Produção Laboratorial do Curso de Jornalismo da UNIFAE Simpatias P.14 Poliamor ENTRE P.24 O amor entre homens e seus pets LINHAS P.36 Edição # 114/115 Ano 17 - Janeiro de 2018

O amor supera qualquer diferença A história de casais que venceram as dificuldades e os preconceitos P.6 E D I T O R I A L

Carta ao leitor www.fae.br End. Largo Engenheiro Paulo de Almei- Olá! Seja bem vindo a mais uma edição do Entreli- da Sandeville, 15 nhas. Neste número temos uma produção temáti- São João da Boa Vista - SP CEP 13870-377 ca, como realizamos sempre no segundo semestre Fone: (19) 3638-0240 de cada ano. Mas, foi uma edição particularmen- Reitor: Prof. Dr. Francisco de Assis Car- te diferenciada, pois trata de um tema bastante valho Arten complexo: o amor. São 20 reportagens que falam Vice-Reitora: Profª. Drª. Maria Helena desse sentimento em suas várias formas: o amor Cirne de Toledo entre Almas Gêmeas, as simpatias, como a ciên- Coordenação Jornalismo: Prof. Me. José Dias Paschoal Neto cia o explica, Romeu e Julieta, amor aos animais... Foram textos difíceis de se produzir, dado a subje- tividade do tema. ENTRELINHAS

Os estudantes suaram a camisa e os cérebros para Produção Laboratorial dos alunos do trazer à realidade, com diversos personagens e curso de Jornalismo da UNIFAE Professor Editor: Camilo Antônio A. informações, o que se pensa estar somente no co- Barbosa - Mtb MG 05466 JP ração. A polêmica também teve seu espaço com o Planejamento Gráfico e revisão: poliamor e o relacionamento aberto. E não ficaram Profª Ana Paula Malheiros Romeiro e de fora o amor de infância e a distância, ou mesmo Alérison Carvalho por meio de aplicativos e do antigo e quase esque- Diagramação: Amanda Leonardi cido correio elegante. E o que dizer das loucuras de Ilustrações: Freepik.com Foto capa: Estúdio K Photografia amor, ou de sentimentos como obsessão e com- Reportagem: Aliffer Cassiano, Aroldo pulsão no gostar… Ah, o primeiro amor e a Deus Pontes, Bárbara Rosa, Beatriz Barreiro, juntam-se ao texto sobre adoção e a simbologia Camila Theodoro, Gabriela Sodré, ligada a este sentimento. Trata-se de uma revista, Giovanna Costa, Guilherme Coelho, como sempre, inusitada. Cobrimos o que a maioria Heloiza Magalhães, Iago de Lima, João dos veículos não pauta. Fazemos a diferença na Guilherme Bretas, Júlia Cruz, Leonardo produção laboratorial, preparando o estudante Silva, Letícia Salvador, Luana da Silva, Luiz Ribeiro, Marcela Santo, Mayara para um mercado altamente competitivo. Porfíro, Renan Bezan e Taina Urso.

A partir desse número o Entrelinhas não será mais editado de forma impressa. Ganha mais espaço e poder de divulgação on line, em uma produção gráfica ainda mais atraente e interativa, acompa- nhando os novos tempos e a mordernidade. Espe- ramos que você possa ter sempre uma boa leitura!

Camilo Antônio de A. Barbosa Professor Editor

2 Entrelinhas S U M Á R I O

4. Notas e curiosidades ______18. O amor de Julieta e Romeu 6. O amor supera qualquer diferença ______

20. Adoção 34. Obsessão e ______possessão: quando o amor passa dos limites 22. Quando o amor ______acaba ______36. O amor entre homens e seus pets 8. Amor à distância 24. Poliamor ______38. Liberdade no amor 10. Amor para a 26. Quando a arte ______vida Inteira retrata o amor ______40. Meu primeiro e eterno amor 12. Como a ciência ______explica o amor ______42. Loucuras de amor 14. Simpatias ______

16. Quando o amor 28. Da quermesse ao transforma celular: a evolução da paquera ______

30. Almas Gêmeas ______

32. A simbologia do ______amor

Entrelinhas 3 NOTAS...

Ter um casamento feliz está mais raro e gratificante Dicas para esquecer o amor O professor e especialista em relacionamentos Eli Finkel, da Uni- De acordo do o psicólogo Robert versidade Northwestern, nos EUA, escreveu um livro falando Stemberg, da Universidade do Esta- que a pós-casamento tem sido algo cada mais difícil do de Oklahoma, há quatro manei- de se atingir. Porém, quando conseguem construir um bom ma- ras de cortar a obsessão e esquecer trimônio, as recompensas são ainda maiores do que costuma- — de uma vez por todas — um rela- vam ser décadas atrás. O livro se chama “The cionamento que terminou: lembre- All-or-Nothing Marriage: How the Best Mar- -se das características negativas dele riages Work”, ainda sem tradução para o por- (a), nunca se esqueça que o roman- tuguês. Nele, Finkel diz que ce só funciona quando duas pessoas a resposta está nos motivos querem, aposte em um novo amor e e expectativas que levam as mantenha-se ocupado. pessoas a se casarem e como isso tem mudado com o tem- po. Em outras palavras, te- Amor Romântico acaba mos menos casamentos por No início de um relacionamento ro- necessidade: estamos mais mântico os casais ficam diferentes focados em construir um re- depois de um ano. O amor romântico lacionamento que nos satis- – relacionado com a euforia, depen- faça emocionalmente e nos dência, as palmas das mãos suadas e permita a autodescoberta e as borboletas no estômago só duram o crescimento pessoal. um ano. Depois desse tempo, come- ça a “fase do amor comprometido”. A transição é relacionada com elevados Quando o amor domina a música níveis de proteína, a neutrofina. Um estudo organizado pelos psicólogos americanos Andrew P. Smi- ler e Jennifer W. Shewmaker (autores de livros sobre sexo e cultura) analisou 1250 músicas que atingiram o topo do ranking de populari- Abrigo para cães: gesto de amor dade da revista norte-americana Billboard, entre 1960 e 2008. O abrigo Piccolina, em Avaré-SP, é 71% dos singles analisados falam de amor romântico, enquanto 57% referência em cuidados e amor com - em pelo menos alguma parte da letra - usam a palavra “amor”. Os animais abandonados. Hoje, o local anos 2000 foram a década menos “amorosa”, em que 49% das can- atende cerca de 300 cães. Possui cen- ções tinham a palavra “love”. No estudo, 827 canções foram grava- tro cirúrgico, sala de internação, de das por homens; 328 por mulheres e 95 por grupos com membros fotos e até galpões com aquecedores. dos dois gêneros. Os animais são vacinados, castrados e vermifugados. Contam, inclusive, com um centro de beleza onde cada Como terminar um relacionamento bicho possui a própria casinha, e pas- A melhor estratégia é se ter uma conversa franca e direta. Prolongar sam o dia todo escutando músicas a conversa não é a maneira mais adequada para desatar os nós. De desenvolvidas para eles. Todos a es- acordo com uma pesquisa da Universidade Brigham Young, nos EUA, pera da adoção. a melhor forma de se terminar o relacionamento é de forma franca e direta. O ideal é preparar o terreno com um “precisamos conversar”, para suavizar a situação e não provocar desentendimentos.

A história de São Valentim A lenda de São Valentim começa com o imperador romano Clau- dio II, que proibiu os soldados de seu exército de se casarem, com o argumento de que rapazes solteiros e sem laços familiares eram melhores na batalha. Valentim, que era um sacerdote cristão, teria ignorado as ordens do imperador e continuado a fazer casamen- tos em segredo. Por desobediência, foi preso e executado em 14 de fevereiro do ano 270 d.C. 4 Entrelinhas NOTAS...

Viagem a dois Amor que se põe na mesa O caderno Ela, do jornal O Globo, divulgou Uma sobremesa simples de sabor explosivo, em uma com- uma lista com as 10 cidades mais românticas binação estranhamente perfeita: queijo com goiaba, goia- para visitar com o seu amor. Sem surpresa, bada com queijo ou a capital francesa Paris encabeça a lista, que simplesmente Romeu conta ainda com locais menos convencionais, e Julieta. Não há regis- como Sidney, na Austrália, Kioto no Japão, e tros precisos de quando outras como Veneza e Florença, ambas na o consumo do doce co- Itália, além de Budapeste na Hungria, apeli- meçou, mas é uma das dada de a Paris do leste europeu, já conhe- sobremesas mais conhecidas e retratam a história de um cidas como destino dos casais apaixonados. grande amor Shakespeariano.

Simulador de namoro entre pais solteiros Princesa Mako do Japão renuncia ao trono por amor faz sucesso na internet A princesa Maku De Akishino, 25, filha mais velha do Impera- O jogo Dream Daddy (papai dos sonhos - dor Akihito, do Japão, anunciou que vai deixar a família real tradução literal) tem o objetivo de engajar para se casar com o namorado da universidade, Kei Komuro. o jogador em histórias de amor com os per- Existe uma lei no país que não permite que uma mulher se sonagens principais, todos pais solteiros. De case com um plebeu e continue sendo da realeza. O pedido acordo com os dados da Steam, software de casamento foi feito em 2013, e tem data marcada para o de gestão de direitos digitais, mais de 150 verão do próximo ano. mil pessoas adquiriram o game no primeiro mês de lançamento, o colocando na lista de mais vendidos. Lançado em julho de 2017, Americano dá ilha de presente à esposa pode ser baixado pelo link: O nova-iorquino George Boldt comprou uma ilha em home- http://store.steampowered.com/ nagem à sua esposa em 1904. A ilha Hart é hoje considerada app/654880/Dream_Daddy_A_Dad_ um dos marcos mais românticos de Nova York! O presente ce- Dating_Simulator/ lebrou o aniversário de Louise Mas, que faleceu aos 41 anos.

Amor próprio: mulher se casa consigo mesma na Itália A italiana Laura Mesi casou-se consigo mesma, em uma cerimônia sem valor le- gal. A professora de educação física, 40, fez a cerimônia com direito a vestido de noiva, bolo, convidados e tudo o que tem em um casamento tradicional. Afir- mou que a decisão foi uma “conquista” de sua maturidade. Laura não foi a pri- meira pessoa com tal atitude na Itália. Em 2016 um napolitano, Nello Ruggiero, também casou consigo mesmo.

Morrer de amor: Verdade ou mito? Steven Spielberg produzirá filme de ficção científica romântica E para quem achava que era lenda, dá O longa Intelligent Life conta a história de amor entre uma alieníge- mesmo para morrer de amor! Quem na e um representante da ONU e já estava com o roteiro finalizado afirma é o cardiologista Alexander desde 2013. Desde então, pouco se soube da produção do filme. En- Lyon, do Imperial College, em Lon- tretanto, nomes já começam a ser atrelados. Ele será estrelado por dres. A Cardiomiopatia de Takotsubo Lupita Nyong’o (12 Anos de Escravidão) e a direção ficará por conta é um tipo de infarto, porém, sem ne- de Rebecca Thomas (Stranger Things). nhuma artéria bloqueada. Pacientes com sinais de cardiomiopatia sentem A ligação entre o amor e a cocaína dores no peito e os exames de eletro- Quando nos apaixonamos, o cérebro leva um quinto de segundo cardiograma identificam mudanças, para ativar 12 áreas diferentes e liberar substâncias químicas: dopa- como falha em contrair no bombea- mina, ocitocina, adrenalina e vasoprossina. Essa foi a descoberta de mento do coração. Há uma suspeita cientistas americanos da Universidade de Syracuse. De acordo com de que o problema seja causado pelo a pesquisa, foi comprovado que o amor pode viciar tanto quanto hormônio de resposta ao estresse: a a cocaína. Isso acontece porque a dopamina ativa o sistema de re- adrenalina. compensa, que libera a sensação de prazer e vicia. Entrelinhas 5 O amor supera qualquer

DiferençaA história de casais que venceram as dificuldades e os preconceitos

Por: Leonardo Felipe | Giovanna Malheiros e-mails: [email protected] | [email protected] Fotos: Estudio K Photografia

Casal Dudu e Vitória posam para ensaio fotográfico

Em 2011 o assistente tributário ca conversaram. Na clínica ficaram Roselaine disse que sofreu muito pre- Wilson Alves Ramos, 25, sofreu um amigos e não demorou muito até conceito. Algumas pessoas olhavam acidente motociclístico. Estava a que saíssem. Começaram a namorar torto e ficavam fazendo perguntas caminho de Poços quando, em uma e se casaram três anos depois. Lilian sobre sua capacidade. “Uma vez uma curva, o pedal de descanso da moto afirma que nunca sofreram nenhum mulher me perguntou se eu era rica. encostou no chão, fazendo com que tipo de preconceito. “Às vezes per- Respondi que era pobre e lutadora fosse arremessado contra um guard cebemos olhares e comentários sem igual a qualquer um. Então, insinuou rail. Teve lesão vertebral e medular, maldade”. que eu sustentava meu marido, que causando paraplegia. Após oito me- casou com uma cadeirante somente ses começou a reabilitação em um Preconceito por ser rica”. hospital especializado. Reabilitado A artesã Roselaine Teófilo Mendes, começou a entregar currículos. “Fui 45, ficou paraplégica devido a uma Instituto Mano Down chamado para fazer entrevista em queda de dois metros, há 25 anos. Eduardo Gontijo, o Dudu do Cavaco, uma empresa de minério. Em janeiro Conta que estava na laje de casa, e Vitória Rosa se conheceram nas au- de 2013 fui contratado. Com o traba- quando aconteceu. Foi levada às las de arte do Instituto Mano Down, lho, comecei a tirar a habilitação. E foi pressas para o hospital, onde ficou que trabalha com pessoas que tem a lá, na autoescola, que conheci a mu- cinco dias desacordada. Foram ne- síndrome. “Ao vê-la seus olhos brilha- lher da minha vida”, conta. Por causa cessárias 42 cirurgias. Passou por ram”, conta o irmão de Dudu, Leo- do emprego, iniciou a fisioterapia. Lá hospitais de SP, RJ e Brasília durante nardo Gontijo, fundador do Instituto. se aproximou de Liliane, 35, a fisiote- os quatro anos em que ficou sob su- Segundo Leonardo, o relacionamen- rapeuta que seria sua esposa. Já se pervisão medica. “As pessoas acham to é como o de qualquer outro casal, conheciam da autoescola, mas nun- que, por ser cadeirante, minha vida mas, em alguns casos, as famílias de- acabou. Tento mostrar o contrário, moram um pouco para aceitar. “Infe- pois dirijo, lavo, passo, cuido das mi- lizmente, muitas vezes, eles têm que nhas crianças”, diz. pedir autorização para as famílias. É O mecânico Amauri Mendes, 49, fi- um tema que precisa ser debatido. cou sabendo do acidente de Roselaine Não existe inclusão sem sexualidade anos depois. “Ja gostava dela, mas ela e esse é um dos assuntos que tra- nunca demonstrou sentir o mesmo. tamos no Instituto. Os casais com Me aproximei e me declarei. A pedi Down não têm nenhuma limitação. em casamento. Ela não respondeu de A única coisa que os diferencia é a Casal Wilson e Liliane imediato, mas eu já havia marcado a chance (acima de 70%) de também curtindo a noite data para dali 15 dias. Então, aceitou”. terem filhos assim”, complementa. Entrelinhas 7 Amor Quando o amor é capaz de suportar à qualquer desafio, distância inclusive a distância

Por: Beatriz Reis e-mail: [email protected] Foto: Arquivo pessoal de ano com a família da namorada. os planos para o futuro. Nossa cum- Apesar de estarem a 10 mil km de plicidade passa por cima de todas as distância, o contato é diário. A sau- dificuldades”, finaliza. dade é driblada com as redes sociais. “A gente sabe tudo um do outro; No amor e nos estudos conversa o dia inteiro por vídeo, áu- Já a estudante de fisioterapia, Ca- dio, telefone... sempre dá um jeito”. milla Carvalho, 21, e o Cientista da Computação, Bruno Morgan, 23, Entre Andradas e Natal se conheceram nas redes sociais, Outra história é da professora de quando moravam e estudavam em educação física Thatiane Teixeira, Alfenas. Bruno se formou e mudou- 23, e do engenheiro eletricista, Gui- -se para São Carlos-SP, onde cursa O casal já está junto há lherme Souza, 25. Ela mora em An- o Mestrado. Camilla vai terminar a mais de um ano dradas, MG, e ele em Natal, no RN. graduação em 2018. Ele é natural “Não há distância no mundo capaz de diminuir um amor onde todo Ao contrário de Fernanda e Bretas Guilherme João Foto: sentimento é recíproco”. Essa fra- Daniel, os dois moravam na se resume a história de três jovens mesma cidade e se conhe- casais, que moram em locais di- ciam desde pequenos. O ferentes e, ainda sim, lutam pelo primeiro beijo foi em 2011 e mesmo sentimento: o amor! o namoro quase um ano de- pois. “Mas, ele foi chamado Do Brasil a Alemanha para trabalhar em Natal e Fernanda Rodrigues, mineira, jor- mudou-se para lá. Já está- vamos juntos há três anos. Por meio das redes sociais, thatiane e nalista, 25. Daniel Schmitt, alemão, guilherme matam a saudade consultor de negócios, 36. Se conhe- Foi muito difícil. Afinal, são ceram no RJ, durante os Jogos Olím- três mil km de distância”, conta de São José do Rio Pardo, interior picos, em 2016. O que não sabiam é Thatiane. Chegaram a ficar separa- de SP. Ela, de Poços de Caldas. As- que viveriam um grande amor. “Ele dos por nove meses, mas o amor fa- sim, tem que arrumar tempo para o começou a dar sinais de que queria lou mais alto e, hoje, celebram qua- namoro e para as famílias, além de uma coisa mais séria. Eu também se seis anos juntos. Encontram-se conciliar os estudos. Encontram-se sentia isso”, conta Fernanda. Ela es- a cada três meses, em um final de a cada 15 dias. “No tempo em que tava na cidade a trabalho. Ele, como semana. A saudade também é dri- não nos vemos usamos a internet voluntário. Daniel foi a Minas após blada pelas redes sociais. “Nos fala- como aliada para matar a sauda- o término dos jogos. O terceiro en- mos pelo whatsapp e telefone. Faz de. Sempre tentamos assistir séries contro foi no intercâmbio da jovem, quase dois anos e meio que foi em- juntos. Fazemos ligação de vídeo e em Budapeste. Depois, ele voltaria bora. O que move o relacionamento damos o play ao mesmo tempo no ao Brasil para passar as festas de fim é o amor e a parceria, a confiança e Netflix”, conta Camilla. Foto: Beatriz Reis Um dos locais que o casal mais frequenta, é a praça de poços de caldas Amor para a vida Inteira

Por: Marcela Garcia | Taina Nery e-mails: [email protected] | [email protected] Fotos: Arquivo pessoal pediu: “Quero encontrar Ana Paula”. A resposta veio dois dias depois, quando um amigo em comum o encontrou e passou o telefone dela. “No começo não acreditei; pensei que fosse brincadeira, porque Marcelo sempre foi gozador. Mas, depois de escutar tudo o que passou para me achar, percebi que era verdade”, conta Ana. Em setembro de 2016 se reencontraram e não des- grudaram mais. Nos dedos, uma aliança inusitada: a tatuagem do infinito.

Em setembro de 2016, Marcelo e Sempre foi você Ana Paula se reencontraram A história de Cintia e Jacson começou há 26 anos, no Moravam no mesmo prédio, estudavam juntos e ensino fundamental. Ele foi me pedir em namoro. compartilhavam um círculo de amigos na década Meu pai ficou muito bravo e com razão. Eu tinha 11 de mil novecentos e setenta. Ana Paula era Bran- anos. Achei que não ia deixar, mas também se apai- ca de Neve e Marcelo Otero, o Anão Dunga como xonou pelos encantos de Jacson”, diz Cintia. Porém, esse conto de fadas virou realidade? “Encenamos como a adolescência é tempo de descoberta, o na- quando pequenos a peça na escola. Na última cena moro não durou muito e logo se separaram. ela teria que dar um beijo em cada anãozinho. De- pois que ganhei o primeiro, voltei para a fila para re- ceber outro. Nesse dia me apaixonei, mas, nunca me declarei. Foram 40 anos de espera”, relembra Mar- celo. A partir daí o empresário começou a nutrir um sen- timento não correspondido. Certa vez, a viu em uma festa com outra pessoa e o ciúmes veio à tona. O mal-estar durou até 1980, quando se mudou do pré- dio em que morava e não a via mais com frequência. Dez anos depois, Marcelo conheceu outra pessoa e casou-se. Porém, o relacionamento não durou e vol- tou a pensar em Ana. “Nessa busca sempre a projetei em outras pessoas e acabei tendo duas esposas. Ela se casou também. O reencontro ocorreu exatamen- te no ano que ambos se separaram, como se tivesse sido escrito”, destaca. Hoje Cintia e Jacson refletem o Em uma viagem, em 1998, percorreu o caminho de quanto amadureceram Santiago de Compostela, na Espanha. Fez questão de chegar à catedral no dia 23. O número era o do aniversário de Ana, que se tornou uma espécie de Durante seis anos separados, tiveram outros relacio- amuleto. “Uso 23 para tudo, inclusive para senhas”. namentos, mas nada que fizesse esquecer a paixão. Desiludido, se ajoelhou na catedral de Santiago e Por compartilharem o mesmo círculo de amigos, se encontravam frequentemente. Foi num desses en- contros que as lembranças vieram à tona e o amor falou mais alto. “Naquele dia nos olhamos diferente. Conversamos por horas e vimos que muita coisa ti- nha acontecido. Percebemos que nossa história não tinha terminado. Desde então não nos separamos”, relembra Cintia. No aniversário de 17 anos dela, ficaram noivos. Hoje, aos 35 anos, reflete o quanto amadureceram, se des- cobriram e perceberam o que cada um tinha de me- lhor. “Temos duas filhas: uma com 15 anos e a outra com 3. Nossa história teve um começo, está no meio Ana Paula e Marcelo ainda na infância e espero que nunca tenha fim”, finaliza. Entrelinhas 11 Como a ciência explica o amor

“Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que doi, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer (...)”

Por: Luana Guislotti da Silva | Júlia Sartori Cruz e-mails: [email protected] | [email protected] Fotos: Divulgação os envolvidos que não é raro ouvir- mos os apaixonados se referirem ao outro como “minha cara meta- de”.

O beijo e as reações do organismo Beijar na boca ativa todos os senti- dos do corpo humano e movimen- ta 29 músculos, sendo 17 da língua e 12 dos lábios. O ato também acelera os batimentos cardíacos, favorece o aparelho circulatório e ajuda na oxigenação do sangue. Segundo a revista norte-ameri- cana Hype Science, 2008, beijar ajuda a relaxar e a reduzir os efei- Você certamente já deve ter lido pessoa apaixonada foca, única e tos do estresse. Um beijo pode e se emocionado com o poema exclusivamente, em seu par, tor- queimar entre uma e três calorias. de Camões, mas o que realmen- nando-o o centro do mundo, com Além disso, a troca de saliva possui te é este sentimento? A verda- a esperança de também ser cor- diversas substâncias que incenti- de é que a ciência tem maneiras respondida”, explica. vam a produção de anticorpos as- menos poéticas de explicá-lo. sociados a diferentes doenças. Trata-se de um fenômeno neuro- O amor como reflexo da infância biológico, baseado em atividades Segundo Freud, aprendemos a Ciência e sentimento cerebrais que desencadeiam sen- amar com nossos primeiros cuida- Durante toda a história, o amor sações como desejo, confiança, dores. A maneira com que somos sempre foi objeto de estudo de prazer e felicidade. tratados em nossas relações na diversas áreas, como: a ciência, a Segundo pesquisa realizada pela infância, nos moldará para futuros filosofia, história e até a religião. A Universidade de Siracusa, EUA, relacionamentos na vida adulta. O percepção de seu significado pode em 2010, ao neurotransmissores. psicanalista também observou que ser diferente para cada pessoa, se apaixonar, 12 partes do cérebro após algum tempo de convivência, porém, todos o sentem. Como dis- liberam substâncias químicas que inconscientemente “imitamos” as se Machado de Assis: “Cada qual levam às mesmas sensações eufó- atitudes do outro. Este processo sabe amar a seu modo; o modo, ricas provocadas pelo consumo de chama-se “interiorização”. A co- pouco importa, o essencial é que cocaína. Ele começa a transmitir nexão torna-se tão profunda entre saiba amar”. elementos indutores de excitação, como a dopamina, a oxitocina, adrenalina, noradrenalina e vaso- pressina. Segundo o psicólogo Luiz Henri- que de Souza,43, de Mogi Guaçu, a Dopamina e a Noradrenalina in- fluenciam diretamente nos com- portamentos, pois são liberadas em uma área cerebral ligada ao mecanismo de recompensa. A di- minuição da serotonina explica o motivo de não conseguir tirar a pessoa da mente. Com a queda do hormônio, as atitudes passam a ser semelhantes a quem tem Transtorno Obsessivo Compulsivo. “Em suma, explica o fato de que a

Entrelinhas 13 Simpatias

As histórias e curiosidades de quem procura o amor nas crenças populares

Por: Leonardo Felipe | Giovanna Malheiros e-mails: [email protected] | [email protected] volvem santos da Igreja Católica. O mais popular deles é Santo Antô- nio de Pádua, conhecido como ca- samenteiro. De acordo com o Pa- dre Adilson da Silva, o presbítero Fotos: Arquivo pessoal nasceu em Lisboa, no século XII. É considerado o padroeiro dos casa- mentos, por ter realizado a união de um homem rico e uma mulher pobre. “Ele é conhecido como o santo da humildade e da pobreza, pois dedicou a vida a cuidar dos mais carentes. Foi um dos maio- res pregadores da Itália. Conheceu Marcia Silva revê o livro de simpatias que usava São Francisco de Assis e morreu Simpatia com Santo Antônio em 1281”, diz. jugal. “Não queria terminar meu usada para casar No período de festa de junina, casamento, pois ainda o amava. “Escreva o nome da pessoa ama- Santo Antônio é um dos padro- Estava desesperada. Então, optei da em uma folha e coloque na eiros homenageados, ao lado de pela simpatia. Escrevi o nome dos água fervendo com açúcar. De- São João e São Pedro. Tradicional- amantes em um papel e coloquei pois, enterre o papel enquanto mente, os católicos preparam um no congelador. Deu certo e até pensa no quanto você o (a) ama”. mastro com a imagem dos três. hoje não descobri mais nenhuma Foi assim que a auxiliar de labora- Segundo a superstição, a pessoa traição”, explica. tório Márcia Silva, 63, conseguiu que passar por baixo da bandeira reconquistar o amor. Durante a se casará. A faxineira Regina Apa- adolescência, usava um livro de recida, 53, sempre ouviu do pai his- simpatias. Jura que teve um bom tórias sobre o costume, mas disse resultado nas vezes em que ten- que nunca funcionou. “Quando so- tou, mas, com o tempo deixou de mos jovens, acreditamos em tudo acreditar e, consequentemente, as que o povo fala. Meu pai também simpatias pararam de funcionar. dizia para pegar a criança do colo “Aos 15 anos, estava apaixonada do Santo Antônio e esconder até e decidi tentar outra vez. Pouco casar”. tempo depois, descobri que ele es- tava com outra”, conta. Congelando a paixão A atendente GM, 33, conta que em Santo Antônio uma determinada época foi traída. O costume já passou por várias Para fazer com que o marido pa- gerações e, hoje em dia, é encon- rasse com os encontros, comprou trado até em blogs, que ensinam um livro que ensinava como ‘con- como deve ser feito. Algumas en- gelar’ o relacionamento extracon-

Está precisando ganhar dinheiro e ter prosperidade financeira? Acre- dite! Existem simpatias para isso sim! Veja como fazer: Pegue o chaveiro que contenha to- das as chaves da casa e friccione-o durante 10 minutos. Em seguida, coloque as chaves uma a uma sobre a mesa de refeições, em forma de cruz e reze um Pai-Nosso. A simpa- tia funcionará em até 12 horas. Simpatia para congelar a traição

Entrelinhas 15 Quandoo amor transforma Vidas entregues ao amor por Deus

Por: Letícia Fonseca dos Santos Salvador e-mail: [email protected] Fotos: Letícia Fonseca “Ainda se eu falasse a língua dos Tamires Flavia de Oliveira Fernan- homens e falasse a língua dos an- des. Após os votos oficiais, esco- jos, sem o amor eu nada seria”. O lheu ser chamada de Irmã Maria sentimento é tão complexo que Isabel. Nascida em Mococa, teve mexe na vida das pessoas, pro- a infância e adolescência igual a movendo transformações. Assim, da maioria das adolescentes. Isso, vimos em Romeu e Julieta e em até os 15 anos, quando começou a tantos filmes, mas falaremos de sentir uma vontade imensa de re- mudança de vida pelo amor. Todo zar o terço diariamente pela tevê. mundo tem uma história, um co- Até que a mãe, que tanto a apoia- meço. A de Ademir Gonçalves co- va, disse que uma vizinha iria ser meça aos 19, quando descobriu a religiosa. “Foi como se o vazio que vocação religiosa. Participava de sentia tivesse sido preenchido por um grupo de oração para jovens uma palavra. Eu conseguia me ima- e, após algum tempo de vivência ginar uma religiosa; me via vestida na Igreja Católica, sentiu algo dife- de hábito”. Fez uma visita ao Car- rente. Percebeu o desejo de servir melo da Imaculada Esperança, em a Deus. “Ele me chamou para ser São João. A partir daí, decidiu que sacerdote e, desde que aceitei o era ali que deveria passar sua vida. chamado, abdiquei de tudo por Foram cinco anos de preparação e amor”. O Padre passou por oito estudo dentro do convento até o anos de preparação. “O processo sim definitivo. “O amor... eu nun- Pastora Kátia ora por usuário de drogas foi lento, mas o meu desejo era ca havia sentido tanto o amor de tão grande que nunca pensei em Deus em minha vida até o momen- muito cedo aprendeu com a avó desistir. Tinha certeza da minha to do primeiro sim. Agora entendo a servir na igreja que frequentava. vocação”. Hoje é pároco do San- o verdadeiro sentido de amar, que Participava de missões de evange- tuário de Nossa Senhora do Per- passa longe de ser apenas a união lização e grupos de oração. Kátia, pétuo Socorro, em São João da de duas pessoas”. como é chamada pelos amigos, Boa Vista. “Abdicar de sua vida casou aos 18. Com o nascimento para servir é o ato mais puro que Amor evangélico da primeira filha, o marido come- o ser humano pode cometer, diz o Amar também faz parte da rotina çou a proibi-la de participar da Papa Francisco”. de Mônica Kátia Rabelo, nasci- igreja. Pouco tempo depois vem Prova disso é a jovem de 26 anos da em família evangélica. Desde o segundo filho, com uma grave doença. “Sentia duas dores: a pri- meira, pelo sofrimento do bebê. A segunda, pelo afastamento da minha missão”. Então, foi em bus- ca de apoio. Voltou para a igreja e, com o passar do tempo, Tiago, seu filho, melhorou. Como agradeci- mento, dedicou a vida à missão de ajudar ao próximo. Pastora Kátia desenvolve trabalhos que retiram as pessoas das drogas e da prostituição. “É como se mi- nha vida agora estivesse comple- ta. Minha família não são mais só Irmã Maria faz a oração das horas no eu, meu esposo e filhos. São to- convento das Carmelitas dos a quem ajudo”.

Entrelinhas 17 O amor de Julieta e Romeu

Uma visão atemporal da tragédia Shakesperiana

Por: Guilherme Coelho e Renan Bezan e-mails: [email protected] | [email protected] Escrita por William Shakespeare, Maurício de Sousa transformou a Julieta interpretada por Cena IV a história de Romeu e Julieta se tragédia em quadrinhos: Mônica e passa em Verona, Itália, duran- Cebolinha no Mundo de Romeu e te o século XVI. Retrata a luta de Julieta. um jovem casal que se amava, mas que pertencia a famílias inimigas. Amores impossíveis nas telas de Apesar de trágico, narrativa e au- cinema tor tornaram-se referência quando O filme musical West Side Story se fala de amor. Até hoje inspiram adaptou a peça e levou os apai- artistas de diversas gerações entre xonados para a periferia de Nova escritores, diretores, dramaturgos York durante os anos 1950. Tony e compositores que se dedicam a era líder dos Jets, gang de rapa- adaptar e recontar o romance. zes brancos. Maria, uma imigrante porto-riquenha, irmã do líder da Dos palcos para a literatura gang rival: os Sharks, formada por O autor português Camilo Castelo latinos. Em Maré, Nossa História Branco, referência da literatura do de Amor, filme brasileiro de 2008, século XIX, trouxe uma nova rou- são moradores da favela da Maré. pagem, levando a história original O amor entre os dois enfrentava a para a cidade lusitana de Visceu. disputa entre o pai de Analídia com Assim, surgiu o romance Amor o irmão de Jonatha pelo controle de Perdição, com Simão e Teresa do tráfico. A saga Crepúsculo trou- Fotos: Arquivo pessoal como protagonistas. xe a história para o mundo vampi- no Pinto, narra o drama de um grão No Brasil, Iracema e O Guarani, de resco. Edward e Bella se tornaram de areia que se apaixona por uma José de Alencar, narra a história um referencial de amor puro e im- estrela. A sambista carioca Teresa de amor entre indígenas e coloni- possível. Mais que famílias rivais, Cristina contou, em forma de fá- zadores. Na literatura moderna, o pertencem a raças diferentes. bula, a versão de O Passarinho e a italiano Paolo Giordano criou, em Borboleta, onde o amor impossível 2008, um casal um pouco diferen- Melodias do amor vem da própria diferença entre as te. No livro A Solidão dos Núme- A MPB também serviu de palco espécies. Em 2012, Chico Buarque ros Primos, há um embate em que para o casal. Dalva de Oliveira, em narrou as aventuras proibidas de Alice sofre distúrbios alimentares 1950, deu voz a uma história de um Romeu escravo e uma Julieta e Mattia se envergonha da doen- amor impossível: Estrela Do Mar. Branca, em Sinhá. Nela, o rapaz é ça mental da irmã. Já o cartunista Escrita por Paulo Soledade e Mari- torturado pela ousadia de apenas olhar para a moça.

43 anos de Shakespeare Formado em 1975 em São João da Boa Vista, o grupo Cena IV – Shakes- peare Cia é reconhecido pela fideli- dade ao reproduzir as obras do au- tor, dos cenários aos figurinos. Ator e produtor da companhia, Gabriel Marin afirma que entender a obra de Shakespeare é fundamental para a formação: “Nenhum outro autor é tão exigente nos aspectos físicos, emocionais e intelectuais de seus personagens”. Romeu e Julieta é interpretada des- de 2004 pelo Cena IV, com variadas abordagens, das mais clássicas até as contemporâneas, incorporando manifestações artísticas como o Encenação Romeu e Julieta Cena IV Hip Hop, Rap e Street Dance. Entrelinhas 19 Adoção Uma nova chance, um novo lar

Por: Júlia Sartori Cruz | Luana Guislotti Da Silva e-mails: [email protected] | [email protected] Fotos: Arquivo pessoal era uma criança traumatizada”. Hoje, David e Bruno afirmam que são muito felizes e agradecem o amor incondicional que recebem.

Processo de adoção O processo no Brasil envolve re- gras básicas. Um dos pré-requi- sitos ao interessado, que deve ter idade igual ou superior a 18 anos, é encaminhar-se a uma vara da Infância e Juventude e preencher um cadastro com in- David e sua família adotiva formações e documentos pes- soais, antecedentes criminais e Segundo a Corregedoria do era pra me deixar lá ou me dar. judiciais. Depois de colhidas as Conselho Nacional de Justiça Foi assim que a médica ligou para informações e os dados do pre- (CNJ), 19,7% dos pretendentes minha tia e ela me acolheu”. tendente, o juiz analisa o pedido a adoção só aceitam crianças Apesar da complexidade da situ- e verifica se foram atendidas as brancas. 67% não admitem ir- ação de abandono, David conta condições legais. mãos e 91% procuram por crian- que não sente rancor. “O pior mo- Após o cadastro, a escolha é fei- ças até os seis anos de idade. De mento foi quando a vi dentro de ta em forma de entrevista psi- acordo com dados do Cadastro um caixão. A morte dela foi mui- cológica, em que o profissional Nacional de Adoção, para cada to repentina. criança na fila há cinco famílias Fui visitá-la na querendo adotar. UTI; segurei David Monteiro, 24, de Mogi sua mão como Guaçu, foi adotado pela tia ma- nunca tinha terna ainda recém-nascido. “Mi- feito. Senti nha mãe não tinha muito juízo. uma conexão Primeiro, porque fui fruto de uma forte, como traição e meus avós não aceita- se estivesse vam. Tentou me abortar várias me pedindo vezes tomando remédios. Nos desculpas. Por meus primeiros meses tive vários mais que ela problemas respiratórios, além de tenha errado, Bruno (camisa listrada) com oito pneumonias. Neste momen- eu ainda tinha a família no Canadá to em que mais precisei de minha muitas coisas para falar”. saberá o número necessário de mãe biológica, ela não estava lá. entrevistas, que varia entre uma Me abandonou no hospital. Saiu Infância conturbada ou duas. Nelas são verificadas a dizendo para a médica que não Bruno José Malaguti de Mello, estrutura familiar dos candida- queria mais saber de mim. Que 20, natural de Assis, teve uma in- tos, suas inseguranças, precon- fância conturbada. Nasceu e pas- ceitos e se as expectativas con- sou os primeiros anos em uma fa- dizem com o perfil da criança vela. “Vi minha mãe morrer. Ela desejada. “Nem todas as crian- e outras pessoas foram baleadas ças passam por uma adaptação em casa quando tinha três anos”. difícil. Tudo vai depender do his- O jovem aprendiz de uma multi- tórico e da preparação que tive- nacional guarda a lembrança do ram os pais adotivos, pois pre- crime até hoje. Passou por três cisam passar plena segurança famílias diferentes até ser ado- à criança. Ela precisa ser aceita tado definitivamente. “Não sei em todas as suas particularida- o motivo de não ter dado certo des”, afirma a psicóloga Cintia David acompanhado de com as outras. Talvez porque eu Liana Reis da Silva. sua mãe biológica Entrelinhas 21 Quando o amor acaba

Por: Marcela Garcia | Taina Nery e-mails: [email protected] | [email protected] O fim nem sempre significa algo pessoal Arquivo Fotos: ruim. Às vezes, pode ser apenas um sinal de renovação. Ou me- lhor, há males que vem para o bem. Foi isso que aconteceu com a estudante Josiane Carvalho, de 21 anos. Há seis, teve um relacio- namento com o vizinho que durou um ano e meio, porém, nem tudo saiu como o planejado. “Ele foi o meu primeiro namorado e, na épo- ca, eu era muita nova. Ele era 10 anos mais velho”, comenta. Durante o tempo em que ficaram juntos mantiveram uma relação estável. O plano era casar, ter fi- lhos e construir uma vida. Pelo menos para ela. Mas a diferença de idade sempre foi desculpa para que o namoro não durasse. “Teve um dia que ele chegou e falou que a gente não poderia namorar mais. Josiane acredita que o término Que eu era muito nova e que por pode ser um sinal de renovação isso não ia dar certo. Entrei em de- sespero”. trar a mulher que tinha perdido. planos e chegaram a comprar um Por ser o primeiro homem da vida “Em função disso, fui me tornando terreno. Planejavam o noivado. O dela, a estudante sofreu muito, independente. Comecei a estudar, maior sonho era casar e ter filhos. mas decidiu colocar um fim na dor trabalhar e conquistar minhas coi- Durante os seis anos de namoro, após vê-lo com outra, uma sema- sas, sempre mostrando que era A.R. passou por episódios de Sín- na depois de terminarem. A partir melhor do que aquela menina de- drome do Pânico e Natalia enfren- daí, tudo que fazia era para mos- pendente que ele deixou”. tava tudo ao lado dele. Chegou a Todo o esforço de Josiane para se pagar promessa atravessando a tornar melhor surtiu efeito. Um ponte da cidade Aparecida de joe- ano depois o ex a procurou arre- lhos. Foram meses até se recupe- pendido. Porém, ela deixou bem rar e, nesse período, não saiam de claro que seriam apenas amigos. casa. “Ele só queria dormir”. “Fiquei revoltada e fui criando in- Após a recuperação, A.R., come- dependência. Então, se ele não çou a sair sozinho e as brigas fi- tivesse feito o que fez, hoje não se- caram cada vez mais constantes, ria quem sou. Me considero forte até que ele colocou um fim no re- diante disso”, finaliza. lacionamento. “Tudo era desculpa para ele sair e me trair. Entendo Marcas do fim que não é obrigado a ficar comi- O fim do namoro pode deixar go, só que não tinha o direito de traumas. É o caso da estudante me fazer sofrer desse jeito”, desa- Natalia Alice de Souza, 21. Des- bafa. de o início o relacionamento com Ainda hoje a estudante sofre. En- A.R., 29, foi conturbado. Os pais trou em depressão e conta com a não aceitavam, as brigas eram ajuda de um psicólogo. Nesse pe- constantes e durante quatro anos ríodo, tentou tirar a própria vida. o namoro foi escondido. “Minha “Vejo que tudo que me falava era mãe chegou a me levar no Conse- mentira, pois não me deu um pin- lho Tutelar, pois era menor e ficá- go de valor. Me fez sonhar tanto e Apesar de tudo, Natalia vamos meses sem nos ver”. depois destruiu tudo”. Apesar de quer dar a volta por cima Apesar das dificuldades, tinham tudo, quer dar a volta por cima. Entrelinhas 23 Poliamor A liberdade de propagar o amor

Por: Mayara Porfírio e-mail: [email protected]

“Somos cúmplices. Então, quando seis anos. Conheceram-se na aca- acontece de dois estarem brincan- demia. Após três anos, Amanda do, se divertindo, relacionando confessou a Daniel que sentia de- e , por algum motivo, não sejo por mulheres. Discutiram o está participando, todos ficamos assunto e Daniel apoiou a decisão. felizes, pois a felicidade de um é a Resolveram, então, incluir uma de todos”, explica Letícia Moreira, terceira pessoa no relacionamen- uma das integrantes de um trisal to: Letícia Moreira de Oliveira, es- que vive em Lorena, no interior de tudante de Educação Física e esta- SP. O trisal é uma forma de rela- giária na academia. cionamento diferente dos padrões “Assim como uma mãe e um pai usuais, na qual três pessoas se re- amam em igual intensidade seus lacionam ao mesmo tempo, de filhos, nós também amamos uns forma estável. aos outros. Não existe mais ou me- nos sentir e nem distinção senti- Respeito, transparência e mental”, disse Daniel. O trisal está segurança junto há dois anos. Segundo eles, Jorge Augusto Ribeiro Daniel, ta- o que sustenta a relação é a verda- tuador e dono de uma academia de, união e cumplicidade. em Lorena, e Amanda Rodrigues A rotina é normal. Com personali- Lopes estão juntos há mais de dades bem distintas, cada um faz a tarefa de casa no que sente mais afinidade. Tudo baseado no -equi líbrio. Todos contribuem para os afazeres domésticos e financeiros: “agimos portanto como formigas, cada um fazendo seu trabalho em prol do trisal. Então, todo dinheiro que adquirimos é de nós três, sem distinção”, explica Amanda.

Filhos Como são cúmplices e, acima de tudo, se respeitam, conversam sempre sobre vários assuntos. Um O trisal Letícia, deles: ter ou não ter filhos. Ne- Amanda e Daniel nhum têm o desejo de ser mamãe 24 Entrelinhas Poliamor A liberdade de propagar o amor

Por: Mayara Porfírio e-mail: [email protected] Fotos: Arquivo pessoal Foi quando há dois anos, encon- tram M.W, 35. Ela reside no Rio de Janeiro e achou o casal em uma rede social. Começaram a conver- sar, porém, o relacionamento a três só existe há seis meses. Eles se revezam entre RJ e SP e planejam ter filhos. Angélica ainda não quer, mas o primeiro do trisal será com M.W.

O relacionamento com M.W Questões Jurídicas começou há seis meses Segundo a advogada cível Karina Andrade Ramos, 27, só ocorrerá ou papai. “Falamos muito sobre crime no relacionamento de um isso. Eu particularmente não que- trisal caso, antes, já tenha sido ro e não terei filhos. Tenho um fora contraída uma união estável ou do relacionamento, mas não foi casamento entre o casal. Como a programado”, disse Daniel. bigamia não é aceita no Brasil, um relacionamento a três não garante Trisal a distância direitos ao terceiro membro que Os mato-grossenses Klinger Sou- vier depois. za, 33, coordenador de operações, e Angélica Tedesco, 26, vendedo- ra, se conhecem há mais de qua- tro anos por meio de amigos em comum, em uma rede social. Há quatro anos vivem em São Paulo. A decisão de incluírem uma ter- ceira pessoa no relacionamento partiu de ambos, conta Kingler: “Nunca pensamos em ser só nós dois. Ela é bissexual e sentiria mui- ta falta do toque, carinho e o amor feminino. Eu jamais pediria para sermos nós dois. Só queríamos A advogada karina fala sobre o esperar e conhecer alguém legal”. código civil e os relacionamentos Entrelinhas 25 Quando a arte retrata o amor

Filmes, livros e músicas que marcaram gerações

Por: Heloiza Magalhães | Iago Lima e-mails: [email protected] | [email protected] Amor e arte as vezes se encon- zes. “Em Titanic, o amor é coloca- pessoal Arquivo Fotos: tram nos clássicos da literatura, do como uma coisa que acontece filmes, séries... muitas histórias logo de cara. Já em Como se fosse de apaixonados ficam famosas e, a primeira vez, o Henry vai se apai- em alguns casos, quando a coisa xonando aos poucos. Mas, no caso dá muito certo, marcam uma ge- dela, tem muito a ver com amor à ração de fãs. O clássico filme nor- primeira vista, porque como tem te-americano Titanic, 1997, mostra uma doença, se apaixona todo o casal Jack e Rose (Leonardo Di- dia”. Caprio e Kate Winslet) pertencen- Muito antes das telas, as páginas Dom Casmurro foi tes a diferentes classes sociais que dos livros já estampavam histórias publicado em 1899 se apaixonam durante a fatídica de romance como Dom Casmur- quantos casais apaixonados já viagem de inauguração do navio. ro. Na obra de Machado de Assis, foram embalados pela bela com- No longa, Jack, um jogador aven- Bento Santiago narra a história de posição de Tom Jobim e Vinicius tureiro, conhece Rose que, até en- sua vida, cujo foco é o relaciona- de Moraes. “Quando eu conheci a tão, era noiva de um milionário. mento amoroso com Capitu. Os Rosana, já sabia que seria o gran- Além da forma dramática, o amor famosos “olhos de cigana oblíqua de amor da minha vida. Depois de pode ser retratado nos filmes com e dissimulada” renderam diver- um tempo, começamos a namorar bom humor. Um exemplo é Como sos acontecimentos para a trama e em todos os encontros escutáva- se fosse a primeira vez, do diretor escrita em 1899. A professora de mos essas músicas juntos. Foram Peter Segal. Na trama, o veteriná- português Ana Cristina Salviato momentos muito especiais e até rio Henry (Adam Sandler) se apai- comenta que “o amor em Dom hoje fazemos isso”, conta o autô- xona pela professora Lucy (Drew Casmurro é tratado de uma forma nomo Valdecir Biajoli. Berrymore). Mas, como na maioria realista, embora tenha uns resquí- E como não se emocionar com os das histórias de amor, o casal en- cios de romantismo. Não é ideali- clássicos Primavera, de Cassiano e frenta adversidades, já que Lucy zado, mas um amor que apesar de Silvio Rochael, sucesso na voz de sofre da Síndrome de Goldfinger. ter nascido puro, passa por todos Tim Maia. E claro, “Como é grande Durante 24h ela armazena as in- os sentimentos humanos: o ciúme, o meu amor por você”, do rei Ro- formações, porém, no sono, apaga a raiva, o desprezo. E o livro termi- berto Carlos. “Eu era bem tímida todas as novas memórias e retor- na sem que saibamos se ela real- quando começamos a namorar e o na ao dia em que sofreu o aciden- mente o traiu; essa foi a intenção fato de escutarmos essas músicas te que lhe ocasionou o problema. do autor”. ajudava a me sentir mais a vonta- Assim, Henry tem que provar o seu de. Sem contar que essas letras amor todos os dias. A estudante Tom e Vinicius maravilhosas serviam como inspi- de publicidade Marina Salomão já “Eu sei que vou te amar, por toda ração para o nosso relacionamen- assistiu os dois filmes diversas ve- minha vida eu vou te amar”... to”, lembra Rosana Biajoli. Valdecir e Rosana em evento particular Da quermesse ao celular: a evolução da paquera

Como os aplicativos e o correio elegante influenciaram diversos romances

Por: Gabriela Sodré | Luiz Gustavo Ribeiro e-mails: [email protected] | [email protected] Foto: Gabriela Sodré timento rentável. De acordo com a desenvolvedora de apps Ermi- nesoft, de 2009 a 2017 o lucro ge- rado por eles subiu de 43 milhões pare 415,3 milhões de dólares. Danielly Ribeiro Luengo con- ta que começou a usar o Tinder inspirada na experiência de um amigo. “Entrei porque um amigo super tímido baixou e começou a namorar. Achei que pudesse dar certo para mim também. Era bem seletiva; analisava os perfis, a foto, porque tem muita zoeira e queria procurar uma pessoa mais Leonilda e Paulo estão juntos séria”. desde a adolescência Ela conheceu o atual noivo, Fer- nando Feldberg, depois de um ano acessando o aplicativo. “Vi Brincadeira típica de quermes- para aplicativos de namoro. Um o perfil dele, que era de São João ses, o correio elegante uniu a exemplo de sucesso é o Tinder, e achei diferente. Conheço todo vida do casal Leonilda e Paulo há que possui mais de 100 milhões mundo aqui e nunca tinha o visto mais de 20 anos. A troca de de- de downloads e já realizou mais na vida. Achei muito esquisito”, clarações de amor pelos bilheti- de 20 bilhões de combinações en- conta. nhos partiu de Leonilda Stanguini. tre usuários. Segundo Danielly, o contato en- Segundo Paulo Sérgio, os dois não Sites de namoro tradicionais tre os dois foi sério e o namoro chegaram a conversar na quer- como o Plenty of Fish (PoF), fun- não precisou de um pedido for- messe. “A prima dela me entregou dado em 2003, também se adap- mal. “A gente começou a conver- o correio e mostrou quem tinha taram para plataformas móveis. A sar como amigo. Quanto ao rela- mandado. A gente trocou olhares, popularidade é tanta que o mer- cionamento, veio naturalmente. mas não sabia o que fazer. Então, cado produz aplicativos adap- Passamos a nos ver frequente- respondi com o meu número e fui tados para públicos específicos, mente e quando surgiu o roman- embora. Na hora do almoço, no como o Amor em Cristo, voltado ce, a gente já estava namorando. dia seguinte, minha mãe falou que para namoros entre cristãos, ou Foi tudo muito certo. Quando fo- uma moça tinha ligado”. o Cuddli, direcionado ao público mos morar juntos, foi muito tran- O romance que nasceu na quer- nerd. Eles se tornaram um inves- quilo.” O casal se casou em 2017. messe resultou em casamento. Depois de quatro anos, casaram-se e tiveram o primeiro filho, meses depois. “Estava ansiosa quando entrei na igreja. Nem olhei para os lados para não chorar. No final, vi a igreja lotada e meus olhos enche- ram de lágrimas”, conta Leonilda. Paulo Sérgio também sofreu com a ansiedade. “Estava tão nervoso que me fizeram até chá de erva ci- dreira para acalmar; mas deu tudo certo. Não me arrependo e não fa- ria nada diferente.”

Amor na palma da mão A troca de flertes por mensagens Segundo Danielly, o compromisso se modernizou e foi adaptada entre os dois surgiu rapidamente Fotos: Arquivo pessoal Entrelinhas 29 Almas Gêmeas

Mais de meio século de vida com muito amor respeito e carinho

Por: João Guilherme Bretas e-mail: [email protected] José Belizário de Oliveira e Denise panheira, amiga, esposa. Quatro pais aceitaram o relacionamento, Marcon de Oliveira completaram filhos, oito netos e três bisnetos, porém, colocaram regras. Só po- 64 anos de casados. Se conhece- esse é nosso maior presente”. Se- deriam se encontrar aos domingos, ram em um bar e, após um ano e gundo Maria Aparecida, 60, filha pegar nas mãos e na presença dos meio de relacionamento, se casa- do casal, os pais sempre viveram pais. E assim foram cinco anos até ram. No início não foi fácil, já que o de forma harmoniosa. “A vida de- se casarem. “No começo foi mui- dinheiro era pouco e a vida na zona les foi de muita luta e determina- to difícil, mas conseguimos supe- rural de Andradas era sofrida. José ção. Papai é um homem maravi- rar todas as barreiras e Deus nos comenta que, na primeira semana lhoso, exigente e correto. Mamãe presenteou com dois filhos. O que de casados, Denise já acordava às é participativa e temente a Deus. mantém o casamento até hoje é o quatro da manhã para fazer o al- O que eu assisti ao longo destes 60 amor verdadeiro”, conta Adélia. moço que levava para a lida. En- anos foi companheirismo e com- A filha Roseli Martinelli destaca a tre 1954 e 1958 nasceram os três preensão, além de muita fé. Hoje saúde e disposição do casal. “Ele primeiros filhos e foram para a ci- ele com 86 e ela com 85, são meus trabalha como mecânico até hoje dade. De agricultor, José tornou- ídolos, assim como para os netos”. e a minha mãe é costureira. Papai -se pedreiro. Em 1966, o quarto e tem 75 e anda de bicicleta todo último filho nasceu. Três anos de- As Bodas de Ouro domingo. Ela tem 72 e é mais dis- pois foi ser motorista em Poços de Wilson Daniel Sasseron e Adélia posta que eu. Cuida de minha filha Caldas. “Denise cuidava dos filhos, Rosa Martinelli estão juntos há 53 para que eu possa trabalhar”. da casa e concordava com minha anos. Conheceu a esposa em uma vida”, explica. Após oito anos em festa de Santa Luzia, em Andradas. A psicologia e o relacionamento Poços, retorna. Apesar das dificul- Como o namoro era difícil, resol- O psicólogo Renato Santana ex- dades, o aposentado tem orgulho veram se encontrar as escondidas. plica que para que um casamento do que viveu. “Eu e ela, com todo “Não era permitido que homens e seja duradouro, deve haver respei- sacrifício, formamos uma família. mulheres fossem vistos juntos. Se- to. “Não pode ter mentiras. Em Hoje, moramos na nossa casa, te- ria como se as moças não fossem todo relacionamento haverá brigas mos aposentadoria e os filhos por honradas”, explica Wilson. Decidi- mas, para uma relação estável, de- perto. Ela sempre foi minha com- ram falar com a família dela. Os vem compreender um ao outro”.

Brinde em comemoração a renovação dos votos de 50 anos Fotos: Arquivo pessoal

Entrelinhas 31 As várias representações de um mesmo sentimento

Por: Guilherme Coelho e Renan Bezan e-mails: [email protected] | [email protected] As alianças: símbolo de união e amor

O amor é um dos sentimentos mais comuns e que A representação pode ser ainda marcada na pele. As encontra sua representação de inúmeras formas, tatuagens aparecem geralmente de formas simples, como na imagem de um coração. Entretanto, sua sendo as imagens mais requisitadas as do coração ou conotação vai muito além. Uma das representações o nome da pessoa amada. é o Cupido, criatura da mitologia grega lembrada como Eros, o deus A ciência explica do amor. É uma As inúmeras formas nas quais o amor é referenciado criança travessa que chamou a atenção da ciência, que busca explicar o fe-

Foto: Internet brinca com um arco nômeno. “A imagem, porém, pode ser interpretada e flecha mágico, fle- de inúmeras maneiras e sua significação está sujeita chando as pessoas a vivência de cada um. Para um cardiologista, no en- com dardos envene- tanto, tem outra interpretação. Para uma criança o nados de uma pai- significado é outro, quando vê um pirulito com essa xão avassaladora. forma. Ou em uma igreja, quando temos um coração, O sentimento tam- podemos remeter à paixão de Cristo e não à amoro- bém é simbolizado sa”, explica o professor Pedro Vaz Peres, da PUC- Mi- em objetos, como nas. no caso do munachi, Para a psicolo- O Munachi utilizado com o amuleto peruano gia, as diferen- objetivo de atrair o amor cuja palavra é for- tes formas que mada pela junção de referenciam “muna”, que significa “para desejar, para amar” e chi: estão ligadas a “para fazer com que isso aconteça”. É representado vivência e a cul- por um homem e por uma mulher tendo relações se- tura. “Um mes- A posição dos braços também pode referenciar o sentimento xuais e é utilizado como um item de superstição, com mo objeto ou o objetivo de atrair o amor. sentimento pode gerar inúmeras reações ou pensa- O amor é caracterizado na botânica pela flor “Amor- mentos, porque cada pessoa interpreta determinado -perfeito”. Em francês é chamada de “Pensée” ou fato segundo suas experiências. Assim, uma mesma pensamento. Segundo o costume, os amantes a en- imagem pode caracterizar inúmeros sentidos”, expli- tregam como presente, quando se ausentam durante ca a psicóloga e professora universitária Maria Carla tempo indefinido, como garantia de que o seu amor Borges Sorbello. nunca cairá no esquecimento. As aveludadas flores também estão associadas à reflexão e às recordações. Desde os primórdios A psicóloga diz que a simbologia pode explicar fato- O formato de um coração res históricos. “Os símbolos existem desde os pri- usado em enfeites de mórdios da humanidade e, por meio deles, é possível casamento, para conhecer os costumes de uma determinada civiliza- representar o amor ção. A psicologia analítica foi a que mais contribuiu para o entendimento do material simbólico. Ela de- fine o inconsciente coletivo, que representa o que a humanidade como um todo viveu sob a forma de ca- tegorias herdadas ou arquétipos”. Fotos: Guilherme Coelho Entrelinhas 33 Por: Aliffer Trebesqui Cassiano | Aroldo Castro Pontes e-mails: [email protected] | [email protected] M.F afirma que o trabalho é um meio de estar longe mo tentando gostar e me envol- Andréa não sente do ciúme da esposa ver, não conseguia”, declara. vergonha em expressar M. conta que fez loucuras por ci- seu sentimento úmes, como cuspir no rosto da ex; segurar e apertar forte os seus braços. Já quebrou a própria mão dando murro no para-brisa do carro. “Ficava na esquina da casa dela vigiando para saber se ia sair. Cheguei a passar noites em claro para vigiá-la. Hoje, sou um ho- mem mudado”. O auxiliar administrativo M. F., 25, era extremamente ciumen- Ciúmes sob controle

to em seus primeiros relaciona- Ao contrário, o empresário Ro- Foto: Aquivo pessoal mentos. Disse ter passado dos berton Moraes, 33, se considera- limites diversas vezes. Hoje afir- va ciumento, mas se controlava. Agressão e humilhação ma que é diferente, maduro e “A minha insanidade era interna, Andrea Messias, 42, é natural de mais retraído. Mas, agora quem não descontava em ninguém”. Campinas. Há cinco anos conhe- sofre é ele com a possessão da es- Martelinho de Ouro há 17 anos, ceu Paulo Martins, 32, em um chat posa, que repete suas atitudes do teve boa parte desse tempo pre- de relacionamentos. O envolvi- passado. “Minha esposa faz até judicado pelo ciúmes excessivo. mento era apenas virtual. Mas, foi pior do que eu fazia. Grita, agride “Deixava de trabalhar, não tinha intenso. Poucos meses depois se e faz de tudo para me tirar do sé- vontade de nada, nem mesmo de encontraram. Para isso, ela se de- rio. Antes dela, saí com diversas me alimentar”. O empresário diz mitiu do trabalho para morar com mulheres e durante muito tempo que qualquer palavra, gesto ou ele. “Era , mas havia es- não senti nada por ninguém. Mes- desatenção eram motivos de des- condido o vício em drogas e logo confiança. “Nesse caso é essen- os problemas começaram. Me es- O casal Moraes em cial manter o controle. O tempo pancou por diversas vezes, além momento de lazer junto faz a confiança acomodar. das constantes agressões verbais. Hoje me sinto um exemplo para Se achava meu dono. Dizia que outros homens, pois nunca procu- eu estava velha e acabada... que rei ajuda profissional com psicólo- ninguém iria me querer se eu lar- gos. Superei e tenho uma relação gasse dele. Podem até achar que madura e saudável”, afirma. fui omissa mas tinha muito medo. Dizia que se fosse embora, me Amor Obsessivo x Possessivo mataria. Depois de mais de um Segundo a psicóloga Débora Mar- ano vivendo nessas condições, re- tins, em todo relacionamento é solvi arriscar e fugi voltando para natural fixar a atenção e direcio- a casa do meu pai. Só me deixou nar os cuidados ao companheiro em paz de um ano pra cá”. (a). Porém, quando esse modo de agir torna-se prioridade, vira uma A família Moraes patologia, em que a pessoa pas- imortalizou o amor no próprio corpo sa a viver o dia a dia do parceiro. Isso se denomina amor obsessivo. “Já se o parceiro (a) é tratado (a) com ciúme exagerado e considera o outro como uma propriedade, é diagnosticado como amor pos- sessivo”, explica. Fotos: Aliffer Trebesqui Aliffer Fotos:

Entrelinhas 35 O amor entre homens e seus pets

Quando os animais tornam-se filhos

Por: Bárbara Rosa | Letícia Fonseca e-mails: [email protected] | [email protected]

36 Entrelinhas Ricardo em atendimento são 52,2 milhões e 22 milhões res- na clínica veterinária pectivamente. O número de cães, apontado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 2013 - é maior que o de crianças entre zero e 14 anos. A fisioterapeuta Elisabete Loro Gonçalves conta que sempre teve cachorros. Quando casou e mu- dou da casa dos pais, sentiu fal- ta dos pets e ganhou do marido o Teddy: “temos uma relação de muito amor. Mas, é claro, que com alguns momentos de raiva, como quando faz xixi fora do lugar”. Eli- sabete acredita ser importante ter um animal em casa. “Desenvolve- mos responsabilidade para cuidar de uma outra vida, além de todo o amor e carinho que dão para nós e Você provavelmente já escutou al- Conexão ancestral vice-versa”. guém se referir ao animalzinho de Pesquisadores norte-americanos Para a psicóloga Tuane Marina estimação como filho. Não é inco- do Instituto de Tecnologia da Ca- Moraes, ter um animal de esti- mum. Muitos deixaram a área ex- lifórnia monitoraram o compor- mação traz vários benefícios para terna para viverem dentro de casa tamento das ondas do cérebro crianças e adultos, auxiliando no e, assim, acabaram se tornando humano, enquanto voluntários “desenvolvimento de sentimentos parte da rotina das famílias. Mas, a observavam imagens de animais, positivos como empatia e felicida- relação do homem com os bichos paisagens e pessoas. A amígda- de, além da noção de responsabi- existe há muito tempo. Segundo la, responsável pela mediação e lidade nos cuidados com a saúde pesquisa da Universidade de Ox- controle de atividades emocionais dos bichos”. ford, Inglaterra (2007), há registros como amizade, amor e afeição, Já o veterinário Ricardo Santos de que o primeiro gato a fazer par- medo e ira, sofreu reações mar- Filho explica que, para os pets, te de povoados humanos viveu há cantes quando os voluntários viam integrar a família significa ter um 10 mil anos, no Crescente Fértil, re- imagens dos bichanos. O neurobi- líder, “principalmente para os ca- gião entre Israel e Iraque. ólogo Florian Mormann afirmou chorros. Eles precisam da figura Elisabete e Teddy à revista científica Nature (2012) do líder e, no âmbito familiar, ele que os resultados indicam que o tem essa representação no dono, cérebro teria uma função especí- o que os torna mais felizes”. fica para lidar com animais, “refletindo a importância que tiveram no passado, na evolução”. Cientistas de Har- vard e Yale (2007) disseram BENEFÍCIOS À SAÚDE que isso reflete sua promo- Em 2016, o Albert Einstein, em ção a membros da família. SP, permitiu a visita de pets a pa- cientes internados, como huma- 56% dos lares brasileiros nização do tratamento. A Terapia tem um pet Assistida por Animais (TAA) apre- O cachorro não é chamado senta efeitos positivos na recu- de o melhor amigo do ho- peração. Os bichos passam por mem à toa. Dados da Pes- treinamento comportamental e quisa Nacional de Saúde rígidos critérios de saúde. (2013) - IBGE, revelam que 44,3% dos lares brasileiros

Fotos: arquivo pessoal tem um cão e 11,7% um gato: Entrelinhas 37 Liberdade no amor As novas formas de relacionamento: amor aberto e livre

Por: Gabriela Sodré | Luiz Gustavo Ribeiro e-mails: [email protected] | [email protected] “Foi a melhor e pior coisa que já me Namoro conturbado aconteceu”. Essas são as palavras O namoro durou apenas um ano. que o universitário sanjoanense Foi Hiago quem propôs esse tipo Hiago Rosa usa para descrever seu de relação. “Ele não conseguia último e único relacionamento. O entender o porquê de eu pensar namoro que teve foi livre. Entre- assim e tivemos muitas brigas. tanto, somente ele pretendia ter Então, terminamos”. Quanto ao relações íntimas com outros. “Re- futuro, não rejeita a possibilida- lacionamento aberto é diferente de de manter uma relação mono- de livre. No aberto existem re- gâmica. Porém, caso a outra pes- gras, como ‘só durante essa festa soa aceite, nutriria uma relação De acordo com a psicóloga Marília vamos ficar com outras pessoas’, aberta. Gabriela, o relacionamento aberto é Foto: Arquivo Pessoal por exemplo. No meu caso, foi uma nova forma de família um relacionamento quase que to- talmente livre. A única limitação era a de que eu não ficaria com julga o comportamento de quem ninguém na frente dele”, explica. opta por esse tipo de relação, pois O estudante é crítico quanto mo- isso é uma escolha do indivíduo e nogamia. Avalia as relações tradi- uma nova forma de se estruturar cionais como sendo convenções amorosamente. Ele simplesmen- sociais que não precisam, necessa- te tem um parceiro fixo e podem riamente, ser seguidas. A socieda- se relacionar com outras pessoas de estaria preparada para o relacio- sem se considerar uma traição”, namento livre, porém, ainda existe Segundo Hiago, as comenta. preconceito a esse tipo de amor. circunstâncias do namoro “Os homens traíam muito suas foram traumatizantes União aberta esposas há algumas décadas. Era O casal K. C. e R. B. se conheceu Uma nova forma de amar algo que se sabia, mas não se co- em uma festa de ano novo e estão Segundo a psicóloga Marília Ga- mentava. Mas, mesmo agora que juntos há cinco anos. Começaram briela Morali, o comportamento a mentalidade é outra, as pessoas a namorar na semana em que se de quem busca um relacionamen- mais conservadoras ainda olham conheceram e hoje nutrem uma to aberto não difere do comum, para o relacionamento livre com re- relação aberta, seguindo regras pois a relação é avaliada como ceio. Acho que o meu tipo de amor estabelecidas entre si. “ Só acon- uma das novas formas de estru- é muito mais ‘honesto’ que os casa- tece se os dois estiverem juntos e turação familiar. “A psicologia não mentos de antigamente”. se sentirem confortáveis, porque temos uma ligação muito forte. Nos amamos e nos juntamos com o intuito de ajudar um ao outro “, explica o publicitário K. O relacionamento começou da forma tradicional, mas a menta-

Fotos: Gabriela Sodré lidade de ambos sempre foi aber- ta. “Somos bem liberais e falamos um para o outro quando vemos uma pessoa bonita. Estávamos em uma festa na primeira vez que ro- lou com uma terceira. De repente, um homem parou em nossa frente e ficou nos olhando. Percebemos quais eram as intenções do rapaz e decidimos deixar rolar. Acabou Hiago relata que aprendeu que partindo dos dois, tudo por um não há fórmula para um momento de descontração em bom relacionamento uma festa”. Entrelinhas 39 Meu primeiro e eterno amor Por: Aliffer Trebesqui Cassiano | Aroldo Castro Pontes e-mails: [email protected] | [email protected]

40 Entrelinhas Fotos: Arquivo pessoal Edlaine Trebesqui teve um único amor em toda a vida. E lá se vão 30 anos de casada. (Começou a namorar com 12). A auxiliar admi- nistrativa, 42, conheceu Orivaldo Milanezi, empresário, 46, durante uma festa de barraca, na década de 1980. Os dois se aproximaram e trocaram, inclusive, mensagens pelo whatsapp, ops: correio ele- gante – (meio comum entre os casais na época). “Na década de 1980, as pessoas consideravam inaceitável namorar antes dos 18. Sofremos preconceito, ofensas e pressão familiar, principalmente de minha sogra Geni, que dizia que Ana Paula e Claudinei com os filhos eu era mulherengo e pobre”, con- Superando as dificuldades ta Orivaldo. Passaram, então, a se tro, 48, se conheceram em Mogi Aos 13 anos, Ana Paula da Silva co- encontrar as escondidas. Segundo das Cruzes, SP. Amigos de infância, nheceu Claudinei Vitor, seu primeiro eles, isto tornou o relacionamento compartilhavam o gosto pelo rock e único namorado. Embora um pou- ainda mais forte. “Nunca tivemos e apaixonaram-se. Mas a família de co mais velho, 17, também não tinha discussões mais sérias e sempre Luciana, então com 15 anos, muda- se relacionado de forma mais séria fomos muito unidos”, destaca -se para o interior de MG e ela teve com ninguém. Ficaram durante seis Edlaine, que trabalha na empresa que acompanhá-los. Veio um novo meses e após desencontros, uma do marido. Hoje, com duas filhas, relacionamento. Casada teve uma pausa de dois anos e o recomeço planejam celebrar as bodas de pra- filha. Flávio também foi casado e às escondidas, Paula descobriu que ta em 12 de junho de 2019. tem um filho de 13. Morou em Ron- estava grávida de Ana Júlia. Após o dônia e no interior da Bahia atuan- Foto: Aliffer Trebesqui casamento vieram Victor e Elisa. “A do como artesão. chegada do Victor foi uma benção em nossas vidas. Em função de um O destino problema de saúde, o médico disse Após 25 anos, se encontraram pelo que eu não poderia mais engravidar. Facebook e voltaram a conversar e Passava pela nossa cabeça adotar. O trocar fotos. Poucos meses depois Victor acabou cruzando nosso cami- o reencontro. “O destino nos uniu. nho e não tivemos dúvidas em tomar A partir daquele momento percebi tal decisão. Mas, ainda desejava ge- que nunca o esqueci”, conta Lucia- rar outra criança e novamente nos- A harmonia está sempre presente na. Há três meses morando juntos, na vida de Orivaldo e Edlaine sos sonhos foram realizados. Dois trabalham na mesma empresa, em anos depois, descobri que estava Pedreira, SP e fazem planos de ca- grávida de Elisa”. O casal afirma que samento para o próximo ano. A imaturidade no primeiro sempre foi unido, apesar de qualquer relacionamento situação. “Sofremos dificuldades fi- A psicóloga Débora Martins diz que nanceiras e tivemos que nos mudar é raro haver maturidade no primei- para terminar os estudos. Era obri- ro relacionamento. “Na maioria gada a deixar meus filhos pequenos das vezes, o primeiro amor é ines- sozinhos à noite. Mas, hoje estamos quecível e lidar com as sensações estabilizados e concluímos a faculda- é o que o transforma em único. de com muita dedicação. Vejo que os Todos aqueles momentos são sen- esforços valeram a pena, pois minha timentos até então desconhecidos família é tudo para mim”, declara. e, mesmo que não termine em ca- samento, permanecerá devido às Amigos de infância Momento de carinho entre Luciana sensações”, defende. Luciana Carmona, 40, e Flávio Cas- Carmona e Flávio de Castro Entrelinhas 41 Loucuras de amor As histórias de quem fez de tudo para agradar o parceiro

Por: Heloiza Magalhães | Iago Lima e-mails: [email protected] | [email protected]

Fotos: Arquivo pessoal Já dizia Cazuza: “quero a sorte de um amor tranquilo!”. O sonho de quem procura um relacionamento amoroso pode ser estabilidade, segurança e satisfação. Mas, há quem seja “exagerado” a ponto de cometer loucuras pelo parceiro (a) e, isso, não é de hoje. No começo do século 20, um caso ficou famoso em São João da Boa Vista. Bilú, filho de um banqueiro e fazendeiro extremamente rico, se apaixonou por Maria da Costa, Rosinha, garota pobre do inte- rior de Minas, que ganhava a vida

Rosinha em Santos - SP

como prostituta em um bordel Concerto com o Maestro Villa Lo- de Santos, onde se conheceram. bos. Ou, quando soube que as to- Uma história digna de roteiro de alhas que bordava e as flores que filme, mas um escândalo na épo- mandava para enfeitar o altar da ca. Bilú enfrentou resistência por Matriz eram jogadas no lixo. Foi parte da família e caiu em depres- barrada no Centro Recreativo e são. Ao sentir que perderiam o fi- outras coisas assim”, conta Silvia lho, seus pais vão buscar a moça Ferrante, autora do livro A primei- em Santos. ra Dama. Ela passou a morar em São João Tais fatos serviram de estímulo e sofreu preconceito. Foi hostili- para Bilú, que construiu uma das zada ao frequentar lugares como mais famosas igrejas da cidade: a igreja, teatro e festas. “Rosinha a Nossa Senhora do Perpétuo A igreja Nossa Senhora do Perpétuo enfrentou várias situações des- Socorro, e o clube Sociedade Es- Socorro, fruto da paixão confortáveis. Entre elas, o cordão portiva Sanjoanense, para que a de Bilu por Rosinha de mulheres que se formou quan- amada frequentasse. do chegaram ao Theatro para o Tathyana, 40, e Reginaldo, 47, 42 Entrelinhas Loucuras de amor As histórias de quem fez de tudo para agradar o parceiro

Por: Heloiza Magalhães | Iago Lima e-mails: [email protected] | [email protected]

casados há 23, são pais de Giulia por semana, quatro horas por e Mariana. Uma família comum dia eram dedicadas à filtração do de Espírito Santo do Pinhal, até sangue. Foram 10 meses. “As me- que em 2004 uma notícia abala ninas ficaram arrasadas”, conta a todos. Reginaldo sempre pra- Tathyana. ticara atividade física, mas tinha hipertensão e não sabia. A doen- Transplante: a única solução ça silenciosa atingiu os rins e um Em novembro do mesmo ano, Re- tratamento teve que ser inicia- ginaldo foi inscrito na fila de trans- do. Foram oito anos de luta e, plante. Teria que esperar a doação em 2012, as sessões de hemodi- de um órgão de cadáver, o que po- álise começaram a fazer parte da deria ser muito demorado. Diante Giulia, Mariana, Tathyana e vida do comerciante. Três vezes da angústia, Tathyana sentiu que Reginaldo Franchesci

deveria ser a doadora. Foram fei- tos diversos exames e um processo burocrático até que a compatibi- lidade fosse aprovada. “Na minha cabeça e coração, tinha certeza de que tudo daria certo”, conta. O transplante foi marcado. A compatibilidade ia além da afini- dade. A partir daquele dia, uma parte de Tathyana completaria Reginaldo, literalmente. “Minha mãe ofereceu por conta própria salvar a vida do meu pai. A maior prova de amor foi um rim”, diz Giulia. A operação foi um sucesso. Hoje, cinco anos depois, tem a saúde em dia e, mais que isso, união, fé e amor renovados. “Nunca pen- Família Franchesci durante a sei em desistir; tinha muita cer- infância das meninas teza e fé”, completa Tathyana. Entrelinhas 43