonas) Rafael Bel Prestes da Silva (Universidade Federal do Amazonas) Daniela de Moraes Batista (Universidade Federal do Amazonas) Priscila Beleza Cruz (Universidade Federal do Amazonas) Tatiane Brito de Souza (Universidade Federal do Amazonas) Layla Luandra Leal de Souza (Universidade Norte do Paraná) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.12

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CAPÍTULO. 13...... 222

DISSEMINAÇÃO DE DOENÇAS versus DESTRUIÇÃO DA BIODIVERSIDADE: O CASO DO SARS-CoV2 E OS CAROTENOS DO BURITI

Francisco Soares Santos Filho (Universidade Estadual do Piauí) Nerilson Marques Lima (Universidade Federal de Juiz de Fora) Teresinha de Jesus Aguiar dos Santos Andrade (Instituto Federal do Maranhão) José Williams Gomes de Oliveira Filho (Instituto Federal do Piauí) Leandro de Sousa Dias (Instituto Federal do Maranhão) Lídia Cristina de Oliveira (Instituto Federal do Piauí) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.13

CAPÍTULO. 14...... 230

ETNO-CONHECIMENTO REFERENTE AS SERPENTES NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO - ACRE, BRASIL

Marilene Vasconcelos da Silva (Universidade Federal do Acre) Moisés Barbosa de Souza (Universidade Federal do Acre) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.14

CAPÍTULO. 15...... 240

ASPECTOS ECOLÓGICOS E SOCIAIS ASSOCIADOS A ACIDENTES OFÍDICOS NO ESTADO DO ACRE, BRASIL

Marilene Vasconcelos da Silva (Universidade Federal do Acre) Moisés Barbosa de Souza (Universidade Federal do Acre) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.15

CAPÍTULO. 16...... 252

OS EFEITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COMBATE AO BIOCOLONIALISMO NA REGIÃO AMAZÔNICA

Bianca Parreira de Freitas (Universidade Federal de Mato Grosso) Odorico Ferreira Cardoso Neto (Universidade Federal de Mato Grosso) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.16

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CAPÍTULO. 17...... 260

COMPORTAMENTO FENOLÓGICO DE ESPÉCIES FLORESTAIS DETECTADO POR SISTEMAS AÉREOS NÃO TRIPULADOS

Erica Kerolaine Mendonça dos Santos (Universidade Federal do Acre) Symone Maria de Melo Figueiredo (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Evandro Orfanó Figueiredo (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280.17

ORGANIZADORES...... 278 ÍNDICE REMISSIVO ...... 280

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DIVERSIDADE MORFOLÓGICA DAS ESCAMAS DE CHARACIFORMES (ACTINOPTERYGII, OSTARIOPHYSI) DO ALTO RIO JURUÁ, EXTREMO OESTE DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Karina da Silva Alencar1, Francisco Ricardo Negri2 e André Luis da Silva Casas3

1. Núcleo de Ictiologia do Vale do Alto Juruá-NIVAJ, Campus Floresta-UFAC, Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil; 2. Laboratório de Paleontologia, Campus Floresta, UFAC, Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil; 3. Laboratório de Anatomia e Fisiologia Comparada do Campus Floresta, UFAC, Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil.

RESUMO O presente estudo documenta a diversidade morfológica de escamas de 18 espécies representando 12 famílias de Characiformes Neotropicais. O material foi coletado de exemplares comercializados do Mercado de Peixes Resene de Souza Lima, em Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil, com procedência da bacia do Alto Rio Juruá. As escamas foram extraídas de 15 regiões do flanco esquerdo de cada exemplar, limpas mecanicamente e coradas com Alizarina para posterior investigação macroscópica, documentação fotográfica e descrições. Os resultados obtidos apontam que existe grande variação na forma das escamas das famílias examinadas. Estruturas como dentículos, canais interfaciais ou poros, escamas com parte posterior membranosa, escamas espinóides e crenadas são, pela primeira vez, descritas em Characiformes do Vale do Alto Rio Juruá. Diante da importância da morfologia das escamas ctenóides, crenadas e espinóides para fins de classificação dos Actinopterígios, essas variações morfológicas observadas nas famílias de Characiformes podem representar um sinal filogenético, que deverão ser analisados em um contexto sistemático mais abrangente com o estudo da lepidologia em outros representantes da ordem. Palavras-chave: Lepidologia, Peixes Neotropicais e Descrição Morfológica.

ABSTRACT The scales morphology of the Characiformes (Actinopterygii, Ostariophysi) from Alto Rio Juruá, Acre, Western Brazilian Amazon. This study documents the scale morphology of 18 species representing 12 families of Neotropical Characiformes. The material was collected from specimens sold at the Resene de Souza Lima Market, in Cruzeiro do Sul, Acre, Brazil, from the Upper Rio Juruá basin. The scales were extracted from 15 left flank regions of each specimen, mechanically cleaned and stained with Alizarin for later micro and macroscopic investigation, photographic documentation and descriptions. The results

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indicate that there is great variation in the form of the examined families scales. Structures such as denticles, interfacial canals or pores, membranous posterior scales, spinoid and crenate scaleswere described for the first time in Characiformes of the Upper Juruá River. Given the importance of the ctenoid, crenate and spinoid scales morphology for the classification of Actinopterygii, these morphological variations observed in Characiformes families may represent a phylogenetic signal, which can be analyzed in a broader systematic context with lepidology study in other representatives of this order. Keywords: Lepidology, Neotropical Fish and Morphological Descripition.

1. INTRODUÇÃO

Muito antes de autores contemporâneos utilizarem escamas para resolução de questões taxonômicas, Agassiz (1843) propôs a classificação dos peixes em quatro ordens com base nessas estruturas, classificando-as em Placóides, Ganóides, Ciclóides e Ctenóides. Desde então essa nomenclatura foi incorporada a Ictiologia servindo como referencial histórico para as primeiras classificações dos peixes. Essas estruturas dérmicas estão localizadas na superfície do e são consideradas multifuncionais, fornecendo proteção aos tecidos moles adjacentes, formando uma barreira física contra traumas, além de apresentarem propriedades hidrodinâmicas (KARDONG, 2016). Como apêndices do tegumento possuem variações estruturais, na forma, espessura, tamanho e na superfície dorsal, dependo da região corpórea onde estão localizadas (JAWAD, 2005a; JAWAD; JUFAILI, 2007). Sua topografia apresenta elementos importantes para as descrições e diagnoses de espécies, como observado por Lagler (1947), que padronizou a terminologia desses elementos para fins descritivos. Segundo o autor os Círculos são elevações alinhadas concêntricas ou cristas. Foco: primeira parte da escama formada durante a ontogenia. Anel: circunscrição, formada a partir da unificação dos círculos, fornece informações sobre crescimento e idade do peixe. Raios: ranhuras que irradiam marginalmente, que podem ser primários quando vão do foco até a margem e secundários, quando restritos as margens. Ctenii: estruturas com forma de dentes, na margem posterior. Campos: maior área na superfície da escama, limitando regiões adjacentes, podendo ser anterior, posterior e laterais. O campo anterior conecta as regiões anterolaterais, abrange a área dorsoventral e o foco. Os campos laterais, sendo ambos idênticos, com áreas remanescentes, dorsal e ventral. Já o campo posterior conecta as regiões laterais (dorsal e ventral) ao foco (Figura 1).

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Ainda no campo posterior das escamas ciclóides podem ser observados ornamentos marginais de dois tipos: espinóide, que correspondem a espinhos contínuos na margem ou em todo campo, e crenada, formada por saliências irregulares, com forma de serras ou prolongamentos em forma de dígitos (ROBERTS, 1993; BRÄGER; MORITZ, 2016).

Figura 1. Estruturas morfológicas Morfologia de escamas ciclóides regulares em Hoplerythrinus unitaeniatus (esquerda) e da linha lateral em Semaprochilodus insignis (direita).

Portanto a Lepidologia ganha importância, não só para a Sistemática, mas também para Paleontologia (SHACKLETON, 1998; PATTERSON et al., 2002; GIORDANO; ARRATIA; SCHULTZE, 2016), como bioindicador de degradação ambiental (HYDAYATI et al. 2013), arqueologia (CASTEEL, 1974) e como modelo dinâmico (VERNEREY; BARTHELAT, 2010; ZHU; VERNEREY; BARTHELAT, 2011; BROWING; ORTIZ; BOYCEA, 2013; DRELICH et al., 2018; ZHU et al., 2019). Estudos utilizando escamas de Characiformes estão voltados principalmente para determinar a idade e o crescimento (GIAMAS et al., 1992; CARVALHO et al., 1998; DOMINGUES; HAYASHI, 1998; ORSI; SHIBATTA, 1999; GOULART et al., 2007) e abordagens taxonômicas que as empregam como caracteres merísticos (SHIBATTA;

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ARTONI, 2005; ARAÚJO et al., 2012). Porém faltam trabalhos sobre a documentação da forma e diversidade das escamas dessa ordem. Diante desse cenário, o presente estudo objetivou descrever e documentar, pela primeira vez, a morfologia e diversidade das escamas de 12 famílias de Characiformes do Alto Rio Juruá, extremo ocidente da Amazônia Brasileira.

2. MATERIAIS E MÉTODO

Foram examinadas 1000 escamas de 18 espécies, representando 12 famílias de Characiformes da bacia do Rio Juruá. Os espécimes foram obtidos no Mercado Municipal de Peixes Resene de Souza Lima, em Cruzeiro do Sul, Acre (Tabela 1), identificados conforme Fricke e Eschmeyer (2019) e Queiroz et al. (2013a, b), fixados em formol a 4% e estocados em álcool 70% no Núcleo de Ictiologia do Vale do Juruá (NIVAJ) da Universidade Federal do Acre. Seguiu-se a terminologia de Bräger e Moritz (2016), Jawad (2005a, b), Kuusipalo (1998), Roberts (1993), Lippitsch (1990) e Lagler (1947) para descrição das escamas, exceto as da linha lateral, que foram descritas segundo Voronina e Hughes (2013, 2017). Visando documentar o maior número possível de variações na escamação, foram coletadas escamas de quinze regiões do flanco esquerdo, incluindo as da linha lateral (Figura 2).

Figura 2. Áreas para extração de escamas. Desenho esquemático de Colossoma macropomum (Characiformes), indicando (A-O) as quinze regiões no flanco esquerdo onde as escamas foram extraídas. Área anterior A-E, média F-J e posterior K-O. Modificado do Museu da Amazônia (MUSA).

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As amostras foram removidas com tesoura e pinça, utilizando a abordagem metodológica de Zhu; Vernerey; Barthelat (2011) de “levantar e puxar”. Sua preparação foi realizada sob estereoscópio Leica EZ4 utilizando-se as seguintes metodologias: a) limpeza com solução aquosa de hipoclorito de 2,0 a 2,5 %; b) limpeza com solução de detergente e água conforme Barazona et al. (2012) e Gazon et al. (2012), seguida de escovação com pincéis e escovas ortodônticas para remover a camada de epiderme no campo posterior; c) fricção das escamas entre os dedos para remoção de tecidos aderidos as mesmas. Posteriormente, escamas foram coradas com Alizarina RED-S e armazenadas em álcool 70%. O material foi examinado no microscópio Leica ADM 500 e fotografado no estereoscópio Leica M205A.

Quadro 1. Lista de espécies de peixes examinadas, com indicação da família/espécie e nome popular.

Família/ Espécie Nome popular Anostomidae Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) Piau Schizodon fasciatus (Spix & Agassiz, 1829) Piau Bryconidae Brycon sp. Matrinchã Chalceidae Chalceus erythrurus (Cope, 1870) Arari Curimatidae Curimatella meyeri (Steindachner, 1882) Branquinha Potamorhina pristigaster (Steindachner, 1876) Ctenoluciidae Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Bicuda Cynodontidae Gata Hydrolycus scomberoides (Cuvier, 1819) Cachorra Rhaphiodon vulpinus (Spix & Agassiz, 1829)

Erythrinidae Jeju Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix & Agassiz, 1829) Traíra Hoplias cf. malabaricus (Bloch, 1794) Hemiodontidae Anodus sp. Hemiodus sp. Curimatã Prochilodontidae Jaraqui Prochilodus nigricans (Agassiz,1829) Semaprochilodus insignis (Jardine, 1841) Serrasalmidae Piranha-caju Pygocenthus nattereri Kner, 1858 Piranha Serrasalmus elongatus Kner, 1858 Triportheidae Sardinha Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829)

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 RESULTADOS

FAMÍLIA ANOSTOMIDAE Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) Tipo: Ciclóide. Forma: Circular cordada a intermediária. Variabilidade da forma: Média. Campo anterior: Margem lisa, com ondulações, um raio primário central. Campo posterior: presença de vinte e cinco raios primários e secundários, raios terciários nos campos laterais, membranosa na margem posterior e canais interfaciais. Foco: Presente, anterior central. Círculos: são contínuos e indistintos no campo anterior. Descontínuos e distintos, desintegrando-se no campo posterior, formando grânulos alongados e tubérculos. Dentículo: Ausente. Linha lateral: Abertura anterior da parte tubular na dorsal, canal tubular longo, sem ramificação no túbulo, com saída para canalículo na dorsal (Figura 3, 1.a -1.b).

Schizodon fasciatus (Spix & Agassiz, 1829) Tipo: Ciclóide. Forma: Circular cordada a intermediária. Variabilidade da forma: Média. Campo anterior: Margem lisa com ondulações, três raios primários, geralmente um raio central ou ausente. Campo posterior: Presença de dois raios primários, até três secundários, alta variação em raios terciários dispostos na margem membranosa, canais interfaciais. Foco: Anterior central. Círculos: Campo anterior, contínuos e indistintos, no campo posterior, distintos se desfazendo, formando grânulos e tubérculos em todo o campo e marginalmente, margem irregular. Dentículo: Ausente. Linha lateral: Abertura anterior para parte tubular e abertura para canalículos na face dorsal, túbulo longo com aberturas laterais, sem ramificações (Figura 3, 2.a -2.b).

FAMÍLIA BRYCONIDAE Brycon sp. Tipo: Ciclóide, crenada. Forma: Circular cordada, oval reversa, intermediária. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Margens lisas, presença de um a três raios secundários. Campo posterior: Margem crenada, entorno de quarenta raios secundários ou feixes que formam sucessivas depressões, gerando elevações com tuberosidades, raios irregulares em toda superfície da escama. Foco: Presente, central. Círculos: Contínuos e

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indistintos nos campos, anterior e lateral. No campo posterior, descontínuos e distintos desintegrando-se. Presença de anel de crescimento. Canais interfaciais. Dentículo: Presente, arredondado: Linha lateral: Abertura anterior da parte tubular na dorsal e saída dos canalículos na dorsal. Abertura para túbulo na ventral, ramificação de quatro a nove canalículos ramificam-se do túbulo (Figura 3, 3.a -3.b).

FAMÍLIA CHALCEIDAE Chalceus erythrurus (Cope, 1870) Tipo: Ciclóide. Forma: Circular cordada a intermediária. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Presença de raios primários e secundários, podendo apresentar maior número dessas estruturas, devido à alta variabilidade da forma e pela presença de raios não retilíneos semelhantes a fissuras associados a estes. Campo posterior: Presença de raios bem desenvolvidos, até sete raios primários, raios secundários marginalmente com fissuras associadas. Margem posterior membranosa. Foco: Posição e forma indefinida. Círculos: Descontínuos e indistintos, dispostos sem padrão definido no campo posterior, dispersos devido a unificação que formam lacunas. Dentículos: Presentes, longo. Linha lateral: Abertura anterior da parte tubular e abertura para canalículo na dorsal. Túbulo com ramificações em vários canalículos (Figura 3, 4.a -4.b).

FAMÍLIA CTENOLUCIIDAE Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Tipo: Ciclóide, espinóide com espinhos alternados. Forma: Circular cordada. Variabilidade da forma: Baixa. Campo anterior: Margem é lisa ondulada, interceptado por 2 a 4 raios primários. Campo posterior: Marginalmente tem espinhos com crescimento alternado, depressões na face dorsal em todo campo posterior, presença de 3 a 4 raios primários seguidos de 3 a 5 secundários. Foco: posterior-central. Círculos: Contínuos e indistintos no campo anterior e lateral, campo posteriores descontínuos e distintos, Dentículo: presente, arredondado. Linha lateral: Abertura anterior da parte tubular na dorsal, parte tubular curta, saída para canalículo na dorsal, sem ramificação no túbulo (Figura 3, 5.a -5.b).

FAMÍLIA CURIMATIDAE Curimatella meyeri (Steindachner, 1882) Tipo: Ciclóide, crenada alongada. Forma: Intermediária. Variabilidade da forma: Média. Campo anterior: Margem lisa. Presença de até três sulcos, que formam depressões

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superficiais e marginais. Raios ausentes. Campo posterior: Liso, marginalmente presença de sete a dezoito projeções digitiformes. Foco: Anterior central. Círculos: Contínuos e indistintos nas extremidades dos campos anterior e laterais, próximo ao foco. No campo posterior são distintos e incontínuos. Dentículo: Presente, curto. Linha lateral: abertura anterior para parte tubular na dorsal assim como abertura para canalículo. Canal curto e sem ramificações, o túbulo pode apresentar curvatura (Figura 3, 6.a -6.b).

Potamorhina pristigaster (Steindachner, 1876) Tipo: Ciclóide, espinóide. Forma: Intermediária. Variabilidade da forma: Média. Campo anterior: Margem lisa ondulada, sem raios. Campo posterior: Projeções em forma de cúspides, alternadas ou sobrepondo-se, formadas no campo posterior, emergindo na margem, estando reclinadas. Foco: Central. Círculos: Contínuos e distintos, próximo ao foco indistinto. Desintegram-se na região posterior. Dentículo: Ausente. Linha lateral: Abertura anterior da parte tubular e abertura para canalículo na face dorsal, canal curto, podendo apresentar curvatura no túbulo (Figura 4, 7.a -7.b).

FAMÍLIA CYNODONTIDAE Hidrolycus scomberoides (Cuvier, 1819) Tipo: Ciclóide, espinóide. Forma: Circular verdadeira. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Margem lisa com ondulações, sem raios. Campo posterior: Raios e círculos ausentes, espinhos em todo campo posterior, organizados em 3 a 5 colunas. Foco: Presente, anterior central. Círculos: Contínuos e indistintos nos campos, anterior e lateral. Dentículo: Ausente. Linha lateral: Escamas adjacentes dorsais e ventrais a linha lateral apresenta forma elíptica. A escama da linha lateral tem a forma triangular. Abertura anterior da parte tubular e abertura para canalículos na face dorsal, canal tubular curto. A partir do túbulo há ramificação de dois canalículos maiores que vão até a extremidade de cada lado da escama, destes podem partir de dois ou mais canalículos menores (Figura 4, 8.a -8.b).

Rhaphiodon vulpinus (Spix & Agassiz, 1829) Tipo: Ciclóide. Forma: Circular verdadeira. Variabilidade da forma: Média. Campo anterior: Margem lisa ondular, sem raios. Campo posterior: Margem lisa, sem raios ou ornamentação. Foco: Posterior central. Círculos: Concêntricos, contínuos e indistintos. Dentículo: Ausente. Linha lateral: Escamas adjacentes dorsais e ventrais a linha lateral apresenta forma elíptica. A escama da linha lateral apresenta a forma triangular. Abertura

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anterior da parte tubular e abertura para canalículos na face dorsal. Parte do túbulo, dois canalículos, um para cada extremidade da escama, formando um arco, na curvatura inferior marginal tem a presença de dois a quatro canalículos ramificados destes (Figura 4, 9.a -9.b).

FAMÍLIA Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix & Agassiz, 1829) Tipo: Ciclóide. Forma: Circular cordada a hexagonal. Variabilidade da forma: Baixa. Campo anterior: Margem lisa ondulada, com até seis raios primários com até oito raios secundários. Em cada campo lateral um raio transversal primário. Campo posterior: Presença de nove a dois raios primários e sete a um, raios secundários, canais interfaciais, membrana posterior. Foco: Central posterior. Círculos: Contínuos e indistintos nos campos, anterior e laterais. Descontínuos e distintos no campo posterior, unificando de dois a quatro círculos para formar um círculo maior. Dentículo: Presente, curto. Linha lateral: Abertura anterior da parte tubular e abertura para canalículos na face dorsal, canal alongado, túbulo curto, emergindo no dorso, com canalículos ramificados laterais (Figura 4, 10.a -10.b).

Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Tipo: Ciclóide. Forma: Hexagonal intermediária ou cordada. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Margem lisa ondulada, seis raios primários, de seis a dezesseis raios primários e terciários. Nos campos laterais soma um total de seis raios, podendo ser, primário, secundário ou terciário. Campo posterior: Raios, primários, secundários e terciários. Membrana posterior, canais interfaciais. Foco: Anterior central. Círculos: Contínuos e indistintos no campo anterior. No campo posterior, descontínuos e distintos, dispostos na longitudinal. Dentículo: Presente, curto. Linha lateral: Abertura anterior para parte tubular, abertura para canalículo na dorsal, túbulos sem ramificações (Figura 4, 11.a -11.b).

FAMÍLIA HEMIODONTIDAE Anodus sp. Tipo: Ciclóide, crenada média. Forma: Intermediária. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Sem sulcos radiais, margens lisas. Campo posterior: Estruturas irregulares, com formas de estrias/fascículos organizados em feixes, marginalmente, crenas médias. Foco: Presente, anterior-central. Círculos: Contínuos e indistintos no campo anterior. Próximo ao foco e no campo posterior distintos. Indistintos no campo posterior. Dentículos: Ausente. Linha lateral: abertura anterior para parte tubular na face dorsal da escama, assim

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como abertura para canalículo. Consecutivos à abertura posterior da parte tubular, túbulos segmentados por uma a três aberturas na face ventral (Figura 4, 12.a -12.b).

Hemiodus sp. Tipo: Ciclóide, crenada média. Forma: Intermediária. Variabilidade da forma: Média. Campo anterior: Sem sulcos radiais, margem lisa. Campo posterior: estruturas irregulares, com formas de estrias/fascículos organizados em feixes. Na margem posterior crenas médias. Foco: Presente, central. Círculos: Contínuos e indistintos no campo anterior e lateral, próximo ao foco, distinto, desintegram no campo posterior, presença de anéis de crescimento. Dentículos: Presente, espaçado arredondado. Linha lateral: Abertura anterior para parte tubular, uma abertura para canalículo na face dorsal, canal longo e sem ramificações (Figura 5, 13.a -13.b).

FAMÍLIA PROCHILODONTIDAE Prochilodus nigricans (Spix & Agassiz, 1829) Tipo: Ciclóide, espinóide. Forma: Hexagonal a intermediária. Variabilidade da forma: Baixa. Campo anterior: Margem lisa, formando duas ondulações, em relação ao raio primário central, presença de três raios primários. Campo posterior: Separado do campo anterior por dois raios primários transversais, podendo apresentar até cinco raios primários. Região posterior com estruturas proeminentes inclinadas, alternadas ou organização não colunar. Foco: Posterior central. Círculos: No campo anterior contínuos e indistintos. No campo posterior, descontínuos e distintos. Dentículos: Ausente. Linha lateral: Disposto na parte central posterior da escama, abertura anterior da parte tubular e saída de canalículos na face dorsal. Túbulo com duas ou mais ramificações laterais (Figura 5, 14.a -14.b).

Semaprochilodus insignis (Jardine, 1841) Tipo: Ciclóide, crenada. Forma: Intermediaria. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Ondulação na margem e superfície anterior. Campo posterior: Separado do campo anterior por dois raios primários transversais, presença de até dois raios primários na posição longitudinal, canais interfaciais. Foco: Anterior central e posterior. Círculos: Contínuos e indistintos no campo anterior, distintos desintegrando- se no campo posterior. Dentículos: Ausente. Linha lateral: Abertura anterior para parte tubular na face dorsal, formação de um canal sem teto, a princípio um vão, túbulo com duas aberturas ramificadas, dez aberturas

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para canalículos na face dorsal, podendo ser único, com teto e sem ramificações (Figura 5, 15.a -15.b).

FAMÍLIA SERRASALMIDAE Pygocenthus nattereri Kner, 1858 Tipo: Ciclóide. Forma: Circular verdadeira a oval. Variabilidade da forma: Média. Campo anterior: Sem ornamentações, margem lisa, estrias irregulares. Campo posterior: Sem ornamentações, margem lisa, estrias irregulares. Foco: Central. Círculos: Contínuos e indistintos no campo anterior e lateral, no campo posterior, distinto e descontínuo. Dentículo: Ausente. Linha lateral: Canal contínuo na face dorsal, abertura anterior para parte tubular na (dorsal e ventral), face ventral, ramificação com três canalículos com aberturas para face externa da escama (Figura 5, 16.a -16.b).

Serrasalmus elongatus Kner, 1858 Tipo: Ciclóide. Forma: Circular verdadeira. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Sem ornamentações, margem lisa, estrias irregulares. Campo posterior: Sem ornamentações, margem lisa, estrias irregulares. Foco: Presente, central posterior. Círculos: contínuos e indistinto no campo anterior. No campo posterior, descontínuo e distinto. Dentículo: Presente espaçado. Linha lateral: Escama com forma ovóide, túbulo contínuo, com abertura lateral para canalículo, posterior a abertura posterior para a parte tubular, abertura do canal face ventral, dorsalmente só o teto do canal (Figura 5, 17.a -17.b).

FAMILIA TRIPORTHEIDAE Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829) Tipo: Ciclóide, crenada. Forma: Circular cordada a intermediária. Variabilidade da forma: Alta. Campo anterior: Margem lisa com ondulações. Até dois raios primários. Dois a três raios secundários. Campo posterior: Margem com crenas. Até 19 raios terciários, em toda superfície da escama, os raios estão dispersos ou dispostos irregulares. Foco: Presente, central posterior. Círculos: Presentes, descontínuos e indistintos. Dentículos: Presente, arredondado e curto. Linha lateral: abertura anterior da parte tubular na dorsal e saída dos canalículos na dorsal. Abertura para túbulo na ventral, ramificações, duas a quatro canalículos partindo do túbulo (Figura 5, 18.a -18.b).

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Figura 3. Escamas das famílias Anostomidae, Bryconidae, Chalceidae, Ctenoluciidae, Curimatidae, (a) escama regular (b) escama da linha lateral. Anostomidae: 1-Leporinus fasciatus, 2-Schizodon fasciatus. Bryconidae: 3-Brycon sp. Chalceidae: 4- Chalceus erythrurus. Ctenoluciidae: 5-Boulengerella maculata. Curimatidae: 6-Curimatella meyeri.

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Figura 4. Escamas das famílias Curimatidae, Cynodontidae, Erythrinidae, Hemiodontidae. (a) escama regular (b) escama da linha lateral. Curimatidae: 7-Potamorhina pristigaster. Cynodontidae: 8- Hidrolycus scomberoides, 9-Rhaphiodon vulpinus. Erythrinidae: 10- Hoplerythrinus unitaeniatus, 11-Hoplias malabaricus. Hemiodontidae: 12- Anodus sp.

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Figura 5. Escamas das famílias Hemiodontidae, Prochilodontidae, Serrasalmidae, Triportheidae. (a) escama regular (b) escama da linha lateral. Hemiodontidae: 13- Hemiodus sp. Prochilodontidae: 14- Prochilodus nigricans, 5- Semaprochilodus insignis. Serrasalmidae: 16- Pygocenthus nattereri, 17- Serrasalmus elongatus. Triportheidae: 18- Triportheus angulatus.

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3.2 DISCUSSÃO

Em relação às ranhuras transversais para os campos laterais, as ranhuras longitudinais e irregulares para os campos, anterior e posterior, como diagnosticado em Bräger e Moritz (2016), verifica-se que em C. erythrurus, P nattereri, S elongatus e Brycon sp. ranhuras irregulares/fissuras radiais foram predominantes em toda a escama. Característica relacionadas com o crescimento e flexibilidade para a natação em peixes. Essas espécies são consideradas nadadoras de coluna d’água (QUEIROZ et al., 2013a, b), indicando que essas estruturas possam estar relacionadas à natação. Nos Serrasalmidae examinados, as escamas apresentam forma ciclóide e os raios estão dispostos irregularmente. As escamas de Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) são espinóides, apresentando no campo posterior um feixe de raios primários, secundários e marginalmente terciários, e na margem posterior um alinhamento em espinhos (ALENCAR, observação pessoal). Esse padrão não foi observado nos demais Serrasalmidae examinados, que apresentam escamas ciclóides, havendo assim notável variação entre espécies da mesma família. As escamas de C. erythrurus, L. fasciatus, S. fasciatus, H. unitaeniatus e H. malabaricus apresentam segmento membranoso na margem posterior, também observados por Bräger e Moritz (2016) e Jawad e Jufaili (2007), em outros teleósteos. Para Bräger e Moritz (2016), em relação à classificação de escamas, particularmente as ciclóides, não é necessário alterar os termos nomenclaturais para as estruturas membranosas, pois essas são variações próprias da escama ciclométrica. Os canalículos interfaciais descritos para o campo posterior nas espécies retromencionadas foram também observadas em Brycon sp. e S. insignis. Jawad e Jufaili (2007) relataram essas estruturas como poros caudais para Saurida tumbil (Bloch, 1795), desconhecendo a causa da presença das mesmas no campo posterior. Os círculos possuem dentículos interradiais, estruturas microscópicas observadas na região anterior e lateral (SIRE; GÉRAUDIE, 1984; LIPPITSCH,1990; ROBERTS, 1993; KUUSIPALO,1998; SIRE; ARNULF, 2000; JAWAD, 2005 a, b). Sire e Arnulf (2000), esclarecem que estas estruturas servem de ancoragem na derme, diferente dos ctenii da região posterior que estão relacionados a hidrodinâmica. Ao examinar as escamas de Hemiodontidae foi possível diferenciar duas espécies, com base na lepidologia, mesmo que de forma geral tenham escamas muito semelhantes. Hemiodus sp. possui dentículos espaçados e arredondados, o que poderia ser uma nova

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característica diagnóstica para a espécie, caracteres não observados nas escamas de Anodus sp. Conforme a classificação da linha lateral de Voronina e Hughes (2013, 2017) os Characiformes apresentam o tipo estrutural AI: onde a placa da escama está relativamente modificada, a margem posterior livre pode estar presente; a abertura posterior/centro da escama mais próximo da margem, e canalículos partindo dos túbulos separadamente. A margem posterior nos Chalceidae, Cynodontidae, Serrasalmidae e Prochilodontidae examinados são interceptadas por canalículos ramificados a partir do túbulo. Houve diferenças no comprimento da estrutura tubular e seu deslocamento nas escamas da linha lateral dos espécimes examinados. Delamater e Courtenay (1973) afirmam que a estrutura tubular é variável e que esta acompanha o tamanho da escama, o que pode justificar a variação observada nos Characiformes examinados. No levantamento feito por Roberts (1993), dentre os Othophysi os Characiformes é o único táxon que apresenta tanto representantes com escamas ctenóides e espinóides. Todos os outros otophysianos possuem escamas ciclóides. A presença de ctenii é uma autapomorfia de Distichodontidae, e.g., Distichodus rostratus Günther, 1864 (ROBERTS, 1993), família africana de Characiformes, considerada a mais basal por Vari (1979). Portanto essas estruturas parecem estar ausentes nos Characiformes neotropicais considerados mais derivados. O exame das escamas no presente estudo corrobora os achados de Roberts (1993) quanto a distribuição dos ctenii nas espécies neotropicais. Apesar de corroborar com Roberts (1993) quanto as escamas ctenóides, os resultados trazem dados inéditos sobre a morfologia das escamas, quando relata a presença de crenas na margem posterior T. angulatus, S. insignis, Hemiodus sp., Anodus sp., C. meyeri e Brycon sp. Escamas espinóides foram descritas por Roberts (1993) para Prochilodontidae e Curimatidae, e são aqui documentadas em P. nigricans e P. pristigaster, representantes dessa família, que apresentam espinhos difundidos em todo campo posterior, ou só marginalmente, podendo ser organizados em colunas ou alternados. Todavia essas mesmas estruturas foram também identificadas em exemplares de Ctenoluciidae e Cynodontidae, B. maculata e H. scomberoides, respectivamente.

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4. CONCLUSÃO

Diante da grande diversidade da fauna e formas dos peixes Neotropicais, e das variações morfológicas observadas nas escamas dos Characiformes do Vale do Alto Juruá, tal como a presença de crênulas, espinhos e dentículos interradiais, suscita-se a necessidade de ampliar a documentação morfológica das escamas dessa ordem, para futuros estudos de biologia comparada lato sensu.

5. AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Professor Dr. Dionatas Ulisses de Oliveira Meneguetti, coordenador do Laboratório de Medicina Tropical da UFAC, por permitir a utilização dos equipamentos estereoscópicos para a documentação do material examinado, bem como ao Biólogo Tiago Ricardo Fernandes Jacó por confeccionar as imagens estereoscópicas.

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ICTIOFAUNA DO IGARAPÉ PRETO, CRUZEIRO DO SUL - ACRE, BRASIL

Tiago Ricardo Fernandes Jacó1,3, Ronaldo Souza da Silva2, Hericles Correia da Silva3, Lucena Rocha Virgílio3, Flávio César Thadeo de Lima4 e André Luis da Silva Casas3

1. Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, SEMA-RS/ Seção de Paleontologia, Programa de Pós- Graduação em Sistemática e Conservação da Diversidade Biológica (PPGSCbio), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil; 2. Universidade Federal do Pará, Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Belém, Pará, Brasil; 3. Universidade Federal do Acre, Núcleo de Ictiologia do Vale do Alto Juruá (NIVAJ), Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil; 4. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Museu de História Natural Prof. Adão José Cardoso, Campinas, São Paulo, Brasil.

RESUMO Pequenos riachos e rios de florestas tropicais abrigam cerca de 60% das espécies de peixes neotropicais conhecidas. A bacia Amazônica possui a maior diversidade ictiofaunística do mundo, com mais de 2.716 espécies, das quais, cerca de 1.696 são endêmicas. Esses peixes não são restritos aos grandes rios, mas também habitam numerosos riachos, localmente chamados de Igarapés. Nas duas últimas décadas houve um avanço considerável no conhecimento sobre a ictiofauna da região neotropical, mas ainda existem lacunas amostrais, principalmente em regiões afastadas dos grandes centros. Na bacia do Rio Juruá, há registros de coletas ictiofaunísticas a mais de um século, porém, com levantamentos restritos a poucos pontos de amostragem. Portanto, a fim de contribuir para ampliação do conhecimento da ictiofauna dessa bacia, o presente estudo descreve a ictiofauna do Igarapé Preto, um dos principais tributários na parte alta do Rio Juruá. Foram amostradas cinco localidades ao longo do Igarapé Preto que apresentou 82 espécies, distribuídas em 28 famílias e seis ordens. Characiformes foi a ordem com maior riqueza, seguida de Siluriformes e Cichliformes. Esse resultado condiz com outros estudos realizados para a região, no entanto descreve riqueza de espécies superior, e registra pela primeira vez algumas espécies para a bacia do Rio Juruá. Palavras Chave: Igarapés, Amazônia Ocidental e Peixes de Água Doce.

ABSTRACT Small streams and rivers draining tropical forests hold about 60% of the known Neotropical fish species. The Amazon basin has the greatest ichthyofaunistic diversity in the world, with more than 2.716 species, of which, about 1.696 are endemic. These fishes are not restricted to large rivers, but they also inhabit numerous streams, locally called Igarapés. In the past two decades, a great advance in the knowledge of the ichthyofauna of the neotropical region has been achieved, but there are still large geographical sampling gaps, especially in regions far from large centers. At the rio Juruá River, there are records of ichthyofaunistic collections

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for more than a century, however, with surveys restricted to a few sampling points. Therefore, in order to contribute to expanding the knowledge of the ichthyofauna in this basin, this study describes the ichthyofauna of Igarapé Preto, one of the main tributaries in the upper portion of the rio Juruá. Five sites were sampled along Igarapé Preto, which presented 82 species, distributed in 28 families and six orders. Characiformes was the order with the greatest richness, followed by Siluriformes and Cichliformes. This result is consistent with other studies carried out for the region; however, it describes superior species richness, and records, for the first time, some species for the Juruá River basin. Keywords: Igarapés, Western Amazon e Freshwater fishes.

1. INTRODUÇÃO

Pequenos riachos e rios de florestas tropicais de terra firme abrigam aproximadamente 60% das mais de 6.000 espécies de peixes de água doce neotropicais, que estão divididas em 854 gêneros, 95 famílias e 39 ordens (ALBERT; TAGLIACOLLO; DAGOSTA, 2020; MALABARBA; MALABARBA, 2020). No entanto, novas descobertas a cada ano elevam as expectativas em torno das estimativas, indicando que a diversidade dos peixes de água doce neotropicais possa ser estimada em torno de 8.000 a 9.000 espécies (REIS et al., 2016; DAGOSTA; PINNA, 2019). Por ser um centro de diversidade ictiofaunística, a bacia Amazônica possui muitas espécies endêmicas, cerca de 1.696 das mais de 2.716 espécies registradas para a região (DAGOSTA; PINNA, 2019). Sua importância não se caracteriza somente pela diversidade in loco, mas também como responsável por fornecer linhagens de diferentes grupos taxonômicos para outras bacias hidrográficas neotropicais (ANTONELLI et al., 2018a). Essa diversidade não se restringe somente aos grandes rios como o Amazonas, Negro e o Madeira, abrangendo uma rede de pequenos riachos, que são formados nas partes altas das bacias (SABINO; ZUANON, 1998). A complexidade das densas redes de pequenos riachos, denominados regionalmente como igarapés, permeiam entre a cobertura vegetal de terras firmes na Amazônia (JUNK, 1984). O dossel das árvores dificulta a entrada da luz, fazendo com que esses ambientes sejam deficitários na produção primária, tornando sua fauna dependente de material alóctone, originário de terrenos circundantes aos igarapés (GOULDING, 1980; LOWE– McCONNELL, 1999). Apesar da baixa produção primária, os igarapés abrigam diversas ordens de peixes, com espécies consideradas de pequeno porte, por possuírem comprimento padrão inferior a

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15cm. Dentre elas, destacam-se os peixes da ordem Siluriformes e Characiformes devido à sua abundância nesses locais (BÜHRNHEIM, 1998, SABINO; ZUANON, 1998; LOWE– McCONNELL, 1999; REIS et al., 2003). Mesmo com o avanço, nas últimas duas décadas, dos estudos ictiofaunistícos na Amazônia (BIRINDELLI; SIDLAUSKAS, 2018), ainda existem lacunas sobre o conhecimento dessa biodiversidade (ANTONELLI et al., 2018b), sobretudo em áreas afastadas dos grandes centros e de difícil acesso. Majoritariamente os esforços de coletas ocorrem nas terras baixas, ao longo dos canais dos rios principais, especialmente em planícies de inundação, sendo essas áreas relativamente bem documentadas. As coletas de peixes na bacia do Rio Juruá iniciaram-se há mais de um século, porém a bacia permanece pouco amostrada, por esse hiato nos períodos de coleta e devido as restrições quanto aos locais de amostragem, o presente estudo descreve a ictiofauna do Igarapé Preto, um dos principais tributários na parte alta do Rio Juruá.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1 ÁREA DE ESTUDO

A microbacia do Igarapé Preto, está situada na região Noroeste do estado do Acre, no município de Cruzeiro do Sul, extremo ocidente da Amazônia brasileira (Figura 1). O igarapé atravessa áreas de campinarana, uma floresta mais aberta e menos diversa que cresce em solos arenosos (SILVEIRA, 2003; DALY et al., 2016). Seu principal corpo d’água, de águas pretas, percorre 26,93 Km até desaguar no Rio Moa, um dos principais afluentes do Rio Juruá (SILVA et al., 2014; RAMALHO et al., 2014).

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Figura 1. Mapa dos pontos amostrados ao longo do Igarapé Preto, no município de Cruzeiro do Sul, Acre.

2.1.1 Área de Coleta

O estudo ocorreu entre os anos de 2014 e 2016, com quatro pontos amostrais (Figura 2): Balneário (Ponto 1), Igarapé do Zé (Ponto 2), Igarapé do Tatá (Ponto 3) e Castanheira (Ponto 4). Com exceção do Balneário todos os outros pontos estão localizados em áreas privadas, denominados regionalmente como “banhos” por seus proprietários. Os “banhos” são populares por serem utilizados para o lazer da população. Geralmente sofrem forte interferência antrópica, como modificação dos seus leitos e represamento das águas, para formarem praias artificiais. Diferente dos outros pontos de coleta, o Balneário é um local público e todos os dias recebe centenas de pessoas, que são atraídas por suas águas geladas e pelo fácil acesso. Apesar da transformação, por meio da ação antrópica, os pontos de coleta em propriedades particulares, ainda possuem ampla cobertura vegetal em suas margens e a manutenção e cuidado com a limpeza são notáveis. No Balneário, onde a cobertura vegetal

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é quase inexistente, o grande volume de usuários contribui com a poluição e falta de cuidados com o ambiente.

Figura 2. Registro dos pontos de coleta ao longo do Igarapé Preto. A) Balneário do Igarapé Preto, B) Igarapé do Zé, C) Castanheira e D) Igarapé do Tatá.

2. 1. 2 Amostragem de Peixes Os espécimes foram coletados, com autorização do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) / SISBIO (licença nº 55808-2), com redes de arrastos 1,5 e 2,0 m² e peneiras medindo 90 x 70 cm. Os espécimes foram sacrificados seguindo o protocolo de Fernandes et al. (2017) e fixados em formol 04%. A lista

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de espécies (Tabela 1) seguiu a classificação de peixes ósseos de Betancur-R et al. (2017), após confirmada as identificações as espécies foram depositadas na Coleção de Peixes do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas ZUEC, (Apêndice 1).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados 4.084 exemplares, pertencentes a 82 espécies, 28 famílias e seis ordens (Tabela1). Characiformes foi a ordem mais abundante com 3.724 espécimes, seguida por siluriformes (164 espécimes) e Cichliformes (158 espécimes) (Figura 3A). Além disso, Characiformes e Siluriformes foram as ordens com maior representatividade de famílias, 12 e 8, respectivamente (Figura3B). Em relação a riqueza, Characiformes apresentou o maior número de espécies (60 espécies) seguido por siluriformes com 15 espécies (Figura 3A).

Tabela 1. Peixes coletados no presente estudo. Taxa Balneário Zé Tatá Castanheira CHARACIFORMES Acestrorhynchidae Acestrorhynchus microlepis (Jardine, 1841) x - - - Acestrohynchus falcirostris (Cuvier 1819) - - x - Acestrorhynchus falcatus (Bloch, 1794) - - - x Gnathocharax steindachneri Fowler, 1913 x x x - Heterocharax macrolepis Eigenmann, 1912 x - - x cf elegans Weitzman & x - x x Kawazawa 1976 Crenuchus spilurus Günther, 1863 - x x - Elachocharax pulcher Myers, 1927 x - x - Characidae Axelrodia stigmatias (Fowler, 1913) x - x x Brachychalcinus nummus Böhlke, 1958 x - - - Bryconella pallidifrons (Fowler, 1946) x x x - Charax sp. x - - - Cyanogaster sp. x - - - Gymnocorymbus thayeri Eigenmann, 1908 x - x - Hemigrammus bellottii (Steindachner, 1882) x - x x Hemigrammus hyanuary Durbin, 1918 x - - x Hemigrammus melanochrous Fowler, 1913 x x - - Hemigrammus microstomus Durbin, 1918 x - - -

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Hemigrammus ocellifer (Steindachner, x - - x 1882) Hemigrammus schmardae (Steindachner x x x x 1882) Hemigrammus vorderwinkleri Géry, 1963 x - - x Hyphessobrycon agulha Fowler, 1913 x x x - Hyphessobrycon bentosi Durbin, 1908 x - - - Jupiaba abramoides (Eigenmann, 1909) - x - - Jupiaba asymmetrica (Eigenmann, 1908) x - - - Knodus sp. x - - x Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882) x x - x Moenkhausia comma Eigenmann, 1908 x x - - Moenkhausia gracílima Eigenmann, 1908 - - - x Moenkhausia lepidura (Kner, 1858) x - - - Moenkhausia melogramma Eingenmann, x x - - 1908 Moenkhausia mikia Marinho & Langeani x x x x 2010 Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864) x - - x Paracheirodon innesi (Myers, 1936) x x - - Phenacogaster sp. x - - - Priocharax sp. x x x - Stethaprion crenatum Eigenmann, 1916 x - - - Tetragonopterus chalceus Spix & Agassiz, x - - - 1829 Iguanodectidae Bryconops caudomaculatus (Günther, 1864) x - x - Bryconops inpai Knöppel, Junk & Géry, 1968 - - x - Bryconops aff. melanurus (Bloch, 1794) x - - - Iguanodectes purusii (Steindachner, 1908) x - - x Gasteropelecidae Carnegiella strigata (Günther, 1864) x x - x Chilodontidae Chilodus punctatus Müller & Troschel, 1844 x x x - Curimatidae Curimatella cf immaculata (Fernández- x - - - Yépez, 1948). Curimatopsis sp. x x x x Cyphocharax cf spilurus (Günther, 1864) x - - - Hemiodontidae Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) x - - - Erythrinidae Hoplias cf malabaricus (Bloch, 1794) x x - x Anostomidae Leporinus sp. - - x - Pseudanos gracilis (Kner, 1858) x - - -

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Serrasalmidae Metynnis sp. x - x - Myloplus sp. x - - - Lebiasinidae Nannostomus marginatus Eigenmann, 1909 x x x x Pyrrhulina sp. x - - - SILURIFORMES Acanthodoras sp. x - - - Amblydoras affinis (Kner, 1855) x - - x Physopyxis lyra Cope, 1872 x - x - Auchenipteridae Auchenipterichthys thoracatus (Kner, 1858) x - - - Parauchenipterus sp. x - - - Callichthyidae Corydoras arcuatus Elwin, 1938 x x - - x - - - Megalechis picta (Müller &Troschel, 1849) - - x - Cetopsidae Helogenes marmoratus Günther, 1863 - - x - Trichomycteridae Ituglanis sp. x - - - Heptapteridae Myoglanis koepckei Chang, 1999 x - - - Pimelodella sp. x x - - Loricariidae Otocinclus macrospilus Eigenmann & Allen, x - x - 1942 Rineloricaria sp. x x x x Pimelodidae Pimelodus cf. albofasciatus Mees, 1974 x - - - CICHLIFORMES Cichlidae Acaronia nassa (Heckel, 1840) x - x - Aequidens tetramerus (Heckel, 1840) x x - x Apistogramma juruensis Kullander, 1986 x x x x Crenicara punctulata (Günther, 1863) x - - - Crenicichla cf. inpa Ploeg, 1991 x - x x Polycentridae Monocirrhus polyacanthus Heckel, 1840 x - - x GYMNOTIFORMES Hypopomidae Brachyhypopomus sp. x - x - Microsternarchus sp. x - - -

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Sternopygidae Eigenmannia sp. x x x - Gymnotidae Gymnotus coatesi La Monte, 1935 - - - x Rhamphichthyidae Gymnorhamphichthys rondoni (Miranda - x - - Ribeiro, 1920) CYPRINODONTIFORMES Rivulidae Laimosemion sp. - x - - BELONIFORMES Belonidae Potamorrhaphis guianensis (Jardine, 1843) x - - -

Figura 3. Diversidade encontrada no Igarapé. A) Quantidade de espécies por ordens. B) Quantidade de famílias por ordem. C) Quantidade de espécies por famílias. D) quantidade de espécies por local de coleta, e suas respectivas abundâncias.

A família Characidae apresentou maior riqueza e abundância (31 espécies e 2.842 indivíduos), seguida por Cichlidae que apresentou a segunda maior riqueza de espécies (7),

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porém, perde em abundância para a Curimatidae e Iguanodectidae (398 e 287 espécies, respectivamente) (Figura 3C). A grande abundância da família Characidae deve-se principalmente pelo número de indivíduos de Moenkhausia collettii (833 espécimes), Hemigrammus schmardae (382 espécimes), Moenkhausia melogramma (342 espécimes) e outras sete espécies (Tabela 1), que juntas somam 73% de toda amostragem. Os valores de riqueza e abundância são diferentes entre as localidades, com o Balneário do Igarapé Preto apresentando a maior riqueza (77 spp.) e abundância (2.993 espécimes), seguido pelo Igarapé do Zé (28 spp. e 450 espécimes) e Igarapé Castanheira (27 spp. e 360 espécimes). O Igarapé do Tatá apresentou menor abundância, mas em riqueza ultrapassa os Igarapés do Zé e Castanheira com 33 espécies (Figura 3D). Algumas dessas espécies são apresentadas nas figuras 4 e 5. Os resultados apontam que os Characiformes e Siluriformes são as ordens mais representativas, com maior riqueza de espécies para as localidades amostradas, corroborando com os resultados de Ramalho et al. (2014), Silva e Virgílio (2019) sobre a ictiofauna do extremo ocidente da Amazônia. Os resultados aqui apresentados demonstram uma maior riqueza de espécies, com documentação de espécies não reportados pelos autores acima. Essa diferença pode estar relacionada às características geomorfológicas locais, grau de perturbação ou a metodologia de coleta empregada (RIBEIRO; ZUANON, 2006; DUARTE et al., 2010). Ressalta-se que a grande representatividade dos Characiformes e Siluriformes examinados não diferem do padrão de riqueza de espécies descrito para toda a bacia amazônica e região neotropical (REIS et al., 2016; BELTRÃO et al., 2019; DAGOSTA; DE PINNA, 2019; JEZEQUEL et al., 2020). A grande diversidade de Characiformes está associada a capacidade de distribuição, alta plasticidade trófica (ABELHA et al., 2001) e às características morfológicas adquiridas ao longo dos processos evolutivos, como olhos grandes que facilitam a visualização até mesmo nos ambientes com baixa luminosidade (ARRINGTON; WINEMILLER, 2003). Todas essas características fazem com que a ordem seja bem estabelecida nos mais diversos ecossistemas aquáticos, como rios, lagos, praias e igarapés (BELTRÃO et al., 2019; SILVA et al., 2020).

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Figura 4. Exemplares de peixes da ordem Characifomes. A) Hyphessobrycon bentosi, B) Moenkhausia melogramma C) Hemigrammus melanochrous, D) Hemigrammus schmardae E) Bryconops caudomaculatus F) Ctenobrycon spilurus

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Figura 5. Exemplares de peixes da ordem Characiformes. G) Chilodus punctatus, H) Cyphocarax spilurus, I) Iguanodects purusii., J) Bryconops cf. melanurus K) Nannostomus marginatus, L) Pyrrhulina sp.

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Os integrantes da família Characidae são notavelmente responsáveis pela representatividade da ordem em riachos da bacia amazônica, pois a família apresenta grande diversidade de espécies, sendo em sua maioria de pequeno porte e generalistas (ZUANON et al., 2015; DUTRA et al., 2020). Os resultados no Igarapé Preto condizem com a afirmação acima, quando as dez espécies mais abundantes nessa localidade pertencem a Characidae, com destaque para M. collettii, espécie com maior representatividade no estudo. Sua grande abundância foi documentada em outros Igarapés da Amazônia, como reportado por Claro-Garcia et al. (2013), nos Igarapés da bacia do Rio Acre, e Dutra et al. (2020) nos tributários do Rio Amazonas. Vale destacar que a grande diversidade de peixes encontrada nos riachos está intimamente relacionada à disponibilidade de alimento e de abrigo gerado pela matéria orgânica alóctone, oriunda da vegetação ripária (e.g. galhos, folhas, frutos) (ROA-FUENTES; CASATTI, 2017). Em termos de diversidade, a bacia do Rio Juruá é subamostrada, com poucas informações sobre sua ictiofauna. Para Igarapés, a maioria dos trabalhos focam na influência antrópica sobre a fauna de peixes, como Ramalho et al. (2014) que avaliam a influência do barramento sobre a ictiofauna e Silva e Virgílio (2019) que verificam a influência da retirada de areia para construção civil sobre a assembleia de peixes, ambos nas regiões de Campinarana. Trabalhos sobre biologia básica, como inventários taxonômicos, que são essenciais para identificar espécies e descrever possíveis espécies ainda desconhecidas, continuam incipientes. Diante dessas informações torna-se possível identificar espécies ameaçadas, como apontado por (SILVA et al., 2020). Alguns locais amostrados no presente estudo, apresentam grau de degradação mais elevado, como o Balneário do Igarapé Preto. Apesar do alto grau de antropização, nessa localidade foi possível documentar riqueza e abundância maiores que em pontos de coletas mais preservados. Apesar do resultado incongruente, pois tradicionalmente se relaciona maior riqueza e abundância de espécies a ambientes menos impactados, Leão et al. (2020) descreveram maior riqueza de espécies em locais de pastagem em comparação com ambientes de florestas. Na bacia do Igarapé Preto, esse fato pode estar relacionado à maior diversidade de habitats, devido às modificações e adições de estruturas de origem antrópica (e.g. pontes, quiosques e lixo), fazendo com que espécies mais resistentes se beneficiem. Ressalta-se que os resultados foram obtidos para uma abordagem taxonômica, o que, muitas vezes, impossibilita identificar influências negativas dos impactos ambientais sobre as populações de peixes. Estudos de diversidade funcional, onde é possível associar as funções desempenhadas pelas espécies nos ecossistemas (LEITÃO et al., 2018; SANTOS et al.,

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2019), são indicados para detectar alterações nas populações por conta das alterações ambientais. A ocorrência de maior riqueza de espécies no ambiente mais degradado, pode ter ocorrido devido a facilidade na utilização de petrechos de pesca para captura dos exemplares, uma vez que o Balneário do Igarapé Preto apresenta as margens formadas por praias arenosas. Essa característica facilita a utilização de redes de arrasto, método de captura muito eficiente nesse tipo de ambiente (DUARTE et al., 2010; SILVA et al., 2020). Além disso, as praias possuem baixa profundidade e alta transparência das águas, que permitem que muitas espécies se beneficiem nesse ambiente, pois o utilizam como abrigo contra predadores e para forragear (DUARTE et al., 2010; SILVA et al., 2020).

4. CONCLUSÃO

O Igarapé Preto apresenta riqueza de ictiofauna impressionante, indicando que estudos de escopo mais abrangente são necessários, para complementar o conhecimento sobre as espécies de peixes. Além disso, levando em consideração a crescente pressão antrópica que esses ambientes vêm sofrendo, se faz necessário a avaliação da diversidade funcional. Desta forma será possível verificar as funções que as espécies desempenham no sistema, possibilitando elaborar estratégias para mitigar os efeitos negativos da ação humana nesses ambientes. Garantindo que distúrbios irreversíveis, como extinções locais, ocorram em toda biota aquática dessa região pouco conhecida da Amazônia Ocidental Brasileira.

5. APÊNDICE

Acestrorhynchus microlepis: ZUEC 13622; ZUEC 13629; ZUEC 13078. Acestrohynchus falcirostris: ZUEC 13710; Acestrorhynchus falcatus: ZUEC 13538. Gnathocharax steindachneri: ZUEC 13562; ZUEC 13686; ZUEC 13653; ZUEC 13727. Heterocharax macrolepis: ZUEC 13525; ZUEC 13571. Ammocryptocharax cf elegans.: ZUEC 13591; ZUEC 13616; ZUEC 13540; ZUEC 13739; ZUEC 13679; ZUEC 13088. Crenuchus spilurus ZUEC 13682; ZUEC 13700. Elachocharax pulcher: ZUEC 13578; ZUEC 13752. Axelrodia stigmatias: ZUEC 13573; ZUEC 13526; ZUEC 13688; ZUEC 13647.

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Brachychalcinus nummus: ZUEC 13099. Bryconella pallidifrons: ZUEC 13599; ZUEC 13605; ZUEC 13503; ZUEC 13654; ZUEC 13729; ZUEC 13715; ZUEC 13698. Charax sp.: ZUEC 13644. Cyanogaster sp.: ZUEC 13093. Gymnocorymbus thayeri: ZUEC 13608; ZUEC 13546; ZUEC 13672. Hemigrammus bellottii: ZUEC 13595; ZUEC 13604; ZUEC 13553; ZUEC 13531; ZUEC 13684; ZUEC 13664; ZUEC 13717; ZUEC 13097. Hemigrammus hyanuary: ZUEC 13593; ZUEC 13577; ZUEC 13532;13642; ZUEC 13095. Hemigrammus melanochrous: ZUEC 13508; ZUEC 13584; ZUEC 13652; ZUEC 13703. Hemigrammus microstomus: ZUEC 13581; ZUEC 13098. Hemigrammus ocellifer: ZUEC 13572; ZUEC 13579; ZUEC 13533. Hemigrammus schmardae: ZUEC 13742; ZUEC 13597; ZUEC 13606; ZUEC 13502; ZUEC 13547; ZUEC 13529; ZUEC 13685; ZUEC 13648; ZUEC 13730; ZUEC 13718; ZUEC 13702; ZUEC 1364; ZUEC 13083. Hemigrammus vorderwinkleri: ZUEC 13560; ZUEC 13530. Hyphessobrycon agulha: ZUEC 13607; ZUEC 13668; ZUEC 13600; ZUEC 13738; ZUEC 13732; ZUEC 13716. Hyphessobrycon bentosi: ZUEC 13596; ZUEC 13556; ZUEC 13084. Jupiaba abramoides: ZUEC 13692. Jupiaba asymmetrica: ZUEC 13561. Knodus sp.: ZUEC 13585; ZUEC 13517; ZUEC 13534; ZUEC 13640; ZUEC 13091. Moenkhausia collettii: ZUEC 13594; ZUEC 13554; ZUEC 13528; ZUEC 13704; ZUEC 13646; ZUEC 13101. Moenkhausia comma: ZUEC 13737; ZUEC 13512; ZUEC 13691. Moenkhausia gracílima: ZUEC 13520. Moenkhausia lepidura: ZUEC 13087. Moenkhausia mikia: ZUEC 13587; ZUEC 13611; ZUEC 13549; ZUEC 13519; ZUEC 13677; ZUEC 13697; ZUEC 13639; ZUEC 13086. Moenkhausia oligolepis: ZUEC 13545; ZUEC 13518; ZUEC 13090. Moenkhausia melogramma: ZUEC 13588; ZUEC 13510; ZUEC 13555; ZUEC 13645; ZUEC 13102. Paracheirodon innesi ZUEC 13661; ZUEC 13731. Phenacogaster sp.: ZUEC 13582. Priocharax sp.: ZUEC 13602; ZUEC 13513; ZUEC 13687; ZUEC 13728. Stethaprion crenatum: ZUEC 13632. Tetragonopterus chalceus: ZUEC 13633; ZUEC 13092. Bryconops caudomaculatus: ZUEC 13670; ZUEC 13628. Bryconops inpai: ZUEC 13751; ZUEC 13720. Bryconops aff. melanurus: ZUEC 13077; ZUEC 13612; ZUEC 13504; ZUEC 13574; ZUEC 13515; ZUEC 13589; ZUEC 13741; ZUEC 13669; ZUEC 13721; ZUEC 13719; ZUEC 13694; ZUEC 13631. Iguanodectes purusii: ZUEC 13601; ZUEC 13614; ZUEC 13521; ZUEC 13746; ZUEC 13079. Carnegiella strigata: ZUEC 13511; ZUEC 13550; ZUEC 13522; ZUEC 13649; ZUEC 13644. Chilodus punctatus: ZUEC 13676; ZUEC 13706; ZUEC 13634; ZUEC 13082. Curimatella cf. immaculata: ZUEC 13100; ZUEC 13580. Curimatopsis sp. ZUEC 13507; ZUEC 13541; ZUEC 13681; ZUEC 13663; ZUEC 13713; ZUEC 13699. Cyphocharax cf. spilurus: ZUEC 13592; ZUEC 13542; ZUEC 13569; ZUEC 13744; ZUEC 13714; ZUEC 13637; ZUEC 13076.; ZUEC 13609; ZUEC 13696. Hemiodus sp.: ZUEC 13586. Hoplias cf.

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malabaricus: ZUEC 13576; ZUEC 13656; ZUEC 13693; ZUEC 13527; ZUEC 13094.; ZUEC 13618. Leporinus sp.: ZUEC 13671. Pseudanos gracilis: ZUEC 13080. Metynnis sp. ZUEC 13617; ZUEC 13747; ZUEC 13680. Myloplus sp.: ZUEC 13603; ZUEC 13743. Nannostomus marginatus: ZUEC 13624; ZUEC 13509; ZUEC 13566; ZUEC 13659; ZUEC 13724; ZUEC 13708; ZUEC 13524. Pyrrhulina sp.: ZUEC 13548; ZUEC 13655. Acanthodoras sp.: ZUEC 13565. Amblydoras affinis ZUEC 13543; ZUEC 13535. Physopyxis lyra ZUEC 13621; ZUEC 13544; ZUEC 13678. Auchenipterichthys thoracatus: ZUEC 13636. Parauchenipterus sp.: ZUEC 13568. Corydoras arcuatus: ZUEC 13613; ZUEC 13723; ZUEC 13701; ZUEC 13627; ZUEC 13096. Megalechis picta: ZUEC 13707. Helogenes marmoratus: ZUEC 13711. Ituglanis sp.: ZUEC 13583. Myoglanis koepckae: ZUEC 13734. Pimelodella sp.: ZUEC 13695; ZUEC 13625; ZUEC 13630; ZUEC 13089. Otocinclus macrospilus. ZUEC 13619; ZUEC 13675; ZUEC 13662. Rineloricaria sp.: ZUEC 13590; ZUEC 13623; ZUEC 13567; ZUEC 13514; ZUEC 13740; ZUEC 13666; ZUEC 13705; ZUEC 13635; ZUEC 13085. Pimelodus cf. albofasciatus: ZUEC 13626. Acaronia nassa: ZUEC 13557; ZUEC 13674; ZUEC 13660. Aequidens tetramerus: ZUEC 13505; ZUEC 13523; ZUEC 13598; ZUEC 13610; ZUEC 13657; ZUEC 13722; ZUEC 13081. ZUEC 13563. Apistogramma juruensis. ZUEC 13506; ZUEC 13552; ZUEC 13558; ZUEC 13516;; ZUEC 13658; ZUEC 13725; ZUEC 13709. Crenicara punctulata: ZUEC 13564. Crenicichla cf inpa: ZUEC 13620; ZUEC 13559; ZUEC 13537; ZUEC 13736; ZUEC 13667; ZUEC 13650; ZUEC 13643. Monocirrhus polyacanthus: ZUEC 13536; ZUEC 13651. Brachyhypopomus sp.: ZUEC 13615; ZUEC 13551; ZUEC 13665. Microsternarchus sp.: ZUEC 13575. Eigenmannia sp.: ZUEC 13673; ZUEC 13712; ZUEC 13690; ZUEC 13638. Gymnotus coatesi: ZUEC 13539. Gymnorhamphichthys rondoni: ZUEC 13733; ZUEC 13689. Laimosemion sp.: ZUEC 13726. Potamorrhaphis guianensis: ZUEC 13570.

6. REFERÊNCIAS

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PEIXES COMERCIAIS DO MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL, ACRE, BRASIL

Tiago Ricardo Fernandes Jacó1,4, Ronaldo Souza da Silva2, Aline Nayara Poscai3 Hericles Correia da Silva4, Flávio César Thadeo de Lima5 e André Luis da Silva Casas4

1. Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, SEMA-RS/ Seção de Paleontologia, Programa de Pós Graduação em Sistemática e Conservação da Diversidade Biológica (PPGSCbio), Porto Alegre, Rio Grande so Sul, Brasil; 2. Universidade Federal do Pará, Programa de pós-graduação em Zoologia, Belém, Pará, Brasil; 3. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Laboratório de Pesquisas de Elasmobrânquios, São Vicente, São Paulo, Brasil; 4. Universidade Federal do Acre, Núcleo de Ictiologia do Vale do Alto Juruá (NIVAJ), Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil; 5. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Museu de História Natural Prof. Adão José Cardoso, Campinas, São Paulo, Brasil.

RESUMO A pesca é uma das atividades econômicas mais importantes na Amazônia, responsável por 25% da produção brasileira de pescado. No entanto, existem relativamente poucos dados relacionados a identificação de espécies comerciais em grande parte da Amazônia brasileira. Por isso, realizamos um levantamento dos peixes comercializados no Mercado Resene de Souza Lima (MRSL), Cruzeiro do Sul, Acre. Foram identificadas 76 espécies de peixes comerciais, pertencendo à seis ordens. As espécies de Characiformes e Siluriformes foram as mais representativas, com 43,4% e 35,5% respectivamente, seguidas dos Cichliformes + Eupercaria (13,2%), Gymnotiformes (3,9%), Osteoglossiformes (2,6%) e (1,3%). A pesca extrativista é a principal fonte de abastecimento do MRSL, onde 233.349 toneladas de pescado foram vendidas em 2017. O preço médio variou de R$ 8,00 a R$ 14,00 por quilogramas, totalizando R$ 2.368.248,00 de peixes comercializados. A piscicultura contribuiu com 44.154 toneladas, gerando R$ 529.848,00 de vendas. Estes resultados mostram pela primeira vez, a diversidade de peixes comerciais de uma região pouco estudada da Amazônia, destacando a importância da pesca para a economia de Cruzeiro do Sul e sua população. Palavras-chave: Ictiofauna, Vale do Alto Juruá e Mercado de Peixes.

ABSTRACT Fishery is one of the most important economic activities in the Amazon, which is responsible for 25% of the Brazilian fish production. However, there are few surveys related to identification of commercial fish species in many areas of the Amazon basin. Therefore we undertook a survey of the commercial fish species at the Resene de Souza Lima Market,

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Cruzeiro do Sul, Acre. A total of 76 commercial fish species were identified, belonging to six orders. Species belonging to the orders Characiformes and Siluriformes were the most representative, representing 43.4% and 35.5% of the total, respectively. The less representative orders were Cichliformes + Eupercaria (13.2%), Gymnotiformes (3.9%), Osteoglossiformes (2.6%), and Clupeiformes (1.3%). Extractive fishery is the main source of supply to the fish market, in which 233.349 tons were sold over the year of 2017. The average price of fish varied from R$8.00 to R$14.00 per kg, with a total of R$2.368.248,00 for commercial fishes. Fish farming production contributed with 44.154 tons, resulting in R$529.848,00 of fish sales. These results show for the first time, the diversity of commercial fishes in an understudied Amazon region and also highlights the importance of fishery for Cruzeiro do Sul economy and its population. Keywords: Ichthyofauna, Alto Juruá Valley e Fish Market.

1. INTRODUÇÃO

A pesca é uma das atividades humanas mais importantes na Amazônia. Tradicionalmente, sua prática é relacionada às populações ribeirinhas como um complemento à outras atividades econômicas e de subsistência, tais como caça, agricultura e extrativismo. Para muitos ribeirinhos, pescar é uma ocupação permanente (BARTHEM; FABRÉ, 2004; SANTOS; SANTOS, 2005; COSTA et al., 2009; YOUN et al., 2014). Os diferentes habitats nas planícies de inundação favoreceram o desenvolvimento de uma rica ictiofauna (JUNK, 2007), e os padrões espaciais da biodiversidade de peixes na várzea do Rio Amazonas foram fortemente relacionados à cobertura vegetal, bem como às condições ambientais locais. Inúmeras espécies e grupos funcionais definidos por suas estratégias de vida, alimentação, natação e uso de micro-habitat mostraram uma correlação positiva com a cobertura vegetal da região (ARANTES et al., 2019). Essas condições permitem que a região neotropical abrigue cerca de 8.000 espécies válidas, correspondendo a aproximadamente 25% de toda a ictiofauna do mundo (VARI; MALABARBA, 1998; REIS et al., 2003) (VARI; MALABARBA, 1998; REIS et al., 2003). A Bacia Amazônica tem inúmeros corpos d’água, sendo considerada o maior sistema fluvial no mundo devido à geologia, propriedades físicas, químicas e bióticas. Estes fatores associados à microbiota, são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica que influencia na classificação da água como branca, clara e negra. A complexidade e diversidade desse sistema aquático favoreceram a especiação da mais rica ictiofauna no mundo, representada por 2.257 espécies, sendo 1.248 endêmicas, representando 15% dos peixes de água doce conhecidos (GERRY, 1984; SIOLI, 1984; SINGER, 1984; MENEZES,

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1996; BARTHEM; FABRE, 2004; BUCKUP et al., 2007; REIS et al., 2016; TEDESCO et al., 2017; ARANTES et al., 2019). O conhecimento da ictiofauna amazônica é majoritariamente evidenciado pelo esforço de amostragem nas áreas de terras baixas, ao longo dos canais dos principais rios e suas planícies de inundação. As terras altas dos Rios Solimões e Amazonas são pouco amostradas (MENEZES, 1996). Esse cenário explica porque a vasta maioria da fauna moderna de peixes ser representada por espécies de terras baixas. Na Amazônia, cerca de 6% das espécies (i.e., 129 espécies) apresentam distribuição restrita acima de 300 metros de altitude (OBERDOFF et al., 2019). A ictiofauna do Rio Juruá vem sendo documentada desde o fim do século XIX, mas estudos voltados para o inventariamento de peixes nessa bacia hidrográfica ainda são escassos, sobretudo pela lacuna temporal entre os poucos trabalhos realizados no Rio Juruá (BOULENGER, 1898; LA MONTE, 1935; SILVANO et al., 2001; SOUZA et al., 2003; GONÇALVES et al., 2008; PINHEIRO; BÜRNHEIM, 2009). Alguns autores afirmam que 3.000 espécies representam a fauna de peixes amazônicos, embora dezenas de novas espécies sejam descritas todo ano (REIS et al., 2003). Portanto, há um consenso de que a ictiofauna amazônica representa a maior diversidade de peixes do mundo, devido a influência de diferentes fatores ambientais, tais como a mistura das águas, propriedades químicas, dinâmica do rio (SIOLI, 1984) e cobertura vegetal (ARANTES et al., 2019). Ainda que os principais afluentes da Bacia Amazônica sejam amostrados, algumas lacunas ocorrem nas partes centrais e periféricas dessa bacia. Essas lacunas são constituídas por localidades de difícil acesso para o levantamento da ictiofauna, por serem muito isoladas ou por estarem em áreas protegidas. Portanto, a identificação de sub-bacias pouco amostradas é o primeiro passo para conhecer a biodiversidade nestes locais (OBERDOFF et al., 2019). Como consequência da falta de informações sobre a fauna de peixes, a efetividade de políticas públicas relacionadas à conservação dos recursos pesqueiros é comprometida (ALMEIDA et al., 2012; MELO, 2012; CUNHA, 2015). Apesar de haver alguns trabalhos de monitoramento de desembarques de pescarias realizadas em Belém (PA) e Manaus (AM) (PETRERE, 1978; ISAAC; BARTHEM, 1995; BATISTA, 1998; BARTHEM; FABRE, 2004), a falta de dados históricos na pesca de diferentes locais da Amazônia contradizem a importância dessa atividade para a região. Assim, estudos sobre espécies comercializadas são essenciais para política de preservação

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e manejo de pesca, bem como a compreensão da abundância e composição de recursos pesqueiros. Costa et al. (2009) caracteriza a pesca na Amazônia como atividade extrativista, condicionada pelo nível da água dos rios com superprodução durante a seca e diminuição da mesma durante a cheia, influenciando a economia, cultura, e sobrevivência das populações humanas. Dentre as 90 espécies de peixes amazônicos que são importantes para o comércio e alimentação, 78% não são avaliadas pela Lista Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature), ou seja, suas informações biológicas são desconhecidas (BEGOSSI et al., 2017). O declínio dos recursos pesqueiros causados pela poluição, destruição de habitat, sobrepesca e barragens aumentam a insegurança alimentar e econômica de comunidades ribeirinhas dependentes da atividade pesqueira (BEGOSSI et al., 2017). Por isso, algumas espécies podem desaparecer antes mesmo que tenhamos conhecimento apropriado para sua conservação (BEGOSSI et al., 2017). Desse modo, a utilização de recursos pesqueiros pelas populações amazônicas, reforçam a necessidade de conhecimento científico sobre a biodiversidade de peixes, para contribuir com o manejo sustentável e políticas públicas relacionadas à pesca, que possam também assegurar a qualidade de vida das populações humanas. Diante desse cenário, não há dados precisos sobre a diversidade de peixes comercializados no Vale do Alto Juruá, Acre. Baseado nisso, esse estudo documenta as espécies de peixes comercializadas no Mercado Resene de Souza Lima, um importante entreposto de desembarque e comercialização de peixes provenientes da pesca artesanal e piscicultura no município de Cruzeiro do Sul, contribuindo para o conhecimento da taxonomia, pesca e biologia de peixes comercializados no extremo Ocidente da Amazônia brasileira.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1 ÁREA

O município de Cruzeiro do Sul localiza-se no Oeste do estado do Acre, na margem esquerda do Rio Juruá. É a segunda cidade mais populosa e desenvolvida do estado com

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cerca de 80.000 habitantes, sendo 8% da população formada por comunidades ribeirinhas (Figura 1). As atividades econômicas predominantes na cidade e nos municípios vizinhos são o setor de serviços e agricultura, que juntos representam a maior parte da economia da região do Vale do Alto Juruá (ACRE, 2009).

Figura 1. Rio Juruá e seus lagos marginais (A principal área de pesca extrativista utilizada pelos pescadores de Cruzeiro do Sul).

2.2 AMOSTRAGEM DOS DADOS DE DESEMBARQUE

Em 2015, o município de Cruzeiro do Sul implementou um centro de distribuição e comercialização de peixes, o “Mercado Resene de Souza Lima” (MRSL), popularmente conhecido como “Mercado do Peixe”. Depois de sua inauguração, o mercado se tornou o principal centro para a venda de pescados, com 32 lojas, das quais cinco são destinadas à venda de peixes salgados. O fornecimento de peixe ao MRSL é realizado principalmente por pescadores artesanais extrativistas, como definido por Costa et al., (2009). Diariamente, os trabalhadores

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levam sua produção ao mercado, onde a administração do mesmo promove o controle, triagem e redistribuição para a venda. Peixes criados em pisciculturas também são fornecidos ao mercado.

2.3 COLEÇÃO DE ESPÉCIES E CLASSIFICAÇÃO

A documentação das espécies vendidas no MRSL foram realizadas três vezes por semana, no período de janeiro à dezembro de 2017, em todas as lojas de revenda de peixes frescos. Quando possível, alguns exemplares foram coletados e depositados no Núcleo de Ictiologia do Vale do Alto Juruá (NIVAJ) no Campus Cruzeiro do Sul da Universidade Federal do Acre. Peixes considerados de grande valor econômico não foram coletados, mas fotografados para identificação taxonômica. Para a identificação de espécies foram utilizadas as chaves de Géry (1977), Silvano et al. (2001), Ferreira et al. (2007), Galvis et al. (2006) e Queiroz et al. (2013). A lista de espécies (Tabela 1) seguiu a classificação de peixes ósseos de Betancur-R et al. (2017).

2.4 ANÁLISES DE DADOS

A quantidade de peixes desembarcados no MRSL em 2017 e os preços de venda foram obtidos através de informações fornecidas pela administração do mercado. Foram coletados dados sobre o peso, identificação taxonômica, quantidade de espécies por quilograma e fornecedores. Os dados de desembarque (peso do peixe pelo seu tipo e preço de venda) permitiram uma análise preliminar, estimando o total de peixes pescados e encaminhados para venda no MRSL. As análises foram realizadas através de estatística descritiva no Software Microsoft Excel 2016. Os preços de vendas e a quantidade de peixes desembarcados foram

x1+x2+x3+⋯+Xn ∑n xi calculados pela fórmula: x = = i=1 e a porcentagem da frequência relativa N n

utilizando a seguinte fórmula: fri % = fri ∗ 100% .

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A diversidade de peixes comercializados no MRSL foi representada por 78 espécies, distribuídas em 23 famílias, de sete ordens (Tabela 1). A ordem Characiformes foi a mais abundante, representada por 50% das famílias, e composta de 43.4% das espécies vendidas. Siluriformes foi a segunda ordem mais abundante, com 22.7% de famílias agrupadas em 35.5% de espécies, seguidas por Cichliformes + Eupercaria, que são a terceira assembleia mais representativa com 13.2% das espécies, nas quais 9.1% estão distribuídas em duas famílias. Gymnotiformes foi a quarta ordem, representada por 4.1% das espécies, com 3.9% das famílias. Osteoglossiformes foi representada por 9.1% das famílias, contando 2.6% das espécies comercializadas, enquanto Clupeiformes apresentou 4.5% das famílias, sendo representadas por 1.3% das espécies (Figura 4). A principal fonte de abastecimento do MRSL é a pesca extrativista, com 233 toneladas de peixes recebidos para comercialização durante o ano de 2017; seguida da piscicultura com 44.150 quilogramas de vendas de pescados (Figura 2). A pesca extrativista apresenta um pico entre abril e junho, com uma comercialização decrescente em novembro. Os peixes da piscicultura atingem o seu pico de vendas em setembro.

Tabela 1. Espécies de peixes comercializados no MRSL, Cruzeiro do Sul, Acre em 2017. Taxa Nome Tipo Tipo Tipo Regional I II III Piscicultura OSTEOGLOSSIFORMES Osteoglossidae Arapaima gigas (Schinz, 1822) Pirarucu X X Osteoglossum bicirrhosum (Cuvier, 1829) Aruanã X CLUPEIFORMES Pellona castelnaeana Valenciennes, 1847 Sardinhão X CHARACIFORMES Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcatus (Bloch, 1794) Cachorra X Anostomidae Laemolyta taeniata (Kner, 1858) Piau X Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) Piau X

Leporinus friderici (Bloch, 1794) Piau X

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Megaleporinus trifasciatus (Steindachner, 1876) Piau X X Schizodon fasciatus (Spix & Agassiz, 1829) Piau X Bryconidae Brycon amazonicus (Agassiz, 1829). Matrinxã X X Brycon melanopterus (Cope, 1872) Matrinxã X Chalceidae Chalceus erythrurus (Cope, 1870) Arari X Characidae Cynopotamus amazonum (Günther, 1868) Madalena X Roeboides myersii (Gill, 1870) X Ctenoluciidae Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Bicuda X Curimatidae Curimata vittata (Kner, 1858) Sabaru X Potamorhina latior (Spix & Agassiz, 1829) Branquinha X Potamorhina pristigaster (Steindachner, 1876) Branquinha X Psectrogaster amazonica (Eigenmann & Casca Eingenmann, 1889) grossa X Psectrogaster rutiloides (Kner, 1858) Cascuda X Cynodontidae Cynodon gibbus (Spix & Agassiz, 1829) Cachorra X Rhaphiodon vulpinus (Spix & Agassiz, 1829) Cachorra X Erythrinidae Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix Agassiz, 1829) Jeju X Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra X Hemiodontidae

Anodus elongatus (Agassiz, 1829) Frechera X Prochilodontidae

Prochilodus nigricans (Agassiz, 1829) Curimatã X Semaprochilodus insignis (Jardine, 1841) Jaraqui X Serrasalmidae Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) Tambaqui X X Metynnissp Pacu X Myleus schomburgkii (Jardine, 1841) Pacu X Myleus sp. Pacu X Myloplus rubripinnis (Muller & Troschel, 1844) Pacu X Mylossoma albiscopum (Cope, 1872) Mafurá X Piaractus brachypomus (Cuvier, 1818) Pirapitinga X X Pygocentrus nattereri Kner, 1858 Piranha X Serrasalmus spp. Piranha X Triportheidae

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Triportheus spp. Sardinha X GYMNOTIFORMES Sternopygidae Sarapó Eigenmannia macrops (Boulenger, 1897) Branco X Rhabdolichops sp. Sarapó X Sternopygus macrurus (Bloch & Sarapó Schneider, 1801) Preto X SILURIFORMES Auchenipteridae Ageneiosus inermis (Linnaeus, 1766) Bocão X Auchenipterus ambyiacus Fowler, 1915 Lustrosa X Trachelyopterus galeatus (Linnaeus, 1766) Cangati X Doradidae Lithodoras dorsalis (Valenciennes, 1840) Bacu X (Valenciennes, 1821) Cuiu-Cuiu X Heptapteridae Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Jundiá X Loricariidae Ancistrus sp. Bode X Loricariichthys sp. Bodó X Planiloricaria sp. Bodó X Pterygoplichthys pardalis (Castelnau, 1855) Bodó X Pimelodidae Brachyplatystoma filamentosum (Lichtenstein, 1819) Filhote X Brachyplatystoma juruense (Boulenger, 1898) Jundiá X Brachyplatystoma rousseauxii (Castelnau, 1855) Dourada X Brachyplatystoma tigrinum (Britski, 1981) Jundiá X Calophysus macropterus (Lichtenstein, 1819) Pintadinha X Hemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840) Pimpão X Hypophthalmus sp Mapará X Leiarius marmoratus (Gill, 1870) Jundiá X Phractocephalus hemioliopterus (Bloch & Schneider, 1801) Pirarara X Pimelodus blochii (Valenciennes, 1840) Mandim X Pinirampus pirinampu (Spix & Agassiz, 1829) Gororoba X

Pseudoplatystoma punctifer (Castelnau, 1855) Surubim X Pseudoplatystoma tigrinum (Valenciennes, 1840) Caparari X

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Bico de Sorubim lima (Bloch & Schneider, 1801) Pato X Sorubimichthys planiceps (Spix & Agassiz, 1829) Bargada X Zungaro zungaro (Humboldt & Valenciennes, 1821) Jaú X CICHLIFORMES Cichlidae Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) Acará Açú X Cichla monoculus (Spix & Agassiz, 1829) Tucunaré X Tucunaré X Cichlasoma amazonarum (Kullander, 1983) Cará X Crenicichla cincta (Regan, 1905) Olaia X Crenicichla johanna Heckel, 1840 Jacundá X Crenicichla lugubris Heckel, 1840 Jacundá X Heros sp Acará X Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) Acará X

Figura 2. Dados sobre a quantidade da biomassa de peixes de piscicultura e pesca extrativista disponível para venda no MRSL em 2017.

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Durante o ano de 2017, a venda de peixes gerou um valor total de R$2.896.096,00, sendo a pesca extrativista responsável por movimentar cerca de R$2.368.248,00 e a piscicultura R$529.848,00. O preço médio do peixe varia de acordo com sua classificação de R$8,00 a R$14,00 por quilograma. Todos os peixes de cativeiro foram vendidos à R$12,00 por quilograma. Os preços geralmente são padronizados entre os vendedores do mercado para evitar concorrência. Os peixes comercializados no MRSL são capturados ao longo da bacia do Rio Juruá. Depois do desembarque, todos os peixes são classificados em categorias: Tipo I, Tipo II ou Tipo III. A categorização desses peixes leva em consideração o melhor sabor, melhor rendimento, a preferência do consumidor na escolha do pescado e a oferta do produto no mercado. Os peixes do Tipo I, considerados os melhores foram menos abundantes em termos de biomassa no referido ano em relação aos peixes dos Tipos II e III. Com isso, foi possível considerar que a ordem Siluriformes apresentou o maior número de espécies comercializadas como Tipo I, e nessa categoria também foram observados os peixes provenientes da piscicultura, sendo a maioria da ordem Characiformes, que também é a maioria das espécies comercializadas como peixes de Tipo II. Os peixes de Tipo III são representados por espécies menores e outros peixes que possuem muitas “espinhas”. Foram identificadas 30 espécies no Tipo I, sendo os Siluriformes a ordem mais representativa com (43.3%), seguida pela ordem Characiformes (33.3%), Cichliformes + Eupercaria (13.3%), Osteoglossiformes (6.6%), e Clupeiformes (3.3%). Segundo pescadores e vendedores do mercado, o pirarucu (Arapaima gigas) é considerado o melhor peixe do Tipo I. Em relação à média mensal de biomassa de peixes comercializados, os de Tipo I representam mais de 1.446 toneladas, enquanto os peixes do Tipo II representam 9.839 toneladas e do Tipo III, 8.160 toneladas. As espécies de peixes de piscicultura representam 3.680 toneladas vendidos no MRSL (Figura 3a). A produção da pesca extrativista está fortemente relacionada ao clima. As diferentes espécies e tipos de peixes disponíveis para a venda em 2017 variaram de acordo com a estação. Os Tipos I, II e III apresentam picos de captura em períodos distintos (Figura 3b). Peixes do Tipo I tiveram maior captura durante a estação chuvosa, enquanto os Tipos II e III durante a estação seca.

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Figura 3. A) Biomassa vendida mensalmente de acordo com o tipo de classificação comercial; B) Tipos de classificação de peixes comercializados de acordo com vendedores e seus picos de produtividade no MRSL.

Logo após sua fundação, o MRSL passou a ser administrado pela Associação de Vendedores de Pescados de Cruzeiro do Sul, Acre (ASVEPCS), que deu início ao registro da biomassa de peixes comercializados nas lojas. Os dados do pescado são coletados esporadicamente pela ASVEPCS e não há uma padronização. No entanto, esses dados estimados permitem acessar informações relevantes sobre a ictiofauna e a pesca, especialmente pois essas espécies são comercializadas no principal centro de vendas da região do Vale do Alto Juruá. A principal fonte de peixes do MRSL é a pesca extrativista, caracterizada pelo tipo de materiais utilizados na atividade, tais como redes de pescas artesanais, linhas e anzóis. Essa modalidade de pesca costuma ser praticada individualmente ou em pares, com equipamentos simples e de baixo custo (CAPELLESSO; CAZELLA, 2011). Apesar do caráter artesanal, a quantidade aproximada de pescado comercializado no MRSL em 2017 foi de cerca de 233.349 toneladas. A piscicultura contribuiu com 44.154 toneladas. De acordo com o último relatório oficial do Ministério da Pesca e Aquicultura em 2011, no estado do Acre, 2.002,8 toneladas de peixes foram capturadas pela pesca extrativista, e 5.988,3 toneladas de peixes foram produzidos na piscicultura (MPA, 2011). Desde então, esses são os últimos dados oficiais sobre as atividades de pesca na Amazônia Ocidental Brasileira. Barthem e Fabré (2004) enfatizaram a importância da coleta regular à longo prazo, para análises em séries temporais, que permitam o estudo de variação da população de peixes ao longo do tempo, e outros fatores que poderiam determinar a produtividade biológica. Portanto, a falta de relatórios regulares sobre a pesca continental e extrativista, especialmente no Norte do Brasil, dificulta a implementação de políticas públicas para a proteção dos estoques pesqueiros e, por conseguinte da ictiofauna.

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A pesca extrativista é uma das principais fontes de renda para a população ribeirinha e um recurso nutricional, servindo como fonte de alimento para milhares de famílias. Cerca de 170.000 pessoas trabalham nessa indústria, resultando em um saldo de R$400.000.000,00 para a economia da Amazônia (ALMEIDA et al., 2004; ALCÂNTARA et al., 2015). Em Cruzeiro do Sul, Acre, os dados sobre a pesca comercial obtidos por meio da administração do MRSL, demonstram a importância dessa atividade para a economia. A venda estimada ao longo do ano foi de R$2.368.248,00, com preços de venda variando de R$8,00 à R$14,00 por quilograma do pescado. A piscicultura também contribui com o abastecimento do MRSL. De acordo com Gandra (2010) essa atividade complementa a pesca extrativista; mesmo que muitas vezes não haja infraestrutura, suporte técnico e logística adequadas na região amazônica (SARAH et al., 2013). No mercado foram identificadas seis espécies de peixes provenientes da piscicultura: Piau (Megaleporinus trifasciatus), Tambaqui (Colossoma macropomum), Pirapitinga (Piaractus brachypomus), Matrinxã (Brycon spp.), Curimatã-Pacu (Prochilodus argenteus) e Pirarucu (Arapaima gigas). Apesar da baixa produção quando comparada à pesca extrativista, essa atividade contribuiu com a comercialização de R$529.848,00 de peixes vendidos à R$12,00 reais o quilograma. Os peixes comercializados no mercado foram classificados em 56 espécies de acordo com seus nomes populares. Santos et al. (2006) enfatizou que a denominação popular não caracteriza espécies biológicas. Os nomes populares representam agrupamentos de espécies diferentes com a mesma denominação. Por isso, ao aplicar a identificação formal às espécies populares, foi possível reconhecer 78 espécies biológicas de valor comercial no município de Cruzeiro do Sul, corroborando Santos et al. (2006). Os Tipos de classificação (Tabela 1) descritas no presente estudo assemelham-se à classificação observada por Santos (1987) na qual o valor comercial dos peixes é estipulado pela administração do mercado local, de acordo com a demanda e importância do pescado para os consumidores. Isaac et al. (1996) enfatizou que peixes com maior biomassa são mais pescados no Baixo Rio Amazonas, predominantemente os Siluriformes. Esses peixes tornam-se mais susceptíveis à captura por apresentarem migração durante o período reprodutivo, pois alguns ribeirinhos utilizam esse conhecimento para a pesca, ressaltando, dessa forma, sua importância para a economia e alimentação para boa parte das populações na Amazônia (ANDERSON et al., 2011; BARTHEM et al., 2017) e de Cruzeiro do Sul, Acre de acordo com os resultados aqui apresentados.

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Figura 4. Exemplos de espécies de peixes encontradas no MRSL. A- Pirapitinga (Piaractus brachypomus), B- Tambaqui (Colossoma macropomum), C- Jaraqui (Semaprochilodus insignis), D- Pacu (Mylossoma duriventre), E- Mandim (Pimelodus blochii), F- Mapará (Hypophthalmus fimbriatus), G- Jundiá (Brachyplatystoma juruense), H- Jundiá-lavrado (Brachyplatystoma tigrinum).

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Segundo Medellín et al. (2009) a migração faz parte de um ciclo periódico, onde o animal possui a necessidade, muitas vezes hormonal, de se deslocar de um local para outro em busca de alimento, abrigo e para fins reprodutivos. Ressalta-se que o presente estudo examinou as vendas do pescado no MRSL. Os portos de desembarque não foram avaliados, o que sugere que a quantidade do pescado e divisas geradas pela atividade pesqueira no município de Cruzeiro do Sul estão subestimadas.

4. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos nesse estudo indicam que os peixes são uma importante fonte de alimento e renda para a população de Cruzeiro do Sul e outros municípios. As 78 espécies identificadas retratam uma grande riqueza e diversidade de peixes comerciais. Portanto, se necessário ampliar os estudos sobre a pesca comercial e o inventariamento e documentação da ictiofauna, para subsidiar políticas públicas de gerenciamento do estoque das espécies comercializadas no Vale do Alto Juruá.

5. AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer à Associação de Vendedores de Pescados de Cruzeiro do Sul (ASVEPCS) e à Colônia de Pescadores “Z1” por todo o valioso suporte durante essa pesquisa. Também gostaríamos de agradecer agradecer Luiz Felipe de Magalhães pelas fotografias e Sonaira Souza da Silva pela preparação do mapa.

6. REFERÊNCIAS

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CARRAPATOS DO ESTADO DO ACRE E SUA INFECÇÃO POR Rickettsia spp.: UMA REVISÃO E PERSPECTIVAS PARA ESTUDOS FUTUROS

Simone Delgado Tojal1,2, Thiago Fernandes Martins3,4, Dionatas Ulises de Oliveira Meneguetti2,5,6, Ivaneide Nunes da Costa7, Marcelo Bahia Labruna3, Karoline Silva da Cruz5, Luís Marcelo Aranha Camargo8,9,10,11

1. Universidade Federal São João del-Rei, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Divinópolis, Minas Gerais, Brasil; 2. Universidade Federal do Acre, Colégio de Aplicação, Rio Branco, Acre, Brasil; 3. Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, São Paulo, São Paulo, Brasil; 4. Departamento de Laboratórios Especializados, Superintendência de Controle de Endemias, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil; 5. Universidade Federal do Acre, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde na Amazônia Ocidental, Rio Branco, Acre, Brasil; 6. Universidade Federal do Acre, Programa de Pós-Graduação em Ciências, Inovação e Tecnologia para Amazônia, Rio Branco, Acre, Brasil; 7. Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária, turma especial de Doutorado em Ciências cooperação Instituto Oswaldo Cruz de Rondônia, Porto Velho, Rondônia, Brasil; 8. Universidade de São Paulo, Instituto de Ciências Biomédicas 5, Monte Negro, Rondônia, Brasil; 9. Centro Universitário São Lucas, Departamento de Medicina, Porto Velho, Rondônia, Brasil; 10. Centro de Pesquisas em Medicina Tropical - SESAU, Porto Velho, Rondônia, Brasil; 11. Instituto Nacional de Epidemiologia da Amazônia Ocidental, Porto Velho, Rondônia, Brasil.

RESUMO Os carrapatos são vetores de diferentes agentes etiológicos, que acometem tanto os animais quanto os seres humanos, a exemplo da febre maculosa. Essa infecção, de maior relevância para a saúde pública no Brasil, é transmitida por carrapatos, e apresenta elevada taxa de letalidade nos casos graves. O Acre é um dos estados que apresentaram a menor quantidade de estudos com carrapatos realizados no país. Desta forma, o presente trabalho teve o objetivo de fazer uma revisão narrativa sobre a composição da fauna de carrapatos e sua infecção por Rickettsia spp. relatadas no Acre, região Norte do país. Os carrapatos que compõem a ixodofauna local, identificados até o momento, são: Amblyomma calcaratum, Amblyomma coelebs, Amblyomma dissimile, Amblyomma dubitatum, Amblyomma geayi, Amblyomma humerale, Amblyomma incisum, Amblyomma longirostre, Amblyomma naponense, Amblyomma nodosum, Amblyomma oblongoguttatum, Amblyomma ovale, Amblyomma pacae, Amblyomma rotundatum, Amblyomma scalpturatum, Amblyomma varium, Dermacentor nitens, Ixodes luciae, Ixodes spinosus, Rhipicephalus microplus e Rhipicephalus sanguineus sensu lato. Até o presente momento, a relação de riquétsias infectando carrapatos no estado é de Rickettsia amblyommatis (em A. geayi, A. humerale e

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A. longirostre), Rickettsia bellii (em A. dubitatum e A. rotundatum) e os agentes Rickettsia parkeri cepa NOD (em A. nodosum) e Rickettsia sp. cepa Tapirapé (em A. naponense). O Acre, por integrar o oeste da Amazônia, com elevada biodiversidade e rica em reservas naturais, apresenta um cenário favorável para os estudos da fauna de carrapatos e de reservatórios de agentes patógenos, que podem afetar a saúde da população humana. Palavras-chave: Doença transmitida por carrapato, Amazônia e Carrapato.

ABSTRACT Ticks are vectors of different etiologic agents, which affect both animals and humans, having spotted fever as an example. This infection, which is most relevant to public health in Brazil, is transmitted by ticks and has a high lethality rate in severe cases. Acre is one of the states that presented the least amount of tick studies carried out in the country. Thus, the present manuscript aimed to make a narrative about the composition of the tick fauna and its infection by Rickettsia spp. reported in Acre, North region of the country. The ticks that make up the local ixodofauna are: Amblyomma calcaratum, Amblyomma coelebs, Amblyomma dissimile, Amblyomma dubitatum, Amblyomma geayi, Amblyomma humerale, Amblyomma incisum, Amblyomma longirostre, Amblyomma naponense, Amblyomma nodosum, Amblyomma oblongoguttatum, Amblyomma ovale, Amblyomma pacae, Amblyomma rotundatum, Amblyomma scalpturatum, Amblyomma varium, Dermacentor nitens, Ixodes luciae, Ixodes spinosus, Rhipicephalus microplus and Rhipicephalus sanguineus sensu lato. To date, the list of rickettsia infecting ticks is the state is Rickettsia amblyommatis (in A. geayi, A. humerale and A. longirostre), Rickettsia bellii (in A. dubitatum and A. rotundatum) and Rickettsia parkeri strain NOD (in A. nodosum) and Rickettsia sp. strain Tapirapé (in A. naponense). Acre, as it integrates western Amazonia, with high biodiversity and natural forestall reserves, presents a favorable scenario for the study of tick fauna and natural reservoirs of pathogens, which can affect the health of the human population. Keywords: Tick-borne disease, Amazonia and Ticks.

1. INTRODUÇÃO

Os carrapatos pertencem ao filo Arthropoda, classe Arachnida (NAVA et al., 2017). Apresentam quatro pares de pernas, corpo dividido em gnatossoma (ou capítulo) e idiossoma, e são dotados de hipostômio (órgão de fixação presente no capítulo), quelíceras e palpos, que constituem um aparelho bucal especializado e adaptado para o parasitismo (GUIMARÃES; TUCCI; BARROS-BATTESTI, 2001). Durante o ciclo biológico, os carrapatos realizam a troca periódica do exoesqueleto quitinoso para promover o seu crescimento (muda ou ecdise), evoluem de três estágios imaturos: ovo, larva (hexápode) e ninfa (octópode); até a fase adulta (octópode) sexualmente madura, com a presença de poro genital na face ventral do idiossoma e apresentando dimorfismo sexual (GUIMARÃES; TUCCI; BARROS-BATTESTI, 2001). Esses aracnídeos permanecem a maior parte do ciclo em vida livre (LABRUNA et al., 2005a) (Figura 1), vivem

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de suas reservas energéticas no ambiente até o encontro com o hospedeiro, do qual dependem para se alimentar, realizar a ecdise e reproduzir (GUIMARÃES; TUCCI; BARROS-BATTESTI, 2001).

Figura 1. Dois carrapatos sobre folha composta, no interior de floresta de terra firme, Rio Branco-AC, Brasil.

As mais de 920 espécies de carrapatos conhecidas são agrupadas na ordem Acari e subordem Ixodida (BARROS-BATTESTI; ARZUA; BECHARA, 2006; GARCIA et al., 2019). Estão distribuídas nas famílias Ixodidae, com mais de 720 espécies, Argasidae, com um pouco mais de 200 espécies, e Nuttalliellidae, com apenas uma espécie descrita (GARCIA et al., 2019). Os ixodídeos (carrapatos duros) são caracterizados pela presença de um escudo esclerotizado, pela posição apical de seu gnatossoma e por numerosos dentículos em seu hipostômio (MANS et al., 2011). Vivem nos mais variados ambientes e, com exceção do ovo, todos os seus estágios são aptos a exercerem o parasitismo em vertebrados e, geralmente, realizam o acasalamento sobre eles, sendo que algumas espécies de ixodídeos podem se reproduzir por partenogênese (GUIMARÃES; TUCCI; BARROS-BATTESTI, 2001). Os argasídeos (carrapatos moles) têm um tegumento parecido com couro, não têm escudo esclerotizado e as peças bucais estão localizadas ventralmente na região anterior do idiossoma, durante os estágios ninfal e adulto (MANS et al., 2011). Vivem em ambientes restritos, são encontrados próximos ou nos habitats de vertebrados como em ninhos, tocas, cascas de árvores, fendas em cavernas e no solo (GUIMARÃES; TUCCI; BARROS- BATTESTI, 2001). Além disso, os argasídeos podem ser localizados, também, em ambientes

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associados ao homem e seus animais domésticos (galinheiros, pombais, cabanas rústicas) (GUIMARÃES; TUCCI; BARROS-BATTESTI, 2001). Alimentam-se várias vezes do mesmo hospedeiro ou em vários hospedeiros (da mesma espécie ou não) (FACCINI; BARROS- BATTESTI, 2006). O ciclo de desenvolvimento dos argasídeos apresenta peculiaridades quando comparado aos ixodídeos. Por exemplo, a diferença de haver mais de dois estágios ninfais (na maioria das espécies) e os adultos realizarem a cópula fora do corpo do hospedeiro (FACCINI; BARROS-BATTESTI, 2006). As famílias Ixodidae e Argasidae são amplamente distribuídas em diferentes partes do mundo, a exemplo da espécie Ixodes uriae, um carrapato duro encontrado parasitando o pinguim-rei (Aptenodytes patagonicus) na Antártida e outras aves marinhas no círculo polar Ártico (GAUTHIER-CLERC; LE BOHEC; LE MAHO, 2003; BARROS-BATTESTI, ARZUA, BECHARA, 2006). Já a família Nuttalliellidae tem como representante uma única espécie encontrada na África do Sul e Tanzânia, Nuttalliella namaqua (MANS et al., 2011). Essa espécie partilha várias características com as famílias de carrapatos duros e moles (LATIF et al., 2012). Filogeneticamente, é a mais próxima da linhagem ancestral dos carrapatos, ao ser considerado um verdadeiro fóssil vivo (MANS et al., 2011). O Brasil, por meio de estudos realizados em seus biomas, tem aumentado o conhecimento do número de espécies da fauna acarológica, com os relatos de novas ocorrências no país (LABRUNA et al., 2011; MARTINS et al., 2014; WOLF et al., 2016; MUÑOZ-LEAL et al., 2018a; MUÑOZ-LEAL et al., 2018b) e/ou com a descrição de novas espécies. Destacam-se, nesse cenário, os argasídeos Nothoaspis amazoniensis (NAVA et al., 2010), Ornithodoros cavernicolous (DANTAS-TORRES et al., 2012), Ornithodoros faccinii (BARROS-BATTESTI et al., 2015), Ornithodoros rietcorreai (LABRUNA et al., 2016), Ornithodoros saraivai (MUÑOZ-LEAL et al., 2017) e Ornithodoros cerradoensis (MUÑOZ- LEAL et al., 2020), todas novas espécies descritas nos últimos dez anos. Nesse mesmo período, três novas espécies de ixodídeos também foram descritas como Amblyomma yucumense (KRAWCZAK et al., 2015), Amblyomma romarioi (MARTINS et al., 2019) e Ixodes catarinensis (ONOFRIO et al., 2020). Nesse último, Onofrio et al. (2020) também trouxeram o primeiro relato das espécies Ixodes lasallei e Ixodes bocatorensis no país. Atualmente, a fauna de carrapatos no Brasil conta com 75 espécies, 51 (69%) ixodídeos dos gêneros Amblyomma, Dermacentor, Haemaphysalis, Ixodes e Rhipicephalus e 24 (31%) argasídeos dos gêneros Argas, Antricola, Nothoaspis e Ornithodoros (DANTAS- TORRES et al., 2019; MARTINS et al., 2019; MUÑOZ-LEAL et al., 2019; LABRUNA et al., 2020; MUÑOZ-LEAL et al., 2020; ONOFRIO et al., 2020).

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Os carrapatos são ectoparasitas obrigatórios de uma variedade de hospedeiros vertebrados (OGRZEWALSKA; PINTER, 2016; POLANCO-ECHEVERRY; RÍOS-OSORIO, 2016). Eles se alimentam de sangue e são vetores de agentes etiológicos de infecções para os animais, incluindo o homem, em diferentes partes do mundo (OGRZEWALSKA; PINTER, 2016). No Brasil, a doença de maior relevância para a saúde pública, transmitida por carrapato, é a febre maculosa brasileira (FMB), uma doença febril aguda que apresenta elevada taxa de letalidade nas formas mais graves e que acomete, principalmente, as populações nas regiões Sul e Sudeste do país (SZABÓ; PINTER; LABRUNA, 2013; OLIVEIRA et al., 2016a). Por outro lado, o Acre é um dos estados que apresentaram a menor quantidade de estudos com carrapatos no país. Diante dessa lacuna, o presente capítulo teve como objetivo demonstrar a composição das espécies de carrapatos ocorrentes no estado do Acre, seus hospedeiros silvestres e sua infecção por Rickettsia spp., ao descrever, também, perspectivas de investigações futuras para a região. Para tanto, a pesquisa foi realizada por meio de uma revisão narrativa da literatura.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A FAUNA DE CARRAPATOS NO ESTADO DO ACRE, SEUS HOSPEDEIROS SILVESTRES E SUA INFECÇÃO POR Rickettsia spp.

O estado do Acre, localizado no extremo sudoeste da Amazônia brasileira (SILVEIRA et al., 2008), tem uma extensão territorial de 164.123,964 km2, correspondendo a 1,93% do território brasileiro e a 3,27% da Amazônia Legal (IBGE, 2020a; IBGE, 2020b). Apresenta altitudes que variam de 100 a 600 m, com morros, rochas, cachoeiras e pequenas montanhas que revelam uma proximidade e similaridade com os Andes (SOUZA et al., 2003; SILVEIRA et al., 2008). Grande parte do território do Acre é composto por unidades de conservação de proteção integral (9,53%), unidades de uso sustentáveis, como as reservas extrativistas (21,75%) e terras indígenas (14,56%) (ACRE, 2017). A vegetação predominante é a floresta aberta, caracterizada por um dossel descontínuo que permite a penetração de uma alta quantidade de luz no sub-bosque, dominado por palmeiras, bambus arborescentes, liana e a bananeira brava (SILVEIRA et al.,

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2008). Outras fitofisionomias menos comuns são as de floresta densa, na região submontana da Serra do Divisor (SILVEIRA et al., 2008). Soma-se a essa os tipos de vegetação sobre a areia branca, denominadas de Campinas e Campinaranas, ambas presentes a noroeste do estado (SILVEIRA et al., 2008), na mesorregião denominada de Alto Juruá (ACRE, 2017). O Acre apresenta uma área desmatada de 20.233 km2, ou seja, 12,31% do estado (período de 1999 a 2010). Portanto, mantém grande parte de sua cobertura florestal original conservada (RODRIGUES; FERREIRA, 2013), porém tem sofrido gradativamente os efeitos da fragmentação de suas florestas (CALOURO et al., 2010). Essas características do estado aliada à sua grande variedade de vertebrados (BERNARDE et al., 2013; BORGES; CALOURO; SOUSA, 2015; GUILHERME, 2016; BERNARDE; TURCI; MACHADO, 2017) demonstram, seguramente, que o conhecimento sobre sua fauna de carrapatos é subestimado. Na literatura consultada, o Acre apresenta 21 espécies de carrapatos, o que corresponde somente a 28% da fauna de carrapatos conhecidas para o Brasil. Esses números, são inferiores aos estados vizinhos de Rondônia e Amazonas que apresentam 35 e 23 espécies, respectivamente (GIANIZELLA et al., 2018; ZIMMERMANN et al., 2018), além das 50 espécies ocorrentes no Peru (LABRUNA et al., 2010) e 36 na Bolívia (MASTROPAOLO; BELTRÁN-SAAVEDRA; GUGLIELMONE, 2014), países vizinhos ao Acre. A composição da fauna de carrapatos do Acre, até então, é constituída de ixodídeos, distribuídas nos gêneros Amblyomma (16 espécies), Dermacentor (1 espécie), Ixodes (2 espécies) e Rhipicephalus (2 espécies) (Tabela 1 e Figura 2).

Tabela 1. Espécies de carrapatos relatadas no estado do Acre.

ESPÉCIES COLETA DE DADOS HOSPEDEIROS REFERÊNCIAS Amblyomma calcaratum Coleções acarológicas e - Guimarães; Tucci; Barros-Battesti (2001) revisão de literatura. Onofrio (2007) Coleções acarológicas. -

Amblyomma coelebs Coleção IOC. Possivelmente, em Anta Rhor (1909) (publicado como Tapirus americanus) Coleção IOC. Possivelmente, em Anta Aragão (1936) (publicado como T. americanus) Revisão de literatura e - Guimarães; Tucci; Barros-Battesti (2001) coleções acarológicas. Coleta in situ. (Vegetação) Aguirre et al. (2019) Amblyomma dissimile Coleções acarológicas e - Guimarães; Tucci; Barros-Battesti (2001) revisão de literatura.

Amblyomma dubitatum Coleta in situ. Capivara (Hydrochoerus Gruhn et al. (2019) hydrochaeris)

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Amblyomma geayi Coleta in situ. Preguiça-comum Souza et al. (2016) (Bradypus variegatus) Coleta in situ. Aves silvestres Lima et al. (2018)

Amblyomma humerale Coleção IOC. Possivelmente, em jabuti Aragão (1936) da pata amarela (publicado como Testudo tabulata) Coleções acarológicas. - Onofrio (2007) Coleta in situ. Aves silvestres Lima et al. (2018) Coleta in situ. Capivara (H. Gruhn et al. (2019) hydrochaeris) Coleta in situ. Aves silvestres Souza et al. (2020)

Amblyomma incisum Coleção IOC. Possivelmente, em Anta Aragão (1936) (T. americanus)

Amblyomma longirostre Coleções acarológicas e - Guimarães; Tucci; Barros-Battesti (2001) revisão de literatura. Onofrio (2007) Coleções acarológicas. - Lima et al. (2018) Coleta in situ. Aves silvestres Souza et al. (2020) Coleta in situ. Aves silvestres Amblyomma naponense Coleção IBSP-7112 Porco-do-mato Onofrio (2007) Coleta in situ. Capivara (H. Gruhn et al. (2019) hydrochaeris) Coleta in situ. (Vegetação) Aguirre et al. (2019)

Amblyomma nodosum Coleta in situ. Aves silvestres Lima et al. (2018) Coleta in situ. Aves silvestres Souza et al. (2020)

Amblyomma Coleção IOC. - Rhor (1909) oblongoguttatum Coleção IOC. - Aragão (1936) Coleções acarológicas e - Guimarães; Tucci; Barros-Battesti (2001) revisão de literatura. Aguirre et al. (2019) Coleta in situ. (Vegetação) Amblyomma ovale Coleção IOC. - Aragão (1936) Coleção IBSP-7116. - Onofrio (2007) Coleta in situ. (Vegetação) Aguirre et al. (2019)

Amblyomma pacae Coleta in situ. Capivara (H. Gruhn et al. (2019) hydrochaeris)

Amblyomma rotundatum Coleta in situ. Sapo-cururu (Rhinella Araújo et al. (2017) marina) Coleção CNC-1667. Sapo (Rhinella sp.) Lima et al. (2018) Coleta in situ. Capivara (H. Gruhn et al. (2019) hydrochaeris) / (Vegetação)

Amblyomma scalpturatum Coleção CNC-1663 (Vegetação) Lima et al. (2018) Coleta in situ. (Vegetação) Aguirre et al. (2019)

Amblyomma varium Coleta in situ. (Vegetação) Gruhn et al. (2019)

Dermacentor nitens Coleta in situ. (Vegetação) Gruhn et al. (2019)

Ixodes luciae Coleção CNC-1665; Mucura (Didelphis Lima et al. (2018) 1666; 2870. marsupialis)

Ixodes spinosus Coleção IBSP-7299. Cutiara (Myoprocta pratti) Labruna et al. (2020)

Rhipicephalus microplus Coleção IOC. - Aragão (1936) Coleta in situ. (Vegetação) Gruhn et al. (2019)

Rhipicephalus sanguineus Coleta in situ. Cão (Canis familiaris) Fernandes et al. (2018) Siglas: IOC (Instituto Oswaldo Cruz), IBSP (Coleção Acarológica do Instituto Butantan de São Paulo) e CNC (Coleção Nacional de Carrapatos Danilo Gonçalves Saraiva da FMVZ-USP).

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* ** Amblyomma calcaratum (♂) Amblyomma coelebs (♀) Amblyomma dissimile (♂)

* *** Amblyomma dubitatum (♂) Amblyomma geayi (♂) Amblyomma humerale (♂)

**** * Amblyomma incisum (♂) Amblyomma longirostre (♂) Amblyomma naponense (♂)

* Amblyomma nodosum (♂) Amblyomma oblongoguttatum (♂) Amblyomma ovale (♂)

* Amblyomma pacae (♂) Amblyomma rotundatum (♀) Amblyomma scalpturatum (♂)

* ***** Amblyomma varium (♂) Dermacentor nitens (♂) Ixodes luciae (♂)

****** **** Ixodes spinosus (♀) Rhipicephalus microplus (♂) Rhipicephalus sanguineus (♀)

Fonte das imagens: (*) Ogrzewalska (2020); (**) Georgia Southern University (2020); (***) Souza et al. (2020); (****) Andreotti (2020); (*****) Bermúdez, Apanaskevich e Domínguez (2018); (******) Labruna et al. (2020). Figura 2. Espécies de carrapatos duros no estágio adulto, relatadas no estado do Acre, Brasil. Legenda: Macho (♂); Fêmea (♀).

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Os primeiros relatos de espécies de carrapatos para o Acre são de exemplares depositados na Coleção de Ixodidas do Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ (IOC), no Rio de Janeiro-RJ (RHOR, 1909; ARAGÃO, 1936). Não seria surpresa se a maioria dos espécimes, obtidos com procedência no então “Território do Acre”, tivessem sido coletados durante a expedição de pesquisadores do IOC, realizada há mais de cem anos, com a ilustre presença de Carlos Chagas, entre o final de 1912 e início de 1913 (SOUZA, 2014). A citada expressão “Território do Acre” faz menção ao Tratado de Petrópolis de 1903, em que o Acre passou a integrar no território brasileiro (SOUZA, 2014; ACRE, 2017). Antes da expedição dos pesquisadores do IOC no Território do Acre, Rhor (1909), no estudo minucioso da biologia dos carrapatos e da descrição de espécies de ixodidas do Brasil, já havia relatado duas espécies de carrapatos com procedência no Acre, presentes na Coleção Fiocruz (IOC): Amblyomma coelebs e Amblyomma oblongoguttatum. A primeira parece ter sido coletada de anta (publicado como Tapirus americanus) e a segunda não se sabe qual foi o hospedeiro. A descrição da localização de ambas as espécies foi “Palmeiras (Acre)” (RHOR, 1909). Aragão (1936), no seu trabalho sobre ixodidas do Brasil e alguns países limítrofes, ao examinar espécimes da mesma coleção, cita as duas espécies verificadas por Rhor (1909), e também referiu-se às espécies Amblyomma humerale, Amblyomma incisum e Amblyomma ovale (publicado como Amblyomma fossum Neumann, 1899) na mesma localidade “Palmeiras (Acre)” e à espécie Rhipicephalus microplus, coletada no “Território do Acre”. Provavelmente, “Palmeiras (Acre)” se tratava do Seringal Palmeiras, localizado na região do rio Purus, atual munícipio de Sena Madureira (Jornal Folha do Acre, 1920; Jornal O Acre, 1936), rota da expedição do IOC, liderada por Carlos Chagas (SOUZA, 2014). Dentre as espécies listadas por Aragão (1936), A. incisum, coletada de anta, talvez, tenha sido confundida com as espécies Amblyomma scalpturatum ou Amblyomma latepunctatum, segundo a revisão morfológica e molecular feita por Labruna et al. (2005b). Portanto, necessita de confirmação dessa espécie na região. Guimarães, Tucci e Barros-Battesti (2001) incluíram, na composição de espécies, os carrapatos Amblyomma calcaratum, Amblyomma dissimile e Amblyomma longirostre. Todavia, tal inserção não apresenta, infelizmente, uma descrição da localidade, estágio evolutivo e com hospedeiro indeterminado, informações essenciais para o conhecimento da biologia e ecologia das espécies de uma região (SZABÓ; PINTER; LABRUNA, 2013). Outro trabalho realizado, com base em coleções, foi o de Onofrio (2007). Nessa pesquisa, foi feita uma revisão de espécies do gênero Amblyomma no Brasil, corroborando

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a listagem feita até aqui de Amblyomma spp. e acrescentou a espécie Amblyomma naponense, encontrada na coleção acarológica do Instituto Butantan de São Paulo, cujo lote contém nove machos extraídos de porco-do-mato, sem descrição de localidade. Na literatura, o primeiro relato de carrapato in situ foi o da espécie Amblyomma geayi, encontrada parasitando uma fêmea de preguiça-comum (Bradypus variegatus), capturada na capital do estado (Rio Branco), nos estudos de Souza et al. (2016). No ano seguinte, Araújo et al. (2017) fizeram o primeiro registro de Amblyomma rotundatum parasitando um sapo-cururu (Rhinella marina) em um ambiente de floresta, no município de Senador Guiomard. Curiosamente, o carrapato Rhipicephalus sanguineus sensu lato, espécie considerada cosmopolita e comumente encontrada sobre cães e gatos, mas que pode parasitar outros mamíferos e aves (GUIMARÃES, TUCCI, BARROS-BATTESTI, 2001), ainda não havia sido descrito em estudos no Acre. Fernandes et al. (2018) confirmaram a espécie no estado em um trabalho envolvendo ectoparasitas sobre cães domiciliados e errantes em Rio Branco. Dessa forma, a única espécie de carrapato encontrada foi R. sanguineus s.l. se mostrando o ectoparasita mais prevalente no estudo. Há evidências de que essa espécie pode ser um potencial vetor na transmissão da riquétsia, que causa a FMB. Essa ocorre quando carrapatos dessa espécie parasitam cães riquetsêmicos que frequentaram o ambiente de Mata Atlântica. Tais animais carregam ectoparasitas para ambientes domiciliares e peridomiciliares (SZABÓ; PINTER; LABRUNA, 2013). Sendo assim, são relevantes estudos que envolvam R. sanguineus s.l., principalmente em ambientes de transição entre floresta e habitações humanas, com a presença de animais domésticos. Na sequência, dois estudos ganham notoriedade por apresentarem novos registros de espécies de carrapatos para o Acre in situ, como também por apresentarem resultados de infecção por bactérias do gênero Rickettsia, em algumas espécies de ixodídeos. O primeiro é o de Lima et al. (2018), que realizaram trabalho pioneiro na coleta de carrapatos parasitando aves silvestres no Acre em um fragmento de floresta, no campus da Universidade Federal do Acre. Nos resultados, os pesquisadores relataram pela primeira vez a espécie Amblyomma nodosum no estado, assim como novas relações parasito-hospedeiro entre determinadas espécies de carrapatos, com 27 espécies de aves silvestres. Descrevem, ainda, os primeiros registros das bactérias Rickettsia amblyommatis (em A. geayi e A. longirostre) e Rickettsia parkeri cepa NOD (em A. nodosum) infectando carrapatos coletados de aves silvestres. Também foram relatadas as espécies de carrapatos A. rotundatum, A.

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scalpturatum e Ixodes luciae, depositados em uma coleção ixodológica científica (“Coleção Nacional de Carrapatos Danilo Gonçalves Saraiva” da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, CNC-FMVZ-USP) e de procedência no Acre. Em relação às espécies referidas na coleção CNC-FMVZ-USP, A. rotundatum já tinha sido confirmada na região um ano antes por Araújo (2017), enquanto A. scalpturatum, por Aguirre et al. (2019) um ano depois com um carrapato coletado in situ em Rio Branco e identificado por meio de análise molecular. Neste trabalho, foram coletadas na vegetação as espécies A. coelebs, A. oblongoguttatum e A. ovale, anteriormente relatadas para o estado por meio de coleções (RHOR, 1909; ARAGÃO, 1936; ONOFRIO, 2007). O segundo estudo foi o de Gruhn et al. (2019), que realizaram a análise da infecção por riquétsias em carrapatos parasitando capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) e em vida livre em dois diferentes ambientes (área peri-urbana e rural), também na capital do estado. Por sua vez, os pesquisadores trouxeram como resultado os primeiros registros das bactérias Rickettsia bellii (em Amblyomma dubitatum e A. rotundatum), o segundo relato no Brasil de Rickettsia sp. cepa Tapirapé (em A. naponense) e, mais uma vez, a referência a R. amblyommatis (em A. humerale) no Acre, além de mais quatro novas ocorrências de carrapatos: A. dubitatum, Amblyomma pacae, Amblyomma varium e Dermacentor nitens. Outro trabalho publicado recentemente sobre carrapatos parasitando hospedeiros silvestres no Acre foi o de Souza et al. (2020), que trouxeram novas relações parasito- hospedeiro do estágio ninfal das espécies A. humerale e A. nodosum em aves silvestres. Para finalizar a descrição da composição faunística de carrapatos no estado do Acre, incluímos a espécie Ixodes spinosus, recentemente validada em um estudo realizado por Labruna et al. (2020), ao confirmar a presença dessa espécie no estado, com base na análise de exemplar de coleção, apesar da localidade não ter sido detalhada. Mesmo diante de poucos estudos sobre a fauna de carrapatos e suas relações ecológicas, nota-se um crescimento na frequência da composição de suas espécies para o Acre a cada novo trabalho publicado, ao mesmo tempo que lacunas necessitam ser preenchidas. Por exemplo, 24% das espécies (A. calcaratum, A. dissimile, A. incisum, I. luciae e I. spinosus) relacionadas pela presente revisão têm seu registro no Acre com base em coleções. Outros 38% das espécies (A. calcaratum, A. dissimile, A. oblongoguttatum, A. ovale, A. scalpturatum, A. varium, D. nitens e R. microplus) não apresentaram descrições sobre seus hospedeiros silvestres na região e 86% das espécies (ROHR, 1909; ARAGÃO, 1936; BARROS-BATTESTI, 2001; ONOFRIO, 2007; SOUZA et al., 2016; ARAÚJO et al., 2017; FERNANDES et al., 2018; LIMA et al., 2018; AGUIRRE et al., 2019; GRUHN et al.,

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2019; GUIMARÃES; TUCCI; LABRUNA et al., 2020; SOUZA et al., 2020) foram relatadas somente em quatro municípios da mesorregião do Vale do Acre (ACRE, 2017), região leste do estado com áreas menos preservadas (GUILHERME, 2016). A propósito, vale pontuar que 89% dessas ocorreram principalmente em Rio Branco, ao passo que 14% das espécies (A. calcaratum, A. dissimile e I. spinosus) apresentam localidade indeterminada (Tabela 1 e Figura 3) (GUIMARÃES; TUCCI; BARROS-BATTESTI, 2001; ONOFRIO, 2007; SOUZA et al., 2016; FERNANDES et al., 2018; LIMA et al., 2018; AGUIRRE et al., 2019; GRUHN et al., 2019; GRUHN et al., 2019; LABRUNA et al., 2020). O gênero com o maior número de espécies ocorrentes no estado é o Amblyomma, 76% (16 espécies), que correspondem a 48% das espécies desse gênero para o Brasil (33 espécies) (DANTAS-TORRES et al., 2019; MARTINS et al., 2019). O gênero Amblyomma é considerado importante do ponto de vista clínico (GARCIA et al., 2019), por agrupar espécies mantedoras de agentes patógenos como de riquétsias, por exemplo (GALVÃO et al., 2005). Nesse grupo, a espécie A. ovale relatada no Acre (AGUIRRE et al., 2019) é importante, nas regiões Sul e Sudeste, por estar associada à epidemiologia da febre maculosa, causada por Rickettsia parkeri cepa Mata Atlântica em áreas de floresta (FACCINI-MARTÍNEZ et al., 2018). O carrapato A. humerale foi a espécie mais frequente (cinco relatos) entre os 12 autores relacionados em nosso estudo, sendo encontrada parasitando jabuti (ARAGÃO, 1936), aves silvestres (LIMA et al., 2018; SOUZA et al., 2020) e capivara (GRUHN et al., 2019). Desse modo, não é uma surpresa o encontro dessa espécie na região, por ela ser endêmica na América do Sul, especialmente na Amazônia, com especificidade em jabutis no estágio adulto (LABRUNA et al., 2002) e nos estágios imaturos em uma variedade de hospedeiros (MORAIS et al., 2017), confirmando o que foi relatado no estado.

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Figura 3. Distribuição das espécies de carrapatos relatadas no Acre, Brasil

O Acre é considerado um “hotspot”, por apresentar diversidade na sua fauna e flora (SOUZA et al., 2003; RODRIGUES; FERREIRA, 2013), por elevado grau de endemismo (MORATO; AMARANTE; SILVEIRA, 2008), e ao considerar a elevada biodiversidade, sobretudo de anfíbios e répteis (BERNARDE et al., 2013; BERNARDE; TURCI; MACHADO, 2017), de aves (GUILHERME, 2016), de mamíferos (CALOURO, 1999; BORGES;

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CALOURO; SOUZA, 2015), e da sua variedade de ecossistemas e habitats (SOUZA et al., 2003), a região acreana tem elevado potencial para novas pesquisas da fauna acarológica, como o fez Rondônia, o seu estado vizinho que, nos últimos anos, descreveu duas novas espécies de argasídeos (Ornithodoros rondoniensis, N. amazonensis) (LABRUNA et al., 2008; NAVA et al., 2010) e reclassificou uma terceira espécie (Nothoaspis setosus) (MUÑOZ- LEAL, 2019), o que hoje representa 47% da fauna nacional (ZIMMERMANN et al., 2018). Enquanto isso, o estado do Acre não apresenta registro de espécies de argasídeos. Nessa perspectiva, uma constatação se impõe: todas as novas espécies encontradas em Rondônia têm como hospedeiro (MUÑOZ-LEAL et al., 2019) ou associado (LABRUNA et al., 2008; NAVA et al., 2010) a eles, os morcegos. A riqueza desses pequenos mamíferos voadores para o estado do Acre tem um valor subestimado de 15 espécies (CALOURO et al., 2010), sem registro de ectoparasitas. Por conseguinte, identificar e compreender tal contexto aponta caminho promissor para o registro de novas ocorrências de espécies de carrapatos e as relações parasito-hospedeiros na região. Inclusive, outra questão a ser elucidada é se há ou não a ocorrência dos carrapatos vetores ou potenciais vetores e hospedeiros mantedores de infecções. Tais, como o complexo de espécies Amblyomma cajennense sensu lato, de importância epidemiológica (MARTINS et al., 2016), considerando-se a situação de que estados vizinhos já possuem casos confirmados de febre maculosa e o registro do vetor competente (MARTINS et al., 2016; OLIVEIRA et al., 2016b; AGUIRRE et al., 2019;). Por isso mesmo, a região do Acre também é importante para o estudo da cadeia epidemiológica, na transmissão de patógenos no ambiente. De certo, a frequência do desmatamento e a introdução de cultivos e pastagens ao longo das principais rodovias, (RODRIGUES; FERREIRA, 2013), especialmente no leste do estado (SOUZA et al., 2003), com a alteração das paisagens naturais e a consequente perda do habitat de animais silvestres (TABARELLI; GASCON, 2005), promoverão cenário para o surgimento de doenças infecciosas emergentes. Talvez elas já estejam presentes no ambiente, mas ainda não foram detectadas (GRISOTTI, 2010) nessa região da Amazônia sul-ocidental (MORATO; AMARANTE; SILVEIRA, 2008). Até o momento, o fato de as espécies de riquétsias relatadas para o Acre, por apresentarem patogenicidade desconhecida, evidencia a importância dos estudos sobre riquétsias e sua distribuição. Afinal, nas últimas décadas, novas espécies do gênero Rickettsia de patogenicidade ainda não conhecida, foram consideradas não patogênicas (LABRUNA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2016b). Depois, se mostraram

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patogênicas para os seres humanos e outros animais (GALVÃO et al., 2005; LABRUNA et al., 2011). Portanto, a descrição de qualquer nova espécie de Rickettsia, associadas aos carrapatos, deve ser considerada como potencialmente patogênicas para humanos (PACHECO et al., 2011). Ainda sobre esse tema, dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde, registrados no período de 2000 a 2019 no país, mostraram a notificação de um caso de febre maculosa para o estado do Acre (dados atualizados em 13 de junho de 2019) (BRASIL, 2019). Mesmo sabendo que o caso será descartado (comunicação pessoal), isso não exclui o fato da importância e atenção a uma doença que, nas áreas endêmicas, ocorre com baixa incidência e clínica inespecífica (OLIVEIRA et al., 2016b), de forma a ser confundida por diagnósticos diferenciados de doenças regionais, como dengue, malária e leptospirose (AGUIRRE et al., 2018), assim como de Zika e Chikungunya (OLIVEIRA et al., 2016b). Desta maneira, talvez, o estado do Acre possa apresentar casos subnotificados se configurando em uma área silenciosa para a febre maculosa (OLIVEIRA et al., 2016b). O que vem fortalecer, ainda mais, a importância dos estudos ecológicos da fauna de vetores e de mantedores de riquétsias patogênicas, além de outros agentes patógenos (OLIVEIRA et al., 2016b).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se que a composição da fauna de carrapatos no estado do Acre é de A. calcaratum, A. coelebs, A. dissimile, A. dubitatum, A. geayi, A. humerale, A. incisum, A. longirostre, A. naponense, A. nodosum, A. oblongoguttatum, A. ovale, A. pacae, A. rotundatum, A. scalpturatum, A. varium, D. nitens, I. luciae, I. spinosus, R. microplus e R. sanguineus senso lato. Os vertebrados silvestres parasitados por carrapatos no estado foram de mamíferos: anta (em A. coelebs e A. incisum), capivara (em A. dubitatum, A. humerale, A. naponense, A. pacae e A. rotundatum), preguiça-comum (em A. geayi), porco-do-mato (em A. naponense), mucura (em I. luciae) e cutiara (em I. spinosus); as aves (em A. humerale, A. longirostre e A. nodosum); de répteis: jabuti (em A. humerale) e de anfíbios: sapo cururu (em A. rotundatum). E, por fim, as espécies de carrapatos A. geayi, A. humerale e A. longirostre foram encontradas infectadas por R. amblyommatis; A. dubitatum e A.

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rotundatum por R. belli; A. nodosum por Rickettsia parkeri cepa NOD e A. naponense por Rickettsia sp. cepa Tapirapé. Mesmo passados mais de 80 anos, os estudos sobre a biologia e a sistemática desses ectoparasitas transmissores de “moléstias”, principalmente no contexto da Amazônia, são necessários para o conhecimento eco-epidemiológico na transmissão de infecções para o homem e os animais. Para esse fim, a região do estado do Acre apresenta um cenário favorável para as pesquisas sobre a ixodofauna, por integrar a Amazônia ocidental brasileira com parte de seu território sob proteção em unidades de conservação, mantendo áreas com um reduzido impacto sob ações antrópicas em comparação a outras localidades brasileiras; por apresentar uma grande variedade na fauna de vertebrados, potencias hospedeiros naturais para uma diversidade de espécies de carrapatos; por estar sofrendo a conversão das suas florestas em áreas degradadas, transformando ambientes para novas relações parasita- hospedeiro; e pela sua composição na riqueza de espécies, tanto de carrapatos quanto de microrganismos patogênicos ser subestimada.

4. AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional de Epidemiologia na Amazônia Ocidental/CNPq, pela bolsa concedida. Aos pesquisadores Sebastián Muñoz-Leal, Flávio Aparecido Terassini e André de Abreu Rangel Aguirre, por compartilharem suas experiências na pesquisa de carrapatos na Amazônia, principalmente, sobre a utilização de técnicas de coleta de ixodidas e ao historiador Sérgio Roberto Gomes de Souza, por fornecer informações que elucidaram a localização do Seringal Palmeiras em Sena Madureira.

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UMA REVISÃO DA DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES DE CULICÍDEOS (DIPTERA: CULICIDAE) REGISTRADAS NO ESTADO DO ACRE, BRASIL

Andreia Fernandes Brilhante1, Marcia Bicudo de Paula2, Sandra Sayuri Nagaki2, Marcia Moreira de Ávila3, Ricardo da Costa Rocha1 e Janis Lunier de Souza4

1. Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências da Saúde e do Desporto, Rio Branco, Acre, Brasil; 2. Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Epidemiologia, São Paulo, Brasil; 3. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre, Rio Branco, Acre, Brasil; 4. Prefeitura Municipal de Rio Branco, Coordenação de Entomologia, Rio Branco, Acre, Brasil;

RESUMO Dentro do Reino Animalia os artrópodes compõem a maior diversidade de espécies descritas na literatura, destacando-se aqui os insetos da família Culicidae que podem ser responsáveis na veiculação de patógenos prejudiciais à saúde humana e de outros animais. Neste capítulo abordaremos sobre os mosquitos dessa família que já foram registrados no estado do Acre, por meio de dados disponíveis na literatura e informações do Serviço de Vigilância e Entomologia do Estado do Acre. Diante deste levantamento, constatou-se o registro de 125 espécies, pertencentes às subfamílias Anophelinae e Culicinae, distribuídas em 22 gêneros: Aedeomyia, Aedes, Anopheles, Chagasia, Coquillettidia, Culex, Haemagogus, Johnbelkinia, Kerteszia, Limatus, Lophopodomyia, Lutzia, Mansonia, Nyssorhynchus, Orthopodomyia, Psorophora, Runchomyia, Sabethes, Stethomyia, Trichoprosopon, Uranotaenia e Wyeomyia. Verificou-se que a fauna de culicídeos no Acre é diversa, com registros de vetores de agentes etiológicos de doenças de importância em saúde pública global, refletindo a necessidade de mais estudos entomológicos em regiões ainda não pesquisadas, uma vez que o bioma Amazônia possui alta diversidade de espécies. Palavras-chave: Mosquitos, Culicidae, Acre e Amazônia.

ABSTRACT Within the Animal Kingdom, arthropods make up the greatest diversity of species described in the literature, highlighting here the insects of the Culicidae family that may be responsible for the transmission of pathogens harmful to human health and other animals. In this chapter we will discuss the mosquitoes of this family that have already been registered in the state of Acre, using data available in the literature and information from the Surveillance and Entomology Service of the State of Acre. In view of this survey, 125 species were registered, belonging to the subfamilies Anophelinae and Culicinae, distributed in 22 genera: Aedeomyia, Aedes, Anopheles, Chagasia, Coquillettidia, Culex, Haemagogus, Johnbelkinia, Kerteszia,

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Limatus, Lophopodomyia, Lutzia, Mansonia, Nyssorhynchus, Orthopodomyia, Psorophora, Runchomyia, Sabethes, Stethomyia, Trichoprosopon, Uranotaenia and Wyeomyia. It was found that the fauna of culicids in Acre is diverse, with records of vectors of etiologic agents of diseases of importance in global public health, reflecting the need for more entomological studies in regions not yet researched, since the Amazon biome has high species diversity. Keywords: Mosquitoes, Culicidae, Acre and Amazonia.

1. INTRODUÇÃO

Os artrópodes compõem a maior diversidade de espécies do reino animal no mundo, com milhares de táxons descritos na literatura. São organismos importantes no equilíbrio ambiental e ecológico, porque desempenham diferentes papéis na natureza, de polinizadores, dispersadores e disseminadores de sementes, decompositores de matéria orgânica e fontes alimentares a outros insetos e animais vertebrados (CIVIDANES et al., 2009; PRESTES; CUNHA, 2012; KLATT et al., 2014). Assim, os insetos atuam em diversos contextos da sociedade, desde sua aplicação no setor agrícola, podendo influenciar beneficamente ou negativamente, e na área da saúde pública, veiculando patógenos causadores de doenças para seres humanos e animais, como os vetores da família Culicidae Meigen, 1818 (CONSÔLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; FORATTINI, 2002), destaque deste capítulo. São dípteros conhecidos como mosquitos, com algumas outras denominações populares (pernilongo, sovela, muriçoca, mosquito prego) de acordo com a localização geográfica e da espécie. No Estado do Acre são conhecidos como “carapanãs”. Estes insetos são holometábolos, passando por estágios evolutivos de ovo, quatro estádios larvais, pupa e adultos (macho e fêmea), sendo que de ovo a pupa ocorrem em meio aquático e os adultos no terrestre (CONSÔLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; FORATTINI, 2002). O tempo de evolução desses artrópodes é variado, de acordo com o gênero e espécie. Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762), por exemplo, de ovo até o inseto alado, pode levar de sete a dez dias, dependendo das condições ambientais e climáticas (CONSÔLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; FORATTINI, 2002). Os culicídeos adultos se alimentam da seiva de plantas, porém as fêmeas necessitam do sangue como fonte alimentar, para a maturação de seus ovos, exceto os do gênero Toxorhynchites Theobald, 1901 que se alimentam apenas da seiva de plantas, porque não

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são hematófagos como os demais da família Culicidae (CONSÔLI; LOURENÇO-DE- OLIVEIRA, 1994; FORATTINI, 2002). Os mosquitos da família Culicidae pertencem à ordem Diptera, classe Insecta, ocorrem principalmente nas zonas tropicais do planeta e representam 3.579 espécies (HARBACH, 2020). Culicidae está dividida em duas subfamílias, Anophelinae e Culicinae. A subfamília Anophelinae apresenta 494 espécies, dividida em sete gêneros (Anopheles, Bironella, Chagasia, Kerteszia, Lophopodomyia, Nyssorhynchus e Stethomyia) de acordo com a nova classificação atualizada por meio de estudos filogenéticos (FOSTER et al., 2017). Antes sua classificação compreendia apenas três gêneros (Anopheles, Bironella e Chagasia). Já a subfamília Culicinae, apresenta maior diversidade com 3.085 espécies e 38 gêneros. Estudos indicam que os mosquitos possam ter surgido no período Jurássico, no entanto, uma das evidências mais antigas é de um fóssil do período Cretáceo, encontrado em Myanmar e recentemente descrita, Priscoculex burmanicus Poinar, Zavortink and Brown, 2019, sendo as características estudadas neste novo gênero Priscoculex, baseada em uma linhagem inicial de Anophelinae Grassi, 1900 que existiu há cerca de 100-110 milhões de anos atrás (POINAR et al., 2019). Na região, outros fósseis desses insetos também foram encontrados, como a espécie Burmaculex antiquus Borkent & Grimaldi, 2004, preservada em âmbar de 99 milhões de anos atrás (BORKENT; GRIMALDI, 2004; 2016). Neste capítulo listaremos as espécies de culicídeos que ocorrem no Estado do Acre e sua distribuição por municípios, baseada em artigos científicos de pesquisas e informações obtidas pelo Serviço de Vigilância e Entomologia (SVE) do Estado do Acre.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DA FAMÍLIA CULICIDAE NO ACRE

No Brasil segundo o Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil, são registrados 530 espécies de culicídeos, pertencentes à 23 gêneros (HUTCHINGS; SALLUM, 2020). No estado do Acre, até o presente momento há o registro de 125 espécies, pertencentes às subfamílias Anophelinae e Culicinae, distribuídas em 22 gêneros: Anopheles (9), Chagasia (1), Kerteszia (1), Lophopodomyia (2), Nyssorhynchus (15), Stethomyia (2), Aedeomyia (1),

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Aedes (7), Coquillettidia (9), Culex (33), Haemagogus (4), Johnbelkinia (1), Limatus (1), Lutzia (1), Mansonia (4), Orthopodomyia (1), Psorophora (9), Runchomyia (1), Sabethes (9), Trichoprosopon (2), Uranotaenia (7) e Wyeomyia (5) (Tabela 1). A maior diversidade de espécies encontra-se na subfamília Culicinae com 95 espécies distribuídas entre sete tribos e 16 gêneros, onde o gênero Culex lidera com 33 espécies. A subfamília Anophelinae possui 30 espécies registradas, e o gênero Nyssorhynchus destaca-se com 15 espécies, enquanto Chagasia e Kerteszia com apenas uma cada. Os subgêneros Kertezia, Lophodomyia, Nyssorhynchus e Stethomyia do gênero Anopheles foram elevados a gênero, segundo classificação proposta por Foster et al. (2017), e foram apresentados com esta nova nomenclatura neste capítulo. Alguns exemplares foram identificados até gênero, subgênero e/ou grupo, e por se tratar de um levantamento da composição de mosquitos da família Culicidae no Acre, consideramos os registros conforme foram descritos nas pesquisas dos autores citados.

Tabela 1. Lista de culicídeos (Diptera: Culicidae) registrados no Estado do Acre, segundo táxon e localidade.

Táxon Localidade/autores

Subfamília Anophelinae

Anopheles (Anopheles) eiseni Coquillett, 1902 Brasiléia1; Tauaracá1

Anopheles (Ano.) fluminensis Root, 1927 Rio Branco1; +++1

Anopheles (Ano.) intermedius (Peryassu, 1908) +++1

Cruzeiro do Sul4; Mâncio Lima 5; Anopheles (Ano.) mattogrossensis Lutz & Neiva, 1911 Rio Branco1; Tarauacá1; Xapuri8

Brasiléia1; Rio Branco1; Senador Guiomard2; Sena Madureira1; Anopheles (Ano.) mediopunctatus (Lutz, 1903) Plácido de Castro2; Xapuri1,8; +++1

Anopheles (Ano.) minor Da Costa Lima, 1929 Xapuri8

Anopheles (Ano.) neomaculipalpus Curry, 1931 Brasiléia1

Brasiléia1; Cruzeiro do Sul1, 4; Rio Anopheles (Ano.) peryassui Dyar & Knab, 1908 Branco1; Senador Giomard2; Plácido de Castro2; Xapuri1; +++1

Anopheles (Ano.) punctimacula Dyar & Knab, 1906 Rio Branco 1; +++1

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Kerteszia cruzii (Dyar & Knab, 1908) +++1

Lophodomyia squamifemur (Antunes, 1937) Xapuri 3

Lophodomyia gilesi (Peryassú, 1908) Mâncio Lima 5

Acrelândia6; Brasiléia1; Bujari17; Cruzeiro do Sul4, 17; Feijó17; Mâncio Lima5, 7; Plácido de Nyssorhynchus (Nyssorhynchus) albitarsis (Lynch-Arribálzaga, 1878) Castro17; Rio Branco1; Rodrigues Alves17; Sena Madureira1, 17; Senador Guiomard17; Tarauacá1; Xapuri1, 8; +++ 1

Nyssorhynchus (Nys.) argyritarsis (Robineau-Desvoidy, 1827) Acrelândia6; Mâncio Lima7; +++1

Acrelândia6; Brasiléia1; Cruzeiro Nyssorhynchus (Nys.) braziliensis (Chagas, 1907) do Sul4; Mâncio Lima7; +++1

Acrelândia11; Cruzeiro do Sul17; Mâncio Lima17; Rio Branco1; Nyssorhynchus (Nys.) benarrochi (Gabaldon, Cova-Garcia & Lopez, 1941) Rodrigues Alves17; Tarauacá1; Xapuri1; +++1

Acrelândia6, 12, 16, 17; Brasiléia1; Capixaba17; Cruzeiro do Sul1, 4, 17; Mâncio Lima5, 7, 17; Plácido de Nyssorhynchus (Nys.) darlingi (Root, 1926) Castro2, 13; Sena Madureira10; Senador Guiomard2, 17; Rio Branco1,17; Rodrigues Alves17; Xapuri1, 8; +++1

Acrelândia6; Cruzeiro do Sul17; Plácido de Castro2, 9; Mâncio Nyssorhynchus (Nys.) deaneorum (Rosa-Freitas, 1989) Lima5, 7; Rio Branco2; Senador Guiomard2, 9

Brasiléia1; Cruzeiro do Sul1; Mâncio Lima7; Rio Branco1; Nyssorhynchus (Nys.) galvaoi (Causey, Deane & Deane, 1943) Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Xapuri1; +++1

Acrelândia11; Sena Madureira10, Nyssorhynchus (Nys.) konderi (Galvão & Damasceno, 1942) 14, 15

Nyssorhynchus (Nys.) lanei (Galvão & Franco do Amaral, 1938) Mâncio Lima5

Brasiléia1; Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Rio Branco1; Sena Nyssorhynchus (Nys.) nuneztovari (Galbadon, 1940) Madureira1; Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Xapuri1; +++1

Acrelândia11; Brasiléia1; Cruzeiro do Sul1, 4; Mâncio Lima5; Rio Branco1; Rodrigues Alves17; Nyssorhynchus (Nys.) oswaldoi (Peryassú, 1922) Senador Guiomard2, 9; Sena Madureira1, 10, 14, 15; Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri1, 8

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 95

Acrelândia6; Brasiléia1; Cruzeiro do Sul1, 4; Mâncio Lima17; Rio Branco1; Rodrigues Alves17; Sena Nyssorhynchus (Nys.) rangeli (Gabaldon, Cova-Garcia & Lopez, 1940) Madureira1; Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri1, 8; +++1

Nyssorhynchus (Nys.) rondoni (Neiva & Pinto, 1922) Mâncio Lima7; Tarauacá1; Xapuri1

Cruzeiro do Sul4; Rio Branco1, 2; Nyssorhynchus (Nys.) strodei (Root, 1926) Senador Guiomard2; Plácido de Castro2

Acrelândia6; Brasiléia1; Bujari17; Capixaba17; Cruzeiro do Sul1, 4; Mâncio Lima5, 7; Rio Branco1, 2; Nyssorhynchus (Nys.) triannulatus (Neiva & Pinto, 1922) Rodrigues Alves17; Sena Madureira1; Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri1, 3, 8

Stethomyia kompi (Edwards, 1930) Brasiléia 1

Stethomyia nimbus Theobald, 1902 +++1

Chagasia bonneae Root, 1927 Brasiléia1; +++1

Subfamília Culicinae Meigen, 1818

Tribo Aedeomyiini Theobald, 1901

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Aedeomyia (Aedeomyia) squamipennis (Lynch Arribálzaga, 1878) Plácido de Castro2; Xapuri3

Tribo Aedini Neveu-Lemaire, 1902

Aedes (Howardina) fulvithorax (Lutz, 1904) Xapuri 3

Aedes (Sallumia) hortator (Dyar & Knab, 1907) Xapuri 3

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Sena Aedes (Ochlerotatus) fulvus (Wiedemann, 1828) Madureira1; Tarauacá1; Xapuri1, 3

Aedes (Och.) nubilus (Theobald, 1903) Xapuri 3

Feijó1; Senador Guiomard2; Rio Aedes (Och.) scapularis (Rondani, 1848) Branco2; Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri3

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Rio Branco1, 2; Sena Madureira1; Aedes (Och.) serratus (Theobald, 1901) Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri1, 3

Cruzeiro do Sul1; Rio Branco17; Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) Sena Madureira1; Tarauacá1; ***17

Haemagogus (Conopostegus) leucocelaenus (Dyar & Shannon, 1924) Feijó1; Rio Branco1; Tarauacá1

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 96

Haemagogus (Con.) leucophoebus (Galindo, Carpenter & Trapido, 1953) Feijó1; Tarauacá1

Feijó1; Rio Branco1; Tarauacá1; Haemagogus (Haemagogus) janthinomys Dyar, 1921 Xapuri1

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Haemagogus (Hae.) spegazzini Brèthes, 1912 Tarauacá1; Xapuri1

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Psorophora (Psorophora) ciliata (Fabricius, 1794) Plácido de Castro2

Psorophora (Pso.) lineata (von Humboldt, 1819) Feijó1; Tarauacá1; Xapuri1

Psorophora (Pso.) saeva Dyar & Knab, 1906 Feijó1; Tarauacá1; Xapuri1

Cruzeiro do Sul1; Rio Branco2; Sena Madureira1; Senador Psorophora (Grabhamia) cingulata (Fabricius, 1805) Guiomard2; Plácido de Castro2; Xapuri3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Psorophora (Gra.) próximo confinnis (Lynch Arribálzaga, 1891) Plácido de Castro2

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Rio Branco2; Senador Guiomard2; Psorophora (Janthinosoma) próximo albigenu (Lutz, 1908) Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri3

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Rio Branco2; Senador Madureira1; Psorophora (Jan.) albipes (Theobald, 1907) Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri1

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Sena Psorophora (Jan.) ferox (von Humboldt, 1819) Madureira1; Tarauacá1; Xapuri1

Cruzeiro do Sul1; Tarauacá1; Psorophora (Jan.) lutzii (Theobald, 1901) Xapuri1

Tribo Culicini Meigen, 1818

Culex (Carrollia) sp. Xapuri 3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Culex) bidens Dyar, 1922 Plácido de Castro2

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Cux.) próximo declarator Dyar & Knab, 1906 Plácido de Castro2; Xapuri3

Culex (Cux.) mollis Dyar & Knab, 1906 Rio Branco 1

Culex (Cux.) nigripalpus Theobald, 1901 Xapuri 3

Rio Branco2, 17; Senador Culex (Cux.) quinquefasciatus Say, 1823 Guiomard2; Plácido de Castro2; Xapuri3; ***17

Culex (Cux.) usquatissimus Dyar, 1922 Acrelândia19

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 97

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Cux.) próximo usquatus Dyar, 1918 Plácido de Castro2

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Cux.) sp. Grupo Coronator Plácido de Castro2; Xapuri3

Culex (Melanoconion) adamesi Sirivanakarn & Galindo, 1980 Xapuri 3

Culex (Mel.) aureonotatus Duret & Barreto, 1956 Xapuri 3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) bastagarius Dyar & Knab, 1906 Plácido de Castro2

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) bequaerti Dyar & Shannon, 1925 Plácido de Castro2

Culex (Mel.) columnaris Sá & Hutchings, 2020 Senador Guiomard18

Rio Branco1, 2; Senador Culex (Mel.) dunni Dyar, 1918 Guiomard2; Plácido de Castro2

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) próximo educator Dyar & Knab, 1906 Plácido de Castro2

Culex (Mel.) eknomios Forattini & Sallum, 1992 Xapuri 3

Culex (Mel.) gnomatos Sallum, Hutchings, Leila & Ferreira, 1997 Xapuri 3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) inadmirabilis Dyar, 1928 Plácido de Castro2

Culex (Mel.) longistylus Sá & Sallum, 2020 Senador Guiomard18

Culex (Mel.) olimpioi Xavier, da Silva & da Silva Mattos, 1970 Rio Branco 1

Culex (Mel.) pedroi Sirivanakarn & Belkin, 1980 Xapuri 3

Culex (Mel.) spissipes (Theobald, 1903) Xapuri 3

Culex (Mel.) taeniopus Dyar & Knab, 1907 Cruzeiro do Sul 1

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) theobaldi (Lutz, 1904) Plácido de Castro2; Xapuri3

Culex (Mel.) vaxus Dyar, 1920 Xapuri 3

Culex (Mel.) zeteki Dyar, 1918 Xapuri 3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) sp. Grupo Atratus Plácido de Castro2; Xapuri3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) sp. Grupo Inhibitator Plácido de Castro2

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) sp. Grupo Intrincatus Plácido de Castro2

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 98

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Culex (Mel.) sp. Grupo Pilosus Plácido de Castro2

Culex (Mel.) sp. Seção Spissipes Xapuri 3

Culex (Mel.) sp. Seção Melanoconion Xapuri 3

Rio Branco1; Sena Madureira1; Lutzia (Lutzia) bigoti (Bellardi, 1862) +++1

Tribo Mansoniini Belkin, 1962

Cruzeiro do Sul1; Rio Branco2; Coquillettidia (Rhynchotaenia) albicosta (Peryassú, 1908) Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Xapuri3

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Coquillettidia (Rhy.) arribalzagae (Theobald, 1903) Tarauacá1

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Coquillettidia (Rhy.) chrysonotum (Peryassú, 1922) Plácido de Castro2; Tarauacá1

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Coquillettidia (Rhy.) fasciolata (Lynch Arribálzaga, 1891) Tarauacá1

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Coquillettidia (Rhy.) hermanoi (Lane & Coutinho, 1940) Plácido de Castro2

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Coquillettidia (Rhy.) juxtamansonia (Chagas, 1907) Plácido de Castro2; Xapuri3

Coquillettidia (Rhy.) lynchi (Shannon, 1931) Cruzeiro do Sul 1

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Coquillettidia (Rhy.) nigricans (Coquillett, 1904) Plácido de Castro2

Feijó1; Rio Branco2; Senador Coquillettidia (Rhy.) venezuelensis (Theobald, 1912) Guiomard2; Plácido de Castro2; Tarauacá1; Xapuri3

Rio Branco1, 2; Senador Mansonia (Mansonia) amazonensis (Theobald, 1901) Guiomard2; Plácido de Castro2

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Rio Mansonia (Man.) humeralis Dyar & Knab, 1916 Branco2; Senador Guiomard2; Plácido de Castro2; Tarauacá1

Cruzeiro do Sul1; Feijó1; Mansonia (Man.) indubitans Dyar & Shannon, 1925 Tarauacá1; Xapuri1

Mansonia (Man.) titillans (Walker, 1848) Feijó1; Tarauacá1; Xapuri3

Tribo Orthopodomyiini Belkin, Heinemann & Page, 1970

Orthopodomyia sp. Theobald, 1904 Xapuri 3

Tribo Sabethini Blanchard, 1905

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 99

Johnbelkinia longipes (Fabricius, 1805) Feijó 1

Limatus durhamii Theobald, 1901 Sena Madureira1; Xapuri1

Runchomyia (Runchomyia) cerqueirai (Stone, 1944) Feijó 1

Sabethes (Peytonulus) soperi Lane & Cerqueira, 1942 Xapuri1; +++1

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Sabethes (Pey.) undosus (Coquillett, 1906) Plácido de Castro2; Xapuri3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Sabethes (Pey.) próximo whitmani Lane & Cerqueira, 1942 Plácido de Castro2

Sabethes (Sabethes) albiprivus Theobald, 1903 Tarauacá 1

Sabethes (Sab.) belisarioi Neiva, 1908 Feijó1; Tarauacá1

Sabethes (Sab.) cyaneaus (Fabricius, 1805) Cruzeiro do Sul 1

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Sabethes (Sabethinus) intermedius (Lutz, 1904) Plácido de Castro2

Sabethes (Sabethoides) chloropterus (von Humboldt, 1819) Feijó1; Tarauacá1

Sabethes (Sbo.) glaucodaemon (Dyar & Shannon, 1925) Feijó1; Rio Branco1

Trichoprosopon digitatum/digitatum (Rondani, 1848) Xapuri 1,3

Trichoprosopon pallidiventer (Lutz, 1905) Xapuri 1

Wyeomyia (Dendromyia) ypsipola Dyar, 1922 Cruzeiro do Sul 1

Wyeomyia (Triamyia) aporonoma Dyar & Knab, 1906 Feijó 1

Wyeomyia flui (Bonne-Wepster & Bonne, 1920) Cruzeiro do Sul1; Xapuri1

Wyeomyia melanocephala Dyar & Knab, 1906 Cruzeiro do Sul 1

Wyeomyia shannoni Lane & Cerqueira, 1942 Xapuri 1

Tribo Uranotaeniini Lahille, 1904

Uranotaenia (Uranotaenia) apicalis Theobald, 1903 Xapuri 3

Uranotaenia (Ura.) calosomata Dyar & Knab, 1907 Xapuri 3

Uranotaenia (Ura.) davisi Lane 1943 Xapuri 3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Uranotaenia (Ura.) geometrica Theobald, 1901 Plácido de Castro2

Uranotaenia (Ura.) mathesoni Lane, 1943 Xapuri 3

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Uranotaenia (Ura.) nataliae Lynch Arribálzaga, 1891 Plácido de Castro2

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 100

Rio Branco2; Senador Guiomard2; Uranotaenia (Ura.) pulcherrima Lynch Arribálzaga, 1891 Plácido de Castro2

+++ sem identificação da localização no Acre; ***ampla distribuição em todo o Acre; Autores: Xavier et al. 1989 1, Natal et al. 1992 2, Brilhante et al. 2018 3, Martins et al. 2018 4, Reis et al. 2018 5, Moutinho et al. 2011 6, Reis et al. 2015 7, Zimmerman et al. 1999 8, Branquinho et al. 1993 9, Marrelli et al. 1999 10, Sallum et al. 2008 11, Campos et al. 2019 12, Malafronte et al. 1999 13, Scarpassa, 2005 14, Scarpassa e Conn, 2006 15, Sallum et al. 201916; SVE (Serviço de Vigilância de Entomologia), 2020 17; Sá et al. 2020 18; Demari-Silva et al. 2015 19.

2.2 UMA BREVE DESCRIÇÃO DA IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE CULICIDAE NO ACRE

No estado do Acre, assim como no Brasil e no mundo, os gêneros, Aedes, Culex e Nyssorhynchus tem destacada importância epidemiológica, porque podem transmitir patógenos causadores de doenças tais como arbovírus, nematoides e protozoários. Outros gêneros como Coquillettidia, Haemagogus, Mansonia, Psorophora e Sabethes também estão relacionados à transmissão de agentes etiológicos de diversas doenças como encefalites, febre amarela silvestre, entre outras arboviroses. Nesta seção abordaremos as espécies mais abundantes encontradas nos levantamentos entomológicos, e as de maior importância médica de acordo com os registros do Serviço de Vigilância e Entomologia do Estado do Acre. No estado, o mosquito Ae. aegypti é bem distribuído nas áreas urbanas, sendo o vetor responsável pela transmissão do vírus Dengue em todo o Acre, como também outros arbovírus, como Zika, Chikungunya, (BRASIL, 2020). A infestação do Ae. aegypti e a transmissão da Dengue é registrada a partir de 1999, tornando-se endêmica e mais incidente na capital Rio Branco desde então, claramente relacionada com os períodos chuvosos na região, entre os meses de novembro e março. De acordo com o último boletim epidemiológico sobre arboviroses no Brasil transmitidas pelo Ae. aegypti (notificações ocorridas entre 29/12/2019 a 22/08/2020), no Acre, o Dengue teve altas taxas de incidências registradas, acima de 500 casos/100 mil habitantes, principalmente em Assis Brasil, Cruzeiro do Sul, Brasiléia, Epitaciolândia, Mâncio Lima, Marechal Taumaturgo, Rodrigues Alves, Tarauacá, e Xapuri. Neste período os sorotipos que circularam foram DEN1 e 2 BRASIL, 2020). Com relação a Chikungunya e Zika vírus, neste mesmo boletim, as incidências foram menores, com taxas de 4,0 e 1,4 por 100mil habitantes, respectivamente (BRASIL, 2020).

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 101

Diferente dos anos de 2018 e 2019 onde o boletim epidemiológico aponta incidências maiores para estas arboviroses em comparação com 2020, sendo para Chikungunya de 12,9 e 7,2, e para Zika 2,4 e 7,9, para cada ano respectivamente (BRASIL, 2019). A Febre Amarela urbana que também tem como vetor o Ae. aegypti, foi erradicada do Acre desde a década de 40, tendo os últimos casos, ocorridos em Sena Madureira. No entanto, a febre amarela silvestre é endêmica em todo o estado e tem como vetores insetos do gênero Haemagogus e Sabethes que ocorrem em áreas florestais (BRASIL, 2004). De acordo com informações disponíveis no DATASUS, entre os anos de 1994 a 2019, 317.075 pessoas foram imunizadas contra o vírus da Febre Amarela (Tabnet DATASUS, 2020), e de acordo com informações da Divisão de Imunização e Rede de Frios da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) até outubro de 2018 a cobertura vacinal estava em um percentual de 61,68%. Os insetos do gênero Culex são vetores de agentes etiológicos da filariose linfática e de várias arboviroses (BRASIL, 2009; TORRES-GUTIERREZ; SALLUM, 2015). No Brasil, os casos de filariose linfática estão concentrados em alguns focos no Nordeste e na Amazônia, e a maioria dos casos globais se concentram no Sudeste Asiático e na África (LUSTIGMAN et al., 2012). No Acre, Culex quinquefasciatus é uma espécie amplamente distribuída em áreas urbanas e rurais do estado, porém, ainda não há registros de casos autóctones de filariose linfática, mas há ocorrência de imigrantes haitianos provenientes de áreas endêmicas que passaram pelo estado e se dispersaram para vários estados brasileiros (NUNES et al., 2016). Dentro do gênero Culex, o subgênero Melanoconion, possui uma diversidade de espécies expressiva no Acre, e merece atenção pelo fato destes insetos serem vetores dos agentes do vírus da febre do Nilo Ocidental, da Encefalite Equina Venezuelana, da Encefalite Equina Oriental, entre outros arbovírus (TURELL et al., 2005; TORRES-GUTIERREZ; SALLUM, 2015). Os insetos da subfamília Anophelinae possuem maior importância na transmissão de parasitos do gênero Plasmodium, sendo a malária uma doença endêmica na região amazônica, no entanto, a concentração dos casos globais ocorre no continente Africano (CDC, 2020). No Acre, os casos de malária se concentram na mesorregião do Vale do Juruá, sendo entre os anos de 2014 a 2016, notificados uma média de 10 mil casos em cada ano (BRASIL, 2019). Entretanto, apesar de predominar a incidência nas áreas rurais, surtos urbanos já vem ocorrendo na capital, Rio Branco, e outras cidades menores do Estado desde 2003 (SANTOS; UCHÔA, 2011).

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 102

Nos municípios de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, em particular, a malária é mais prevalente, sendo uma das doenças de maior importância em saúde pública, com expressivo aumento na notificação de casos devido a implementação da piscicultura na região, colaborando na amplificação de criadouros e consequentemente na densidade de população de vetores, sendo as espécies Ny. darlingi e Ny. oswaldoi consideradas vetoras primária e secundária, respectivamente (REIS et al., 2015; MARTINS et al., 2018). Em levantamentos entomológicos realizados nos municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Acrelândia, Ny. darlingi foi a espécie mais frequente do gênero, coletada em áreas peri e intradomiciliares, e próxima aos viveiros de peixes (MOUTINHO et al., 2011; REIS et al., 2018; MARTINS et al., 2018).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o levantamento dos estudos realizados no Acre, verifica-se que a fauna de culicídeos é diversa, registrando 125 espécies até o momento, e com a presença de vetores de agentes etiológicos de doenças de importância em saúde pública mundial. Este estudo também reflete à necessidade de se ampliar as pesquisas de fauna entomológica na região, abrangendo outras localidades em que não se tem nenhuma informação sobre as espécies que ocorrem. Esta necessidade também é ressaltada por se tratar de uma região do bioma Amazônia, conhecido por sua biodiversidade, somado ainda ao fato do Acre ser um estado fronteiriço com a Bolívia e Peru, que possuem paisagens amazônica e andina, e que algumas espécies destes locais podem ocorrer no Acre, dada esta proximidade. Assim, pesquisas sobre insetos mostram-se cada vez mais necessárias, haja vista a capacidade que várias espécies têm de se tornarem vetores de agentes etiológicos de doenças em que antes não eram incriminados, somando-se com isso, ainda, os problemas sociais, climáticos, ambientais e econômicos em diversas regiões brasileiras, principalmente aquelas mais pobres da região amazônica, como o estado do Acre.

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 103

5. REFERÊNCIAS

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FAUNA EDÁFICA COMO INDICADOR DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS IMPACTADAS PELA ATIVIDADE MINERÁRIA NA FLORESTA NACIONAL DO JAMARI, AMAZÔNIA BRASILEIRA

Maria Aurea Pinheiro de Almeida Silveira1, Sian de Souza Gadelha1, Débora Cristina Castro de Sousa2, Camila Moura Lemke3, Carolina Machado Brum4, Paula Raiele Reis da Silva1, Sani Maira de Farias1, Matheus de Araújo Paz1, Letícia Nery Rodrigues dos Santos1 e Fábio Medeiros da Costa5

1. Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Departamento de Biologia, Laboratório de Biologia e Diversidade de Insetos, Porto Velho, Rondônia, Brasil; 2. Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Porto Velho, Rondônia, Brasil; 3. Ação Ecológica Guaporé (ECOPORÉ), Porto Velho, Rondônia, Brasil; 4. Sete Soluções e Tecnologia Ambiental, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil; 5. Oikos Consultoria e Projetos, Porto Velho, Rondônia, Brasil.

RESUMO A fauna edáfica desempenha importantes papeis na ciclagem de matéria e energia nos solos. Na Amazônia esses organismos representam 75% da biomassa de animais, atuando como decompositores de matéria orgânica e disponibilizando nutrientes nas cadeias tróficas. Este trabalho objetivou verificar a abundância e a diversidade da fauna edáfica nas áreas de recuperação da Floresta Nacional do Jamari. Entre 2013-2015 e 2017-2019 foram realizadas coletas de invertebrados de solo com extrator de winckler e pitfall em diversos ambientes onde houve exploração minerária e que atualmente estão em fase de recuperação. A abundância média obtida nas diferentes áreas foi comparada estatisticamente utilizando o programa R. Entre 2013 a 2015 foram coletados 120.390 artrópodes, divididos em: Insecta, Arachnida, Entognatha, Diplopoda, Chilopoda e Malacostraca. A mina de Novo Mundo possui uma média de abundância significativamente diferente da área conservada de Potosi (P=1.6e-06) e da área alterada de Santa Maria (P=6.0e-11), enquanto as duas últimas não diferiram entre si. De 2017 a 2019 foram coletados 29.706 artrópodes, compostos pelos mesmos táxons citados. Apenas três áreas (das 44 analisadas) apresentaram diferença significativa quando comparadas com as demais. A área A4 de Poço B e A2 de Serra da onça apresentaram maiores médias, portanto, significativamente diferentes de 19 e 23 áreas respectivamente. A terceira foi a área A2 de Poço B que foi considerada significativamente diferente da área A1 de 14 de Abril (P= 0.04). Os dados sugerem que as áreas estudadas estão em níveis semelhantes de recuperação. Palavras-chave: Artrópode, Bioindicador e Área degradada.

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ABSTRACT The edaphic fauna plays important roles in the cycling of matter and energy in the soil. In the Amazon these organisms represent 75% of the biomass of animals, acting as decomposers of organic matter and making nutrients available at trophic chains. This work aimed to verify the abundance and diversity of edaphic fauna in the recovery areas of Floresta Nacional do Jamari. Between 2013 to 2015 and 2017 to 2019, collections of soil invertebrates with winckler and pitfall were carried out in various environments where there was mining exploration, which are currently in recovery phase. The average abundance obtained in different areas was compared statistically using the program R. Between 2013 to 2015, 120,394 arthropods were collected, divided into: Insecta, Arachnida, Entognatha, Diplopoda, Chilopoda and Malacostraca. Novo Mundo mine had an abundance average significantly different from the conserved area of Potosi (P = 1.6e-06) and the altered area of Santa Maria (P = 6.0e-11), while the last two did not differed from each other. From 2017 to 2019, 29,706 arthropods were collected, composed of the same taxa mentioned. Only three areas (44 were analyzed) showed a significant difference when compared to the others. Poço B area A4 and Serra da Onça area A2 had highest averages, therefore, significantly different from 19 and 23 areas respectively. The third one was Poço B area A2 which was considered significantly different from 14 de Abril area A1 (P = 0.04). The data suggest that the areas studied are at similar levels of recovery. Keywords: Arhropod, Bioindicator and Degraded area.

1. INTRODUÇÃO

1.1. FLORESTA NACIONAL DO JAMARI

A Floresta Nacional do Jamari - Flona do Jamari, foi criada pelo Decreto nº. 90.224, de 25 de setembro de 1984, com área estimada em 215.000 ha (BRASIL, 1984). Localiza- se no Estado de Rondônia com acesso principal pelo município de Itapuã do Oeste, via rodovia BR-364 e em seguida por uma estrada vicinal com 13 km de extensão. Tem a sua gestão realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio. Em 2005 foi finalizado seu Plano de Manejo de Uso Múltiplo, conforme roteiro elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente - MMA, onde se estabelecem as diretrizes para a gestão da unidade. Mesmo antes de sua criação, já existia a atividade de mineração de cassiterita na área, onde hoje está demarcada a Flona, sendo esta, uma atividade que continua em seu interior, regionalizadas pelo plano de manejo. Desde 2008 a Flona do Jamari destina quase 100.000 ha para a exploração de madeireira sustentável, através de concessões florestais, sendo essa a primeira Unidade de Conservação no Brasil a passar por este processo (BRASIL, 2005).

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Em 2009, a Brascan Recuperação Ambiental, empresa criada para recuperar as áreas afetadas por mineração, apresentou e iniciou o plano de recuperação de áreas degradas - PRAD. Nesse PRAD foram definidas as metodologias de intervenção e de monitoramento da recuperação. A intervenção ocorre em sete níveis, com grande ênfase para recuperação do solo, pois a principal atividade instalada na unidade de conservação é a extração mineral. As áreas foram divididas por talhões, de acordo com o substrato: Rejeito Seco, Rejeito Úmido, Rejeito Capeado e Piso de Lavra. Onde são realizados primeiramente monitoramentos de solo, contemplando parâmetros morfológicos, químicos, físicos e biológicos, o segundo é o de vegetação, através da avaliação florística e fitossociologia em parcelas instaladas nas áreas em recuperação e na vegetação secundária e primária do entorno das minas (BRASCAN RECUPERAÇÃO AMBIENTAL, 2009). Visando a definição de outros indicadores de avaliação da recuperação, é realizado o monitoramento da cobertura vegetal, através da análise temporal de imagens de satélite e o monitoramento de fauna, que tem por objetivo avaliar o processo de repovoamento da mastofauna (não-voadores), da avifauna, da herpetofauna, da ictiofauna e da artropodofauna nas áreas em processo de recuperação florestal pós impacto por exploração de cassiterita na Flona do Jamari (NIENOW, 2016).

1.2. FAUNA EDÁFICA

O solo é um recurso importante para a formação e manutenção dos seres vivos, atuando como um meio de suporte à vida vegetal e uma infinidade de comunidades bióticas. Essas comunidades bióticas compõem a fauna do solo, ou fauna edáfica, a qual apresenta uma variedade de tamanhos e metabolismos (CORREIA; OLIVEIRA, 2000). Existem várias formas de classificar a fauna edáfica, geralmente, o tamanho corporal é o critério básico, mas também são levados em consideração aspectos de mobilidade, hábitos alimentares e funções ecológicas que desempenham no solo (VAZ-DE-MELLO et al., 2009). Swift; Heal e Anderson (1979) classificaram a fauna edáfica em micro, meso, macro e megafauna. Usando o diâmetro como base, a microfauna inclui organismos menores que 0,2 mm e seus representantes mais importantes são os protozoários e nematoides. A mesofauna é representada por animais que medem de 0,2 a 2,0 mm e incluem Acari, Collembola, Protura, Diplura, Pauropoda. A macrofauna é representada por organismos visíveis a olho nu, de tamanho maior do que 2,0 mm e é representada por mais de 20 grupos taxonômicos, dentre eles estão cupins, formigas, minhocas, besouros, tatuzinhos, aranhas, centopeias,

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piolhos-de-cobra, baratas, tesourinhas, grilos, escorpiões, percevejos e cigarras. E a megafauna abrange os invertebrados do solo acima de 20 mm, composta por algumas espécies de minhocas, piolhos-de-cobra, lacraias e besouros. O solo é um ecossistema complexo constituído pela associação de variáveis químico e físicas (gases, minerais, água) e biológicas (macro e micro-organismos e a matéria orgânica). Esses organismos que constituem a fauna edáfica, desempenham a função de controle homeostático do ambiente, através dos processos básicos como: agregação do solo, decomposição da matéria orgânica, proteção da planta contra pragas (controle biológico), mineralização dos nutrientes e recuperação de áreas degradadas e contaminadas. Essa associação da fauna edáfica com os microrganismos do solo em diferentes níveis confere ao solo a estrutura e estabilidade necessária para que ele continue cumprindo sua principal função como substrato (BARETTA et al., 2003; KORASAKI et al., 2013). Os organismos da macrofauna de solo são extremamente sensíveis as menores modificações do hábitat, sendo diretamente influenciados pelo nicho alimentar, formação de microclima e competições intra e interespecífica (BARETTA, 2006). Essa sensibilidade é uma importante propriedade indicativa de organismos bioindicadores de qualidade biológica desse ambiente, pois eles podem dar respostas rápidas de avaliação das alterações antrópicas dos ecossistemas. A diversidade da fauna edáfica é uma característica chave na manutenção da fertilidade e estrutura dos solos tropicais (LAVELLE et al., 1993). Nas florestas tropicais o número de organismos encontrados no solo é mais elevado do que em qualquer outro bioma. Na Amazônia, em especial, os invertebrados sustentam uma dinâmica de ciclagem de matéria e energia de forma rápida, disponibilizando elementos para vários níveis nas cadeiras tróficas. São exemplos de grupos mais comuns encontrados nos solos das florestas: formigas, cupins, colêmbolos, isópodes, pseudoescorpiões, ácaros, aranhas, opiliões, miriápodes, besouros, baratas, grilos entre outros. A fauna de solos compreende aproximadamente de 50 a 75% da biomassa animal da floresta, sendo os cupins e as formigas os mais importantes do ponto de vista ecológico e fluxo de energia (FITTIKAU; KLINGE, 1973). Para avaliar a recuperação das áreas degradadas tem se usado a composição, diversidade e a biomassa da fauna edáfica como bioindicadora, uma vez que essa é sensível às práticas de manejo, clima, solo e vegetação. As formigas (Hymenoptera: Formicidae) e cupins (Blattodea: Isoptera), por exemplo, caracterizam-se por apresentarem maior biomassa entre os invertebrados devido ao modo de vida social com divisão de castas, onde

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há predominância de indivíduos operários. Segundo Wilson (1971), em florestas da Amazônia, o peso seco de todas as formigas é quatro vezes superior ao peso seco de todos os vertebrados juntos. A qualidade do solo está relacionada ao seu funcionamento, observado pelos indicadores químicos, físicos e os biológicos. A abundância e a diversidade da meso e macrofauna do solo dos ecossistemas naturais podem ser afetadas por vários fatores edáficos, vegetais, históricos, topográficos e climáticos. Logo, intervenções antrópicas podem afetar a dinâmica dessas comunidades animais e, por consequência, as funções ecológicas nas quais estão envolvidas. Por serem sensíveis e reagir a mudanças induzidas por atividades antrópicas e naturais ao solo e à sua cobertura vegetal, as populações e a diversidade dessa fauna podem ser usadas como bioindicadores do uso do solo ou da sua fertilidade, dando uma noção do seu estado atual e de mudanças induzidas por forças internas externas (bióticas e abióticas), ao longo do tempo (VAZ-DE-MELLO et al., 2009). Os organismos que compõem a fauna edáfica apresentam significativa intimidade com seu habitat demonstrando forte sensibilidade às alterações ambientais. A rápida resposta à essas mudanças tem sido o fator primordial para a utilização desses organismos como bioindicadores de qualidade e sanidade do solo. O presente trabalho teve o objetivo de verificar a abundância e a diversidade da fauna edáfica das áreas delimitadas pelo plano de recuperação da Flona do Jamari.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1. ÁREA DE ESTUDO

As áreas de estudo localizam-se na Flona do Jamari, que está situada nos municípios de Itapuã do Oeste, Cujubim e Candeias do Jamari, estado de Rondônia, entre as coordenadas 09º00’00” a 09º30’00" de latitude sul, e 062º44’05,00" a 63º16’54,00" de longitude oeste. São áreas em recuperação anteriormente mineradas para a exploração de cassiterita nas minas: 14 de Abril, Serra da Onça, Serra da Cacimba, Duduca, Poço B, Santa Maria, Novo Mundo e Potosi. Adicionalmente foram levantados dados nos três (3) módulos do tipo Rapid Assessment Program em Pesquisas Ecológicas de Longa Duração – RAPELD, instalados na FLONA do Jamari.

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2.2. DESENHO AMOSTRAL E AMOSTRAGEM

As coletas foram padronizadas e realizadas conforme o plano de levantamento e monitoramento da fauna, constante no termo de referência da empresa responsável pelo monitoramento destas áreas (BRASCAN RECUPERAÇÃO AMBIENTAL, 2011). As coletas ocorreram em dois períodos: Fase 1, de 2013 a 2015; e Fase 2, de 2017 a 2019. Na Fase 1 foram realizados levantamentos de dados semestrais em 30 parcelas distribuídas entre os três (3) módulos RAPELD (MAGNUSSON et al., 2015) instalados na FLONA do Jamari, sendo dois em áreas em recuperação (Santa Maria e Novo Mundo) e um na área de controle ou zona de conservação (Potosi) dessa unidade de conservação. Um módulo é composto por trilhas e parcelas. Cada módulo constitui um sítio de pesquisa que consiste de duas trilhas paralelas de 5 km de comprimento x 1m de largura cada uma, ligadas em suas extremidades por duas trilhas de 1 km de comprimento x 1m de largura; As parcelas foram marcadas seguindo a curva de nível do terreno, e espaçadas por intervalos de 1km de distância, totalizando 10 parcelas por módulo. Em cada método de amostragem foram coletadas 5 amostras/parcela. Os invertebrados de solo foram amostrados utilizando-se duas metodologias complementares: extrator de winkler e armadilha de queda – pitfall. O extrator de winkler é ideal para a captura de organismos que vivem no folhiço/serapilheira, com sua eficiência corroborada por Fisher (1999) no que diz respeito a um levantamento quantitativo e qualitativo. Funcionam com amostras de 1 metro quadrado de coleta de serrapilheira/parcela. Essas amostras foram peneiradas e o material particulado resultante e os organismos presentes foram colocados nos extratores de winkler por 48 horas. Posteriormente foram armazenados recebendo etiquetas de identificação de módulo/parcela e metodologia empregada. O total de amostras de serrapilheira peneiradas foram de 5 por parcela. A pitfall caracteriza-se por ser um instrumento de coleta muito simples, fácil de ser confeccionado, de baixo custo e fácil para ser transportado e instalado, apresentando-se eficiente e eficaz. É usada para captura de diferentes grupos de animais, desde microinvertebrados que compõem a fauna de solo, até pequenos mamíferos, variando apenas o tamanho do frasco coletor. Foram instaladas armadilhas pitfall com frasco coletor de 15 cm de diâmetro e 10 cm de altura, conforme recomendações de Milhomem, Vaz-de- Mello e Diniz (2003) que foram monitoradas a cada 48 horas por 10 dias. Na Fase 2, de 2017 a 2019, as coletas foram executadas em 44 áreas (áreas em recuperação, áreas de floresta madura e áreas de floresta secundária) distribuídas em 8

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minas. As coletas realizadas entre 2017 e 2018 compreenderam 4 minas: 14 de Abril (3 áreas), Novo Mundo (3 áreas), Santa Maria (3 áreas) e Serra da Onça (6 áreas). Em 2019 foram realizadas coletas em áreas diferentes das anteriores abrangendo 7 minas: 14 de Abril (7 áreas), Santa Maria (6 áreas), Serra da Onça (5 áreas), Duduca (4 áreas), Poço B (3 áreas), Cacimba (3 áreas) e Potosi (1 área). As coletas realizadas em 2017 abrangeram tanto áreas de recuperação de mineração quanto áreas de floresta secundária e floresta madura. Enquanto em 2018 as coletas foram somente nas áreas de recuperação de todas as minas, e na floresta madura de 14 de Abril, e em 2019 somente áreas de recuperação foram amostradas. Em cada área foram realizadas pelo menos 3 repetições de amostras compostas da macrofauna. Cada amostra composta de macrofauna foi formada por 4 monolitos, quadrados com 25 cm de comprimento em cada lado e 10 cm de profundidade, distantes 10 m um do outro. A serrapilheira dos 4 monolitos foi coletada e colocada no extrator de winkler por 48 horas, para obter-se a macrofauna epigênica (que vive sobre o solo) da amostra. Após coletar a serrapilheira, foram retirados cuidadosamente os primeiros 10 cm de solo dos 4 monolitos, colocados em bandejas e triados em campo (com ajuda de peneira), para desta forma obter-se a macrofauna endogênica (que vive dentro do solo). Ao final, todos os indivíduos capturados da macrofauna endogênica e epigênica dos quatro monolitos da amostra composta de macrofauna correspondiam a uma unidade amostral. Cada amostra composta da macrofauna foi realizada ao lado de uma parcela de monitoramento da vegetação da Brascan Recuperação Ambiental instalada na área. Como o número de parcelas instaladas nas áreas depende do seu tamanho, nos casos em que havia apenas uma parcela de vegetação na área, duas amostras compostas adicionais foram coletadas a 20-50 m de distância uma da outra. Quando havia duas parcelas, duas amostras compostas foram realizadas na primeira parcela e uma terceira amostra composta foi realizada na segunda, e nos casos em que havia três ou mais parcelas, foi realizada uma amostra composta por parcela existente na área. Para complementar a amostragem de diversidade de grupos e espécies da macrofauna, em cada área foi realizada a busca ativa em um raio de 50 m ao redor dos pontos de amostragem da macrofauna por 30 minutos.

2.3. TRIAGEM E IDENTIFICAÇÃO

Em Laboratório foram realizadas as etapas posteriores, com auxílio de estereomicroscópio: triagem (inclui separação e contagem do número de indivíduos). Os

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táxons representados implicam em uma multitude de métodos de conservação, sendo assim, de acordo com o táxon a sua fixação foi realizada conforme o padrão utilizado na literatura. Alguns foram acondicionados em manta entomológica, contados e separados por ordem. Outros grupos foram fixados em via líquida - álcool 70%.

2.4. ANÁLISES DOS DADOS

Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa R versão 4.0.2. Para comparar as médias da abundância obtidas em cada um dos três módulos estudados no período de 2013 a 2015 foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, onde considerou-se como unidade amostral cada uma das 5 repetições realizadas em cada parcela. Como o valor de p foi estatisticamente significativo, posteriormente foi aplicado o teste de Wilcoxon de amostras pareadas, um método alternativo não-paramétrico do test-t pareado, para identificar entre quais minas havia diferença significativa. Para o período de 2017 a 2018, as médias da abundância obtidas em cada uma das áreas observadas foi comparada utilizando uma Análise de Variância - ANOVA. Para isso, cada uma das três repetições realizadas em cada área foi considerada como uma unidade amostral. Como o valor de p foi estatisticamente significativo, posteriormente foi aplicado o teste post-hoc de Tukey HSD, método robusto e amplamente utilizado. Esse teste compara as médias de todos os grupos de maneira pareada, de forma similar ao teste-t e é ajustada para comportar mesmo grupos com números de amostras desiguais.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. FASE 1: 2013-2015

No período de 2013 a 2015 foram coletados 120390 indivíduos do filo Arthropoda, divididos em seis classes (Figura 1C).: Insecta, Arachnida, Entognatha, Diplopoda, Chilopoda e Malacostraca. As ordens mais abundantes foram Hymenoptera (49.368 indivíduos) Coleoptera (26826 indivíduos) e seguidos de Blattaria - cupins (25.296) (Figura 1A). As formigas, cupins e minhocas, em função de suas atividades, causam alteração na estrutura do solo, sendo por isso conhecidos como engenheiros do ecossistema (ALMEIDA;

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QUEIROZ, 2015, LAVELLE et al., 2016), e neste estudo as formigas e cupins foram abundantes. Coleoptera é a maior ordem de Insecta, representando em torno de 40% de todas as espécies registradas, com distribuição cosmopolita. Pode-se também registrar a importância de várias famílias como indicadores de qualidade de ambiente em diversas referências como as de Nichols et al. (2007); Nichols et al. (2008) e Gardner et al. (2008). Apesar de a maioria das ordens de Hexapoda possuírem representatividade em todas as três minas amostradas nesse período, algumas foram encontradas exclusivamente em apenas uma mina. Archaeognatha, Phasmatodea e Plecoptera, por exemplo, foram amostrados apenas na mina Potosi, enquanto os Embioptera, Ephemeroptera, Siphonaptera, Strepsipterea e Zygentoma foram encontrados apenas em Santa Maria (Figura 1A). Em Arachnida (Figura 1B), a segunda classe mais abundante nesse período com 3869 indivíduos, foi possível identificar pelo menos 6 ordens, uma vez que os Acari que não pertencem a ordem Ixodida não foram identificados em nível de ordem. A ordem mais abundante dentro de Arachnida foi Ixodida representando 32,6% dos indivíduos, seguida de Araneae, com 29,7% e Acari com 21,9%. Apenas a ordem Amblypygi não foi coletada em todas as minas sendo encontrada apenas em Potosi. Comparando as médias de abundância dos Arthropoda encontrados nas três minas estudadas na Fase 1, foi encontrada uma diferença significativa entre elas (P=1.016e-10). O teste par a par demonstrou que a mina de Novo Mundo possui uma média de abundância significativamente diferente das médias de abundância encontradas em Potosi (P=1.6e-06) e Santa Maria (P=6.0e-11), enquanto as duas últimas não diferem significativamente entre si (Figura 2). Sendo Potosi a área controle, ou seja, a área mais preservada, essa semelhança nas médias de abundância com Santa Maria pode ser um indicativo de recuperação da fauna de artrópodes de solo nesta área. Já em Novo Mundo, além de observar uma média de abundância significativamente menos que as outras duas áreas, também pode-se constatar uma menor diversidade de ordens de Hexapoda nesta área, indicando assim, que a área ainda está em processo de recuperação.

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Figura 1. Proporção de indivíduos da fauna edáfica coletados nos módulos das minas da Flona do Jamari, Rondônia, durante o período de 2013 a 2015. Proporção de Hexapoda coletados em cada mina por ordem (A). Proporção de Arachnida coletados em cada mina por ordem (B). Proporção de Arthropoda coletados em cada mina por classe (C).

Figura 2. Gráfico de boxplot para a média das abundâncias obtidas para cada módulo das minas da Flona do Jamari, Rondônia, durante o período de 2013 a 2015. NM= Novo Mundo, PSI= Potosi, SM= Santa Maria.

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3.2. FASE 2: 2017-2019

Foram coletados 29.706 indivíduos de Arthropoda nas 44 áreas analisadas da Floresta Nacional do Jamari. Dentre os espécimes coletados 2.515 são imaturos de insetos que não puderam ser identificados, e os demais indivíduos coletados são representantes das Classes Insecta (27.311), Entognatha (275), Arachnida (891), Malacostraca (92), Chilopoda (469) e Diplopoda (668) (Tabela 1). A exceção das Classes Chilopoda e Diplopoda, todas as demais classes foram identificadas em nível de ordem, totalizando 30 ordens. Dentre as ordens amostradas, 57,6% (17.124) dos indivíduos coletados foram Hymenoptera, seguida de Blattodea com 17,7% (5270), sendo a maioria cupins, e Coleoptera com 4,9% (1.457) (Tabela 1). O número de ordens encontradas neste monitoramento foi bastante elevado se comparado ao de coletas efetuadas por Catanozi (2010), também nas áreas de recuperação de floresta da FLONA Jamari. Aqui obteve-se o triplo de grupos encontrados, sendo dez no estudo de Catanozi (2010) e 30 neste trabalho. Em estudos na Amazônia, Tarrá et al. (2012) e Moraes et al. (2010), registaram 18 táxons. Além do elevado número de táxons presentes na área estudada, também ressalta-se a importância da presença de diferentes grupos tróficos como herbívoros (consumidores primários), predadores (consumidores secundários e terciários) e detritívoros ou decompositores. Isto aponta que o ecossistema está fechando uma sucessão de ciclagem química, que é promovida pela ação dos decompositores, quando estes convertem matéria orgânica de todos os níveis tróficos em compostos inorgânicos (REECE et al., 2015), auxiliando a recuperação e enriquecimento do solo e consequentemente da floresta. Outros grupos como Oligochaeta (684) e Gastropoda (202) também foram encontrados nas amostras. Apesar de não serem o foco principal deste trabalho, é importante registrar a presença destes grupos, uma vez que eles também possuem um papel importante dentro da ciclagem de nutrientes do solo.

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Tabela 1. Abundâncias das Classes e Ordens de Arthropoda coletadas nas Minas da FLONA Jamari, Rondônia, durante o período de 2017 a 2019. Total / Classe / Ordem Minas táxon 14AB CAC DUD NM PB PSI SO SM Arachnida 189 106 64 81 80 32 238 101 891 Acari* 24 24 4 1 17 4 74 Amblypygi 2 2 Araneae 104 63 49 42 67 8 169 69 571 Ixodida 11 14 3 12 6 22 15 83 Opiliones 6 4 6 3 19 Pseudoscorpiones 42 4 12 19 6 24 24 10 141 Scorpiones 1 1 Entognatha 35 25 5 28 65 19 82 22 281 Collembola 25 24 5 21 62 19 57 11 224 Diplura 6 1 7 3 22 11 50 Protura 4 3 7 Insecta 4.869 2.407 2.513 2.008 3.140 502 7.339 4.527 27.305 Archaeognata 1 1 4 6 Blattodea 652 589 642 329 726 60 1.389 883 5.270 Coleoptera 368 107 103 120 111 23 336 289 1.457 Dermaptera 11 5 4 2 2 3 13 40 Diptera 6 1 18 3 1 18 10 57 Embioptera 1 1 3 1 2 8 Hemiptera 79 31 21 47 28 14 182 67 469 Hymenoptera 3.194 1.418 1.558 1.300 1.530 307 4.806 3.011 17.124 Imaturo 533 253 176 145 653 69 474 212 2.515 Mantodea 2 1 1 6 10 Neuroptera 1 2 3 Orthoptera 10 1 5 4 13 9 42 Plecoptera 1 2 3 Psocoptera 1 1 Strepsiptera 2 2 Thysanoptera 10 8 34 79 27 41 21 220 Zoraptera 1 3 4 Zygentoma 1 1 5 1 63 3 74 Malacostraca 41 1 2 3 3 35 7 92 Isopoda 41 1 2 3 3 35 7 92 Chilopoda 68 4 24 69 31 13 200 60 469 Diplopoda 97 50 10 112 9 4 320 66 668 Total / mina 5.299 2.593 2.616 2.300 3.328 573 8.214 4.783 29.706 *Acari sem Ixodida - 14AB = 14 de Abril, CAC = Serra da Cacimba, DUD= Duduca, PB= Poço B, PSI = Potosi, SO = Serra da Onça, SM= Santa Maria, NM= Novo Mundo.

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A análise de variância apontou para uma diferença significativa (p= 8.81e-08) entre as médias das abundâncias encontradas em cada uma das áreas. Contudo, o teste Tukey demonstrou que apenas três áreas apresentaram diferença significativa em relação a outras. A área A4 de Poço B e A2 de Serra da onça foram as áreas que apresentaram maiores médias sendo consideradas significativamente diferentes de 19 e 23 áreas respectivamente (Tabela 2; Figura 3), além da área A2 de Poço B que foi considerada significativamente diferente da área A1 de 14 de Abril (P= 0.04).

Figura 3. Gráfico de boxplot para a média das abundâncias obtidas em cada área. Pelo teste Tukey houve diferença significativa entre as médias de PB_A4 e as medias seguidas da letra "A", entre SO_A3 e as médias seguidas da letra "B" e entre PB_A2 e as médias seguidas da letra "C". Flona Jamari, Rondônia, 2017 a 2019. 14AB = 14 de Abril, CAC = Serra da Cacimba, DUD= Duduca, PB= Poço B, PSI = Potosi, SO = Serra da Onça STA= Santa Maria, NM= Novo Mundo. FM= Floresta Madura, FS= Floresta Secundária.

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Tabela 2. Valores de P significativos obtidos pelo teste de Tukey na comparação par a par entre as áreas da FLONA. Áreas Comparadas Valor de P Áreas Comparadas Valor de P SO_A2-14AB_A1 0.0000782 SO_A2-SO_FS 0.0189591 SO_A2-14AB_A12 0.0030605 PB_A4 - 14AB_A1 0.0005428 SO_A2-14AB_A1a 0.0016125 PB_A4-14AB_A12 0.0145844 SO_A2-14AB_A2a 0.0006142 PB_A4-14AB_A1a 0.0107635 SO_A2-14AB_A4 0.0046557 PB_A4-14AB_A2a 0.0033349 SO_A2-14AB_A7 0.0020883 PB_A4-14AB_A4 0.0235015 SO_A2-14AB_A7a 0.0020883 PB_A4-14AB_A7 0.0103016 SO_A2-14AB_FS 0.0012711 PB_A4-14AB_A7a 0.0103016 SO_A2-CAC_A1 0.0013912 PB_A4-14AB_FS 0.0065354 SO_A2-CAC_A3 0.0115120 PB_A4-CAC_A1 0.0097581 SO_A2-DUD_A4 0.0379664 PB_A4-NM_FM 0.0117019 SO_A2-NM_FM 0.0024017 PB_A4-NM_FS 0.0043782 SO_A2-NM_FS 0.0008236 PB_A4-SM_A11 0.0462551 SO_A2-SM_A11 0.0111573 PB_A4-SM_A2 0.0027121 SO_A2-SM_A14 0.0134871 PB_A4-SM_A4 0.0214077 SO_A2-SM_A2 0.0004919 PB_A4-SM_FM 0.0117019 SO_A2-SM_A4 0.0046835 PB_A4-SO_A3 0.0048436 SO_A2-SM_FM 0.0024017 PB_A4-SO_A4 0.0095803 SO_A2-SO_A3 0.0009187 PB_A4-SO_A5 0.0051794 SO_A2-SO_A4 0.0017180 PB_A4 -SO_FM 0.0217333 SO_A2-SO_A5 0.0009878 PB_A2-14AB_A1 0.0414737 SO_A2-SO_FM 0.0047629

Essas médias mais altas que as demais áreas estão associadas a coletas de grandes números de formigas (Hymenoptera), levantando a hipótese de uma coleta incomum devido a presença de um ninho desta ordem na coleta realizada na área A4 de Poço B e A2 de SO. A presença dessa colônia na parcela causaria a coleta incomum de um número muito maior de indivíduos que o normal, elevando assim a média desta área e tornando-a diferente, em termos de abundância, das áreas com médias menores de indivíduos coletados. Contudo, convém considerar que as formigas são os mais importantes invertebrados em ambientes úmidos, pois são consideradas as engenheiras do ecossistema com a construção de ninhos, e consequente formação de galerias e montículos, que afetam a estrutura física, a dinâmica de nutrientes e as propriedades biológicas do solo. As formigas podem provocar mudanças nos balanços de C e N em várias camadas no solo de modo que torna permissivo a heterogeneidade do ecossistema afetando os processos de respiração, decomposição, mineralização e desnitrificação (WHU et al., 2013a; 2013b). Por esta razão,

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a ação desses invertebrados permite o restabelecimento da sucessão ecológica no ambiente essencial para a recuperação de áreas impactadas. Os artrópodes estão entre os grupos mais sensíveis aos impactos provocados pela atividade minerária (PARMELEE et al., 1997; ANTUNES et al., 2013). Isso ocorre porque esses organismos oferecem respostas sobre o nível de saúde dos ambientes tanto os conservados quanto os perturbados (BATZER; WU, 2020). Dessa forma, o fato de não haver diferença significativa na abundância da maioria das áreas, incluindo as oito áreas de floresta madura e secundária analisadas, pode ser considerado indicativo de que as áreas estão em estado avançado de recuperação.

4. CONCLUSÃO

A Flona possui uma alta diversidade de artrópodes em sua fauna edáfica e apesar de os dados analisados na fase 1 do trabalho indicarem diferentes níveis de recuperação entre módulos das três minas estudados entre 2013 e 2015, os dados da fase 2, coletados em várias áreas de diferentes minas (incluindo minas da fase 1) indicam que, em termos de abundancia da fauna edáfica, as áreas estão em estados similares de recuperação com níveis iguais ao de florestas maduras e secundarias.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Bioamazônica e Brascan Recuperação Ambiental pelo apoio financeiro em toda logística de campo. Assim como a Universidade Federal de Rondônia pelo apoio financeiro e estrutura de laboratório para triagem do material coletado.

6. REFERÊNCIAS

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AMEBAS TESTÁCEAS ASSOCIADAS A MACRÓFITAS SUBMERSAS DA SUBBACIA DO IGARAPÉ QUINOÁ-AC

Ronnilda Maria Gonçalves Araujo¹,², Guilherme Sampaio Cabral¹,², Ronaldo Souza da Silva¹,³, João Antônio Rodrigues Santos¹, Pedro Paulo Pereira2,4, Andressa Crystine Souza da Silva2,4, André Ricardo Ghidini¹,²

1. Programa de Pós-Graduação em Ecologia Manejo de Recursos Naturais, Universidade Federal do Acre (UFAC), Rodovia Br 364, Km 04 – Distrito Industrial, Rio Branco – Acre, Brasil. 2. Laboratório de Limnologia, Centro de Ciências Biológicas e Naturais (CCBN) da Universidade Federal do Acre (UFAC), Rodovia Br 364, Km 04 – Distrito Industrial, Rio Branco, Acre, Brasil; 3. Laboratório de Ictiologia e Ecologia Aquática da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Pará, Brasil; 4. Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Acre (UFAC), Rodovia Br 364, Km 04 – Distrito Industrial, Rio Branco, Acre, Brasil.

RESUMO Dos protozoários que constituem o protoplâncton, ressalta-se o grupo das amebas testáceas (Protoctista: Rhizopoda), protozoários amebóides. Estas são abundantes na maioria dos ecossistemas aquáticos e terrestres, proliferam-se entres as plantas aquáticas e apresentam uma produção de biomassa com importante contribuição no fluxo de energia, ciclagem de nutrientes e são apontados como bons indicadores da qualidade das águas. Este estudo objetivou investigar a ocorrência e distribuição das amebas testáceas associadas a macrófitas submersas, bem como verificar as possíveis variações de espécies das amebas testáceas e relacioná-las com as variáveis limnológicas em um igarapé e discutir a influência desses fatores na riqueza e distribuição. As amostragens foram realizadas em dois pontos dispostos ao longo do eixo longitudinal na região limnética e borda dos bancos de macrófitas aquáticas do igarapé Quinoá. Foram identificados 43 táxons, pertencentes a 10 familias e 11 gêneros. Centropyxidae foi a mais representativa. Os maiores valores para a riqueza, diversidade, foram registrados no período de baixa das águas. Os dados obtidos da composição e diversidade das espécies evidenciaram maior variabilidade espacial durante esse mesmo período. A comunidade de amebas testadas planctônicas ocorreu predominantemente durante o período de seca. A maior riqueza de organismos pode estar relacionada às adaptações morfológicas das espécies encontradas nesses ambientes aquáticos. Apesar da riqueza encontrada, constatou-se que as tecamebas são frequentes na região, evidenciando, portanto, a necessidade de aumentar os esforços de coleta, além de intensificar o estudo desses organismos temporalmente e espacialmente na região. Esta pesquisa contribui para o levantamento de amebas testáceas no estado do Acre, incluindo novos registros. Palavras-chave: Ambientes lóticos, Protozoários e Macrófitas submersas.

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ABSTRACT Of the protozoans that make up the protoplankton, the group of testaceous amoebae (Protoctista: Rhizopoda), amoeboid protozoans, stands out. These are abundant in most aquatic and terrestrial ecosystems, they proliferate among aquatic plants and present biomass production with an important contribution to energy flow, nutrient cycling and are indicated as good indicators of water quality. This study aimed to investigate the occurrence and distribution of testaceous amoebae associated with submerged macrophytes, as well as to verify the possible variations of species of testacious amoebae and to relate them to limnological variables in a stream and to discuss the influence of these factors on richness and distribution. Sampling was carried out at two points along the longitudinal axis in the limnetic region and on the edge of the aquatic macrophyte banks of the Quinoá stream. 43 taxa were identified, belonging to 10 families and 11 genera. Centropyxidae was the most representative. The highest values for wealth, diversity, were recorded during the low water season. The data obtained from species composition and diversity showed greater spatial variability during that same period. The planktonic tested amoeba community occurred predominantly during the dry season. The greater richness of organisms may be related to the morphological adaptations of the species found in these aquatic environments. Despite the wealth found, it was found that the tequebeas are frequent in the region, thus evidencing the need to increase the collection efforts, in addition to intensifying the study of these organisms temporally and spatially in the region. This research contributes to the survey of testicular amoebae in the state of Acre, including new records. Keywords: Environments lotic, Protozoan and Submerged macrophytes.

1. INTRODUÇÃO

As regiões de ecótono água-terra costuma apresentar maior riqueza de espécies do que os ambientes de água aberta. A maior complexidade dos microambientes, gerada pela presença de várias espécies de macrófitas, parece ser o fator responsável por esse aumento de riqueza (NOGUEIRA et al., 2003; ELMOOR-LOUREIRO, 2007). As amebas testáceas representam uma clara evidência da influência das macrófitas aquáticas sobre a diversidade dessa comunidade uma vez que estas plantas aumentam a relação superfície/volume, ocorrendo uma maior disponibilidade de microhábitats e uma consequente baixa competição interespecífica (VELHO et al., 1999; LANSAC-TÔHA et al., 2003). As amebas testáceas podem ser encontradas em diversos ambientes úmidos, podendo ser encontradas associadas à vegetação aquática (VELHO et al., 1999). Elas se beneficiam dos microhabitats disponibilizados pelas macrófitas, devido a fixação do perifíton nas macrófitas, que as servem de alimento (HARDOIM, 1997). Estes organismos ocupam uma variedade de papéis tróficos na cadeia alimentar, variando de decompositores a consumidores (GIMENES et al., 2004; JASSEY et al., 2013).

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Souza (2005) ressalta que, apesar dos trabalhos com amebas testáceas serem comuns no Brasil, eles ainda são muito restritos a ambientes lênticos. É provável que isso aconteça devido à maior facilidade de colonização de macrófitas em ambientes lênticos, visto que as tecamebas ocorrem mais frequentemente associada a essas plantas. Ainda assim, são organismos de ampla distribuição, estando presentes também nos habitats planctônicos (SCHWIND et al., 2016; ARRIEIRA et al., 2017), bentônicos (YANGMIN et al., 2013) e no solo (BEYENS; MEISTERFELD, 2001). Apesar de ainda serem pouco abordados em estudos na Amazônia, as amebas testáceas já foram estudadas nos estados do Amapá (LAUT et al., 2010), Pará (LAUT et al., 2016) e Amazonas (ARRIEIRA et al., 2017). Para o estado do Acre, apesar de alguns estudos com zooplâncton terem sido dirigidos (p. ex. SENDACZ; MELO-COSTA, 1991; NASCIMENTO; KEPPELER, 2017), nenhum deles inventariou o grupo das tecamebas, fazendo com que este ainda tenha ocorrências e diversidade desconhecida. Este trabalho tem por objetivo ampliar o conhecimento de ocorrência e distribuição das amebas testáceas associadas a macrófitas submersas, bem como verificar as possíveis variações de espécies das amebas testáceas e relacioná-las com as variáveis limnológicas do igarapé Quinoá e discutir a influência desses fatores na riqueza e distribuição.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1 ÁREA DE ESTUDO

Sub-bacia hidrográfica do igarapé Quinoá, está localizada entre os municípios de Senador Guiomard e Rio Branco (10º06’03.33” S/67°40º11.50” O) (Figura 1), estado do Acre. O igarapé Quinoá é afluente a margem direita do Rio Acre e possui uma microbacia de drenagem que detêm igarapés de 1ª e 2ª ordem, caracteriza-se por apresentar ambientes antropizados e com fragmentos de florestas em diferentes graus de conservação. Dentre os principais impactos ocorrentes no igarapé Quinoá estão os barramentos hídricos causados por construções de pequenos reservatórios, tendo como principal finalidade a dessedentação do gado, assim como barramentos por meio de construções de estradas secundárias. A área é coberta por floresta de terra firme e por floresta aberta dominada por

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Bambu, com altura de dossel variando entre 20 e 40 m de altura, com árvores atingindo cerca de 45m (MEDEIROS et al., 2013). O padrão climático é do tipo equatorial, quente e úmido, com dois períodos distintos: estação chuvosa, de novembro a março e estação seca, de abril a outubro, com temperatura média de 26,2°C, a média anual de pluviosidade é de 1935 mm (INMET, 2019). A formação geológica e geomorfológica são indicadores de rios de águas brancas, com grande concentração de material sólido em suspensão, oriundos dos processos hidroerosivo da corrente sobre as margens (SANTI et al., 2012).

Figura 1. Localização da sub bacia do igarapé Quinoá, Rio Branco, Acre, no período de fevereiro e julho de 2018.

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2.2 AMOSTRAGEM

As coletas foram realizadas nos meses de fevereiro/2018 e julho/2018, em dois pontos do igarapé Quinoá, caracterizados por colonização de macrófitas submersas. Foram obtidas amostras qualitativas através de arrastos verticais e horizontais livres entre a vegetação imersa. As amostras quantitativas foram realizadas com auxílio de balde de polietileno graduado com capacidade de 7 L de volume, onde foram filtrados em rede de plâncton (malha de 50 μm) o volume de 100 L e a partir desse volume concentrados em amostras de 70 mL. A vegetação aquática submersa predominante nos pontos amostrados era composta por Najas guardalupensis (Spreng.) Magnus, Eichhornia diversifolia (Vahl) Urb. e Utricularia gibba L. No entanto, ao longo do igarapé, diversas espécies emersas foram encontradas, tais como: Ludwigia sedoides (Humb. & Bonpl.) H.Hara, Tonina fluviatilis Aubl., Bacopa egensis (Poepp.) Pennell., Xyris jupicai G. T. Prance, Salvinha minima Baker, Heterantera reniformis Ruiz & Pav. e Bulbostylis juncoides (Vahl) Kük. ex Osten. Foram tomadas três amostras por ponto. Todas as amostras foram acondicionadas em potes de 200 mL, etiquetados e anestesiadas com água carbonada (25 mL), fixadas posteriormente em álcool (concentração final 70%) de acordo com Pinto-Coelho (2004). As macrófitas foram acondicionadas em sacos plásticos de capacidade de 10 L e levadas para identificação no Laboratório de Limnologia. As identificações das macrófitas foram feitas com o auxílio de Pott & Pott (2000). As análises das amostras foram realizadas no Laboratório de Limnologia da Universidade Federal do Acre – UFAC. Para a identificação taxonômica dos protistas testáceos foram utilizadas alíquotas de 2 mL dispostas sob câmara de contagem do tipo Sedgewick-Rafter, visualizada sob microscópio óptico (Olympus, modelo CX40). A identificação foi realizada com auxílio da seguinte bibliografia básica: Velho e Lansac-Tôha (1996), Velho et al. (1996; 2000), Souza (2005) e Alves et al. (2010). Para a caracterização física e química da água foram realizadas análises de pH, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido por meio de sonda multiparamétrica (AHROM, modelo KR405), turbidez com Turbidímetro (Instrutherm, TD-300), profundidade e transparência com o auxílio de Disco de Secchi.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em todo o estudo foram registrados 42 espécies de amebas testáceas, pertencentes a 10 familias e 11 gêneros, representadas pelas famílias Arcellidae (08 taxa), Centropyxidae (10 taxa), Difflugiidae (05 taxas), Euglyphidae (um táxon), Hyalosphenidae (um táxon), Lamtopexia (um táxon), Lesquereusiidae (06 taxas), Netzeliidae (06 taxa), Phryganellidae (02 taxas) e Trigonopyxidae (02 taxas) (Tabela 1). Centropyxidae (10 taxas) e Arcellidae (08 taxas) foram as famílias mais representativas, enquanto que Euglyphidae, Hyalosphenidae e Lamtopexia (ambos com apenas um táxon) foram as mais raras (Tabela 1). Os gêneros Arcella, Centropyxis, Lesquereusia e Netzelia tiveram as maiores ocorrências. Considerando a frequência de ocorrência dos gêneros registrados nas amostras de plâncton, Arcella representou maior frequência (25%), seguido de Centropyxis (23%), Netzelia (23%) e Lesquereusia (9%). Quanto a frequência de ocorrências entre as espécies, Arcella megastoma e A. vulgaris foram mais constantes (20%), seguido de Centropyxis aculeata (12,5%), Netzelia corona e N. gramem (17%).

Tabela 1. Lista de grupos taxonômicos, famílias, gêneros e espécies de protistas testáceos encontradas na sub bacia do igarapé Quinoá em dois pontos amostrais.

Taxa Fev/18 Jul/18 P1 P2 P1 P2 ARCELIDAE Arcella brasiliensis (Cunha, 1913) X X X X Arcella conica (Playfair, 1918) X X Arcella costata (Ehrenberg, 1847) X X Arcella gibbosa (Penard, 1890) X Arcella megastoma (Penard, 1902) X X X X Arcella mitrata (Leidy, 1876) X X Arcella rota (Daday, 1905) X Arcella vulgaris (Ehrenberg, 1830) X X X X CENTROPYXIDAE Centropyxis aculeata (Ehrenberg, 1838)) X X X X Centropyxis aculeata var oblonga (Deflandre, 1929) X Centropyxis aculeatava spinosa (Dinheiro, 1905) X Centropyxis aerophila (Deflandre, 1929) X Centropyxis discoide (Penard, 1902) X X Centropyxis ecornics (Ehrenberg, 1841) X X X X Centropyxis gibba (Deflandre, 1929) X X Centropyxis marsupiformis (Wallich, 1864) X Centropyxis orbicularis (Deflandre 1929) X

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Centropyxis spinosa (Cash, 1905) X TRIGONOPYXIDAE Cyclopyxis eurystoma (Deflandre, 1929) X Cyclopyxis sp. (Deflandre, 1929) X DIFFLUGIIDAE Difflugia campreolata (Penard, 1902) X X Difflugia lithophila (Penard, 1902) X Difflugia urceolata (Carter, 1864) X X X X Difflugia mamilaris (Penard, 1893) X X Difflugia pyriformis (Perty, 1849) X X X EUGLYPHIDAE Euglypha acanthophora (Ehrenberg, 1841) X LAMTOPEXIA Lamtopyxis callistoma (Bonnet, 1974) X LESQUEREUSIIDAE Lesquereusia epistomium (Penard, 1902) X X X X Lesquereusia minética (Penard, 1911) X X X Lesquereusia modesta (Rhumbler, 1895) X X Lesquereusia sp. (Schlumberger 1845) X Lesquereusia spiralis (Ehrenberg, 1840) X X X Lesquereusia spiralis var hirsuta (Gauthier-Liévre & Thomas) X NETZELIIDAE Netzelia corona (Wallich, 1864) X X X X Netzelia gramem (Penard, 1902) X X X Netzelia mitrata (Chardez, 1987) X Netzelia oviformis (Cash, 1909) X X Netzelia tuberculata (Wallich, 1864) X Netzelia wailesi (Ogden, 1980) X HYALOSPHENIDAE Nebella sp. (Leidy, 1874) X PHRYGANELLIDAE Pontigulasia sp. (Rhumbler, 1896) X Protocurcubitela coroniformis (Gauthier-Lièvre & Thomas, 1960) X X X X

Quanto as amebas testáceas, houve variação da riqueza e diversidade entre os pontos e períodos estudados, sendo notável uma maior riqueza e diversidade nas amostras do mês de julho, período caracterizado como baixa das águas (seca), em relação ao período de alta das águas (chuva). Os valores registrados de diversidade média variam entre 2,5 e 3,3 bits ind-1, sendo os maiores valores observados no ponto 1 no período de seca e os menores valores no ponto 2 no período de chuva. Os maiores valores de diversidade entre

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os gêneros identificados foram para Centropyxidae (10 taxas) e os menores para Euglyphidae, Lamtopexia e Hyalosphenidae (01 taxa), esse mesmo padrão foi observado para a riqueza de espécies. Durante o período de águas baixa, os corpos d’água estão sujeitos a aportes de nutrientes para a coluna d'água (CARVALHO et al., 2001; ROBERTO et al., 2009). A entrada de nutrientes no ambiente aquático leva a um aumento na produtividade primária do plâncton (BONECKER et al., 2013). Consequentemente, esses fatores podem promover um aumento na diversidade biológica da comunidade de amebas testadas durante a seca. A diversidade biológica baixa durante o período de chuva pode estar relacionada ao efeito homogeneizador do pulso de inundação, que promove a diluição dos corpos d'água (THOMAZ et al., 2007). Como resultado, a diversidade biológica da comunidade de amebas testadas diminui (COSTA et al., 2011). Consequentemente, o aumento do nível da água promoveu menor diversidade de amebas testadas. Entre as espécies identificadas a Arcella vulgaris, A. megastoma, Centropyxis aculeata e Netzelia corona se apresentaram dominantes em toda a amostragem (Tabela 2). Cerca de 55% das espécies registradas foram consideradas raras por ocorrerem de forma acidental e restrita a um ponto (P1) de amostragem e um período de coleta (seca), dentre essas espécies podemos destacar Arcella gibosa, A. rota, Centropyxis spinosa, Ciclopyxis eurystoma, Euglypha acanthophora, Difflugia campreolata, D. lithofila, Lamtopyxis callistoma, Netzelia tuberculata, N. wailesi (Tabela 1). A ocorrência do gênero Arcella, Centropyxis e Difflugia de forma abundante em águas ricas em nutrientes já foi visto por Oliveira & Hardoim, (2010) em estudos para o estado do Mato Grosso, no presente estudo, conforme o descrito anteriormente, o táxon apresentou esta característica. Os táxons registrados em todos os pontos e período de amostragem foram: Arcella brasiliense, A. megastoma, A. vulgaris, Centropyxis aculeata, C. ecornis, Difflugia lobostoma, D. pyriformis, Lesquereusia epistomium, L. spiralis, Netzelia corona e Protocurcubitela coroniformis (Tabela 1). Esses primeiros táxons estão entre os que apresentam maior distribuição geográfica no Brasil, sendo registradas em diferentes ambientes aquáticos continentais em amostras de plâncton, sedimento e fauna associada às macrófitas aquáticas (LANSAC-TÔHA et al., 2000; VELHO et al., 2000, FULONE et. al., 2005; ARRIEIRA et al., 2016) (Figura 2).

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Figura 2. Alguns dos principais táxons encontrados na sub-bacia do igarapé Quinoá. 1. Arcella rota, 2. Lesquereusia modesta, 3. Arcella brasiliensis, 4. Lesquereusia epistomium, 5. Difflugia urceolata, 6. Centropyxis aculeata.

O ponto 1 que se encontra a montante, com base no índice de diversidade calculado, apresentou uma fauna de amebas testáceas com maior diversidade de espécies, mostrando que a diversidade aumenta de acordo com a estruturação e diversificação do habitat ao longo do igarapé. A distribuição da riqueza e diversidade dos organismos pode ser avaliada conforme o espaço, entre os pontos de amostragem. Na análise entre os pontos avaliadas, ocorreu diminuição no número de organismos no ponto mais próximo a foz (P2) e um aumento no próximo à cabeceira (P1). É importante ressaltar que a assembleia de invertebrados tem o diferencial de responder rapidamente às alterações ambientais, seja por valores de abundância, de riqueza e diversidade (VIEIRA et al., 2015; SCHWIND et al., 2013).

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Tabela 2. Média e desvio padrão das variáveis físicas e químicas na sub-bacia do igarapé Quinoá, nos meses de fevereiro e julho de 2018, em 2 pontos de coletas (Cond= Condutividade, OD= Oxigênio; Profu= Profundidade; Temp= Temperatura)

P1 P2 Coleta Cond Cond OD Profu Temp (µScm- OD Profu Temp µScm-1 ( ) (mg/L) pH (m) (ºC) 1) (mg/L) pH (m) (ºC) Fev/18 150,7 4,1 6,5 151 27,41 295,2 5,9 6,6 89 29,2 Jul/18 200 3,6 5,8 71 28,4 195,8 4,7 5,6 51 30,2 Desvio padrão 34,86 0,35 0,49 56,57 0,70 70,29 0,85 0,71 26,87 0,71

As variáveis Condutividade, Oxigênio dissolvido, Temperatura e profundidade, estiveram dentro dos valores esperados, alguns autores como Maggi et al. (2019) e Moraes et al. (2020) já estudaram este ecossistema e encontraram esse mesmo padrão com os valores para o pH levemente ácido, baixos valores de profundidade, temperatura variando entre 26 a 28 ºC e a condutividade elétrica não ultrapassando o valor de 300 µScm-1. Observou-se que os altos valores de condutividade no período caracterizado como alta das águas foram determinantes na distribuição das espécies, uma vez que a maioria das espécies não ocorreram neste período, de forma que no período de seca essas espécies foram ocorrentes. Os valores de condutividade elétrica, temperatura e oxigênio dissolvido foram maiores no ponto de amostragem número 2, localizado próximo a foz do igarapé, que se caracteriza por possuir intensa urbanização em seu entorno (Tabela 2). Esse fato pode ser explicado pela entrada de matéria orgânica proveniente de lançamentos inadequados de efluentes ou pela falta de mata ciliar em alguns pontos da bacia hidrográfica que permite que os íons sejam carregados para o corpo hídrico. Comparando-se os resultados com os estudos realizados por Rocha e Thomaz (2014). Com relação à lista das espécies dos protistas testáceos, estas caracterizam-se como novas ocorrências, referem-se ao primeiro registro de tecamebas associadas às macrófitas ao estado do Acre e da sub bacia do igarapé Quinoá. Na figura 2 visualiza-se alguns espécimes fotografados durante o estudo. Alguns gêneros só ocorreram em um dos pontos e período analisado, como exemplo o gênero Nebella, esse táxon é típico de ambientes lóticos e possui, ainda, um grande interesse como bioindicador de águas de boa qualidade. Estes organismos são sensíveis ao aumento da carga orgânica, sendo que a grande maioria das espécies são estenoiônicas –

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não ocorrem em pH acima de 7,0. Segundo os estudos realizados no Hemisfério Norte, as espécies preferem ambientes com musgos e “sphaignes”, onde há grande oferta de oxigênio dissolvido, sendo que muitas espécies são herbívoras e algumas são carnívoras – ingerem outras tecamebas (OGDEN et al., 1980). Como este gênero esteve representado nas águas da sub bacia do igarapé Quinoá e em apenas um dos pontos estudados (P1), a indicação de boa qualidade das águas pôde ser confirmada.

4. CONCLUSÃO

A riqueza das amebas testáceas registradas neste trabalho (42 taxas) foi expressiva, mesmo se tratando de um ambiente com interferência humana. As espécies coletadas nos dois períodos do estudo não são as mais similares entre si em ambos os pontos analisados, mesmo com alterações significativas na temperatura e no pH da água. Isso pode indicar uma maior resistência das espécies às mudanças no meio. Deste modo, as espécies podem ser tolerantes a condições ambientais. A comunidade de amebas testadas planctônicas ocorreu predominantemente durante os períodos de seca. A maior abundância de organismos também pode estar relacionada às adaptações morfológicas das espécies encontradas nesses ambientes aquáticos. As variáveis ambientais relacionadas à produtividade primária parecem ser importantes para a diversidade de amebas testadas, com ambientes mais produtivos sendo associados a maior diversidade de espécies devido à maior disponibilidade de recursos alimentares. Apesar da riqueza de táxons encontrada, constatou-se que as tecamebas são frequentes na região, evidenciando, portanto, a necessidade de aumentar os esforços de coleta, além de intensificar o estudo desses organismos temporalmente e espacialmente na região. Esta pesquisa contribui para o levantamento de amebas testáceas no estado do Acre, incluindo novos registros. Estudos adicionais para esta região devem ser intensificados, de modo a revelar a biodiversidade ainda tão desconhecida das amebas testáceas e suas estratégias de colonização e permanência nestes ambientes aquáticos.

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5. REFERÊNCIAS

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A RIQUEZA DE MACROFUNGOS NO SUDOESTE DA AMAZÔNIA, BRASIL

Felipe Sant’ Anna Cavalcante1, Milton César Costa Campos2 e Janaína Paolucci Sales de Lima1

1. Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Humaitá, Amazonas, Brasil; 2. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Campus III, Departamento de Solos e Engenharia Rural, Paraiba, Brasil.

RESUMO A floresta amazônica, por oferecer grande quantidade de recursos naturais, é um dos biomas que vem sofrendo grande pressão ambiental e o uso sustentável que leva em conta fatores social, econômico e ecológico é extremamente importante na proteção da floresta. Diante deste contexto, este trabalho teve por objetivo, apresentar a caracterização das espécies que constituem ocorrências de macrofungos para o Sul do Amazonas, contribuindo com a ampliação dos conhecimentos da distribuição geográfica dos espécimes encontrados. Esta pesquisa foi realizada na Base de Selva Tenente Pimenta localizado a 20 km do Município de Humaitá-AM. As coletas foram realizadas em dois períodos distintos, nas trilhas pré- existente da Base de Selva Tenente pimenta (54º BIS). Foram encontrados 115 espécimes pertencentes a 11 famílias, identificando-se espécies dos grupos e . Constatou-se a presença de 37 espécimes da família Polyporaceae, 27 espécimes da família e 20 espécimes da família Ganodermataceae. Os dados relativos aos períodos de coletas dos fungos macroscópicos durante o período de agosto de 2019 e novembro de 2019. No mês de agosto de 2019, período de seca na Amazônia, com poucas chuvas, se coletou 70 espécimes de macrofungos. Enquanto que no mês de novembro, período chuvoso na Amazônia, se coletou 105 espécimes de macrofungos. O levantamento de dados obtidos a partir dessa pesquisa servirá de base para novos estudos no Amazonas, uma vez que o mesmo é pioneiro na região do sul do estado. Porém, os fatores edafoclimáticos são pertinentes em diferentes épocas do ano. Palavras-chave: Fungos, Micologia, Basidiomycota, Sul do Amazonas e Amazônia.

ABSTRACT The Amazon rainforest, because it offers a large amount of natural resources, is one of the biomes that has been under great environmental pressure and sustainable use that takes into account social, economic and ecological factors is extremely important in protecting the forest. In view of this context, this work aimed to present the characterization of the species that constitute occurrences of macrofungi in the south of Amazonas, contributing to the

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expansion of knowledge of the geographic distribution of the specimens found. This survey was conducted at the Tenente Pimenta Jungle Base located 20 km from the Municipality of Humaitá-AM. The collections were carried out in two different periods, in the pre-existing trails of the Base of Selva Tenente Pepper (54º BIS). 115 specimens belonging to 11 families were found, identifying species from the groups Ascomycota and Basidiomycota. The presence of 37 specimens from the Polyporaceae family, 27 specimens from the Marasmiaceae family and 20 specimens from the Ganodermataceae family were found. Data on the collection periods of macroscopic fungi during the period of August 2019 and November 2019. In the month of August 2019, the dry season in the Amazon, with little rainfall, 70 specimens of macrofungi were collected. In November, a rainy season in the Amazon, 105 specimens of macrofungi were collected. The survey of data obtained from this research will serve as a basis for further studies in Amazonas, since it is a pioneer in the southern region of the state. However, edaphoclimatic factors are relevant at different times of the year. Keywords: Fungi, Mycology, Basidiomycota, Southern Amazon and Amazon.

1. INTRODUÇÃO

A Amazônia é a região com maior extensão de floresta tropical do mundo. É um bioma com características únicas, formado por vegetação de grande porte e densa, incluindo também mosaicos de vegetação conhecidas como campina e campinarana, e áreas alagáveis como a várzea e o igapó. Por oferecer grande quantidade de recursos naturais vem sofrendo grande pressão ambiental, e o seu uso sustentável leva em conta fatores social, econômico e ecológico (PRANCE, 1975; LISBOA, 1975; JUNK; PIEDADE, 2010; GARDNER et al., 2013). No entanto, o conhecimento da diversidade destes é muito incipiente, apresentando um grande descompasso no número de projetos e especialistas e um número subestimado de espécies existentes no bioma. Os estudos ecológicos em áreas tropicais que avaliam o comportamento da comunidade fúngica em locais de sucessão secundária da vegetação são escassos (CHAVERRI; VÍLCHEZ, 2006). Os macrofungos são organismos que apresentam estruturas reprodutivas macroscópicas, chamadas de ascomas e basidiomas, e são representantes importantes de Ascomycota e Basidiomycota, respectivamente (LODGE et al., 2004). Os fungos são os principais decompositores de matéria orgânica de origem vegetal nos ecossistemas florestais, atuando na ciclagem de nutrientes limitantes para a produção primária. Muitos deles, como saprotróficos ou decompositores são parte vital das conexões das teias alimentares de ecossistemas florestais, contribuindo na ciclagem de nutrientes (LODGE et al., 1996; URCELAY et al., 2004; MOORE et al., 2011).

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No mundo, estão descritas aproximadamente 99.000 espécies de fungos, sendo o Filo Basidiomycota considerado o grupo mais evoluído no reino, dado a complexidade de suas estruturas. Há registro de mais de 29.900 espécies, com cerca de 1.350 gêneros, em 130 famílias, sendo os Basidiomicetos o segundo maior grupo. No Brasil, o Filo possui 1.730 espécies divididas entre 376 gêneros. Em geral, são macroscópicos, variando em tamanho, forma e coloração; comumente mais conhecidos como cogumelos de chapéu e orelhas de pau (KIRK et al., 2001; KIRK et al., 2008; MAIA; CARVALHO, 2010). Desde meados do século XX, vários trabalhos têm sido desenvolvidos para aumentar o conhecimento sobre basidiomicetos presentes em ecossistemas brasileiros (SILVA, 2007). A ocorrência deste filo é mais frequente na floresta, pois são nestes lugares que os fungos encontram as condições que melhor garantem as suas necessidades fisiológicas, agindo como principais decompositores da matéria orgânica desempenhando papel de extrema importância para a manutenção dos ambientes, especialmente os ecossistemas florestais (SOUZA et al., 2006). Assim, realizaram-se as coletas na Base de Selva Tenente Pimenta, uma área de floresta sobre proteção do 54º Batalhão de Infantaria e Selva do Exército Brasileiro (54º BIS). Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo realizar o levantamento de macrofungos para o Sul do Amazonas, a fim contribuir com a ampliação dos conhecimentos da distribuição geográfica dos espécimes encontrados.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1 LOCAL DO ESTUDO

Humaitá é um município brasileiro localizado no interior do estado do Amazonas, pertencente à mesorregião do Sul Amazonense e microrregião do Madeira, sua população é de aproximadamente 52.354 habitantes (IBGE, 2017). Encontra-se às margens do Rio Madeira, possui área de 33.071,8000 km², módulo fiscal de 100 ha, fração mínima de parcelamento de 4 ha. O principal acesso é fluvial, com distância à capital de 591,03 Km, pode-se chegar ao município por meio das rodovias BR-230 e BR-319 ou transporte aéreo regular (INCRA, 2016).

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A coleta foi realizada na Base de Selva Tenente Pimenta localizada a 20 km do Município de Humaitá-AM (7º35’2.400”S 63º8’33.360”W) (Figura 1), o 54º BIS foi criado pelo Decreto no 71.785, de 31 de janeiro de 1973, sendo organizado com a 1ª Companhia do 54° Batalhão de Infantaria de Selva, de acordo com a Portaria Reservada Nº 079, de 12 de dezembro de 1974. É uma área de floresta de terra firme, na qual há áreas em processo de regeneração (floresta secundária) próximas às áreas de florestas primárias. As formas da vegetação indicam ambientes peculiares, como o regime hídrico, fertilidade natural e aeração do solo. Existe uma estreita relação entre o tipo de vegetação e as propriedades do solo sobre o qual essa vegetação ocorre (RESENDE et al., 1988; MARTINS et al., 2006).

Figura 1. Área de coleta do 54º BIS.

2.2 COLETA E IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS DO FILO BASIDIOMYCOTA

As coletas foram realizadas em dois períodos distintos, sendo agosto (período seco) e novembro (período chuvoso) de 2019 nas trilhas pré-existente do 54º BIS. A trilha foi escolhida de forma aleatória, onde se procuraram os macrofungos em todos os substratos como: troncos, galhos, folhas, dentre outros ambientes úmidos. Dessa maneira, utilizou-se

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um receptor GPS (Global Positioning System) para contribuir com os estudos de distribuição geográfica das espécies. A demarcação da área foi delimitada por transectos dispostos de 40m x 10m, determinando cada transecto distava aproximadamente 200m na trilha da reserva, aproximadamente a 100m da sede na linha reta, para isso foi utilizada uma trena e uma fita para auxiliar na demarcação da área. Quanto à identificação dos fungos, seguiu-se rigorosamente guias de macrofungos e as plataformas de banco de dados, incluindo o Index Fungorum para auxílio de taxonomia do reino Fungi e o Tree of Life Web Project que fornece informações sobre a diversidade e a filogenia dos Fungos. Para a identificação a nível morfológico de trabalhos realizados, para checagem da identificação foi realizada no laboratório de Biologia da Universidade do Amazonas. De acordo com Largent (1986), as principais características a serem anotadas são superfície pilear, superfície himenial e estipe. O sistema de classificação utilizado foi o proposto por Singer (1986), os materiais coletados foram identificados em nível de família e espécie, baseado em Dennis (1970), Singer (1975, 1986) e Pegler (1977). Por meio da quantidade das espécies registradas foi possível analisar os dados quantitativos, destacando a importância ecológica, alimentícia e medicinal. Por fim, os dados do levantamento fúngico realizados, foram tabulados com auxílio do software Microsoft Excel® e analisados de maneira descritiva.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 115 espécimes pertencentes a 11 famílias, identificando-se espécies dos grupos Ascomycota e Basidiomycota e os dados relativos aos períodos de coletas dos fungos macroscópicos durante o período de agosto de 2019 e novembro de 2019 (Figura 2). No mês de agosto de 2019, período de seca na Amazônia, com poucas chuvas, se coletou 70 espécimes de macrofungos. Enquanto que no mês de novembro, período chuvoso na Amazônia, se coletou 105 espécimes de macrofungos.

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Polyporaceae 37

Marasmiaceae 27

Ganodermataceae 20

Agaricaceae 6

Xylariaceae 6

Omphalotaceae 4 Família Hymenochaetaceae 3

Sarcoscyphaceae 3

Auriculariaceae 3

Hygrophoraceae 3

Pleurotaceae 3

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Nº de Espécie

Figura 2. Famílias identificadas na Base de Selva Tenente pimenta

A relação do período de coleta com os números de espécimes se dá pela sazonalidade, na coleta do mês de agosto houve um menor número de exemplares, visto que eles foram coletados em sazonalidade de período seco, mas houve uma grande representação pela família Polyporaceae. Enquanto que no mês de novembro houve um maior número de exemplares, onde a família Marasmiaceae se destacou em sazonalidade de período chuvoso, portanto o aparecimento dos corpos de frutificação dessa família é de maior frequência no período que se tem maior umidade para haver sua reprodução. A sazonalidade é das questões mais importantes quando se tenta estimar a diversidade macrofúngica, dependendo o aparecimento dos basidiomas de fatores como a temperatura, precipitação, pH do solo, disponibilidade de nutrientes e os padrões de sucessão da vegetação. São escassos na literatura estudos relativos à distribuição sazonal de fungos macroscópicos e a maior parte dos que existem aborda apenas os fungos micorrízicos (CARVALHO; AMAZONAS, 2002; GIACHINNI et al., 2004). Segundo Serra (2017), a dependência dos fungos em relação aos fatores bióticos e abióticos determina seu papel como um instrumento bioindicador para avaliar o impacto das mudanças climáticas e a influência da ação antrópica. O acompanhamento da sazonalidade dos corpos de frutificação assim como da sucessão de espécies fúngicas de uma região ao

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longo do tempo pode auxiliar na avaliação da sustentabilidade do ambiente. Por esse motivo o monitoramento, a coleta e o registro das espécies devem ser realizados de forma contínua. A disponibilidade dos macrofungos na natureza apresentou referências climáticas, onde a sazonalidade é bastante observada pelos informantes quando descreveram em qual estação do ano é encontrada e o que precisam para crescerem. Na visão dos informantes, a diversidade de fungos tem diminuído devido à "escassez" de chuva, sendo mais predominantes as espécies conhecidas como orelhas-de-pau (SOUSA et al., 2015). Em geral, os fungos dependem das variáveis ambientais, incluindo dessa forma as precipitações ocorrentes, umidade do solo, temperatura e variedade de substratos existentes (LAZAROTTO et al., 2014). As três famílias que tiveram maior ocorrência foram Polyporaceae, Marasmiaceae e Ganodermataceae, as quais estão descritas no decorrer deste trabalho, quanto a sua taxonomia e ecologia. A família Polyporaceae apresentou maior número de gêneros e espécies no período de seca no mês agosto de 2019. O maior número de espécies observado em Polyporaceae já era esperado, já que essa família está entre as que apresentam maior diversidade específica entre os fungos poliporóides (ALEXOPOULOS et al., 1996). Esses resultados corroboram com estudos sobre fungos macroscópicos no Brasil e no Estado do Amazonas. Para a Amazônia e Amazonas, Gomes-Silva e Gibertoni (2009a, 2009b) divulgaram uma lista dos fungos , com 216 espécies para a ordem , divulgando o maior número de espécies 146, de famílias 07 e de gêneros 61. Para Rondônia Capelari e Maziero (1988) fazem referência a 28 espécies de fungos Agaricomycetes poróides. No Amapá, Sotão et. al. (1991) divulgaram uma relação de 33 espécies de Basidiomicetos, sendo 20 táxons de Agaricomycetes poróides onde a família Polyporaceae apresentou maior número de representantes. E na presente pesquisa, constatou-se a presença de 37 espécimes da família Polyporaceae, pertencentes a 11 espécies e sete gêneros. Todas as espécies identificadas apresentam importância alimentícia, ecológica ou medicinal; 27 espécimes da família Marasmiaceae, pertencentes a nove espécies e cinco gêneros. Algumas das espécies identificadas apresentam potencialidades no quesito alimentícia, ecológica ou medicinal dependendo da espécie e são encontradas em ambientes úmidos como, por exemplo, a serapilheira; e 20 espécimes da família Ganodermataceae, pertencentes a cinco espécies e dois gêneros. Verificou-se que as espécies identificadas apresentam importância médica

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sendo bastante utilizadas em rituais religiosos, demonstrando assim uma riqueza para o estado do Amazonas. Albuquerque (2006) aponta que a família Agaricaceae geralmente possui basidiomas frágeis, de consistência carnosa, muitas vezes putrescentes, o que os torna muito mais sensíveis às variações climáticas com oscilação de umidade. Nas estações de seca as famílias de fungos com características mais resistentes são favorecidas e, em contrapartida, os fungos denominados frágeis não prevalecem (SANTOS et al., 2017). A família Marasmiaceae, ordem , subclasse Agaricomycetidae, classe Agaricomycetes, subfilo Agaricomycotina, filo Basidiomycota, reino Fungi são quase cosmopolitas, a familia é um dos mais numerosos em espécies e ocorre com maior abundância em regiões tropicais do que em regiões temperadas ou mais frias (SINGER 1986; ANTONÍN; NOORDELOOS, 2010). As espécies do gênero são essencialmente saprofíticas, degradando detritos vegetais (serapilheira) em áreas florestais úmidas e com boa cobertura vegetal, desempenhando um papel ecológico importantíssimo que é a ciclagem de nutrientes nas florestas. Algumas poucas espécies, como oreades (Bolton) Fr., ocorrem em áreas sem cobertura e ensolaradas como gramados ou cobertas por plantas herbáceas, porém a maioria desenvolve-se melhor em ambientes sombreados. Ganodermataceae foi à terceira família com maior quantidade de espécies, logo é caracterizada principalmente por apresentar basidiomas pileados, sésseis a estipitados, poroides, sistema hifal di-trimítico com presença de hifas esqueletais arboriformes e/ou esqueleto ligadoras e pela presença de basidiósporos com parede dupla, onde a interna apresenta ornamentação, sendo esta, uma característica exclusiva do táxon (FURTADO, 1962; RYVARDEN, 2004). A família foi proposta em 1948 para compreender os gêneros Amauroderma Murril e Ganoderma Karst, previamente pertencentes à subfamília Ganodermatoideae Donk de Polyporaceae Corda (FURTADO 1981; MONCALVO; RYVARDEN, 1997). Ganodermataceae apresenta distribuição cosmopolita, com variação aproximada de 117 a 220 espécies descritas, de acordo com Kirk et al. (2010) e Moncalvo; Ryvarden (1997), respectivamente. As espécies são causadoras de podridão branca na madeira ou estão associadas a raízes de árvores vivas ou mortas (FURTADO, 1981; RYVARDEN, 2004). Outras famílias representantes foram registradas pelo filo Basidiomycota sendo eles: Agaricaceae, Omphalotaceae, Hygrophoraceae, Hymenochaetaceae, Pleurotaceae e pelo filo Ascomycota, sendo eles: Sarcoscyphaceae, . Os Ascomycota e Basidiomycota são grupos irmãos tendo sido denominados Neomycota por CAVALIER –

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SMITH, 1998. O filo Ascomycota compreende o maior grupo do reino Fungi, constituído de aproximadamente 75% de todos os fungos descritos. Moura e Aguiar (2001), cita em seu estudo a diversidade de fungos macroscópicos da Reserva Biológica Walter Alberto Egler, Rio Preto da Eva, Amazonas, coletaram duas espécies de Marasmius sp. e Oudemansiella steffenii. Souza e Aguiar (2004), três anos após, identificaram 39 espécies, pertencentes a seis famílias: Agaricaceae, Entolomataceae, Hygrophoraceae, Polyporaceae, Tricholomataceae e Russulaceae. Os gêneros mais ocorrentes foram: Ganoderma sp. (10 ocorrências), Marasmius sp. e Polyporus sp. (nove ocorrências cada), Trametes sp. (oito ocorrências), Amauroderma sp. (seis ocorrências), Caripia montagnei, Panus velutinus e Xylaria sp. (quatro ocorrências cada), Hygrocybe sp., Marasmius Haematocephalus e Panus strigellus (Berk.) Overh (três ocorrências). Enquanto que as demais espécies apresentaram uma ou duas ocorrências. O genêro Ganoderma sp. é o maior da família Ganodermataceae, sendo cosmopolita e causador de podridão branca na madeira pela decomposição da lignina, celulose e outros polissacarídeos. Cresce em várias espécies de árvores, muitas de importância econômica como palmeiras, seringueiras, pessegueiros entre outras causando grandes danos à produção e, como consequência, grandes prejuízos, além de atacar árvores urbanas causando a deterioração das raízes, colo e ou tronco de árvores (ADASKAVEG et al., 1993; ARIFFIN et al., 2000). Os fungos poróides podem causar dois tipos de podridão de madeira: marrom e branca. Os fungos que secretam enzimas que degradam a celulose e a hemicelulose são denominados causadores de podridão marrom, reduzindo o substrato a pedaços cúbicos amarronzados, quebradiços, fendidos e rachados no sentido das fibras, devido à presença da lignina residual; e os que, além dessas substâncias também degradam a lignina, são denominados causadores de podridão branca, que deixam o substrato com aparência esbranquiçada, macia, fibrosa e esponjosa (RYVARDEN, 1991; SAMUELSSON et al., 1994). No entanto, por apresentar essa capacidade de decomposição, podem ser um problema para a economia do país, pois causam deterioração de postes, pontes, reservas de madeira em armazéns e mesmo de espécies arbóreas aproveitáveis pelo homem. A família Marasmiaceae são quase cosmopolitas, um dos mais numerosos em espécies e ocorre com maior abundância em regiões tropicais do que em regiões temperadas ou mais frias (SINGER, 1986; ANTONÍN; NOORDELOOS, 2010). As espécies do gênero são essencialmente saprofíticas, degradando detritos vegetais (serapilheira) em áreas florestais úmidas e com boa cobertura vegetal, desempenhando um papel ecológico importantíssimo

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que é a ciclagem de nutrientes nas florestas. Algumas poucas espécies, como Marasmius oreades (Bolton) Fr., ocorrem em áreas sem cobertura e ensolaradas como gramados ou cobertas por plantas herbáceas, porém, a maioria desenvolve-se melhor em ambientes sombreados. Ganodermataceae Donk (Polyporales) é bem delimitada devido às características dos basidiósporos que não são encontrados nas demais famílias de fungos poliporóides: globosos a elipsóides, com paredes duplas, sendo a interna ornamentada, espessa e geralmente colorida, e a parede externa lisa, fina e hialina (GILBERTSON; RYVARDEN, 1986; RYVARDEN, 2004). Características como dimensões e ornamentações dos basidiósporos, bem como a estrutura da cobertura pilear, são imprescindíveis para a identificação das espécies de Ganodermataceae (FURTADO, 1981; RYVARDEN, 2004). Os fungos poróides podem causar dois tipos de podridão de madeira: marrom e branca. Os fungos que secretam enzimas que degradam a celulose e a hemicelulose são denominados causadores de podridão marrom, reduzindo o substrato a pedaços cúbicos amarronzados, quebradiços, fendidos e rachados no sentido das fibras, devido à presença da lignina residual; e os que, além dessas substâncias também degradam a lignina, são denominados causadores de podridão branca, que deixam o substrato com aparência esbranquiçada, macia, fibrosa e esponjosa (RYVARDEN, 1991; SAMUELSSON et al., 1994). No entanto, por apresentar essa capacidade de decomposição, podem ser um problema para a economia do país, pois causam deterioração de postes, pontes, reservas de madeira em armazéns e mesmo de espécies arbóreas aproveitáveis pelo homem. A família Polyporaceae apresentou maior número de gêneros e espécies no período de seca no mês agosto de 2019. O maior número de espécies observado em Polyporaceae já era esperado, já que essa família está entre as que apresentam maior diversidade específica entre os fungos poliporóides (ALEXOPOULOS et al., 1996). Esses resultados corroboram com estudos sobre fungos macroscópicos no Brasil e no Estado do Amazonas. Para a Amazônia e Amazonas, Gomes-Silva; Gibertoni (2009a; 2009b) divulgaram uma lista dos fungos Agaricomycetes, com 216 espécies para a ordem Polyporales, divulgando o maior número de espécies 146, de famílias 07 e de gêneros 61. Para Rondônia Capelari; Maziero (1988) fazem referência a 28 espécies de fungos Agaricomycetes poroídes. No Amapá, Sotão et al. (1991) divulgaram uma relação de 33 espécies de Basidiomicetos, sendo 20 táxons de Agaricomycetes poróides, a família Polyporaceae apresentou maior número de representantes. Vale ressaltar que a Amazônia apresenta

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condições climáticas que favorecem o crescimento de um grande número de espécies de cogumelos. Os fungos da família Polyporaceae têm sua importância e características específicas, crescem em madeira morta, mas também em solo e folhedo degradando restos animais e vegetais, inclusive da micota (DONK, 1964). Além da importância biológica, os Agaricomycetes têm recebido especial atenção nas duas últimas décadas, devido ao seu potencial de aplicabilidade no tratamento de contaminantes ambientais como biorremediadores do solo e pela produção de antibióticos (SCHMIT; MUELLER, 2007). As espécies do gênero Marasmius sp. são, na sua maioria, saprófitas, ocorrendo principalmente na serapilheira, e sua maior importância, em termos ecológicos, é o papel que desempenham na ciclagem de nutrientes nas regiões tropicais e subtropicais. Algumas espécies são de importância na agricultura, pois causam doenças em plantações de chá, canade-açúcar (Marasmius sacchari Wakker, Marasmius plicatulus Peck, Marasmius stenophyllus Mont.), café (Marasmius viegasii Singer) e seringueiras (Hevea sp.) também é conhecida por formar "anéis de bruxa" em pastos e gramados (SINGER, 1986). Atualmente, Marasmius sp. comporta cerca de 500 espécies, a maioria de distribuição tropical (KIRK et al., 2001), mas este número pode ser muito superior chegando a aproximadamente 1.000 espécies (WILSON; DESJARDIN, 2005). Mais de 1.600 epítetos foram publicados no gênero, embora muitos sejam considerados sinônimos de outros táxons, nomes não válidos, nomes dúbios ou transferidos para outros gêneros (DESJARDIN et al., 2000). As espécies do gênero Polyporus sp. são reconhecidas, principalmente, por apresentarem basidiomas estipitados e sistema hifálico dimítico, com hifas esqueleto- conectivas ou do tipo “bovista”, isto é, com um eixo central, apresentando diferentes tipos de ramificações, geralmente arboriformes com ramos dicotômicos e os seguimentos ramificados terminando em pontas delgadas; contém hifas generativas com ansas e basidiósporos cilíndricos a subcilíndricos e sua seção de ecologia são saprófitas que crescem em troncos mortos de angiospermas principalmente (RYVARDEN, 1991). Hawksworth (2001) ressalta que, apesar da megadiversidade de fungos tropicais serem amplamente reconhecida, existe a necessidade de mais estudos sistemáticos, que ampliem não somente o conhecimento sobre a diversidade, mas também, sobre a relação destes com os organismos sobre os quais vivem e se alimentam. Dessa forma, Mendoza et al. (2018) firmam que a região amazônica é um centro de diversidade e abriga expressiva diversidade de fungos decompositores de matéria orgânica,

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configurando uma área de grande importância ecológica para a conservação do ecossistema, além de apresentar espécies comestíveis e medicinais. Porém, mais estudos devem ser realizados, uma vez que este é o primeiro levantamento realizado em uma das trilhas da área, abrangendo mais lugares, verificando assim a importância sistemática e aprofundamento do conhecimento dos basidiomicetos. O conhecimento sobre a biodiversidade amazônica ainda é restrito devido às constantes alterações ambientais, falta de investimento financeiro e falta de recursos humanos qualificados para efetuarem as coletas, o que contribui para baixa produção científica desta área do conhecimento. Existe neste contexto a necessidade de aumentar o conhecimento da micobiota endógena do Amazonas, tornando-se assim, imprescindível para avaliar a diversidade fúngica desta região. Segundo Moore e Frazer (2002) houve uma queda de identificações entre as décadas de 1980 e 2000, provavelmente porque a taxonomia clássica (morfológica) deixou de ser interessante, aliada a popularidade de outras áreas, a formação de profissionais em taxonomia clássica diminuiu. Muitas espécies da família Polyporaceae podem, nesse caso, ser extintas na região Amazônica mesmo antes de serem descritas (OLIVEIRA et al., 2015). A disponibilidade dos macrofungos na natureza apresentou referências climáticas, onde a sazonalidade é bastante observada pelos informantes quando descreveram em qual estação do ano é encontrada e o que precisam para crescerem. Na visão dos informantes, a diversidade de fungos tem diminuído devido à "escassez" de chuva, sendo mais predominantes as espécies conhecidas como orelhas-de-pau (SOUSA et al., 2015). Em geral, os fungos dependem das variáveis ambientais, incluindo dessa forma as precipitações ocorrentes, umidade do solo, temperatura e variedade de substratos existentes (LAZAROTTO et al., 2014).

4. CONCLUSÃO

O levantamento de dados obtidos a partir dessa pesquisa servirá de base para novos estudos no Amazonas, uma vez que o mesmo é pioneiro na região do sul do estado. Existe uma grande diversidade de macrofungos na área de estudo, porém, os fatores edafoclimáticos são pertinentes em diferentes épocas do ano, uma vez que a área é de

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extrema importância para conservação e reconhecimento da biodiversidade da funga local, abrigando uma expressiva diversidade de fungos macroscópicos. O conhecimento sobre a riqueza e distribuição das espécies no bioma Amazônia fornece importantes subsídios para a bioprospecção da micobiota, visando à exploração do seu potencial para diferentes usos. Portanto, é imperativo afirmar que há necessidade de estudos taxonômicos em áreas amazônicas, de modo a fornecer subsídios para elaboração de estratégias que visem à conservação e restauração dessas áreas.

5. AGRADECIMENTOS

A 1ª Companhia do 54° Batalhão de Infantaria de Selva (54º BIS), pela parceria e auxilio dos militares durante as coletas no local e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor.

6. REFERÊNCIAS

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MACROFUNGOS DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL LAGO DO AMAPÁ E NOVAS OCORRÊNCIAS PARA O ESTADO ACRE

Chirley Gonçalves da Silva1, Márcia de Araújo Teixeira-Silva2, Marcos Silveira1,2

1. Universidade Federal do Acre, Laboratório de Botânica e Ecologia Vegetal, Rio Branco, Acre, Brasil; 2. Universidade Federal do Acre, Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Biotecnologia (Bionorte), Rio Branco, Acre, Brasil.

RESUMO Os macrofungos são conhecidos por produzirem corpo de frutificação facilmente visíveis a olho nu, popularmente chamados de cogumelos. A maioria pertence à ordem Basidiomycota, algumas são Ascomycota, e incluem espécies parasitas, sapróbias e micorrízicas. São importantes para o ambiente, pois auxiliam na degradação de matéria orgânica e consequente ciclagem de nutrientes. Este estudo apresenta uma lista das novas ocorrências das espécies de fungos registradas na Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, localizada na capital do Estado do Acre, Rio Branco, sudoeste da Amazônia. As coletas foram realizadas de setembro /dezembro de 2018, Janeiro /Dezembro de 2019 e Janeiro/Março de 2020. Coletamos 192 corpos de frutificação, sendo 164 basidiomicetos e 28 ascomicetos, distribuídos em 11 ordens, 26 famílias, 51 gêneros e 101 espécies. Dentre os fungos coletados registramos 15 espécies inéditas para o Acre. A Área de proteção Ambiental Lago do Amapá abriga uma alta diversidade de espécies de macrofungos, algumas delas facilmente observadas durante as visitas auto-guiadas e por isso a continuidade do levantamento deles nessa área é importante. Palavras-chave: Unidade de conservação, Magrofungos e Diversidade.

ABSTRACT Macrofungi are known to produce fruiting bodies easily visible to the naked eye, popularly called mushrooms, and because of the role they play in the degradation of organic matter and, consequently, in the cycling of nutrients. They include parasitic, saprobic and mycorrhizal species, most belong to the order Basidiomycota, and some are Ascomycota. From the collection of 192 fruiting bodies in the Área de Proteção Ambiental (APA) Lago do Amapá, Rio Branco, Acre, southwestern Amazon, for 18 months, we present a list with 101 species of macrofungi, of which 164 are basidiomycetes and 28 ascomycetes -, distributed in 11 orders, 26 families and 51 genders. among them, 15 species with unprecedented occurrence in Acre. The APA Lago do Amapá is home to a high diversity of species of macrofungi, some of which are easily observed during self-guided visits, which reinforces its importance for the conservation of biodiversity and the continuity of the survey of this group in the area. Keywords: Macrofungi, Biodiversity and Protected área.

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1. INTRODUÇÃO

Os macrofungos são conhecidos por produzirem corpo de frutificação facilmente visíveis a olho nu, conhecidos por cogumelos, e são organizados em dois grandes grupos: Ascomycota, cujos esporos sexuados (ascosporos) são produzidos por células especializadas chamadas ascos, internamente em esporóforos – os ascomas - e Basidiomycota, cujos esporos sexuados (basidiosporos) se formam externamente no basídio, no interior de esporóforos chamados basidiomas (NUSBAUMER et al., 2015). Comparada com a flora vascular composta de 14.006 espécies (CARDOSO et al., 2017), a flora fúngica da Amazônia brasileira está longe de ser sistematizada. Com base na literatura, Gomes-Silva e Gilbertoni (2009) produziram um checklist com 217 espécies, 90 gêneros, 22 famílias e nove ordens de macrofungos para a Amazônia brasileira. No Catálogo de Plantas e Fungos do Brasil, Maia et al. (2010) listaram 1.050 para o esse Bioma. A lista online da Flora do Brasil (FUNGI, 2020) disponibiliza na sua base de dados, 971 nomes de fungos parasitas, sapróbios e simbiontes aceitos para a Amazônia, 99 deles encontrados no Acre. A flora vascular do Acre (incluindo as briófitas), com 4.351 táxons, pode ser considerada relativamente bem conhecida (DALY; SILVEIRA, 2009; MEDEIROS et al., 2014), mas pouco sabemos sobre a funga no estado, uma vez que o conhecimento sobre o grupo na Amazônia ainda é fragmentado e concentrado nos grandes centros onde há especialistas ativos(SOUZA; AGUIAR, 2004). Na área urbana de Rio Branco, Bononi (1992) identificou 49 espécies de basidiomicetos e ascomicetos, distribuídas em 36 gêneros e 12 famílias, dentre as quais, seis são agaricoides. Wartchow et al. (2014) descreveram duas espécies novas de Oudemansiella Speg. coletadas na Fazenda Experimental Catuaba, município de Senador Guiomard. Outros dados estão restritos a uma dissertação de mestrado, conduzida por Santos (2017) no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre, onde foram encontradas 56 espécies de Basidiomycota, correspondendo a 30 gêneros e 11 famílias, sendo 14 espécies, consideradas novas ocorrências para o Acre (SANTOS; GILBERTONI; CARVALHO, under review). Com vistas a contribuir com a ampliação do conhecimento sobre os macrofungos do Acre, este trabalho apresenta dados sobre a riqueza de fungos macroscópicos encontrados

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na Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, uma lista de espécies para a Unidade de Conservação, e a ocorrência de novos táxons para o estado, assim como, a descrição morfológica destas.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1 ÁREA DE ESTUDO

As coletas foram realizadas na Área de Proteção Ambiental (APA) Lago do Amapá (Figura 1), uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável situada na margem direita do Rio Acre, a 12 km do centro da cidade de Rio Branco-AC (10º 00’ 0’’ S e 10º 04’ 30’’S e 67º 52’ 30’’ e 67º 48’ 00’’). Criada por meio do Decreto Estadual Nº 13.531 de 26 de dezembro de 2005, a APA possui uma área de 5.208 ha e 31.879 m de perímetro. Ela é administrada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, e monitorada e fiscalizada pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre, em articulação com os demais órgãos públicos federais, estaduais e municipais.

Figura 1. Localização da Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, no município de Rio Branco, Estado do Acre.

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2.2 COLETA DE DADOS

As coletas foram realizadas no período de setembro a dezembro de 2018, janeiro a abril de 2019 e janeiro a março de 2020. Os macrofungos foram coletados, preponderantemente, ao longo de uma trilha de 4,5km de extensão que ladeia o meandro abandonado, mas também nos roçados e quintais dos moradores da área. Todos os espécimes coletados foram fotografados com uma câmera digital, sendo dada atenção especial ao píleo e às lamelas. Na caderneta de campo, foram registrados o habitat, tipo de substrato e características morfológicas do corpo de frutificação do fungo. Após o registro, os espécimes foram removidos completa e cuidadosamente do substrato por inteiro com o auxílio de um canivete, a fim de se evitar danos à base do estípite, e então, acondicionado individualmente em sacos de papel, potes de plásticos e uma maleta, para evitar a mistura de esporos e eventuais danos aos espécimes. O material coletado foi levado para análise macroscópica no Laboratório de Botânica e Ecologia Vegetal da Universidade Federal do Acre, através de um estereomicroscópico binocular e a olho nu, onde foram observados os seguintes descritores morfológicos dos Basidiomycota e Ascomycota: a) Basidioma/Ascoma: estatura (altura x largura), hábitat e tipo de substrato; b) Píleo: diâmetro, forma, superfície, cor, margem, e coloração do contexto; c) lamelas: forma, cor, inserção no estípite, margem e consistência; d) Estípite: tamanho, forma, cor, consistência e características da base. As medidas da largura e diâmetro do píleo, bem como o comprimento do estipe, foram realizadas com régua milimétrica. Após a observação das características macroscópicas, os espécimes foram desidratados em estufa (±40 ºC) por 24 a 48 horas (dependendo da consistência e fragilidade do material) para herborização. Os basidiomas e ascomas desidratados foram acondicionados em envelopes de papel e sacos plásticos com naftalina, para preservação do (s) espécime (s) e alguns no álcool 70º.

2.3 ANÁLISE DE DADOS

A identificação dos espécimes coletados foi realizada com o auxílio de literatura especializada sobre macrofungos, principalmente do Brasil e da América do Sul. A classificação das famílias foi baseada em Hibbet et al. (2014) e Indexfungorum (http://www.indexfungorum.org/). Para a identificação dos gêneros e espécies, foram utilizadas monografias, principalmente, Pegler (1983, 1997), Singer e Digilio (1951), Singer

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(1986) e Bononi (1992). Também guias de campo do reino Fungi da região América tropical, produzidos pelo Field Museum (https://fieldguides.fieldmuseum.org/pt-br). Uma outra ferramenta utilizada foi o Inaturalist (https://www.inaturalist.org/), um aplicativo focado na ciência cidadã que conecta naturalistas, cientista e biólogos com o objetivo de construir e mapear a biodiversidade em todo o globo partilhando observações.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 RESULTADOS

3.1.1 Riqueza de Macrofungos

Foram coletados 192 corpos de frutificação, sendo 164 basidiomicetos e 28 ascomicetos, distribuídos em 11 ordens, 26 famílias, 51 gêneros e 101 táxons (Figura 2), 32 deles identificados até o nível específico, 69 apenas até o nível genérico (Tabela 1). Cyathus striatus, um Agaricales, ainda permanece com posição incerta. Polyporaceae, Marasmiaceae, Xylariaceae, Hygrophoraceae e Geastraceae, as famílias com mais de quatro espécies, congregam 50,49% da riqueza de macrofungos registrada na APA. Os gêneros Marasmius (13 spp.), Xylaria (nove spp.) Hygrocybe (seis spp.) e Geastrum (cinco spp.) são os mais especiosos e congregam 31,68% das espécies conhecidas na área (Figura 3). Entre as espécies estão dois fungos entomopatogênicos (parasitas de insetos), Akanthomyces tuberculata, um dos novos registros para o Acre, que infecta os Lepidóptera (borboletas e mariposas), enquanto Ophiocordyceps sp.1, infecta vários grupos de insetos, mas é conhecido como o fungo da formiga zumbi pelo fato de atacar e manipular o comportamento locomotor das formigas para favorecer a dispersão dos esporos (ARAÚJO et al., 2018). Sendo um grupo ainda pouco conhecido, três espécies foram descritas recentemente para a Amazônia (ARAÚJO et al., 2015). Dentre os 101 táxons registrados na APA, 15 constituem registros inéditos para o Acre (Figura 4). Polyporaceae, Sarcoschyphaceae e Xylariaceae contribuíram com dois registros novos cada uma. Os espécimes coletados presentam-se bem diversificados em relação aos 14 tipos de substratos em que se encontravam. Os seguintes substratos: tronco, serrapilheira, solo e

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galho correspondem 92,18% de 192 corpos de frutificação encontrados na APA. Os fungos são recicladores de nutrientes do meio ambiente agem no processo de decomposição do substrato e fertilização do solo. Segundo Hedger (1985), os fungos saprotróficos da serapilheira contribuem substancialmente para esses processos (apud BRAGA-NETO et al, 2008). A produção de serapilheira fina representa a maior parte da entrada de biomassa para o sistema de decomposição em florestas tropicais (LUIZÃO, 1989). Esses organismos exibem grande variedade morfológica e adaptativa a muitos ambientes, podendo estar associados a uma grande variedade de substratos, o que inclui sedimentos, troncos de árvores em decomposição, entre outros (HYDE; ALIAS, 2000).

Figura 2. Espécies de macrofungos coletadas na Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, Rio Branco, Acre.

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Tabela 1. Espécies de macrofungos da Área de Proteção Lago do Amapá, Rio Branco, Acre. Família/gênero/espécie Voucher Substrato INCERTAE SEDIS Cyathus striatus (Huds.) Willd. * CGS52 Tro AGARICACEAE Leucocoprinus cretaceus (Bull.) Locq.1945 CGS42 Tro Leucocoprinus sp. Pat.1888 CGS97 Ser Macrolepiota colombiana Franco-Mol.1999 * CGS21 Sol Tulostoma sp. Pers.1794 CGS146 Ser AURICULARIACEAE Auricularia sp. Bull.1780 (incl.2 ssp.). CGS63 Tro CLAVARIACEAE Clavaria sp. P. Micheli 1729 (incl.3ssp.). CGS134 Pse Clavulinopsis sp. Overeem 1923 CGS168 Sol Ascopolyporus sp. Möller 1901 (incl.2 ssp.). CGS25 Col Akanthomyces tuberculata (Lebert) Maire.1917 * CGS129 Lep Ophiocordyceps sp. Petch 1931 CGS128 Lep GEASTRACEAE Geastrum sp. Pers. 1794 (incl.5 ssp.). CGS60 Ser HYGROPHORACEAE Hygrocybe sp. (Fr.) P. Kumm. 1871 (incl.6 ssp.). CGS34 Sol HYMENOCHAETACEAE Hymenochaete sp. Lév. 1846 CGS158 Ser HYPOXYLACEAE Phylacia poculiformis (Mont.) Mont. 1855 CGS21 Tro LYCOPERDACEAE Calvatia rugosa (Berk. & MA Curtis) DA Reid 1977 * CGS27 Sol Lycoperdon sp. Pers. 1794 (incl.2 ssp.). CGS51 Ser MARASMIACEAE Gerronema sp. Singer 1951 CGS43 Tro Marasmius sp. Fr. 1836 (incl.12 ssp.). CGS06 Tro Marasmius rhabarbarinus Berk. 1856 * CGS191 Ser Trogia cantharelloides (Mont.) Pat. 1900 CGS179 Ser vinctus (Berk.) Ryvarden 1972 CGS123 Tro Rigidoporus sp. Murrill 1905 (inclui.2 ssp.). CGS93 Tro MYCENACEAE Favolaschia sp. (Pat.) Pat. 1892 CGS55 Tro Filoboletus gracilis (Klotzschex Berk.) Singer 1945 CGS102 Tro Mycena sp. (Pers.) Roussel 1806 (incl.2 ssp.). CGS94 Tro OMPHALOTACEAE Marasmiellus sp. Murrill 1915 (incl.2 ssp.). CGS82 Gal PANACEAE caperatum (Berk. & Mont.) Reid 1956 CGS122 Tro Panus sp. Fr. 1838 (incl.3 ssp.). CGS07 Tro PHALLACEAE

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Phallus indusiatus Vent. & Pers 1801 * CGS159 Sol PHYSALACRIACEAE Dactylosporina sp. (Clémençon) Dörfelt 1985 CGS184 Ser Oudemansiella cubensis (Berk. & Curtis) Petersen 2010 * CGS153 Tro PLEUROTACEAE Pleurotus sp. (Fr.) P. Kumm. 1871 (incl.2 ssp.). CGS10 Tro PODOSYPHACEAE Podoscypha sp. Pat. 1900 (incl.3 ssp.). CGS13 Tro POLYPORACEAE Amauroderma sp. Murrill 1905 (incl.3 ssp.). CGS76 Sol Cerrena hydnoides (Sw.) Zmitr. 2001 CGS145 Tro Earliella scabrosa (Pers.) Gilb. & Ryvarden 198 CGS53 Tro Echinochaete brachypora (Mont.) Ryvarden 1978 CGS38 Tro Flabellophora sp. G. Cunn. 1965 CGS36 Tro Favolus tenuiculus P. Beauv. 1806 CGS101 Tro Ganoderma applanatum (Pers.) Pat. 1887 CGS20 Tro Ganoderma resinaceum Boud. 1889 * CGS147 Tro Hexagonia sp. Pollini 1816 CGS11 Tro Lentinus sp. Fr. 1825 CGS116 Gal Lentinus crinitus (L.) Fr. 1825 CGS104 Tro Lentinus velutinus Fr. 1830 * CGS149 Ser Pycnoporus sanguineus (L.) Murrill 1904 CGS106 Tro Trametes variegata (Berk.) Zmitr., Wasser & Ezhov 2012 CGS120 Tro PSATHYRELLACEAE Coprinellus disseminatus (Pers.) JE Lange 1938 * CGS67 Tro Psathyrella sp. (Fr.) Quél. 1872 CGS136 Tro PTERULACEAE Pterula sp. Fr. 1821 CGS167 Fop RICKENELLACEAE Cotylidia diaphana (Cooke) Lentz 1955 * CGS70 Sol SARCOSCYPHACEAE Cookeina speciosa (Fr.) Dennis 1994 * CGS57 Ser Cookeina tricholoma (Mont.) Kuntze 1891 CGS81 Gal Phillipsia domingensis (Berk.) Berk. ex Denison 1969 * CGS171 Gal STEREOPSIDACEAE Stereopsis sp. DA Reid 1965 CGS45 Ser TREMELLACEAE Tremella fuciformis Berk. 1856 CGS79 Gal XYLARIACEAE Xylaria sp.Hill ex Schrank 1789 (incl.6 spp.) CGS33 Tro Xylaria multiplex (Kunze) Fr. 1851 * CGS114 Tro Xylaria longipes Nitschke 1867 * CGS31 Tro Xylaria guianensis (Mont.) Fr. 1851 CGS177 Tro

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Figura 3. Distribuição da riqueza de macrofungos entre as famílias. (a) e gêneros (b) registrados na Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, Rio Branco, Acre.

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Figura 4. Espécies de macrofungos coletadas na Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, Rio Branco, Acre e que representam registros de novas ocorrências para o estado.

3.2 DESCRIÇÃO DAS NOVAS OCORRÊNCIAS PARA O ACRE

Macrolepiota colombiana Franco-Mol., Actualidades Biologicas 21 (70): 14 (1999). (Agaricales, Agaricaceae) Descrição morfológica: Píleo com 12 – 14 cm de diâmetro, plano convexo, umbonado, seco, areolado na metade marginal e deixando uma calota central inteira ou finamente areolada, marrom amarelado no centro e mais claro para as margens, com escamas ou aréolas pequenas a grandes sobre fundo branco, liso ou finamente fibriloso. Contexto

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carnoso, branco. Lamelas livres, próximas, laranja esbranquiçadas. Estipe central, cilíndrico e levemente subulboso. Anel membranoso apical, simples e móvel (PUTZKE et al., 2014). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 11.III.2018, SILVA.C. G-21 Notas de distribuições: Distribuição neotropical: Panamá e Colômbia (Ferreira et al. 2012). No Brasil região sul e sudeste: Paraná, Porto alegre, Minas gerais e Espírito santo (INCT, 2020).

Cyathus striatus (Huds.) Willd., Fl. berol. prodr.: 399 (1787) (INCERTAE SEDIS) Descrição morfológica: Basidioma infundibuliforme, 7-8 mm de altura, 5-7 mm de largura na boca. Não expandido na parte superior e não afilado na base. Exoperídio hirsuto, tufos irregulares de até 0,88 mm de comprimento, agregados em tufos, castanho. Superfície interna distintamente estriada, 0,33-0,44 mm de largura, brilhante prateado, contrastando interior com exterior (BARBOSA, 2015). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 17.XI.2018, SILVA.C. G-52 Notas de distribuições: Segundo Brodie (1975), possui distribuição cosmopolita em países temperados e tropicais, mas raramente são encontrados em regiões polares ou glaciais (apud LIMA, 2018). No Brasil, nas regiões Norte: AM, RR e PA; Nordeste: CE, PB, RN, PE e BA; Centro-Oeste: MS; Sudeste: MG, RJ e SP; Sul: PR, SC e RS (INCT, 2020).

Akanthomyces tuberculata (Lebert) Maire, Bulletin de la Société d´Histoire Naturelle de l'Afrique du Nord 8: 165 (1917). (, Cordycipitaceae) Descrição morfológica: Micélio branco recobre quase totalmente o corpo do hospedeiro. Com estroma claviforme a cilíndrico, irradiando do hospedeiro (Lepidoptera), com 1,6-2,5 cm, creme a amarelado, de consistência carnosa no ápice, superfície do estipe levemente tomentosa; região fértil terminal, apresentando peritécios em disposição regular, com ostíolos amarelados (KOBAYASI; SHIMIZU, 1980). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 24.VI.2019, SILVA.C. G -129. Notas sobre distribuição: Apresenta distribuição disjunta, sendo registrado para diversos países como: Brasil, China, República Democrática do Congo, Guiana, Índia, Japão, Coréia, Papua Nova Guiné, Filipinas, Sri Lanka, Venezuela (GBIF,2020). Na região Neotropical ainda é bastante limitado, devido escassez de dados acerca de diversidade, distribuição, hospedeiros, entre outros aspectos importantes para o conhecimento deste grupo de fungos (FRIEDRICH, 2015).

Calvatia rugosa (Berk. & MA Curtis) DA Reid, Kew Bulletin 31 (3): 671 (1977). (Agaricales, Lycoperdaceae) Descrição morfológica: Basidiomata 19 - 66 mm de altura, 23 - 83 mm de diâmetro, subglobose deprimida para turbinar ou piriforme, com base estéril pequena a grande e pseudorriza distinta. Exoperidium granuloso, furfurácea a subvelutinosa, membranoso, muito fino, rompendo irregularmente para expor endoperídio, caindo em flocos, marrom para marrom escuro (CORTEZ et al., 2012). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 11.III.2018, SILVA.C. G-27

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Notas de distribuições: Conhecido na Ásia, Europa, Austrália e Américas. No Brasil, conhecido do Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (ALVES et al., 2014).

Marasmius rhabarbarinus Berk., Hooker's J. Bot. Kew Gard. Misc. 8: 135 (1856). (Agaricales, Marasmiaceae) Descrição morfológica: Píleo convexo, margem crenada, laranja-escuro a laranja- ferruginoso com centro ferrugem, glabro, membranáceo, sulcado, 19-21 mm diâm. Lamelas livres, cor creme a creme-alaranjado, subdistantes a distantes, 13-15 por basidioma, margem concolor ao píleo, lamélulas em duas séries. Estipe central, cilíndrico, castanho a castanho- escuro com o ápice tornando-se alaranjado, glabro, com micélio basal creme, 75-80 × 1-2 mm. Esta espécie chama atenção pelo hábito solitário sobre folhas e madeira em decomposição na serapilheira; pelo píleo laranja com lamelas distantes, creme a creme- alaranjadas com lamélulas de dois tamanhos (PUCCINELLI; CAPELARI, 2009). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 20.III.2020, SILVA.C. G-191. Notas de distribuições: A distribuição geográfica de M. rhabarbarinus inclui regiões tropicais com Argentina e Venezuela (PUCCINELLI; CAPELARI, 2009). No Brasil, ocorre nos estados do Amazonas e São Paulo (INCT, 2020).

Ganoderma resinaceum (Boud., em Patouillard, Bull. Soc. mycol. Fr. 5 (2,3): 72 (1889). (Polyporales, Polyporaceae) Descrição morfológica: Basidioma até 50.0 cm de largura, pileado, séssil, não frequentemente estipitado, com estipe curto a longo, algumas vezes crescendo em prateleiras ou imbricados no substrato, ou ainda cespitoso formando um basidioma rosetado na base de árvores e/ou raízes; superfície himenial lacada e brilhante, de coloração marrom avermelhada a bege. Superfície himenial poróide. Contexto duplo em cores, sendo a zona acima dos tubos mais escura (marrom escuro), sem linhas negras. Estipe lacado e brilhante quando presente, mais escuro que a superfície himenial (SANTOS, 2010). Uma visão surpreendente quando jovem e não coberto por sua poeira de esporo marrom-avermelhada, esse fungo às vezes forma camadas de colchetes que ocasionalmente se fundem. Os suportes individuais têm 15 a 35 cm de diâmetro e 4 a 8 cm de espessura quando totalmente crescidos. A tampa do corpo frutífero tem uma margem amarelada clara e um belo topo marrom avermelhado tingido de laranja (FIRSTNATURE, 2020). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 21.IX.2019, SILVA.C. G-147. Notas de distribuições: é uma espécie cosmopolita (RYVARDEN, 2004). G. resinaceum é mais comum em algumas partes do norte e centro da Europa continental. Este fungo impressionante tem uma distribuição muito ampla: foi relatado no norte da África, Ásia, Austrália e nas Américas do Sul e do Norte (FIRSTNATURE, 2020). No Brasil, essa espécie foi registrada nas regiões Norte: RR, RO e PA; Nordeste: PB, PE, AL, SE e BA; Sudeste: SP; Sul: PR, SC e RS (INCT, 2020).

Lentinus velutinus Fr., Linnaea 5: 510 (1830). (Polyporales, Polyporaceae) Descrição morfológica: Píleo anual solitário ou em pequenos grupos unidos pelas bases dos estipes; membranoso quando fresco ou hidratado e coriáceo quando seco; circular, infundibuliforme, 1,5 a 9,0 cm diâm.; superfície dorsal com coloração amarelada a castanho- escuro (cor de couro quando tratado), ligeiramente velutina, tornando-se estriada nos bordos à medida que ocorre queda dos pelos; margens com densos pelos que alcançam até 1 mm

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compr. e eleva-se em feixes, involuta, de bordos sinuosos quando seco e planos quando afrescos; superfície ventral glabra com lamelas decurrentes, não anastomossadas na base e desaparecendo gradual- mente ao longo da pressa, de bordos lisos e uniformemente inteiros, pressa central, cilíndrica, rígida, marrom clara, reta ou sinuosa, bastante velutina com pelos castanhos- escuros (BARBOSA,1985). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 23.XII.2019, SILVA.C. G-159. Notas de distribuições: Ocorre em regiões tropicais e subtropicais. No continente da África, Ásia, Oceania e América do Norte e Sul (GBIF, 2020). Essa espécie não possui registro na região Nordeste: CE, AL, SE e MA; Sudestes: ES do Brasil (INCT, 2020).

Phallus indusiatus Vent. & Pers., Syn. Meth. Fung. 244. 1801. (Phallales, Phallaceae) Descrição morfológica: possui em média 8,0 a 15,0 cm de altura, formado por uma cabeça cônica, de 1,0 a 3,5 cm de largura, com superfície reticulada com uma abertura apical e coberta por uma massa pegajosa de uma cor verde oliva, onde estão os esporos. Estípite: de 7,0 a 12,5 cm de altura e 1,0 a 2,5 cm de largura, uniforme e de consistência esponjosa e frágil, branco. Abaixo da cabeça se desenvolve um véu composto por bandas que formam uma rede branca que muitas vezes cresce até tocar o solo. Com a volva em forma de saco, branco amarelado. Cheiro desagradável (FRANCK, 2019). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 23.XII.2019, SILVA.C. G-159. Notas de distribuições: muito comum em bosques da América Central, América do Sul, Ilhas do Caribe, Austrália, África, Índia e Japão (FRANCK,2019).No Brasil, possui uma ampla distribuição nas regiões Norte: AM,RO e PA; Nordeste: CE,RN,PB,PE e AL; Centro-Oeste: MT e MS; Sudeste: SP e ES; Sul: PR,SC e RS (INCT, 2020).

Oudemansiella cubensis (Berk. & MA Curtis) RH Petersen, Beihefte zur Nova Hedwigia 137: 283 (2010). (Agaricales, Physalacriaceae) Descrição morfológica: píleo apresenta 1,0-6,0 cm de diâmetros, plano-convexo enquanto maduro, superfície ligeiramente viscosa, de cor branca, no centro exibe escamas castanhas ou marrons que se encontram mais frouxas, bordas contém leves fissuras. Himenóforo composto por lamelas brancas, espaçadas, sinuadas, com lamelas presentes. Estipe de 0.3- 0,8 cm de diâmetros por 2,5-3,0 cm de altura, cilíndrico, central, pouco bulboso, fibroso, branco, de aparência lustrosa. Esporos globosos e sub globosos (FRANCK, 2019). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 24.XI.2018, SILVA.C. G-73. Notas sobre Distribuição: Espécie de distribuição Pantropical (PEGLER, 1997), citada para Venezuela (DENNIS, 1970), Argentina (SINGER; DIGILIO 1952). Possui ampla distribuição no Brasil e se trata de uma espécie comestível. Nos Estados do Amazonas, Rondônia, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul (PUTZKE; PEREIRA 1988; CAPELARI 1989; CAPELARI; GUGLIOTTA 2005), Mato Grosso do Sul (BONONI et al., 2008).

Coprinellus disseminatus (Pers.) JE Lange, Dansk botanisk Arkiv 9 (6): 93 (1938). (Agaricales, Psathyrellaceae) Descrição morfológica: é uma espécie composta por basidioma muito pequeno 2 cm de altura. Possui píleo de coloração inicialmente amarelo que torna-se acinzentado com o amadurecimento. Formar do píleo cônico, superfície raiada e margem estriada; estipe

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cilíndrico branco; lamelas livres, com coloração marrom escuro na fase de esporulação (SERRA, 2017). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 24.XI.2018, SILVA.C. G-67. Notas sobre Distribuição: Cobre as regiões tropicais de todos os continentes, ou seja, estão presentes nas regiões tropicais de África, Ásia nas Américas. No brasil tem registro para as regiões Sul (PR, RS); Sudeste (SP); Mata Atlântica (FLORA DO BRASIL, 2020).

Cotylidia diaphana (Schwein.) Lentz, Agric. Monogr. USDA 24: 12 (1955). (Hymenochaetales, Rickenellaceae) Descrição morfológica: basidioma com 15-25 mm de altura e 10-30 mm de largura, fino, em forma de funil, às vezes espatulado, estriado e geralmente dividido nas margens. Branco quando jovem, torna-se cremoso quando seco, às vezes com finas fibrilas radiais. Superfície himenial lisa, às vezes radiantemente enrugada. Estipe 5-15 × 1-2 mm, sólido, liso, branco, em algumas amostras tomentoso na base (KAYA, 2009). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 24.XI.2018, SILVA.C. G-70. Notas sobre Distribuição: Canadá, Estados Unidos, Argentina, África do sul (GBIF,2020). No Brasil nas regiões Sul (PR, RS); Sudeste (SP); Mata Atlântica (INCT, 2020).

Cookeina speciosa (Fr.) Dennis, Mycotaxon 51: 239 (1994). (Pezizales, Sarcoscyphaceae) Descrição morfológica: Apotécios solitários ou em grupo, estipe centralmente para raramente subsessível, profundo cupulado em forma de cálice (ITURRIAGA; PFISTER, 2006). Contorno circular até 2,7cm de diâmetro, com duas filas de pelos marginais. Coloração do apotécio disco profundamente côncavo, parece suave a olho nu, quando rosa ou salmão fresco ou coral claro, laranja, amarelo, malva ou marrom claro, de consistência carnosa. Estipe de superfície lisa, cilíndrico (OLIVEIRA et al., 2013). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 26.II.2019, SILVA.C. G-112. Notas de distribuições: Distribuída nos trópicos, tanto no novo quanto no antigo mundo (ITURRIAGA, 2006). Ocorrências nos continentes da África, Ásia, América do Norte e América do Sul (GBIF,2020). No brasil, nas regiões Norte: AP e PA; Centro-oeste: MT (INCT,2020) e Nordeste: BA (OLIVEIRA,et al., 2013). Primeira ocorrência para o Estado do Acre nesse estudo.

Phillipsia domingensis (Berk.) Berk. ex Denison, Mycologia 61 (2): 293 (1969). (Pezizales, Sarcoscyphaceae) Descrição morfológica: Apotécio em forma de concha no início, discoide depois, séssil ou com estipe rudimentar; 10-50 mm de diâmetro, cartilaginoso quando fresco e suberoso quando seco. A face himenial é vermelho-púrpura. Face externa esbranquiçada, com superfície tomentosa (CALONGE; UMAÑA, 2006). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 23.XII2019, SILVA.C. G-160. Notas de distribuições: A espécie mais frequente dentro do gênero, já que foi citada em todas as zonas tropicais e subtropicais, Brasil, China, Costa Rica, Domingo, Equador, Guadalupe, Jamaica, Japão, Madagascar, México, Porto Rico, Tailândia e Estados Unidos (ZHUANG, 2003).No Brasil, a registros nas regiões Norte: RR; Nordeste: BA; Centro-Oeste: MT e Sudeste: SP (INCT, 2020).

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Xylaria multiplex (Kunze) Fr., Nova Acta R. Soc. Scient. upsal., Ser. 3 1 (1): 127 (1851) [1855] (, Xylariaceae) Descrição morfológica: Estroma de touceira, em cachos oriundos de uma base comum, cilíndrica, diferenciada em região fértil e estipe, 3-23 x 0,3-1 mm, marrom. Estipe achatado e sulcado longitudinalmente, tomentoso no terço inferior, 6-9 x 1-2,8 mm, marrom. Região fértil cilíndrica, vértice estéril, em forma de fita, 3-14 x 0,3-1 mm, marrom escuro. Peritécios globosos, completamente imersos no estroma; papilas ostiolares minúsculas, pontuais, 0,5- 0,6 x 0,4-0,5 mm, pretas (MEDINA; HLADKI, 2020). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 26.II.2019, SILVA.C. G-114. Notas de distribuições: Em áreas tropicais e subtropicais (MEDINA; HLADKI, 2020). Ocorre nos seguintes países: Austrália, Brasil, Costa Rica, Congo, Equador, Estados Unidos, Japão, Jamaica, México e Panamá (GBIF, 2020). Na Argentina (MEDINA, 2020) e Índia (DEBNATH, et al,2008) No Brasil, a distribuição na região Norte: AM; Nordeste: CE, PE e BA e Sul: RS (INCT, 2020).

Xylaria longipes Nitschke, Pyrenomyc. Germe. 1: 14 (1867). (Xylariales, Xylariaceae) Descrição morfológica: Estroma com até 8 cm de altura, cilíndrico a cilíndrico-clavado, por vezes ligeiramente achatado ou irregular, solitário ou com vários surgindo de uma base comum, não ramificada ou ocasionalmente ramificada, com ápices arredondados, sésseis ou com hastes curtas a longas de 2-3 mm de diâmetro. Superfície do estroma jovem branco acinzentado a marrom, tornando-se preta com a idade, geralmente com algumas escamas esbranquiçadas a acastanhadas quando jovem. Estroma interior branco, fibroso. Superfície do estroma maduro liso a irregularmente áspero quando fresco, um tanto rugoso e às vezes com rachaduras finas quando seco, os ostíolos dos ascomas geralmente visíveis como papilas diminutas (ROGERS, 1983). Material examinado: BRASIL, Rio Branco – Acre, Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá. 11.III.2018, SILVA.C. G-31. Notas de distribuições: regiões de clima tropical e subtropical. Ocorre nos seguintes continentes :África, Europa, América do Norte e Sul (GBIF, 2020). A Registros nos seguintes Estados do Brasil: BA, PE e RS (INCT, 2020) e Amazonas (MENDOZA et al., 2018).

3.2 DISCUSSÃO

Os filos Ascomycota e Basidiomycota são os filos mais diversos em número de espécies conhecidas (WEBSTER; WEBER, 2007), sendo este último considerado um dos grupos mais evoluídos no reino Fungi, dada a complexidade de suas estruturas (MENDOZA et al., 2018). Segundo Kirk et al. (2008), Ascomycota possui 64.143 espécies descritas, enquanto Basidiomycota possui cerca de 31.515 espécies (apud OLIVEIRA, 2020). Para a América Central e América do Sul, são estimadas 20.000 espécies de basidiomicetos

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(SCHIMIT;MUELLER,2007) sendo que no Brasil, o Catálogo Brasileiro de Plantas e Fungos do Brasil (MAIA; CARVALHO, 2010) estima a existência de cerca de 15.000 espécies de fungos, dentre as quais apenas 5.719 espécies foram documentadas e 1.050 constituem ocorrência para a Amazônia. A Amazônia é a região com maior extensão de floresta tropical do mundo (KOMURA, 2016). É um bioma com características únicas, formado por vegetação de grande porte e densa, incluindo também mosaicos de vegetação conhecidas como campina e campinarana (LISBOA, 1975; PRANCE ,1975) e áreas alagáveis como a várzea e o igapó (JUNK; PIEDADE, 2010). Estes ecossistemas possuem uma grande riqueza de diversidade de fungos macroscópicos, mas que carecem de mais estudos, devido, principalmente, à escassez de taxonomistas da região. Segundo a Maia e Carvalho (2010), o Estado do Acre acumulava 61 espécies de macrofungos em 2010 e, após cinco anos, o registro de espécies para o Estado aumentou para 106 espécies por Maia et al. (2015). Dentre os trabalhos que vieram a contribuir para o conhecimento da Funga Amazônica, destacam-se o realizado por Bononi (1992), a qual catalogou cerca de 49 espécies de macrofungos em áreas situadas na capital Rio Branco e arredores. Wartchow et al. (2014) registraram duas espécies de Oudemansiella coletadas na Fazenda Experimental Catuaba, situada no município de Senador Guiomard. Já Santos (2017) e Santos et al (under review), estudaram macrofungos coletados no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre, contribuindo, assim, com o conhecimento de 56 espécies de fungos para o Acre. Mesmo diante da escassez de especialistas taxonômicos no estado, o conhecimento sobre a riqueza de espécies de macrofungos está gradativamente aumentando, sendo esta lista com 101 espécies, a primeira a ser produzida para uma Unidade de Conservação no Acre. A lista de espécies de macrofungos da APA Lago do Amapá contém 89 espécies do universo de 107 espécies reportado por Maia et al. (2015) para o estado e representa 48% da riqueza de 217 espécies registradas para a Amazônia brasileira por Gomes-Silva e Gilbertoni (2009). Atualmente, segundo Soares et al (2014), existem cerca de 740 espécies de fungos listados para a Amazônia brasileira. As 15 espécies consideradas novos registros representam 14,4% das espécies registradas na APA e um aumento de 15% na lista de espécies registradas no estado.

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4. CONCLUSÃO

A Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá abriga uma alta diversidade de macrofungos, especialmente, concentrados no filo Basidiomycota e na ordem Agaricales. O levantamento de fungos nessa área é necessário para que haja uma continuidade e, deste modo, contribuição para o desenvolvimento dos estudos e conhecimento das espécies de funga da Região Amazônica, além do registro de novas ocorrências para o Estado do Acre.

5. AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer à Secretaria de Estado de Meio Ambiente – SEMA, por ajudar nas atividades que foram realizadas no presente trabalho. Nossos agradecimentos também à equipe de colegas de trabalho do Laboratório de Botânica e Ecologia Vegetal – LABEV, por todo trabalho duro em campo. E por fim, agradecemos a Mirna Pinheiro Caniso, gestora da Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, por todo o apoio positivo e prestado no desenvolvimento do trabalho.

6. REFERÊNCIAS

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CONECTANDO BIODIVERSIDADE, BIOTECNOLOGIA E SAÚDE HUMANA

Teresinha de Jesus Aguiar dos Santos Andrade1, Nerilson Marques Lima2, Patrícia e Silva Alves3, José Williams Gomes de Oliveira Filho4, Maria das Dores Alves de Oliveira3, Francisco Soares Santos Filho5, Giovanna Carvalho da Silva6 e Nayra Micaeli dos Santos Sousa6

1. Núcleo de Investigação Aplicado as Ciências-NIAC, Instituto Federal do Maranhão, Presidente Dutra, Maranhão, Brasil; 2. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil; 3. Departamento de Química, Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil; 4. Laboratório de Genética e Biologia Molecular-Instituto Federal do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil; 5. Centro de Ciências da Natureza, Universidade Estadual do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil; 6. Núcleo de Investigação Aplicado as Ciências-NIAC, Instituto Federal do Maranhão, Timon, Maranhão, Brasil.

RESUMO A biodiversidade é indispensável para a manutenção da saúde não só humana mas também do ecossistema. Para os países como o Brasil com mega biodiversidade, esta questão está relacionada não apenas com a responsabilidade de preservar a diversidade biológica para o futuro de todo o Planeta, mas torná-la fonte de riqueza e qualidade de vida para sua população. Isso inclui várias relações entre biodiversidade e saúde, que se manifestam em diversos aspectos espaciais e temporais, começando pela manutenção do sistema alimentar, segurança nutricional e alimentícia e aos diversos tratamentos e novas ideias para a descoberta e o desenvolvimento de novos medicamentos para a maioria dos problemas de saúde enfrentados pela humanidade atualmente e suas contribuições para o desenvolvimento econômico. Desta maneira, o conhecimento e a exploração sustentável da biodiversidade bem como a aplicação biotecnológica destes recursos tem permitido a identificação e o uso de novas fontes naturais, úteis para a melhoria da qualidade de vida humana no planeta e reduzir as diferenças globais de saúde pelo o fornecimento de tecnologias promissoras. Palavras-chave: Alimentação, Recursos Terapêuticos e Biodiversidade.

ABSTRACT Biodiversity is indispensable for maintaining not only human health but also the ecosystem. For countries like Brazil with megabiodiversity, this issue is related not only to the responsibility to preserve biological diversity for the future of the entire planet, but to make it a source of wealth and quality of life for its population. This includes several links between biodiversity and health, which are manifested in several spatial and temporal aspects, starting

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with the sustenance of the food system, nutritional and food security and the various treatments and new ideas for the discovery and development of new drugs for most of the health problems facing humanity today. In this way, knowledge of biodiversity as well as the biotechnological application of these resources has enabled the identification and use of new natural sources, useful for improving the quality of human life on the planet and reducing global health differences by providing promising technologies. Keywords: Food, Therapeutic Resources and Biodiversity.

1. INTRODUÇÃO

A biodiversidade mantém o funcionamento do ecossistema e fornece bens e serviços essenciais para a saúde e o bem-estar humano (ALVES; ROSA, 2007; ALHO, 2012). Existe a concepção crescente de que os sistemas ecológicos e a saúde humana estão conectados, no entanto, estas ligações são complexas e algumas vezes mal compreendidas (SANDIFER; SUTTON-GRIER; WARD, 2005). As interconexões entre biodiversidade e saúde humana são diversas e amparada por várias evidências, seja pelo impacto da poluição do ar no funcionamento respiratório e cardíaco, regulação de hábitats reprodutivos e alimentares, redução e ao aumento do risco de doenças transmitidas por vetores, manutenção de organismos responsáveis pela ciclagem de nutrientes do solo ou pelo fornecimento de bioprodutos ou bens oriundos do sistema natural como os medicamentos, alimentos, agroquímicos, entre outros (ALVES; ROSA, 2007; ROMANELLI; COOPER; DE SOUZA DIAS et al., 2014; LI, 2017; NEERGHEEN-BHUJUN et al., 2017). Uma das ferramentas utilizadas para otimizar a aplicação da biodiversidade é a biotecnologia. A biotecnologia tem o potencial de apropriar-se de uma variedade de técnicas e aplicações que permitem criar novos produtos e processos, cobrindo mudanças e melhorias em organismos vivos para fornecer produtos desejáveis úteis para a humanidade, assim, exerce papel chave para a aplicação da biodiversidade e a identificação de potenciais bio-recursos com potencialidade biotecnológica (AMINI et al., 2014; PADHY et al., 2020). Desta maneira, a biotecnologia é atualmente usada para a conservação, avaliação e utilização da biodiversidade, através da qual nos fornece novos modelos moleculares para o tratamento terapêutico e novas ideias para nortear a descoberta da cura para a maioria dos problemas de saúde enfrentados pela humanidade atualmente e doenças emergentes (GARCIA, 1995; AFZAL et al., 2016)

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O Brasil é o país da megabiodiversidade, detentor de uma das mais expressivas biosferas terrestre, com isso vem um enorme potencial para impulsionar o bem-estar e a saúde humana, porém há uma enorme responsabilidade para promover o uso sustentável destes recursos naturais (NEWMAN, 2017).

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A BIODIVERSIDADE NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E NUTRIÇÃO

A importância da biodiversidade na alimentação está relacionada com a própria história da humanidade, cuja utilização se deu com a domesticação das plantas e animais ao longo dos tempos, e esse processo persiste até os dias atuais (BRASIL, 2006). A biodiversidade desempenha um papel decisivo na alimentação e nutrição humana, pois constitui a base de sustentação do sistema alimentar e nutricional. Desta maneira, estão interconectadas em muitos níveis: o ecossistema, a partir dos recursos biológicos são essenciais para a produção mundial de alimentos, a diversidade genética dentro das espécies, a variedade de cultivares do mesmo alimento, bem como a composição nutricional entre os alimentos (SUNDERLAND, 2011; DAWSON et al., 2019). A alimentação saudável, com níveis médios adequados da ingestão de nutrientes requer a disponibilidade de uma variedade de micronutrientes na dieta, demandando alto potencial de biodiversidade (TOLEDO; BURLINGAME, 2006; LACHAT et al., 2018). No entanto, apesar da produção nas lavouras ter crescido substancialmente nos últimos anos, aproximadamente 800 milhões de pessoas ainda vivem em situação de insuficiência alimentar (HODGKIN et al., 2015). A expansão de atividades como a agropecuária intensiva, é uma das razões da perda da biodiversidade, o que por sua vez poderá afetar a produção de alimentos e o papel da agricultura no futuro (SAATH; FACHINELLO, 2018). A biodiversidade para os alimentos e agricultura é definida como a “variedade e variabilidade de animais, plantas e microorganismos nos níveis genético, de espécies e de ecossistema que sustentam as estruturas, funções e processos do ecossistema em torno dos sistemas de produção e que fornecem alimentos e produtos agrícolas não alimentícios” (FAO, 1999). Assim, a biodiversidade alimentar está ligada a variedades de espécies vegetais, animais e outros organismos úteis para alimentação. Segundo o Second Report on

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the State of the World's Plant Genetic Resources for Food and Agriculture da FAO, existem aproximadamente 30 mil espécies de plantas comestíveis (SIBBR, 2020). O acesso a uma variedade de alimentos nutritivos em quantidade suficiente nos sistemas terrestres, marinhos e de água doce é essencial à nutrição humana, e fundamental à saúde. A sua redução global representa grande desafio para a saúde pública de pessoas baixa e média renda que dependem desses recursos, especialmente em países subdesenvolvidos (ZIMMERER; HAANM, 2017). Desta maneira, a diversidade de espécies, variedades e raças, são indispensáveis para a uma diversidade da dieta e a uma boa nutrição, e necessária para o combate à desnutrição e à promoção da saúde (LACHAT et al., 2018). Atualmente, os países detentores das chamadas megabiodiversidades, tem importância estratégica, econômica e relevância política no cenário global, pois o uso dos seus recursos tem implicação direta na saúde e bem-estar humano. O Brasil é um desses países, abrigando a maior riqueza de espécies do planeta, cerca de 13% da biota global, com aproximadamente 210.000 espécies conhecidas, podendo alcançar 2,6 milhões espécies se considerarmos a desconhecidas (SIBBR, 2020). Nesse ponto ressalta-se também a crescente crise de extinção de espécies causada pela exploração humana indiscriminada, que podem colocar em risco o equilibro ecológico (RODRIGUES, 2003). Os avanços biotecnológicos na produção de alimentos a partir da agricultura e pecuária, mostram-se essenciais para atender a demanda nutricional em quantidade e qualidade da população. A biotecnologia pode atuar na agropecuária na transferência de genes entre organismos ou na reprodução em laboratório de princípios ativos, como exemplo, plantas domesticadas que desenvolvem resistência à pragas após transferência gênica obtida de uma planta silvestre, ou no desenvolvimento de uma tecnologia oriundos dos princípios ativos da espécie silvestre reduzindo assim o uso de defensivos agrícolas potencialmente danosos a saúde humana (ALHO, 2012). Outro benefício substancial da biotecnologia são as melhorias nutricionais em alimentos com modificação do teor nutricional. Estes alimentos “melhorados” podem ser direcionados a população pobre que convive com a desnutrição, devido a uma dieta deficiente de nutrientes essenciais (RECH, 2005).

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2.2 COMPONENTES DA BIODIVERSIDADE COMO RECURSOS PARA MEDICINA TRADICIONAL E MODERNA

No mundo, milhões de pessoas utilizam a medicina tradicional que é dependente de recursos biológicos e do adequado funcionamento dos ecossistemas (CABALLERO- SERRANO, 2019). Assim, a biodiversidade tem o papel de constituir importante fonte de inovação em saúde e, portanto, uma possibilidade de ampliação de opções terapêuticas na perspectiva de melhoria da atenção à saúde e de inclusão social, sobretudo em países/locais de medicina restritiva (BARREIRO; BOLZANI, 2009; GUNATILAKA, 2014). A biodiversidade brasileira é um estímulo natural na utilização de plantas medicinais e seus derivados como opção terapêutica, considerando que o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, este imenso patrimônio genético tem na atualidade valor econômico estratégico inestimável em várias atividades, dentre elas na produção de produtos tradicionais fitoterápicos e/ou na busca de moléculas inovadoras bioativas para descoberta de novos medicamentos (ALVES; ROSA, 2007; VALLI; RUSSO; BOLZANI, 2018).

2.2.1 Plantas

Ao longo da história da humanidade, os seres humanos utilizaram plantas e seus produtos derivados para o tratamento de várias doenças, as quais sintetizam metabólitos secundários vegetais ou compostos bioativos incluindo alcaloides, flavonoides, terpenoides, esteroides, etc., compostos amplamente conhecidos por apresentarem, em sua maioria, atividade antimicrobiana, antioxidante, anticâncer, anti-hipercolesterolêmico, antidiabético, dentre outras (RANA et al., 2020). Esses compostos bioativos são amplamente empregados em cosméticos, sabores, fragrâncias, corantes pigmentos, aditivos alimentares, indústrias de inseticidas e pesticidas, ou como um ingrediente importante em várias formulações (HUSSAIN et al., 2012). Entretanto, o envolvimento de compostos bioativos de plantas na medicina moderna alcançou um foco máximo na pesquisa em plantas medicinais. Isso levou à necessidade de moléculas terapêuticas de origem vegetal para indústrias farmacêuticas em todo o mundo. Os métodos de extração e síntese química destas moléculas biologicamente ativas não são renováveis, antieconômicos, demorados e, acima de tudo, ambientalmente de natureza hostil de uma metodologia de extração convencional, justificando assim a atenção da comunidade

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científica em direção a sistemas de produção baseados em biotecnologia (HUSSAIN et al., 2012). A demanda por produtos farmacêuticos vem surgindo como uma crescente magnitude industrial de produtos químicos à base de plantas, que originou-se em grandes interesses na fisiologia e bioquímica do metabolismo de produtos secundários das plantas. Dessa forma, é dado um maior interesse na produção fitoquímica através da intervenção de meios biotecnológicos convencionais e não convencionais (HUSSAIN et al., 2012; SRIVASTAVA; MEHROTRA; VERMA, 2017). Exemplos de plantas utilizadas na biotecnologia, inclui a Tylophora indica, pesquisas recentes revelaram que diferentes partes desta planta podem ser utilizadas para repelentes de mosquitos ou pesticidas, de modo a não causar efeito colateral em organismos não visitados e ao ecossistema, tal efeito é proveniente da presença de certos fitoquímicos nos inseticidas (EZEONU; CHIDUME; UDEDI, 2001; SEN-SUNG et al., 2003; ANSARI et al., 2005; CHAPAGAIN; SAHARAN; WIESMAN, 2008; RAWANI et al., 2013). Além disso, em estudos utilizando extratos das folhas da planta T. indica, com os solventes metanol, n-hexano, e acetato de etila, foram testados contra Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti para verificar as atividades larvicidas e repelente de insetos. Dentre os extratos, o extrato de n-hexano foi o que mostrou-se mais eficaz para a

mortalidade larval, com a concentração letal (CL50) de 324 e 619 ppm contra C. quinquefasciatus e A. aegypti, respectivamente. Sendo que as atividades larvicidas e repelentes de insetos dos extratos de metanol e acetato de etila foram insignificantes. Assim, esta propriedade de T. indica pode ser explorada para a produção comercial de repelentes e inseticidas (GANDHI et al., 2014; NAZAR et al., 2020). Outra planta empregada na biotecnologia é a Pelargonium graveolens L'Hér., conhecida popularmente como gerânio rosescente, pertencente a uma cultura industrial valiosa, cultivada mundialmente por seus metabólitos secundários, sendo utilizadas como ingredientes nas indústrias de perfumaria, farmacêutica e cosmética (SHAWL et al., 2006). Esta espécie possui aroma de rosas, e apresentou em seus extratos orgânicos atividade antioxidante (CAVAR; MAKSIMOVIC, 2012), anti-inflamatório (GHANIZADEH et al., 2015), antimicrobiana (BEN HSOUNA; HAMDI, 2012), hipoglicêmica (BOUKHRIS et al., 2012), efeitos protetores de danos ao DNA (Boukhris et al., 2015) e potencial terapêutico em doenças metabólicas (NEAGU et al., 2018). As plantas também possuem aplicação como fonte de biocombustivel, um exemplo marcante é a espécie Jatropha curcas L. (Pinhão manso), pertencente à família

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Euphorbiaceae, que cresce como um grande arbusto ou pequena árvore (EL-SAYED et al., 2020). Esta espécie é encontrada em áreas tropicais e subtropicais, possui diversas propriedades medicinais e diferentes aplicações. Devido ao seu elevado teor de óleo nas sementes (até 60 % de óleo) e baixo custo de produção, a planta atraiu atenção global para o desenvolvimento como fonte de biocombustível (LI et al., 2007). No entanto, o interesse na J. curcas como uma colheita de biodiesel exige melhoria genética da colheita para aumentar o rendimento de sementes e o teor de óleo e a caracterização de germoplasma, a qual é necessária para aprimorar o gerenciamento e a utilização de germoplasma (BASHA et al., 2009). O potencial de aprimoramento da planta de J. curcas é um alvo fundamental para os cientistas, através de práticas agrícolas e abordagens biotecnológicas (KUMAR; REDDY, 2013). A criação convencional deve ser integrada às mais recentes abordagens biotecnológicas para introduzir novos traços. Os meios biotecnológicos incluem a propagação de genótipos selecionados usando técnicas de cultura de tecidos e outras estratégias de engenharia genética. A melhoria biotecnológica das culturas se destaca como abordagens eficazes e alternativas (EL-SAYED et al., 2020). Por outro lado, grande parte das plantas detêm de pigmentos, em que são substitutos interessantes dos corantes sintéticos artificiais utilizados nos processos de fabricação de alimentos, cosméticos e produtos farmacêuticos (KIM; SUN-MEE; SANG-JUN, 1995; CHO et al., 2002). Existem vários microrganismos capazes de produzir pigmentos de alto rendimento, incluindo espécies dos gêneros Monascus, Paecilomyces, Serratia, Cordyceps, Streptomyces e compostos amarelo-vermelho e azul produzidos por Penicillium herquei e Penicillium atrovenetum (GUNASEKARAN; POORNIAMMAL, 2008). Alguns desses compostos já foram identificados, como aurofusarina da classe naftoquinona, carotenoides e rubrofusarina (CAMBAZA, 2018). As evidências indicam que alguns desses pigmentos são importantes para a proteção dos raios UV e radicais livres, e outros estudos sugerem que os pigmentos podem estar relacionados a atividades fitotóxicas (DADACHOVA et al., 2008). Os pigmentos obtidos de fontes naturais têm potencial para serem aplicados em vários setores industriais (YUSUF; SHABBIR; MOHAMMAD, 2017). O uso do pigmento de Fusarium solani como aditivo alimentar parece bastante promissor, pois, além de melhorar as características sensoriais de alimentos e bebidas, seus componentes podem trazer benefícios à saúde humana. A combinação de seus efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios confere-lhe uma propriedade protetora dos constituintes celulares contra o estresse oxidativo e contra danos nos tecidos causados por distúrbios inflamatórios, podendo ser eficaz na

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prevenção de muitas doenças. Além disso, a aplicação desse pigmento em cosméticos e no desenvolvimento de drogas também parece bastante promissora, devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, e à ação antibiótica e anticâncer de seus componentes (CHOWDHURY et al., 2017; KUMAR et al., 2017). As plantas também possuem óleos essenciais (OEs), os quais são substâncias voláteis de origem natural, incluindo uma variedade de compostos que podem ser obtidos de plantas aromáticas (BAKKALI et al., 2008). Recentemente, o potencial biológico dos OEs foi investigado, revelando amplo potencial para aplicações biomédicas com ênfase em antimicrobiano e antibiofilme (KUHN et al., 2019), larvicida (PANDIYAN; MATHEW; MUNUSAMY, 2019), leishmanicida (DA SILVA et al., 2018), tripanocida (AZEREDO; SOARES, 2013; COSTA et al., 2018), fungicidas (SANTOS et al., 2018), e atividades contra doenças autoimunes (COCK; CHEESMAN, 2019), inflamação (CHOU et al., 2018), bem como modulador do sistema neurológico (ARRUDA et al., 2012 ; BHAVYA; CHANDU; DEVI, 2018). As plantas também têm aplicação na Engenharia genética, podendo ser usadas para produzir uma variedade de proteínas, incluindo anticorpos de mamíferos, substitutos de vacinas no sangue, e entidades terapêuticas (BHATIA; DAHIYA, 2015). Os anticorpos produzidos pelas plantas são ferramentas importantes na terapia e diagnóstico (BUSCONI; MARUDELLI; FOGHER, 2015). O primeiro anticorpo foi produzido em plantas de tabaco (HIATT; CAFFFERKEY; BOWDISH, 1989). A partir de então, vários anticorpos foram produzidos em sistemas vegetais. Anticorpos funcionais e montados corretamente foram obtidos contra vírus e bactérias humanos/ animais (raiva, hepatite B, antraz, neurotoxinas do Clostridium botulinum) e contra diferentes antígenos do câncer (câncer de pele, mama e colorretal) (WIKTOREK-SMAGUR et al., 2012). Os sistemas de expressão mais utilizados para anticorpos foram Nicotiana tabacum e Nicotiana benthamiana (DE MUYNCK; NAVARRE; BOUTRY, 2010). Logo, é possível perceber que os organismos vegetais constituem uma diversidade de aplicações, podendo serem usados para a biossíntese de uma enorme variedade de metabólitos secundários e, de fato, são esses metabólitos que formam a base de muitos medicamentos comerciais, bem como remédios de ervas derivados de plantas medicinais. Os diferentes constituintes químicos das plantas medicinais possuem atividades biológicas que podem melhorar a saúde humana através dos produtos farmacêuticos e alimentares, mas também representam um valor importante para a biotecnologia, nas indústrias para

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perfumes, agroquímicos, cosméticos, biocombustíveis, dentre outros setores (RASOOL, 2012).

2.2.2 Animais

A medicina moderna, combinada por medicamentos com ações específicas em receptores, enzimas e canais iônicos, não teria sido possível sem a contribuição dos produtos naturais, especialmente dos vegetais superiores e das toxinas animais (CALIXTO, 2003). Em adição, os animais considerados medicinais constituem uma parte integral da medicina popular brasileira, especialmente em locais com acesso limitado ou nenhum acesso aos serviços médicos convencionais (ALVES; OLIVEIRA; ROSA, 2013; TEIXEIRA et al., 2020). A cura de doenças humanas pela utilização de terapias baseadas em fármacos de origem animal ou derivados deles é denominada como zooterapia (COSTA-NETO, 2005). A conexão entre os usos medicinal e alimentar de animais selvagens é bastante comum como uso tradicional, desta maneira, é importante compreender que esses usos tradicionais ocorrem em diferenciados contextos socioeconômicos, culturais e ecológicos para exemplificar seu impacto potencial na saúde pública e na conservação dos recursos da biodiversidade (ALVES; OLIVEIRA; ROSA, 2013). No entanto, do mesmo modo que o uso dos produtos medicinais vegetais deve ser guiado de modo sustentável, a prática de zooterapia precisa ser compatível com o bem-estar dos animais (RODRIGUES, 2006). Segundo um levantamento realizado por Alves e Dias (2010), até o ano de 2010, 81 espécies de invertebrados pertencente a cinco grupos taxonômicos diferentes são utilizadas para o tratamento de várias doenças no Brasil. Os grupos com maior número de espécies foram insetos (n= 41 espécies) seguido dos moluscos (n= 17) e crustáceos (n= 16). Essas informações contribuem para evidenciar a importância dos invertebrados medicinais como alternativa terapêutica. Em adição, Souto et al. (2012), descreve que no Brasil já foram registrados 326 animais explorados para finalidades medicinais, a maioria silvestres. O uso de animais na medicina moderna tem apresentado avanços promissores, de acordo com Wang et al. (2017), pesquisas recentes na busca de agentes com potencial anticâncer têm concentrado seus esforços numa classe de substâncias naturais denominada de peptídeos naturais de fontes animais, como mamíferos terrestres, animais marinhos, anfíbios e venenos. As secreções de pele de anfíbios como as rãs e sapos, por exemplo, fornecem uma diversidade de substancias com atividade biológica como agentes anticâncer,

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antivirais, imunomoduladores e antidiabéticos e, têm chamado a atenção devido ao seu potencial para o desenvolvimento de novos medicamentos (CONLON et al., 2014). Em 2019, cientistas da Queens University na Irlanda do Norte, encontraram uma proteína na pele da perereca Phyllomedusa sauvagii (Hylidae) capaz de inibir o crescimento de vasos sanguíneos e com potencial para destruir tumores cancerígenos (BBC News, 2011). Pesquisa com sapo da espécie Brachycephalus ephippiumbusca busca desenvolver medicamento para o coração, pesquisadores da Universidade de Brasília-UNB e do Piauí- UFPI, descobriram um peptídeos potenciador de bradicinina (BPP’s) com potencial para agir como um vasorelaxante e controlar a pressão arterial, cujo estudo visa desenvolver um medicamento com melhor efeito e menos custo para doenças do coração dos que os existentes (JUNIOR, 2018). As toxinas derivadas de animais são fonte de recursos naturais regionais e são utilizadas para estudos fisio-farmacológicos e como precursoras de novos medicamentos (ANDREWS et al., 2001). Entre as moléculas baseadas em toxinas aprovadas e comercializadas, como medicamentos e terapias para uso humano encontra-se o ziconotídeo (Prialt) que é mil vezes mais potente do que a morfina, indicado para em pacientes com dor severa, obtido de caramujos marinho Conus magnus (BECERRA- AMEZCUA; GUZMÁN-GARCÍA; LEGARRETA, 2018), a exenatida e lixisenatida indicados no tratamento de controle glicêmico em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (SANTOS, 2018), isoladas inicialmente do lagarto Heloderma suspectum (Monstro de Gila), as substâncias anticoagulantes bivalirudina e desirudina de sanguessuga Hirudo medicinalis e de cobras as moléculas captopril, enalapril, tirofibana, eptifibatida, batroxobina e cobrotoxina. É importante destacar que a saúde humana está conectada a biodiversidade e ao funcionamento adequado de ecossistemas saudáveis, desta maneira o uso de animais para fins medicinais não é apenas uma questão de opção terapêutica e/ou as ciências médicas mas envolve questões multidimensionais de desenvolvimento sustentável.

2.3.3 Organismos Marinhos

As várias conexões interdisciplinares entre os oceanos, as atividades humanas e a saúde do homem resultam em riscos e benefícios e provem alimentos e novos recursos terapêuticos para medicina moderna, auxiliam na conexão de pessoas constituindo um meio de entrega de materiais em todo o mundo e ajudam a ajustar as mudanças climáticas (KITE- POWELL et al., 2008). Em adição, os oceanos representam a maior diversidade de espécies

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do planeta, que é responsável fortemente pelas alterações climáticas, e sua rica diversidade tanto biológica como química, fornece recursos e serviços essenciais para a manutenção das atividades humanas, como alimentos, oxigênio e outros produtos naturais essenciais para a existência humana (BLUNT et al., 2009). As algas marinhas são fontes de uma grande variedade de compostos com consideráveis aplicações terapêuticas, incluindo atividades como anticoagulante (MAYER; HAMANN, 2009), antiprotozoária (GENOVESE et al., 2009), bactericida e fungicida (OH et al., 2009), antiviral (JHA; ZI-RONG, 2004), antioxidante e antitumoral (WU et al., 2009), antiinflamatória (PARK et al., 2008) e analgésicas (GUZMÁN et al., 2001). Estes recursos apresentam diversas aplicações biotecnológicas como envoltório de cápsulas de medicamentos, fabricação de tintas, cosméticos, bioenergia, fertilização do solo e como aditivos na indústria alimentícia, além de alimentos. Assim, a biotecnologia marinha é uma área extremamente promissora no que diz respeito à busca científica e os oceanos tem sido uma das principais fontes de novos recursos industriais (SAADAOUI et al., 2020). Para a medicina moderna, compostos derivados de fontes marinhas têm atraído a atenção de várias companhias farmacêuticas devido as várias atividades biológicas, com o objetivo de desenvolver novos medicamentos com protótipos de origem marinha. Desta maneira, existe um número considerável de substâncias derivada de fontes marinhas em fase de testes pré-clínicos e clínicos para tratamento de doenças, o que ressalta o potencial destas moléculas na cura de doenças, da companhia PharmaMar em uso clínico encontra- se a trabectedina (ET-743, Yondelis) no tratamento de câncer nos sarcomas de tecidos mole, o qual é um alcalóide tetra-hidroquinolínico isolado da ascídia caribenha Ecteinascidia turbinata e desenvolvido pela Nereus Pharmaceuticals e inspirados em nucleosideos isolados da esponja Tethya crypta serviram de modelo para a descoberta dos medicamentos ARA-A e ARA-C, que são atualmente utilizados como antiviral e antineoplásico no tratamento de leucemia, respectivamente (COSTA-LOTUFO, WILKE; JIMENEZ, 2009). O ambiente marinho é fonte inesgotável de recursos para diferentes aplicações científicas, com atuação em alvos moleculares específicos, proporcionando perspectivas inovadoras na abordagem clínica de doenças, no entanto, a exploração destes recursos deve ser realizada de forma racional e promover sustentabilidade ao uso de produtos biotecnológicos.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A biodiversidade e os serviços essenciais que ela nos proporciona são pilares centrais para um planeta saudável, incluindo a vida humana. Em adição, quando a biodiversidade é usada sustentavelmente, é possível dispor benefícios para ter melhores condições que estimulam todos os aspectos de bem-estar humano e especialmente a saúde humana. A partir das ferramentas biotecnológicas estamos começando a apreciar a riqueza dos benefícios à saúde humana que resultam da experiência da natureza e da biodiversidade com base nos componentes químicos ou princípios ativos para a cura de diversas doenças. Mais do que conhecer o potencial biotecnológico da biodiversidade brasileira, é fundamental aplicar métodos de preservação dessa biodiversidade, pois a perda de biodiversidade pode minar o progresso do desenvolvimento, da segurança nutricional e toda vez que uma diversidade de organismos se perde, afeta também as perspectivas de valiosas possíveis descobertas médicas futuras.

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AS PRINCIPAIS PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA EM BENJAMIN CONSTANT – AM

Anna Caroline dos Santos Moura1 e Catharine Montiel dos Santos Moura2

1. Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Colegiado de Ciências: Biologia e Química, Secretaria de Estado de Educação e Desporto do Amazonas, SEDUC, Amazonas, Brasil; 2. Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Colegiado de Administração, Amazonas, Brasil.

RESUMO Este estudo foi desenvolvido na Feira do município de Benjamin Constant sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) com entrevistas a feirantes e clientes para realizar o levantamento sobre as PANC comercializadas e suas formas de consumo, visando assim o incentivando à continuidade da sua comercialização e utilização na alimentação pelos moradores. Vale destacar que o consumo das PANC pode promover a conservação das espécies nativas e também a conservação ambiental, pois elas são adaptadas ao clima e solo da região, não necessitando de alterações para o seu cultivo, como o uso de agrotóxicos; além de contribuir para a diversificação de alimentos disponibilizados para os moradores locais, possibilitando uma alimentação mais saudável com acesso a espécies ricas em nutrientes essenciais ao desenvolvimento e manutenção do organismo. Palavras-chave: Plantas, Consumo, Benefícios, Comercialização e Conservação Ambiental.

ABSTRACT This study was developed at the Fair of the municipality of Benjamin Constant on Non- Conventional Food Plants (PANC) with interviews with marketers and customers to carry out a survey on the commercialized PANC and their forms of consumption, thus aiming at encouraging the continuity of their commercialization use in food by residents. It is worth mentioning that the consumption of PANCs can promote the conservation of native species and also environmental conservation, as they are adapted to the climate and soil of the region, not requiring changes for their cultivation, such as the use of pesticides; in addition to contributing to the diversification of food available to local residents, enabling a healthier diet with access to species rich in essential nutrients for the development and maintenance of the organism. Keywords: Plants, Consumption, Benefits, Commercialization and Environmental Conservation.

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1. INTRODUÇÃO

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) são alimentos com alto teor nutricional na dieta humana, recebem a denominação de não convencionais porque muitas pessoas as confundem com “ervas daninhas” (LIRA, 2018). O termo PANC foi criado pelo Biólogo Valdely Ferreira Kinupp em 2008 e refere-se às plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas que não são incluídas no cardápio do cotidiano (KINUPP; BARROS, 2007; KELEN et al., 2015). Vale destacar que no Brasil existem pelo menos 3 mil espécies conhecidas de PANC e estudos indicam que cerca de 10% da flora sejam de plantas alimentícias (KELEN et al., 2015). Elas são plantas que crescem espontaneamente, sendo muitas endêmicas em determinadas regiões e, geralmente, cultivadas por agricultores familiares, principalmente entre os povos tradicionais, ocorrendo o seu consumo na própria família, sem intuito comercial (PEDROSA et al., 2012). As PANC por serem fontes de sais minerais, vitaminas, carboidratos e proteínas poderiam e deveriam estar presente no cardápio diário, contribuindo para o fortalecimento da soberania alimentar de muitas famílias, pois “cerca de 90% do alimento mundial vêm de apenas 20 espécies” (KINNUP; LORENZI, 2014). Porém, devido à falta de conhecimento, muitas são caracterizadas como matos ou ervas daninhas, sendo ignoradas e descartadas quando crescem em quintais, roças, jardins ou calçadas. As PANC são consideradas fontes de nutrientes, vitaminas, sais minerais, propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e ação terapêutica. Para consumi-las deve-se respeitar suas características e formas de preparo para a obtenção dos benefícios com segurança (PASCHOAL; SOUZA, 2015), esse conhecimento é adquirido a partir do contato com pessoas que trabalham com o cultivo dessas espécies e moradores que as consomem. Com o incentivo ao consumo as PANC, além da obtenção de alimentos ricos em nutrientes essenciais ao organismo, podem promover a conservação ambiental, pois “são plantas adaptadas ao clima e solo da região e de crescimento espontâneo, não necessitando de insumos e da derrubada de novas áreas para o seu cultivo” (BARREIRA et al., 2015). Vale destacar que a grande maioria das PANC possui maior adaptabilidade devido sua variabilidade genética (KINUPP, 2014). Com base nessa premissa, foi realizado levantamento sobre as PANC comercializadas na feira do município de Benjamin Constant e suas formas de consumo, por

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meio de entrevistas a feirantes e clientes, visando o incentivo a sua comercialização e utilização na alimentação dos moradores.

2. MATERIAIS E MÉTODO

O trabalho foi realizado na Feira do agricultor de Benjamin Constant de junho a dezembro de 2019, município localizado na microrregião do Alto Solimões, mesorregião do sudoeste do Amazonas, em área de fronteira com Colômbia e Peru. Tendo população estimada para 2019 de 42.984 habitantes, com unidade territorial de 1.559.167,889 km² (IBGE, 2020). Nesse estudo foi empregada a pesquisa do tipo descritiva de caráter qualitativa, pois é abrangente, permitindo análise da percepção do grupo de estudo e a compreensão e explicação de fenômenos (OLIVEIRA, 2008). Na qual se considerou a percepção dos moradores sobre as PANC e as formas de consumo. As atividades de campo foram realizadas com visitas periódicas a feira, duas vezes por semana. Os informantes selecionados foram os feirantes e clientes, que se dispusera a participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a carta de aceite. O contato com os informantes ocorria na feira durante as visitas periódicas, posteriormente, cada participante foi indicado pelo anterior, princípio adotado pela amostragem não probabilística conhecida como “bola de neve”, utilizando cadeias de referência, sendo uma técnica útil para se estudar populações que não há precisão sobre sua quantidade (BAILEY, 1994; VINUTO, 2014). O tamanho da amostra foi definido quando houve “saturação” e os dados obtidos passaram a apresentar repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta (FONTANELLA et al., 2008), sendo o total de 45 pessoas informantes da pesquisa. As técnicas empregadas foram: observação, registros fotográficos, diário de campo e entrevista com roteiro prévio constituído de perguntas norteadoras para feirantes e clientes, sendo: 1. Você conhece ou já ouviu falar sobre as PANC? 2. Quais PANC você conhece? 3. Você costuma utilizar as PANC nas refeições? Em caso afirmativo, como são utilizadas? 4. Quais PANC são comercializadas na feira? (A última questão foi exclusiva para os feirantes).

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Para a identificação das PANC, foram adquiridas as espécies comercializadas na feira e citadas nas entrevistas, sendo elas fotografadas e permitindo sua comparação com trabalhos científicos publicados e identificação botânica (SILVA et al., 2014) com auxílio de especialistas da área. As entrevistas e anotações de diário de campo passaram pela análise de discurso (FERNANDES, 2008), ocorrendo interpretação do texto formando as categorias com base na temática do trabalho e as perguntas norteadoras (FERNANDES, 2008). Após a identificação das PANC e análise dos dados, houve a descrição das espécies comercializadas na feira a partir dos resultados obtidos, como também as suas formas de consumo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho foi realizado na Feira do agricultor no município de Benjamin Constant, com entrevistas a feirantes e clientes relacionaram cinco espécies vegetais de PANC comercializadas, que foram agrupadas em três etnocategorias elaboradas na tentativa de agrupar as informações semelhantes, embora expressadas de formas diferentes nos discursos, sendo: as PANC comercializadas na feira, período de disponibilidade das PANC e as formas de consumo das PANC. Cabe ressaltar, que as feiras são canais de comercialização de produtos da agricultura familiar que raramente recebem apoio de políticas públicas específicas ou são objetos de programas de desenvolvimento rural (PIERRI; VALENTE, 2015). Nesses locais, muitas famílias trabalham com o objetivo de adquirir recursos para a sua sobrevivência. Durante a execução da pesquisa, com visitas periódicas de duas vezes por semana, foram entrevistadas 45 pessoas, sendo dez feirantes e 35 clientes, com roteiro prévio contendo quatro questões: 1. Você conhece ou já ouviu falar sobre as PANC? 2. Quais PANC você conhece? 3. Você costuma utilizar as PANC nas refeições? Em caso afirmativo, como são utilizadas? 4. Quais PANC são comercializadas na feira? (A última questão foi exclusiva para os feirantes). Quando os informantes foram questionados sobre “Você conhece ou já ouviu falar sobre as PANC? 60% dos feirantes e 27% dos clientes disseram que sim e 40% dos feirantes e 73% dos clientes responderam não. Pode-se assim perceber que poucos clientes

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conhecem as PANC disponibilizadas na feira, o que, segundo relato dos feirantes, contribui para a baixa saída desses produtos e, consequentemente, a sua aquisição para a comercialização. Ao serem questionados sobre “Quais PANC você conhece?” Os feirantes responderam: nenhuma (30%); boga-boga (Cyclanthera pedata (L.) – 20%; taioba (Xanthosoma sagittifolium (L.) Schot) – 20%; jambu (Acmella oleracea (L.) R. K. Jansen) – 15%; orelha-de-macaco (Alternanthera sessilis (L.) R.Br. ex DC.) – 10%; ariá (Calathea allouia (Aubl.) Lindl.) – 5%. Os clientes responderam: boga-boga (43%); taioba (33%) e jambu (24%). Dessa forma, é possível ressaltar que as PANC são pouco conhecidas em Benjamin Constant até mesmo pelos feirantes. Em relação à utilização das PANC nas refeições, 47% dos feirantes disseram que as usam e 53% não; dos clientes entrevistados 40% responderam que sim e 60% não. Isso mostra a baixa adesão das PANC na alimentação da população entrevistada. Ao serem questionados sobre “Quais PANC são comercializadas na feira?” foram citadas pelos feirantes: jambu (A. oleracea) – 40%; boga-boga (C. pedata) – 35%; ariá (C. allouia) – 10%; taioba (X. sagittifolium) – 10%; orelha-de-macaco (A. sessilis) – 5%. A disponibilidade das PANC na feira é relacionada à sua venda, como poucas pessoas as conhecem, poucas são adquiridas e comercializadas. As cinco espécies comercializadas na feira e citadas nas entrevistas – orelha-de- macaco (A. sessilis), boga-boga (C. pedata), taioba (X. sagittifolium), ariá (C. allouia) e jambu (A. oleracea) – foram coletadas, fotografadas, identificadas e descritas quanto a sua utilização e disponibilidade a partir dos dados das entrevistas, como se pode observar a seguir na figura 1.

Ariá (C. allouia (Aubl.) Lindl.) suas batatas (raízes tuberosas) são consumidas cozidas com sal no desjejum ou lanches, acompanhando de café, suco ou chá (Figura 1A). Os períodos de disponibilidade são entre os meses de maio a setembro. “O ariá contém teores de 13% a 15% de amido e cerca de 1,5% de proteína na matéria seca. No Brasil, é utilizado em comunidades rurais da Amazônia, especialmente por populações ribeirinhas e por indígenas” (BRASIL, 2015).

Boga-boga (C. pedata L.) é utilizada no preparo de cozidos e sopas (Figura 1B). O período de disponibilidade dessa espécie ocorre entre os meses de julho a setembro. “É uma

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hortaliça-fruto originária da América do Sul. A espécie tem ação anti-inflamatória, hipoglicemiante e redutora do nível de colesterol” (FERNANDES et al., 2005).

Orelha-de-macaco (A. sessilis L.) é utilizada no preparo de cozidos, sopas e saladas (Figura 1C). De fácil cultivo, muitas vezes como planta ornamental, está disponível praticamente durante todo o ano. Para serem aproveitados os seus benefícios nutricionais, “precisa-se de cozimento de um a três minutos antes do consumo, pois possui oxalatos e taninos considerados fatores antinutricionais, ou seja, que impedem a plena expressão de seus potenciais nutritivos” (CORDEIRO, 2020).

Jambu (A. oleracea L.) é empregado na culinária local para o preparo de cozidos como o pato no tucupi e o tacacá, como também na medicina popular para a obtenção de xaropes (Figura 1 D). Vale ressaltar que as “folhas do jambu apresentam sabor acre e pungente, por isso são utilizadas em condimentos, além de possuir aplicação tradicional em produtos farmacêuticos, alimentos, e produtos para a saúde e cuidados pessoais, e também é conhecido como antimicrobiano” (FAVORETO; GILBERT, 2010). Para Santos et al. (2019) esta espécie de hortaliça mostra que pode ser mais que um prato feito com viés turísticos, mas que bem estudada e investida no manejo pode trazer benefícios para as indústrias farmacêuticas pelos seus potenciais característicos de vitaminas, cálcios, ferros e entre outros eficazes para a saúde humana.

Taioba (X. sagittifolium L.) no município é consumida cozida com sal no desjejum ou lanches, acompanhando de café, suco ou chá (Figura 1E). Os períodos de disponibilidade são entre os meses de abril a setembro. A espécie “é uma herbácea perene da família das Aráceas, possui ferro, potássio, cálcio, manganês, antioxidantes (carotenoides e flavonoides), vitamina C e vitamina E” (SOUZA, 2018). Depreende-se que a descrição das PANC comercializadas na Feira contribui para a divulgação das espécies, incentiva seu consumo e valoriza o conhecimento local sobre elas, pois foi notório que as PANC ainda são pouco conhecidas e consumidas em Benjamin Constant. Consequentemente, com o aumento do seu consumo, pode-se promover a conservação ambiental.

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Figura 1. PANC comercializadas na Feira do agricultor no município de Benjamin Constant, Amazonas. A – Taioba (X. sagittifolium); B – Boga-boga (C. pedata); C – Orelha-de-macaco (A. sessilis); D – Jambu (A. oleracea); E – Ariá (C. allouia). Fonte: MOURA, 2019.

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4. CONCLUSÃO

No Brasil, de forma geral, o potencial alimentício das espécies nativas ainda é pouco valorizado em razão de padrões culturais que privilegiam produtos e cultivos exóticos em relação aos recursos naturais (CORADIN et al., 2011). As PANC são espécies nativas com alto potencial de fontes de alimentos ricos em nutrientes e que se desenvolvem em ambientes naturais, com o incentivo ao seu consumo obtém-se alimentos diversificados proporcionando maior diversidade alimentar e enriquecem da dieta, além de ocasionar baixo impacto na agricultura, associada à conservação ambiental. Além de incentivar o consumo das PANC, buscou-se divulgar e valorizar o conhecimento local sobre as espécies comercializadas, podendo ser utilizado até mesmo no ensino de Ciências Ambientais contextualizado com a realidade local.

5. REFERÊNCIAS

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LEVANTAMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS E FRUTÍFERAS EM QUINTAIS URBANOS NO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – AM

Doraci Brito de Souza1, Guilherme Abadia da Silva1, Rafael Bel Prestes da Silva1,2, Daniela de Moraes Batista1, Priscila Beleza Cruz1, Tatiane Brito de Souza3 e Layla Luandra Leal de Souza4

1. Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Colegiado de Ciências: Biologia e Química, Amazônas, Brasil; 2. Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Colegiado de Ciências: Biologia e Química, Secretaria de Estado de Educação e Desporto do Amazonas, Amazônas, Brasil; 3. Faculdades Integradas Aparício Carvalho (FIMCA/METROPOLITANA), Rôndonia, Brasil; 4. Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), Rôndonia, Brasil.

RESUMO A biodiversidade é responsável pela manutenção da vida na Terra, sendo importante na interação entre os seres vivos, oferta dos bens e pelos serviços que sustentam a sociedade humana e sua economia. Os quintais urbanos exercem a função de reservatórios de biodiversidade em comunidades e mundo afora, recebendo uma merecida atenção para as espécies vegetais. Por meio do cultivo em quintais urbanos, a população contribui com o equilíbrio ambiental trazendo consigo as culturas que são passadas de geração a geração e tais conhecimentos jamais poderão ser esquecidos. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento de plantas medicinais e frutíferas em quintais urbanos no município de Humaitá-AM. Foram realizadas entrevistas presenciais com aplicação de questionário semiestruturado registrando as espécies vegetais em quintais urbanos de Humaitá entre outubro de 2018 a maio de 2019. O bairro selecionado para o estudo foi o mais antigo: São Domingo Sávio, situado na área urbana do município. O cultivo das plantas em quintais urbanos de Humaitá auxilia no combate a doenças e promove a conservação ex situ da agrobiodiversidade agroflorestal, bem-estar aos moradores pela melhoria da paisagem, ambiência microclimática e espaço de lazer. E os costumes de cultivo vêm sendo muito valorizado pelos moradores e que a cultura ainda existe até nos dias atuais. Palavras-chave: Cultura, Espécies Vegetais e Arecaceae.

ABSTRACT Biodiversity is responsible for the maintenance of life on Earth, being important in the interaction between living beings, the supply of goods and services that support human society and its economy. Urban backyards act as reservoirs of biodiversity in communities and the world, receiving deserved attention for plant species. Through cultivation in urban backyards, the population contributes to the environmental balance, bringing with it cultures

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that are passed on from generation to generation and such knowledge can never be forgotten. Thus, this work aimed to carry out a survey of medicinal and fruit plants in urban yards in the municipality of Humaitá-AM. Face-to-face interviews were conducted with the application of a semi-structured questionnaire recording plant species in urban yards in Humaitá between October 2018 and May 2019. The neighborhood selected for the study was the oldest: São Domingo Sávio, located in the urban area of the municipality. The cultivation of plants in urban backyards in Humaitá helps to combat diseases and promotes ex situ conservation of agroforestry agrobiodiversity, well-being for residents by improving the landscape, microclimate ambience and leisure space. And cultivation customs have been highly valued by residents and that culture still exists today. Keywords: Culture, Plant Species and Arecaceae.

1. INTRODUÇÃO

A biodiversidade é responsável pela manutenção da vida na terra, pela interação entre os seres vivos e pela oferta dos bens e serviços que sustentam a sociedade humana e suas economias. Todavia, a manutenção da biodiversidade é fundamental para a saúde humana, com dependência direta da medicina natural e moderna. Através de seu cultivo onde a população contribui para esse equilíbrio ambiental, trazendo consigo as culturas que são passadas de geração para geração, tais conhecimentos que jamais poderão ser esquecidos. No Brasil, quintal é o termo utilizado para se referir ao terreno situado ao redor da casa, definido, na maioria das vezes, como a porção de terra próxima à residência, de acesso fácil e cômodo, na qual se cultivam ou se mantêm múltiplas espécies que fornecem parte das necessidades nutricionais da família, bem como outros produtos, como lenha e plantas medicinais (BRITO; COELHO, 2000). A história do uso de plantas medicinais, desde os tempos remotos, tem mostrado que elas fazem parte da evolução humana e foram os primeiros recursos terapêuticos utilizados pelos povos. Pode-se afirmar que o hábito de recorrer às virtudes curativas de certos vegetais se trata de uma das primeiras manifestações do antiquíssimo esforço do homem para compreender e utilizar a natureza como réplica a uma das suas mais antigas preocupações, aquela originada pela doença e pelo sofrimento (BRANDELLI, 2012). Na Amazônia, os quintais residenciais são de grande importância tanto na vida rural como na urbana, quase sempre expressando um “contínuo rural-urbano” (WINKLERPRINS, 2002; SEMEDO; BARBOSA, 2007). Os quintais podem ser definidos como áreas ao redor dos domicílios, onde, são cultivadas plantas para vários fins, tais como, alimentares,

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medicinais, ornamentais, entre várias outras finalidades (SOBRINHO; GUIDO, 2008; CARNEIRO, 2011). O Brasil é reconhecido mundialmente e como o país que detém a maior fatia da biodiversidade mundial (15% a 20% de toda a biodiversidade do planeta terra encontram-se no Brasil). O Brasil possui também uma rica sociodiversidade representada por mais de 200 povos indígenas, uma diversidade de comunidades locais (quilombolas, caiçaras, seringueiros, etc.) que reúnem um inestimável acervo de conhecimentos tradicionais sobre a conservação e uso da biodiversidade, principalmente das plantas medicinais (GROSS; JOHNSTON; BARBER, 2005). Os quintais urbanos, além de servirem de fonte alimentar nutritiva e saudável à população (FERNANDES; NAIR, 1986 apud PELLENZ et al., 2016), possuem importante contribuição na manutenção da biodiversidade, sendo frequente a ocorrência de plantas nativas nos mesmos, servindo como banco genético natural (PELLENZ et al., 2016). Quintais associados a habitações humanas podem ser classificados como sistemas agroflorestais funcionando como reservatórios de diversidade de espécies de árvores, arbustos e ervas situadas dentro de um limite residencial, e sob o manejo e o trabalho familiar (FERNANDES; NAIR, 1986; MCCONNELL, 1992; NAIR, 1993; SEMEDO; BARBOSA, 2007). Segundo Goetten (2012), plantas medicinais servem também como fonte primária para o desenvolvimento de novos fármacos, por isso é interessante pesquisar o conhecimento popular já existente e, em cima disso, desenvolver pesquisas, de forma a aproveitar o que já se sabe. Além de seus usos medicinais, as plantas muitas vezes possuem outros usos, o que faz com que se torne ainda mais interessante cultivar estas plantas. As plantas medicinais têm na sua utilização uma grande importância popular, pois são de fácil acesso e baixo custo. Muitas vezes são substituídos por remédios de farmácia, é importante ressaltar que o cultivo de plantas medicinais em seus quintais é levado ao comercio, como forma de sustentabilidade, devido seu poder de cura, onde podem ser comercializados e base de ervas ou oferecido aos comerciantes ainda em estado natural. Contudo, a utilização de quintais domésticos como reservatórios da diversidade de espécies frutíferas, medicinais, entre outras, fornece e facilita o acesso a produtos vegetais de qualidade, melhorando tanto a dieta alimentar quanto a qualidade dos solos ao redor das moradias urbanas (SEMEDI; BARBOSA, 2007; SIVIERO et al., 2011; MEDEIROS et al., 2015). Ao mesmo tempo, esses locais podem funcionar como células urbanas de conservação de recursos genéticos (MEDEIROS et al., 2015).

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2. MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho foi realizado no bairro São Domingo Sávio no município de Humaitá-AM entre outubro de 2018 a maio de 2019, este bairro foi escolhido por ser o mais antigo e com isso há moradores com muitos conhecimentos e costume de cultivo tanto plantas medicinais como frutíferas, foram feitas três dias consecutivos de visitas nas residências onde se identificou e classificaram-se as espécies medicinais que foram cultivadas e frutíferas que foram encontradas no local. Foi aplicado 35 questionários semiestruturado para a realização do levantamento dos dados da pesquisa, onde foram indagados os conhecimentos sobre o cultivo das plantas em seus quintais, como também se as variedades de espécies mais encontradas para o consumo ou comercialização da comunidade do local. Este questionário foi feito através de uma entrevista onde os moradores responderam de acordo com o que tinha cultivado em seu quintal, as perguntas que foram feitas aos moradores foram respondidas por pelo consentimento dos oradores onde os mesmos assinaram um termo, com isso as obtivemos bons resultados e acolhimento dos moradores. Fez-se uma análise nos quintais e identificaram-se os tipos de espécies encontradas no local e a quantidade que os mesmos tinham plantadas, a análise do quintal foi realizada com a autorização dos moradores. Os entrevistados foram questionados de onde eles obtiveram os conhecimentos e o que os levaram a obter o interesse para cultivar as plantas medicinais e frutíferas em seus quintais e por quais espécies tiveram interesse ter, em suas residências. Para os moradores do bairro que foi escolhido que não tinham o costume de cultivar plantas em seus quintais, tiveram uma breve orientação da importância e dos benefícios que as plantas cultivadas em suas residências podem causar tanto a sua saúde como para o meio ambiente, Após a realização das visitas e das entrevistas, foi feito um estudo com os dados da pesquisa, fez-se a tabulação de dados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base na pesquisa realizada no bairro São Domingo Savio localizado no município de Humaitá-AM, através de visitas nas residências e aplicação de questionário semiestruturado e observação direta aos quintais com autorização dos moradores, foram

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detectadas 54 espécies vegetais de uso medicinal pertencente a 33 famílias botânicas com destaque para Lamiaceae e Euphorbiaceae (Figura 1). Em espécie se destacaram o coqueiro (Cocos nucifera L.), alfavaca (Ocimum micranthum Willd.), chicória (Eryngium foetidum L.), capim santo (Cymbopogon citratus (DC) Stapf.), sara tudo (Justicia acuminatissima (Miq.) Bremek.) e babosa (Aloe vera L.), tais famílias apresentam um grande valor no consumo de tratamento e no cultivo urbano. Com as espécies identificadas foi possível investigar para quer eram usadas na maioria foram usadas para decocção das folhas visando à obtenção do chá foi o principal modo de preparo das plantas.

Figura 1. Famílias botânicas encontradas no bairro São Domingo Savio.

A maioria dos entrevistados relatou que este conhecimento foi passado de geração a geração (pais a filhos), sendo este costume trazido desde os tempos remotos até os dias atuais. O cultivo das plantas medicinais em quintais urbanos de Humaitá-AM auxilia no combate a doenças e promove a conservação ex situ da agrobiodiversidade agroflorestal, bem-estar aos moradores pela melhoria da paisagem, ambiência microclimática e espaço de lazer. Atualmente, o alto custo dos medicamentos industrializados, as dificuldades da população em receber assistência médica e a tendência de uso de produtos de origem natural têm contribuído para o aumento da utilização das plantas como recurso medicinal (BADKE et al., 2012). Em resposta à recente tendência mundial, no Brasil, existe um elevado interesse pela pesquisa de plantas medicinais como uma forma de preocupação com a biodiversidade (MOSCA; LOIOLA, 2009).

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E os costumes de cultivo vêm sendo muito valorizado pelos moradores e que a cultura ainda existe até nos dias atuais, visando que aos entrevistados mais antigos apresentam o interesse de passar tais conhecimentos aos mais jovens. No Brasil, além dos conhecimentos tradicionais indígenas, as contribuições trazidas nesse campo do conhecimento pelos imigrantes e pelos escravos tiveram importância significativa no surgimento de uma medicina popular rica baseada na utilização da biodiversidade vegetal (SIMÕES et al., 1989). As plantas medicinais basicamente não servem apenas para o uso popular, mas como também para o ramo da pesquisa, uma vez que muitas espécies de plantas são estudadas para o meio medicinal que são encontrados e farmácias originado dos conhecimentos populares. Calcula-se que existam cerca de 500 mil espécies de plantas em todo o mundo, com cerca de 30% deste total com potencial terapêutico, que tornam a biodiversidade brasileira um importante e vasto campo de pesquisa científica (BRASIL, 2006). Para a planta medicinal apresentar a ação farmacológica esperada, além de ser identificada com exatidão, é necessário saber qual a parte da mesma é tradicionalmente usada e que contém o princípio ativo (substância responsável pela ação medicinal), assim como as condições ambientais em que foi feito o cultivo, em qual estágio do ciclo vegetativo do vegetal se encontra a quantidade máxima deste princípio ativo e qual a melhor época de colheita para poder ser utilizada como medicinal (SIMÕES el al., 1989). Podem ter origem em diversas rotas metabólicas, e atuar como hormônios, substâncias antioxidantes e mesmo ligadas à defesa contra fungos, bactérias, vírus, herbívoros ou outros predadores (BUENO; BUENO; MARTÍNEZ, 2016). As famílias Lamiaceae e Euphorbiaceae, foram bem representas pelos moradores da região, as espécies mais citadas da família lamiaceae foram, alfavaca (Ocimum basilicum L.) e manjericão (Ocimum micranthum Willd). As plantas da família Lamiaceae pertencem à ordem Tubifloraee Lamiales, abrangendo cerca de 200 gêneros e, aproximadamente, 3.200 espécies, distribuídas em todo o mundo. A maioria das espécies é conhecida pelo seu uso condimentar e medicinal, e muitas delas possuem atividade biológica já relatada na literatura, por diversos autores (LORENZI; MATOS, 2002). Existem no mundo seis regiões onde a família Lamiaceae apresenta grande diversidade, a saber: região mediterrânea e Ásia Central, sul da África e Madagascar, China, Austrália, América do Norte e México e América do Sul (HARLEY et al., 2004). No Brasil a família está representada por 34 gêneros e 498 espécies (HARLEY et al., 2010). Na medicina popular, a família Lamiaceae ocupa o terceiro lugar em ordem de importância, com muitas espécies apresentando substâncias biologicamente ativas (HARLEY et al., 2004). Para o uso

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medicinal as partes mais utilizadas são as folhas com o preparo por infusão uma vez que o público de pesquisa alega que são utilizadas para tratamentos de gripe infecção (Tabela 1):

Tabela 1. Relação das espécies medicinais citadas pelos moradores.

FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR QUANTIDADE

Ocimum basilicum L. Manjericão 11 Ocimum micranthum Willd Alfavaca 14 Salvia officinalis L. Salvia de Marajó 07 Mentha crispa L. Pé de menta 01 Salvia officinalis L. Salvia 01 Melissa officinalis L. Cidreira 07 Lamiaceae Origanum majorana L. Mangerona 01 Plectranthus barbatus Andrews Boldo falso 05 Mentha spicata L. Hortelã de mesa 03 Plectranthus amboinicus (Lour). 05 Hortelã grande Spreng Rosmarinus officinalis L. Alecrim 02 Jatropha curcas L. Pião manso 03 Jatropha gossypiifolia L. Pião roxo 07 Euphorbiaceae Jatropha curcas L. Pião branco 04 Ricinus communis L. Mamona 01

Anacardiaceae Anacardium occidentale L. Cajueiro 08 Mangifera indica L. Mangueira 14 Psidium guajava L. Goiaba 08 Myrtaceae Eugenia uniflora L. Pitanga 01 Alternanthera brasiliana Terramicina 01 Amaranthaceae (L.Kuntz) Dysphania ambrosioides L. Mastruz 03

Zingiber officinale Roscoe Gengibre 04 Zingiberaceae Curcuma longa L. Açafrão O1

Citrus limettioides (Christm) Rutaceae Limão comum 12 Swngle

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Ruta graveolens L. Arruda 03 Laureaceae Persea americana Mill. Abacate 02

Monimiaceae Peumus boldus Molina Boldo do chile 04 Bryophillum pinnatum (Lam). Escama de Crassulaceae 03 Pers pirarucu

Urticaceae Urtica dioica L. Ortiga 01

Phyllanthaceae Phyllanthus niruri L. Quebra pedra 10

Fabaceae Caesalpinia ferrea Mart. Ex Jucá 02 Tul.var. ferrea Phytolaccaceae Petiveria alliacea L. Mucuracaá 05

Amaryllidaceae Alho porro L. Pé de alho 03

Asteraceae Tanacetum vulgare L. Catinga de mulato 03 Baccharis Trimora (Less). DC. Carqueja 01

Piperaceae Piper callosum Ruiz & Pav. Elixir de parigorico 04 Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Capeba 05

Moraceae Morus nigra L., Morus alba L. Amora 04 Xanthorrhoeaceae Aloe vera (L). Burman f. Babosa 08

Bignoniaceae Arrabidaea chica (Bonpol). L.G. Crajiru 04 Tabebuia impetiginosa (Mart. ex Ipê roxo 01 DC.) Mattos Justicia calycina (Nees) V.A.W Acanthaceae Sara tudo 09 Graham

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Malvaceae Gossypium hirsutum L. Algodão roxo 06 Cymbopogon citratus (DC) Poaceae Capim santo 10 Stapf. Malpighiaceae Malpighia emaeginata DC. Acerola 08 Caricaceae Carica papaya L. Mamão 06 Arecaceae Cocos nucifera L. Coco 20 Solanaceae Pimenta Capsicum L. 04 malagueta Malvaceae Hibiscus sabdariffa L. Vinagreira 01 Compositae Cichorium intybus L. Chicória 13 Rubiaceae Genipa americana L. Jenipapo 03 Bromeliacea Ananas comosus (L.) Merr Abacaxi 02 Brassicaceae Nasturtium officinale R. Agrião 01 Apiaceae Coriandrum sativum L. Coentro 05 Total 33 54 278

Na família Euphorbiaceae os mais citados foram, pião roxo (Jatropha gossypiifolia L.) e pião branco (Jatropha curcas L.) como mostra a tabela 1, é uma família de importância econômica, algumas espécies de Euphorbiaceae são consideradas plantas ornamentais pela beleza das brácteas e folhas (SÁTIRO; ROQUE, 2008). Segundo Beserra et al. (2014), ´´essas plantas apresentam bioativos, sendo estes compostos considerados os grandes promissores na obtenção de substâncias com propriedades inseticidas dessas espécies``. Diversas espécies desta família são reputadas como plantas medicinais, principalmente as do gênero Croton L. e Euphorbia L. (RODRIGUES; CARVALHO, 2001). As espécies citadas pelo público de pesquisa citam que as mesmas são utilizadas para uso medicinal tais como; infecção estomacal e ferimentos onde é utilizado pela infusão das folhas e a resina do caule para ferimentos tais como afta e outros, macerado para banho onde os mesmos relatam que misturado com outros tipos de folhas afasta mal olhado, estes são relatos de cultura passado de pais a filhos, as espécies são roxo (Jatropha gossypiifolia L.) e pião branco (Jatropha curcas L.). Na tabela 2 podemos observar as espécies frutíferas citadas pelos moradores do bairro São Domingos Sávio em Humaitá-AM.

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Tabela 2. Relação das espécies frutíferas citadas pelos moradores.

FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR QUANTIDADE

Cocos nucifera L. Coqueiro 15 Bactris gasipaes Kunth Pupunha 08 Arecaceae Euterpe oleracea Mart. Açai 02 Oenocarpus bacaba Mart. Bacaba 02 Oenocarpus bataua Mart. Patauá 03 Fortunella margarita Thunb. Laranja Japonesa 01 Citrus reticulata Blano. Pokan ou tagerina 06 Rutaceae Citrus X sinensis (L.) Osbeck. Laranja ou laranja pera 06 Citrus limon L. Limão 09 Citrus × limonia Osbeck Limão Cidra 01 Psidium guajava L. Goiaba 09 Syzygium jambos L. Jambo 08 Myrtaceae Plinia cauliflora Mart. Jabuticaba 04 Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh Camu-Camu 01 Eugenia uniflora L. Pitanga 04 Annona muricata L. Graviola 04 Annona squamosa L. Fruta do Conde 02 Ananonaceae Rollinia mucosa Jacq. Biribá 01 Annona montana Macfad Araticum 01 Manga comum; Mangifera indica L. 11 Maguinta Anacardiaceae Spondias dulcis Sol. ex Parkinson Cajarana 01 Anacardium occidentale L. Cajueiro 04 Theobroma grandiflorum (Willd. ex Cupuaçu 08 Malvaceae Spreng.) K. Theobroma cacao L. Cacau; cacau do Mato 04 Artocarpus altilis (Parkinson) Fruta Pão 01 Moraceae Fosberg Morus nigra L. Amora 02 Lauraceae Persea americana Mill. Abacate 03 Bromeliaceae Ananas comosus L. Abacaxi 04 Fabaceae Inga edulis L. Ingá 01

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Punicaceae Punica granatum L. Romã 01 Combrateceae Terminalia catappa L. Castanhola 01 Passifloraceae Passiflora edulis C. Maracujá 01 Oxalidaceae Averrhoa carambola L. Carambola 01 Solanaceae Solanum sessiliflorum Dunal. Cubiu 01 Caricaceae Carica papaya L. Mamão 11 Malpighiaceae Malpighia emarginata DC. Acerola 07 Banana; Musaceae Musa spp L. 08 Banana comprida Total 18 37 157

Foram detectadas 37 espécies frutíferas pertencentes a 18 famílias botânicas com destaque para as de maior representatividade foram Rutaceae (5 espécies), Myrtaceae (5 espécies), Arecaceae (5 espécies) e Ananonaceae (4 espécies). As espécies mais frequentes foram coqueiro (Cocos nucifera L.), manga (Mangifera indica L.), mamão (Carica papaya L.), goiaba (Psidium guajava L.) e limão (Citrus latifolia L.). Em todos os moradores entrevistados, foi observado que as espécies frutíferas têm papel importante na complementação da alimentação, pois o seu uso é basicamente para consumo das famílias. Além disso, foi citado que as plantas oferecem bem-estar, sombra e melhoram a qualidade do ar, portanto, esta pesquisa foi de suma importância, pois comprovou a necessidade de as pessoas terem e manterem as espécies frutíferas em seus quintais mantendo dessa forma um grande valor do ponto de vista da conservação de germoplasma. Os quintais urbanos do município de Humaitá possuem grandes diversidades de arvores frutíferas, tanto as exóticas e as nativas são tradicionalmente consumidas pela nessa região. Sendo os quintais essenciais para a manutenção ecológica, favorecimento de um ambiente mais agradável, ainda existem famílias que mantém os seus quintais domésticos e o mesmo favorece de modo geral toda cidade (SILVA; TOURINHO, 2013). Dos grupos de espécies botânicas utilizadas por populações sedentárias na forma de quintais caseiros na Amazônia, o de maior expressão, ou pelo menos o de maior visibilidade, é o da categoria “perene”. Neste grupo se encaixam as árvores frutíferas comestíveis que incorporam à alimentação diferentes fontes de vitaminas, de suma importância ao metabolismo fisiológico humano, podendo também oferecer sombra e lazer, além de se

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enquadrarem no grupo das medicinais alternativas (MS, 2002; MADALENO, 2000 apud SEMEDO; BARBOSA, 2007). Segundo Medeiros (2013), as plantas medicinais, conhecidas desde que as enfermidades começaram a surgir sobre a face da Terra, após algumas décadas de dormência, elas voltaram a adquirir nova importância no tratamento de saúde. A flora brasileira tem cerca de 15 mil espécies diferentes de ervas ou plantas que constitui um caminho inesgotável para os pesquisadores. O nosso país tem uma riquíssima floresta, uma fábrica natural de medicamentos. De acordo com Kumar e Nair (2004), homegardens possuem longa tradição em países tropicais, onde esses sistemas consistem, geralmente, em uma combinação de árvores, arbustos, trepadeiras, herbáceas. Por sua vez, Oakley (2004) enfatiza a função dos quintais domésticos como reservatórios de biodiversidade em comunidades mundo afora. Segundo Kimber, (1966), “De forma geral, podem satisfazer alguns requerimentos básicos de alimentação, fibras, remédios, construção, recreação e experiências estéticas”. Segundo Boukharaeva et al. (2005) e Shashua-Bar & Hoffmann (2000), “A agricultura urbana praticada nos quintais domésticos contribui também para a melhoria do microclima e pode aumentar a biodiversidade local, quase sempre prejudicada em ambientes urbanos. (Apud OTTMANN et al., 2010). O uso popular das plantas medicinais representam a principal matéria médica utilizada pelas chamadas medicinas tradicionais, ou não ocidentais, em suas práticas terapêuticas, sendo a medicina popular a que utiliza o maior número de espécies diferentes (FIRMO et al., 2011; HAMILTON, 2003). A diversidade vegetal encontrada nos quintais apresenta uma importância significante na sustentação dos povos e no conhecimento dos ambientes naturais e suas formas de manejo, pois, contribuem para a subsistência a determinadas populações (MOURA; ANDRADE, 2007). O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza, muitas vezes, o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais de todo mundo, mantém em voga a prática do consumo de fitoterápicos, tonando válidas as informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos (MACIEL et al., 2002). Embora o consumo de frutíferas nativas pela população brasileira seja antigo e repleto de exemplos, é ainda muito pequeno quando comparado ao enorme potencial que apresenta e incipiente frente ao consumo de outras espécies frutíferas introduzidas no país. O Brasil é

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sem dúvida um dos principais centros de origem e diversidade de plantas frutíferas, abrigando mais de uma centena de espécies nativas cujos frutos se prestam para alimentação humana (VIANI; RODRIQUES, 2005). Estudos sobre a medicina popular vêm merecendo atenção cada vez maior, devido ao contingente de informações e esclarecimentos que vêm sendo oferecidos à Ciência. Esse fenômeno tem propiciado o uso de chás, decoto, tisanas e tinturas, fazendo com que, na maioria dos países ocidentais, os medicamentos de origem vegetal sejam retomados de maneira sistemática e crescente na profilaxia e tratamento das doenças, ao lado da terapêutica convencional (FRANÇA et al., 2008). Os quintais urbanos e Peri urbanos na Amazônia são caracterizados como pequenos espaços onde se cultivam diversas espécies vegetais para usos distintos e múltiplos (MURRIETA; WINKLERPRINS, 2003). No Brasil, quintal é o termo utilizado para se referir ao terreno situado ao redor da casa, definido, na maioria das vezes, como a porção de terra próxima à residência, de acesso fácil e cômodo, na qual se cultivam ou se mantêm múltiplas espécies que fornecem parte das necessidades medicinais da família, como: cultivo de plantas medicinais, devido ao grau de conhecimentos, muitas famílias tem a crença de que as plantas medicinais têm grande importância no poder de cura. Por sua vez, Oakley (2004) enfatiza a função dos quintais domésticos como reservatórios de biodiversidade em comunidades mundo afora. Em muitas culturas, as mulheres são as responsáveis pela manutenção desse sistema. Essa tarefa cotidiana garante o acesso das famílias a uma dieta saudável e adequada ao gosto e às tradições locais. O mesmo autor afirma, ainda, que as mulheres preservam a biodiversidade por meio de plantações com alta densidade de espécies medicinais, e uma farmácia natural em seus quintais trazendo segurança de conhecimento a seus familiares, transformando seus quintais em laboratório de experiências para a adaptação de grandes variedades de plantas medicinais.

4. CONCLUSÃO

Portanto através desta foram encontradas tanto espécies medicinais como também frutíferas, a pesquisa em todo o seu contexto desde início até a finalização da mesma foi satisfatória, pois foi possível identificar muitas espécies que são utilizadas como tratamento

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de doenças e para o próprio consumo, com isso à prevenção dos saberes passados de pais para filhos sobre o cultivo das plantas ainda existe e com isso essa cultura é de suma importância, pois por mais que existam métodos mais avançado para tratamento de tais tipos de doenças o uso de plantas medicinais utilizadas pelos moradores tem um grande valor nesse contexto, logo preservando também a biodiversidade com os costumes de cultivo de plantas frutíferas em quintais vem sendo satisfatória, pois além de preservação do meio ambiente, as também para os seus próprios consumos, sendo uma ação econômica e de prevenção, agradecemos aos moradores que participaram da pesquisa, pelo acolhimento e atenção em sua residência que foi um público muito atencioso e prestativo para com a pesquisa, para que a mesma estivesse grandes resultados.

5. AGRADECIMENTOS

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsas durante a execução do projeto.

6. REFERÊNCIAS

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DISSEMINAÇÃO DE DOENÇAS versus DESTRUIÇÃO DA BIODIVERSIDADE: O CASO DO SARS-CoV2 E OS CAROTENOS DO BURITI

Francisco Soares Santos Filho1, Nerilson Marques Lima2, Teresinha de Jesus Aguiar dos Santos Andrade3, José Williams Gomes de Oliveira Filho4, Leandro de Sousa Dias5 e Lídia Cristina de Oliveira6

1. Universidade Estadual do Piauí, Centro de Ciências da Natureza / Universidade Federal do Piauí, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Teresina, Piauí, Brasil; 2. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil; 3. Núcleo de Investigação Aplicado as Ciências-NIAC, Instituto Federal do Maranhão, Presidente Dutra, Maranhão, Brasil; 4. Laboratório de Genética e Biologia Molecular, Instituto Federal do Piauí. Teresina, Piauí, Brasil; 5. Núcleo de Investigação Aplicado as Ciências-NIAC, Instituto Federal do Maranhão, Timon, Maranhão, Brasil; 6. Laboratório de Genética e Biologia Molecular, Instituto Federal do Piauí. Teresina, Piauí, Brasil.

RESUMO O presente estudo propõe uma análise sistemática de alguns aspectos da degradação ambiental e suas implicações no aparecimento e disseminação de novas doenças até aqui desconhecidas, com foco na COVID-19, assim como levanta pontos de reflexão sobre o panorama do paradoxo de se destruir os recursos naturais ao tempo em que dissemina novas doenças e afeta a diversidade biológica, fonte natural de recursos que podem combater tais enfermidades. Diante disto, nós focamos a discussão em um exemplo de uma espécie vegetal (buriti) notória e amplamente consumida como alimentos e fontes de bioprodutos de alto valor agregado que tem sido estudada como reservatório de biomoléculas com potencial anti-Sars-CoV-2. A pesquisa se baseou em busca ativa de trabalhos publicados em periódicos indexados que norteiam o eixo enfocado e avaliam a dinâmica de disseminação de novas doenças resultado da ação antrópica. Palavras-chave: Biodiversidade, COVID-19 e Degradação Ambiental.

ABTSTRACT This study proposes a systematic analysis of some aspects of environmental degradation and its implications for the appearance and spread of new diseases hitherto unknown, focusing on COVID-19, as well as raising points for reflection on the panorama of the paradox of destroying resources natural while spreading new diseases and affecting biological diversity, a natural source of resources that can fight such diseases. Given this, we focused the discussion of an example of a plant species (burity) notorious and widely consumed as food sources and bioproducts that high value-added biomolecules have been studied as potential

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reservoir anti-SARS coronavirus-2.The research was based on an active search for papers published in indexed journals that guide the focused axis and evaluate the dynamics of the spread of new diseases resulting from anthropic action. Keywords: Biodiversity, COVID-19 and Environmental Degradation.

1. INTRODUÇÃO

Com a chegada da pandemia da infecção viral COVID-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, a comunidade cientifica foi desafiada a promover uma solução rápida e eficaz para combater e controlar a disseminação viral e buscar soluções para o tratamento ou imunização da terceira virose causada por um coronavírus com impacto sobre a humanidade, cuja patologia sistêmica ataca diferentes sistemas biológicos do corpo humano (FAUCI et al., 2020). Uma das informações bastante disseminadas foi a de que o SARS-CoV-2 seria um vírus encontrado em animais silvestres, usados como refeição na China, como o Pangolim, de onde migrou para espécies de morcego, também usadas na culinária chinesa. A doença teve como epicentro inicial um mercado de animais silvestres na Província de Wuhan – China (WANG et al., 2018). Estas teorias são suportadas pelo fato de que a domesticação e proximidade de animais silvestres para fins alimentícios e, em adição ás condições de precariedade vividas por muitas populações, têm ocasionado a transmissão de muitos patógenos que fazem parte da microbiota destes animais. Diante deste quadro, a medicina tem contribuído para a contenção e redução dos efeitos das doenças infecciosas e imunopreviníveis que surgem com este novo estilo de vida. Desde a chegada da pandemia da Covid-19, a ciência se deparou com um dos mais maiores desafios epidemiológicos do século, e com isso, vem buscando medidas de controlar e combater a infecção viral e mitigar os efeitos das doenças oportunistas e das demais patologias desencadeadas pelo vírus. Neste contexto, laboratórios e centros de pesquisa do mundo inteiro têm buscado alternativas de produção emergencial de vacinas, com a finalidade de imunização em massa (ZHANG et al., 2020). Em paralelo, a ciência tem prospectado um arsenal colossal de drogas já utilizadas na terapêutica de outras doenças que possam atuar na interrupção do ciclo reprodutivo viral e com potencial biocida, através de estratégias de reposicionamento de fármacos (KUPFERSCHMIDT; COHEN, 2020) e até

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o desenvolvimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) (TABAH et al., 2020), além de novas rotinas procedimentais. Diante deste cenário, estudos indicam que o surgimento de novas pandemias é apenas uma questão temporal, devido os efeitos da ação humana no planeta e as consequências ambientais provenientes dela. Os fatores globais oriundos desta ação tais como o efeito estufa, a poluição atmosférica, degradação dos recursos naturais e a perda da biodiversidade têm impactado substancialmente na saúde humana e tornado a interação entre o agente infeccioso e o hospedeiro propício ao aparecimento de novas infecções com potencial pandêmico. No tocante a estas teorias, pesquisas sobre os impactos ambientais no mundo inteiro tem levantado o risco de novas epidemias motivadas, por exemplo, pelo derretimento de geleiras. De acordo com Rogers e Castello (2019), as geleiras podem abrigar uma quantidade imensa de microrganismos totalmente desconhecidos da ciência e que permaneceram congelados. Todavia, com o derretimento provocado pelo aquecimento global, estes agentes infecciosos e parasitas podem chegar até a humanidade, às plantas ou animais domésticos e, consequentemente impactar na saúde humana, uma vez que não existem protocolos médicos de como combatê-los. De uma forma geral, a natureza é muito pródiga em reunir uma diversidade biológica indescritível, proporcionando tanto benefícios quanto males para humanidade. Ao passo em que a degradação e modificação dos ecossistemas provocados por processos de desmatamento, destruição e fragmentação de habitats naturais e até o derretimento de geleiras podem produzir os efeitos causados por microrganismos patogênicos ainda não conhecidos. Estes mesmos habitats podem abrigar plantas e animais detentores de substâncias capazes de contornar problemas para os quais o homem ainda não produziu soluções, especialmente no campo da saúde. Desta forma, este trabalho tem como objetivo discutir alguns impactos causados pelo homem contra a biodiversidade que se refletem tanto na manifestação de novas doenças, quanto na busca por soluções que podem atuar na cura ou na profilaxia de muitas doenças que acometem a humanidade. Com o advento da pandemia da COVID-19, colocando em ênfase a dinâmica de disseminação e patogenicidade de muitas doenças, muitos estudos traçam um cenário que precisa ser objeto de reflexão de todos e necessita de uma avaliação por uma óptica transdisciplinar.

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2. MATERIAIS E MÉTODO

Este trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa de prospecção de artigos publicados sobre o aparecimento de doenças relacionadas aos impactos e agressões contra a biodiversidade, cujo foco principal foi a infecção da atual pandemia de COVID-19. Para isso foram analisadas as principais bases de dados internacionais (Web of Science, Scopus e Science Direct) utilizando palavras/termos individuais ou combinadas usando conjunções “AND” e “OR”, relacionadas ao tema como “vírus”, “diseases”, “environment”, “environmental impacts”, “SARS-CoV-2”, “Coronavírus”, “SARS” e “MERS”.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nosso planeta já foi definido como um “ser vivo” formado por partes que se integram e que, por se relacionarem, quando afetados, envolvem todo o equilíbrio planetário (MARGULLIS, 2001a). Assim, é perfeitamente concebível entender que a exploração de recursos do planeta influencia o equilíbrio dos ecossistemas em uma escala maior ou menor, dependendo da extensão deste desequilíbrio (MARGULLIS, 2001b). Estudos recentes apontam para a descoberta de um considerável número de microrganismos (bactérias e vírus) totalmente desconhecidos da ciência encontrados a partir de amostras do núcleo de geleiras do noroeste do Tibet. Foram encontradas 33 populações virais glaciares sendo que 28 vírus glaciares ainda não catalogados, presos nas geleiras por mais de 15 mil anos (ZHONG et al., 2020). A epidemia da COVID-19, assim como as epidemias causadas por outras linhagens de coronavírus como MERS e SARS são reflexos deste emaranhado complexo de degradação e exploração do meio ambiente, permitindo ao homem o contato com novos agentes patogênicos. Em adição à crise social e sanitária que se abate sobre significativa parcela da população chinesa que, ao se alimentar de animais silvestres ou pelo contato direto com agentes etiológicos vivos transmitidos pelos hospedeiros a partir do meio ambiente externo, reservatórios naturais de alguns destes microrganismos, desencadeia o aparecimento de novas doenças fatais ao homem (GUO et al., 2020) Os estudos visando elucidar os mecanismos de virulência e a morfologia do SARS- CoV-2 geram esforços científicos concentrados em todos os sentidos como, por exemplo, o

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entendimento da estrutura das espículas do vírus, para melhor entendimento dos processos de transmissão viral e patologias relacionadas a esta infecção (HSIEH et al., 2020). Nesta vertente, assim como o meio ambiente é capaz de prover o problema, a partir do desequilíbrio e da invasão antrópica, entendemos também que a natureza é capaz de prover as soluções. Existem estudos científicos avançados, com base em recursos naturais que podem ser utilizados, por exemplo, para interromper o ciclo infeccioso do SARS-CoV-2. É o caso de uma pesquisa proeminente desenvolvida por químicos brasileiros que estudam as potencialidades químicas e biológicas do óleo da espécie Mauritia flexuosa, conhecida popularmente buriti. O buriti é uma planta endêmica do Brasil, da família Arecaceae, que cresce em áreas úmidas, mal drenadas, especialmente na Amazônia (região Norte do Brasil) e do Cerrado brasileiro (região Centro-Oeste), incluindo também os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia, Minas Gerais e São Paulo. É uma palmeira com frutos do tipo drupa, oblongo- globosos, cobertos por um epicarpo formado por pequenas escamas de cor castanho-avermelhadas. O mesocarpo é constituído por material fibroso de cor amarelada de onde se extrai um óleo rico em pigmentos da classe dos carotenoides (LORENZI et al., 2004). Segundo Costa et al. (2020), foi possível isolar nove tipos de carotenos diferentes do óleo de buriti para estudos de prospecção farmacológica anti- SARS-CoV-2: trans-β- caroteno, 13-cis-β-caroteno, 9-cis- β-caroteno, Phytoflueno, β-10-apo-caroteno, α-caroteno, β-zeacaroteno, γ-caroteno e δ-caroteno. Estas moléculas foram avaliadas teoricamente usando técnicas de docagem molecular e simulações de dinâmica molecular, numa comparação com a estrutura em 3D do complexo 2GTB da enzima peptidase, uma das constituintes das espículas do vírus SARS-CoV-2. Os resultados mostraram grande afinidade de três destas moléculas: α-caroteno, 9-cis- β-caroteno e 13-cis-β-caroteno. A figura 1 extraída da publicação de Costa et al. (2020), mostra o resultado da interação com o complexo 2GTB da peptidase. De acordo com o estudo feito apenas em análises in silico, há uma grande possibilidade destas moléculas interromperem o ciclo reprodutivo do SARS- CoV2, e desta forma, são promissores candidatos a avaliação do seu potencial antiviral através de ensaios biológicos in vitro e in vivo. Entretanto, a busca de novos metabólitos biologicamente ativos a partir de fontes naturais deve ser realizada de forma racional, uma vez que pode comprometer a diversidade florística da região onde se encontra as espécies alvo e a interação com os demais seres vivos do ecossistema.

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Figura 1. (1) 13-cis-β-caroteno; (2) 9-cis- β-caroteno e (3) α-caroteno (em azul) associadas ao complexo 2GTB (em verde). Fonte: Costa et al. (2020).

Atualmente, no Brasil, observa-se a expansão do agronegócio sobre áreas da Amazônia e do Cerrado com o forte impacto sobre estes ecossistemas (COLUSSO; PARRÉ; ALMEIDA, 2015), proporcionando uma situação paradoxal: o mesmo evento que afeta a biodiversidade e promove a degradação ambiental, elimina possiblidades de soluções para grandes problemas relacionados à prospecção de drogas para muitos dos males que afetam a humanidade, a exemplo de áreas em chamas que reúnem buritizais. Desta forma, as explorações destes recursos florísticos devem ser realizadas de forma racional e planejada.

3. CONCLUSÃO

À guisa de conclusão observa-se que os efeitos da degradação ambiental expõem o homem a novos organismos, ainda desconhecidos, que podem apresentar um efeito deletério em relação a humanidade, seja por causar doenças humanas ou em plantas e animais domésticos, a exemplo do SARS-CoV2 que causou a mais devastadora pandemia do século. Ao mesmo tempo, o meio que resguarda novos agentes patogênicos também apresenta, focado da grande diversidade biológica, organismos que produzem e metabolizam substâncias importantes, na produção de medicamentos que podem atuar contra estes agentes infecciosos.

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Faz-se necessário que a pesquisa científica possa avançar de modo que boa parte destes organismos sejam estudados e possam gerar substâncias úteis para nutrição e para o desenvolvimento clínico. O descompasso entre uma degradação muito intensa, na qual não se buscam medidas paliativas ou que possam retardar o processo de degradação, e uma pesquisa ainda muito inconspícua nos passa não somente a sensação de que estamos perdendo fontes de compostos úteis à humanidade, mas confirma que de fato estamos em desvantagem, quando comparados aos poucos que promovem este processo de degradação mais intenso.

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ETNO-CONHECIMENTO REFERENTE AS SERPENTES NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO - ACRE, BRASIL

Marilene Vasconcelos da Silva1 e Moisés Barbosa de Souza2

1. Pós-graduanda em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, Brasil; 2. Universidade Federal do Acre, Departamento de Ciências da Natureza, Rio Branco, Acre, Brasil.

RESUMO Este trabalho trata do nível de conhecimento que a população de Rio Branco possui relativo às serpentes, a partir de entrevistas realizadas com pessoas da zona urbana e rural. Das 400 pessoas entrevistadas 300 (75%) são moradores da zona urbana de Rio Branco e 100 (25%) da zona rural. Os resultados demonstram que a população amostrada acredita em dois tipos de lendas: (1) lendas inofensivas, que não causarão maiores danos às pessoas ou aos animais; e (2) lendas que podem agravar a situação das vítimas de acidentes ofídicos, por retardar o atendimento hospitalar ou por ser uma conduta que não auxiliará na neutralização do envenenamento e poderá gerar uma sensação de que não é necessário o atendimento médico. Assim, ficou evidente a necessidade da adoção de trabalhos junto à sociedade, tanto do campo quanto da cidade, para que ela venha a ter uma melhor compreensão do papel ecológico das serpentes e dos cuidados para prevenir e prestar socorro em caso de acidentes. Palavras-chave: Etnobiologia, Rio Branco, Acre, Serpentes e Etno-conhecimento Conservação.

ABSTRACT This work focuses on the level of ethno-knowledge possessed by Rio Branco inhabitants concerning snakes, the data were obtained by means of interviews with urban and rural people. 400 people were interviewed, being 300 (75%) from the urban area, and 100 (25%) from the rural vicinity. The results show that the subjects interviewed entertain two kinds of beliefs: (1) inoffensive ones, which will not cause serious damages to people or animals; and (2) dangerous ones, which may aggravate the condition of the victims of snakebite, by delaying medical care or by providing ineffective aid that will not help neutralize poisoning but will raise the feeling that medical assistance is unnecessary. Thus, the conclusion evinced the need to develop programs directed to both rural and urban population, centering on the development of a better understanding of the ecological role of snakes, and on the proper behavior to prevent accidents and help people in case they occur. Keywords: Etnobiology, Rio Branco, Acre, Snakes, Ethno-knowledge and Conservation.

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil existem 405 espécies de serpentes registradas (COSTA; BÉRNILS, 2018), das quais famílias Elapidae (38 espécies) e Viperidae (36 espécies) são consideradas peçonhentas e podem causar envenenamentos em seres humanos. De acordo com o gênero de serpente, os acidentes são classificados em botrópico, crotálico, laquético e elapídico (ARAÚJO et al., 2003). Os gêneros estão distribuídos de acordo com o tipo de acidente da seguinte forma: botrópico (Bothrops, Bothropoides, Bothriopsis, Bothrocophias e Rhinocerophis), crotálico (Crotalus), laquético (Lachesis) e elapídico (Micrurus e Leptomicrurus). O comportamento humano em relação aos animais é influenciado pelo nível cultural (POUGH et al., 2001). Se uma espécie ou grupo é venerado, este será preservado, mas se for temido, odiado ou associado ao mal, como é o caso das serpentes em várias regiões do mundo, este será normalmente morto (DODD Jr et al., 1993; VIZOTTO, 2003). A cultura ocidental reconhece as serpentes como animais envoltos por lendas e crendices, além de uma maldição imposta pela Bíblia (BORGES, 2001; VIZOTTO, 2003). No Antigo Egito, as cobras eram adoradas como deuses. A economia do Egito dependia do Nilo, e o Espírito do Nilo era um deus-cobra, simbolizando o grande poder do faraó (MORENO, 2003). No Brasil, constantemente usa-se o termo “Cobra” para designar qualquer serpente peçonhenta ou não, o qual foi introduzido pelos portugueses que o trouxeram da Índia, onde é a designação dada à Naja tripudians, uma serpente muito perigosa, devido ao efeito de sua peçonha (MORENO, 2003). No entanto, existem aproximadamente três mil espécies de serpentes em todo o mundo, sendo que cerca de 410 (13,7%) são consideradas peçonhentas e capazes de causarem envenenamento ao homem (ALBOLEA et al., 1999). Segundo a SBH (2005), dentre as espécies peçonhentas encontradas em nosso país temos representantes que pertencem aos gêneros: Bothrops, Bothriopsis, Bothrocophias, Micrurus, Leptomicrurus, Crotalus e Lachesis, além de alguns colubrídeos que possuem dentição opistóglifa, podendo assim inocular peçonha, por exemplo as dos gêneros Clelia, os quais possuem representantes no Estado do Acre (ALBOLEA et al., 1999). As serpentes são assim, animais conhecidos entre as pessoas, mais pela periculosidade de algumas espécies peçonhentas do que pelas suas interações tróficas com

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as demais espécies animais ou pelas propriedades medicinais das toxinas dos venenos, os quais tem tido usos amplos em (LIMA-VERDE, 1994). Este trabalho teve como objetivo analisar o grau de conhecimento que a população do município de Rio Branco possui relativo às serpentes a partir de entrevistas realizadas com pessoas da zona urbana e rural.

2. MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo foi realizado por meio de aplicação aleatória de questionários, onde os bairros e zonas rurais no município de Rio Branco foram escolhidas à partir das linhas de ônibus disponíveis no horário de início do trabalho da entrevistadora, onde foram entrevistadas 400 (quatrocentas) pessoas, sendo 300 (trezentos) moradores da zona urbana e 100 (cem) da zona rural, as quais foram selecionadas ao acaso. Com a aplicação de questionários, buscou-se obter informações relativas a razão sexual, estado civil, faixa etária, grau de escolaridade, dados referentes às crenças e dogmas ligados às serpentes peçonhentas e não-peçonhentas, prevenção e procedimentos em caso de acidentes, bem como, sua relação com esses animais. Para a elaboração dos questionários, foram utilizadas informações para identificar serpentes peçonhentas e não-peçonhentas, segundo Borges et al. (2001) e questões relativas à cultura popular sobre estes animais.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 400 entrevistadas 238 (59,5%) foram do sexo feminino, 236 (59%) casados, 187 (46,8%) nas faixas etárias entre 31 e 54 anos e 194 (49%) com estudo fundamental incompleto e 69 (17%) com ensino médio completo. Para os moradores da zona urbana, foi perguntado, se possuem ou não ligação com a zona rural (hábito de pescar, caçar e outros), dos quais 159 (53%) afirmam possuir tal ligação.

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A grande maioria (396 ou 99%), afirma já ter visto uma cobra e apenas quatro entrevistados (1%) dizem nunca ter visto uma cobra, os quais são moradores da zona urbana. Na zona urbana 38 (12,66%) entrevistados sofreram acidente ofídico e 69 (23%) conheceram alguém que sofreu acidente, enquanto na zona rural 16 (16%) já sofreram acidente ofídico e 41 (41%) conhece alguém que sofreu acidente ofídico. Das pessoas entrevistadas tanto na zona urbana quanto rural, 197 (49,25%) cultua a crença de que serpentes hipnotizam ou atraem e 90 (22,5%) afirmam crer que apenas jibóia (Boa constrictor) possui tal poder. Quando indagadas sobre o poder toxicológico dos ossos de serpentes mortas, a maioria 274 (68,5%) afirma acreditar em tal afirmação e apenas 108 (27%) diz não acreditar em tal informação. Houve um total de 173 (n=400) recusas a opinar sobre ao menos uma das questões apresentadas como características usadas para identificar uma serpente como peçonhenta. Muitas pessoas não quiseram opinar sobre as questões referentes à identificação das serpentes como peçonhentas ou não, como visto na tabela 1.

Tabela 1. Opinião dos entrevistados quanto ao formato da cabeça como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Formato da Cabeça Nº % urbana rural Não quis opinar 193 48,25 158 35 Esta característica não é fator determinante 5 1,25 3 2 Tanto cabeça triangular quanto não destacada do corpo 28 7,00 26 2 Não destacada do corpo 30 7,50 20 10 Cabeça triangular 141 35,25 90 50 Triangular, exceto coral 1 0,25 1 0 Triangular, exceto jibóia 2 0,50 2 0 Total 400 100 300 100

Quanto aos que opinaram, 49,75% considera que pupila vertical e pupila redonda são itens que possibilitam a identificação da peçonha nas serpentes (Tabela 2).

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Tabela 2. Opinião dos entrevistados quanto ao formato da pupila como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Olho Contendo Nº % urbana rural Não quis opinar 191 47,75 141 50 Tanto pupila redonda quanto vertical 6 1,50 5 1 Pupila redonda 98 24,50 76 22 Pupila vertical 101 25,25 76 25 Esta característica não é fator determinante 4 1,00 2 2 Total 400 100 300 100

Tabela 3. Opinião dos entrevistados quanto ao formato da cauda como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Formato da Cauda Nº % urbana rural Não quis opinar 125 31,25 101 24 Tanto afina aos poucos como repentinamente 37 9,25 31 6 Esta característica não é fator determinante 4 1,00 4 0 Afina repentinamente 89 22,25 56 33 Afina aos poucos 145 36,25 108 37 Total 400 100 300 100

Tabela 4. Opinião dos entrevistados quanto ao tipo de escamas como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Tipo de Escama Nº % urbana rural Não quis opinar 165 41,25 141 24 Tanto lisas quanto ásperas 13 3,25 8 5 Ásperas 144 36,00 93 51 Lisas 76 19,00 57 19 Não possuem escamas 1 0,25 1 0 Esta característica não é fator determinante 1 0,25 0 1 Total 400 100 300 100

Tabela 5. Opinião dos entrevistados quanto aos hábitos das serpentes como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Hábitos das Serpentes Nº % urbana rural Não quis opinar 102 25,50 85 17 Esta característica não é fator determinante 2 0,50 2 0 Tanto diurno quanto noturnos 43 10,75 29 14 Diurnos 95 23,75 81 14 Noturnos 158 39,50 103 55 Total 400 100 300 100

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Tabela 6. Opinião dos entrevistados quanto à ação do animal quando perseguido como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Ação do Animal Quando Perseguido Nº % urbana rural Não quis opinar 102 25,50 84 18 Esta característica não é fator determinante 1 0,25 1 0 Tanto arma o bote quanto foge 34 8,50 28 6 Arma o bote 237 59,25 163 74 Foge 26 6,50 24 2 Total 400 100 300 100

Tabela 7. Opinião dos entrevistados quanto às escamas da cabeça como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona As Escamas da Cabeça Nº % urbana rural Não quis opinar 204 51,00 167 37 Esta característica não é fator determinante 1 0,25 0 1 Tanto presente quanto ausente 7 1,75 5 2 Ausente 59 14,75 44 15 Presente 128 32,00 83 45 Jibóia possui escamas, todas as outras não 1 0,25 1 0 Total 400 100 300 100

Tabela 8. Opinião dos entrevistados quanto a presença da fosseta loreal como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Fosseta Loreal Nº % urbana rural Não quis opinar 289 72,25 231 58 Esta característica não é fator determinante 4 1,00 3 1 Tanto presente quanto ausente 4 1,00 4 0 Ausente 17 4,25 11 6 Presente 86 21,50 51 35 Total 400 100 300 100

Tabela 9. Opinião dos entrevistados quanto a velocidade dos movimentos das serpentes como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Velocidade dos Movimentos Nº % urbana rural Não quis opinar 96 24,00 78 18 Esta característica não é fator determinante 5 1,25 4 1 Tanto rápidos quanto lentos 36 9,00 32 4 Rápidos 193 48,25 147 46 Lentos 70 17,50 39 31 Total 400 100 300 100

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Tabela 10. Opinião dos entrevistados quanto a presença do dente inoculador como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Zona Zona Dente Inoculador Nº % urbana rural Não quis opinar 154 38,50 135 19 Esta característica não é fator determinante 0 0,00 0 0 Tanto presente quanto ausente 10 2,50 10 0 Presente 213 53,25 140 73 Ausente 23 5,75 15 8 Total 400 100 300 100

Tabela 11. Opinião dos entrevistados quanto a outros caracteres que podem ser utilizados como característica utilizada para classificar uma serpente como peçonhenta. Outro Modo de Determinar uma Serpente como Zona Zona Nº % Peçonhenta urbana rural Não quis opinar 279 69,75 203 76 Conhece as que são venenosas 43 10,75 30 13 Cabeça achatada 31 7,75 27 4 Cabeça pequena 1 0,25 1 0 Coloração 10 2,50 9 1 Desenhos e cores, como pico de jaca 4 1,00 4 0 Quanto mais coloridadas mais venenosas 17 4,25 17 0 Todas as cobras são venenosas, exceto jibóia 10 2,50 6 4 Agressividade 1 0,25 1 0 Serpentes que incham o corpo 2 0,50 1 1 Possuem maracá 2 0,50 1 1 Total 400 100 300 100

As pessoas que responderam as questões referentes aos caracteres considerados determinantes para identificar uma serpente como peçonhenta, as respostas mais freqüentes foram: cabeça triangular 141 (35,25%), olho contendo pupila vertical 101 (25,25%), cauda que afina aos poucos 145 (36,25%), escamas ásperas 144 (36%), hábitos noturnos 158 (39,5%), animais que armam o bote ao serem perseguidos 237 (59,25%), escamas presentes cabeça 128 (32%), fosseta loreal presente 86 (21,5%), movimentos rápidos 193 (48,25%), dente inoculador presente 213 (53,25%), e 43 (10,75%) pessoas afirmam conhecer as serpentes que são peçonhentas. A maioria dos entrevistados (362 ou 90,5%), adota procedimentos recomendados para prevenir acidentes ofídicos, como apresentado na tabela 12 (o anexo 2 apresenta a tabela com todos os procedimentos considerados neste estudo).

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Tabela 12. Opinião sobre procedimentos para prevenir acidentes. Zona Zona Nº % Procedimento para Prevenir Acidentes Urbana rural Não quis opinar 20 5,00 16 4 Procedimentos recomendados* 362 90,50 273 89 Procedimentos errôneos* 18 4,50 11 7 Total 400 100 400 100

Dentre os entrevistados, 211 (52,75%) utilizariam procedimentos errôneos para prestar socorro em caso de um acidente, como apresentado na tabela 13 (o anexo 3 apresenta a tabela detalhada das práticas citadas para prestar socorro às vítimas).

Tabela 13. Opinião sobre procedimentos em caso de acidentes. Zona Zona Procedimento em Caso de Acidentes Nº % urbana rural Atitudes corretas 189 47,25 151 38 Atitudes errôneas 211 52,75 149 62 Total 400 100 300 100

As respostas dos moradores da zona rural, sobre qual a reação tem ao encontrar um ofídio, está na figura 1, onde podemos notar que a maioria, 65 ou 65%, afirma que mata a serpente ao encontrá-la.

Figura 1. Comportamento dos moradores da zona rural sobre o que fazer ao encontrar uma serpente.

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Os resultados demonstram que boa parte da população local, tanto da zona urbana quanto rural, possui dois tipos de lendas: 1) lendas inofensivas, que não causarão maiores danos às pessoas ou aos animais; e 2) lendas que podem agravar a situação das vítimas de acidentes ofídicos, por retardar o atendimento hospitalar ou por ser uma conduta que não auxiliará na neutralização do envenenamento e poderá gerar uma sensação de que não é necessário o atendimento médico. Fazem parte do primeiro grupo, as lendas: Crer que serpente hipnotiza ou atrai; ossos de serpentes contêm veneno; queimar chifre de boi afasta cobras; e levar alho no bolso para afastar as cobras quando tiver que andar no mato, entre outras, as quais não gerarão danos ao ecossistema, uma vez que as pessoas não procurarão matar as cobras, baseados nestas crenças. Veja mais sobre essas lendas em Vizotto (2003). Enquanto que, referente às crenças prejudiciais, encontramos algumas, já abordadas por Moreno et al. (2005) e por Pierini et al. (1996), como a ingestão de chás caseiros, como o da pena do nambu azul (ave do gênero Tinamus) e do vegetal jarina (Phytlephas spp.), do extrato vegetal denominado “Específico Pessoa” e o torniquete, os quais podem agravar o estado de saúde de uma pessoa que tenha sofrido um acidente ofídico ou não ter efeito benéfico algum, e demonstraram ser as práticas de pelo menos 52,75% do total de entrevistados (n=400). A comprovação de que continua sendo difundido um modo errôneo de se identificar as serpentes peçonhentas, conforme mostrado Borges (2001), demonstrando que há uma grande necessidade de trabalhos educativos que apresentem formas de identificação e métodos preventivos de acidentes.

4. CONCLUSÃO

De acordo com os resultados podemos sugerir que maiores esforços sejam adotados nos trabalhos com a sociedade, tanto do campo quanto da cidade, para que ela venha a ter uma melhor compreensão do papel ecológico das serpentes e dos cuidados que devem tomar para prevenir acidentes ou para prestar socorro.

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5. REFERÊNCIAS

ALBOLEA, A. B. P.; SALOMÃO, M. G.; ALMEIDA-SANTOS, R.; JORDÃO, R. S. Epidemiologia de acidentes causados por serpentes não peçonhentas no Estado de São Paulo, Brasil. Revista da Universidade de Guarulhos, v. 4, n. 5, p. 99-108, 1999. BERNARDE, P. S.; MACHADO, T. A. Fauna reptiliana da bacia do rio Tibagi. In: MEDRI, M.E. et. al., A bacia do rio Tibagi. Londrina, PR, 2002. BORGES, R. C. Serpentes peçonhentas brasileiras: manual de identificação, prevenção e procedimentos em caso de acidentes. Roberto Cabral Borges. Editora Atheneu: São Paulo, 2001. COSTA, H. C.; BÉRNILS, R. S. Répteis do Brasil e suas unidades federativas: lista de espécies. Herpetologia Brasileira, v. 8, n. 1, p. 11-57, 2018. DODD JR., C. K. Strategies for snake conservation. In: SEIGEL , R. A.; COLLINS, J.T. Snakes: ecology and behavior. McGraw-Hill, Inc., New York, 1993. DUELLMAN, W. E. Herpetofaunas in neotropical rainforests: comparative composition, history, and resource use. In: GENTRY, A. H. Four neotropical rainforests. Yale University Press, New Haven, CT, 1990. GREENE, H. W. Snakes: the evolution of mistery in nature. University of California Press, Bekerley and Los Angeles, California, 1997. LIMA-VERDE, J. S. Por que não matar as nossas cobras. In: NASCIMENTO, L. B.; BERNARDES, A. T.; COTTA, G. A. Herpetologia no Brasil. 1ª ed. PUC/Biodiversitas, Belo Horizonte, MG, 1994. MORENO, E. Acidentes Ofídicos atendidos em uma unidade de referência do município de Rio Branco (Acre). (Dissertação) Mestrado em Medicina e Saúde - Universidade Federal da Bahia em Convênio com o Governo do Estado do Acre, Rio Branco/Acre, 2003. MORENO, E.; ALBUQUERQUE, M. J.; PIRES-DE-CAMPOS; V. A. F.; KATZ, G.; TAKAOKA, N; Y.; LEBRÃO, M. L. et al. Características clínicoepidemiológicas dos acidentes ofídicos em Rio Branco, Acre. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 38, n. 1, p. 5- 21, 2005. PIERINI, S. V.; WARRELL, A. D. E. P.; THEAKSTON, R. D. G. High incidence of bites and stings by snakes and other animals rubber tappers and Amazonian indians of the Juruá Valley, Acre State, Brazil. Toxicon, v. 34, n. 2, p. 225-236, 1996. POUGH, F. H.; ANDREWS, R. M.; CADLE, J. E.; CRUMP, M. L.; SAVITZKY, A. H.; WELLS, K. D. Herpetology. Editora Pretice Hall, 2001. SBH. Lista de espécies de anfíbios do Brasil. Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH). Disponível em: , Acessado em 8/03/2006. VIZOTTO, L. D. Serpentes: lendas, mitos, superstições e crendices. Editora Plêiade, São Paulo – SP, 2003.

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ASPECTOS ECOLÓGICOS E SOCIAIS ASSOCIADOS A ACIDENTES OFÍDICOS NO ESTADO DO ACRE, BRASIL

Marilene Vasconcelos da Silva1 e Moisés Barbosa de Souza2

1. Pós-graduanda em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, Brasil; 2. Universidade Federal do Acre, Departamento de Ciências da Natureza, Rio Branco, Acre, Brasil.

RESUMO O presente trabalho apresenta um estudo relativo aos acidentes ofídicos notificados junto à Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Acre, no período de 2000 a 2004, quando ocorreram 823 casos, dos quais 280 (34,02%) foram registrados no município de Rio Branco. Os padrões encontrados não diferem de dados presentes em literatura, segundo o qual: a maioria dos casos 188 (67,14) com ocorrência na zona rural de Rio Branco e 89 (31,79%) na zona urbana, maior incidência nos meses de abril e dezembro, apresentando 47 (16,79%) e 35 (12,5%) dos casos, respectivamente. O gênero de serpente que causou o maior número de acidentes foi Bothrops, com 206 (73,57%) das notificações. Os números mais expressivos de pacientes encontram-se nas faixas etárias compreendidas entre 20 a 34 anos, do sexo masculino, sendo que 176 (62,86%) se encontravam trabalhando no momento do acidente. As regiões anatômicas mais frequentemente atingidas foram os membros inferiores (70%), seguido por membros superiores (26%), e a maioria dos casos 175 (62,5%), não tiveram sua evolução notificada. Não foi encontrada correlação significativa entre os acidentes ofídicos e a temperatura ou pluviosidade (p>0,04, para ambos os fatores), o que difere de dados presentes em estudos anteriores no Vale do Ribeira – SP e no Estado de Roraima. Os resultados podem estar associados com padrões de utilização dos recursos naturais e práticas de agricultura de forma diferenciada nas diversas regiões estudadas, o que apóia a necessidade de maiores investigações sobre o tema. Palavras-chave: Ofidismo, Fatores sócio-econômicos e Fatores abióticos

ABSTRACT This study discusses snakebites notified to the Acre’s Health Secretary in the period from 2000 to 2004. A total of 823 cases were reported and 280 (34.02%) occurred in the district of Rio Branco. The patterns observed don’t differ from those registered in the literature, according to which the majority of cases, 188 (67.14%) took place in the rural region and 89 (31.79%) in the urban area of Rio Branco, and the greatest incidence in the months of April and December with 47 (16,79%) and 35 (12,5%) of the case. Bothrops was the genus responsible for the largest number of cases, with 206 (73.57%) notifications. Most patients were males and ranged from 20 to 34 years of age, and 176 (62.86%) were working at the time of the accident. The most frequently attacked anatomic areas were the inferior limbs

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(70%), followed by the superior limbs (26%), and the majority of the cases (175 or 62.5%) had no report on their evolution. No significant correlation was found between the accidents and temperature or rain (p>0.04 for both factors), which differs from studies carried out in the Vale do Ribeira – SP and in the state of Roraima. This difference may be associated with different patterns of use of natural resources and agriculture practices in the various regions of study, which indicates the need of further investigation into the subject. Keywords: Ophidian accidents, Socioeconomic factors and Abiotic factors.

1. INTRODUÇÃO

Acidentes ofídicos são uma das maiores causas de morbidade na América Latina, especialmente no Brasil (ALBOLEA et al., 1999). Entre 1990 e 1993 ocorreram 81.611 notificações em nível nacional, gerando um coeficiente de incidência anual de 13,78/100.000 habitantes, onde as regiões que apresentaram maiores coeficientes foram: região centro- oeste (33,31 acidentes/100.000 habitantes) e a região norte que apresentou um coeficiente de incidência anual de 24,33 acidentes/100.000 (BRASIL, 2001). No entanto, é possível que haja um elevado índice de sub-notificações na região Norte, uma vez que há grande dificuldade de acesso aos serviços de saúde (ARAÚJO et al., 2003). Estes dados se repetem no Acre, onde ocorre uma grande incidência de acidentes causados por esses animais, talvez devido à carência de informações por parte da população e pelas atividades econômicas e lazer ligado às áreas de mata, o que torna a população mais susceptível aos acidentes, como discutido por Moreno et al. (2005). No período entre 2000 e 2004, os acidentes ofídicos compreenderam 77% dos casos de acidentes por animais peçonhentos (e.g. aracnídeos, insetos, entre outros) no município de Rio Branco (SINAN/SESACRE, 2005), o que demonstra a importância de estudos sobre os aspectos epidemiológicos do ofidismo. Moreno et al. (2005) descrevem as características epidemiológicas e clínicas dos acidentados admitidos para tratamento em uma unidade de referência do município de Rio Branco - Acre, enquanto o presente trabalho apresenta um estudo relativo a acidentes ocorridos de 2000 a 2004 e notificados junto à Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Acre, relacionando-os com algumas variáveis ambientais e sócio- econômicas para assinalar possíveis fatores de risco, além de buscar a constatação do uso de métodos de proteção.

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2. MATERIAIS E MÉTODO

Foram coletadas informações relativas aos acidentes ofídicos registrados no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2004junto à Secretaria Estadual de Saúde do Acre (SESACRE), constantes no Sistema de Informações de Agravos e de Notificações (SINAN/SESACRE, 2005), e as médias mensais de temperatura e pluviosidade foram obtidas no Serviço de Metereologia da Universidade Federal do Acre – UFAC (AcreBioClima). Das notificações foram obtidos dados referentes à zona de ocorrência, sazonalidade, gênero sexual, faixa etária, circunstância, região anatômica atingida, tempo até o atendimento e a evolução dos casos. Para verificar se houve correlação entre o mês de notificação e a pluviosidade e temperatura médias foi utilizado o programa BioEstat 2.0, onde foi calculado o Coeficiente de correlação de Spearman.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 RESULTADOS

Foram notificados à Secretaria Estadual de Saúde, nos anos 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004, respectivamente 109, 101, 186, 209 e 218 acidentes por serpentes peçonhentas ocorridos no Estado do Acre, totalizando 823 acidentes, com média anual de 164,6 casos (Tabela 1). O município que apresentou o maior número de acidentes no período estudado foi Rio Branco, onde foram notificados 280 casos (32 casos em 2000, 25 casos em 2001, 75 casos em 2002, 79 casos em 2003 e 69 casos em 2004), com uma média anual de 56 casos. Um total de 188 (67,14%) acidentes ocorreram na zona rural de Rio Branco, 89 (31,79%) na zuna urbana e 3 (1,07%) tem como ignorado o local de ocorrência. Quanto à sazonalidade, os meses de abril e dezembro foram os de maior incidência de acidentes ofídicos no município de Rio Branco, apresentando 47 (16,79%) e 35 (12,5%) dos casos (Tabela 2).

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Tabela 1. Distribuição dos acidentes ofídicos no Estado do Acre, segundo o município de ocorrência no período de 2000 a 2004. Município de Média/ Quant. % 2000 2001 2002 2003 2004 ocorrência/ano ano Brasiléia 48 5,83 9,6 6 10 16 8 8 Capixaba 5 0,61 1 2 2 1 0 0 Cruzeiro do Sul 272 33,05 54,4 55 32 48 63 74 Epitaciolândia 3 0,36 0,6 0 1 1 1 0 Feijó 26 3,16 5,2 1 3 13 5 4 Mâncio Lima 37 4,50 7,4 0 6 8 16 7 Manoel Urbano 1 0,12 0,2 0 0 0 1 0 Marechal 19 2,31 3,8 0 1 3 4 11 Thaumaturgo Plácido de Castro 37 4,50 7,4 0 13 8 11 5 Porto Walter 4 0,49 0,8 3 1 0 0 0 Rio Branco 280 34,02 56 32 25 75 79 69 Santa Rosa do Purus 6 0,73 1,2 0 1 2 2 1 Sena Madureira 27 3,28 5,4 0 0 0 3 24 Senador Guiomard 5 0,61 1 1 2 1 0 1 Tarauacá 17 2,07 3,4 0 2 1 6 8 Xapuri 36 4,37 7,2 9 2 9 10 6 Total 823 100 164,6 109 101 186 209 218 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

Tabela 2. Distribuição dos acidentes ofídicos no município de Rio Branco – AC, segundo o mês de ocorrência no período de 2000 a 2004. Mês de ocorrência/ano nº % 2000 2001 2002 2003 2004 Janeiro 25 8,93 0 2 8 8 7 Fevereiro 26 9,29 1 0 14 4 7 Março 25 8,93 4 0 12 9 0 Abril 47 16,79 7 0 13 10 17 Maio 11 3,93 0 0 4 3 4 Junho 25 8,93 1 0 5 5 14 Julho 20 7,14 6 0 3 5 6 Agosto 20 7,14 2 0 3 10 5 Setembro 20 7,14 3 1 4 7 5 Outubro 14 5,00 1 5 4 1 3 Novembro 12 4,29 4 1 1 6 0 Dezembro 35 12,50 3 16 4 11 1 Total 280 100 32 25 75 79 69 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

Em 223 casos que houve referência ao gênero da serpente que causou o acidente, 206 (73,57%) foram por Bothrops, 11 (3,93%) Crotalus, 3 (1,07%) Lachesis, 2 (0,71%) Micrurus e 1 (0,36%) por serpente não-peçonhenta (Tabela 3).

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 243

Tabela 3. Distribuição dos acidentes ofídicos no município de Rio Branco – AC, segundo o tipo de serpente no período de 2000 a 2004. Tipo de serpente/ano nº % 2000 2001 2002 2003 2004 Ignorado ou em branco 57 20,36 4 10 17 19 7 Acidente botrópico 206 73,57 27 12 52 58 57 Acidente crotálico 11 3,93 0 3 3 2 3 Acidente elapídico 2 0,71 0 0 1 0 1 Acidente laquético 3 1,07 0 0 2 0 1 Acidente por não-peçonhenta 1 0,36 1 0 0 0 0 Total 280 100 32 25 75 79 69 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

Os números mais expressivos dos pacientes se encontram nas faixas etárias compreendidas entre 20 e 34 anos (Tabela 4), do sexo masculino (Tabela 5), sendo que 176 (62,86%) estavam trabalhando no momento do acidente (Tabela 6).

Tabela 4. Distribuição dos acidentes ofídicos no município de Rio Branco – AC, segundo faixa etária no período de 2000 a 2004. Faixa etária/ano nº % 2000 2001 2002 2003 2004 <1 Ano 2 0,71 0 1 1 0 0 1-4 10 3,57 2 1 3 1 3 5-9 16 5,71 1 3 7 3 2 10-14 28 10,00 2 2 5 7 12 15-19 35 12,50 6 2 9 12 6 20-34 97 34,64 8 7 28 32 22 35-49 53 18,93 9 4 10 16 14 50-64 25 8,93 4 3 10 3 5 65-79 13 4,64 0 2 2 5 4 80 ou mais 1 0,36 0 0 0 0 1 Total 280 100 32 25 75 79 69 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

Tabela 5. Distribuição dos acidentes ofídicos no município de Rio Branco – AC, segundo sexo no período de 2000 a 2004. Sexo/ano nº % 2000 2001 2002 2003 2004 Masculino 204 72,86 23 15 59 58 49 Feminino 76 27,14 9 10 16 21 20 Total 280 100 32 25 75 79 69 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

Tabela 6. Distribuição dos acidentes ofídicos no município de Rio Branco – AC, segundo a circunstância do acidente no período de 2000 a 2004. Circunstância/ano nº % 2000 2001 2002 2003 2004 Ignorado ou em branco 14 5,00 4 0 3 4 3 Trabalho 176 62,86 16 17 43 58 42 Lazer 81 28,93 8 7 29 16 21 Outros 9 3,21 4 1 0 1 3 Total 280 100 32 25 75 79 69 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 244

As regiões anatômicas mais frequentemente atingidas foram os membros inferiores (70%), seguidos por membros superiores (26%), cabeça (2,88%) e tronco (1,44%). Em relação aos membros inferiores, as regiões das pernas (35,1%) e pés (34,61%) foram as mais atacadas. Quanto aos membros superiores, as mãos (17,79%) foram as mais acometidas (Tabela 7).

Tabela 7. Distribuição dos acidentes ofídicos no município de Rio Branco – AC, segundo o local da picada no período de 2000 a 2004. Local da picada/ano Nº % 2000 2001 2002 2003 2004 Membros inferiores 146 70 24 11 28 31 52 Coxas 1 0,48 0 0 1 0 0 Pernas 73 35,10 5 5 24 20 19 Pés 72 34,61 19 6 3 11 33

Membros superiores 53 26 4 5 16 18 10 Braços 9 4,33 0 1 3 4 1 Antebraços 7 3,37 2 0 2 2 1 Mãos 37 17,79 2 4 11 12 8 Cabeça 6 2,88 3 0 0 3 0 Tronco 3 1,44 1 0 2 0 0 Total 208* 100 32 16 46 52 62 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005. *Em 72 casos, não houve referência ao local atingido.

Os atendimentos aos acidentados ocorreram, em sua maioria em tempo inferior a seis horas após o acidente 163 (58,21%), como demonstrado na Tabela 8.

Tabela 8. Distribuição dos acidentes no município de Rio Branco – AC, segundo o tempo decorrido do momento do acidente até o atendimento médico no período de 2000 a 2004. Tempo para atendimento/ano nº % 2000 2001 2002 2003 2004 Ignorado ou em branco 50 17,86 7 9 16 15 3 0-1 horas 52 18,57 4 4 11 17 16 1-3 horas 58 20,71 6 5 15 16 16 3-6 horas 53 18,93 7 3 16 10 17 6-12 horas 25 8,93 8 4 5 3 5 12 e + horas 42 15,00 0 0 12 18 12 Total 280 100,00 32 25 75 79 69 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

Dentre os 280 casos, 105 foram classificados quanto à evolução do caso, a qual foi de 101 (36,07%) curas, seguido de 3 (10,7%) curas com sequela, 1 (0,36%) óbito. Sendo que 175 (62,5%) dos casos não tiveram sua evolução notificada.

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 245

Tabela 9. Distribuição dos acidentes no município de Rio Branco/AC, segundo a evolução do caso no período de 2000 a 2004. Evolução/ano nº % 2000 2001 2002 2003 2004 Ignorado ou em branco 175 62,50 29 15 42 52 37 Cura 101 36,07 3 10 32 24 32 Cura com sequela 3 1,07 0 0 1 2 0 Óbito 1 0,36 0 0 0 1 0 Total 280 100 32 25 75 79 69 Fonte: SINAN/SESACRE, 2005

A temperatura e a pluviosidade média tiveram seus picos nos meses de dezembro a abril (Tabelas 10 e 11).

Tabela 10. Chuvas (mm), média mensal, em Rio Branco, entre 2000 e 2004. Mês/ano 2000 2001 2002 2003 2004 Janeiro 206 320 217 286 203 Fevereiro 333 221 314 266 272 Março 151 362 226 246 469 Abril 244 170 265 173 104 Maio 60 126 114 126 124 Junho 9 42 45 28 53 Julho 54 37 17 17 47 Agosto 29 3 125 91 58 Setembro 140 26 46 156 36 Outubro 168 149 183 49 257 Novembro 187 160 127 117 288 Dezembro 212 287 232 247 178 Fonte: AcreBioClima, 2005

Tabela 11. Temperatura (ºC), média mensal em Rio Branco – AC, entre 2000 e 2004. Mês/ano 2000 2001 2002 2003 2004 Janeiro 25,4 25,2 26,4 26,4 26,0 Fevereiro 25,3 25,2 25,9 25,4 25,6 Março 25,2 25,3 25,7 25,6 25,8 Abril 24,9 25,7 25,6 25,3 25,9 Maio 24,4 24,5 25,5 25,2 22,1 Junho 23,4 22,1 23,7 24,9 23,5 Julho 24,0 23,9 24,1 23,6 23,6 Agosto 24,6 25,5 25,5 23,5 24,4 Setembro 25,2 26,1 25,6 24,9 25,2 Outubro 25,6 26,6 26,4 26,2 26,0 Novembro 25,9 26,4 25,8 26,0 25,7 Dezembro 25,9 25,9 25,9 26,1 25,8 Fonte: AcreBioClima, 2005

Observou-se que a maioria dos acidentes aconteceu, especialmente, no mês em que houve uma diminuição da pluviosidade média (abril) e posteriormente no período em que as chuvas aumentaram (dezembro), a temperatura não apresentou grandes alterações em suas

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 246

médias ao longo dos anos (Figura 1). No entanto, não houve correlação significativa entre os acidentes ofídicos e a temperatura ou pluviosidade (p>0,04, para ambos os fatores).

Acidentes 30 Temp °C 300 Pluviosidade 25 250

20 200

15 150

10 100

5 50

0 0

Abril

Maio

Julho

Junho

Marco

Janeiro

Agosto

Outubro

Fevereiro

Setembro

Novembro Dezembro Figura 1. Média de acidentes ofídicos por mês no município de Rio Branco, correlacionado com temperatura e pluviosidade (2000 a 2004).

3.2 DISCUSSÃO

O Estado do Acre reproduz a expressiva ocorrência de números de acidentes ofídicos, semelhante ao do restante dos estados da região Norte (MORENO et al., 2005). Deste modo, a relevância do estudo dos acidentes ofídicos para o município de Rio Branco é indicada pelo percentual de casos notificados para este município (34,02%) em relação aos demais municípios do Estado, apesar de Cruzeiro do Sul apresentar um percentual elevado (33,05%). Dentre os 22 municípios do Estado, apenas 16 apresentaram notificações de ocorrência de acidentes, este número provavelmente esteja subestimado uma vez que muitos municípios deslocam as vítimas de acidentes ofídicos a outras cidades, principalmente à Rio Branco para receberem tratamento, como evidenciado por Moreno et al. (2005), e ainda pelo fato de que o sistema de notificações (SINAN/SESACRE) teve sua implantação no Estado a partir do ano de 2000, podendo apresentar algumas falhas, como demonstradas por Bochner e Struchner (2002). A maioria dos acidentes envolveu pessoas do sexo masculino, trabalhadores rurais, com idade entre 20 e 34 anos, seguindo o padrão apresentado em outros trabalhos

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 247

realizados em diferentes localidades do Brasil, por exemplo: Amazonas (BORGES et al., 1999), Roraima (NASCIMENTO, 2000), e em outras regiões do Brasil: Estado do Ceará (FEITOSA et al., 1997), Estado de São Paulo (RIBEIRO et al., 1998), Cuiabá – Mato Grosso (CARVALHO; NOGUEIRA, 1998) e Goiás (PINHO et al., 2004). A provável causa da concentração de acidentes com este padrão dá-se pelo maior número de homens exercendo atividades que os expõem aos acidentes, como trabalhos nas lavouras, extração vegetal e animal, entre outros. Os membros inferiores e superiores foram as regiões anatômicas mais atingidas, o que é concordante com a literatura tanto para a região Norte (PARDAL et al., 1995; BORGES et al., 1999; MORENO et al., 2005) quanto para outras partes do país (RIBEIRO et al., 1998; BRASIL, 2001; PINHO et al., 2004). Visto o maior número de acidentes atingirem as pernas, pés e mãos, torna-se necessário salientar o uso de botas, perneira, luvas e demais vestimentas e equipamentos apropriados para prevenção de acidentes. Apesar de se tratar de acidentes ocorridos em uma área de grandes distâncias, como a região amazônica, o tempo de atendimento após o acidente e a evolução dos casos foi relativamente curto (inferior a seis horas), como confirmado por Moreno et al. (2005). Na maioria dos casos (62,5%) não houve a notificação da evolução do caso e 36,07% evoluíram para a cura completa, havendo a notificação óbito de apenas um caso (0,36%), o que demonstra que os tratamentos adotados estão dentro de padrões aceitáveis, em si tratando de vidas humanas (MORENO et al., 2005) e ainda, que as serpentes não matam tanto quanto as pessoas pensam. Na coleção herpetológica da Universidade Federal do Acre, há registro das espécies peçonhentas: Bothrops atrox, Bothriopsis bilineatus, Lachesis muta, Micrurus albicinctus, M. hemprichii, M. lemniscatus, M. surinamensis e M. spixii, todas provenientes do território acreano, o que corrobora a provável veracidade da identificação das serpentes causadoras dos acidentes. No entanto, notificações de acidentes crotálicos no Acre necessitam ser questionados e melhor investigados, uma vez que, segundo Brasil (2001) e Peters e Orejas- Miranda (1970) este gênero não ocupa florestas e áreas pantanosas, limitando-se aos campos abertos, áreas secas, arenosas e pedregosas. Na Amazônia, as cascavéis (gênero Crotalus) estão registradas apenas para as formações abertas do Amapá e Roraima, Humaitá (AM), Vilhena (RO) e na Ilha de Marajó (PA) (MELGAREJO, 2003), não havendo registros da ocorrência de Crotalus para o Acre, levando ao entendimento de que os casos de acidentes registrados como ocasionados por Crotalus, foram causados por outros gêneros.

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 248

A ausência de correlação significativa entre os acidentes ofídicos e a temperatura ou pluviosidade (p > 0,04, para ambas as variáreis) difere do padrão observado por Martinez et al. (1995) e Nascimento (2000), os quais verificaram que os acidentes ofídicos ocorridos no Vale do Ribeira – SP e em Roraima ocorrem nos meses de temperatura e pluviosidade elevados.

4. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos neste estudo em relação aos padrões sócio-epidemiológicos corroboram com trabalhos realizados em outros estados, como em Goiás (PINHO et al., 2004), Vale do Ribeira – SP (MARTINEZ et al., 1995), Ceará (FEITOSA et al., 1997), Roraima (CARVALHO, 2002), entre outros (PARDAL et al., 1995; CARVALHO. NOGUEIRA, 1998; RIBEIRO et al., 1998). Entretanto, os acidentes não estiveram estatisticamente correlacionados com a temperatura e pluviosidade, diferindo dos demais trabalhos. Este fator pode estar associado com padrões de utilização dos recursos naturais (extrativismo vegetal, pesca, caça, entre outros) e práticas de agricultura que obedecem à sazonalidade local, expondo as pessoas de maneira diferenciada aos acidentes ofídicos ao longo do ano, além de práticas com diferentes níveis de mecanização (ACRE, 2000), o que demonstra que se faz necessário maiores investigações sobre o tema.

5. REFERÊNCIAS

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Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 251

OS EFEITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COMBATE AO BIOCOLONIALISMO NA REGIÃO AMAZÔNICA

Bianca Parreira de Freitas1 e Odorico Ferreira Cardoso Neto1

1.Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário do Araguaia, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Projeto de Pesquisa Políticas Para a Educação Pública Básica e Seu Financiamento (Registro nº 374/2017), Barra do Garças, Mato Grosso, Brasil.

RESUMO A pesquisa consubstancia-se na análise do Colonialismo Biocultural, ou Biocolonialismo, como fenômeno da pós-modernidade. Neste, a Propriedade Industrial, notadamente as patentes, são utilizadas como instrumento de apropriação dos conhecimentos tradicionais associados aos conhecimentos da biodiversidade da Amazônia. Assim, o objetivo precípuo é destrinchar de que forma a Educação Ambiental se firma como barreira a esse “Novo Colonialismo” em ascensão. Para tanto, foi adotada a pesquisa bibliográfica, documental, qualitativa e exploratória. Já quanto ao método científico, este foi o dedutivo, com investigação do Colonialismo Biocultural enquanto fenômeno pós-moderno, estudo da Lei n° 9.279/96 – Lei de Propriedade Industrial, e do emblemático caso do cupuaçu (Theobroma grandiflorum), além da exposição das ações, que representam obstáculos ao Biocolonialismo, viabilizadas pela positivação da Educação Ambiental. Esta se mostrou importante, pois capacita e estimula o pensamento crítico, transformando a sociedade por meio da construção de conhecimento, promotor da afirmação cultural e disseminador da Lei de Propriedade Industrial. Palavras-chave: Colonialismo Biocultural, Propriedade Industrial e Educação Ambiental.

ABSTRACT The research is based on the analysis of Biocultural Colonialism, or Biocolonialism, as a phenomenon of postmodernity. In this case, Industrial Property, notably patents, is used as an instrument for appropriating associated traditional knowledge and biodiversity in the Amazon. Thus, the main objective is to clarify how Environmental Education is established as a barrier to this rising "New Colonialism". For this, bibliographic, documentary, qualitative and exploratory research was adopted. As for the scientific method, this was the deductive one, with an investigation of Biocultural Colonialism as a postmodern phenomenon, a study of Law nº 9.279/96, Industrial Property Law, and the emblematic case of cupuaçu (Theobroma grandiflorum), in addition to the exhibition of actions, which represent obstacles to Biocolonialism, made possible by the positivization of Environmental Education. This proved to be important, as it enables and stimulates critical thinking, transforming society, through the construction of knowledge, promoter of cultural affirmation and disseminator of the Industrial Property Law. Keywords: Biocultural Colonialism, Industrial Property and Environmental Education.

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1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa simplifica a compreensão acerca de um fenômeno pós-moderno que atinge toda a sociedade e o território brasileiro, direta ou indiretamente, mas que é pouco conhecido e discutido, o Colonialismo Biocultural ou Biocolonialismo. Na época das grandes navegações, em que as grandes potências buscavam alcançar novos territórios e novas riquezas, havia uma relação de poder estimulada pela Igreja Católica que buscava encontrar novos fiéis, assim como o país buscava por terras e riquezas diversas. Essas situações de descobrimento e influência entre países eram chamadas de colonizações. Atualmente, vê-se algo muito parecido com mudanças em alguns sujeitos e objetos de interesse. Os novos sujeitos, agora representados pelas grandes empresas, não estão mais interessados na religião, o alvo dos negócios é a rica biodiversidade e a cultura constituída por conhecimentos tradicionais. Nesse sentido, entende-se que o Biocolonialismo corresponde às situações em que os países emergentes e ricos em variedade biológica são alvo de apropriação dessa cultura, caracterizada pela união entre os conhecimentos tradicionais e a biodiversidade, pelos países e corporações com mais conhecimento tecnológico. Diante do exposto, é possível perceber uma relação entre o Biocolonialismo e a pós- modernidade, sendo o primeiro um produto desta última, pois a tecnologia cada vez mais crescente, a descentralização e multiculturalismo representados pelas transnacionais, a substituição do pensamento coletivo pelo individualismo, quando as comunidades tradicionais e seus conhecimentos não recebem a importância necessária e são reduzidos a lucros para as grandes empresas, são todas características do momento intitulado pós- modernidade (MORIN, 2004 apud OLIVEIRA, 2012). É nítido, também, que a ascensão do sistema político-econômico capitalista, principalmente no contexto pós-moderno, foi extremamente relevante para o surgimento de uma nova roupagem do processo de colonização. Contudo, seria indiligente não discorrer sobre o principal instrumento de consolidação do Colonialismo Biocultural, a Lei nº 9.279/1996 — Lei de Propriedade Industrial — LPI. Muitas normas de uniformização sobre a temática da Propriedade Industrial definidas na Convenção de Paris (1883) continuam em vigor, contudo, hoje o Brasil possui legislações específicas de acesso à biodiversidade e aos conhecimentos tradicionais, bem como de Propriedade Industrial, respectivamente, Lei nª 13.123/15 e Lei nº 9.279/1996.

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Entretanto, a antinomia entre essas legislações fomenta a apropriação indevida da biodiversidade da Amazônia brasileira, fenômeno chamado de Colonialismo Biocultural. Desta forma, o direito de Propriedade Industrial instrumentaliza esse Biocolonialismo, que se expressa na patente do açaí (Euterpe oleracea), do cupuaçu (Theobroma grandiflorum), do jambu (Acmella oleracea) e de outros elementos amazônicos. A tecnologia é um fator importante na relação de poder porque a vida em sentido literal não pode ser patenteada e, por isso, não poderia ser objeto de propriedade comercial de algum país. Por esse motivo, os países desenvolvidos utilizam técnicas de biotecnologia para isolar algum princípio ativo do ser vivo, seja uma molécula ou um gene, até mesmo modificados, para poderem ter direito a sua propriedade (MORIN, 2004 apud OLIVEIRA, 2012). Embora o colonialismo assuma diferentes formas de manifestação a partir do contexto histórico, social e econômico, há uma ideologia que é a essência da consolidação desse fenômeno: a necessidade de firmar que existem culturas superiores. O que, na prática, se apresenta como a justificativa para a exploração e dominação de um povo sobre outro (PERIN, 2018). Nesse sentido, Santos, Meneses e Nunes (2005) defendem que a ciência moderna não deve ser descartada, em contrapartida, deve dialogar com outras formas de saberes, como as das comunidades tradicionais. A essa perspectiva denominou-se “ecologia de saberes”. Outrossim, a Educação Ambiental apresenta-se como ferramenta imprescindível para compor uma barreira sólida contra o Colonialismo Biocultural. Isso porque é capaz de promover a afirmação cultural das comunidades tradicionais, possibilita demonstrar aos cidadãos a importância de um desenvolvimento econômico sustentável, além de corroborar para com a propagação da LPI, cuja eficiência depende do alcance dos brasileiros a essa legislação pouco disseminada, principalmente na região amazônica.

2. MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, documental, qualitativa e exploratória. Quanto ao método científico, este é o dedutivo, o qual parte da premissa maior para a menor; ou seja, há conceituação e investigação do Colonialismo Biocultural enquanto fenômeno pós- moderno e, posteriormente, profundo estudo da Lei n° 9.279/96 — Lei de Propriedade

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Industrial — LPI, e do emblemático caso do cupuaçu (Theobroma grandiflorum), além da exposição das ações, que representam sólidos obstáculos ao Biocolonialismo, viabilizadas pela positivação da Educação Ambiental no Ensino Superior. A compreensão do Biocolonialismo na Pós-Modernidade, inicialmente, passou pelo estudo do que se entendia como “colonialismo” na época das “Grandes Navegações”. Isso porque fora necessário estabelecer um paralelo a fim de extrair a ideologia propagada nos países subdesenvolvidos e ricos em biodiversidade para justificar a exploração. A saber, em ambos os casos, dissemina-se o discurso da hierarquia cultural, a ciência e tecnologia acima dos conhecimentos tradicionais. As leis, mesmo para os juristas, às vezes se apresentam com colocações de difícil compreensão, o que é totalmente repugnante, já que foram criadas para servir à sociedade, independente do grau de escolaridade do sujeito. Desse modo, ao tratar da Lei nº 9.279/1996 — Lei de Propriedade Industrial — LPI e da Lei nª 13.123/15 — Lei de Acesso à Biodiversidade ou “Marco Legal da Biodiversidade” —, houve a preocupação em destrinchar seus tópicos e demonstrar, no caso concreto, como a antinomia entre elas, e como a ignorância dos povos de comunidades tradicionais acerca delas legitima o Colonialismo Biocultural. Nesta importante tarefa, as publicações de alguns pesquisadores foram imprescindíveis, dentre eles: Miranda (2018), com sua tese de doutorado “As inconvencionalidades do marco legal da biodiversidade frente ao instituto da consulta prévia, livre e informada: Um processo de colonialismo biocultural”; Rezende e Ribeiro (2009), com o artigo “O Cupuaçu é Nosso? Aspectos Atuais da Biopirataria no Contexto Brasileiro”; e Serpa (2013), com o artigo “Notas introdutórias sobre a propriedade industrial”. A partir dos escritos desses estudiosos, foi possível não só compreender a legislação, mas também verificar nos emblemáticos casos concretos como o Colonialismo Biocultural se materializa, consolida-se e pode ser superado. É nesse momento que a Educação Ambiental se torna o tópico mais relevante e desafiador da pesquisa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa em questão iniciou-se com uma intensa revisão bibliográfica e profunda análise de casos concretos de Colonialismo Biocultural sobre os conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade amazônica.

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Foram analisados sete (07) casos: do açaí (Euterpe oleracea), do cupuaçu (Theobroma grandiflorum), da andiroba (Carapa guianensis), da copaíba (Copaifera sp.), do jambú (Acmella oleracea), da vacina do sapo (Phyllomedusa bicolor) e do Chá de Santo Daime. A semelhança verificada entre eles é a explícita ignorância das comunidades tradicionais acerca da Lei nº 9.279/96 Lei de Propriedade Industrial - LPI. Duas consequências disso podem ser observadas: a primeira se trata da ascensão do fenômeno de Biocolonialismo, e a segunda do aumento de impasses para o desenvolvimento econômico e social das comunidades tradicionais, além de significar uma barreira à afirmação cultural. Diante do cenário exposto, foi necessário buscar uma ferramenta eficaz que pudesse obstar as consequências supracitadas. A Educação Ambiental no ensino superior demonstrou-se adequada, pois é capaz de estimular um pensamento crítico e transformar a sociedade por meio da transmissão de conhecimento. Em contrapartida, diversos autores utilizados como sustentação para as convicções abordadas nesta pesquisa, como Mariane Perin (2018), Horácio Rodrigues (2004) e outros, contribuem para afirmar que há ainda muito que percorrer para alcançar uma situação favorável de Educação Ambiental como contribuinte para a conscientização acerca do Biocolonialismo. Dessa forma, é importante que os docentes tenham uma formação metodológica mais direcionada à problemática ambiental, o que também envolve o fornecimento de material didático capaz de estimular o interesse coletivo por uma ética ambiental e até mesmo pesquisas acerca do assunto. Sobre o último fator, vale ressaltar a dificuldade, no início desta pesquisa, em encontrar material de apoio. Condição esta que, gradativamente, foi se alterando, a partir da publicação de novas pesquisas sobre a mesma temática, o que significa um avanço na luta contra o Colonialismo Biocultural. A Educação Ambiental encontra sustentação em diversas bases legais, inclusive na Constituição Federal em seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI, que possui a seguinte redação: “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.” Somando-se a isso, a Lei n. 9.795/99 assegura que a Educação Ambiental é disciplina necessária nas instituições de ensino superior e possibilita o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental.

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Relevante ressaltar que o caminho para a inclusão da temática ambiental, no ensino superior, já está em andamento, como se observa na Resolução CNE/CP nº 2, de julho de 2015, da República Federativa do Brasil que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o nível superior e inclui em diversas partes do seu conteúdo a Educação Ambiental. Nada obstante a força das legislações, o que se observa é um desinteresse geral para o tema, causando a incompatibilidade entre a teoria e a realidade prática. É possível perceber que os docentes não possuem o necessário fundamento metodológico para lidar com assuntos ambientais em suas atividades (STEINMETZ, 2009). Dessa forma, considerando a importância de repassar conhecimentos sobre a Educação Ambiental como forma de conscientizar a população e gerar formas de solucionar os problemas ambientais, contribuindo para a superação do Biocolonialismo, essa deve ser incluída corretamente nas instituições de ensino superior, para tornar-se uma modalidade recorrente nas atividades aplicadas. São várias as possibilidades de mudança no planejamento pedagógico para obter os resultados pretendidos, a Educação Ambiental deverá ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. A formação ambiental deve ter seu início na preparação dos docentes para poderem atuar em diversos cursos e níveis de educação (RODRIGUES, 2004). Também, é importante incluir o complexo ambiental nos grupos de pesquisa das universidades como forma de assegurar mais possibilidades para quem realmente deseja atuar na área em seu futuro profissional. É importante despertar a reflexão da comunidade como um todo para que novos hábitos possam ser criados para a preservação do meio ambiente, e principalmente para a afirmação cultural de um povo acerca de sua biodiversidade. Outro assunto que não pode ser esquecido é a forma como a temática ambiental poderá ser implantada no ensino superior com relação ao material didático que poderia ser utilizado. CANEPA (2004) discute que este deve ser apropriado a realidade e capaz de gerar bons resultados. Para se alcançar um meio ambiente mais equilibrado e uma correta utilização das particularidades ambientais em relação ao patenteamento dos organismos, é necessário que se discuta questões como o Biocolonialismo e os meios de evitar essa realidade. Aliás, tentar encontrar meios de conciliar a economia com a preservação do meio ambiente deve ser um dos primeiros pontos a ser pensado. Por intermédio da educação, como já pensava Paulo

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Freire, é possível libertar e transformar uma sociedade, e compreender a complexa temática ambiental no ensino formal pode gerar grandiosos resultados.

4. CONCLUSÃO

A partir da metodologia adotada foi possível analisar a problemática ambiental do Biocolonialismo, compreender que a cultura foi transformada em mercadoria e que os novos focos de colonização correspondem aos conhecimentos tradicionais e à biodiversidade. Ademais, verificou-se isso como um reflexo do momento intitulado pós-modernidade. Apesar da existência de legislações que buscam proteger a biodiversidade da região amazônica, como a Lei nº 9.279/1996 — Lei de Propriedade Industrial — LPI, o que se observa é a força tecnológica e mercantil das grandes potências como Estados Unidos e Japão com supremacia sobre os direitos de uso da biodiversidade brasileira. São vários os casos atingidos pelo Colonialismo Biocultural e, dentre eles, merece destaque o do cupuaçu (Theobroma grandiflorum) pela sua riqueza de utilidades e complexidade de fatores, pois são vários os países que possuem dominação sobre suas propriedades alimentícias e cosméticas. A partir dessa problemática socioeconômica e ambiental, a Educação Ambiental surge como símbolo de resistência ao Biocolonialismo por ser capaz de gerar nas comunidades a adoção de novos hábitos e o fortalecimento da afirmação cultural. Implantar esse mecanismo no ensino superior, com materiais de qualidade e docentes capacitados, pode romper com a ignorância e preservar um direito já garantido pelas bases legais do país. Ademais, pela citação e análise da Resolução CNE/CP nº 2, de julho de 2015, da República Federativa do Brasil que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o nível superior, busca-se abrir um caminho de transformação da realidade, tornando a teoria uma barreira prática ao Colonialismo Biocultural.

5. REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução n° 23, de 10 de novembro de 2006. Brasília, DF, 2006. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Patrimônio Genético e Conhecimentos Tradicionais Associados. Disponível em: . Acessado em 27/08/2019. CANEPA, C. Educação ambiental: ferramenta para a criação de uma nova consciência planetária. Revista de direito constitucional e internacional, v. 12, n. 48, p. 158-166, 2004. GUERRA, L.A. Pós-colonialismo. Disponível em: . Acessado em 02/08/2019. MELLO, T. Pós-modernidade. Disponível em: . Acessado em 02/08/2019. MIRANDA, J.P.R. As inconvencionalidades do marco legal da biodiversidade frente ao instituto da consulta prévia, livre e informada: Um processo de colonialismo biocultural. (Tese) Doutorado em Direito, Universidade Federal do Pará, Belém, 2018. MIRANDA, J.P.R. O marco legal da biodiversidade: Proteção do patrimônio genético e dos conhecimentos tradicionais associados e sua inconvencionalidade no contexto do colonialismo biocultural. Liber Ars: São Paulo, 2018. OLIVEIRA, T.P. Biocolonialismo: Um desafio para a efetivação do direito dos povos indígenas ao patrimônio genético. Revista de Informação Legislativa, v. 49, n. 195, p. 149- 157, 2012. PERIN, M.G. Educação Ambiental: análise e crítica da erosão cultural e da biodiversidade no biocolonialismo. (Monografia) Pós-Graduação em Educação Ambiental – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2018. PIEDADE, F.L. Biopirataria e Direito Ambiental: Estudo de caso do cupuaçu. (Dissertação) Mestrado em Ecologia Aplicada, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2008. REZENDE, E.A.; RIBEIRO, M.T.F. O Cupuaçu é Nosso? Aspectos Atuais da Biopirataria no Contexto Brasileiro. RGSA – Revista de Gestão Social e Ambiental, v.3, n. 2, p. 53-74, 2009. RODRIGUES, H.W. A educação ambiental no âmbito do ensino superior. In: LEITE, J.R.M.; BELLO FILHO, N.B. Direito ambiental contemporâneo, Barueri, 2004. SERPA, F.A. Notas introdutórias sobre a propriedade industrial. Disponível em: . Acessado em 03/08/2019. SIGNIFICADOS. Significado da Pós-modernidade - O Que é a Pós-modernidade. Disponível em: . Acessado em 02/08/2019. STEINMETZ, W. Educação ambiental, Constituição e legislação: análise jurídica e avaliação crítica após dez anos de vigência da Lei 9.795/1999. Revista de Direito Ambiental, v. 14, n. 55, p. 103-113, 2009.

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COMPORTAMENTO FENOLÓGICO DE ESPÉCIES FLORESTAIS DETECTADO POR SISTEMAS AÉREOS NÃO TRIPULADOS

Erica Kerolaine Mendonça dos Santos¹, Symone Maria de Melo Figueiredo² e Evandro Orfanó Figueiredo2

1. Curso de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Ranco, Acre, Brasil; 2. Doutorado em Ciências de Florestas Tropicais, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas, Brasil;

RESUMO A fenologia estuda as mudanças ocorridas nas copas das árvores ao longo do ano, bem como analisa os fatores que influenciam tais modificações. O estudo das fenofases possibilita a tomada de decisões em outras áreas da ciência florestal. Este trabalho teve o objetivo de determinar a fenologia de dez espécies madeiráveis a partir da análise de ortofotos obtidas com Unmanned Aircraft Systems (UAS) em uma área de floresta ombrófila densa de terra firme, com vistas à promover o uso de geotecnologias no acompanhamento fenológico. Os resultados obtidos evidenciam que o uso de UAS é eficiente para coletas fenológicas. Porém há fatores que influenciaram nesta coleta, os quais estão relacionados à velocidade do vento, incidência de nuvens, ceras cuticulares, capacidade do computador que analisou as imagens. Para que haja um processo de excelência na coleta dos dados e se permita a percepção de detalhes como floração e frutificação, quando os mesmos não possuírem cores chamativas há a necessidade de se minimizar a influência dos fatores, assim a coleta será mais precisa. Palavras-chave: Fenofase, Ortofoto e UAS.

ABSTRACT Phenology studies how the changes occurred in the tree tops throughout the year, as well as the analysis of the factors that alter such changes. The study of the phenophases made it possible to make a decision about the areas of forest science. Work on an unmanned aircraft system (UAS) in an area of dense land firmeombrophilous forest, with a view to promoting the use of geotechnologies in phenological monitoring. The results show that the use of UAS is efficient for the phenological collections. However, these factors influenced the energy generation, cloud incidence, skin waxes, analysis capacity as images. In order to have an excellent process of data collection and to realize how inflation and fruiting, when they are not present, an association of factors is necessary, as well as a more accurate collection. Keywords: Fenophase, Orthophoto and UAS.

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1. INTRODUÇÃO

Estudos fenológicos em ecossistemas ocorrem basicamente de duas formas, em nível de populações e de comunidades, os quais podem ter caráter qualitativo quando se observa a época de ocorrência dos eventos, ou quantitativo quando se mede o grau de intensidade dos eventos fenológicos (FOURNIER, 1974). Estudos de curto prazo, podem não encontrar resultados satisfatórios dependendo das variações abióticas e bióticas que ocorrerem no período. Devido a este fator a metodologia deverá ser elaborada de forma a permitir a continuidade ou comparação do estudo. O conhecimento fenológico vegetal é de grande importância para se entender o funcionamento do ecossistema ao longo do tempo e dos processos ecológicos relacionados a sustentabilidade (CARDOSO, 2011). Através do conhecimento da periodicidade desses eventos é possível perceber desde mudanças sensíveis no ecossistema até mudanças ambientais significativos. Portanto conhecer a fenologia das espécies se faz necessário para desenvolver de forma mais eficientes outras atividades da área florestal. Com o objetivo de determinar a fenologia de dez espécies madeiráveis a partir da análise de ortofotos obtidas com Unmanned Aircraft Systems (UAS) em uma área de floresta ombrófila densa de terra firme, com vistas a promover o uso de geotecnologias no acompanhamento fenológico, este estudo foi desenvolvido. Coletou-se imagem de alta resolução de cinco espécies com câmera fotográfica para comparar com ortofoto no período de março de 2017 a janeiro de 2019 e verificou-se a capacidade do drone em capturar detalhes em mudança de fenologia na área de Reserva Florestal da Embrapa-Acre.

2. MATERIAL E MÉTODO

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O presente estudo foi desenvolvido no período de janeiro de 2017 a janeiro de 2019, na floresta da Embrapa Acre, localizada nas cercanias da cidade de Rio Branco, com localização central UTM/WGS84 (Universal Transversa de Mercator/World Geodetic System) 19L 643951E e 8890451 N.

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Segundo Figueiredo (2018), há inúmeros pequenos canais de drenagem de duas microbacias, a do Igarapé da Colônia (5.750 m) e a do Igarapé Forquilha (6.230 m), tais canais de drenagem cortam a área de norte a sul, estimou-se uma Área de Preservação Permanente (APP) de 71,88 hectares. Tais estimativas de extensão dos canais e APP foi feita por interpretação dos pulsos LiDAR que alcançaram o solo e perfilam as calhas dos referidos canais de drenagem. Dentro desta área de floresta localiza-se a área de coleta do presente estudo. A área de coleta está localizada no município de Rio Branco. As árvores georreferenciadas compõem o banco de dados do inventário da área através do qual foi realizada a escolha das espécies de interesse para o desenvolvimento do estudo fenológico.

2.2 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA COLETA DE DADOS

2.2.1 Aeronave remotamente pilotada

O modelo utilizado para a coleta de dados foi o mesmo dos estudos desenvolvidos por Figueiredo et al. (2018): uma UAS do multirrotor DJI Phantom 4 Professional (P4 pro) que possibilita planos de voos semi autônomos. O equipamento possui todas as homologações necessárias e registro junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). A fabricante é a DJI,a aeronave possui peso total de payload de 1,388 kg a qual tem sensores eletrônicos de bússola, acelerômetro com controladora eletrônica de velocidade, giroscópio de seis eixos, sistema GNSS (GPS e Glonass) de alta sensibilidade, sensores ultrassônicos e infravermelhos anticolisão). A capacidade máxima de voo é de 30 minutos, porém levando em consideração os princípios de segurança, o tempo de voo normalmente era inferior a metade da capacidade máxima. Segundo Figueiredo et al. (2018) a aeronave é equipada com uma câmera com sensor RGB de 1”CMOS (complementary metal-oxide semiconductor) de 20 megapixel, com lentes de auto foco de 24 mm, a qual é acoplada a um gimbal de três eixos para estabilização eletrônica da imagem. A estação de solo utilizada tem duas opções de frequência (2.400–2.483 GHz e 5.725–5.825 GHz) e enlace máximo entre a RPA e o rádio de até 7.000 m de distância horizontal. Para a operação da estação em solo foi utilizado um celular modelo galaxy S9 com capacidade de armazenamento de 65 gigas.

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2.2.2 Câmera de superzoom

Segundo a fabricante Nikon, a câmera COOLPIX B700, possui lente objetiva com alcance de zoom que cobre ângulos de visão desde grande angular de 24 mm até super teleobjetiva de 1440 mm (equivalente ao formato de 35 mm) e suporta uma poderosa fotografia macro, tão próximos com aproximadamente a 1 cm da objetiva. A câmera possui objetivas Super ED têm possibilidades avançadas, incluindo uma capacidade extremamente elevada de remover espectros secundários, oferecendo características superiores de correção da aberração cromática. Com lente objetiva NIKKOR com zoom ótico de 60x, distância focal de 4,3 a 258 mm. Tais configurações confere ao equipamento qualidade de aproximação e imagem alta qualidade, oferecendo um produto de qualidade, permitindo assim o uso na atividade de coleta fenológica.

2.3 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Utilizou-se dados anteriormente coletados por Figueiredo em 2007, para localização das espécies. Onde o inventário realizado foi do tipo censitário de todas as espécies

comerciáveis e não comerciáveis com DAP1,30 cm igual ou superior a 50 centímetros. As quais foram inseridas em um GPS Esportivo Portátil Garmin (GPSMAP 64), de alta sensibilidade com antena quadhelix. Foram selecionadas quatro espécies arbóreas madeiráveis para desenvolvimento do estudo, sendo estas: Bertholletia excelsa Bonpl. – castanheira, Cedrela odorata L. – cedro, Apuleia leiocarpa- garapa, Amburana acreana (Ducke) A.C.Sm. – cerejeira. Após determinado as espécies objetos de estudo foi realizada a predileção em loco, a qual foi sucedeu-se através de uma caminhada nas trilhas da área inventariada, onde dois parabotânicos acompanharam a estudante para confirmar que os indivíduos selecionados condizem com a identificação botânica do inventário. Foram seletados dez indivíduos de cada espécie, totalizando em quarenta árvores observáveis ao longo das trilhas da área de reserva Florestal da Embrapa- Acre. As observações fenológicas no primeiro ano foram realizadas com o uso de RPA e no segundo ano tanto com a RPA quanto com uma câmera fotográfica de superzoom, com lentes de 1480 mm. No primeiro ano foram realizados voos mensais para coleta de dados, no segundo ano os voos passaram a ser quinzenais para acompanhar as coletas realizadas com o uso do equipamento fotográfico. Os dados coletados com a RPA passaram por

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processamento de dados para tornar possível a elaboração de ortofotos, através das quais foram realizadas as análises fenológicas. As fotos coletadas com câmera fotográfica de alta resolução foram separadas por coletadas e identificadas com as devidas datas para facilitar a alocação das fotografias e compará-las com a ortofoto de data próxima. A comparação das imagens da câmera com as ortofotos foram realizadas através do uso de um computador notebook com processador core i3, permitindo o manuseio das ortofotos e o armazenamento das fotografias da câmera fotográfica, em Sistema de Informação Geográfica (SIG). Todos os dados obtidos e resultados encontrados foram comparados com dados bibliográficos de outros autores, preferencialmente cujos estudos realizados o mais próximo possível da Reserva Florestal da Embrapa.

2.3.1 Dados Climatológicos

Os dados climáticos diários foram coletados na estação meteorológica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Estado Acre - Embrapa Acre, a estação está localizada menos de 03 km de raio da região de estudo. Foram obtidos os valores diários de precipitação dos anos de 2017 a 2019. Os dados são medidos pela estação em intervalos periódicos de cinco minutos, dispostos em planilha eletrônica. O período escolhido para análise de precipitação (janeiro de 2017 a fevereiro de 2019) deve-se ao período de coleta de dados fenológicos para tornar possível a montagem do calendário fenológico e sua correlação com a precipitação, visto que a literatura comprova a associação da ausência ou presença de fenofase com o índice de chuva.

2.3.2 Avaliação Fenológica

As observações fenológicas foram realizadas mensalmente com o uso de veículos aéreos não tripulados, onde o equipamento captura fotos a cada dois segundos, através das quais é montada em laboratório um mosaico de fotografias denominado ortofoto. A ortofoto permitiu a observação das copas das árvores sobrevoadas da área de pesquisa. A partir do segundo ano, qualquer modificação observada nas ortofotos nas copas das árvores, foi analisada in loco, registrando-se com câmera fotográfica de superzoom,se tais mudanças correspondem ao observado anteriormente. Além disso, foram realizadas vistorias rotineiras a cada quinze dias, no intuito de observar as mudanças de fenofase das espécies. Durante as vistorias em campo, foi realizado o registro em ficha de

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campo, preenchido com os números referentes às fenofases, conforme a proposta de Araújo (1970), descrito abaixo:

✔ Floração: botões florais (F1), plena floração (F2), floração terminando ou terminada (F3); ✔ Frutificação: frutos novos (F4), frutos maduros (F5), frutos maduros caindo ou sementes dispersadas (F6); ✔ Mudança foliar: árvores com poucas folhas ou desfolhadas (F7), folhas novas (F8), folhas novas em maioria (F9) e folhas velhas (F10).

Os padrões fenológicos foram classificados conforme NEWSTRON et al. (1994), que organiza estes eventos em época, duração e frequência. A época está relacionada a estação do ano em que ocorre a fenofase. A duração é dividida em breve (até um mês), intermediária (1 a 5 meses) e prolongada (mais que 5 meses). A frequência divide-se em subanual (quando houver múltiplas e irregularidades durante o ano), anual (quando o ciclo fenológico durar 12 meses); supra-anual (quando o ciclo for superior a doze meses).

2.3.3 Identificação de padrões fenológicos

Para identificação dos padrões fenológicos na área objeto de estudo foi elaborado uma ficha de coleta de campo para melhor acurácia e rapidez das coletas. Durante as coletas de campo com o auxílio da câmera de superzoom, as copas das árvores eram observadas e os dados anotados em planilha. Através das coletas de dados e catalogação das fichas foi possível montar o calendário fenológico, com o uso dos códigos que seguem a metodologia de Araújo (1970). Esta ficha foi utilizada durante todas as coletas realizadas com o uso da câmera fotográfica e depois de finalizada as coletas os dados foram transferidos para planilha eletrônica, mantendo-se a metodologia.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 PRECIPITAÇÃO MENSAL DA ÁREA DE ESTUDO

Os dados acerca da precipitação foram analisados e posteriormente desenvolvido os procedimentos estatísticos adequados para obtenção das médias mensais de precipitação na área da Reserva Florestal da Embrapa- Acre. É possível observar, ao analisar os dados, que a precipitação no mês de janeiro foi 96,62 milímetros superior no ano de 2018, no que se refere à fevereiro a mesma aumentou significativamente chegando a atingir 344,07 (mm). A partir do mês de maio até o mês de novembro a precipitação manteve-se baixa em ambos os anos, começando a aumentar significativamente a partir de novembro.

3.2 FENOFASES OBSERVADAS DAS ESPÉCIES FLORESTAIS

As 40 árvores analisadas no presente estudo com suas respectivas características fenológicas e período de ocorrência estão listadas no quadro 01 e 02.

Quadro 1. Listagem de fenofases das dez espécies objeto de estudo no ano 2017, obtida por ortofoto.

Espécie Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Amburana acreana (Ducke) F7 A.C.Sm. F10 F7 F7 F7 F7 F7 F7 F8 F9 F9 Apuleia leiocarpa (Vogel) F10 J.F.Macbr. F10 F8 F10 F7 F7 F7 F8 F9 F9 F9 F8 F8 F8 F3 Bertholletia excelsa Bonpl. F9 F10 F10 F10 F10 F10 F10 F7 F9 F9 F10 Cedrela odorata L. F10 F8 F10 F10 F10 F7 F7 F7 F8 F8 Plena floração (F2), floração terminando ou terminada (F3); frutos novos (F4), frutos maduros (F5), frutos maduros caindo ou sementes dispersadas (F6); árvores com poucas folhas ou desfolhadas (F7), folhas novas (F8), folhas novas em maioria (F9) e folhas velhas (F10).

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Quadro 2. Listagem de fenofases das dez espécies objeto de estudo no ano 2018, obtida por ortofoto.

Espécie Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Amburana acreana (Ducke) A.C.Sm. F10 F10 F10 F7 F7 F7 F9 F9 F9 F9 Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. F10 F10 F10 F7 F7 F7 F8 F8 F8 F8 F10 F3 Bertholletia excelsa Bonpl. F9 F9 F10 F10 F7 F7 F8 F8 F8 F8 Cedrela odorata L. F10 F10 F10 F10 F7 F7 F9 F10 F10 F10 Plena floração (F2), floração terminando ou terminada (F3); frutos novos (F4), frutos maduros (F5), frutos maduros caindo ou sementes dispersadas (F6); árvores com poucas folhas ou desfolhadas (F7), folhas novas (F8), folhas novas em maioria (F9) e folhas velhas (F10).

Das espécies analisadas, todas perderam as folhas, algumas parcialmente, em algum mês dos anos analisados. A espécie com maior período sem folhagem no ano de 2017 foi a Amburana acreana, a qual ficou seis meses sem cobertura total de copa. A interferência de fatores internos e externos na comunidade e da espécie faz com que o período de senescência período perdure mais em algumas espécies do que em outras (OLDEMAN, 1991). Ao observar a relação entre precipitação e a mudança vegetativa obtida através dasortofotos é possível constatar algumas afirmações, as quais foram separadas por espécie.

3.2.1 Amburana acreana

Ao analisar dos dados de precipitação e mudança na copa das arvores de Amburana acreana de forma conjunta, é possível identificar que ao final das chuvas amazônicas (mês de março) a copa da espécie está totalmente composta com folhas velhas em ambos os anos (2017 e 2018), entre os meses de abril e setembro de 2017 a espécie manteve-se em senescência, período em que as chuvas são mais escassas (verão amazônico), no ano de 2018, o período de queda foliar foi menor no ano de 2018 durando apenas três meses, iniciando em junho e finalizando em agosto, estes três meses são o de menor índice pluviométrico na Reserva Florestal da Embrapa Acre, tal fato pode ser observado através da figura 1 (A e B) obtida através de ortofoto.

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Figura 1. Amburana acreana (Ducke) A.C.Sm. Em julho de 2017 (A) e 2018 (B); em outubro de 2017 (C) e 2018 (D); extraída de ortofoto (Elaborada por FIGUEIREDO, 2018) julho de 2018- árvore inteira (E); ramo com presença de fruto (F); agosto de 2018- ramo com frutos abertos (G); frutos abertos com sementes dispersadas (H); em outubro de 2018, vista da copa (A) e detalhe do ramo (B); obtida com câmera de alta resolução em campo

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É possível constatar que o período de senescência das folhas de Amburana acreana (Ducke) A.C.Sm está intimamente relacionado com a pluviosidade local, assim em anos mais secos a espécie passa maior tempo sem composição de copa, o que interfere consequentemente nas fenofases de floração e frutificação. Nos dois períodos observados com UAS não foi possível evidenciar floração e frutificação desta espécie. A figura 1 (A e B) mostra a espécie objeto de estudo no mesmo mês durante dois anos consecutivos é possível observar que a senescência é regular em ambos os anos, no que se refere ao mês de julho, podendo alongar-se ou não dependendo da precipitação local. Foi possível observar que no ano de 2017 a espécie encontrava-se em período de composição de copa, o que se deve ao período prolongado de baixa precipitação no mesmo ano. No ano seguinte a copa teve composição foliar mais rápida devido ao aumento significativo da precipitação em outubro, o qual foi de 166,8 mm³ na área da Reserva Florestal da Embrapa, o que favorece o desenvolvimento de novas folhas. No mês de julho de 2018 a espécie Amburana acreana encontrou-se em plena frutificação (Figura 01 – Ee F), frutos com coloração verde, tal fenofase não identificada em ortofoto no mesmo período. A floração da espécie não foi coletada com o uso de UAS e de câmera fotográfica, ao analisar os indivíduos em campo concluiu-se que a floração ocorreu no intervalo de tempo entre duas coletas. No mês de agosto de 2018, foi evidenciado através das fotografias de alta resolução que os frutos da espécie estudada dispersam suas sementes com os frutos ainda mantidos nas árvores. Na figura 01 (G e H) é possível observar inúmeros frutos abertos sem a presença de sementes nos mesmos. Estes resultados corroboram com os encontrados por Carvalho (2007), o qual afirma que a frutificação ocorre em agosto no estado do Acre. Em outubro de 2018, a copa da espécie está totalmente composta por folhas novas, o que é possível observar na figura 01 (A, B, I e J), constatando assim que a ortofoto é eficiente para captar esta fenofase. Na figura 01 (I e J) apesar da influência da luminosidade é possível perceber que os ramos em J são novos.

3.2.2 Apuleia leiocarpa

Ao analisar os dados de precipitação e fenologia em conjunto, é possível constatar que a espécie Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. tem sua maior taxa de senescência nos meses de junho, julho e agosto em ambos os anos, o que configura em período de queda das folhas regular que coincide com o período de menor precipitação nos dois períodos.

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Quando o índice de precipitação começa aumentar as folhas novas começam a se desenvolver até a copa está completamente composta de folhas novas, processo que ocorre de setembro até dezembro. Ao observar a figura 2 (A e B), extraída de ortofoto, é possível constatar que a copa encontra-se em período de senescência completa com a presença de frutos, fato constatado em campo com câmera de alta resolução. Segundo Lorenzi (2000), os frutos maduros permanecem nas árvores por muitos meses, o que pode ser observado na figura 2 (C e D), a qual evidencia um indivíduo observado com copa totalmente composta por folhas novas em agosto de 2018 e ainda com frutos persistentes em estágio maduro. As vagens da espécie não abrem na planta.

Figura 2. Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. Em julho de 2017(A) e 2018(B); extraída de ortofoto, (Elaborada por FIGUEIREDO, 2018); Em agosto de 2018, copa completa (C) e detalhe do ramo com frutos maduros (D), coletada com câmera de alta resolução.

3.2.3 Bertholletia excelsa

A medida que a precipitação diminui na área da Reserva florestal da Embrapa Acre (Figura 3 A e B) as folhas de Bertholletia excelsa Bonpl.envelhecem permanecendo com copa repleta de folhas velhas durante 06 meses do ano de 2017. Ao analisar a ortofoto de outubro do mesmo ano (Figura 3 G e H) é possível constatar floração da espécie (Figura 3

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B). Em novembro de 2017 o índice de precipitação aumenta e a copa da espécie renova sua folhagem. Em agosto de ambos os anos observados a espécie encontra-se com folhas velhas, porém no ano de 2018 (Figura 3 B) foi possível identificar processo de senescência mais intensificado do que no mesmo período no ano anterior. Fato que se relaciona com o acumulado de chuvas serem menor no segundo período (julho-agosto) do que no primeiro, onde em 2017 o somatório foi de 160 mm³ nos dois meses e em 2018 foi 69,2 mm³, aproximadamente a metade do ano anterior. Mediante a figura 3 (C e D) é possível observar que em agosto de 2018 a espécie estava em processo de senescência, bem como possui inflorescências em tons amarelados na imagem e presença de frutos em estágio de maturação, foi observado em campo que alguns espécimes perdem as folhas mais cedo ou mais tarde, tendo assim uma variação dentro a espécie com relação a perda de folhas, porém a maioria perdeu as folhas no mês de agosto. Foi constatado que Bertholletia excelsa Bonpl.renovou copa em setembro de 2018 (Figura 3 E e F), tal fato pode ser comprovado através da imagem abaixo, onde é possível verificar (Figura 03 H) folhas em estágio de crescimento a direita da imagem. Tais resultados corroboram com os encontrados por Camposet al. (2013) que encontrou mais indivíduos com folhas novas entre os meses de outubro e novembro, no estado do Amapá. Através da figura 3 (G, H e I) é possível observar que a espécie está repleta de folhas novas no mês de outubro, fato que não ocorreu no ano seguinte, em (J) observa-se o fruto em processo de amadurecimento. Mediante a figura 3 (I, J, K, e L) é possível constatar que a copa está repleta de folhas novas com a presença abundante de inflorescências, mostrando assim que ocorrem vários picos de floração ao longo do ano em indivíduos desta espécie. Segundo Lorenzi (2000) a espécie floresce no final de outubro e prolongam-se até novembro, os resultados encontrados não são totalmente discordantes, porém houve picos de floração em período anterior ao determinado por Lorenzi.

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Figura 3. Bertholletia excelsa. Em agosto de 2017 (A) e 2018 (B), extraída de ortofoto (Elaborada por FIGUEIREDO, 2018); em agosto de 2018, árvore com copa repleta de folhas velhas (C),ramo com folhas velhas e frutos em processo de amadurecimento (D), coletada com câmera de alta resolução em campo; em setembro de 2018, copa com folhas novas (E); detalhe de ramo com folhas novas e fruto maduro (F); em outubro de 2017 (G) e outubro de 2018 (H) extraída de ortofoto (Elaborada por Figueiredo, 2018); em outubro de 2018, visão geral da copa (I); ramo com presença de inflorescência (J); em outubro de 2018, ramo com presença de inflorescência (K) e detalhes da inflorescência (L); coletada com câmera de alta resolução em campo.

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Segundo Tonini (2010) os fatores abióticos como a precipitação tem influência sob a floração e afeta diretamente a habilidade da planta em produzir flores ou indiretamente afeta os polinizadores, o que ocasionará em variação sazonal da quantidade dos mesmos. Ainda segundo o autor, os polinizadores são mais abundantes na estação seca. Devido a estes fatores a floração da espécie pode variar de acordo com o local e as condições climáticas. Em novembro de 2018 a copa já estava totalmente formada por folhas em estágio de maturação, possuindo ainda inflorescências e foram encontradas muitas flores caídas sobre o piso florestal. Segundo Schaiket al. (1993) a produção desta espécie é potencialmente limitada por fatores como a disponibilidade de água, luz, gás carbônico e minerais. Quaisquer variações de algum destes fatores de forma significativa pode influenciar no comportamento fenológico e alterar seu padrão. Os frutos começaram a ser dispersos em novembro de 2018 e prolongou-se até o final das coletas em dezembro do mesmo ano, segundo Lima e Wadt (2016) a presença dos frutos durante todo o processo de coleta e sua dispersão ao final do mesmo se deve ao tempo de maturação do mesmo que é de 14 meses. Tais resultados também corroboram com os descritos por Lorenzi (2000) que relata o amadurecimento dos frutos entre novembro-março.

3.2.4 Cedrela odorata

Ao analisar os dados de fenologia e precipitação coletados é possível inferir que a medida que a precipitação diminui a copa da espécie mantém-se com folhas velhas até e ao final do mês de julho, quando começa a perder sua folhagem, recompondo-se a medida que aumenta a precipitação. A figura 4 (A e B) mostra um indivíduo com inúmeros frutos em processo de amadurecimento com folhas velhas, neste mês, a copa encontrava-se completa. Em B observa-se o detalhe da frutificação. Ao observar a ortofoto em julho dos dois anos estudados é possível constatar que a mesma está em acordo com a figura 4 (C e D), que mostra que Cedrela odorata sofreu processo de senescência em julho de ambos os anos. Na figura 4 (E, F, G e H) é possível evidenciar o observado também na ortofoto, bem como é possível verificar detalhe dos frutos em processo iniciado de abertura em B. Indicando assim que os frutos se abrem após a queda foliar.

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Figura 4. Cedrela odorata L. Em maio de 2018, parte da copa da espécie observada (A); detalhe do fruto em desenvolvimento (B), coletada com câmera de alta resolução em campo.; em julho de 2017 copa desfolhada (C) e julho 2018 copa desfolhada (D); extraída de ortofoto (Elaborada por Figueiredo, 2018); em julho de 2018, copa desfolhada e com frutos (E) e detalhe do ramo com frutos (F); agosto e setembro de 2018, respectivamente - ramo com frutos abertos (G); ramo com presença de fruto com sementes dispersadas(H); coletada com câmera de alta resolução em campo.

Ao observar a figura 4 (E e F) é possível identificar que os frutos estão em período de maturação, quase abrindo e na figura 4 (G) vê-se os frutos abertos com sementes já dispersadas e no mês seguinte foram encontrados durante as observações fenológicas galhos de duas das árvores observadas caídas sobre o piso florestal (Figura 4 H). A presença

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de frutos foi constatada nas árvores observadas desde o mês de maio, período em que as árvores de Cedrela odorata ainda encontravam-se com copa composta. Ao analisar as informações contidas na figura 4 (G e H) e correlacioná-las com os dados de precipitação nota-se que o período de abertura dos frutos coincide com o final do período senil da espécie. Tais resultados estão em acordo com os estudos de UFAM (2016) a qual relata que a produção de frutos desta espécie se dá no período seco e ocorre entre os meses de junho a agosto.

4. CONCLUSÃO

É possível determinar a fenologia com o uso de ortofotos obtidas com UnmannedAircraftSystems (UAS) em uma área de floresta ombrófila densa de terra firme. Porém para que este objetivo seja alcançado há a necessidade de se ter equipamentos de qualidade para o processamento da ortofotos, bem como a análise das mesmas. Para se identificar os indivíduos necessita-se de uma base de dados. O uso de ortofotos diminui o trabalho em campo e transfere-o para o laboratório, o mesmo permite que se colete informações de um maior número de indivíduos por voo. Os fatores que influenciam nesta coleta estão relacionados à velocidade do vento, incidência de nuvens, ceras cuticulares, capacidade do computador que analisou as imagens. Para que haja um processo de excelência na coleta dos dados e se permita a percepção de detalhes como floração e frutificação, quando os mesmos não possuirem cores chamativas há a necessidade de se minimizar a influência dos fatores citados. Deve-se voar em períodos de baixa nebulosidade e velocidade do vento para que não haja distorções na imagem. Devem-se conhecer as características biológicas das espécies para saber interpretar cores discrepantes nas ortofotos; deve-se ter um computador com processador superior ao Intel core 3 para melhorar o processo de análise das ortofotos. O UAS é capaz de fornecer informações confiáveis acerca de mudanças foliares nas copas das árvores objeto de estudo, no que diz respeito a detalhes mais sutis como os já citados, há necessidade de superar os fatores que influenciam na qualidade do produto final, superando estes fatores a imagem coletada fornecerá todos os detalhes que uma câmera de alta resolução é capaz de fornecer.

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As imagens obtidas por câmera de alta resolução permitiram melhor análise das imagens obtidas por UAS, bem como confirmaram presença ou ausência de fenofase observada nas ortofotos. Considera-se assim que o uso de câmeras de alta precisão é um recurso acessível e eficiente para obterem-se dados fenológicos para as espécies botânicas. Ao observar os resultados obtidos pela pesquisa constata-se que há a necessidade de se desenvolver mais estudos, pois houvesse dificuldade para encontrar material bibliográfico para comparar com os resultados encontrados. De acordo com o acervo obtido, a maioria das espécies está com período fenológicos distintos dos encontrados por outros estudos da área. Vale ressaltar que a maioria dos estudos não foram conduzidos no estado do Acre, assim a variação pode ser explicada pela mudança de habitat. O uso de UAS e câmera de alta resolução permite aumentar a fineza dos resultados obtidos, visto que os dados não ficam restritos “aos olhos do observador”, assim qualquer profissional que analisar as imagens obterá os mesmos resultados, tendo-se uma coerência na interpretação dos dados coletados e na produção dos resultados. Conclui-se que a metodologia utilizada além de inovadora introduz ferramentas que permitem melhor precisão para eventos fenológicos.

5. REFERÊNCIAS

NIKON. OBJETIVA NIKKOR COM ZOOM ÓTICO DE 60X. Disponível em , Acesso em: 02/02/2019. ARAUJO,C.V. Fenologia de essências florestais Amazônicas. Boletim do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, v.4, n. 1, p.1-25, 1970. CAMPOS, A.M.; FREITAS, J.L.; SANTOS, E.S.; SILVA, R.B. Fenologia reprodutiva de Bertholletia excelsa Bonpl. em floresta de terra firme em Mazagão, Amapá. Biota Amazônia, v. 3, n. 1, p. 1-8, 2013. CARDOSO, G.L. Composição florística e fenologia de quatro áreas de floresta de terra firme com diferentes históricos de alteração antrópica no município de Manaus. (Tese) Doutorado em Diversidade Biológica, área de concentração em Caracterização da Biota Amazônica - Universidade Federal do Amazonas. Colombo, 2007.

FIGUEIREDO, E.O.; FIGUEIREDO, S.M.M.; d’OLIVEIRA, M. V.N.; SANTOS, E.K.M. Manejo florestal 4.0: calendário preliminar de inventário florestal com aeronaves remotamente pilotadas, Embrapa: Rio Branco, AC, 2018. FOUNIER, L.A. Un método cuantitativo para la medición de características fenológicas em árboles. Turrialba, 24:54–59. 1974.

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LIMA,L. M. WADT, L.H.O. Fenologia de Andirobeira (Carapa guianensis Aubl) E DE CASTANHEIRA (Bertholletia excelsa HBK) no município de Rio Branco, Acre. XV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC/CNPq/UFAC, 2016. LORENZI, H. Árvores Brasileiras - Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 1ª ed, Instituto Plantarum, 2000. NEWSTRON, L.E.; FRANKIE, G.W.; BAKER, H.G. A new classification for plant phenology based on flowering patterns in lowland tropical rain forest trees at La Selva, Costa Rica. Biotropica, v. 26, p.141-159, 1994. OLDEMAN, R.A.A.; VAN DIJK, J. Diagnosis of the Temperament of Tropical Rain Forest Trees. In: GOMEZ-POMPA, A.; WHITMORE, T.C.; HADLEY, M. Rain Forest Regeneration and Management. UNESCO. The Parthenon Publishing Group Limited, 1991. SCHAIK, C. P.; TERBORGH, J. W.; WRIGHT, J. The phenology of tropical forests: adaptive significance and consequences for primary consumers. Annual Review of Ecology and Systematics, v. 24, p. 353-377, 1993. TONINI, H. FENOLOGIA DA CASTANHEIRA-DO-BRASIL (Bertholletia excelsa Humb. &Bonpl., 123 Lecythidaceae) no sul do estado de Roraima. Cerne, v. 17, n. 1, p. 123-131, 2011. UFAM. Manejo de sementes para o cultivo de espécies florestais da Amazônia. 1ª ed. Brasil Seikyo, 2016.

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ORGANIZADORES

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina (1989), Mestrado em Botânica pela Universidade Federal do Paraná (1993) e Doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília (2001). Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Acre, onde é docente efetivo desde 1992. Ele atua no curso de graduação em Ciências Biológicas e no doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia, onde ministra disciplinas das áreas de botânica e biodiversidade e coordena cursos de extensão, treinamentos, oficinas e eventos relacionados com a botânica, a ecologia e ciência cidadã. Ele também coordena o núcleo regional do Programa de Pesquisa em Biodiversidade, participa de redes nacionais e internacionais de pesquisa e atua em projetos relacionados com florística e botânica sistemática, estrutura e dinâmica florestal, e conservação dos recursos naturais, que resultaram na publicação de artigos científicos, livros e capítulos de livros, e em entrevistas e reportagens.

Marcos Silveira

Possui graduação em Fisioterapia pela Fundação Educacional de Caratinga (2001). Obteve seu título de Mestre (2007) e o de Doutor em Biologia Celular e Estrutural pela Universidade Federal de Viçosa (2013). É especialista em Educação em Diabetes pela Universidade Paulista (2017), em Tecnologias Digitais e Inovação na Educação pelo Instituto Prominas (2020) e Pós-Graduando em Games e Gamificação na Educação (2020). Realizou cursos de aperfeiçoamento em Educação em Diabetes pela ADJ Diabetes Brasil, International Diabetes Federation e Sociedade Brasileira de Diabetes (2018). É docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), desde 2006, lotado no Departamento de Ciências Básicas (DCB) da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde (FCBS). Ministra disciplinas de Anatomia Humana para diferentes cursos de graduação. No Programa de Pós-Graduação em Saúde, Sociedade e Ambiente atua na linha de pesquisa Educação, Saúde e Cultura. É vice- coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição, no qual atua nas áreas de Nutrição e Saúde Coletiva. É líder do Grupo de Estudo do Diabetes credenciado pelo CNPq no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. Desde 2006 desenvolve ações interdisciplinares de formação em saúde mediada pela extensão universitária, entre elas várias coordenações de projetos locais, além de projetos desenvolvidos em Operações do Projeto Rondon com atuações nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. É membro da Edson da Silva Sociedade Brasileira de Diabetes, membro de corpos editoriais e parecerista ad hoc de revistas científicas nacionais e internacionais da área de ciências biológicas, de saúde e de educação. Tem experiência na área da Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: Anatomia Humana; Diabetes Mellitus; Processos Tecnológicos Digitais e Inovação na Educação em Saúde; Educação, Saúde e Cultura.

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Possui graduação em Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado) pelo Centro Universitário São Lucas (2009); Especialista em Gestão Ambiental pela mesma instituição (2010); Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR (2011) e Doutor em Biodiversidade e Biotecnologia, REDE BIONORTE, pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM (2016). Professor do Magistério Superior na graduação (Ciências: Biologia e Química) e na pós-graduação (Ciências Ambientais e Ensino de Ciências e Humanidades) no Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA/UFAM) em Humaitá-AM, atuando nas áreas de Botânica, Plantas Medicinais e Biotecnologia. É Membro da Sociedade Botânica do Brasil (SBB). CRBio-6 sob nº 073096/AM-D.

Renato Abreu Lima

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ÍNDICE REMISSIVO

A Alimentação: 50, 52, 61, 176, 178, 196, 198, 200, 216, 217 e 218. Amazônia: 10, 11, 14, 31, 32, 39, 42, 43, 49, 50, 51, 52, 60, 61, 67, 68, 71, 78, 80, 82, 90, 101, 102, 106, 109, 110, 116, 126, 139, 140, 143, 145, 148, 151, 155, 156, 159, 170, 200, 207, 216, 218, 225, 226, 247, 251 e 253. Ambientes lóticos: 124 e 133. Área degradada: 106. Arecaceae: 206, 207, 214, 215, 216 e 225. Artrópode: 106. B Basidiomycota: 139, 140, 141, 143, 146, 155, 156, 158, 169 e 171. Benefícios: 182, 185, 187, 196, 197, 201, 209 e 223. Biodiversidade: 32, 50, 51, 52, 68, 79, 102, 107, 134, 150, 151, 159, 176, 177, 178, 180, 184, 185, 187, 206, 207, 208, 210, 211, 217, 218, 219, 221, 223, 224, 226, 251, 252, 253, 254, 256 e 257. Bioindicador: 13, 106, 133 e 144. Biotecnologia: 177, 179, 181, 183, 186 e 253. C Carrapato: 67, 68, 70, 71, 76, 77 e 78. Colonialismo: 251, 252, 253, 254, 255 e 257. Comercialização: 52, 53, 55, 61, 196, 198, 199, 200 e 209. Conservação: 51, 52, 71, 82, 107, 108, 111, 113, 126, 150, 151, 157, 170, 177, 184, 196, 197, 201, 203, 206, 208, 210, 216 e 229. Consumo: 196, 197, 198, 199, 201, 203, 209, 210, 216, 217 e 219. COVID-19: 221, 222, 223 e 224. Culicidae: 90, 91, 92 e 93. Cultura: 52, 181, 182, 206, 211, 214, 219, 230, 231, 252 e 257. D Degradação ambiental: 13, 221 e 226. Descrição morfológica: 157.

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Diversidade: 11, 14, 27, 30, 31, 38, 39, 42, 43, 49, 50, 51, 52, 55, 63, 79, 82, 90, 91, 92, 93, 101, 106, 109, 110, 112, 114, 120, 124, 125, 126, 130, 131, 132, 134, 140, 143, 144, 145, 147, 148, 149, 150, 155, 165, 170, 171, 176, 178, 179, 183, 184, 185, 187, 203, 208,211, 217, 218, 221, 223, 225 e 226. E Educação Ambiental: 251, 253, 254, 255, 256 e 257. Espécies vegetais: 178, 199, 206, 210 e 218. Etnobiologia: 229. Etno-conhecimento: 229. F Fatores abióticos: 144, 239 e 272. Fatores sócio-econômicos: 239. Fenofase: 259, 263, 264, 268 e 275. Fungos: 139, 140, 141, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 155, 156, 159, 160, 165, 170, 171 e 211. I Ictiofauna, 30, 32, 39, 42, 43, 50, 51, 60, 63 e 108. L Lepidologia: 11, 13 e 25. M Macrófitas: 124, 125, 126, 128, 131 e 133. Magrofungos: 155. Mercado de Peixes: 11. Micologia: 139. Mosquitos: 90, 91, 92, 93 e 181. O Ofidismo: 239 e 240 Ortofoto: 259, 260, 263, 265, 266, 267, 268, 269, 271, 272 e 273. P Peixes neotropicais: 30. Plantas: 91, 124, 125, 126, 146, 148, 156, 170, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 197, 196, 197, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 214, 216, 217, 218, 219, 223 e 226.

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 281

Propriedade Industrial: 251, 252, 253, 254, 255 e 257. Protozoários: 100, 108 e 124. R Recursos: 34, 51, 52, 134, 139, 140, 150, 176, 177, 178, 179, 180, 184, 185, 186, 199, 203, 207, 208, 221, 223, 224, 225, 226, 239 e 248. S Serpentes: 229, 230, 231, 232, 233, 234, 235, 237, 241 e 247. T Terapêuticos: 176, 185 e 207. U UAS: 259, 260, 261, 268, 274 e 275. Unidade de conservação: 155.

Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 282

DOI: 10.35170/ss.ed.9786586283280

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