Globo, Record e SBT têm, em média, apenas 8% de atores negros em novelas

Há apenas 7,98% de atores negros trabalhando na dramaturgia das três principais emissoras do país, atualmente, segundo levantamento feito pela reportagem do UOL. O cálculo levou em conta as novelas que estão no ar ou em produção na Globo, na Record e no SBT, e o elenco divulgado por cada uma delas.

(UOL, 16/05/2018 – acesse no site de origem)

Enquanto “As Aventuras de Poliana”, que estreia nesta quarta (16) no SBT, é a trama que possui a maior representatividade negra (14,5%), a global “” possui apenas um ator negro. Já em “Apocalipse”, da Record, dos 81 atores que constam na ficha técnica, apenas dois são negros –ou 2,46% do total.

A discussão sobre o assunto foi levantada no final de abril, depois de ativistas de movimentos negros reclamarem nas redes sociais sobre o fato de a nova novela das 21h da Globo, “Segundo Sol”, ser formada majoritariamente por brancos. A história escrita por João Emanuel Carneiro se passa na , onde 80,2% dos habitantes se declararam pretos ou pardos, de acordo com os dados de 2017 do IBGE.

Para Sidney Santiago, ator, pesquisador e ativista, a televisão tem se tornado a ferramenta mais eficaz para a manutenção do racismo. “Quando o povo não se vê, não se acha merecedor de direitos. Nós, atores negros, ainda estamos atrelados a uma rubrica. São 200 personagens em uma novela, você tem três negros, e todos eles são pessoas desumanizadas, que não têm a sua história contada”, critica.

“O problema não é ser empregada doméstica negra, o problema é essa empregada doméstica negra não ter família, não ter afetividade, ser despolitizada. É contra isso que nós precisamos lutar”, afirma ele, que participou de novelas como “Caminho das Índias” (Globo) e “Escrava Mãe” (Record), referindo-se aos estereótipos.

Santiago não acredita na tentativa real de mudança por parte das emissoras. “Eu não vejo uma mobilização real. Não estou falando de factóide, de produção de nota, de campanhas de inclusão de um dia para a noite. O que a gente está vendo é isso: a partir de um clamor social, uma mobilização, mas, para mim, ainda não é uma mobilização real. São factóides para tentar se relacionar com o clamor público.”

Após a polêmica, a TV Globo emitiu nota dizendo que “foi colocado que, de fato, ainda temos uma representatividade menor do que gostaríamos e vamos trabalhar para evoluir com essa questão”. Record e SBT também foram consultadas, mas não responderam aos questionamentos até a conclusão deste texto.

Autora de “As Aventuras de Poliana”, Íris Abravanel disse ter dificuldade de encontrar atores negros para compor os elencos durante o lançamento da novela infanto-juvenil do SBT, na semana passada.

“Quando nós procuramos atores, não é fácil encontrar ator afro. Nós temos dificuldade de encontrar. Eu acho que eles precisam eles mesmos superarem algumas dificuldades e ir para frente, conquistar. Eu fico tão feliz quando eu vejo alguém que consegue ser um advogado, um médico, um ator. Às vezes quando pedimos, não tem muitos não. Então, aquilo que nós conseguimos, nós aproveitamos”. Fabiana (Fernanda Rodrigues) é presa ao lado de mulheres negras em cena exibida em “ Lado do Paraíso” (Imagem: Reprodução/TV Globo)

Discussão “ridícula e esquisita”

Na contramão de outros atores, a veterana Ruth de Souza, uma das primeiras atrizes negras a ganhar papel de destaque em uma novela, considera os tempos de hoje como “melhores” em relação à escalação de atores negros, mas avalia como “ridículo e esquisito” ter que discutir sobre o tema na dramaturgia.

“Está bem diferente de antes, agora está melhor, temos mais atores e atrizes [negros] e [as novelas] estão misturando casamento de negro e branco, tem até juíza [negra]”, afirma a atriz de 97 anos, que fez participação recentemente na série “Mister Brau”.

“A carreira de ator é ruim para qualquer um. Acho ridículo e esquisito o brasileiro discutir sobre negros e brancos. Na minha família, por exemplo, tem negro, japonês, tem um monte de raças. Eu acho que precisamos gostar é do ser humano, não importa a raça dele”, completa.

Dona Ruth, que diz nunca ter sofrido com racismo –“ou se sofri, eu não vi”– cita como exemplos de representatividade na televisão, além da juíza Raquel, interpretada por Erika Januza em “O Outro Lado do Paraíso”, a jornalista Maju Coutinho, que apresenta a previsão do tempo no “JN”.

Medidas judiciais

Na última sexta, oMinistério Público do Trabalho (MPT) enviou uma notificação à TV Globo em que pede que a emissora faça adaptações em “Segundo Sol” e em outras programas da emissora. O órgão deu um prazo de dez dias para que a emissora possapropiciar “ a representação da diversidade étnico-racial da sociedade brasileira”.

Em entrevista ao colunista do UOL, Mauricio Stycer, a procuradora Valdirene Silva de Assis, à frente da recém-criada Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade e Combate à Discriminação no Trabalho, diz quea notificação feita à Globo é “um passo preliminar de uma atuação mais efetiva” e que o órgão deve bater na porta de outras emissoras.

“Pretendemos que estas emissoras abram este debate. Revejam as suas práticas. As emissoras não fazem isso sozinhas. É um reflexo desta situação”.

No Congresso, o deputado federal Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ) apresentou no dia 11 de abril um projeto de lei no qual obriga emissoras de rádio e TV a terem, no mínimo, 30% de negros em suas respectivas áreas, inclusive a dramaturgia. Se aprovada, a proposta atingiria emissoras de TV públicas e privadas.

Nas redes sociais, o parlamentar justificou o projeto. “O sistema de cotas no ensino superior hoje faz a diferença diminuindo a histórica desigualdade entre brancos e negros nesse país. O Brasil é um país racista, e por isso precisamos quebrar essas barreiras”.

Gilvan Marques MPT quer adequações em novela da Globo para garantir representatividade racial

Além de questionar nova novela Segundo Sol, órgão pede levantamento sobre número de negros na emissora

(Jota, 11/05/2018 – acesse no site de origem)

O Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) encaminhou um documento à Rede Globo para que a emissora adeque o roteiro e a produção da novela “Segundo Sol“, que vai estrear na próxima segunda-feira (14/5), às 21h, para que o folhetim tenha uma “devida representação racial”. Leia a íntegra.

Ambientada na Bahia, estado com o maior percentual de população negra do Brasil, a novela tem sido alvo de críticas pelo baixo número de atores negros em seu elenco.

Segundo o MPT, que enviou 14 recomendações à emissora, chegou ao órgão uma denúncia no sentido de que a Globo “não estaria observando o respeito à representatividade negra, violando inclusive normas de promoção da igualdade do estado do Rio de Janeiro e da Bahia”.

No item 12 do documento, o MPT pede que sejam feitas “adequações necessárias no roteiro/produção, para observância dos princípios orientadores do Estado Democrático de Direito, entre estes a proibição de discriminação (artigos 3º e 5º da CRFB/88), traduzida de forma específica em relação às produções dos meios de comunicação nos artigos 43 e 44 da Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 – Estatuto da Igualdade Racial”.

O órgão diz que a Globo deve “assegurar a participação de atores e atrizes negros e negras em novelas e programas, dentre outros produtos, a fim de propiciar a representação da diversidade étnico-racial da sociedade brasileira, especialmente em cenários de população predominantemente negra”.

Além disso, a Globo deverá comprovar nos autos as providências adotadas, em 10 dias, “no que tange às medidas adotadas em relação à participação de atores e atrizes negros e negras na novela Segundo Sol”.

De acordo com os procuradores do Trabalho que assinam a peça, o descumprimento da recomendação poderá caracterizar “inobservância de norma de ordem pública”, cabendo ao Ministério Público “convocar a empresa recalcitrante para prestar esclarecimentos em audiência e, eventualmente, firmar termo de compromisso de ajustamento de conduta, previsto na Lei 7.347/85, art. 5º e 6º, ou propor ação judicial cabível, visando à defesa da ordem jurídica e de interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Além de recomendações à nova novela, o MPT ainda quer a elaboração “imediata” de um censo dos trabalhadores que prestam serviços à empresa, empregados ou não, com recorte de raça/cor e gênero, de forma integral e com indicadores de gerência e diretorias.

A Procuradoria ainda pede um levantamento sobre a representação das pessoas negras e o número de artistas negros e negras que aparecem em , séries, propagandas, programas de entretenimento entre outros produtos, produzidos pela empresa bem como o de jornalistas e comentaristas.

Procurada, a Globo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que reafirma que “respeita a diversidade e repudia qualquer tipo de preconceito e discriminação, inclusive o racial”. A emissora confirmou que recebeu a nota do MPT.

Guilherme Pimenta Internautas acusam pai de assediar a própria filha no ‘BBB’

Selinho e carícias consideradas ‘íntimas’ demais estão sendo criticadas nas redes sociais

(Emais, 23/01/2018 – acesse no site de origem)

Apesar de a 18ª edição do Big Brother Brasil ter tido apenas seu primeiro dia de pay-per-view, alguns momentos envolvendo a família Lima, os primeiros participantes da casa, vêm dando o que falar nas redes sociais –além das postagens preconceituosas que vieram à tona.

No Twitter, um dos assuntos mais comentados do dia foi a hashtag #ForaFamíliaLima, criada por fãs que viram alguns ‘excessos’ na relação entre Ayrton e Ana Clara, pai e filha.

Em um momento na primeira festa do programa, Ayrton deu um selinho na filha, o que causou estranheza nos fãs. Em outro, ele deita sobre a filha quando ela está na cama, e faz movimentos considerados estranhos. Por fim, durante uma brincadeira na piscina, ele beija sua barriga e coloca a mão na região da genitália de Ana Clara.

Em todos os momentos em que os contatos físicos ocorreram, estavam acompanhados por outros membros da família, como o primo Jorge e a mãe Eva.

Os momentos estão causando furor nas redes sociais, e alguns fãs já falam até mesmo em expulsão.

Não é a primeira vez que os espectadores clamam pela expulsão de participantes. Em 2017, Marcos Harterfoi expulso após ser acusado de agredir sua então namorada na casa, Emilly Araújo. No mesmo ano, fãs de A Fazendapediram sua expulsão no reality da Record TV por suposta violência psicológica sobre Flávia Viana.

Confira abaixo os momentos citados. A seguir, veja também algumas das reações dos internautas.

Gente que isso????? Nunca vi pai e filha se beijarem assim#bbb18 :s pic.twitter.com/QnywIZ7Pnb

— fabs (@eumesmafabii) 23 de janeiro de 2018

gente isso é Pai e Filha? Por que eu tô enxergando outra coisa#BBB18 https://t.co/O9tLzY3060

— natan (@empoderax) 23 de janeiro de 2018

Gente olha isso! Mds, ele beija a barriga dela e depois passa a mão na PPK, DA FILHA!! EU TÔ MUITO HORRORIZADO #BBB18

pic.twitter.com/b8RL6BLOx9

— Realitys (@TimeRealitys) 23 de janeiro de 2018

o pai beijando a filha, sarrando, beijando a barriga e colocando a mão na parte intima dela , o sobrinho também e mãe parece que se faz de tapada, isso aí que vocês chamam de representar a familia brasileira ?#BBB18 #forafamilialima

— Jennifer (@milaacabelloo) 23 de janeiro de 2018

DESCULPA MAS NÃO, EU NÃO CONSIGO ACHAR NORMAL:

Um pai beijar mais a filha do que a esposa Encoxar a filha o tempo todo Beijar a barriga dela Deitar em cima e fazer movimentos estranhos

É UM MUNDO FORA DA MINHA REALIDADE, TÔ ACHANDO MUITO ABSURDO #ForaFamiliaLima #BBB18 pic.twitter.com/FCS1QGX1cC

— mis (@MisComenta) 23 de janeiro de 2018

o pai beijar mais a filha do que a esposa, encoxar a filha o tempo todo, beijar a barriga dela, deitar em cima e fazer movimentos estranhos, sobrinho sonso e mãe planta essa edição não podia ter começado pior #ForaFamiliaLima

— rafael (@rafaelkjls) 23 de janeiro de 2018

se pra vcs esse tipo de selinho é normal entre pai e filha EU TÔ MUITO ERRADA DA CABEÇA VIU#BBB18 pic.twitter.com/Ue4AzcLwmX

— theinsecurity (@fakerIIh) 23 de janeiro de 2018

horrorizado com beijo entre pai#bbb18 e filha. pic.twitter.com/arQ7kMUNBo

— Gui (@Aguinaldinho) 23 de janeiro de 2018

o pai beija beija a filha o pai sarra a filha o pai passa amão nas partes intimas da filha o pai da em cima da própria filha essa família não representa nenhuma família brasileira, isso é incesto #ForaFamiliaLima #BBB18 pic.twitter.com/8vtNNWpuFc

— Samanttha (@iSamanttha) 23 de janeiro de 2018 Olha a mão do pai na xota da Filha dentro da piscina. Ai caralho, chega dessa porra Boninho.

— K E L L Y (@KellyCRF_) 23 de janeiro de 2018

A catarse brasileira contra o assédio que veio antes de Hollywood

Antes do episódio do poderoso diretor de Hollywood vir à tona, um escândalo sexual abalou a maior emissora de televisão do Brasil, coroando a primavera feminista iniciada em 2015

(El País, 24/12/2017 – acesse no site de origem)

Muito antes do escândalo que rasgou o silêncio sobre abuso sexual no mundo do entretenimento dosEstados Unidos, o Brasil viveu seu próprio caso Weinstein dentro da emissora de televisão mais poderosa do país. No dia 30 de março, tornou-se pública a denúncia contra o ator José Mayer, um dos maiores galãs da televisão, que brilhava nas telenovelas da rede Globo. Segundo a vítima, a figurinista Susllen Tonani, o ator a perseguia nos bastidores da emissora, com investidas vulgares no estilo “fico olhando a sua bundinha e imaginando o seu peitinho” e “você nunca vai dar pra mim?”.

O caso veio à tona quando Tonani, de 28 anos, decidiu escancarar o drama que vivia há mais um ano toda vez que precisava interagir com o ator de 68 anos. A gota d’água foi quando Mayer, dentro de um camarim, colocou a mão na genitália da figurinista para forçar o contato físico. Tomada por uma rara coragem, a figurinista quebrou o silêncio ao divulgar seu relato em uma carta publicada na Folha de S. Paulo. Poucos dias após a carta, atrizes famosas do grande público, incluindo colegas de longa data de Mayer, e funcionárias de vários departamentos da Globo abraçaram o slogan Mexeu com uma, mexeu com todas. Em um gesto de solidariedade à figurinista, ao menos uma centena de mulheresforam trabalhar uniformizadas com esses dizeres estampados em uma camiseta. Pouco depois da manifestação, a Globo repercutiu em seus telejornais uma nota declarando a suspensão do ator, que segue até hoje na geladeira.

O caso Mayer encontrou as mulheres de prontidão. A empatia solidária já estava presente em protestos de rua na canção “companheira, me ajude. Eu não posso andar só. Sozinha, ando bem, mas com você, ando melhor”, repetida em um gesto de sororidade que só se multiplicava exponencialmente desde a Primavera Feminista de 2015.

Naquele ano, a campanha na internet #MeuPrimeiroAssédio, promovido pelo grupo feminista Think Olga, encorajou mulheres a contar seus relatos de abusos sexuais sofridos, em muitos casos, desde a infância. A constatação de que se tratava de uma dor coletiva fezmilhares de brasileiras protestarem contra quaisquer ameaças de retrocesso, como os projetos de lei moralistas no Congresso Nacional. Um deles,que previa dificultar o atendimento de mulheres vítimas de estupro na rede pública de saúde, teve um efeito catártico. Ali nascia a Primavera Feminista em protestos de rua, que nunca mais parou.

Um ano depois, em 2016, outro caso famoso mostrou queo machismo no Brasil não escolhe classe social. A modelo e atriz brasileira Luiza Brunet, de 54 anos, então casada com o bilionário empresário Lírio Parisotto, tornou públicas fotos de lesões, incluindo um olho roxo, provocadas pelas agressões do seu parceiro. Era mais uma evidência irrefutável da violência a que as mulheres estão submetidas no Brasil. Ele foi condenado a um ano de detenção em regime aberto, e ela, passou de estatística para a militância, se engajando na luta contra a violência doméstica.

As ruas e as redes viveram uma eletricidade feminista jamais vista desde então. Mas, o movimento despertou também a ira de grupos conservadores, impondo uma dinâmica de avanços e retrocessos. Ao mesmo tempo em que o grito das mulheres nas ruas obrigou empresas a voltarem atrás em campanhas publicitárias sexistas, e até o presidente Michel Temer foi obrigado a incluir uma mulher em seu ministério quando assumiu o Governo em 2016 – ele só havia escolhido homens —, há uma visível tentativa de retrocesso do que já foi conquistado. O Congresso, por exemplo, agora trata de passar um projeto que proíbe o aborto até mesmo em caso de estupro, uma das únicas condições asseguradas por lei.

Seja como for, a poderosa rede Globo entendeu que era preciso tomar um lado, e seu novo folhetim televisivo virou uma espécie demea culpa. A emissora decidiu radicalizar a mensagem voltada às mulheres na novela Do outro lado do paraíso, exibida desde outubro, na qual a protagonista é vítima de agressões por parte do marido. Por meio da ficção, o drama alerta sobre a violência doméstica, um problema que atinge 503 mulheres a cada hora no país sulamericano.

A mais recente demonstração de que a maior emissora do país está, ao menos tentando, acertar as contas com os próprios erros ocorreu na última sexta-feira. Uma das suas estrelas do jornalismo, o apresentador William Waack, foi demitido, depois que um vídeo em que ele fazia um comentário racista vazou na internet. Waack, assim como Mayer, estava suspenso, desde novembro. Em uma realidade onde, estatisticamente, a mulher negra ganha salários ainda menores, sofre mais violência e tem menos oportunidades que as mulheres brancas e, claro, que qualquer homem, o comentário de Waack foi um tiro no pé. Não basta fazer novela e debater o tema, se a prata da casa anda na contramão deste movimento.

Tanto no Brasil como nos Estados Unidos, quebrar o silêncio tem sido um processo doloroso, com camadas de culpas antes da libertação. Quando a atriz norte-americana Ashley Judd denunciou o assédio sofrido pelo magnata Harvey Weinstein, ela afirmou que não reconhecera na hora o que estava acontecendo. “Levei anos para me dar conta de que era ruim e ilegal”, disse. Como Judd, a figurinista brasileira Susllen Tonani disse algo parecido. “Sinto no peito uma culpa imensa por não ter tomado medidas sérias e árduas antes, sinto um arrependimento violento por ter me calado”. Se para cada país há um Weinstein, em cada mulher há de haver também uma Su Tonani ou Ashley Judd. Marina Rossi

Às ruas para virar o jogo e lutar pelos nossos direitos!

Desde ontem, depois que a delação dos irmãos da JBS elevou a crise à enésima potência e, a ainda hoje, com a recusa de Temer à renúncia, a questão que nos colocamos como ativistas do movimento de mulheres e feminista é: como fortalecer a nossa resistência à ofensiva conservadora nesse contexto?

(Cfemea 19/05/2017 – Acesse o site de origem)

Não foi por causa das nossas mobilizações e protestos que o Temer amanheceu o dia quase ex-presidente, mas mesmo assim, podemos vislumbrar a possibilidade de virar o jogo a nosso favor?

Nos abalos de altíssima intensidade que o Judiciário está impondo ao governo Temer e sua base golpista, que possibilidades temos de mobilizar sociedade, amplificar as vozes da indignação contra a usurpação dos nossos direitos, do nosso poder?

Tem alguém para salvar a pátria? Mantido o parlamento mais conservador desde o golpe de 64, as Diretas Já seriam suficientes? E as eleições gerais? E a constituinte? Temos condição de mobilizar forças, capacidade de convergência e articulação política suficientes para exigi-las? Como virar o jogo em prol da soberania popular? Chegamos à fase mais aguda da crise: a delação premiada de Joesley e Wesley Batista atingiu em cheio a figura de Michel Temer e do senador Aécio Neves. As características da denúncia revelam o traço mais importante da crise por que estamos passando. Trata-se de uma disputa entre forças conservadoras, representadas, neste caso, pela elite econômica entranhada nas estruturas poder do país. A JBS foi a maior doadora individual da campanha de 2014 e segue como uma das principais anunciantes dos veículos de comunicação hegemônicos, responsáveis pela defesa do golpe e seu projeto político antidireitos.

O trio responsável pela promoção do golpe: TV Globo, o Supremo Tribunal Federal, e o parlamento (majoritariamente composto pelas Bancadas BBBB), agora se empenha em tirar Temer do poder. As forças conservadoras estão buscando uma reacomodação com o afastamento de Temer, com as eleições indiretas, com o sequestro da política pelo Judiciário, ou se isso não for possível, até pela força dos militares. Em qualquer uma dessas hipóteses, eliminando o poder da cidadania e a participação popular na decisão sobre os rumos que o país deve tomar.

O Congresso Nacional está comprometido com as contrarreformas de Estado, já destruiu o orçamento da seguridade social, garantiu a receita pública para os banqueiros, está fatiando os recursos públicos, o território brasileiro e os bens comuns, com o facão do patrimonialismo e dividindo os pedaços como se fossem novas capitanias hereditárias entre os seus fiéis. Viola cotidianamente o princípio da laicidade pra sustentar a aliança com o fundamentalismo religioso. Vai acabar com a Previdência e os direitos d@s trabalhador@s em prol da ganância da iniciativa privada. É possível virar o jogo nesse campo minado?

Nesse contexto, o desafio que se impõe a nós feministas, aos movimentos sociais de uma maneira geral e a todas as forças contra hegemônicas, é o de criar saídas libertárias, à esquerda, mesmo nesse cenário em que elas parecem tão estreitas e insatisfatórias. Ampliar nossas perspectivas implica agir aqui e agora, responder às emergências, por exemplo, impedindo que as reformas da Previdência e Trabalhista avancem eliminando nossos direitos.

Uma certeza temos. Para virar esse jogo, temos de ter forças, ocupar as ruas, mobilizar a sociedade para as transformações necessárias que sejam capazes de resgatar a política de seu sequestro por aqueles que usam e usaram o poder público para seu próprio privilégio. Tudo isso, sem perder de vista o sentido estratégico da transformação que queremos: radicalizar a democracia, construir o poder popular com a participação das mulheres, d@s negros, dos povos indígenas, da juventude, da população LGBTTI, de tod@s os excluídos; afirmar nossos direitos e proteger os bens comuns.

Impacto cultural foi o mais positivo, diz Sabatella sobre caso José Mayer

Letícia Sabatella, uma de muitas atrizes que apoiaram a figurinista Susslem Tonani em sua denúncia de assédio sexual contra José Mayer, acredita que o fato de Tonani não tê-lo incriminado não põe a perder o que foi conquistado com o caso.

(Folha de S.Paulo, 28/04/2017 – Acesse o site de origem)

Após ser convidada a depor à Polícia Civil, a figurinista decidiu não levar adiante o inquérito contra o ator.

“O que quer que venha a acontecer, já foi dado um bom exemplo”, disse a atriz.

Para ela, o mais importante foi o impacto cultural. “O primeiro passo, a denúncia, foi extremamente importante, e o apoio das funcionárias e elenco foi eficiente. Tanto a Globo se posicionou como o próprio José Mayer se desculpou. As coisas agora vão ser diferentes”, disse ela.

Mayer, que a princípio negara as acusações, acabou divulgando uma carta na qual afirma que errou, pede desculpas e diz que passa por um processo de mudança.

A TV Globo o suspendeu de produções futuras por tempo indeterminado.

Para Sabatella, levar o caso à Justiça é uma escolha da vítima, que terá que se dispor a enfrentar um processo que pode ser desgastante.

“É um segundo passo, que talvez não seja o mais importante e com certeza não nega o fato nem põe a perder as ações do movimento”, disse a atriz.

Quando o caso veio a público, funcionárias da Globo e o elenco fizeram um protesto em apoio à figurinista –foram trabalhar usando camisetas com a frase “Mexeu com uma, mexeu com todas”. A manifestação também se espalhou em redes sociais. Segundo pessoas que trabalham na emissora, foi criado um grupo informal de apoio a mulheres que venham a sofrer assédio no futuro.

Sabatella disse à Folha que não pode falar por todas as colegas pois o assunto ainda não havia sido discutido entre elas, mas acredita que Tonani continuará sendo apoiada por todas.

“O que houve de mais significativo foi a sororidade que se criou. Gerou união. Ir à Justiça ou não não muda o que já foi conquistado.”

Para a presidente da Comissão OAB Mulher, Marisa Gaudio, a decisão de Tonani de não levar adiante o inquérito contra o ator é negativa para o movimento, mas é compreensível.

“Acho ruim porque quanto mais falarmos do assunto, mais a gente informa as mulheres sobre seus direitos. Além disso, o caso dela acaba não entrando nas estatísticas, que já são subestimadas”, diz a advogada.

As estimativas de subnotificação de violência sexual variam, mas se calcula que meros 10% a 35% dos casos terminem de fato reportados.

“No entanto, não se pode julgar a decisão individual da mulher. É muito comum mulheres não denunciarem, em geral, por medo.”

Procurada, a TV Globo disse que não vai se posicionar. A Defensoria Pública do Rio, que acompanha o caso, disse que não vai se manifestar porque o caso está em sigilo. Ex-BBB Marcos é denunciado pelo Ministério Público por agressão a Emilly

Em nota enviada ao UOL, a assessoria esclarece que a agressão aconteceu durante a festa Retrô do reality da TV Globo. “Marcos agrediu Emilly com fortes beliscões, que causaram um hematoma no braço esquerdo da vítima, por motivo fútil, que seria ciúmes. Em outro momento, o denunciado ofendeu novamente a integridade corporal de Emilly, com um apertão no antebraço direito, que acarretou um novo hematoma roxo. As lesões constam em Laudo de Corpo Delito”. Segundo o promotor de Justiça Gianfilippo Pianezzola, “os crimes foram praticados no âmbito de uma relação íntima de afeto, já que Marcos mantinha um relacionamento amoroso com Emilly”.

(Compromisso e Atitude, 25/04/2017 – Acesse o site)

De acordo com ele, “as agressões físicas e psicológicas suportadas pelas vítimas, causadoras de dano físico e emocional, consistem forma de violência doméstica e familiar”.

O caso agora segue para a Justiça, que após análise decidirá se Marcos vira réu do processo.

Marcos foi indiciado por lesão corporal

O BBB Marcos Harter foi indiciado após investigação de agressões contra sua companheira de confinamento Emilly Araújo durante o reality show. O médico foi indiciado por lesão corporal com base na Lei Maria da Penha.

Márcia Noeli, chefe da Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher (DPAM), confirmou que as investigações do inquérito policial foram concluídas pela delegada Viviane Costa Pinto, titular da DEAM de Jacarepaguá, e encaminhou o caso para o Ministério Público. “Após análise das imagens, das declarações prestadas e do teor do laudo pericial positivo, os quais não deixaram dúvidas quanto à autoria e materialidade delitiva, constatando que as lesões da vítima se deram em razão das ações intencionais do autor, a Autoridade Policial indiciou formalmente Marcos de Oliveira Harter, relatou o Inquérito Policial e o encaminhou à Promotoria de Justiça.”

Por que a ‘nova Globeleza’ é um avanço para as mulheres negras

“A Globeleza não é o retrato da mulher negra. Ela é a representação da Mulata, que vem do imaginário escravocrata e da ideia de que a ‘branca é pra casar, a mulata para fornicar e a preta para trepar’. Quando a Globo insiste na mulher negra como símbolo do Carnaval que ‘tudo pode’ é este imaginário colonizado que ela está reforçando”, disse a professora e pesquisadora Rosane Borges em entrevista ao HuffPost Brasil.

(HuffPost Brasil, 09/01/2017 – acesse na íntegra no site de origem) Leia também: O posicionamento estrsatéfgiac0o por trás da roupa da Globeleza (Exame, 10/01/2017)

Nua, sambando e com o corpo pintado com vinhetas da Rede Globo. Era assim que a Globeleza era conhecida desde 1991 até o ano passado.

Na vinheta exibida pela emissora neste domingo (8), aquela que foi batizada de “musa do carnaval do Brasil” aparece diferente: sambando, mas vestida com roupas típicas do frevo e do maracatu, além de porta-bandeira de escola de samba acompanhada de um mestre-sala.

Nua, sambando e com o corpo pintado com vinhetas da Rede Globo. Era assim que a Globeleza era conhecida desde 1991 até o ano passado. Na vinheta exibida pela emissora neste domingo (8), aquela que foi batizada de “musa do carnaval do Brasil” aparece diferente: sambando, mas vestida com roupas típicas do frevo e do maracatu, além de porta-bandeira de escola de samba acompanhada de um mestre-sala.

Assista ao vídeo:

O Fantástico exibiu o vídeo em primeira mão neste domingo. “Esse ano a inovação foi trazer o carnaval de cada região, a cultura de cada lugar. A ideia desse filme era juntar todas as ideias do Carnaval em 37 segundos”, disse Flávio Mac, diretor de arte da Globo em entrevista ao jornalístico. “São muitas novidades. A diversidade agora vai aparecer ainda mais. Muitos figurinos e muito mais o nosso folclore do nosso Carnaval em si“, completou Erika Moura, a atual Globeleza na mesma entrevista.

A repercussão do vídeo nas redes sociais foi acalorada. De um lado alguns comemorando, de outro, alguns criticando.

O foco, então, parece não estar apenas em uma única mulher, mas nas diversas representações que o Carnaval brasileiro tem.

Rosane Borges, pós-doutoranda em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e professora Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação também da USP, acredita que a nova representação da personagem “Globeleza” é positiva e vai a encontro de valorizar elementos da cultura nacional. “A Globeleza não é o retrato da mulher negra. Ela é a representação da Mulata, que vem do imaginário escravocrata e da ideia de que a ‘branca é pra casar, a mulata para fornicar e a preta para trepar’. Quando a Globo insiste na mulher negra como símbolo do Carnaval que ‘tudo pode’ é este imaginário colonizado que ela está reforçando”, disse em entrevista ao HuffPost Brasil.

Para Rosane, uma discussão como esta traz à tona uma questão complexa e que diz respeito ao que é esperado de diversos grupos e sobre quais são as suas funções sociais:

“Uma imagem diferente da hegemônica [dominante] entrega outras possibilidades de representação para esta mulher e, inclusive, na hora de representar a si mesma, e outros conjuntos de mulheres que existem na sociedade e também da cultura em que ela vive. Então, eu acho que a princípio, essa mudança é positiva, sim”

E completa:

“Quando você insiste numa imagem objetificada, nela não há diversidade. Por que colocar só uma mulher negra sambando? A gente tem uma diversidade enorme de mulheres que são destaques no Carnaval e no samba. Tirar a mulher negra desse lugar de objetificação é um passo importante. Não há mudança na política real, se não há mudança nos mecanismos de imagens que reforçam isso.”

A especialista ainda explica que não é porque há um pequeno avanço nesta representação que é preciso discutir menos a imagem da mulher negra e os símbolos que são criados pelos meios de comunicação.

“Não devemos desconsiderar que o racismo ainda é um eixo extremo e negativo para a sociedade. A gente tem que tirar essa questão como algo simplificado e colocar como estrutura. Racismo e sexismo são questões estruturais que precisam ser combatidas.”

E a comunicação, em si, tem um papel importante em construir e amplificar narrativas já existentes, mas que estão escondidas:

“A gente tem uma mudança no modelo da comunicação que é muito substantiva. As redes sociais tiraram aquele padrão dominante de distribuição da informação. E que cria uma maneira de que outras pessoas ouçam outras vozes, que não a dos hegemônicos.A narrativa que prioriza um único lado da história não é real.”

Machismo, racismo e violência contra a mulher negra

Em 2014 foram registrados 4.832 homicídios de mulheres no País, segundo dados mais recentes do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Desde 2006, primeiro ano de vigência da Lei Maria da Penha, o número de vítimas caiu 2,1% entre as mulheres brancas e aumentou 35,0% entre as negras.

Uma pesquisa da Unicef chamada Violência Sexual mostra que as mulheres negras são as mais vitimadas por tipo de agressão.

“Na análise sobre os fatores que estão por trás da exploração sexual comercial, é importante considerar que a desigualdade estrutural da sociedade brasileira é constituída não só pela dominação de classes, de gênero e de raça. (…) Dessa forma, a criança e o adolescente não têm sido considerados sujeitos, mas, sim, objeto da dominação dos adultos, tanto por meio da exploração de seu corpo no trabalho quanto de seu sexo e da sua submissão. As relações dominantes de gênero e de raça, por sua vez, se evidenciam pelo fato de que a grande maioria das vítimas é formada por mulheres negras e pardas”, diz o estudo.

Mestre em Filosofia Política pela Unifesp, Djamila Ribeiro, destaca como a exploração da imagem da “mulata brasileira” na Globeleza remete a episódios de violência sexual de mulheres escravizadas por senhores de engenho.

Luiza Bairros tem uma frase muito interessante que explicita muito bem o lugar que a sociedade confere à mulher negra: “nós carregamos a marca”. Não importa onde estejamos, a marca é a exotização dos nossos corpos e a subalternidade. Desde o período colonial, mulheres negras são estereotipadas como sendo “quentes”, naturalmente sensuais, sedutoras de homens. Essas classificações, vistas a partir do olhar do colonizador, romantizam o fato de que essas mulheres estavam na condição de escravas e, portanto, eram estupradas e violentadas, ou seja, sua vontade não existia perante seus ‘senhores'”, escreveu em artigo para o blog Agora é que São Elas, da Folha de S. Paulo.

Para Lorena Monique, negra, ativista e responsável pelo canal do youtube Neggata, uma mulher negra, nua e sorrindo está muito próximo da ideia opressora de colonização que temos em nossas mentes:

“Magra, alta, esguia, peitos grandes, bunda grande, cabelo encaracolado e com algumas mechas loiras e, principalmente, negra com a pele clara. Esse é o padrão da mulher negra aceita (como objeto sexual, mas aceita). O problema é que a grande maioria das mulheres negras não se encaixa nesse padrão. Mulheres negras de pele retinta, gordas, com lábios mais grossos, feições mais fortes e que não saibam sambar ou que não desejem ser vistas apenas como objetos sexuais. Essas não têm vez […]. O que é a Globeleza se não uma mulher negra nua, dançando de forma sensual, sem nenhuma fala, nenhuma conexão com o espectador, além da sua imagem? É impossível assistir a uma de suas vinhetas e não perceber que não se trata da mulher Valéria Valenssa, mas apenas do seu corpo, sua sensualidade e sua força sexual. A Globeleza é apenas um corpo que samba, faz sexo e nada mais. Ah, claro, também é uma mensagem muita clara de qual é o papel da mulher negra na sociedade brasileira”, escreveu em texto para o HuffPost Brasil

A história da Globeleza

Hoje representada por Erika Moura, que assumiu a personagem em 2015, a Globeleza consagrou a carreira da dançarina Valéria Valenssa, no cargo de 1991 a 2004. Foram 14 anos sambando estampada com vinhetas feitas pelo marido, o diretor de arte Hans Donner.

MP faz operação e apreende provas por crime contra Maju, diz Globo

(UOL, 10/12/2015) O Ministério Público de São Paulo promoveu uma operação na manhã desta quinta-feira (10) para apreender provas por crime de racismo contra a jornalista Maria Júlia Coutinho. As informações foram divulgadas pela TV Globo.

Segundo a emissora, só nesta fase das investigações, a Justiça determinou 25 mandados de busca e apreensão em oito Estados –SP, MG, GO, CE, PE, AM, SC e RS. Em Goiás, por exemplo, parte dos ataques teria sido feito por um adolescente de 16 anos.

Em São Paulo, um rapaz de 21 anos prestou depoimento durante 4 horas aos procuradores, teve o computador apreendido, mas negou envolvimento nas ofensas contra a jornalista.

“Não, o meu grupo não [fez os ataques], agora, o grupo que publicou, eu sei quem foi, e eu vou falar. Lógico, não vou segurar o ‘rojão’ de ninguém”, disse o suspeito, identificado pela reportagem como Kaike Batista, auxiliar de produção e morador da zona Norte da capital paulista.

Outro suspeito, e que é apontado pela investigação como líder dos ataques, foi localizado em Sorocaba, no interior de São Paulo. No celular dele foram encontrados outros grupos com mensagens racistas.

Maria Júlia Coutinho –ou simplesmente Maju– sofreu ofensas racistas em julho em uma publicação com a sua imagem na página oficial do “JN” no Facebook. Alguns internautas fizeram piadas epublicaram comentários pejorativos e racistas, como “Só conseguiu emprego no ‘Jornal Nacional’ por causa das cotas. Preta imunda” ou “Vá fazer as previsões do tempo na senzala”.

Revoltados, internautas, telespectadores, famosos, colegas de Redação e profissão saíram em defesa da jornalista, publicaram comentários de repúdio e subiram a hashtag #SomosTodosMajuCoutinho.

Formada pela Cásper Líbero e com rápida passagem pela TV Cultura, Maria Júlia iniciou a sua carreira no jornalismo da Globo como repórter de telejornais locais, em São Paulo. Se tornou pouco tempo depois a moça do tempo no “SPTV”, “Bom Dia São Paulo”, “Bom Dia Brasil” e também no “Hora 1”. Ela é conhecida na Redação paulista com esse apelido, “Maju”.

É considerada uma das repórteres mais simpáticas da emissora, e ganhou uma legião de fãs nas redes sociais depois que passou a interagir diariamente –e de forma descontraída– com o âncora William Bonner no “Jornal Nacional”. Maju é a primeira mulher negra a se tornar a moça do tempo do “JN”, função que ocupa desde abril.

Racismo é crime

A pessoa acusada por injúria racial pode ser autuada pelo Art. 140 do Código Penal, com pena de reclusão de um a três anos e multa. “Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Pena – reclusão de um a três anos e multa”, diz um trecho do Código Penal.

Site para denúncias

A presidente Dilma Rousseff anunciou em abril o lançamento de um site chamado “Humaniza Redes“. A ideia, segundo o governo, é que o portal seja um espaço para denúncias de violação de direitos humanos na internet (como racismo, pedofilia, intolerância religiosa, etc) e utilizar a página para a promoção de conteúdos para uso seguro da rede.

Acesse no site de origem: MP faz operação e apreende provas por crime contra Maju, diz Globo (UOL, 10/12/2015)

Rachel Moreno, pesquisadora de mídia, aponta violência de gênero em novela

Não deve ser fácil escrever uma novela.

Além de todo o talento necessário à empreita, há que se garantir a audiência da emissora que bancar o projeto.

Para isso, alguns capítulos estão prontos na estreia e, depois de acompanhar o índice de audiência, fazem-se pesquisas qualitativas.

Grupos representando a diversidade da audiência são convidados por um instituto a dar a sua opinião sobre a novela, as situações mais relevantes, as personagens. E, baseado na análise dessas avaliações, o/a autor/a dá mais, ou menos espaço a determinados temas e personagens.

Babilônia, novela de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga das nove horas da TV Globo acabou recentemente.

Ousada em algumas de suas propostas, onde a diversidade a orientação sexual existente e reconhecida culturalmente e que, inclusive pode contabilizar algumas vitórias (como o reconhecimento da união homoafetiva, a possibilidade de adoção de crianças), foi uma dessas “ousadias”.

Ousadia, entenda-se bem, não porque a novela propusesse nada de novo – afinal, refletia a nova aceitação de uma diversidade maior de tendências em nossa sociedade – mas provavelmente porque, com a migração de um segmento de telespectadores – particularmente os jovens, habitualmente mais abertos às novidades e talvez menos preconceituosos – para a internet, deixando frente à tela da TV um segmento de mais idade e mais conservador.

Afinal, a grande mídia não inventa valores e situações, mas reflete – talvez de forma bastante seletiva, segundo os seus critérios e valores – o comportamento (ou, melhor dizendo, alguns dos comportamentos) que percebe na sociedade. Que ela seleciona, desterritorializa, resignifica e termina por transformar em moda. E foi justamente o que os autores apresentaram no primeiro capítulo, com personagens vilãs (Gloria Pires e ) com excelente performance e um beijo entre as lésbicas vividas por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.

Além disso, tivemos cenas de violência doméstica e assassinato. Com direito a filha esbofeteando mãe, e filho ameaçando pai, a audiência foi despencando.

E, como aponta Nilson Xavier, em matéria publicada no dia 28/08/2015 , para piorar, a mocinha, vivida por Camila Pitanga, ganhou a pecha de chata e a antipatia do público.

“Uma ala mais conservadora da sociedade”, que aliás se manifestou em vários momentos e episódios políticos recentes (como na derrota da inclusão de questões de gênero, em diversos Planos Municipais de Educação, que propunha a discussão crítica das diversas formas de preconceito na escola, para desnaturalizá-las) iniciou uma campanha anti-Babilônia.

Como resultado, os autores mudaram uma série de aspectos e perfil de personagens da novela.

A grande vilã Beatriz (Glória Pires), uma mulher fria e calculista, ávida por sexo e poder, se revelou uma romântica boboca ao se apaixonar pelo nadador Diogo (Thiago Martins), num romance pouco crível. Alice (Sophie Charlotte) e sua mãe Inês (Adriana Esteves), que se odiavam, se reconciliaram e viraram melhores amigas da noite para o dia. Alice, que era para ser uma prostituta de luxo, se tornou uma mocinha chorosa. O cafetão Murilo (Bruno Gagliasso) só não perdeu a função na novela porque, nas últimas semanas, os autores o pegaram para ser a vítima do “quem matou”. O romance entre Alice e Evandro (Cássio Gabus Mendes), meloso e forçado, foi outra mudança drástica, já que ele havia sido apresentado como um machista mau caráter no início. Ficou claro o foco nos romances para tentar fisgar o telespectador. Os autores também investiram mais no humor do triângulo cômico (mas pouco engraçado) envolvendo Norberto, Valeska e Clóvis (Marcos Veras, Juliana Alves eIgor Angelkorte). E diminuíram o foco nos personagens gays. O romance estre as lésbicas, que prometia ser uma abordagem interessante, praticamente sumiu da história, sem mais beijos. Outro personagem descaracterizado foi Carlos Alberto (Marcos Pasquim), que seria um gay enrustido de caso com Ivan (Marcello Melo Jr.), mas que acabou envolvendo-se com Regina.

Mas todas as concessões feitas à opinião pública do segmento mais conservador da audiência à , além de descaracterizar, apresentaram mudanças de alguma forma artificiais, que nem a tornaram mais palatável, nem reapresentaram as propostas mais inovadoras numa embalagem mais aceitável.

No fim, com finais felizes para todos os casais e punição das principais vilãs Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Gloria Pires) jogadas de um precipício, embora dando uma audiência mais razoável (32,2 pontos), não a salvaram do despencamento de 18 pontos com relação ao final da última novela (Império).

A FUNÇÃO SOCIAL DA MÍDIA

A TV, e particularmente as novelas, não inventam comportamentos e valores, mas reproduzem os que lhes convém focar. E, com isso, amplificam o seu alcance – transformando-os em moda ou contribuem fortemente para a sua naturalização e multiplicação na cultura.

Assim, numa cena que foi ao ar no dia 26/08, a mando de Beatriz (Gloria Pires), Osvaldo (Werner Schünemann) vai sequestrar a advogada Inês (Adriana Esteves), e levá-la até o alto do morro Babilônia, onde ele vai torturá-la para que ela deixe a presidência da construtora Souza Rangel. Osvaldo coloca a advogada dentro de uma pilha de pneus, em que joga gasolina e ameaçar atear fogo.

Uma conversa flagrada num bar de São Paulo, numa mesa grande onde as pessoas prestaram atenção ao capítulo da novela que a TV exibia, pode-se perceber o efeito imediato desta cena – aprovação, e votos de que as duas personagens femininas que ousaram se beijar, merecessem destino igual.

É precisamente isso que cansamos de apontar, quando falamos da influência na cultura, e na formação da subjetividade da população, pelo conteúdo da mídia.

Tudo bem que este procedimento não foi inventado pela Globo, nem pelos autores da novela, que reproduziram uma cena de violência que deve ter ocorrido em algum lugar do país, e que lhes pareceu forte o bastante para, quem sabe, resgatar a audiência nos capítulos finais.

Mas, mais do que a audiência de uma novela, cabe pensar no que deveria ser (mas infelizmente não é) a função e responsabilidade social da mídia – e, particularmente, quando falamos de uma mídia de massas, que também é uma concessão pública.

A novela terminou, e não há resgate possível, nela, com relação ao episódio em questão. Mas também não podemos deixá-lo passar em branco e, no mínimo, alertar os autores de novela, os decisores da mídia, e as autoridades governamentais, sobre o prejuízo que esta inconsequência pode trazer para a nossa sociedade, naturalizando assim mais este episódio de violência de gênero, e de violência em geral.

Ainda mais num tempo em que parece estar se legitimando o “fazer a justiça com as próprias mãos”, como relatado em dois episódios recentes, cobertos pela mídia.

No primeiro, a população agarra um moleque que roubou algo do supermercado, amarra o menino num poste, e bate nele até matá-lo, em São Luiz do Maranhão (http://extra.globo.com/casos-de-policia/assaltante-amarrado-em-poste-espan cado-ate-morte-por-pedestres-em-sao-luis-16686215.html). E, mais recentemente, um final trágico similar teria sido corajosamente sustado pela intervenção de Joel Rufino, historiador, que impede o linchamento de um ladrão, ensanguentado, que levava porrada de saradões, mulheres, velhos, em Copacabana, no sábado passado, enquanto um policial civil armado assistia a tudo sem se meter. (Mamapress, no site Geledés – fonte: http://joelrufinodossantos.com.br/paginas/biografia.asp)

Precisamos veicular este nosso alerta. E, mais do que isso, precisamos de uma manifestação impactante dos órgão que combatem a violência de gênero, que traçam políticas públicas de interesse das mulheres, e que, ao menos teoricamente, podem inclusive impactar em algum alerta institucional a ser encaminhado à Globo, com repercussão pública, para que tais situações não se repitam e, se possível, tenham algum espaço de resgate, de modo a contrabalançar o seu efeito nocivo.

Rachel Moreno