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A RTIGO Eficácia de três métodos de degermação das

mãos utilizando gluconato de clorexidina O

degermante (GCH 2%) RIGINAL

THE EFFICACY OF THREE HAND ASEPSIS TECHNIQUES USING CHLORHEXIDINE GLUCONATE (CHG 2%)

EFICACIA DE TRES MÉTODOS DE DESINFECCIÓN DE LAS MANOS UTILIZANDO GLUCONATO DE CLORHEXIDINA ANTISÉPTICA (GHC 2%) Érika Rossetto da Cunha1, Fabiana Gonçalves de Oliveira Azevedo Matos2, Adriana Maria da Silva3, Eutália Aparecida Cândido de Araújo4, Karine Azevedo São Leão Ferreira5, Kazuko Uchikawa Graziano6

RESUMO ABSTRACT RESUMEN A degermação cirúrgica das mãos e dos The scrubbing of hands and forearms using La desinfección quirúrgica de manos y an- antebraços é um procedimento que inte- anti septi c agents has been the standard pre- tebrazos es un procedimiento que integra gra as ati vidades de paramentação cirúr- operati ve procedure to prevent surgical site las acti vidades prequirúrgicas como me- gica como uma medida de prevenção de infecti on. With the introducti on of anti sep- dida de prevención contra infección del infecção do síti o cirúrgico. Com o advento ti c agents, the need to use brushes for pre- siti o quirúrgico. Con el advenimiento de la dos princípios anti ssépti cos degermantes, operati ve disinfecti on has been questi oned anti sepsia desinfectante, se cuesti ona y se a necessidade do uso de escovas para a and it has been recommended that the pro- recomienda dejar de lado el uso de cepillos degermação cirúrgica tem sido questi ona- cedure be abandoned due to the injuries it debido a lesiones provocadas en piel. Para da e recomendado o abandono deste uso may cause to the skin. With the purpose to fundamentar la efi cacia de la técnica de devido às lesões provocadas na pele. Com provide the foundati ons for the effi cacy of desinfección quirúrgica sin uso de cepillos a fi nalidade de fundamentar a efi cácia da pre-operati ve asepsis without using brushes ni esponjas, se objeti va evaluar tres mé- técnica da degermação cirúrgica sem o uso or sponges, the objecti ve of this study was todos de desinfección quirúrgica, usando de escovas ou esponjas, o objeti vo deste to evaluate three methods of pre-operati ve la fórmula desinfectante de gluconato de estudo foi avaliar três métodos para deger- asepsis using an anti microbial agent contain- clorhexidina-GHC 2% con cepillo, con es- mação cirúrgica uti lizando a formulação ing chlorhexidine gluconate – CHG 2%; hand- ponja y sin adminículos. Fueron evaluados degermante de gluconato de clorexidina – scrubbing with brush (HSB), hand-scrubbing 29 profesionales de salud, usándose el mé- GCH 2%: com escova, com esponja e sem with sponge (HSS), and hand-rubbing with todo de caldo de guante para recolección artefato. Foram avaliados 29 profi ssionais the anti septi c agent (HRA) only. A compara- de microorganismos antes y después de da saúde, uti lizando o método de caldo de ti ve crossover study was carried with 29 cada método probado. El análisis estadís- luva para coleta de micro-organismos an- healthcare providers. Anti microbial effi cacy ti co no comprobó diferencias signifi cati vas tes e depois de cada método testado. As was measured using the glove-juice method en la reducción microbiana entre los tres análises estatí sti cas comprovaram não ha- before and aft er each tested method. Sta- métodos (p=0,148), lo que teóricamente ver diferenças estatí sti cas signifi cantes na ti sti cal analyses showed there were no sig- descarta la necesidad del uso de cepillos y redução microbiana entre os três métodos nifi cant diff erences regarding the number of esponjas para desinfección de manos. analisados (p=0,148), o que teoricamente colony-forming units when comparing HRA, descarta a necessidade da conti nuidade do HSB, and HSS techniques (p=0.148), which uso de escovas e esponjas para a realização theoreti cally disregards the need to conti nue da degermação das mãos. using brushes or sponges for hand asepsis.

DESCRITORES DESCRIPTORS DESCRIPTORES Lavagem de mãos Handwashing Lavado de manos Clorexidina Chlorhexidine Clorhexidina Controle de infecções Infecti on control Control de infecciones Infecção da ferida operatória Surgical wound infecti on Infección de herida operatória Enfermagem perioperatória Perioperati ve nursing Enfermería perioperatoria

1 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Pesquisas “Controle de Infecção Relacionada com Procedimentos da Assistência”. Professora Assistente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Cascavel, PR, Brasil. [email protected] 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Pesquisas “Controle de Infecção Relacionada com Procedimentos da Assistência”. Ribeirão Preto, SP, Brasil. [email protected] 4 Bolsista ProDoc/ CAPES do Programa de Pós-Graduação Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (In Memorian). 5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem na Saúde do Adulto pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Professora do Mestrado em Enfermagem da Universidade Guarulhos. Pesquisadora do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] 6 Professor Titular do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Rev Esc Enferm USP Recebido: 25/05/2010 Efi cácia de três métodos de degermaçãoPortuguês das mãos / Inglês 2011; 45(6):1440-5 Aprovado: 15/03/2011 utilizando gluconato de clorexidina degermantewww.scielo.br/reeusp (GCH 2%) 1440 www.ee.usp.br/reeusp/ Cunha ER, Matos FGOA, Silva AM, Araújo EAC, Ferreira KASL, Graziano KU INTRODUÇÃO ra o procedimento da degermação cirúrgica das mãos e antebraços, optamos pelo desenvolvimento do presente As infecções hospitalares representam um problema estudo, que visa comparar a efi cácia de três técnicas de tanto no Brasil quanto no mundo e consti tuem um risco degermação das mãos na redução da carga microbiana à saúde dos usuários dos serviços hospitalares. As infec- usando formulação degermante de gluconato de clorexi- ções pós-operatórias, denominadas atualmente como dina – GCH 2%: fricção com escovas descartáveis, fricção infecções do síti o cirúrgico (ISC), consti tuem uma parcela com esponja e fricção sem artefato. signifi cati va no total de todas essas infecções, sendo con- siderada a segunda principal causa dessas infecções(1). Sua MÉTODO prevenção e controle dependem da adesão dos profi ssio- nais da área da saúde às medidas preventi vas. População de estudo Dentre as práti cas para a prevenção das ISC, a deger- Inicialmente foram recrutados 32 profi ssionais da área mação das mãos e antebraços da equipe cirúrgica, como da saúde, voluntários, que atendiam os seguintes critérios preparo pré-operatório, teve sua origem quando Ignaz de inclusão: não fazer uso habitual de anti ssépti cos de- Semmelweis, em 1847, preconizou o uso de germicida pa- germantes na sua ati vidade diária para não haver efeitos ra a lavagem das mãos antes de examinar as parturientes. cumulati vos ou residuais de qualquer princípio ati vo anti s- Por volta de 1860, introduziu os princípios sépti co e parti cipar do treinamento prévio da técnica de da assepsia na práti ca dos procedimentos cirúrgicos, dimi- degermação das mãos e antebraços por meio de ensino nuindo substancialmente a morbidade nos formal teórico-práti co usando um fi lme ela- pacientes em período pós-operatório(2-3). Apesar de haver borado pelas autoras (TV e vídeo). O cuidado com a degermação cirúrgica inúmeros estudos Foram excluídos os voluntários que esti - das mãos e antebraços é justi fi cado pela taxa internacionais que vessem fazendo uso de anti bióti cos ou fárma- de perfuração das luvas ao fi nal da cirurgia de cos similares (tópico ou sistêmico) duas sema- 18%, sendo que em mais de 35% dos casos contra-indicam a utilização de artefatos nas antes ou durante o período da coleta dos essas perfurações não são percebidas pelos dados; os que referiram sensibilidade previa- cirurgiões, além do fato de algumas luvas se- para a realização (4-5) mente conhecida ao GCH; os que apresenta- rem permeáveis a bactérias . Inicialmente da degermação das ram lesões de pele das mãos e/ou antebraços; e por muito tempo, na técnica da degerma- mãos, os estudos os que não conseguiram reproduzir a técnica ção das mãos e antebraços preconizou-se a encontrados avaliaram dentro do procedimento padronizado e os escovação com água morna e sabão neutro, que não conseguiram completar o estudo. seguida de sua imersão em solução anti ssép- a efi cácia de métodos ti ca de álcool iodado e depois em álcool(6). mecânicos e químicos Protocolo de degermação das mãos Todavia, o desconforto e o risco de lesões da degermação das cutâneas provocados pela escovação podem mãos com a solução de A técnica padronizada de degermação foi a levar o profi ssional a reduzir o tempo de es- gluconato de clorexidina mesma para os três métodos em teste. Ela foi covação, diminuindo o tempo de contato en- a 4% e não a 2%. aplicada na mão dominante devido à crença tre o anti ssépti co e a área a ser degermada, de que a habilidade motora da mão não-do- podendo comprometer o processo de redu- minante é diminuída e, portanto, desenvolve ção da carga microbiana. Com o advento das a investi gação dentro do pior cenário. Cada soluções degermantes anti -sépti cas, os efeitos adversos da voluntário realizou os três métodos de degermação, sendo o escovação puderam ser minimizados por meio da abolição primeiro método defi nido por sorteio no momento do início do procedimento de escovação, optando-se pela fricção de da coleta de dados. Entre uma coleta de um método especí- soluções degermantes sobre a pele durante um período de fi co e outro no mesmo voluntário foi obedecido um intervalo tempo necessário para sua ação(3,7). de sete dias, que é o período necessário para a recuperação (6,8) Apesar de haver inúmeros estudos internacionais(3,8-14) da microbiota da pele após a degermação . Cada voluntá- que contra-indicam a uti lização de artefatos para a reali- rio reti rou adornos e foi realizada uma avaliação das mãos e zação da degermação das mãos, os estudos encontrados antebraços para a identi fi cação de possíveis lesões na pele. avaliaram a efi cácia de métodos mecânicos e químicos da Foi realizada a primeira coleta do material para a cultura, da mão dominante (Ti), seguindo a técnica padronizada de cal- degermação das mãos com a solução de gluconato de clo- (8,18) rexidina a 4% e não a 2%(4,9,15-17). do de luva . A técnica consisti u da total imersão da mão dominante dos voluntários em luvas cirúrgicas esterilizadas, Visto que em grande parte das insti tuições de saúde não entalcadas, propositalmente de numeração grande brasileiras a escovação ainda conti nua a ser empregada (nº12), contendo 150 ml de meio de cultura de caldo tríp- e considerando que a solução degermante de gluconato ti co de soja fl uido acrescido de 0,5% de Tween 80, sendo a de clorexidina a 2% (GCH 2%) é umas das soluções mais primeira a solução de escolha como meio enriquecido para uti lizadas nos estabelecimentos de saúde brasileiros pa- transporte de amostras microbiológicas e a segunda o meio

Efi cácia de três métodos de degermação das mãos Rev Esc Enferm USP utilizando gluconato de clorexidina degermante (GCH 2%) 2011; 45(6):1440-5 Cunha ER, Matos FGOA, Silva AM, Araújo EAC, Ferreira KASL, Graziano KU www.ee.usp.br/reeusp/ 1441 para neutralizar resíduos do gluconato de clorexidina. Uma dependente (contagem microbiana) não apresentou dis- das pesquisadoras massageou a mão enluvada pelo lado ex- tribuição normal na técnica de degermação com esponja. terno da luva, de forma padronizada, durante 60 segundos, Estas foram normalizadas para a análise e retransformadas com a fi nalidade de promover maior contato da superfí cie em sua escala de medida para apresentação dos resultados. das mãos com o caldo(19). Ao término desse procedimento, o líquido que se encontrava dentro da luva (150 ml) foi trans- Empregou-se, então, como técnica estatí sti ca paramé- ferido assepti camente para um recipiente esterilizado com trica, a análise de variância para medidas repeti das, usan- tampa que foi imediatamente encaminhado para o laborató- do a técnica do GLM (Modelo Linear Generalizado), que rio de análises bacteriológicas. Este procedimento foi repeti - é um procedimento estatí sti co que incorpora variáveis do antes (Ti) e depois (Tf) do procedimento de degermação dependentes normalmente distribuídas e variáveis inde- das mãos nas três técnicas avaliadas. pendentes, categóricas ou contí nuas. Imediatamente após a coleta do material no tempo Para verifi car se as médias da contagem microbioló- inicial (Ti), cada voluntário realizou o método padronizado gica dos três métodos analisados diferiam ou não entre de degermação da mão e antebraço dominante inician- si, empregou-se os testes múlti plos de comparação 2 a 2. do pelo método aleatoriamente selecionado por sorteio Nesse caso, o nível de signifi cância leva em consideração (com escova, esponja ou sem artefato). A degermação foi o número de comparações do modelo. padronizada por contagem de movimentos e não por con- O poder como função do tamanho amostral (n=49) tagem de tempo. A técnica uti lizada foi defi nida com base (20-21) para Anova com medidas repeti das, variável dependente nas orientações ofi ciais . contí nua (contagem microbiana), alfa=0,05, teste bicaudal Após a degermação da mão e antebraço dominante, o e correção de conti nuidade foi de 0,979. voluntário aguardou 15 segundos para que fosse removi- Por se tratar de um estudo laboratorial, a pesquisa foi do o excesso de água do enxágüe, mantendo a mão acima dispensada da submissão ao Comitê de Éti ca em Pesquisa. A do nível do cotovelo. Após esse período, os voluntários seguir, apresentamos o parecer do comitê de Éti ca da Escola vesti ram aventais cirúrgicos esterilizados, com os punhos de Enfermagem da Universidade de São Paulo: Em atenção puxados até o terço médio do antebraço para evitar a con- à solicitação de V. Sa., informamos que a pesquisa inti tulada taminação acidental durante a coleta dos micro-organis- Efi cácia de três métodos de degermação das mãos uti lizando mos no tempo fi nal (Tf). gluconato de clorexidina degermante (GCH 2%) não necessi- Consecuti vamente, foi realizada nova coleta microbio- ta de aprovação de um Comitê de Éti ca em Pesquisa, pois a lógica da mão dominante degermada, repeti ndo a técnica pesquisa foi de caráter laboratorial, realizada análise de mi- do caldo de luva e os passos sequenciais já descritos. croorganismos, não envolvendo seres humanos, conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Análises microbiológicas RESULTADOS No laboratório de análises microbiológicas, cada amos- tra coletada foi homogeneizada e semeada quanti tati va- mente, com auxílio de uma alça calibrada, nas placas con- A coleta das amostras foi inicialmente realizada em 32 tendo ágar-sangue e ágar MacConkey. Após a semeadura, profi ssionais, sendo 24 (75%) mulheres e 8 (25%) homens, com idade média de 43,3 anos (DP=7,4 anos). Entre os vo- as placas de ágar-sangue foram incubadas em estufa de CO2 a 36o C para promover o crescimento dos micro-organismos luntários, três foram excluídos: um apresentou alergia ao anaeróbios e as placas de ágar MacConkey, para os aeró- anti ssépti co e os outros dois não conseguiram reproduzir a bios, a 36o C por 48 horas. Após o período de incubação, técnica assépti ca, totalizando uma amostra de 29 voluntá- foi efetuada a contagem das colônias presentes nas placas, rios. Também foram excluídas das análises microbiológicas sendo o número total de colônias multi plicado pelo fator as amostras dos voluntários que apresentaram contagem da diluição (1:100) para defi nir o total de unidades forma- microbiana inicial igual a zero, por não possibilitarem um doras de colônias por mililitro da amostra (UFC/ml). parâmetro de comparação de redução microbiana após o procedimento da degermação. Da mesma forma, foram ex- A equivalência da coleta da amostra usando a alça cali- cluídas das análises as amostras que ti veram contagem mi- brada no lugar da pipeta foi avaliada segundo o Teste de Wil- crobiana fi nal (após a degermação) maior que a inicial (antes coxon e do Teste de Mann-Whitney e não identi fi cou dife- da degermação) por indicarem contaminação acidental das renças estati sti camente signifi cantes entre os dois métodos amostras. Esta medida foi baseada na literatura(22), para que (p<0,05), o que validou o método da análise laboratorial. a mesma não comprometesse os resultados das análises.

Análises dos dados O número total de amostras analisadas foi de 49, sen- do 19 amostras referentes à técnica de degermação das Para a realização das análises estatí sti cas, o nível de mãos com escova, 10 amostras referentes à degermação signifi cância adotado foi de 5%. As estatí sti cas com p des- das mãos com esponja e 20 amostras referentes à deger- criti vo ≤0,05 foram consideradas signifi cantes. A variável mação das mãos sem artefato.

Rev Esc Enferm USP Efi cácia de três métodos de degermação das mãos 2011; 45(6):1440-5 utilizando gluconato de clorexidina degermante (GCH 2%) 1442 www.ee.usp.br/reeusp/ Cunha ER, Matos FGOA, Silva AM, Araújo EAC, Ferreira KASL, Graziano KU Ao comparar-se a carga microbiana, medida pelo nú- A carga microbiana medida antes e após a realização mero de unidades formadoras de colônias antes da rea- de cada um dos métodos de degermação foi compara- lização da degermação das mãos (momento inicial), não da e verificou-se que nos três métodos houve redução identi fi cou-se diferença estati sti camente signifi cante en- estatisticamente significante (p<0,05) do número de tre os três métodos de degermação testados (p=0,664), unidades formadoras de colônias, sugerindo serem as sugerindo homogeneidade entre os grupos (Figura 1). três técnicas eficazes em reduzir contagem microbia- 25000 na nas mãos e antebraços (Tabela 1). Esta redução foi equivalente entre os métodos, o que pode ser verifica- 20000 do na Tabela 2.

15000 Tabela 1 – Comparação da quantidade de unidades formadoras de colônias (UFC) antes e após a realização de cada um dos três 10000 métodos degermação das mãos e antebraço com GCH 2%

5000 Método de Antes Depois p degermação Média DP* Média DP* 0 Com escova 3380 1188,86 300 207,36 0,002 ESCOVA_TI ESPONJA_TI ARTEFATO_TI Com esponja 1980 445,42 140 140,00 0,007 Figura 1 – Comparação dos valores da contagem bacteriana no Sem artefato 2540 536,28 340 227,16 0,006 momento inicial entre os três métodos de degermação das mãos e antebraço com GCH 2% *DP= desvio-padrão

Tabela 2 – Distribuição dos valores da diferença de médias da contagem bacteriana nos momentos, inicial e fi nal, da degermação das mãos e antebraço com GCH 2% nos três métodos testados

Comparações duas a duas, T inicial (Ti)

a Diferença de a 95% Intervalo de confiança Método Método Erro padrão p médias (delta) Limite Inferior Limite Superior 1 2 1400 1049.285 0.759 -2755.996 5555.996 3 840 1171.153 1 -3798.688 5478.688 2 3 -560 733.894 1 -3466.796 2346.796 Comparações duas a duas, T final (Tf) 95% Intervalo de confiançaa Diferença de a Método Método Erro padrão p médias (delta) Limite Inferior Limite Superior 1 2 160 81.240 0.361 -161.776 481.776 3 - 40 40 1 -198.431 118.431 2 3 -200 104.881 0.388 -615.411 215.411

Médias marginais estimadas. a Ajustamento para comparações múltiplas: Bonferroni; 1 - Degermação das mãos com escova; 2 - Degermação das mãos com esponja; 3 - Degermação das mãos em artefato. As análises realizadas para avaliação dos três métodos ção com escova descartável, fricção com esponja e fricção em teste, por meio dos testes paramétricos (Modelo Li- sem artefato) apresentaram efi cácia equivalente na redu- near Generalizado – GLM, para medidas repeti das), com- ção da contaminação microbiana. provaram que não houve diferença estati sti camente sig- nifi cati va entre os métodos (p=0,148), permiti ndo inferir Resultados semelhantes aos da presente investi gação equivalência dos métodos de degermação. são encontrados na literatura quanto à comparação da efi cácia da degermação cirúrgica das mãos com e sem o Quanto aos agentes microbianos isolados nas amostras uso de artefatos(3,8-15,23). obti das após o procedimento da degermação, foi observa- da uma similaridade entre as diferentes técnicas, sendo o Além de não apontar vantagens adicionais nos resulta- principal agente identi fi cado o Staphylococcus dos da degermação feita com escova ou esponja, há estu- dos que evidenciam que a fricção das mãos sem a uti liza- negati vo, seguido do Corynebacterium spp e Micrococcus (4,9-10,24-25) spp, que são representantes da microbiota normal da pele. ção de artefatos tem um melhor custo-benefí cio , descrevem melhor tolerância da pele quando a degerma- ção é feita apenas com a fricção das mãos(10-17,24-29) e enfa- DISCUSSÃO ti zam que o princípio ati vo da solução uti lizada e os mo- vimentos de fricção com as mãos são os principais fatores Os resultados obti dos neste estudo mostraram que os na redução da carga microbiana, independentemente do três métodos testados para a degermação das mãos (fric- uso dos artefatos(3-4,8-9,17,24,26,28-30).

Efi cácia de três métodos de degermação das mãos Rev Esc Enferm USP utilizando gluconato de clorexidina degermante (GCH 2%) 2011; 45(6):1440-5 Cunha ER, Matos FGOA, Silva AM, Araújo EAC, Ferreira KASL, Graziano KU www.ee.usp.br/reeusp/ 1443 A escolha da investi gação laboratorial permiti u o con- CONCLUSÃO trole das variáveis, o que conferiu maior confi ança aos re- sultados obti dos. As análises quanti tati vas dos micro-organismos após a Em que pesem os referenciais metodológicos adota- degermação cirúrgica das mãos (Tf) equipararam a efi cá- dos nesta investi gação, este estudo subsidia a possibili- cia dos três métodos analisados, o que subsidia a possi- dade de exclusão do uso de artefatos na degermação das bilidade de excluir o uso da escova descartável na deger- mãos e antebraços da equipe cirúrgica uti lizando a formu- mação pré-operatória da equipe cirúrgica com GCH 2%, lação degermante de gluconato de clorexidina 2% dentro princípio ati vo escolhido neste experimento. do procedimento da paramentação, corroborando com os demais estudos internacionais citados. LIMITAÇÕES DO ESTUDO Apesar de já existi r na literatura inúmeros estudos in- Uma limitação do estudo relacionado a operacionali- ternacionais que não recomendam a uti lização de artefa- zação do método da investi gação é a possibilidade de erro tos para a realização da degermação das mãos(4,9,15,17,26,28-29), na manipulação das amostras no âmbito do laboratório de ainda é grande o número de profi ssionais brasileiros que microbiologia quando a contagem microbiana inicial foi não aderiram a essa evidência. igual a zero ou a contagem fi nal foi maior do que a inicial. Acreditamos que o presente estudo possa auxiliar na Outro aspecto que não consti tui limitação do estudo, mudança da práti ca brasileira de degermação das mãos. mas levanta questi onamentos, está relacionada ao efeito Para mudar a práti ca, é importante investi r em progra- residual da degermação cirúrgica investi gada e também a mas de educação permanente, capacitação dos recursos generalização dos resultados para outros princípios ati vos humanos e em novas pesquisas cientí fi cas(4,16,23,25). A falta degermantes como a polivinilpirrolidona iodo. A não-am- de estudos desenvolvidos no contexto brasileiro moti vou pliação do estudo é justi fi cada pelo foco de estudo, que a realização desta pesquisa. era a necessidade de investi gar se uso de artefatos, como escovas, são indispensáveis para a práti ca analisada. REFERÊNCIAS

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Correspondência:Efi cácia de três métodos Fabiana de degermação Gonçalves das de mãos Oliveira Azevedo Matos Rev Esc Enferm USP Ruautilizando Monjoleiro, gluconato 125 de – clorexidinaTropical degermante (GCH 2%) 2011; 45(6):1440-5 CEPCunha 85807-300ER, Matos FGOA, – Cascavel, Silva AM, Araújo PR, EAC, Brasil. Ferreira KASL, Graziano KU www.ee.usp.br/reeusp/ 1445