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GIANCARLO GUERRERO rege o Para Piano em Lá Menor, de Grieg, com o solista DMITRY MAYBORODA

Recitais Osesp: O pianista DMITRY MAYBORODA apresenta peças de Chopin e Rachmaninov

FABIO MARTINO é o solista no Concerto nº 5 Para Piano, de Villa-Lobos, sob regência de Edição CELSO ANTUNES Nº 5, 2014 TIMOTHY MCALLISTER interpreta a estreia latino-americana do Concerto Para Saxofone, de John Adams, coencomenda da Osesp, sob regência de MARIN ALSOP

Os pianistas BRAD MEHLDAU e KEVIN HAYS apresentam o programa especial Modern Music

Recitais Osesp: JEAN-EFFLAM BAVOUZET, artista em residência 2014, apresenta peças para piano de Beethoven, Ravel e Bartók

Música na Cabeça: Encontro com o compositor SERGIO ASSAD

O QUARTETO OSESP, com JEAN-EFFLAM BAVOUZET, apresenta a estreia mundial de Estética do Frio III - Homenagem a Leonard Bernstein, de Celso Loureiro Chaves, encomenda da Osesp

ISABELLE FAUST interpreta o Concerto Para Violino, de Beethoven, e o CORO DA OSESP apresenta trechos de óperas de Wagner, sob regência de FRANK SHIPWAY

CLÁUDIO CRUZ rege a Orquestra de Câmara da Osesp na interpretação da estreia mundial de Sonhos e Memórias, de Sergio Assad, encomenda da Osesp com solos de NATAN ALBUQUERQUE JR.

A mezzo soprano CHRISTIANNE STOTIJN interpreta Canções de Neruda, de Peter Lieberson, sob regência de LAWRENCE RENES Música na Cabeça: Encontro com o compositor Celso Loureiro Chaves

Juventude Sônica – Um compositor em Desde 2012, a Revista Osesp tem ISSN, busca de voz própria um selo de reconhecimento intelectual JOHN ADAMS 4 e acadêmico. Isso significa que os textos aqui publicados são dignos de referência na área e podem ser indexados nos sistemas nacionais e AGO ago internacionais de pesquisa. 7. 8 .9 14 10 24 GIANCARLO GUERRERO REGENTE DMITRY MAYBORODA PIANO DMITRY MAYBORODA PIANO

WOLFGANG A. MOZART FRÉDÉRIC CHOPIN SERGEI RACHMANINOV EDVARD GRIEG

AGO ago SET 14.15.16 30 28.29.30 38 2 46

MARIN ALSOP REGENTE BRAD MEHLDAU & TIMOTHY MCALLISTER SAXOFONE KEVIN HAYS DUO PIANO JEAN-EFFLAM BAVOUZET PIANO

ANTôNIO CARLOS GOMES DIVERSOS JOHN ADAMS PYOTR I. TCHAIKOVSKY BÉLA BARTÓK

SET SET 4 52 11.12.13 60 QUARTETO OSESP EMMANUELE BALDINI VIOLINO DAVI GRATON VIOLINO FRANK SHIPWAY REGENTE PETER PAS VIOLA ISABELLE FAUST VIOLINO JOHANNES GRAMSCH VIOLONCELO CORO DA OSESP JEAN-EFFLAM BAVOUZET PIANO NAOMI MUNAKATA REGENTE honorária

SAMUEL BARBER LUDWIG VAN BEETHOVEN CELSO LOUREIRO CHAVES CÉSAR FRANCK

SET SET SET 18.19.20 68 21 78 25.26.27 86

CELSO ANTUNES REGENTE CLÁUDIO CRUZ REGENTE LAWRENCE RENES REGENTE FABIO MARTINO PIANO NATAN ALBUQUERQUE JR. CORNE INGLÊS CHRISTIANNE STOTIJN MEZZO SOPRANO

WOLFGANG A. MOZART PETER WARLOCK HEITOR VILLA-LOBOS SERGIO ASSAD PETER LIEBERSON ARMANDO ALBUQUERQUE IGOR STRAVINSKY LUDWIG VAN BEETHOVEN orquestra sinfônica PYOTR I. TCHAIKOVSKY do estado de são paulo 94

coro da osesp 96

fundação programação sujeita a alterações osesp 99

programa sua orquestra 103 patrocínio

apoio

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ASCAEL

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ORQUESTRA SINFÔNICA C

M DO ESTADO DE SÃO PAULO Y MARIN ALSOP REGENTE CM DMITRY MAYBORODA PIANO MY

CY ANTONIO CARLOS GOMES CMY LO SCHIAVO: ALVORADA

K EDVARD GRIEG CONCERTO PARA PIANO EM LÁ MENOR, OP.16 PYOTR I. TCHAIKOVSKY SINFONIA Nº 5 EM MI MENOR, OP.64

SALVADOR 17 AGO DOM – Teatro RIO DE JANEIRO 19 AGO TER – Cidade das Artes BELO HORIZONTE 21 AGO QUI – Palácio das Artes PORTO ALEGRE 22 AGO SEX – Teatro São Pedro CURITIBA 23 AGO SÁB – Teatro Positivo

INGRESSOS À VENDA NA BILHETERIA DOS TEATROS

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3 John Adams no cenário da primeira montagem da ópera Nixon in China, em 1987

4 Juventude Sônica – por JOHN ADAMS Um compositor em busca de voz própria m 1972, vários meses depois de finalizar uma de minhas primeiras composições, Heavy Metal, na qual sons ambientes são misturados, em fita magnética, com as sequências borbu- Elhantes de um sintetizador primitivo, minha espo- sa Hawley e eu nos mudamos para a Califórnia. Na época, compositores aspirantes normalmente alme- javam fazer sua pós-graduação na Europa, aprenden- do os estilos mais recentes da música dodecafônica e mergulhando nas grandes tradições do passado. Mas a Califórnia sobre a qual eu lia nos livros de Jack Kerouac, Henry Miller e outros da geração beat en- cantava minha índole contestadora. Eu tinha 25 anos e havia passado toda a minha vida na Nova Inglaterra (cresci em East Concord, New Hampshire, e estudei em Harvard por seis anos). Estava ansioso para atacar por conta própria. Heavy Metal havia sido um provo- cante gesto de adeus, provavelmente mais influencia- do por Stockhausen e A Day in The Life, dos Beatles, do que por Schoenberg e Stravinsky.

5 Após dirigir através do continente por oito dias, em grande parte, roupas baratas. Manuseei pes- Hawley e eu nos fixamos na Bay Area. Os aluguéis soalmente a maior parte das bermudas vesti- em São Francisco eram muito caros, então, em tro- das pela “maioria silenciosa” de Nixon durante ca de um apartamento grátis, assumi a humilhante o verão de 1972. posição de zelador assistente num prédio bem pró- Voltava de meus longos dias na Regal Apparel ximo à excêntrica Avenida Telegraph, em Berkeley. exausto e sem nenhum clima para passar a noite Do lado de fora, na estreita rua, estudantes califor- compondo. Hawley, uma violinista de jazz que ha- nianos vestidos despojadamente se misturavam aos via arranjado um emprego de professora de ioga hippies envelhecidos e aos moradores de rua falando em um clube de Oakland, frequentemente chegava sozinhos. Adolescentes foragidos (de casa) com o do trabalho às nove da noite e me encontrava dor- cabelo oleoso repousavam na calçada mendigando mindo no sofá. Não escrevi música alguma por um trocados, ao lado de vira-latas. Camelôs vendiam ano; e na metade do inverno estava caindo em de- cachimbos de haxixe e bandeiras vietcongues chei- pressão. A Califórnia era encantadora, mas a pers- rando a verbena. Por um dólar, um poeta de rua pectiva de sobreviver com um torturante emprego improvisaria um verso para você. Antigas Kombis de salário mínimo me fazia considerar a possibili- pipocavam ao longo da rua, com frases em sânscri- dade de voltar para a Costa Leste. Não queria de to pintadas nas portas. jeito nenhum me tornar um compositor universi- De vez em quando, atravessava a ponte até São tário, mas me sentia preso numa crise criada por Francisco para ir aos cafés e às livrarias de North mim mesmo. Beach. Certa vez, tarde da noite, sentado em um bar Na primavera seguinte, estava prestes a voltar por ali, vi o escritor Allen Ginsberg entrar pela porta. para Harvard, quando um amigo e colega com- Estava sozinho e parecia procurar por alguém, positor, Ivan Tcherepnin, me ligou e disse que o mas pareceu ser acessível o bastante para que eu Conservatório de São Francisco estava procurando engolisse meu nervosismo e fosse até ele me apre- alguém para dar aulas de composição e dirigir a sé- sentar. Pedi o endereço de William Burroughs; rie de concertos de música nova da escola. Os dois queria enviar uma cópia de Heavy Metal, cujo membros da faculdade que vinham organizando os título era uma homenagem a Uranian Willy,o concertos haviam desistido, e o diretor estava de- Heavy Metal Kid — personagem do livro The Soft sesperado para preencher a vaga. No dia anterior, Machine, de Burroughs. Ginsberg me olhou atra- o assoalho enferrujado do meu Volkswagen havia vés dos espessos óculos, sacou uma antiquada ca- desmoronado quando eu dirigia para o galpão. Pa- neta-tinteiro de uma bolsa de pano, arrancou um recia um sinal enfático de que eu precisava de uma pedaço de papel de um caderno, e entregou-os mudança. Aceitei o emprego. para mim. Ele me ditou o endereço de Burroughs em Londres. “Mande para ele”, disse. “Ele sem- aquela época, o Conservatório de São pre fica interessado.” (Nunca o fiz. Quando fui Francisco ficava num antigo lar para tentar fazer a cópia para Burroughs, descobri mães solteiras no distrito de Sunset. que minha fita original havia se desintegrado den- Numa cidade de personalidade picante tro da caixa.) Ne repleta de visuais deslumbrantes, Sunset era es- Meu plano era viver como trabalhador pro- tranhamente sem graça: era preciso conhecê-lo letário durante o dia e como compositor de van- bem para encontrar um restaurante étnico decente guarda à noite. Arranjei um emprego no porto de ou uma livraria. Mas a escola era o local de uma Oakland, num sombrio negócio de importação agitação pulsante e caótica. Estudantes com cabelos de tecidos chamado Regal Apparel. Eu trabalha- arrojados e vestindo jeans largos e sandálias passea- va como estivador — membro de uma equipe de vam pelos corredores; e, todo dia às oito da ma- homens que escalava contêineres vindos de Cinga- nhã, as salas de estudo começavam a emanar, à la pura ou de Seul para descarregá-los manualmente. , uma cacofonia de pianos, trompetes, Cada contêiner trazia toneladas de produtos — percussões, contrabaixos e vozes.

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5573.013-000 (210x280).indd 1 09/06/14 14:14 Lecionei lá por doze anos, de 1972 a 1984, grada- Num dia típico, passava a manhã falando para tivamente encontrando minha voz como compositor. uma turma de estudantes de graduação com os O conservatório ainda lutava para se firmar e poucos olhos embaçados sobre o Quarteto de Cordas nº 15 Op. alunos estavam no mesmo nível do típico estudante 132, de Beethoven; a tarde ensaiando Petrouchka, da Juilliard School ou do Conservatório Curtis. Mas de Stravinsky, ou uma sinfonia de Mozart com a havia um vivo interesse por todas as formas de músi- orquestra da escola; e a noite enfurnado em meu ca de vanguarda, algo inimaginável nas universidades escritório com um ferro de soldar, minha escrivani- da Costa Leste. Eu tinha alunos que mal conseguiam nha coberta por resistores, capacitores, fios e placas tocar seus instrumentos, mas que ficavam encantados de circuitos que eu havia pechinchado num mercado por me acompanhar em algum “evento” de John Cage de pulgas próximo ao aeroporto de Oakland. [...] ou por participar numa das peças eletroacústicas Minha fase radical teve seu ápice numa manhã de de Alvin Lucier. abril de 1974, quando cheguei à minha agência ban- Uma de minhas funções era dirigir o Conjunto cária, a três quadras do conservatório, para sacar um de Música Nova da escola. Apesar de formado por cheque de dez dólares. O banco havia anunciando re- estudantes, esse grupo realizou durante anos atraen- centemente uma mudança em seus horários, e eu não tes concertos de música de vanguarda no De Young conseguia lembrar se a nova hora de abertura era nove Museum, no Golden Gate Park. Obras de Cage, e meia ou dez, então cheguei um pouco antes das dez Stockhausen, Boulez, Ligeti e outros eram apre- horas. Do lado de fora, encontrei uma multidão de sentadas para plateias entusiasmadas e os concertos vizinhos e vi a polícia estender alguém numa maca e recebiam cobertura de três jornais locais — nova- ir embora com a ambulância. Num bairro tão tran- mente, algo impensável em Boston. quilo quanto Sunset, um assalto a banco era a última Meu primeiro concerto deixava clara minha coisa que alguém poderia esperar. Mas esse não era ambição: Cage, Schoenberg e Robert Ashley di- um assalto ordinário. O banco havia sido atacado pelo vidiram o programa com a Missa de Notre Dame, grupo revolucionário Symbionese Liberation Army e do compositor francês do século xiv Guillau- entre os assaltantes estava, então com 22 anos, Patty me de Machaut. Para a peça de Machaut, cuja Hearst — neta e herdeira do magnata das comuni- estranheza havia atiçado minha imaginação, cações William Randolph Hearst. Se tivesse chegado compus uma “paródia” de música eletrônica alguns minutos antes, poderia muito bem ter ficado gravada em fita, com sons modulados de sinos, frente a frente com o cano da metralhadora de “Ta- ruídos de trânsito e passos, no intuito de forne- nia” (alter ego da socialite quando se juntou ao grupo). cer um continuum para o canto ao vivo da Missa Nessa época, meu casamento com Hawley en- (que regi no palco). O crítico do San Francisco trou em crise. Cada vez mais exasperada com as in- Chronicle que cobriu o concerto disse que minha termináveis horas que eu passava trancado no quar- versão atualizada da Missa de Machaut foi “tão diver- to com meus manuscritos, grades e diagramas, ela tida quanto ver uma pixação dizendo ‘Guillaume decidiu seguir em frente sozinha e foi morar com era um idiota’ nas paredes da Catedral de Reims”. um grupo de músicos de jazz do outro lado da ci- Optei por tomar isso como um elogio. dade. O pouco que tínhamos foi dividido; e logo Uma espécie de “guerrilha” eletrônica caseira me vi alugando espaço numa garagem, com minha estava virando moda entre aqueles de nós que cama a apenas alguns metros de distância do Buick queriam ser vanguardistas. Nomes como Lucier, da proprietária. Consumido por uma autopiedade mór- Ashley, Cage e David Tudor estavam fazendo bida, sobrevivi à base de ovos cozidos e macarrão ins- composições radicais exibindo engenhocas dese- tantâneo por seis meses, lendo histórias zen e estudan- nhadas e construídas por eles mesmos. Na era do circuitos eletrônicos. Finalmente, me mudei para pré-digital dos anos 1970, a música eletrônica uma esplêndida cabaninha, a uma quadra do Golden vinha ou da manipulação de gravadores de fita Gate Park e a duas do mar. Do meu quarto, podia ou de osciladores cuja sensibilidade ao calor os ouvir as ondas quebrando e sentir o cheiro da maresia tornava caprichosos demais. pela manhã. As coisas começaram a melhorar.

8 Encontrava música de vanguarda em qualquer lu- Lembro com ternura dessas peças de aprendiz. gar da cidade: nos bueiros, num arbusto no Golden Eram genuínas tentativas de encaixar minha sensi- Gate Park, nas fachadas vazias e nos sobrados das bilidade emergente no que eu entendia ser, não sei livrarias, até mesmo num templo maçônico. Com- se com razão ou não, a principal filosofia estética da pus uma peça chamada Triggering, na qual eu seguia época. Aplicava procedimentos de aleatoriedade, dançarinos improvisadores com um microfone de mas não com o rigor zen com que Cage os praticava. longo alcance. Cada vez que um dançarino tocava As composições dispensavam o virtuosismo: peças o chão, ou até mesmo gemia por conta do esforço, como Kaatdn podiam ser executadas pelo mais mo- meu microfone captava o som e disparava circuitos desto dos amadores. Acima de tudo, elas evitavam a no meu sintetizador, que por sua vez emitia um seriedade. Eu prestava muita atenção na advertência ruído alto. Mixei esses sons com outros de “objetos de Cage para manter o ego fora da música. variados” que havia gravado em fitas cassete – in- Ainda assim, estava me distanciando cada vez setos, carros ressoando, embarcações sussurrando. mais das posturas tidas como vanguardistas. O té- Lembro perfeitamente de ficar parado, com toda dio tem sua utilidade num trabalho artístico: ele paciência, no Golden Gate Park com meu micro- permite que as coisas tenham tempo, que processos fone, em pé, inclinado sobre uma pilha de cocô de evoluam, e ajuda a pontuar momentos que poderiam cachorro, gravando o zumbido de várias moscas, ser perdidos. Mas a vanguarda — especialmente em êxtase. [...] sua versão musical — havia transformado o tédio A vida em São Francisco me agradava, mas come- num princípio estético fundamental. Os composi- cei a ficar inquieto com os concertos que eu organiza- tores evitavam formas teleológicas como se fossem va. A maioria era realizada para plateias mínimas, em uma praga. Uma forma musical era “teleológica” se grande parte formada por outros compositores aspi- seguisse um desenvolvimento intencional em dire- rantes. O tédio não era apenas um coadjuvante nesses ção a um fim. Cage pregava uma aceitação aberta concertos, frequentemente era a atração principal. do “não importa qual for a eventualidade”. De forma Também fiz minha parte para expandir os li- a retirar o “ego” ou o “gosto” do ato criativo, con- mites da chatice, especialmente com uma com- cebeu procedimentos como jogar moedas ou usar posição para coral intitulada Ktaadn. Essa peça o mapa de constelações para extrair notas, dinâmi- era baseada nos princípios de aleatoriedade de cas e durações. Tais gestos inspiravam nos ouvin- John Cage e foi inspirada pela descrição de Henry tes uma espécie de excitação analítica, mas, sem David Thoreau da escalada do Monte Katahdin, a presença benevolente de Cage, essas operações no Maine. Consegui um mapa da área e, com um de aleatoriedade resultavam em música fria ou inex- compasso, desenhei ao redor do cume da mon- pressiva emocionalmente. tanha um círculo com um raio de cinquenta mi- Apesar de minha confusão e insatisfação durante lhas. Estimei ser essa a vista que Thoreau des- esse período, nunca duvidei de que queria me tornar creveu. Depois, fiz uma lista com todos os locais um compositor. Simplesmente não havia encontrado na área com nomes na língua Abenaki — ainda a forma adequada de expressão pessoal. Millinocket, Ambajejus, Mattawamkeag — e encaixei-os em melodias modais curtas. Finalmente, m dia, em 1976, o pianista Mack McCray, convidei os membros do coral para criar suas pró- um grande amigo, propôs que eu compu- prias sequências individuais usando essas melodias. sesse uma grande peça solo para ele — algo Por um tempo indeterminado, o coral cantou os virtuosístico, que aproveitasse suas podero- nomes, acompanhados apenas pelo miado dos meus Usas mãos e seu controle sutil das cores sonoras. Mack sons eletrônicos ao fundo. O resultado foi um bal- havia me apresentado às grandes obras para piano buciar coletivo agradável mas absolutamente sem de Chopin, Schumann e Brahms, e parecia razoável graça. Foi difícil não reconhecer o tédio que se ins- criar algo que fizesse uso de suas habilidades. Para taurou por volta do décimo quinto minuto — logo compor a peça, levei uma espineta surrada para mi- que a plateia percebeu que as coisas não iam mudar. nha pequena cabana próxima ao mar. O quarto onde

9 trabalhava era tão apertado que até a espineta soava happenings que eu vinha realizando com meus ami- trovejante; e eu a castiguei durante meses, testando gos e alunos, a música de Reich usava a precisão e ideias para a peça. o contraponto equilibrado para criar um som que era A obra, Phrygian Gates [Portais Frígios], acabou se controlado com maestria, musicalmente envolvente e tornando um monstro, um teste de dificuldade e re- sensualmente atraente. sistência até para os melhores pianistas. Com duração O Minimalismo de Riley, Reich e Philip Glass de 24 minutos, é uma viagem ininterrupta pelas te- mostrou um caminho para fora do beco sem saída no clas do instrumento — ou melhor, por metade delas qual eu parecia estar preso. Havia crescido ouvindo — que mantém o pianista em concentração máxima. jazz e mais tarde me vi cercado pelos ritmos insis- Imaginei cada mão do intérprete como uma “fazedo- tentes e a linguagem harmônica simples do rock. Essa ra de ondas” individual, independente da outra. As música era como meu próprio genoma e eu queria “ondas” na verdade são padrões repetitivos que mu- empregar essas raízes musicalmente, tanto quanto dam de forma lentamente com o caminhar da peça. escritores americanos como Whitman, Kerouac e Princípios cageanos de indeterminação não aparecem Ginsberg acharam a poesia na fala do homem comum. nesta composição. Pelo contrário, foi construída de As obras iniciais do Minimalismo, mesmo sendo ra- acordo com um detalhado plano formal e expressivo. dicais, não eliminavam os elementos fundamentais do Phrygian Gates se tornou um sucesso entre as discurso musical. Na verdade, abraçavam a pulsação plateias, especialmente quando McCray a executa- e a repetição com uma alegria quase infantil. Para va. Os ouvintes ficavam em transe com seu corpo mim, parecia que o princípio do prazer havia sido grande pairando sobre o teclado e com suas “patas convidado de volta à experiência da escuta. de urso”, que podiam tanto proferir agressivas mar- A construção de grandes estruturas expressivas teladas como fazer as mais delicadas carícias. Após pelo uso da repetição de elementos pequenos era a anos testando a paciência dos ouvintes com música técnica essencial do Minimalismo. No entanto, vá- aleatória, senti um envolvimento novo e visceral por rios anos antes, numa viagem a Florença, tive uma parte da plateia. iniciação memorável numa utilização muito mais an- A peça também mostrou os frutos de minha ini- tiga dessa técnica. Fui para lá como professor num ciação no Minimalismo. Quando ainda vivia em programa musical de verão para adolescentes ame- Cambridge, tinha ouvido uma gravação de In C [Em ricanos e me vi atordoado pela excitação sensorial. Dó], a obra histórica de Terry Riley. A peça era para Os arquitetos italianos do Renascimento construíam a música americana o que Howl [Uivo], de Ginsberg, grandes edifícios, públicos e privados, repetindo pe- ou On The Road [Pé na Estrada], de Kerouac, haviam quenos motivos, seja em pedra, mármore, vidro ou sido para a literatura. Com seu insistente e obstinado cerâmica. Eu contemplava sua geometria perfeita sob pulso no Dó agudo do piano e os solares fragmentos a luz quente do verão. de melodias circulando continuamente numa polifo- Ao retornar para São Francisco, estava determi- nia solta, In C capturava o agradável espírito hippie da nado a encontrar uma forma de expressar em ter- Costa Oeste e, ao mesmo tempo, propunha uma nova mos musicais aquela mesma combinação de ordem abordagem para a forma musical, que evoluía lenta- e sensualidade. Os procedimentos minimalistas mente. Era também uma provocação maravilhosa — apontavam um caminho, mas eu também reconhe- uma ofensa no estilo do cartunista Robert Crumb ao cia que, como estética principal, o Minimalismo mundo pedante do modernismo acadêmico. rapidamente se esgotaria. Como o cubismo na pin- Em São Francisco, ouvi uma versão mais elegante tura, era uma ideia radical, mas sua visão de mundo da estética minimalista quando Steve Reich trouxe reducionista logo deixaria seus praticantes presos a seu conjunto para a cidade, em 1974, para apresen- uma amarra criativa. Picasso viu as possibilidades tar Drumming. Comparadas a In C, as peças de Reich incipientes do cubismo, mas também entendeu que eram mais minuciosamente organizadas, e a evolução deveria ser absorvido numa linguagem mais vasta. dos elementos melódicos, harmônicos e timbrísticos Atingir essa integração se tornou meu objetivo pri- era mais metódica. Em contraste com os anárquicos mordial como compositor. [...]

10 Gravações Recomendadas Numa noite na primavera de 1976, tive uma re-

velação enquanto dirigia por uma cordilheira no alto das Sierras, não longe da fronteira com o estado de Nevada, no meu velho Karmann Ghia conversível. ADAMS Na época, ouvia música num toca-fitas Sony parru- HARMONIUM do, do tamanho de uma pequena mochila, com um San Francisco and Chorus alto-falante embutido e uma correia para pendurar. Edo de Waart, regente Nas pilhas eternamente crescentes de estojos plásti- ECM, 1984 cos de fitas cassete, se encontravam meus interesses musicais do momento: tudo, de madrigais de Monte- HARMONIELEHRE verdi a Bitches Brew, de Miles Davis. Naquela noite, o Sony estava tocando uma gravação do Crepúsculo Dos Edo de Waart, regente

Deuses, de Wagner. Enquanto guiava o carro pelas NONESUCH, 1990 curvas fechadas e olhava a névoa que pairava abaixo The Gospel According nos barrancos, escutava atentamente os desenhos das to the Other Mary subidas e descidas das melodias de Wagner, e o rico Los Angeles Philharmonic e cambiante mundo harmônico que elas descreviam. Los Angeles Master Chorale Wagner não estava muito na minha cabeça naquela Gustavo Dudamel, regente época, mas essa música, especialmente os tranquilos Deutsche Grammophon, 2014 compassos de abertura de “Alvorada e a Viagem de Siegfried Pelo Reno” — com seus graciosos saltos Harmonielehre; The Chairman Dances; Tromba Lontana; de sextas e sétimas, e sua seda macia de acordes das Short Ride in a Fast Machine cordas — me tocou. Falei em voz alta, quase sem City of Birmingham Symphony Orchestra pensar: “Ele se preocupa”. Sir Simon Rattle, regente Wagner se preocupava em fazer com que a inten- Warner Classics, 1994 sidade de suas emoções se tornasse palpável para o ouvinte. Suas harmonias, inquietas e eternamente Fellow Traveler - The Complete migrando para um novo centro tonal, moviam-se String Quartet Works of John Adams entre tensão e resolução de um jeito misterioso, que Attacca Quartet empurrava constantemente o ouvinte para a frente. A zica, 2013

Os saltos melódicos, sempre cantáveis, davam for- Nixon in China ma e direção para o movimento harmônico por bai- Orchestra of St. Luke’s xo. Essa não era apenas música sobre o desejo, era Edo de Waart, regente

o desejo propriamente dito; e sua força emocional Nonesuch, 2011 e sensual era inescapável. A música de Wagner era fundamentada numa sofisticação técnica e intelectu- al enorme, mas seu efeito primordial era algo que, percebi, estava ausente em meus experimentos van- guardistas: uma sensação de arrebatamento.

ão muito depois da minha revelação no Karmann Ghia, um jovem maestro holandês, Edo de Waart, então rela- tivamente desconhecido, foi nomea- Ndo diretor musical da Sinfônica de São Francisco. De Waart representava um grande contraste em re- lação a seu predecessor, o glamoroso Seiji Ozawa.

11 Sugestões de Leitura Ligava pouco para sua aparência no palco, preferin- do se concentrar na qualidade sonora e na excelên- Thomas May (org.) cia individual dos músicos. Suas performances de The John Adams reader: Essential Mahler e Bruckner eram profundamente comoven- writings on an american tes. Alcançava o cerne emocional da música não por Amadeus Press, 2006 meio de um esforço intelectual, mas pela intuição pura. Eu comecei a frequentar os concertos da or- John Adams questra regularmente, algo que não fazia já havia Hallelujah Junction: Composing algum tempo. Nós nos tornamos amigos e ele me an American Life contratou para ajudá-lo em uma área na qual tinha Farrar, Straus and Giroux, 2009 pouco conhecimento: música contemporânea. Alex Ross De Waart foi o primeiro maestro a reconhecer O resto é ruído meu potencial como compositor para orquestra. Companhia das Letras, 2007 Certo dia, ele propôs um desafio arriscado: pediu

que eu compusesse uma peça de grande porte para coro e orquestra, que teria sua estreia mundial na temporada inaugural da nova casa da Sinfônica, o Louise M. Davies Symphony Hall. Internet Até aquele momento, eu era conhecido ape- nas como um compositor de vanguarda, com uma inclinação para despertar a ira dos críticos locais. www.earbox.com De repente, tinha uma encomenda enorme feita por uma organização de renome. Isso já seria assusta- dor o bastante, mas De Waart queria uma “Sinfonia Coral” — algo que nem de longe estava no meu re- pertório. Considerando que eu vivia num modesto apartamento no bairro de Haight-Ashbury e havia enfiado meu piano num quarto um pouco maior que um closet, imaginava como poderia colocar minha linguagem musical recém-descoberta à disposição de tamanhos poderes, e como conseguiria preen- cher uma sala de quase três mil lugares com som. Minha música até então era quase que inteiramente composta por peças eletrônicas ou de câmara. Con- seguia criar um som tão imponente quanto qual- quer outro com a ajuda de alto-falantes, mas agora teria que produzir uma paleta completa de texturas vocais e orquestrais sem recorrer à eletrônica ou aos sintetizadores. [...] A estreia de Harmonium, em 15 de abril de 1981 no Davies Hall, pegou quase todos, incluindo o compositor, de surpresa. A escrita para o coral era repleta de dificuldades insanas, resultado de minha inexperiência em compor para vozes. Os cantores do coro da Sinfônica de São Francisco tiveram trabalho para seguir minhas partituras manuscritas, sofrendo para lidar com os quilômetros de compassos aparen-

12 temente repetidos, contando e procurando deixas e tentando sobreviver. Mas a performance foi eletri- zante e os tsunamis de vozes aglomeradas causaram um arrepio palpável na plateia. No fim do tercei- ro e último movimento, percebi que tinha parado de respirar. A plateia recebeu Harmonium com mais do que o costumeiro aplauso educado para uma obra nova — o som de milhares de pessoas aplaudindo, até mesmo gritando, quando apareci no palco pareceu indicar não apenas respeito, mas prazer também. Uma fita dessa primeira performance de Harmonium começou a circular, não apenas localmente, mas até na Europa. Compositores e maestros de passagem por São Fran- cisco começaram a ligar, pedindo para ouvir a peça. Sem temer suas dificuldades, corais e orquestras co- meçaram a executá-la em Colônia, St. Louis, Chicago, Londres e até no Carnegie Hall. De Waart e sua tropa fizeram uma apaixonada gravação da peça para a gravadora ECM. Na contracapa do álbum, há uma foto do jovem compositor, descalço e vestindo jeans, sentado com seu cachorro num apartamento em Haight-Ashbury. Através da janela atrás dele, quase não se veem os telhados vitorianos, em meio à nebli- na do fim da tarde.

John Adams. Trechos de artigo publicado na revista The New Yorker, em 25 de agosto de 2008. Tradução de Ricardo Sá Reston.

Não perca A ESTREIA LATINO-AMERICANA DO CONCERTO PARA SAXOFONE, DE JOHN ADAMS, COENCOMENDA DA OSESP, DIAS 14,15 E 16 DE AGOSTO, NA SALA SÃO PAULO.

13 Haidée Encontra Don Juan, tela de Ford Madox Brown, 1869

14 AGOSTO

7 QUI 21H Jacarandá

8 SEX 21H Pequiá

9 SÁB 16H30 Ipê

GIANCARLO GUERRERO REGENTE DMITRY MAYBORODA PIANO

WOLFGANG A. MOZART [1756-91] Sinfonia nº 31 em Ré Maior, KV 297 - Paris [1778] - Allegro Assai - Andante

- Andantino (versão alternativa de Mozart para o segundo movimento) - Allegro 18 MIN

RICHARD STRAUSS [1864-1949] Don Juan, Op.20 [1888] 17 MIN ______

EDVARD GRIEG [1843-1907] Concerto Para Piano em Lá Menor, Op.16 [1868] - Allegro Molto Moderato - Adagio (Attacca) - Allegro Moderato Molto e Marcato - Quasi Presto - Andante 30 MIN

15 m dos temas favoritos de discussões (e con- Tive a oportunidade de reger essa obra diversas trovérsias) no mundo da música clássica vezes em minha carreira e sempre tenho dificul- é o aplauso entre os movimentos de uma dade em decidir: ambos os movimentos são igual- sinfonia, concerto ou qualquer outra obra mente fantásticos e demonstram a genialidade de Ucom mais de um movimento. A Sinfonia nº 31 - Paris, Mozart. Recentemente, optei por apresentar am- de Mozart, é perfeita para que se aborde a questão bas as versões e deixar a plateia mostrar com seus numa perspectiva histórica. aplausos qual movimento é o mais popular. Para Essa maravilhosa sinfonia é um pouco fora do essas performances em São Paulo, convido a plateia usual porque foi escrita no padrão rápido-lento- a não só aplaudir à vontade após esses movimentos, -rápido, com apenas três movimentos no lugar dos mas também a usar a voz para manifestar sua prefe- costumeiros quatro — faltando o usual Minueto. rência. Pessoalmente, acredito que a música, como Sua estreia foi em Paris, onde Mozart visitava toda manifestação artística, deva provocar reações sua mãe, em 18 de junho de 1778. A obra havia e emoções nas plateias. Devemos permitir aos ou- sido encomendada por Joseph Legros, diretor do vintes que expressem livremente sua apreciação da Concert Spirituel. Após a première, o compositor música e dos músicos. escreveu a seu pai: “Logo no meio do primeiro ‘Allegro’, havia um Giancarlo Guerrero.Tradução de Rodrigo Vasconcelos. trecho que tinha certeza de que todos gostariam. Os ouvintes ficaram eletrizados e o aplauso foi tremendo. E como, ao escrever, sabia o efeito que a passagem causaria, eu a repeti perto do fim — e eles começaram a aplaudir novamente”.1 Vale lembrar que, na época de Mozart, as pla- teias se sentiam à vontade para aplaudir, não somente entre os movimentos de uma sinfonia, mas mesmo enquanto a música era tocada! Nós também sabemos que o movimento central — “Andante” — não foi bem-sucedido. Citando novamente uma carta de Mozart: “A plateia não aplaudiu tão entusiasticamente como nos outros movimentos”.2 Assim, Legros convenceu o compositor a escrever um “Andante” alternativo para substituir o original. Desde então, quando a Sinfonia nº 31 é pro- gramada, os regentes devem decidir qual movimen- to intermediário desejam apresentar: o “Andante” original, em compasso 6/8, ou o “Andantino”, em compasso 3/4, que Mozart escreveu quase imedia- tamente após a estreia.

1. Mozart, Wolfgang Amadeus. A Life in Letters (Nova York: Penguin, 2006, traduzido para o inglês por Stewart Spencer). 2. Ibidem.

16 uando, sob a batuta de Bismarck, arqui- No entanto, conduzido por seu amigo Alexander tetava-se a unificação do que hoje cha- Ritter, munido de leituras de Schopenhauer e mamos de Alemanha, “ferro e sangue” Nietzsche, Richard Strauss se aproximaria de Wagner, foi a metáfora usada para invocar o es- para desalento do pai, entregando-se ao ideal da Qpírito germânico. Após a guerra franco-prussiana, música como reprodução da “vontade”, para enfim em 1871, as artes deveriam irmanar-se à política. Em lançar-se à composição de seus poemas sinfônicos. bom espírito romântico, tratava-se de banhar o pas- Em 1888, concebeu a obra que o projetaria definiti- sado e o futuro nas luzes regeneradoras do mito, le- vamente: Don Juan, Op.20, que ele próprio regeria vando a crer no caminho inelutável de um povo. Se na estreia em Weimar, no ano seguinte. por um lado seria equívoco reduzir a criação artística Ainda em 1888, Strauss escreve a Von Bülow so- desse período à política, por outro lado é difícil com- bre os poemas sinfônicos: “Se se quer dar ao público preender a força e o caráter sublime da música ale- uma impressão vívida, então o autor também deve mã desse momento sem o pano de fundo em que se ter tido uma forte impressão, no seu espírito, do que gestavam expansivos sonhos de domínio e controle. ele quis dizer. Isso só é possível quando há fertili- A música de Richard Strauss conduz a diversos es- zação por uma ideia poética”.1 O caráter expressivo tados de espírito. No entanto, escutá-la exige entre- da música tomava de assalto a filosofia e a literatura, gar-se a movimentos impetuosos que buscam tomar em especial na Alemanha e na França, onde o “deus a alma a qualquer preço. Trata-se de uma rendição Richard Wagner”, como o chamou Mallarmé num fáustica, como se, ao ouvir, firmássemos contrato com poema de 1886, era fonte de admiração e incômodo. um demônio a um só tempo sublime e terrível. O po- Mas Strauss não buscava a potência descritiva der depende inteiro desse pacto que, dando-lhe força da música. Em carta ao escritor francês Romain extraordinária, faz o homem imaginar-se além de si Rolland, pouco mais tarde, escreveria que “o pro- mesmo, próximo da eternidade. grama poético não é mais que a causa inicial que em- A Alemanha que conquistava sua unidade viveu sob presta vida às formas, nas quais então dou expressão o signo de Wagner. Logo após o nascimento de Strauss, e desenvolvimento puramente musical aos meus sen- sua Munique natal veria, em 1865, a estreia de Tristão e timentos”.2 A afirmação não nos exime, contudo, da Isolda, sob a regência de Hans von Bülow, indicado pelo tarefa de imaginar como Strauss entendeu e expres- próprio Wagner, que então caíra nas graças de Ludovico sou o drama de Don Juan. ii, rei da Bavária. Fonte de ódio e veneração, Wagner era A primeira vez em que a lenda do libertino con- incontornável. Primeiro trompista do Teatro da Corte quistador ganhou as páginas foi com El Burlador de Munique, o pai de Richard Strauss detestava o autor de Sevilla y Convidado de Piedra, publicado em 1630 e de Tannhäuser. Em 1885, quando o filho se livrara mo- atribuído a Tirso de Molina. A partir daí, Don Juan mentaneamente do acanhado ambiente bávaro, Franz teria uma carreira fulgurante, nas mãos de Molière, Strauss lhe escreveria rogando que seguisse os conselhos Hoffmann, Mozart, Byron, Pushkin, Liszt e Baude- dados pelo já consagrado Brahms: evitar floreios temá- laire, entre muitos outros. A inspiração de Strauss ticos desnecessários, almejar uma polifonia límpida, vem de um poema inacabado de Nikolaus Lenau, e, para tanto, estudar a simplicidade das Danças de cujos versos apareciam nas primeiras versões da par- Schubert. É claro que o caminho desejado pelo pai titura de Don Juan. São três passagens em que o he- deveria afastar Richard da tentação wagneriana. rói se pronuncia. Nas duas primeiras, ele rejeita os

1. Schuch, Willi. Richard Strauss: A Chronicle of The Early Years, 1864-1898 (Cambridge: Cambridge University Press, 1982), p. 147. 2. Ibidem., p. 149.

17 conselhos do irmão, que a mando do pai pedia que esgotando-se, como Don Juan se entrega ao inimigo, voltasse a casa e abandonasse a lassidão em que vivia. ao deixar cair a espada, impotente diante da morte. Mas o devasso insiste em ater-se ao círculo mágico Desvela-se então o corpo exangue, tão gélido quanto (der Zauberkreis) das mulheres charmosas, permane- aquela escura lareira extinta que arremata os versos cendo sob uma tempestade de prazer (im Sturme des de Lenau utilizados por Strauss (Und kalt und dunkel Genusses) e querendo morrer dos beijos da última de- war es auf dem Herd) e que se pode “sentir” ao final do las. De mulher em mulher, a paixão é sua única pai- poema sinfônico, no rufar pianíssimo dos bombos, xão, e não há tempo para ver nada perecer nem é seu seguido de um lindo acorde menor. intuito construir um templo sobre ruínas (Nicht aus Mas logo antes dessa passagem “fria”, que con- Ruinen will ich Tempel bauen).3 Mas, como em outras duz a alma ao Nada, e imediatamente após a pausa versões da lenda, a morte o aguarda na figura de um que encerra o mais incrível acúmulo de crescendos, inimigo por quem ele paradoxalmente anseia. Des- ouve-se uma trompa desferir um golpe no meio de falecido o desejo, o herói se descobre falto de forças, um tímido acorde de Lá Menor. Há quem tenha ou- próximo da escuridão final. vido, na nota dissonante, a rajada de ar da espada que Don Juan quebra as leis da aliança e da fidelidade se desloca, fatal, em direção ao corpo de Don Juan. e expõe o desejo que a sociedade comportada encer- Desarmado e vencido, ele fenece, como a música. rava no quarto dos pais — ou no prostíbulo, talvez Mas antes da morte cabe ao ouvinte detectar e nos lembrasse Foucault. Se por um lado o mundo de sentir a alegria fátua de Don Juan, seus truques ri- Strauss é distante do nosso, por outro, no ímpeto sonhos, os lances heroicos ou ridículos, a festa, o de controlar e dominar o próprio corpo, ensaiava- orgulho, a futilidade, a leveza, o engano, a beleza, -se uma forma de política, mas também de conhe- o flerte e o clímax tantas vezes experimentado, ex- cimento. A pátria de Freud não era tão longe, nem pressos desde a fenomenal abertura até os temas que, tardaria a estabelecer-se uma nova compreensão do exigindo máximo virtuosismo da orquestra, proje- humano e o entendimento da cultura como uma taram Strauss no cenário musical de seu tempo e do complexa rede de mecanismos repressores. Nesse nosso. De fato, Don Juan só é menos popular que ou- quadro, domínio e controle não eram matéria exclusiva tro de seus poemas sinfônicos, Assim Falou Zaratustra, dos estadistas, interessando também à arte e talvez Op.30, composto pouco depois, e lançado às estrelas especialmente à música. pelo cinema de Kubrick. Entregando-se ao prazer, Don Juan pensa sub- A despeito da qualidade variável de sua produ- trair-se à morte. Sua aventura ininterrupta é a ilusão ção, e passados quase cinquenta anos do sucesso de daquela eternidade que o mundo laicizado roubara Don Juan, Strauss todavia se atinha ao ideal de uma aos homens. E como entender as passagens mais vi- música que conduzisse a humanidade para além de si gorosas, na peça de Strauss, sem pensar no rapto do mesma. Em 1942, quando o antissemitismo de sua corpo, no prazer físico que leva às alturas e conduz juventude cedera, convertendo-se numa complicada ao êxtase? Ao menos nisso, o romantismo é herdeiro relação com o nazismo (Strauss tinha nora e netos do barroco: piedosa ou impiedosamente entregue, o judeus, e perdera o cargo de diretor da Câmara de corpo descobre o divino gozo, e a sacralidade é Música do Reich em 1935 por causa de uma carta en- o rito sempre renovado do ser que se aproxima da viada a Stefan Zweig e interceptada pela Gestapo, ao morte. Místico ou mundano, o amor vale pelo ar- mesmo tempo em que assinara documento acusando rebatamento, quando o sujeito desiste de si mesmo, Thomas Mann de manchar a cultura alemã), podemos

3. Del Mar, Norman. Richard Strauss: A Critical Commentary on His Life And Works (Ithaca: Cornell University Press, 1986), pp. 67-8.

18 Gravações Recomendadas vê-lo, já velho e cansado, a relembrar suas óperas, inclusive Salomé e Elektra, ambas singulares, a última composta a partir de libreto de Hofmannsthal. Ele escreveria: “Nelas penetrei os mais extremos confins MOZART da harmonia, da polifonia psicológica e da recepti- nº 31, nº 36 & nº 39 vidade dos ouvidos modernos”.4 Não é uma consta- Academy of St Martin in the Fields tação modesta, talvez porque imodesta seja a pró- Sir Neville Marriner, regente pria concepção das artes de que Strauss é herdeiro. PHILIPS, 1978

Poucos anos depois, ele ainda buscaria na música Symphonies nº 31 & nº 34 o esteio de uma cultura ameaçada, que ligava a Ale- English Baroque Soloists manha à Grécia antiga, num novo círculo mágico: Sir John Eliot Gardiner, regente “Após a criação da música alemã por Johann Sebas-

DECCA, 1992 tian Bach, após a revelação da alma humana (busca- da por todos os filósofos desde Platão) na melodia The Late Symphonies de Mozart — que eu compararia ao Eros platôni- Orquestra Real do Concertgebouw co pairando entre céu e terra — e após os magní- Nikolaus Harnoncourt, regente ficos palácios das sinfonias de Beethoven, Richard Teldec, 1991 Wagner, o poeta-dramaturgo e músico-filósofo, con- cluiu o desenvolvimento cultural de três mil anos ao criar a linguagem da orquestra moderna, completan- STRAUSS do o mito cristão e germânico em perfeitas criações DON JUAN 5 dramático-musicais”. Berliner Philharmoniker Strauss escreveu essas linhas no verão de 1945, Herbert von Karajan, regente numa Alemanha completamente arrasada. Para ele, DEUTSCHE GRAMMOPHON, 1996 a despeito dos escombros deixados pelo desejo de domínio, haveria ainda algo além da morte, como se London Symphony Orchestra um herói trágico resistisse a deixar o palco, para Claudio Abbado, regente seguir sonhando, em júbilo eterno, com o poder de DEUTSCHE GRAMMOPHON, 1983 sua cultura.

Pedro Meira Monteiro é professor titular de literatura GRIEG brasileira na Princeton University. Autor, entre outros livros, de Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda: Correspondência (Companhia das Letras e Edusp/IEB, Orchestre National de L'Ópéra de Monte Carlo 2012; Prêmio ABL de Ensaio 2013). Lovro Von Matacic, regente Sviatoslav Richter, piano

emi, 2003

Symphonie-Orchester des Bayerischen Rundfunks Sir , regente Murray Perahia, piano

SONY, 1990

4. Strauss, Richard. Recollections And Reflections (Ed. Willi Schuch. Westport: Greenwood Press, 1974), p. 155. 5. Ibidem., p. 90.

19 o ouvir o jovem Edvard Grieg tocar pia- no, o violinista se empenhou em convencer os pais do futuro compo- sitor a enviá-lo para uma temporada de Aestudos no Conservatório de , na época um dos mais renomados da Europa. E assim o talentoso garoto de quinze anos abandonou a bucólica cidade de , perdida no meio dos imponentes fiordes noruegueses. Na Alemanha, estudou com Ernst Ferdinand Wenzel, amigo pessoal de Mendelssohn e Schumann, de quem o pupilo se tornaria fervoroso admirador. Conta-se que Grieg ficou para sempre impactado ao ouvir interpretar o Concerto Para Piano em Lá Menor de seu marido numa apresentação da Orquestra da Gewandhaus. Grieg comporia seu próprio Concerto Para Piano, na mesma tonalidade de Lá Menor, quando tinha apenas 25 anos. Estreado em Copenhague em 1869, o Concerto demonstra claramente a influência de Schumann, a começar pela estrondosa abertura, seguida por acordes em cascata. Com belíssimas me- lodias e uma cadência extremamente virtuosística, a peça arrancou aplausos entusiasmados da plateia dinamarquesa antes mesmo do final do primeiro mo- vimento. O sucesso da composição foi imediato, fa- zendo o nome Grieg circular por todo o continente. Depois das impressionantes explosões pianísticas do primeiro movimento, o “Adagio” envolve os ou- vintes numa atmosfera doce e ardente. O terceiro e último movimento retoma as exigências técnicas e traz referências à música tradicional norueguesa, tanto rítmica quanto melodicamente. O Concerto vem encantando gerações de grandes pianistas e compositores, desde e, mais tarde, Sergei Rachmaninov. Não é à toa que segue sendo uma das peças mais tocadas e apreciadas do repertório.

Ricardo Teperman é doutorando em Antropologia Social na Universidade de São Paulo e editor da Revista Osesp.

Edvard Grieg

20 21 Sugestões de Leitura

Norman Del Mar Richard Strauss: A Critical Commentary on his Life and Works GIANCARLO GUERRERO REGENTE DMITRY MAYBORODA PIANO Cornell University Press, 1986 Última Vez Com a Osesp em Novembro de 2013 primeira vez com a osesp Giancarlo Guerrero é diretor Nascido em Moscou, em 1993, George R. Marek musical da Orquestra Sinfônica Dmitry Mayboroda ingressou Richard Strauss: The Life of a Non-Hero de Nashville e principal maestro no Conservatório Tchaikosvky

Simon and Schuster, 1967 convidado da Orquestra de aos 17 anos, para estudar Cleveland/Miami Residency, com Valery Pyasetsky. Em cargo criado recentemente. Em 2005, venceu o Concurso Willi Schuch 2011, sua gravação da Sinfonia Internacional Nutcracker Richard Strauss: A Chronicle of the Early Years, 1864-1898 Metropolis e de Deus ex Machina, para Jovens Artistas e a

Cambridge University Press, 1982 de Michael Daugherty, com a Competição Alexei Orquestra Sinfônica de Nasedkin, em Yaroslav. Nashville, ganhou três prêmios No ano seguinte, recebeu Richard Strauss (ed. Willi Schuch) Grammy, incluindo a categoria o terceiro prêmio na Recollections and Reflections de Melhor Performance de Eurovision, em Viena. Greenwood Press, 1974 Orquestra. Nas últimas Também foi premiado temporadas, Guerrero pelo vii Festival Internacional Charles Rosen apresentou-se com a Orchestre de Música de Câmara de The Classical Style National du Capitole de Moscou, em 2007, e pela W.W. Norton, 1971 Toulouse, as filarmônicas de vi Competição Internacional Londres, da Radio France e de Tchaikovsky, na Coreia do G.W. Harris Copenhague, e as sinfônicas de Sul, em 2009. Apresenta-se A brief biography of Edvard Grieg Baltimore, Boston, Cincinnati, em festivais como Kissinger A.J. Cornell Publications, 2013 Dallas, Detroit, Houston, Klavierolympiade Indianápolis e da Rádio de e Kissinger Sommer, na Robert Layton Frankfurt, entre outras, além da Alemanha, e, em 2012, Grieg: Illustrated Lives própria Osesp. Em 2012 e 2013, apoiado pela Fundação Of The Great regeu também, com grande Rachmaninov (Genebra), Omnibus Press, 2011 sucesso, a orquestra do Festival apresentou-se com grande de Campos do Jordão — onde sucesso no Festival Internacional esteve novamente este ano. de Campos de Jordão.

Internet

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22 A vida também é feita de momentos que emocionam. É por isso que apoiamos a Osesp, uma experiência inesquecível para você que sabe aproveitar as coisas boas da vida. Banco do Brasil. Patrocinador da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

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24 10 DOM 16H Recitais Osesp

DMITRY MAYBORODA PIANO

FRÉDÉRIC CHOPIN [1810-1849] Balada nº 1 em Sol Menor, Op.23 [1833]

7 MIN

Noturno, Op.27 nº 2 em Ré Bemol Maior [1836]

6 MIN

Noturno, Op.32 nº 2 em Lá Bemol Maior [1837]

4 MIN

Noturno, Op.48 nº 1 em Dó Menor [1841]

8 MIN

Valsa, Op.34 nº 1 em Lá Bemol Maior [1835]

6 MIN

Polonaise nº 6 em Lá Bemol Maior, Op.53 [1842]

8 MIN ______

SERGEI RACHMANINOV [1873-1943] Ciclo Rachmaninov nº 1 Para Piano em Ré Menor, Op.28 [1907] - Allegro Moderato - Lento - Allegro Molto

40 MIN

25 ecnicamente, um século os separaria, se con- Musicólogos menos simpáticos costumam im- siderássemos o intervalo entre os anos em que pingir a Chopin e Rachmaninov a pecha de “com- a vida criativa de cada um deles foi silenciada positores de salão”. Em que pese o temperamento pela morte. Musicalmente, porém, vários fa- mais mundano do que filosófico de ambos, ou o Ttores aproximam o franco-polonês Frédéric Chopin anacronismo estilístico de Rachmaninov, em par- e o russo imperial Sergei Rachmaninov. Que ambos ticular, trata-se de gênios — como intérpretes e tenham passado suas últimas décadas no desterro como compositores. Ambos transferiram para o configura, em escala histórica, uma “coincidência” piano o virtuosismo do qual eram excepcional- política — ainda que os respectivos exílios tenham mente dotados e com o qual obtiveram notoriedade sido motivados pela mesma nação, a Rússia. mundial. Num artigo da época, a Gazette Musicale Chopin, nascido em família modesta, porém edu- parisiense declarava Chopin — e não Liszt! — “o cado na aristocracia (em torno da qual jamais deixou maior pianista do mundo”. Rachmaninov faria for- de gravitar), deixa Varsóvia carregando literalmente tuna extraordinária como concertista na Europa um punhado de terra de seu país natal às vésperas ocidental e nos Estados Unidos. O inventário que da insurreição popular que fracassaria sob as botas deixaram constitui um desafio olímpico e expressi- russas. Nunca mais voltou. Enterrado no cemitério vo, somente vencido pelos maiores instrumentistas. Père Lachaise, em Paris, teve, a seu pedido, o cora- Do ponto de vista do léxico musical, ambos se ção trasladado para a Polônia. fundem no arrebatamento carregado de páthos, no Rachmaninov, descendente de uma linhagem de lirismo exacerbado por cromatismos tonais, na or- senhores feudais da Moldávia, se autoexila com a Re- namentação que beira a coloratura vocal e, bem a volução de Outubro de 1917, orbitando entre França, propósito, na paixão pela ópera refletida em pági- Suíça e Alemanha, até se fixar nos Estados Unidos, nas pianísticas em que reina, absoluta, a melodia. O onde morre em Los Angeles. No apogeu, ambos vi- piano deve “cantar”, a mão direita como que deslo- vem faustosamente no estrangeiro. Mas nenhum deles cada de toda a complexa estrutura contrapontística superaria a nostalgia da pátria. e harmônica, dos acordes quebrados, arpejados, O quanto acontecimentos históricos e políticos num tempo dito rubato (roubado), a ser por sua podem afetar a criação musical seria objeto de farta vez sustentado literalmente com pulso firme pela discussão, mas o fato é que nem mazurcas nem mão esquerda. Para pianistas da tradição dos gran- Polonaises, entre as quais a nº 6 - Heroica, com toda sua des conservatórios (da qual os países do Leste são “tensão revolucionária”, fizeram deles compositores exemplares), amar Chopin equivale a amar Rach- propriamente nacionalistas. O que os aproxima de- maninov, noblesse oblige. cisivamente, num impensável vértice temporal, é a inclinação romântica de dois músicos que fizeram do Balada nº 1, a Polonaise nº 6 - Heroica, a Valsa piano seu elemento principal. nº 1 e os Noturnos são peças em que se pode No livro O Óbvio e o Obtuso, Roland Barthes afir- observar o apreço acentuado de Chopin ma que todo instrumento, desde o mais remoto, é pelos tempos (ou subdivisões) ternários e um signo social e implica uma ideologia — seja de Anas quais se evidencia, conforme nota o compositor uma época ou de uma circunstância. E é também ele Pierre Boulez, a volatilidade da invenção espontânea, quem nos lembra que o piano moderno, tal como alheia ao rigor das grandes formas clássicas, em favor construído no século xix, é um instrumento de clas- da expressão “do instante”.1 São obras contundentes, se: um instrumento para o grande público, não mais embora relativamente breves (sendo os Noturnos qua- para a intimidade dos pequenos recintos. O piano se miniaturescos, “pré-impressionistas”, nas palavras romântico (exceção feita a Schumann) seria a exte- do pianista Alfred Cortot), se comparadas ao tour de riorização do sujeito tumultuado. force único e de discurso praticamente ininterrupto

1. Boulez, Pierre. Jalons (Pour Une Décennie) (Paris: Christian Bourgois Éditeur, 1989).

26 Gravações Recomendadas da Sonata nº 1, de Rachmaninov. Concluída em 1908 e inicialmente pensada como música programática a partir do Fausto de Goethe, ela não traduz com fide- lidade a forma-sonata clássica, assumindo mais a de- CHOPIN senvoltura de uma longa rapsódia em três movimen- The tos, em reiterativo Ré Menor. A Sonata permaneceu Nelson Freire, piano

DECCA, 2010 injustamente à sombra dos grandes monumentos da literatura pianística. Favorite Piano Works Há um continuum implícito entre Chopin e Vladimir Ashkenazy, piano Rachmaninov, que remonta a um denominador co- DECCA, 1996 mum: Franz Liszt, de quem Chopin foi par e cuja escola virtuosística chegou até Rachmaninov por Evgeny Kissin plays Chopin meio de Alexander Siloti, seu primo e ex-aluno do Evgeny Kissin, piano compositor húngaro. Talvez se possa afirmar que RCA, 2007 Chopin é o tema e Rachmaninov, sua melhor va- The Nocturnes riação (em 1903, ele chegou mesmo a compor suas Variações Sobre um Tema de Chopin, a quem tinha Maria João Pires, piano

D eutsche Grammophon, 1996 como modelo). “Variação”, na acepção musical, in- dica o desenvolvimento de uma ideia. Em Rachma- Preludes, Ballades ninov, a melodia prepondera, porém com contor- Alfred Cortot, piano nos e volutas mais contrapontísticas, encadeada na Naxos Historical, 2005 nota superior dos acordes, agora também exigidos da mão direita. Ouve-se nele as ressonâncias da cha- 14 Valses, etc. mada blue note, a “nota azul”, aquela doce fisgada de , piano dissonância que tanto caracteriza a melancolia por EMI, 1950-1997 vezes mórbida de Chopin, mas agora sob nova lumi- nosidade. Sim, ambos são noturnos. Em Rachmani- Polonaises nov, porém, haverá sempre um prenúncio de auro- Maurizio Pollini, piano ra boreal: suas cores difusas, seja qual for o matiz, Deutsche Grammophon, 1998 como que dançam e brincam no espaço sonoro.

Regina Porto é compositora e pesquisadora. Produtora do RACHMANINOV projeto Acervo Osesp (2012-3), foi diretora da rádio Cultura FM de São Paulo e editora de música da revista Bravo!. Piano Nº 1 & Nº 2 Alexis Weissenberg, piano

Deutsche Grammophon, 1989

Piano Sonatas Nº 1 & Nº 2 Nikolai Lugansky, piano

Na ïve, 2012

Variations on a Theme of Chopin; 1 Boris Berezovsky, piano

Teldec, 1994

27 Sugestões de Leitura

Sergei Bertensson e Jay Leyda - A LIFETIME IN MUSIC PIANO Indiana University Press, 2009 DMITRY MAYBORODA primeira vez com a osesp Nascido em Moscou, em 1993, Jean-Jacques Groleau Dmitry Mayboroda ingressou Rachmaninov no Conservatório Tchaikosvky Actes Sud, 2011 aos 17 anos, para estudar com Valery Pyasetsky. Em Roland Barthes 2005, venceu o Concurso O óbvio e o obtuso Internacional Nutcracker Nova Fronteira, 1990 para Jovens Artistas e a Competição Alexei Nasedkin, em Yaroslav. Pierre Boulez No ano seguinte, recebeu Jalons (pour une décennie) o terceiro prêmio na Christian Bourgois Éditeur, 1989 Eurovision, em Viena. Também foi premiado pelo vii Festival Internacional de Música de Câmara de Internet Moscou, em 2007, e pela vi Competição Internacional Tchaikovsky, na Coreia do www.rachmaninoff.org/ Sul, em 2009. Apresenta-se em festivais como Kissinger Klavierolympiade e Kissinger Sommer, na Alemanha, e, em 2012, apoiado pela Fundação Rachmaninov (Genebra), apresentou-se com grande sucesso no Festival Internacional de Campos de Jordão.

28 LEVAR VOCÊ PARA ONDE QUISER. É ISSO QUE A MÚSICA FAZ. É ISSO QUE A CCR FAZ. A CCR está há 15 anos trazendo inovação e modernidade para a infraestrutura brasileira e para o desenvolvimento cultural do Brasil, ao apoiar projetos como o da Osesp, que há 60 anos valoriza e desenvolve a nossa música. É assim que a CCR leva você e nossa cultura adiante. Saiba mais em: www.ccr.com.br/sustentabilidade

É por aqui que a gente chega lá. 29

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ANTÔNIO CARLOS GOMES [1836-96] Lo Schiavo: Alvorada [1889] 8 MIN

JOHN ADAMS [1947] Concerto Para Saxofone [2013] [Coencomenda Com Sinfônicas de Sidney, Saint Louis e Baltimore. Estreia Latino-americana] - Animato - Moderato - Tranquillo, Suave - Molto Vivo (a Hard Driving Pulse) 32 MIN ______

PYOTR I. TCHAIKOVSKY [1840-93] Sinfonia nº 5 em Mi Menor, Op.64 [1888] - Andante/Allegro Con Anima - Andante Cantabile, Con Alcuna Licenza - Valse: Allegro Moderato - Finale: Andante Maestoso/Allegro Vivace (Alla Breve) 50 MIN

No início da década de 1980, a figura humana reapareceu na pintura de Iberê Camargo. Morando novamente em Porto Alegre, o artista tinha o costume de desenhar no Parque da Redenção. Entre seus frequentadores, os ciclistas lhe chamavam a atenção de maneira especial. As anotações em seu caderno, inicialmente simples registros de passeios no parque, logo ganhariam um significado maior. Ao lado dos Carretéis e das Idiotas, os Ciclistas se tornaram um elemento emblemático em sua obra. Por meio desses personagens, Iberê expressou sua angústia e seu ceticismo diante da modernidade. Carregadas de matéria pictórica, essas figuras, desprovidas de feições, vagam sem rumo, em um pedalar que parece não levar a lugar algum. Fundação Iberê Camargo

Uma parceria entre a Fundação Osesp e a Fundação Iberê Camargo, de Porto Alegre, permitirá que, ao longo da Tempora- Ciclistas, 1989 da, cada número da Revista Osesp traga a reprodução de uma obra óleo sobre tela de Iberê, cujo centenário de nascimento se celebra em 2014. As 180 x 213 cm col. Maria Coussirat Camargo, obras foram escolhidas e comentadas pela equipe de Acervo e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre Catalogação da Fundação Iberê Camargo.

31 arlos Gomes parece ter aceitado com inha primeira obra depois de O Evan- entusiasmo o papel de “Maestro da Abo- gelho Segundo a Outra Maria, um imen- lição”, que lhe foi conferido por André so oratório de três horas de duração, Rebouças. Encerrando sua longa turnê o Concerto Para Saxofone foi composto Cpelo Brasil em 1880, no mesmo dia de sua partida Mno começo de 2013. Seria muito difícil traçar pa- do Rio de Janeiro, sentaria com o visconde de Tau- ralelos entre duas criações tão díspares. Uma lida nay a uma mesa do Hotel de França para redigir o com questões como crucificação, ressurreição e esboço de um libreto sobre a questão escravista. O julgamentos de mulheres agredidas. A outra tem texto esboçado por Taunay seria o germe do Schiavo: como fonte meu interesse de longa data pelos gran- tratava originariamente de uma revolta de escravos des saxofonistas de jazz, desde a era do swing até num engenho do começo do século xix. [...] John Coltrane, Eric Dolphy e Wayne Shorter. Ain- Musicalmente, Lo Schiavo poderia ter sido a obra- da assim, há algumas afinidades peculiares entre as -prima de Carlos Gomes — e ainda o é, se conside- obras, particularmente o uso de escalas modais e a rarmos os trechos avulsos, abstraídos do contexto. O maneira como elas colorem a atmosfera emocional primeiro ato leva ao paroxismo aquela gesticulação da música. Ambas iniciam com uma série de escalas exagerada e vazia que será a pior parte do verismo ascendentes, saltando energicamente para a frente e italiano; o segundo, atrapalhado pelo longo cerimo- para trás sobre as várias harmonias modais. nial do hino à liberdade, reveste-se do caráter está- As plateias norte-americanas conhecem o saxo- tico e pesado do Meyerbeer menos convincente — fone quase que exclusivamente por seu uso no jazz, dissolve, aliás, toda possibilidade de aprofundamento no soul e na música pop. Os momentos do saxofone do caráter da condessa, que começa como uma típica no repertório clássico são raros: suas aparições fa- soprano ligeiro à francesa, cocote de coração grande, mosas limitam-se a um punhado de solos em obras e de repente é obrigada a encarnar a augusta figura da de Ravel (no Bolero e em sua orquestração de Quadros princesa imperial. Os últimos dois atos, porém, são de Uma Exposição, de Mussorgsky), de Prokofiev (suíte certamente os mais felizes de toda a obra de Gomes. O Tenente Kijé e Romeu e Julieta), de Milhaud (A Criação Repletos de uma melodia cativante e sinuosa, que an- do Mundo) e, claro, o solo de “Jet Song”, de West Side tecipa Puccini, articulam-se em grandes estruturas Story, de Leonard Bernstein, provavelmente um dos cênicas sem solução de continuidade. motivos de cinco notas mais imediatamente reco- O dueto entre Ilara e Iberê, por exemplo, leva a nhecíveis de todos os tempos. cabo a tentativa já esboçada, sem resultado compa- Além disso, o saxofone aparece como um instru- rável, no dueto de Giovanna e Gilberto, em Maria mento que compositores clássicos empregam nor- Tudor: um diálogo cantábile sem ser estrófico, ex- malmente como “efeito especial”. É difícil acreditar pressivo, mas doce, feito de hesitações mais do que que um instrumento que se originou em circuns- de ímpetos, entre a paixão infeliz de um barítono tâncias tão específicas — foi projetado na metade apaixonado e a reticência da soprano — uma si- do século xix, principalmente para uso em bandas tuação que reencontramos, no grau mais alto de militares na França e na Bélgica, como uma ex- intensidade e perfeição, no dueto entre Michele e tensão da família dos metais — tenha se tornado Giorgetta do Tabarro, de Puccini. A famosa “Alvorada”, o veículo transformador da música vernácula (jazz, mais do que um trecho sinfônico autônomo, é uma rock, blues e funk) no século xx. No entanto, sua in- cenografia sonora. Demonstra, contudo, a costumei- tegração ao mundo da música clássica tem sido lenta ra habilidade do compositor e seu prazer sensual na e pouco entusiasmante. manipulação do som. Tendo sido criado ouvindo o som do saxofone praticamente todos os dias — meu pai tocou sax alto Lorenzo Mammi é diretor do Centro Universitário Maria em bandas de jazz durante os anos 1930, e nossa Antonia, professor de filosofia na USP e autor de O Que Res- coleção de discos foi bem abastecida com álbuns ta (Companhia das Letras, 2012) e Volpi (Cosac & Naify, 1999), entre outros livros. Trechos de Carlos Gomes (Série dos grandes mestres —, para mim ele nunca foi um “Folha Explica”, Publifolha, 2001). instrumento estranho. Um dos trechos mais conhe-

32 John Adams e Timothy McAllister com a Sinfônica de Sidney na estreia mundial do Concerto Para Saxofone, em 2013. foto de jane dempster cidos de minha ópera Nixon na China é seu quarte- Durante um jantar, Tim mencionou que havia to de saxofones, que dá à orquestração um timbre sido campeão fazendo acrobacias de bicicleta du- especial. Dei sequência a Nixon com outra obra, rante o colegial. Imediatamente soube que devia Fearful Symmetries, que utiliza um quarteto de sa- compor um concerto para esse músico destemido. xofones num papel ainda mais saliente. Em 2010, Sua personalidade musical excepcional tinha sido o compus City Noir, uma sinfonia com inflexões ingrediente-chave das performances e gravações de de jazz incluindo um solo para sax alto diabolica- City Noir, e eu percebia que nessa obra havia apenas mente difícil, uma figura musical derivada do estilo começado a arranhar a superfície de sua capacidade. selvagem e arisco dos grandes artistas do bebop e pós- Ao escrever um concerto para piano ou violi- -bebop, como Charlie Parker, Lennie Tristano e no, um compositor pode recorrer a um gigantesco Eric Dolphy. Encontrar o solista que pudesse repositório de modelos do passado. Mas há pou- tocar nesse estilo e ao mesmo tempo fosse sufi- cos bons concertos para saxofone, e os que exis- cientemente treinado para ser capaz de se sen- tem não me dizem grande coisa. Por outro lado, tar no meio de uma orquestra sinfônica moderna conheço uma boa quantidade de gravações de jazz foi uma tarefa difícil. Felizmente, encontrei que poderiam formar a base de meu pensamento Timothy McAllister, hoje o grande mestre do composicional, entre elas o disco de Stan Getz de saxofone clássico, além de ser também conhecedor 1961, Focus, com arranjos de Eddie Sauter. Apesar da tradição do jazz. de ser claramente criação de “estúdio”, esse álbum

33 Gravações Recomendadas apresenta uma escrita para cordas baseada em Stravinsky, Bartók e Ravel. Outro disco, Charlie Parker GOMES And Strings, de 1950, ainda que mais conservador no Seleção de Fosca e Lo Schiavo formato, também me ajudou a estabelecer o cenário Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC mental de como o sax alto pode flutuar por sobre a orquestra. Outro álbum que já conhecia desde a Nino Stinco, regente adolescência, New Bottle Old Wine, com Cannonball Pro-memus, 1982 Adderley e o maior orquestrador de jazz de todos os tempos, Gil Evans, não me saiu da cabeça durante TCHAIKOVSKY toda a composição do Concerto. Sinfonia nº 5; A Tempestade Saxofonistas clássicos são normalmente forma- John Neschling, regente dos na escola francesa, em que se deve produzir um Fabio Mechetti, regente som com um rápido vibrato, bem ao contrário do

B iscoito Fino, 2011 estilo mais solto e granulado de um jazzista. Não é The Symphonies necessário dizer que minha preferência recai sobre Russian National Orchestra o segundo estilo e, em discussões que tivemos du- Mikhail Pletnev, regente rante a criação da peça, retornei repetidas vezes à

Deutsche Grammophon, 2010 ideia de um som “americano” como modelo para Tim. Uma troca como essa não é coisa pequena para um virtuose de uma escola com estilo inteira-

DVD mente diferente. Seria como pedir a alguém habi- tuado às cantatas de Bach que cantasse uma canção

ADAMS de Billie Holiday.

City Noir Ainda que esse Concerto não tenha a intenção de Filarmônica de Los Angeles soar propriamente jazzy, suas influências de jazz Gustavo Dudamel, regente são evidentes. Faço uso constante da aclamada agi- lidade do instrumento, além de sua capacidade de Deutsche Grammophon, 2009 gerar uma dicção lírica muito próxima da voz hu- mana. A forma do Concerto é familiar àqueles que conhecem minhas outras peças orquestrais, como o Concerto Para Violino, City Noir e meu concerto para piano Century Rolls. Ele começa com uma longa primeira parte combinando um movimen- to rápido com um lento e lírico. Segue-se uma segunda parte mais curta, uma espécie de rondó- -funk pulsante e rápido. O Concerto dura em torno de 32 minutos, cons- tituindo-se numa afirmação extensa e pouco usual de um instrumento que ainda procura seu lugar de direito no repertório sinfônico.

John Adams. Tradução de Rodrigo Vasconcelos.

34 a primeira metade do século xix, o crí- À diferença desses compositores, que, em ge- tico russo Vissarion Bielínski escreveu ral, não se acanhavam de se declarar autodidatas que “nossa literatura, semelhante a nossa e até de se definir como músicos de fim de sema- sociedade, foi transplantada de um solo na, em desafio às convenções da alta sociedade, Nalheio para o nosso”.1 Assim os russos, em geral, per- Tchaikovsky teve uma formação profissional estrita cebiam as transformações históricas de que eram, ao e viveu só de música. Sua Sinfonia nº 5 foi composta mesmo tempo, o agente e o objeto. Em vez de se em 1888, quando estava com 48 anos de idade, no desenvolverem gradualmente no país, formas sociais auge da carreira (ele morreria cinco anos depois). foram introduzidas prontas e em bloco, no esforço No arcabouço sinfônico consolidado pela tradição de instituir na Rússia um Estado moderno, à luz dos alemã, Tchaikovsky enfatiza o material melodioso, modelos europeus, tidos como superiores. exacerba a dramaticidade, dá alguma voz solista a Só que a Rússia abrigava uma sociedade comple- quase todos os instrumentos, reitera os temas co- xa, consolidada por muitos séculos de história. A po- piosamente e se aventura em digressões emotivas pulação, em suas diversas classes, era portadora de arriscadas, mesmo aos ouvidos de um romântico tradições, saberes e perspectivas que não se assimi- europeu. Não admira que Brahms tenha aprovado a lavam aos critérios inerentes àquelas formas sociais. obra, a não ser pelo último movimento. O conflito resultante foi duradouro e imprimiu um A profusão de melodias populares russas e eslavas dinamismo incomum às aspirações e aos questiona- que Tchaikovsky disseminou pelos quatro movimen- mentos expressos na arte e no pensamento russos. tos está mais concentrada justamente no “Finale”. E Os padrões métricos da poesia, o romance, assim se nos detivermos nas demoradas notas no registro como a ópera, a sinfonia, o balé e os próprios ins- mais grave dos contrabaixos e fagotes no fim do pri- trumentos da música de concerto desembarcaram na meiro movimento, não será difícil ouvir ali a voz dos Rússia prontos, acabados. Artefatos para serem usa- baixos profundos dos muito antigos coros sacros da dos e não propriamente produzidos. A passividade Igreja Ortodoxa russa. implícita nesse processo enfrentou uma resistência São exemplos de como mesmo um compositor às inesperada. Por trás e por dentro das estruturas tra- vezes tido como ocidentalista por alguns de seus pa- zidas de fora, as raízes históricas russas abriram ca- res russos conseguiu, mediante uma construção mu- minhos surpreendentes para se desenvolver. sical à primeira vista anômala, abrir uma perspecti- A rigor, nenhuma dessas formas artísticas passou va que permite encarar a história de outro ângulo. E incólume pela Rússia. As pretensões de superioridade o importante é que, vistos ou ouvidos daquele lado, e de primor cultural, de que eram mensageiras, foram conceitos supostamente universais e superiores se questionadas por dentro, o que afetou seus pressupos- mostram bem menos seguros de si. tos e seus traços constitutivos. Nem era necessário que os artistas tivessem consciência do conflito, pois Rubens Figueiredo é tradutor e autor de As Palavras Secretas (Companhia das Letras, 1998), Barco a este era o próprio conteúdo de suas vidas. Suas obras, Seco (Companhia das Letras, 2001) e Passageiro do Fim em direções e graus variados, davam voz a ele. do Dia (Companhia das Letras, 2010), entre outros livros. É o que a obra de Tchaikovsky ilustra à perfeição. Ela surgiu num ambiente musical integrado ao am- plo debate em curso sobre o destino do país. Desde , alguns anos antes, passando por Balakirev, Mussorgsky, Borodin e Rimsky-Korsakov, o horizonte de uma música especificamente russa vi- nha alimentando os experimentos dos compositores e as expectativas do público.

1. Gomide, Bruno (org.). Antologia do Pensamento Crítico Russo (São Paulo: Editora 34, 2013), p.122.

35 Sugestões de Leitura

Lorenzo Mammì

Carlos Gomes (Série “Folha Explica”)

Publifolha, 2001 MARIN ALSOP TIMOTHY MCALLISTER SAXOFONE Marcus Góes DIRETORA MUSICAL E REGENTE TITULAR Primeira Vez Com a Osesp Carlos Gomes – documentos Regente titular da Osesp Timothy McAllister é doutor comentados desde 2012, a nova-iorquina pela Universidade de Michigan, Algol, 2008 Marin Alsop foi a primeira onde estudou saxofone com mulher a ser premiada com Donald Sinta e regência com Thomas May (org.) o Koussevitzky Conducting H. Robert Reynolds. Como The John Adams reader: Essential Prize do Tanglewood Music solista, já se apresentou em writings on an american composer Center, onde foi aluna de salas como Carnegie Hall, em Amadeus Press, 2006 Leonard Bernstein. Formada Nova York, Jordan Hall, em

Alexander Poznansky pela Universidade de Yale, é Boston, Walt Disney Concert

Piotr Tchaikovsky diretora musical da Sinfônica de Hall, em Los Angeles, Sumida Baltimore desde 2007. Lidera Triphony Hall, em Tóquio, e G. Ermakoff, 2012 atividades educacionais que Zaal de Unie, em Roterdã. Em Bruno Gomide (org.) atingem mais de 60 mil alunos: agosto de 2013, foi responsável

Antologia do pensamento em 2008, lançou o OrchKids, pela estreia mundial do Concerto crítico russo programa destinado a prover Para Saxofone, de John Adams, Editora 34, 2013 educação musical, instrumentos com a Sinfônica de Sydney, e orientação aos jovens menos sob regência do próprio favorecidos da cidade. Como compositor. É membro do Internet regente convidada, apresenta-se quarteto Prism, professor regularmente com a Filarmônica e codiretor do Institute for www.earbox.com de Nova York, a Orquestra de New Music da Northwestern www.tchaikovsky-research.org/ Filadélfia, a Sinfônica de University e, em 2003, atuou Londres e a Filarmônica de Los como professor convidado Angeles, entre outras. Em 2003, no Conservatoire National foi a primeira artista a receber, Supérieur de Musique, no mesmo ano, o Conductor’s em Paris. Award, da Royal Philharmonic Society, e o título de Artista do Ano, da revista Gramophone. Em 2005, foi a primeira regente a receber a prestigiosa bolsa da Fundação MacArthur e, em 2013, a primeira a reger a “Last Night of ” do festival londrino promovido pela BBC. No início de 2014, foi escolhida pela rede CNN como uma das sete mulheres de mais destaque no mundo, no ano anterior.

36 Anuncio_Musica_Cabeca.ai 1 28/07/14 14:16

C ENCONTROS M

Y CM O projeto Música na Cabeça é 4 SET QUI 19H30 MY uma série de palestras sobre COM CELSO LOUREIRO CHAVES CY música e encontros com artistas. CMY A participação é gratuita e aberta Sobre a “Estética do Frio III” - Homenagem a K a todos interessados. Leonard Bernstein, encomendada pela Osesp 21 SET DOM 15H Inscreva-se pelo site osesp.art.br COM SERGIO ASSAD Vagas limitadas e abertas somente com 15 dias de antecedência às. Sobre "Sonhos e Memórias", Para Corne-Inglês palestras e encontros. e Cordas, encomendada pela Osesp

Praça Julio Prestes, 16 Programação sujeita a alterações.

REALIZAÇÃO

37 Sem Título, 2014, aquarela de Marina Rheingantz

38 28 QUI 21H Cedro

29 SEX 21H Araucária

30 SÁB 16H30 Mogno

BRAD MEHLDAU & KEVIN HAYS DUO PIANO

DIVERSOS Modern Music

90 MIN

O repertório será decidido na hora pelos artistas.

39 projeto Modern Music — no qual Brad O arranjador Patrick Zimmerli teve a mesma trajetória Mehldau e Kevin Hays tocam o reper- que Mehldau e Hays. Cresceu em West Hartford, tório de jazz e de música clássica con- Connecticut, tocando saxofone no mesmo reconhecido temporânea em arranjos do compositor programa de jazz da William H. Hall High School que OPatrick Zimmerli, ao lado de músicas novas e origi- Mehldau. Além disso, conheceu Hays, outro nativo de nais — nasceu do desejo antigo de Mehldau e Hays Connecticut, durante competições musicais. Mas a bem- de colaborar num formato de dois pianos. Desde o fim -sucedida carreira de Zimmerli como intérprete ficou à dos anos 1980, haviam sido companheiros de viagem sombra de sua estatura crescente como compositor e na cena de jazz em Nova York. Inicialmente, am- arranjador no mundo clássico contemporâneo. Trazido bos se destacaram com passagens individuais tocando por Hays, Zimmerli tornou-se o catalisador das sessões de com o quarteto do saxofonista Joshua Redman, antes de gravação do disco Modern Music, oferecendo ideias de re- se lançarem em carreiras bem-sucedidas como solistas e pertório e apresentando desafios criativos que levaram esses líderes de bandas. grandes pianistas bem além de suas veredas familiares.

HAYS: Brad é alguns anos mais novo do que eu, ZIMMERLI: Conheço Brad há ainda mais tempo do mas nós basicamente surgimos juntos. Costumá- que Kevin, há 25 anos. Brad e eu estudamos na mes- vamos ir ao Village Gate, na Bleeker Street, para ma escola secundária. Sou só dois anos mais velho e, experimentar esse negócio chamado jazz. Lembro quando ele chegou à escola — o que ele mesmo não de ser imediatamente tocado por seu jeito de me deixa esquecer! —, eu era um purista delirante tocar e pelo som maravilhoso. Já dava para ouvir do jazz, e minha atitude em relação aos calouros que a profundidade e o foco: sua abordagem original gostavam de Grateful Dead era, digamos, menos da harmonia e do encadeamento de vozes, que só do que tolerante. Quando Brad desembarcou em se aprofundaram mais tarde. Podia-se dizer que Nova York anos depois, tinha havido uma conside- ele simplesmente havia feito a lição de casa, mas rável transformação. Brad não apenas havia domi- havia algo a mais acontecendo, algo especial nado a tradição jazzística, como também tocava se preparando nessa sua mente tão musical, uma com tremenda paixão e intenso calor um fluxo cabeça única e penetrante. vulcânico de ideias. Eu também estava no ensino médio quando co- MEHLDAU: Quando cheguei pela primeira vez a nheci Kevin numa competição nacional de música. Nova York, em 1988, Kevin era um importante Ele já era um pianista inacreditável, com um swing modelo de pianista. Era alguém com mais ou me- mais intenso do que todos, e tocava com uma pro- nos a minha idade e um pouco de experiência fundidade, com um gosto e maturidade muito além a mais, então notei o que estava fazendo, e ele foi de sua idade. Mesmo quando ainda estava cons- uma influência, particularmente pela maneira truindo o nome como um dos melhores pianistas de como tocava nos grupos de outras pessoas. jazz de sua geração, Kevin já desejava transcender Kevin é um grande acompanhador, entre outras sua formação de jazzista. Tínhamos em comum um coisas. O respeito que tinha por ele naque- interesse aguçado por música escrita em partitura e les anos de juventude jamais diminuiu, apenas pela tradição clássica, o que levou a numerosas co- mudamos muito enquanto músicos. De qual- laborações por esses anos. Eu escrevia música que quer forma, há ainda algo da identidade que já nos desafiava tanto técnica quanto esteticamente estava lá no Village Gate: a inteligência rápida, a e que expandia nosso senso do que era possível curiosidade e a fome de seguir por uma rota enquanto improvisadores. diferente e não prescrita. Isso ainda me inspira Quando Kevin conversou com Brad sobre o pro- — sinto que devo realmente estar à altura quando jeto a dois pianos, no começo de 2007, ele estava toco com ele. Kevin é profundo — o que à procura de um produtor. Propus que fizéssemos im- ele toca é sentido profundamente, ele escuta e provisos sobre arranjos de música clássica contempo- estuda profundamente. rânea; e foi assim que o projeto se desenvolveu.

40 Foi ótimo trabalhar com esses dois exímios im- Brad, eu me questionava em relação à dificulda- provisadores, que também podiam ser desafiados de inerente à tentativa de que dois pianos impro- com música escrita em partitura. Eu quis usar os visassem juntos com alguma liberdade. Não sabia dois pianos das mais diversas maneiras. Às vezes se manteríamos uma linha coerente. Já é difícil Brad tocava uma base no registro agudo enquanto o bastante com apenas um piano! Mas depois des- Kevin solava no registro mais grave, ou vice-versa: às sas sessões informais, pensei: “Isso pode realmente vezes Kevin tocava direto nas cordas, por dentro do dar certo”. Para mim, o projeto começou de fato piano, enquanto era Brad quem improvisava. naquele momento.

MEHLDAU: É muito estimulante trabalhar com Pat, ZIMMERLI: Começamos com Metamorfoses e depois tanto para mim quanto para Kevin, porque somos sugeri diversas outras composições que tinham gran- músicos de jazz que se interessam por composição de significado para mim: Música Para Dezoito Músicos, em grande escala. Pat é um compositor que com- de Steve Reich, Quarteto nº 5, de Philip Glass — na preende os gestos do jazz — ele entende como fun- minha visão, uma de suas peças mais profundas —, e ciona, porque isso faz parte de sua formação. Por também a Tabula Rasa, de Arvo Pärt, e a Sinfonia nº 3, isso sabia exatamente como criar desafios para nós e de Henryk Górecki. realmente nos levou a novos territórios. Tinha uma Havíamos planejado incluir um standard de visão do material que escrevia e arranjava, trazendo jazz no repertório e, após alguma discussão, optamos uma tensão estimulante quando era o que estávamos por Lonely Woman, um tema que sempre adorei e precisando, ao mesmo tempo em que foi hábil para para o qual tinha uma ideia que abrangia o piano nos deixar fazer o que sabíamos. todo numa abordagem da melodia por meio de um acorde de vinte notas. Trabalhei em motivos de as- Em suas conversas por telefone, quando Hays ainda vi- pecto minimalista, tentando manter no arranjo o es- via em Santa Fé, Novo México, o diálogo entre Hays e pírito do que estava em volta. Mehldau foi deflagrado pelo interesse comum em explo- Também queríamos uma peça original, então rar arranjos sobre as Metamorfoses, de Richard Strauss, escrevi Modern Music, enquanto Brad e Kevin um lamento pós-Segunda Guerra Mundial, originalmen- debruçaram-se sobre peças preexistentes: Unrequited te escrito para 23 instrumentos de cordas solistas. Strauss e Elegia, duas lindas melodias, com deliciosas embarcou nessa peça elegíaca após a destruição do Teatro progressões harmônicas. Nacional, em Munique, durante os ataques aéreos à ci- dade em 1943. Estreada depois da vitória dos aliados na HAYS: A música de Patrick é altamente estruturada; Europa, Metamorfoses serviu como memorial à arte e à todos os solos são bastante definidos, mas começamos música que se perderam, física e metaforicamente, durante a abri-los um pouco nas performances ao vivo. Há mais a guerra. Hays, Mehldau e Zimmerli continuaram a traba- espaço para respirar nas peças de Brad e nas minhas; lhar na peça no período de gestação de Modern Music. elas se aproximam mais de uma abordagem intuitiva, à O arranjo não chegou à sessão final, mas provou ter valor por qual estamos mais acostumados, com muita escuta e res- estabelecer o tom e a direção das coisas. posta. Tocando com outros músicos, estamos frequen- temente no papel de acompanhantes e é preciso manter HAYS: Metamorfoses é uma peça que nós dois ado- os ouvidos abertos o tempo todo. Num instante você rávamos — Brad estava inclusive estudando ela na- deve perguntar a si mesmo, para tomar uma decisão: quele momento, então houve uma sincronia incrível. “O que esse acorde precisa em relação ao que o outro cara Ele de fato tinha em mente estudar o repertório está tocando? Como e onde colocar a nona ou a décima clássico. Quando me instalei de novo em Nova primeira? Ou devo somente deixar um espaço?” Brad York — não muito longe de onde ele mora —, tem um ouvido incrível e é ótimo nesse jogo. É mais carreguei um piano elétrico para sua casa e demos que estimulante tocar com ele, ainda mais quando a partida. Devo confessar que, apesar do meu en- improvisamos. Parece haver uma sintonia natural e o tusiasmo com a perspectiva de um projeto com o elemento intuitivo realmente funciona.

41 MEHLDAU: Tivemos muitas discussões sobre como HAYS: Inicialmente, com as peças de Reich e de improvisar em determinada passagem — muito, Glass, não estava convencido de que poderíamos fa- pouco, quanto? E o tipo de improvisação estava zer o material funcionar nesse contexto — e não sei sempre fora de nossa zona de conforto. Diz-se que, se o Brad estava. Era um lugar interessante de ten- quando um músico de jazz improvisa, ele está tra- são no caminho — e não quero dizer isso de forma balhando intuitivamente — está fazendo algo natu- negativa. Ambos acreditávamos que Pat tinha algo ral, permitindo a suspensão de seu intelecto por um em mente. Depois de termos tocado Dezoito Músicos momento. Nesse projeto era diferente, porque Pat algumas vezes, lembro do Brad me dizer: “Acho que estabelecia desafios únicos para nós. Um exemplo demos um giro de 180 graus com isso”. A peça havia entre tantos: na composição de Pat, Modern Music, há se tornado muito interessante e também divertida uma parte em que ele nos pede para improvisar com de tocar. Nós só não estávamos acostumados a tocar a mão direita ao mesmo tempo em que se tem de to- daquela maneira. car algo escrito com a mão esquerda. Parece fácil no papel, mas isso se provou um grande desafio para nós MEHLDAU: Sim, essas duas foram daquelas com dois. Tocar algo totalmente improvisado, ok. Tocar que tanto Kevin quanto eu apanhamos, porque real- algo completamente escrito, sem problemas. Mas mente nos tiravam de nossa zona de conforto. Mui- meio a meio? Super difícil! to do que me influencia está mais na tradição da música clássica germânica e francesa. Encontro Depois de resolvidas as datas para as sessões, Zimmerli algo novo ao mudar o contexto, deslocando-a para sugeriu um espaço acusticamente abençoado chamado Me- um ambiente de jazz. Mas Reich e Glass — sem ti- chanics Hall, em Worcester, Massachusetts, como local das rar nada de seus valores, porque sinto que são vozes gravações. Um mês antes da sessão de outubro de 2010, ele profundas e importantes — já estão muito conos- também organizou uma performance do material apenas co, são “aqui e agora”, são parte de nosso contexto. para convidados na Faust Harrison Pianos, em Nova York. Seus sons estão infiltrados em toda parte. De uma O concerto ajudou a solidificar as faixas para o disco — e maneira muito estranha, a proximidade dificulta revelou o quanto havia ainda por fazer. abordá-los.

ZIMMERLI: Os arranjos de Górecki e Pärt não pa- ZIMMERLI: Com Música Para Dezoito Músicos, fiz o que reciam se sustentar por uma variedade de razões qualquer músico de jazz faria ao tocar um tema. Sinte- e, como as gravações se aproximavam, parecia tizei uma espécie de tema — nesse caso, uma série de haver alguns buracos no repertório. Mas naquele acordes em uníssono repetidos — e extraí uma pro- momento nós três havíamos nos encontrado tan- gressão em que os pianistas pudessem se soltar. Por tas vezes que eu começava a sentir o que funciona- sorte, no Reich tem uma progressão que governa a peça va melhor para o duo. Então escrevi mais música toda. Eu a utilizei como base para que Brad e Kevin pu- original: Crazy Quilt, Generatrix e Celtic Folk Song. dessem improvisar, tendo o original no ouvido, claro. Esta última incorpora algumas técnicas de Pärt e Górecki, sem fazer referência direta a nenhum Trechos de Modern Music foram incluídos num progra- deles, então achei que estava contornando as ma, “Brad Mehldau e Amigos: O Poder do Piano”, apresenta- coisas esteticamente. do em 11 de março de 2011 no Zankel Hall, um espaço do Para mim, esse processo prolongado de selecio- Carnegie Hall. Mehldau organizou o concerto como parte nar o repertório não é raro e, apesar de acabarmos de sua residência na temporada 2010-1. Ele foi o primeiro não gravando tudo, ganha-se muito com o tempo artista de jazz a ser honrado com a Richard And Barbara gasto enfrentando questões técnicas e artísticas e lu- Debs Composer's Chair. Entre os homenageados anteriores, tando para encontrar um “som” verdadeiro de dois estão os compositores John Adams, Louis Andriessen e Elliott pianos. Na gravação, Brad e Kevin tocaram juntos Carter. O concerto com Hays e outros foi, simbolicamente, o surpreendentemente bem e a coisa toda deu liga. ponto culminante do processo de Modern Music.

42 Gravações Recomendadas MEHLDAU: O convite do Carnegie Hall foi uma grande honra para mim e uma tremenda oportuni- dade: sempre me lembrarei disso como o ponto mais Mehldau/Hays alto da minha vida musical. As duas peças de Modern Modern Music Music Nonesuch, 2011 saíram muito bem naquela noite, elas são ime- diatamente cativantes. Pat já escreveu música mais “difícil”, mas, com essas peças, encontrou uma ma- MEHLDAU neira de sacudir o ouvinte por inteiro desde o início Love Songs e conduzi-lo depois por uma outra lógica musical. Naïve, 2010

São composições divertidas de tocar e têm realmente The Art of the Trio (5 CDs) um arco narrativo — sempre fico com a impressão

Nonesuch, 2011 de que fiz alguma viagem quando as toco. Live in Marciac

ZIMMERLI: Quando chegou a época do concerto Nonesuch, 2011 no Zenkel Hall, Kevin e Brad tinham total domínio das peças e tocaram tudo lindamente. Como “estreia HAYS mundial”, essa foi uma das melhores que já tive — Seventh Sense dois músicos tocando minha música com completa Bl ue Note, 2008 compreensão e absoluto controle e também assumin- do riscos e inventando no momento. Para mim, não Andalucia

Bl ue Note, 2007) há como melhorar! For Heaven’s Sake

Entrevista a Michael Hill. Jazz Eyes, 2006

ZIMMERLI

Twelve Sacred Dances

A rabesque Recordings, 2009

Phoenix

Songlines, 2005

Sugestões de Leitura

Michael Stephans

Experiencing Jazz: A Listener's Companion

Scarecrow Press, 2013

Alex Ross

Escuta Só

Companhia das Letras, 2011

Internet

www.bradmehldau.com/

www.kevinhays.com/

43 BRAD MEHLDAU & KEVIN HAYS DUO PIANO

Primeira Vez Com a Osesp Brad Mehldau colaborou O pianista e compositor Kevin intensamente com jazzistas como Hays tem mais de uma dúzia Joshua Redman, Pat Metheny, de discos lançados, entre os Charlie Haden e Lee Konitz. quais Seventh Sense (Blue Note, Em 2008, recebeu do Carnegie 2008), indicado como um dos Hall a encomenda para compor melhores discos de jazz do um ciclo com sete canções de ano pela Musician Magazine; amor para a mezzo soprano Anne e Andalucia (Blue Note, 2007), Sofie von Otter, lançadas no CD com o baixista Ron Carter Love Songs (Naïve, 2010). Entre os e o baterista Jack DeJohnette, muitos discos lançados, destacam- que recebeu quatro estrelas -se a série The Art of The Trio da revista DownBeat. Colaborou (Nonesuch, 2011), Brad Mehldau em gravações e shows com Live in Tokyo (Nonesuch, 2004), músicos como Sonny Rollins Live in Marciac (Nonesuch, 2011) e John Scofield. Seu disco For e Largo (Warner Bros, 2002). Heaven’s Sake (Jazz Eyes, 2006) Na temporada de 2010-1, tornou- foi eleito o melhor do ano pela -se o primeiro músico de jazz revista The New Yorker e a ser indicado para a Richard recebeu quatro estrelas And Barbara Debs Composer’s na revista Jazzman. Chair do Carnegie Hall, antecedido por compositores como Louis Andriessen (2009-10), Elliott Carter (2008-9), e John Adams (2003-7).

44 Compartilhar conhecimento é o que sabemos fazer de melhor

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Conhecimento.indd 1 10/06/2014 13:17:30 Maurice Ravel em seu apartamento na Avenida Carnot, em Paris, em 1912

46 setembro 2 TER 21H Recitais Osesp

JEAN-EFFLAM BAVOUZET PIANO Artista em Residência

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770 -1827] Sonata nº 22 Para Piano em Fá Maior, Op.54 [1804] - Tempo di Menuetto - Allegretto 11 m i N

Sonata nº 23 Para Piano em Fá Menor, Op.57 - Appassionata [1805] - Allegro Assai - Andante - Allegro ma Non Troppo - Presto 25 MIN ______Sonata nº 22 e a Sonata nº 23, de Beethoven, foram compostas em 1804, quando o com- MAURICE RAVEL [1875-1937] Miroirs [Espelhos] [1904-5] positor desfrutava de férias de verão nos - Noctuelles [Mariposas] arredores de Viena. No entanto, pode-se - Les Oiseaux Tristes [Os Pássaros Tristes] Aconstatar que são muito diferentes entre si. - Une Barque Sur l'Océan [Uma Barca no Oceano] A Sonata nº 22 é uma obra extremamente original, - Alborada Del Gracioso [Alvorada do Gracioso] mas em parte mal compreendida e negligenciada pelos - La Vallée Des Cloches [O Vale Dos Sinos] 25 MIN intérpretes. Seu primeiro movimento — “Tempo di Menuetto” — se inicia com uma melodia delicada, que estabelece um clima ameno, surpreendentemente ani- quilado por um cânone, quase agressivo, de oitavas nas BÉLA BARTÓK [1881-1945] Sonata Para Piano [1926] duas mãos. A justaposição tão contrastante e aparente- - Allegro Moderato mente excêntrica desses dois elementos pode ser com- - Sostenuto Pesante preendida como uma troça à música de salão, altamen- - Finale te disseminada na época, agradável como o motivo de 25 MIN início, porém sem grande profundidade, característica satirizada com a intervenção “mal-educada” do segundo tema. A atitude de Beethoven pode ser comparada à do contador de piadas que nem esboça um sorriso enquanto deleita sua plateia. Na coda, que encerra o primeiro mo- vimento, ele depois promove uma espécie de conciliação entre esses dois motivos principais na forma de um hino solene no qual o primeiro elemento é predominante.

47 Trata-se da primeira das grandes sonatas do com- Apesar de Ravel não ter sido um bom pianista, nos positor a se constituir de apenas dois movimentos. deixou algumas das obras mais difíceis e mais bem es- Portanto, o “Allegretto” que se segue já é o último an- critas para o instrumento. Não se faz necessária apenas damento da obra. Beethoven permanece aqui mais no uma grande destreza técnica para realizar passagens campo da atmosfera, com cinco deliciosos minutos de com notas repetidas em grande velocidade, arpejos na um perpetuum mobile que brinca engenhosamente com mão esquerda cobrindo quase todo o teclado, notas du- as notas da escala de Fá Maior e suas modulações. plas irregulares e trechos com incômoda sobreposição de mãos; para interpretar sua música, é preciso, so- título Appassionata, pelo qual a Sona- bretudo, um senso altamente desenvolvido de ritmo e ta nº 23 ficou conhecida, foi dado pos- uma capacidade de produzir diferentes timbres, aliados tumamente por um editor, mas nem a grande poesia e imaginação. por isso deixa de ser extremamente A suíte se inicia com “Noctuelles”, título infini- Oapropriado: trata-se de uma das obras mais tempes- tamente mais poético em sua língua original do que tuosas de Beethoven do ponto de vista emocional. na tradução como “Mariposas”. A peça é dedicada ao O drama que transborda no primeiro movimento poeta Léon-Paul Fargue e teria sido inspirada por um — “Allegro Assai” — é exacerbado por meio de con- de seus versos: “As mariposas deixam seus abrigos em trastes extremos de intensidade. Já o segundo movi- voos irregulares, para ornamentar outros ambientes”. mento — “Andante ” — se inicia na região grave, com Esse voo irregular dos insetos é maravilhosamente tra- um tema em forma de coral, ao qual se seguem três va- duzido pela assimetria entre as duas mãos que execu- riações em que a melodia vai se tornando cada vez mais tam notas duplas cromáticas logo no início da peça. aguda e as notas do acompanhamento cada vez mais “Les Oiseaux Tristes” [Os Pássaros Tristes], dedica- rápidas. O trecho inicial é retomado ao fim, dividido da ao pianista Ricardo Viñes, a quem coube a estreia da entre os vários registros do instrumento, mas uma har- suíte em 1906, evoca, segundo o próprio Ravel, a ima- monia enigmática frustra qualquer conclusão pacífica e gem de “pássaros perdidos no torpor de uma floresta conduz, por meio de uma série de acordes fortíssimos, muito densa durante as horas mais quentes do verão”.1 ao terceiro movimento, que retoma o caráter enérgico Com “Une Barque Sur l'Océan” [Uma Barca no do início da obra. É necessário grande vigor físico para Oceano], Ravel mais uma vez demonstra seu fascínio manter a agitação incessante, quase caótica, com notas pelo movimento das águas, tal como havia feito em Jeux extremamente rápidas, que soam mesmo ameaçadoras. d'Eau [Jatos d'água], de 1901. Mas aqui a perspectiva A coda, que se inicia com um novo elemento, em acor- oceânica dá margem a um pianismo mais amplo, que des, deve ser executada ainda mais rapidamente, con- explora sistematicamente trêmulos e arpejos. cluindo a obra com arpejos descendentes que parecem “Alborada Del Gracioso”[Alvorada do Gracioso] querer colapsar o movimento sobre si mesmo. possui algumas das passagens de notas repetidas mais difíceis de toda a literatura para piano e por isso requer xatamente cem anos mais tarde, em 1904, um instrumento com mecanismo perfeitamente regu- Ravel iniciava a composição de uma de suas lado. Essa obra de inspiração espanhola foi dedicada ao mais importantes obras para piano, Miroirs crítico musical Michel Dimitri de Calvocoressi. O pró- [Espelhos]. Trata-se de uma suíte de cinco prio compositor, em carta, esclarece o significado do Epeças, cada uma dedicada a um membro do grupo título: “Eu entendo sua dificuldade em traduzir ‘Albora- de artistas e intelectuais que se autodenominava Les da Del Gracioso’. É precisamente por isso que eu decidi Apaches e do qual o compositor fazia parte. Os Apa- não traduzi-lo. O fato é que o gracioso da comédia espa- ches contestavam o establishment e se reuniam sema- nhola é um personagem muito especial que, até onde nalmente, em uma atmosfera de cumplicidade, para sei, não se encontra em nenhuma outra tradição teatral. apresentar o que cada um havia produzido. Há um equivalente no teatro francês: o Fígaro de Beau- marchais [...]. Isso será suficiente para explicar o estilo 1. Nichols, Roger. Ravel (Londres: Yale University humorístico desta peça.” É preciso esclarecer ainda que Press, 2011). alborada seria um tipo de serenata da região da Galícia.

48 Gravações Recomendadas Ravel teria dito que a inspiração para compor “La Vallée Des Cloches” [O Vale Dos Sinos] teria vindo do dobre das catedrais ao meio-dia em Paris. Dedicada a seu amigo e aluno de composição Maurice Delage, a BEETHOVEN obra requer grande imaginação sonora. Piano Sonatas vol. 2 Não deixa de ser surpreendente que, após o brilho Jean-Efflam Bavouzet, piano de “Alborada”, Ravel tenha optado por terminar o ciclo CHANDOS, 2014 em uma atmosfera meditativa, com uma peça despro- vida de virtuosismo. Por esse motivo, muitos intérpre- RAVEL tes invertem a ordem das duas últimas partes da suíte. Complete Piano Works Jean-Efflam Bavouzet, piano

m meados dos anos 1920, Béla Bartók, após in- MD&G Scene, 2004 tenso trabalho como pesquisador de tradições

musicais folclóricas, professor da Academia de BARTÓK

Música de Budapeste e compositor, decide inves- Complete Solo Piano Music Etir em sua carreira como autor-pianista. Provavelmen- György Sándor, piano te foi inspirado pelo sucesso alcançado por Stravinsky Vo x, 2003

ao apresentar-se em turnê pela Europa e pelos Estados Unidos como solista de seu Concerto Para Piano e Instru- Live From the mentos de Sopros [interpretado pela Osesp em abril pas- Concertgebouw 1978-79 Martha Argerich, piano sado]. Dessa forma, entre junho e novembro de 1926,

W arner Classics, 2000 Bartók compõe algumas de suas obras mais importantes

para piano, a serem utilizadas em suas apresentações: a The Piano Concertos Sonata Para Piano, Ao Ar Livre e o Concerto nº 1 Para Piano. BBC Philharmonic Nos anos posteriores ao fim da Primeira Guerra Mun- Gianandrea Noseda, regente dial, conhecidos como os anos loucos da música, enquan- Jean-Efflam Bavouzet, piano

to a Europa redesenhava seu mapa político, composi- CHANDOS, 2010 tores desenvolviam novas correntes estéticas que bus- cavam expandir os limites da arte até então realizada. Bartók responde a este desafio com um aumento sig- nificativo do uso de dissonâncias, incorporação de ele- mentos rítmicos e harmônicos complexos, oriundos das tradições folclóricas, e tratamento percussivo do piano. O primeiro movimento da Sonata Para Piano exala virilidade. Sua linguagem harmônica exótica reflete o convívio do compositor com a música tradicional dos povos balcânicos. O piano é valorizado em seu aspecto mecânico e percussivo, sem nenhuma concessão ao liris- mo. O mesmo pode ser dito do segundo movimento, de uma expressão severa, crua e abstrata. Já o “Finale” tem caráter de dança folclórica — certamente inspirado em camponeses oriundos de terras distantes. A ausência de efeitos meramente virtuosísticos normalmente impede que o ouvinte tenha a real noção da extrema dificuldade técnica dessa música altamente concentrada.

Eduardo Monteiro é pianista e professor no Departamento de Música da USP.

49 Sugestões de Leitura

Charles Rosen

Beethoven's Piano Sonatas

YALE UNIVERSITY PRESS, 2002 JEAN-EFFLAM BAVOUZET PIANO

Artista em Residência Roger Nichols Jean-Efflam Bavouzet foi Ravel aluno de Pierre Sancan no Yale University Press, 2011 Conservatório de Paris, recebeu o primeiro prêmio Paul Roberts na Competição Beethoven, Reflections: The Piano Music em Colônia, e foi considerado of Maurice Ravel Artista do Ano pela ICMA, em A madeus, 2012 2012. Trabalha regularmente com regentes como Vladimir Halsey Stevens Ashkenazy, Vasily Petrenko, The life and music of Béla Pierre Boulez, Daniele Gatti, Bartók Valery Gergiev, Esa-Pekka Oxford University Press, 1964 Salonen, Kirill Karabits, Andris Nelsons, Krzysztof Urbañski, Amanda Bayley (org.) e Iván Fischer. The Cambridge Companion to Como recitalista, apresenta-se Bartók regularmente em salas como Cambridge University Press, 2001 o Southbank Centre, em Londres, a Cité de la Musique, em Paris, e o Concertgebouw de Amsterdã. Sua gravação de peças de Debussy e Ravel, com Internet a BBC Symphony Orchestra sob regência de Yan Pascal Tortelier

(Chandos, 2010), recebeu os www.lvbeethoven.com prêmios Gramophone, BBC www.beethoven-haus-bonn.de Music Magazine e Diapason www.maurice-ravel.net/ d'Or. Além de apresentar-se www.bartokmuseum.hu/ como pianista, Bavouzet é Diretor Artístico do Festival de Piano Lofoten, na Noruega, e realizou a transcrição para dois pianos da peça Jeux, de Debussy, com prefácio de Pierre Boulez para a editora Durand.

50 CPP_Complementar_Infantil.ai 1 24/07/14 17:25

C 06 SET SÁB 11H M Y 06 SET SÁB 16H30 CM R$ 15,00 MY 07 SET DOM 11H CY CMY 07 SET DOM 16H30 K OSESP WAGNER POLISTCHUK REGENTE ADRIANA CALCANHOTTO CORO INFANTIL DA OSESP Programação sujeita a alterações. Ingressos à venda na bilheteria ou pela Ingresso SERGEI PROKOFIEV Rápido 4003.1212. 50% de desconto nos ingressos para estudantes, aposentados e pessoas Pedro e o Lobo, Op.67 com idade acima de 60, mediante identificação no ato da compra e no dia da apresentação. Canções de Partimpim Idade mínima sugerida: 7 anos ORQUESTRAÇÃO DE ANDRÉ MEHMARI

REALIZAÇÃO

51 Hora da Música, tela de Oscar Pereira da Silva, 1901 (Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo)

52 4 QUI 21H Quarteto Osesp

QUARTETO OSESP EMMANUELE BALDINI VIOLINO DAVI GRATON VIOLINO PETER PAS VIOLA WILSON SAMPAIO VIOLONCELO (CONVIDADO)

JEAN-EFFLAM BAVOUZET PIANO Artista em Residência

SAMUEL BARBER [1910 -81] Quarteto de Cordas, Op.11 [1936] - Molto Allegro e Appassionato - Molto Adagio (Attacca) - Molto Allegro (Come Prima). Presto 17 MIN

CELSO LOUREIRO CHAVES [1950] Estética do Frio III - Homenagem a Leonard Bernstein [2014] [Encomenda Osesp. Estreia Mundial] 13 MIN ______

CÉSAR FRANCK [1822-90] Quinteto Com Piano em Fá Menor [1878-9] - Molto Moderato Quasi Lento - Lento Con Molto Sentimento - Allegro Non Troppo ma Non Fuoco 39 MIN

53 Gravações Recomendadas ntre 1935 e 1936, passando uma temporada na Áustria com seu companheiro, o compositor e libretista Gian Carlo Menotti, Samuel Bar- BARBER ber escreveu seu Quarteto de Cordas nº 1. Tinha Music of Samuel Barber Eapenas 26 anos, e o Quarteto não só seria sua única Saint Louis Symphony Orchestra incursão no gênero, como estaria na origem de seu Leonard Slatkin, regente maior sucesso como compositor. Dois anos depois,

EMI, 1990 ele escreveria uma versão para orquestra de cordas String Quartet do segundo movimento do Quarteto, “Molto Adagio”, Emerson String Quartet a qual seria interpretada por ninguém menos que Ar- Deutsche Grammophon, 1993 turo Toscanini e sua Orquestra da NBC, sob o título de Adágio Para Cordas. O sucesso da peça fez de Bar- ber uma celebridade.

FRANCK Em abril de 1945, a morte do presidente

Quinteto Com Piano Franklin Roosevelt foi anunciada pelo rádio tendo Fine Arts Quartet o Adagio de Barber como trilha sonora. Desse mo- Cristina Ortiz, piano mento em diante, a peça se tornaria uma espécie de hino nacional lamurioso, e seria interpretada nos NA XOS, 2009 funerais de John F. Kennedy e Albert Einstein e na Quatuor Muir homenagem às vítimas dos atentados de 11 de se- Jean-Philippe Collard, piano tembro de 2001, além de servir como trilha para Warner Classics, 2007 filmes como O Homem Elefante, de David Lynch, e Platoon, de Oliver Stone. O sucesso do “Adagio” acabou por tornar raras as oportunidades de ouvir a versão integral do Quarteto. O primeiro movimento inicia com um impactante tema em uníssono, algo beethoveniano. Com pas- sagens líricas e provocações dissonantes, é um me- morável momento do gênero. O curto movimento final, com pouco mais de dois minutos, recupera a assertividade e o ímpeto do início da peça, garantin- do coerência formal.

Ricardo Teperman é doutorando em Antropologia Social na Universidade de São Paulo e editor da Revista Osesp.

54 Celso Loureiro Chaves

música de Leonard Bernstein percorre de cordas com piano, preferindo-a como música para Estética do Frio iii, às vezes sem que se cinco instrumentos solistas que, momento a momen- perceba, como na citação de West Side to, se unem e se opõem. Story nos primeiros compassos; às vezes Talvez o ouvinte reconheça na peça os seus três Amais no primeiro plano, como na citação de Chi- movimentos interligados: o primeiro movimento, chester Psalms que conclui a peça, antes que ela dê sombre e depois liberamente, se concentra nas cordas; a volta sobre si mesma e reinicie como se ouvida o segundo, con impeto, traz o piano para o primeiro durante o sono. Entre início e fim, aparecem Fancy plano e conclui com a apresentação de todos os ma- Free, On The Town, a Sinfonia nº 2 e um fragmento teriais sonoros generativos da peça; o terceiro mo- de Four Anniversaries. vimento, deserto, é interrompido por uma miniatura Como nas minhas outras Estéticas do Frio, a inter- para piano, Subways of Cement, inspirada em Elizabeth textualidade move a peça para diante. Aqui, ela ex- Bishop. Estética do Frio iii – Homenagem a Leonard travasa Bernstein para chegar a Bartók e a uma can- Bernstein é dedicada a Jean-Efflam Bavouzet e ao ção de meu mestre Armando Albuquerque. É sobre Quarteto Osesp. essa rede de intertextualidades que se desenha a Es- tética do Frio iii, que hesito identificar como quarteto Celso Loureiro Chaves

55 Sugestões de Leitura e fosse preciso definir em poucas palavras o estilo de César Franck, diria que ele é um meio-termo entre a cultura acadêmica ger- Thomas Larson mânica e o refinamento francês. Organista The Saddest Music Ever Written: Sgenial, sua invenção harmônica é bem reconhecível e The Story of Samuel Barber's Adagio for Strings fez escola (nele se inspiraram Vincent D’Indy, Ernest

PEGASUS BOOKS, 2010 Chausson e Gabriel Pierné). O Quinteto Com Piano em Fá Menor é, incontestavelmente, uma de suas grandes Alex Ross obras-primas. O espectro de sentimentos nele conti-

O resto é ruído do é excepcional, percorrendo da mais selvagem vio-

Companhia das Letras, 2007 lência (fim do primeiro movimento) à maior ternura (início do segundo movimento). A obra começa com duas ideias principais: uma, R.J. Stove nobre e pujante, no quarteto; e outra, suave e quase César Franck: His Life and Times suplicante, no piano solo. Assim, ingressamos numa Scarecrow Press, 2011 dialética cujos importantes elementos nos impressio- nam de imediato. Tal como uma torrente em con- tínua mutação, essas diferentes atmosferas levam o ouvinte/viajante por paisagens contrastantes, até o Internet ápice final, em que a nota Fá é repetida doze vezes em uníssono. Foi Camille Saint-Saëns quem tocou a parte do www.samuelbarber.fr/ piano na primeira audição, em 1880. E parece que www.cesar-franck.org/ Debussy, então presente, gostou muito da obra. Acaso teria se lembrado dela ao compor La Mer, 25 anos depois? De fato, um pequeno motivo, uma os- cilação entre duas notas próximas, que aparece pela primeira vez no movimento lento e também no final do Quinteto, foi utilizado por Debussy quase que de forma idêntica em seu afresco orquestral. E teria Franck pensado no movimento lento do Concerto nº 5 Para Piano - Imperador, de Beethoven, na composição de seu movimento intermediário? A fortíssima emoção que emana do Quinteto de- corre também de sua construção. A obra se baseia em vários temas recorrentes. É pouco provável que, já na primeira escuta, o ouvinte perceba a complexi- dade estrutural e a organização esmerada e engenho- sa das ideias, pois sem dúvida será arrebatado pela beleza das linhas melódicas. A própria arquitetura de uma obra musical pode induzir o ouvinte a um estado de grande emoção — e sabe-se que alguns compositores começam o traba- lho de criação pela forma. Maurice Ravel teria dito sobre seu Trio em Lá Menor: “A obra agora está pronta. Só me falta achar os temas”.

56 Cada obra-prima é um mistério. Algumas pesso- as relutam em analisar essas criações em seus por- menores, temendo eliminar a magia e destruir para sempre a emoção. Mas essa apreensão não procede: quanto mais atentamente observamos e compreende- mos as engrenagens de uma obra, mais íntegro per- manece o mistério de sua beleza. Numa entrevista a Joseph Horowitz, o pianista Claudio Arrau mencionou o “estado orgíaco” no qual o músico às vezes mergulha durante o estudo de uma obra nova. Lembro-me perfeitamente de ter vivenciado esse estado em 1992, quando estudei o Quinteto de Franck pela primeira vez. A música me parecia tão fascinan- te e apaixonada, tão perfeitamente construída, que se tornou quase uma obsessão para mim. Cheguei a passar doze horas a estudá-la! Sentia-me como que embriagado de tanto tocar aquelas harmonias. E, embora a tenha interpretado inúmeras vezes desde então, a peça continua a me entusiasmar — e foi mi- nha primeira escolha para esta residência na Osesp.

Jean-Efflam Bavouzet. Tradução de Ivone Benedetti.

57 QUARTETO OSESP JEAN-EFFLAM BAVOUZET PIANO EMMANUELE BALDINI VIOLINO Artista em Residência DAVI GRATON VIOLINO Jean-Efflam Bavouzet foi PETER PAS VIOLA aluno de Pierre Sancan no WILSON SAMPAIO VIOLONCELO Conservatório de Paris, (CONVIDADO) recebeu o primeiro prêmio Fundado em 2008, o Quarteto na Competição Beethoven, Osesp reúne músicos formados em Colônia, e foi considerado em escolas diferentes: italiana, Artista do Ano pela ICMA, em brasileira e norte-americana. 2012. Trabalha regularmente A soma dessas tradições com regentes como Vladimir contribui para enriquecer Ashkenazy, Vasily Petrenko, a identidade do grupo. O Pierre Boulez, Daniele Gatti, Quarteto tem sua própria Valery Gergiev, Esa-Pekka série na Sala São Paulo, na Salonen, Kirill Karabits, Andris qual são apresentadas obras Nelsons, Krzysztof Urbañski, clássicas e propostas inovadoras Lawrence Foster e Iván Fischer. e criativas. Seu repertório é Como recitalista, apresenta-se muito amplo, incluindo obras regularmente em salas como que vão da época barroca o Southbank Centre, em até os jovens compositores Londres, a Cité de la Musique, contemporâneos. Entre os em Paris, e o Concertgebouw que já se apresentaram com de Amsterdã. Sua gravação de o grupo, estão artistas como peças de Debussy e Ravel, com Gilberto Tinetti, Eduardo a BBC Symphony Orchestra sob Monteiro, Roberto Díaz, regência de Yan Pascal Tortelier Ovanir Buosi, Jean-Philippe (Chandos, 2010), recebeu os Collard, Ricardo Castro, prêmios Gramophone, BBC Antonio Meneses, Arnaldo Music Magazine e Diapason Cohen, , David d'Or. Além de apresentar-se Aaron Carpenter, Nicholas como pianista, Bavouzet é Angelich, Nathalie Stutzmann Diretor Artístico do Festival de e Jean-Efflam Bavouzet. Piano Lofoten, na Noruega, e realizou a transcrição para dois pianos da peça Jeux, de Debussy, com prefácio de Pierre Boulez para a editora Durand.

58 100

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Osesp_21x28_2014 Wednesday, January 22, 2014 10:03:53 AM Sem Título, 2013, obra de Sandra Cinto 60 11 QUI 21H Jacarandá

12 SEX 21H Pequiá

13 SÁB 16H30 Ipê

FRANK SHIPWAY REGENTE ISABELLE FAUST VIOLINO CORO DA OSESP NAOMI MUNAKATA REGENTE honorária

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770 -1827] Concerto Para Violino em Ré Maior, Op.61 [1806] - Allegro ma Non Troppo - Larghetto (Attaca) - Rondó: Allegro 41 MIN

______

RICHARD WAGNER [1813-83] Tannhäuser: Abertura [1861] 14 MIN Tannhäuser: Música de Venusberg [1845] 7 MIN Rienzi: Abertura [1838] 12 MIN

61 Concer­to Para Violino figura entre as reali­ agner trabalhou ao longo de seis zações do período médio de Beethoven meses revisando e recriando Tan- e que, pela importância no repertório, nhäuser para sua estreia na Ópe- assombrou quem quis escrever uma ra de Paris, em 1861. O estilo da Onova peça no mesmo gê­nero. Surpreende que ele não Wversão original de Dresden, datada de quinze anos tenha experimentado­ sucesso imediato, o que sua es- antes, já lhe era um pouco estranho. Reescreveu treia, em 23 de dezembro de 1806, ajuda a explicar: a cena inicial, para aproximar sua “antiga” obra da às vésperas da audição, o solista Franz Clement ainda estética de Tristão e Isolda, inserindo aí o balé que aguardava a conclusão da partitura. Simbolizaria sua era obrigatório nas óperas que pretendiam subir “redes­coberta” o êxito londrino em maio de 1844, à cena da Salle le Peltier. Durante o Segundo Im- quan­do foi executado por e regido pério e a Terceira República, os rapazes nobres e por Mendelssohn. Joachim firmaria, aliás, a posição abastados do Jockey Club possuíam numerosos ca- essencial do Op.61 na música para violino, apre­ marotes na Opéra, diversos “pequenos salões sus- sentando-o mais do que qualquer outro concerto. pensos” e, grosso modo, impunham a singular regra Os temas do primeiro movimento demonstram de incluir um balé em todas as óperas, sempre após uma placidez que os afasta de uma exaltada retóri­ o primeiro ato. Les lions du Jockey jantavam tarde e ca beethoveniana. O solista destaca essa qualida­de ao depois rumavam para o espetáculo, chegando im- ter mais a função de desenvolver o lirismo orquestral preterivelmente no segundo ato. Assim, para que do que a de lhe impor antagonismos. Mesmo assim, os cavalheiros devidamente alimentados pudessem um pendor paralelo é já de início enunciado pelo tím- prestigiar suas favoritas do corps de ballet, muitas de- pano; seu motivo, que remete à música revolucioná- las suas amantes, era necessário que o tradicional ria francesa, nutre a estrutura a ponto de encabeçar, número de dança acontecesse após o primeiro ato. no tutti, a recapitulação. Infelizmente, foi aí que Wagner cometeu seu O segundo movimento, “Larghetto”, dá um novo maior erro: obstruir o caminho entre o olhar de perfil à sonoridade — flauta, oboés, trompetes e jovens abastados e pernas desnudas de bailarinas. tímpanos silenciam, cordas soam com surdina — Julgando — com razão — que o único lugar drama- e evita contrastes globais no plano harmônico ao cen­ ticamente coerente em Tannhäuser para incluir uma trar seus temas em Sol Maior. Conecta-se por uma dança era a cena inicial em Venusberg, Wagner criou transição ao movimento final, um rondó em que as um balé em forma de bacanal para os domínios de Vê- ocorrências da ideia principal são intercaladas por nus. Inadvertidamente — ou não, afinal era Wagner três episódios. A coda, demasiado longa para os pa- —, desafiou os leões do Jockey, forçando-os a che- drões do classi­cismo de Mozart e Haydn, correspon- gar a tempo para o primeiro ato e contrariando mais de a quase um quarto deste belo movimento final. seriamente do que podia supor o funcionamento [2011] da Opéra. Os nobres cavalheiros da elite do Jockey Club tornaram a destruição da ópera uma questão DANIEL BENTO é pós-doutor em música (Unesp), doutor em de honra, organizando uma espetacular recepção comunicação e semiótica (PUC-SP), autor de Beethoven, o Princípio da Modernidade (Annablume/Fapesp, 2002) e para cumprir seu objetivo. Apitos de caça receberam A Nona Sinfonia e Seu Duplo (Editora Unesp, 2010). Tannhäuser em meio a vaias, miados e comentários irônicos que interrompiam a todo momento a repre- sentação. A estreia, em 13 de março de 1861, trans- formou o mais celebrado palco de Paris num fabulo- so campo de guerra. Após três únicas apresentações, Wagner foi forçado a retirar sua partitura. Sua queda estava consolidada. Um mês depois, Wagner deixava a cidade, sentin- do-se semidestruído como artista e ser humano. A experiência foi tão marcante para o compositor que,

62 Vênus e Tannhäuser, ilustração de Aubrey Beardsley (1872-98)

onze anos mais tarde, ainda sonhava em se vingar. mbora os caminhos do fracasso do Tannhäuser Numa entrada em seu diário, regis- parisiense tenham sido um tanto misteriosos, trou que o compositor escrevera ao general Bismarck com supostas cabalas inimigas, pode-se dizer sugerindo a destruição da capital francesa. Paris so- que o comportamento e a personalidade de breviveu, assim como Tannhäuser e Wagner. Tanto EWagner contribuíram para fazer do fiasco algo previsí- seu mito quanto o novo discurso musical que pro- vel. Contrariamente à luxuosa porém fracassada tem- punha tornaram-se reverenciados por diversas gera- porada parisiense, um período anterior, o da concepção ções de compositores franceses, mais wagnerianos de Rienzi, de 1837 a 1842, foi de dificuldades, mas talvez que os próprios alemães. culminou num sucesso retumbante. Então, a persona-

63 lidade de Wagner, que com menos de trinta anos já era buno romano; pretendia derrotar os que roubavam capaz de ver a si próprio como um redentor nacional, dos cidadãos sua herança e traíam sua gloriosa tradi- contribuiu de outra forma para o resultado final. ção. Não coincidentemente, dizia-se que Hitler apre- Depois de passagens por Magdeburg e Königsberg, ciava esta sobre todas as outras óperas de Wagner o compositor encontrava-se empregado como Kappel- (e há cerca de dois anos a Deutsche Oper teve de meister na cidade de Riga. Infeliz e insatisfeito, regia alterar seu calendário anunciado, pois uma represen- óperas e concertos que considerava medíocres, e seu tação de Rienzi cairia no aniversário do Führer). talento servia a arranjos e música adicional para obras Com lendária duração de seis horas, a estreia de de outros compositores. Via-se forçado a trabalhar — Rienzi, em outubro de 1842, foi um triunfo e esta- e exaustivamente. Tentava pagar dívidas e sobreviver, beleceu o nome de Wagner. Paradoxalmente, aquele pois, mesmo sem dinheiro, vivia entre sedas e cetim, que se autoproclamara o arauto de uma revolução alimentado à champanhe e salmão. Em 1840, sem musical e o inimigo confesso das antigas práticas tea- perspectivas, fugiu para Londres e Paris sem passa- trais triunfava, aos 27 anos, com um grande drama porte, já que o mesmo havia sido confiscado a pedido heroico no melhor estilo daquele que, em poucos dos credores. Depois de uma acidentada travessia por anos, se transformaria de verdadeiro amigo em seu terra e mar, chegou finalmente à capital francesa para suposto maior inimigo: , por re- uma primeira visita, que se mostrou pouco ou nada comendação de quem, aliás, Rienzi foi encenada. O bem-sucedida. Apesar de tudo, o Wagner das décadas sucesso da estreia levaria décadas para se repetir e, de 1830 a 1850 foi um compositor incansavelmente curiosamente, rendeu a Wagner, tão imbuído do es- empenhado em obter o sucesso. pírito de revolução, justamente a indicação para ser Surpreendentemente, em meio ao turbilhão de novamente Kappelmeister, desta vez na Corte Real da sua vida, até 1860 compôs O Holandês Voador, Tristão Saxônia. Regeria ali um repertório familiar, molda- e Isolda, a versão original de Tannhäuser, estreada em do ao gosto ultraconservador do Teatro da Corte de Desdren em 1845, Lohengrin e metade do ciclo O Anel Dresden. Mortal, falível e tão parecido com muitos do Nibelungo. Além destes, que chegou a terminar e de nós, o homem Richard Wagner não tinha como estrear, trabalhou ainda em pelo menos meia dúzia recusar a se curvar ao sistema. de projetos nunca concluídos — incluindo uma ópe- Nutrido e desenvolvido entre dificuldades e so- ra que deveria chamar-se Jesus von Nazareth. Bastaria nhos de grandeza, o sucesso de Rienzi deu vida re- isso para provar o fôlego que tinha o compositor. novada a um artista que, senão definitivamente aco- Rienzi teve origem no verão de 1837. Em Bla- modado, estava temporariamente adaptado ao status sewitz, Wagner leu a obra homônima de Bulwer- quo. Mais tarde, o fausto e o grand monde que cerca- -Lytton, uma novela popular à época. Figura his- vam o compositor na época do Tannhäuser parisiense, tórica, o tribuno romano Cola di Rienzo fora um misturados aos mesmos sonhos de poder, se mostra- idealista atormentado pelo declínio humano e cul- ram uma combinação explosiva e fracassada. Assim, tural ao seu redor. O compositor percebeu o caráter dessas histórias tão ligadas à pessoa que foi Richard politicamente explosivo da novela e identificou-se Wagner, formou-se também o reverenciado "mito Wag- com o sofrimento do herói e com sua rebeldia contra ner", tal como o conhecemos hoje. Tribuno revolu- a classe governante dos nobili. Assim como Rienzi, cionário e trovador salvo pelo amor e pela fé, ou ain- Wagner fantasiava ser um legítimo herdeiro real, da semideus, cavaleiro do Graal ou amante infeliz, com sangue azul correndo-lhe nas veias, e acredita- por trás destas personagens já lendárias, oculta-se e va ser o raio de luz numa nação germânica degene- revela-se Richard Wagner. rada e depravada. Com numerosas alterações feitas à história original, a ópera refletia muito da situação pessoal de Wagner (por exemplo, seu relacionamen- to com as irmãs). Foi nesse espírito que Wagner ini- André Heller-Lopes é doutor pelo King's College e ciou a composição, no verão de 1838. Tomava para professor da Escola de Música da UFRJ. Leia o ensaio si, não sem certa megalomania, a luta e a vida do tri- completo de André Heller-Lopes no site www.osesp.art.br

64 Gravações Recomendadas

BEETHOVEN

Concerto Para Violino Orchestra Mozart FRANK SHIPWAY REGENTE ISABELLE FAUST VIOLINO

Última Vez Com a Osesp em Julho de 2013t Última Vez Com a Osesp em Agosto de 2007 Claudio Abbado, regente O britânico Frank Shipway Nascida em Stuttgart, na Isabelle Faust, violino foi assistente pessoal de Lorin Alemanha, Isabelle Faust foi H armonia Mundi, 2012

Maazel na Ópera de Berlim, aluna de Christoph Poppen e de The Prague Philharmonia em 1973, além de principal Dénes Zsigmondy. Em 1987, Jirí Belohlávek, regente regente convidado da venceu o Cuncurso Leopold Sinfônica da Rádio da Mozart e, em 1993, o Prêmio Isabelle Faust, violino Dinamarca (1985-8) e da Paganini. Já se apresentou com Harmonia Mundi, 2007 Filarmônica Real de Flandres, as orquestras Filarmônica de na Bélgica (1989-91). Em Berlim, Sinfônica de Boston, 1991, formou a nova Sinfônica Sinfônica NHK de Tóquio e WAGNER Nacional da RAI, na Itália, e Orchestra of the Age of Preludes & permaneceu como seu regente Enlightenment, colaborando Berliner Philharmoniker titular por quatro anos. com regentes como Frans Herbert von Karajan, regente

De 1996 a 1999, foi diretor Bruggen, Mariss Jansons, EMI, 1993 artístico e regente titular da Giovanni Antonini, Philippe Filarmônica BRT de Bruxelas, Herreweghe e Daniel Harding. Overtures & Preludes antes de assumir, em 1999, Sua gravação das Sonatas Para Chicago Symphony Orchestra o mesmo cargo na Filarmônica Piano e Violino de Beethoven, Daniel Barenboim, regente

TELDEC, 1996 de Zagreb (Croácia). com Alexander Melnikov

Regeu orquestras como a (Harmonia Mundi, 2009), Tannhäuser Philharmonia, a Royal recebeu os prêmios Diapason Orchester der Deutschen Oper , a Nacional da d’Or e Gramophone; e sua Otto Gerdes, regente Bélgica, as filarmônicas de gravação dos concertos de Deutsche Grammophon, 2002 Londres, Estocolmo, Moscou Beethoven e Berg, com a e Helsinque, do Teatro alla Orquestra Mozart sob regência Scala e a Royal Danish Radio. de Claudio Abbado (Harmonia Shipway dedica-se ao Mundi, 2012), recebeu os treinamento de jovens prêmios Diapason d’Or, Echo maestros, é professor no Klassik, Gramophone e Record Conservatório Real de Música de Academy, do Japão. Isabelle Bruxelas e participa de júris Faust apresenta-se com o de concursos internacionais, violino “Bela Adromecida”, como o Nikolai Malko e o um Stradivarius de 1704. Arturo Toscanini.

65 Sugestões de Leitura

Glenn Stanley (org.)

The Cambridge Companion to Beethoven NAOMI MUNAKATA REGENTE honoráriA CORO DA OSESP Cambridge University Press, 2000 Regente Honorária do Coro da Ver pág. 96 Osesp — título recebido este Robin Stowell ano —, Naomi Munakata é Beethoven: Violin Concerto também diretora da Escola Cambridge University Press, 1998 Municipal de Música de São Paulo e diretora artística e David C. Large e William Weber (orgs.) regente do Coral Jovem do Wagnerism in European Estado. Iniciou seus estudos Culture and Politics musicais ao piano aos quatro Cornell University Press, 1984 anos de idade e começou a cantar aos sete, no coral regido por seu Carl Dahlhaus pai. Estudou ainda violino e Richard Wagners Musikdramen harpa. Formou-se em Friedrich, 1971 Composição e Regência em 1978, pela Faculdade Theodor W. Adorno de Música do Instituto Musical In search of Wagner de São Paulo, na classe de Verso, 2005 Roberto Schnorrenberg. A vocação para a regência começou a ser trabalhada em 1973, com os maestros Eleazar de Carvalho,

Internet Hugh Ross, Sérgio Magnani e John Neschling. Anos depois, essa opção lhe valeria o prêmio www.lvbeethoven.com de Melhor Regente Coral, pela Associação Paulista dos Críticos www.beethoven-haus-bonn.de de Arte. Estudou ainda regência, www.wagneroperas.com análise e contraponto com Hans www.wagneropera.net Joachim Koellreutter. Como bolsista da Fundação VITAE, foi para a Suécia estudar com o maestro Eric Ericson. Em 1986, recebeu do governo japonês uma bolsa de estudos para aperfeiçoar-se em regência na Universidade de Tóquio. Foi regente assistente do Coral Paulistano e lecionou na Faculdade Santa Marcelina e na Faam.

66 03 AGO DOM 11H 31 AGO DOM 11H

ORQUESTRA EXPERIMENTAL DE REPERTÓRIO ORQUESTRA JAZZ SINFÔNICA

10 AGO DOM 11H 14 SET DOM 11H

OSESP ORQUESTRA JOVEM TOM JOBIM GIANCARLO GUERRERO REGENTE

WOLFGANG A. MOZART Sinfonia nº 31 em Ré Maior, KV 297 - Paris 28 SET DOM 11H RICHARD STRAUSS BANDA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO Don Juan, Op.20

17 AGO DOM 11H 21 SET DOM 11H ORQUESTRA JAZZ SINFÔNICA BANDA JOVEM DO ESTADO

24 AGO DOM 11H Ingressos gratuitos limitados a 4 por pessoa. BANDA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO Disponíveis na bilheteria da Sala São Paulo desde a segunda- feira anterior ao concerto. A partir de 5 ingressos, será cobrado o valor de R$2,00 por ingresso. Bilheteria da Sala São Paulo: T 3223 3966

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A Série de Concertos Matinais recebe o público das instituições convidadas:

PATROCÍNIO APOIO REALIZAÇÃO

67

Anuncio_Osesp_Junho.indd 1 24/07/14 17:00 Villa-Lobos recebendo titulo de Doutor Honoris Causa na Universidade de Miami, em 1954 (acervo do Museu Villa-Lobos)

68 18 QUI 21H Pau-Brasil

19 SEX 21H Sapucaia

20 SÁB 16H30 Jequitibá

CELSO ANTUNES REGENTE FABIO MARTINO PIANO

WOLFGANG A. MOZART [1756-91] Sinfonia nº 32 em Sol Maior, KV 318 [1779] 9 MIN

HEITOR VILLA-LOBOS [1887-1959] Villa-Lobos em Foco Concerto nº 5 Para Piano [1954] - Allegro Non Troppo - Poco Adagio - Allegretto Scherzando - Allegro 19 MIN ______

ARMANDO ALBUQUERQUE [1901-86] Osesp 60 Suíte Breve [1954] - Abertura - Cantilena - Final 14 MIN

WOLFGANG A. MOZART [1756-91] Sinfonia nº 36 em Dó Maior, KV 425 - Linz [1783] - Adagio - Allegro Spiritoso - Andante - Menuetto - Presto 26 MIN

69 aris era um sonho para Mozart. Lá ele es- tamente pela sua escrita ágil, fluida, cheia de con- perava encontrar sucesso e prosperidade trastes e achados musicais, tornou-se uma das mais financeira. Mas a viagem que empreendeu famosas do compositor, objeto de especulação para em 1778 foi uma decepção sob todos os as- muitos musicólogos. Alfred Einstein, grande espe- Ppectos. Pouquíssimas obras foram encomendadas cialista em Mozart, está convicto de que foi escrita e, para completar o fracasso da expedição, a mãe como abertura para a ópera Zaïde. Para embasar do compositor, a quem ele adorava e que o havia sua afirmação, cita o dualismo temático que ocor- acompanhado na viagem, ficou doente e faleceu. re logo no início do primeiro movimento, contra- A volta a Salzburgo, adiada ao máximo, também pondo um tutti peremptório ao piano suplicante foi sofrida. Saindo de Paris em setembro, o jo- das cordas. Einstein percebe neste contraste as vo- vem Wolfgang fez uma parada de alguns meses em zes do Sultão Soliman e da delicada Zaïde, respec- Mannheim, e foi apenas em janeiro de 1779 que as- tivamente. Como reforço a seu argumento, chama sumiu o cargo de organista da Corte em sua cidade a nossa atenção para o caráter “turco” do final da natal. Ele, que pouco tempo antes havia sido uma abertura. Outros sustentam que a obra seria, na criança-prodígio, acostumada a ser adulada e a ter verdade, a abertura de Thamos, Rei do Egito, peça de seu talento apreciado nas várias Cortes da Euro- autoria de Tobias Philipp von Gebler, transformada pa, relutantemente aceitou se submeter às ordens em Singspiel por Mozart.1 de um patrão autoritário e grosseiro, o príncipe- Ainda que tais teorias não possam ser compro- -arcebispo Colloredo, que tratava os músicos como vadas, é indubitável que o próprio Mozart aprovava servos e não se deixava impressionar pelo gênio de o uso dessa sinfonia como abertura operística, já seu contratado. Nessa época, as cartas de Mozart que há registros de sua execução numa produção estão repletas de reclamações sobre a falta de visão de 1785 da ópera La Villanella Rapita, de Frances- de seu empregador, o baixo nível da orquestra que co Bianchi. Na verdade, na época de Mozart, as tinha à sua disposição e, finalmente, a formação diferenças entre uma sinfonia e uma abertura não precária de seus colegas músicos. eram significativas. Hoje, pela breve duração, pelo A Sinfonia nº 32 data exatamente desse período, formato contínuo (um movimento desembocando tendo sido completada em abril de 1779. Composta diretamente em outro), pelo estilo italianado, pela na tonalidade expansiva de Sol Maior e orquestrada forma, até mesmo pela exuberância da escrita e para duas flautas, dois oboés, dois fagotes, quatro da instrumentação, a Sinfonia nº 32 parece se in- trompas e cordas (com o acréscimo posterior de cluir claramente na categoria de abertura italiana trompetes e tímpanos), tem um caráter exuberante, — e é assim, aliás, que costuma ser catalogada, com poucos momentos em que se poderiam perce- apesar de o termo não constar do manuscrito da ber laivos de tristeza ou desesperança, como seria peça. Independentemente de sua classificação, po- lícito esperar. A própria instrumentação, com ên- rém, essa é uma peça repleta de ideias inovadoras. fase incomum nas trompas — o normal era então o Basta citar a escrita do baixo, em que pela primei- uso de apenas duas —, empresta à obra colorido e ra vez Mozart distribui as funções tradicionais do brilho especiais. baixo-contínuo entre os vários instrumentos gra- Se pouquíssimas obras orquestrais de Mozart ves, criando partes independentes para o violon- foram publicadas no século xviii, a Sinfonia nº 32 celo, o contrabaixo e o fagote, num procedimen- se distingue por ter sido divulgada largamente du- to musical que viria a se tornar corriqueiro nos rante sua vida. Talvez também por isso, mas cer- séculos posteriores.

1. O Singspiel é um tipo de ópera, característico do século xviii, geralmente com tema leve, em que há trechos falados intercalados com números musicais. A Flauta Mágica, de Mozart, é um exemplo supremo do gênero.

70 Sinfonia nº 36 - Linz também foi escrita habilmente, temas secundários, que passariam des- na volta de uma viagem, esta bem menos percebidos nas mãos de qualquer outro compositor. traumática. Em 1783, casado havia pou- É como se, no meio de uma peça teatral, um facho co mais de um ano, Wolfgang viajou à de luz deixasse de iluminar a diva para subitamente Asua cidade natal para apresentar a esposa ao pai e se voltar para um rosto qualquer na multidão, reve- à irmã. Ainda que Leopold não tenha ficado pro- lando uma beldade de tirar o fôlego. priamente encantado com a nora, as circunstâncias dessa volta eram bem mais alegres. Retornando Laura Rónai é flautista, professora na UniRio e autora de Em Busca de um Mundo Perdido – Métodos de Flauta de Salzburgo para Viena, onde então tinham sua do Barroco ao Século XX (Topbooks, 2008). residência, Mozart e Constanze fizeram uma pa- rada em Linz. Lá, o conde Johann Joseph Anton resolveu organizar um concerto para aproveitar a presença do compositor na cidade. Mozart, que, segundo seus próprios relatos, não dispunha con- sigo de qualquer manuscrito de sinfonia, escreveu a obra e a ensaiou para a apresentação em tempo recorde: quatro míseros dias. Assim como a Sinfonia nº 32, que, escrita num momento de desalento, não exibe qualquer traço de melancolia, a Sinfonia Linz, composta a toque de cai- xa, não revela qualquer sinal de pressa ou descuido. Ao contrário, é considerada uma obra magistral, de acabamento sofisticado e desenvolvimento comple- xo. Sua estrutura remete ao barroco em muitos as- pectos: o movimento “Andante”, um siciliano,2 tão típico das sonatas barrocas, encanta o ouvido. O trio delicado, que utiliza apenas oboé, fagote e cor- das, cria um efeito bucólico, com um jeito “antigo”. E mesmo o primeiro movimento, apoiado em tím- panos e trompetes, lembra uma abertura francesa barroca, com seu ritmo pontuado característico. O estilo de composição também evoca Haydn, que exerceu grande influência sobre o autor. Muitas qualidades contribuem para a perfeição dessa obra: a estrutura equilibrada e o uso sagaz de cromatismos; as modulações sutis; a energia cons- tante que perpassa todos os seus movimentos, mes- mo em seus trechos mais líricos, engajando a aten- ção do ouvinte; e, principalmente, os tratamentos temáticos surpreendentes, que sublinham não ape- nas ideias marcantes e monumentais, mas também,

2. Originário de uma dança da Sicília, o siciliano é utilizado como movimento de sonata ou concerto, evocando um clima pastoral. Escrito em compasso 6/8 (ou, menos frequentemente, em 12/8), com andamento tranquilo, é caracterizado por melodias líricas e ritmo pontuado (colcheia pontuada — semicolcheia — colcheia).

71 uem percorre a literatura para piano de O primeiro movimento apresenta uma forma so- Villa-Lobos surpreende-se não somente nata bastante clássica, com dois temas principais, um por sua segurança técnica e percepção segundo tema e outro tema conclusivo. O motivo dos recursos expressivos distintivos do principal tem a natureza de uma valsa lenta, do tipo Qinstrumento, mas também pela variedade estilística. das Impressões Seresteiras. Tipicamente, alternam-se Afinal, ele compôs mais músicas para piano do que compassos em 3/4 e 6/8, o que dá um marcado sabor para seus próprios instrumentos: o violão e o violon- sul-americano. Hemíolas1 como essas são talvez ainda celo. Entre elas, estão algumas de suas obras de maior mais típicas em outras regiões da América Latina do destaque, como o Rudepoema, de 1926, uma espécie de que no Brasil — basta pensar no argentino Alberto equivalente musical do romance Macunaíma, de Mário Ginastera (1916-83), no colombiano Guillermo Uribe de Andrade, que seria lançado dois anos depois. Holguín (1880-1971) ou no boliviano Simeón Roncal Ainda assim, a série de concertos de Villa-Lobos (1870-1953) e em ritmos de dança como o pasillo só começa em 1945, quando o compositor já chegava equatoriano e a cueca argentina. O segundo tema é aos 58 anos. Nesse ano, ele compôs suas últimas Ba- bem típico, um Villa-Lobos tardio simplificado, no chianas, o poema sinfônico Madona, a Fantasia Para Vio- qual a harmonia muda a cada compasso. loncelo e Orquestra [interpretada pela Osesp e Antonio O segundo movimento é baseado na repetição Meneses em junho passado], o Quarteto de Cordas nº 9, de um motivo que lembra a “Cantilena” das Bachia- a Sinfonia nº 7, o Trio Para Violino, Viola e Violoncelo e o nas nº 5. O terceiro é construído sobre uma figura- Duo Para Violino e Viola. Todas essas obras demonstram ção em zigue-zague no piano e um tema de polca o óbvio final do período das Bachianas, abandonando que dele surge — e que lembra o “Finale” do Con- o neorromantismo totalmente tonal, tingido por cita- certo nº 1. O abrasileiramento dessa dança, que apa- ções folclóricas diretas e estilizações barrocas. Villa- rece cheia de síncopas, parece ser uma referência -Lobos move-se para “dentro”, para um nível mais ao pianismo de Ernesto Nazareth. O mesmo mo- espiritual em seu brasilianismo e americanismo. tivo de polca é desenvolvido de outras maneiras, O Concerto nº 5 Para Piano é dedicado a uma das servindo também como uma espécie de refrão em pianistas de maior destaque à época, Felicja Blumen- forma de rondó. tal, e foi estreado em Londres, em 1955. Dentre os Finalmente, o quarto movimento começa com concertos para piano de Villa-Lobos, esse é o que tem o motivo de polca mencionado acima. Ele move- a forma mais clara, sendo o mais romântico e popu- -se por uma figuração em tercinas, dominadas lar. Há em sua simplicidade, entretanto, algo além da pelo compasso em 9/8, com numerosos acordes trivial procura pela solução mais fácil, tal como no de quarta, em movimento contrário. A textura da melodrama de concertos americanizados à la Grieg orquestra é descrita por Andrew Porter da seguin- ou Rachmaninov, que se aproximariam da música de te maneira: “O ‘Finale’ é formado principalmente cinema. Em artigo publicado na revista Musical Events por movimentos rápidos sem um corte melódico por ocasião da estreia do Concerto, o crítico Andrew definido, redimido pela figuração efetiva do pia- Porter dizia: “A composição é simples e não estudada, no”. Mais adiante, o motivo de polca se transforma mas certeira. Há alguns sons charmosos — e uma as- numa textura transparente, caracterizada por uma túcia que deve garantir boa aceitação”. serenidade pastoral.

1. O termo designa um padrão rítmico em que dois compassos ternários são articulados como se houvesse três compassos binários. (n.e.).

72 Gravações Recomendadas Quando Felicja Blumental estreou o concer- to no Festival Hall, em 8 de maio de 1955, com a Orquestra Filarmônica de Londres, sob regência de Jean Martinon, a reação foi negativa. Um críti- MOZART co escreveu que tal música não deveria jamais ter Symphonies nº 31, nº 36 & nº 39 sido escrita, muito menos executada. A recepção Academy of St Martin in the Fields dos concertos de Villa-Lobos dos últimos anos ilus- Sir Neville Marriner, regente

méconnaissance PHILIPS, 1978 tra bem um fenômeno chamado (um termo usado pelo filósofo musical francês Vladimir The Symphonies Jankélévitch) ou “subapreciação”. Refere-se à relação Berliner Philharmoniker entre uma composição e o gosto musical dominan- Karl Böhm, regente te. Quando apareceram nos programas dos festivais DEUTSCHE GRAMMOPHON, 2006 de música dos anos 1950, as obras de Villa-Lobos foram recebidas, naquele contexto de estilo serial The Late Symphonies e experimental, como obsoletas e desbotadas. Esse Orquestra Real do Concertgebouw é um bom exemplo de como uma situação histórico- Nikolaus Harnoncourt, regente -musical pode impedir que se reconheça e estime o Teldec, 1991 valor intrínseco de uma obra. O próprio Villa-Lobos estava completamente consciente disso em seu período tardio. Ele escre- VILLA-LOBOS veu em 1954: “Vários compositores de nosso tempo Piano Concertos tentam ser modernos sem possuir o dom da origi- Royal Philharmonic Orchestra nalidade. Não entendem que o compositor original Miguel Ángel Gómez-Martínez, regente é também moderno... Quando um compositor é Cristina Ortiz, piano naturalmente original, não importa por que meios DECCA, 1997 ele expressa seus pensamentos”.2 No ano seguinte, ele dizia ainda: “Compositores não devem ser mo- dernos, mas sim originais, novos. Eles devem es- albuquerque crever o que sentem, como sentem”.3 Assim, Villa- -Lobos chegou a seu estilo “universal” tardio, que uma vida de café também poderia ser caracterizado, de maneira geral, Celso Loureiro Chaves como estilo americano. cd independente, 2001

Eero Tarasti é professor de musicologia na Universidade de Helsinque e autor de Heitor Villa-Lobos: The Life and Works, 1887-1959 (McFarland & Company, 1995). Tradução de Rodrigo Vasconcelos.

2. Carpentier, Alejo. Ese Musico Que Llevo Dentro (Havana: Editorial Letras Cubanas, 1980), p. 61. 3. Ibidem, p. 58.

73 assados quase trinta anos desde seu opus 1, a tíssima, a do piano ocupa espaço maior. Tanto assim miniatura para piano Pathé-Baby (1926), ba- que, na versão de 1954, a palavra final da peça cabia seada em Alcântara Machado, Armando Al- ao piano. Em 1967, no entanto, Albuquerque reabriu buquerque compôs a sua primeira obra para o processo composicional e ampliou o movimento Porquestra, a Suíte Breve. A inexistência de uma or- com uma coda que, se tem a desvantagem de roubar questra sinfônica em Porto Alegre até os anos 1950 do piano a moral da história, arredonda o movimen- tornava inútil a composição de peças com a orques- to e dá um final mais coerente, menos imprevisto, à tração completíssima que Albuquerque desejava obra toda. para essa obra, cuja primeira versão data de 1954. Há muitas sombras na Suíte Breve. Um resto de Compor para piano e extrair canções dos versos de canção folclórica aqui, um fragmento a lembrar Augusto Meyer e Athos Damasceno, modernistas Villa-Lobos ali. E, acolá, um eco avant la lettre do rio-grandenses, talvez fosse tarefa mais prazerosa. A Tom Jobim de Urubu. Nessas sombras, no caráter “te- criação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, no legráfico” dos seus movimentos externos, na melan- início dos anos 1950, foi o impulso necessário para a colia das cordas do segundo movimento, na orques- composição da Suíte Breve, ensaiada um ano antes na tração desenhada com detalhes precisos, a Suíte Breve trilha sonora do filme Parque. é puro Armando Albuquerque, assim como no afeto A Suíte Breve [editada agora pela Criadores do Bra- ao criar temas cativantes e na falta de paciência para sil, da Osesp] é a mais elaborada das obras orques- levá-los às últimas consequências. trais de Albuquerque, entre as quais está a Evocação de Augusto Meyer, que a Osesp interpretou [e editou] em Celso Loureiro Chaves é compositor e professor titular do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio 2012. Seus três movimentos curtos coincidem com a Grande do Sul. brevidade referida no título, e todos eles ampliam al- gum aspecto característico da obra de Albuquerque. O primeiro movimento, “Abertura”, é uma sequência de ideias que, uma vez expostas, desaparecem para não voltar. Aí está a aplicação prática da frase que ouvi o compositor repetir tantas vezes: “Quando não tenho mais nada a dizer, eu paro”. É este procedimen- to que confere à obra seu caráter epigramático, e o primeiro movimento da Suíte Breve é exatamente uma “sequência não sequencial” de miniaturas, cada uma surpreendendo o ouvinte por um breve instante. O segundo movimento, “Cantilena”, ao contrário, é uma das únicas ocasiões em que, em Albuquerque, um tema volta a ser ouvido, quase num eco da forma A-B-A clássica. O núcleo desse movimento é a me- lancolia que de vez em quando invade a obra do com- positor. Aqui, sopros e percussão calam para que se ouça algo que é, a um só tempo, dramático e saudo- so, a mexer com a memória do ouvinte: “Mas isso eu já ouvi, isso eu já vivi...”. É também de memória que trata o terceiro mo- vimento, “Final”. Os dois instrumentos mais signifi- cativos da vida de Albuquerque têm voz solista — o violino, seu instrumento de formação nos anos 1920, e o piano, que, com presença constante ao longo da obra, é seu alter ego. A cadência para violino é cur-

74 Armando Albuquerque

75 Sugestões de Leitura

Charles Rosen

The Classical Style

W.W. Norton, 1971 CELSO ANTUNES FABIO MARTINO PIANO

REGENTE ASSOCIADO Última Vez Com a Osesp em Abril de 2006 Alfred Einstein Nascido em 1959, em São Paulo, Nascido em São Paulo, em 1988, Mozart, his character, his work Celso Antunes assumiu o posto Fabio Martino começou a tocar Oxford University Press,1968 de regente associado da Osesp piano aos 5 anos. Estudou na em 2012. Formado como regente Universidade de São Paulo Eero Tarasti na Musikhochschule de Colônia, e na Universidade Estadual de Heitor Villa-Lobos: The Life atua com a mesma desenvoltura Karlsruhe, na Alemanha, sob a and Works, 1887-1959 como regente de orquestra e de orientação de Fany Solter e Mcfarland & Company, 1995 coral. Antunes é professor de Sontraud Speidel. Já se regência coral da prestigiosa apresentou como solista com as Paulo Renato Guérios Haute École de Musique de orquestras Sinfônica Brasileira, Heitor Villa-Lobos – O Caminho Genebra, foi regente titular da Filarmônica de Minas Gerais e Sinuoso da Predestinação Nova Orquestra de Câmara da Sinfônica da Rádio da Baviera, FGV, 2003 Renânia (1994-8), do Coro da além da própria Osesp. Em Rádio da Holanda (2008-12) e do 2010, obteve o primeiro lugar Fábio Zanon conjunto belga de música no Concurso Internacional Villa-Lobos (Série “Folha Explica”) contemporânea Champ d’Action BNDES de Piano e, no ano Publifolha, 2009 (1994-7), além de diretor seguinte, venceu o concurso artístico e regente titular do internacional de piano National Chamber Choir, da promovido pelo Círculo Irlanda, entre 2002 e 2007, anos Cultural da Economia Alemã.

Internet considerados pelo Irish Times Em 2013, lançou CD pelo selo como “uma idade de ouro para o alemão Oehms com obras de canto profissional na Irlanda”. Brahms e Schumann, além das www.mozartproject.org Trabalha regularmente com primeiras gravações mundiais da alguns dos principais corais da Sonata nº 3 Para Piano, de York www.museuvillalobos.org.br Europa, entre os quais o SWR Höller, e dos Três Estudos Vokalensemble Stuttgart, o Intervalares, de Edino Krieger. BBC Singers, em Londres, e o Vlaamse Radio Koor, em Bruxelas. Entre os maestros com quem já trabalhou, estão Sir Simon Rattle, Zubin Mehta, Mariss Jansons, Charles Dutoit, Peter Eötvös, Sylvain Cambreling e Marin Alsop. Em 2013, a Osesp lançou gravação de obras sinfônicas de Almeida Prado regidas por Celso Antunes (Selo Osesp Digital).

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Compor histórias de realização é a nossa cultura. 77 78 21 DOM 16H Orquestra de Câmara da Osesp

CLÁUDIO CRUZ REGENTE NATAN ALBUQUERQUE JR. CORNE INGLÊS

PETER WARLOCK [1894-1930] Suíte Capriol [1926] - Basse-Danse: Allegro Moderato - Pavane: Allegretto, ma un Poco Lento - Tordion: Con Moto - Bransles: Presto - Pieds-en-l'air: Andante Tranquillo - Mattachins (Sword Dance): Allegro Con Brio 10 MIN

SERGIO ASSAD [1952] Sonhos e Memórias [2014]

[Encomenda Osesp. Estreia Mundial] 6 MIN

IGOR STRAVINSKY [1882-1971] Concerto em Ré - Concerto de Basel [1946] - Vivace - Arioso: Andantino - Rondo: Allegro 12 MIN ______

PYOTR I. TCHAIKOVSKY [1840-93] Souvenir de Florence, Op.70 [1890] - Allegro Con Spirito - Adagio Cantabile e Con Moto - Allegretto Moderato - Allegro Vivace 33 MIN

Pinturas azuis, quase monocromáticas, constituem a série Tudo te é Falso e Inútil, cujo título foi extraído de um poema de Fernando Pessoa. Produzidas entre 1992 e 1993, essas cinco telas apresentam uma estrutura similar: uma figura humana corpulenta, sentada em meio a um espaço desolado, e alguns objetos como a bicicleta, o manequim e os carretéis, elementos que aludem a diferentes fases da produção do artista. Nessas pinturas do final de sua vida, Iberê abordou aspectos como a solidão, o abandono e a morte, realizando, ao mesmo tempo, uma espécie de síntese e revisão de sua obra. Fundação Iberê Camargo

Uma parceria entre a Fundação Osesp e a Fundação Iberê Ca- margo, de Porto Alegre, permitirá que, ao longo da Temporada, Tudo te é falso e inútil III, 1992 cada número da Revista Osesp traga a reprodução de uma obra óleo sobre tela de Iberê, cujo centenário de nascimento se celebra em 2014. As 200 x 236 cm col. Maria Coussirat Camargo obras foram escolhidas e comentadas pela equipe de Acervo e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre Catalogação da Fundação Iberê Camargo.

79 Gravações Recomendadas ilho de uma abastada família londrina, Peter Warlock estudou no Eton College e na Oxford University, obtendo uma sólida formação huma- WARLOCK nística. Quando adulto, teve que se contrapor Capriol Suite Fà família para seguir frequentando os círculos artís- Academy of St Martin in the Fields ticos pelos quais se encantara durante seus anos de Sir Neville Marriner, regente estudos. Essa tensão talvez esteja na origem de seu London Records, 1990 provável suicídio, aos 36 anos. Além de compositor e arranjador, atuou com su- STRAVINSKY cesso como jornalista, crítico de música e editor, Concerto em Ré mas nunca conseguiu propriamente estabelecer Die Deutsche uma carreira. Foi responsável pela publicação de Kammerphilharmonie Bremen centenas de partituras de música renascentista, ex- Paavo Järvi, regente periência determinante para a elaboração daquela Pentatone, 2004 que é tida como sua principal composição, a Suíte

ORCHESTRAL WORKS Capriol. A peça se baseia na Orchesographie, do abade Stuttgarter Kammerorchester francês Jehan Tabourot (que assina sob o pseudô- nimo anagramático Thoinot Arbeau), um tratado Dennis Russell Davies, regente sobre danças renascentistas, publicado em 1588. ECM, 2005 O manual, que consiste numa das principais fontes sobre o assunto, traz inúmeros registros de passos TCHAIKOVSKY de dança associados a notas musicais, com xilogra- Souvenir de Florence vuras de músicos e dançarinos. O livro também Chamber Orchestra of Europe serviu de base para Agon, último balé escrito por Gerard Korsten, regente Stravinsky, em 1957. Deutsche Grammophon, 1993 Apesar da inspiração direta em melodias anotadas por Tabourot, a Suíte de Warlock pode ser considera- da uma criação original, e muito singular. Seus seis movimentos contrastantes, cada um baseado num tipo de dança, dão vida ao modalismo da música re- nascentista, revelando sua surpreendente atualidade. Escrita originalmente para dois pianos, a Suíte Ca- priol ganhou versão para orquestra de câmara (1926) e mesmo para orquestra completa (1928), ambas de autoria do próprio compositor.

Ricardo Teperman é doutorando em Antropologia Social na Universidade de São Paulo e editor da Revista Osesp.

80 Sergio Assad

peça Sonhos e Memórias foi imagina- relacionar sons espaçados, embalados por uma dinâ- da como uma espécie de ode ao sonho. mica suave, a uma atmosfera onírica. Entretanto, os Existem várias interpretações sobre o sonhos podem também ser agitados e ansiosos. Ao significado dos sonhos e as menções ao escrever Sonhos e Memórias, levei esta multiplicidade Atema remontam às civilizações mais antigas. A de associações em consideração. relação de cada um com os próprios sonhos varia: A peça começa introduzindo um mero fragmento algumas pessoas se lembram mais que outras do melódico em busca de um tema. Quando finalmen- que sonham. te materializado na seção A, o tema é um leitmotif O sono divide-se em dois tipos distintos: nrem apresentado pela primeira vez pelo corne inglês. (non-rapid eye movement) e rem (rapid eye movement). Na Esse leitmotif será então submetido a várias transfor- fase rem, a atividade onírica é imensa e pode ligar mações de caráter emocional, que aparecem numa eventos do cotidiano com fortes impulsos emocio- sequência em que cada acontecimento carrega o em- nais. Esse encontro do dia-a-dia com as emoções brião do próximo. Chegamos então à seção B, que psíquicas pode resultar em imagens absurdamente representa um mergulho no sono profundo. Nes- surrealistas ou plenamente coerentes, dando espaço sa fase, a exploração do leitmotif é completamente a interpretações diversas. dominada pelo corne inglês, até a recapitulação da Atraído pelo assunto, escrevi Sonhos e Memórias. seção A, reapresentada com ligeiras modificações, Traduzir sonhos em sons é um exercício de pura simbolizando a memória do sonho. imaginação, tanto da parte do compositor como da parte do ouvinte. De modo mais imediato, podemos Sergio Assad

81 Pássaro de Fogo (1910), Petrouchka chaikovsky é comumente conhecido por (1911/1947) e Sagração da Primavera seus balés, concertos e sinfonias, mas foi (1913), os três principais balés de também compositor de muita música de Stravinsky com Diaghilev, são, em câmara, entre as quais Souvenir de Florence Ogeral, a porta de entrada para o extenso e varia- T[Lembranças de Florença], sexteto para dois violi- do repertório do compositor. Trata-se de um nos, duas violas e dois violoncelos. Composta em criador cuja obra se confunde com o próprio sé- 1890, a peça foi dedicada à Sociedade de Música de culo xx, com suas mudanças e rupturas. Pudera: Câmara de São Petersburgo. O sexteto tem quatro Stravinsky escreveu música por mais de setenta movimentos e, como característica geral, segue o anos e abordou diversos estilos de composição. estilo do compositor, com um cuidado e um do- Em 1946, o compositor morava em Hollywood e mínio da forma exemplares. A preocupação não é já tinha cidadania norte-americana quando recebeu quebrar a tradição, mas sim usá-la para alimentar do maestro suíço Paul Sacher (1906-99), fundador ainda mais o páthos e tudo que pode estar relacio- da Kammerorchester Basel, a encomenda para es- nado a esta palavra: paixão, excesso, catástrofe, crever um pequeno concerto para orquestra de afetos, passividade, sofrimento, ou seja, uma ver- cordas. Tendo sido a responsável por sua estreia, a dadeira apoteose romântica. orquestra acabaria emprestando o nome ao Concerto O próprio título da obra remete ao universo em Ré, que ficou conhecido como Concerto de Basel. nostálgico de Florença, onde Tchaikovsky se sentia A peça foi a última obra tonal de Stravinsky. particularmente feliz: a Itália sempre foi um dos Depois dela, o compositor se lançaria à técnica do- destinos preferidos do compositor, que lá passou decafônica criada por seu antípoda histórico, Ar- longas temporadas. Em todas as obras nascidas na nold Schoenberg. Com duração de pouco mais de Itália, brilha um pouco do sol local. doze minutos e três movimentos contrastantes, à É bem verdade que Souvenir de Florence nasceu de maneira dos Concertos de Brandenburgo, de Bach, o forma angustiante para Tchaikovsky. Em carta ao seu Concerto de Basel é um exemplo do chamado “neo- irmão Anatol, reconhece a dificuldade: “Estou escre- classicismo” de Stravinsky. vendo sob uma pressão incomum e estou nesta situ- O espirituoso primeiro movimento — “Vivace” ação não porque me faltem ideias, mas sim porque — flerta com a forma-sonata clássica. O segundo esta forma é totalmente nova para mim. Preciso de — “Arioso: Andantino” — possui melodia de uma seis vozes independentes, mas ao mesmo tempo simi- ternura rara em Stravinsky. Finalmente, o frenesi lares, e isso é incrivelmente difícil”.1 Esta angústia é de arcadas e a miríade de notas do brilhante “Ron- dividida também com o violinista russo Eugen Albre- do: Allegro” nos fazem querer levantar da cadeira. cht: “Peço-lhe para ser franco apontando deficiências

1. Werner-Jensen, Arnold. Reclams Kammermusikführer (Stuttgart: Reclaim, 2005).

82 Sugestões de Leitura técnicas; você pode dizer o que mudaria, por favor, porque tenho certeza de que você tem uma compre- ensão muito melhor desses assuntos do que eu, em particular na fuga a seis vozes que aparece no final”. Barry Smith O compositor prossegue descrevendo o caráter ge- Peter Warlock: The Life of Philip Heseltine ral dos movimentos: “O primeiro movimento preci- Oxford University Press, 1996 sa ser tocado com grande fogo e paixão, o segundo, cantábile, o terceiro, como um scherzo, brincando, e o quarto, de maneira brilhante e com entusiasmo”.2 Vera Stravinsky e Robert Craft Souvenir de Florence 1891 Stravinsky in Pictures ainda foi revisada entre e and Documents 1892 antes de estrear na Sociedade de Música de Câ- Simon & Schuster, 1978 mara de São Petersburgo, em 1892.

Igor Stravinsky e Robert Craft Alexandre Rosa é contrabaixista da Osesp, professor Dialogues and a Diary no Instituto Baccarelli e doutorando em música no Instituto de Artes da Unesp. Doubleday and Company, 1963

Robert Craft

Conversas com Igor Stravinsky

Perspectiva, 1984

Alexander Poznansky

PIOTR TCHAIKOVSKY

G. ERMAKOFF, 2012

Stuart Campbell (org.)

The Cambridge Companion to Tchaikovsky

Cambridge University Press, 2011

Internet

www.peterwarlock.org/

www.fondation-igor-stravinsky.org

www.tchaikovsky-research.org/

2. Ibidem.

83 CLÁUDIO CRUZ REGENTE NATAN ALBUQUERQUE JR. CORNE INGLÊS Spalla da Osesp de 1990 a Membro da Osesp desde 1993, 2012, Cláudio Cruz é regente Natan Albuquerque Jr. , e diretor musical da Orquestra começou a estudar oboé Sinfônica Jovem do Estado na Escola Municipal de de São Paulo. Foi diretor musical Música de São Paulo em da Orquestra de Câmara Villa- 1986, com o professor Lobos e regente titular das Benito Sanchez. Participou sinfônicas de Ribeirão Preto e de festivais de Música, como de Campinas. Como violinista, os de Tatuí, Itu, Londrina, recebeu inúmeros prêmios, Brasília, Internacional da entre os quais o da Associação Paraíba (a convite do Paulista de Críticos de Arte maestro Eleazar de (APCA), o Prêmio Carlos Carvalho) e de Campos do Gomes e o Prêmio Bravo, além Jordão (de 1985 a 1989). de um Grammy. Nos últimos Em 1992, foi premiado anos, regeu as orquestras Royal com bolsa de estudos pela Northern Sinfonia (Inglaterra), Universidade do Arizona, Vogtland Philharmonie onde recebeu orientação de (Alemanha), Sinfonia Varsovia, Anne Leek. Foi integrante Nova Filarmônica do Japão, da Orquestra Experimental Acadêmica de Hyogo e as de Repertório, da Banda orquestras de câmara de Osaka e Sinfônica do Estado de de Toulouse, além das sinfônicas São Paulo e da Orquestra de Jerusalém, Avignon e Sinfônica de Santo André. Hiroshima. Na temporada 2014, Em 2000, foi solista da regerá entre outras a Orquestra Osesp na obra The World´s do Theatro Municipal de São Ransoming, de James MacMillan, Paulo e a Sinfônica de Curitiba, na Sala São Paulo e no além de concertos no Festival encerramento do 31º Festival Berlioz, na França, em de Inverno de Campos Amsterdã e em Israel. do Jordão.

84 O progresso é feito não só com infraestrutura, mas também com o desenvolvimento das pessoas. Por isso é que a Caterpillar, além de fornecer equipamentos que constróem a infraestrutura pelo mundo todo, apoia a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, incentivando a cultura, a arte e a educação no país.

OSESP E CATERPILLAR BRASIL: CELEBRANDO 60 ANOS JUNTAS.

PARA SER SUSTENTÁVEL, O PROGRESSO REQUER HARMONIA. E A CULTURA É UM INSTRUMENTO PARA ISSO.

© 2014 Caterpillar. All Rights Reserved. CAT, CATERPILLAR, seus respectivos logotipos, “Caterpillar Yellow” 85 e a identidade visual “Power Edge”, assim como a identidade corporativa e de produtos aqui usada, são marcas registradas da Caterpillar e não podem ser usadas sem permissão.

Anun_Orquestra Sinfonica_210x280mm.indd 1 10/06/14 15:07 A Cidade, tela de Edward Hopper, de 1927 (acervo do Museu de Arte da Universidade do Arizona)

86 25 QUI 21H Cedro

26 SEX 21H Araucária

27 SÁB 16H30 Mogno

LAWRENCE RENES REGENTE CHRISTIANNE STOTIJN MEZZO SOPRANO

AARON COPLAND [1900-90] Quiet City [1940] Flavio Gabriel Solo de trompete 10 MIN Natan Albuquerque jr. solo de corne-inglês

PETER LIEBERSON [194 6 -2 011] Canções de Neruda [2005] 31 m iN ______

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770 -1827] Sinfonia nº 4 em Si Bemol Maior, Op.60 [1806] - Adagio - Allegro Vivace - Adagio - Allegro Vivace - Allegro ma Non Tropo 34 MIN

87 Gravações Recomendadas prolífico escritor Irwin Shaw se tornaria mundialmente célebre ao ter seu roman-

COPLAND ce Rich Man, Poor Man (O Pobre Homem Rico, na tradução brasileira) adaptado Quiet City Oem série televisiva da rede ABC, grande sucesso nos New York Philharmonic anos 1970. Em 1939, ele era apenas um jovem pro- Leonard Bernstein, regente missor quando foi convidado a escrever uma peça Deutsche Grammophon, 1990 inédita para o Group Theater de Nova York, criado por Lee Strasberg e Harold Clurman, em alta graças

LIEBERSON ao estrondoso sucesso de Golden Boy, dois anos antes. Quiet City Neruda Songs Shaw escreveu nos inquietantes meses que precederam a eclosão da Segunda Guerra Mun- Boston Symphony dial. A peça era pontuada pelos improvisos de um jo- James Levine, regente vem trompetista judeu, David Mellinkoff, que retra- Lorraine Hunt Lieberson, mezzo soprano tavam os pensamentos dos habitantes de uma grande

Trumpet Swan, 2006 cidade, no silêncio da noite. Aaron Copland, muito ligado à trupe e declaradamente apaixonado pelo projeto de compor para teatro, foi o encarregado da BEETHOVEN trilha sonora. Sob direção de Elia Kazan, o Group Sinfonias nº 1 e nº 4 Theater chegou a encenar o texto duas ou três vezes, Orquestra Sinfônica do mas o projeto acabou sendo abandonado. Estado de São Paulo No verão de 1940, enquanto dava aulas na primei- John Neschling, regente ra edição do Berkshire Music Center em Tanglewood,

B iscoito Fino, 2000 Copland recuperou o material produzido como tri-

lha para a peça de teatro e elaborou uma suíte para Die Symphonien trompete e orquestra de cordas, acrescentando tam- Berliner Philharmoniker bém um solo de corne inglês. Quiet City evoca The Claudio Abbado, regente Unanswered Question [A Pergunta Não Respondida], a

D eutsche Grammophon, 2000 pequena joia de Charles Ives, de 1908, revisada entre

The Symphonies 1930 e 1935. São dois belíssimos retratos musicais Orchestre Révolutionaire da vida urbana nos Estados Unidos dos anos 1930. et Romantique

Sir John Eliot Gardiner, regente Ricardo Teperman é doutorando em Antropologia Social Archiv, 2010 na Universidade de São Paulo e editor da Revista Osesp.

88 escobri os sonetos de amor de Pablo Neruda ração. O quarto, “Já és minha. Repousa com teu por acaso, no aeroporto de Albuquerque. O sonho em meu sonho”, é complexo em seu tom livro tinha uma capa rosa que me atraiu. Ao emocional. Primeiro, há a exultação da paixão. passar os olhos pelos poemas, pensei imedia- Então, palavras gentis e calmantes levam a amada Dtamente que devia musicar alguns deles para minha a um mundo de descanso, sono e sonho. Final- mulher, a mezzo soprano Lorraine Hunt Lieberson. mente, “Amor meu, se morro e tu não morres”, A oportunidade veio anos mais tarde, quando a Fi- é ao mesmo tempo muito triste e pacífico. Há um larmônica de Los Angeles e a Orquestra Sinfônica de reconhecimento de que, não importa o quanto se é Boston encomendaram conjuntamente uma peça para abençoado com o amor, chegará um momento em ser escrita por mim especialmente para Lorraine. que deveremos deixar aqueles que tanto estimamos. Cada um dos cinco sonetos que musiquei pare- Mas Neruda nos lembra de que o amor não acaba: ce refletir uma diferente face do espelho do amor. “Assim como não teve nascimento/ Morte não O primeiro, “Se não fosse porque têm cor-de-lua tem, é como um longo rio,/ só muda de terras e teus olhos”, é pura apreciação do amado. O segun- de lábios”. do, “Amor, amor, as nuvens à torre do céu/Subi- Sou muito grato a Neruda por sua linda poesia, ram como triunfantes lavadeiras”, é alegre e também pois, ainda que esses poemas tenham sido escritos misterioso em sua evocação dos elementos da natu- para outra pessoa, quando os musiquei estava falando reza: fogo, água, vento, espaço luminoso. O terceiro diretamente à minha amada Lorraine. poema, “Não estejas longe de mim um só dia”, re- flete a angústia do amor, o medo e a dor da sepa- Peter Lieberson. Tradução de Rodrigo Vasconcelos.

O poeta Pablo Neruda em Londres, em 1965

89 Sugestões de Leitura Peter Lieberson era um mago da harmonia. Escrevia com a rara combinação de rigor modernista e sensualidade romântica, característica cada vez Howard Pollack mais proeminente em anos recentes. Entre suas Aaron Copland: THE LIFE AND principais obras estão o Concerto nº 1 Para Piano, WORK OF AN UNCOMMON MAN escrito para o pianista Peter Serkin; Drala, uma

University of Illinois Press, 2000 suntuosa sinfonia em miniatura; a ópera Ashoka’s Dream [O Sonho de Ashoka], que foi estreada em Santa Fé, em 1997; e Neruda Songs [Canções de Glenn Stanley (ed.) Neruda]. Seu pai era Goddard Lieberson, o poderoso The Cambridge Companion presidente da Columbia Records; sua mãe, a to Beethoven dançarina Vera Zorina. Estudou composição com Cambridge University Press, 2000 Milton Babbitt, entre outros. Era profundamente versado em budismo tibetano e, por um tempo, dirigiu um centro de meditação budista em Nova Tia Denora Escócia. “O que faz a vida humana tão pungente é o Beethoven and the construction reconhecimento de sua profunda impermanência”, of Genius: Musical Politics declarou ao jornalista David Weininger, do Boston in Vienna, 1792-1803 Globe, pouco tempo antes de morrer. University of California Press, 1995 Espero não ser indulgente ao acrescentar que tive uma conexão pessoal com Peter. Fomos colegas num Scott Burnham curso na universidade — uma disciplina teórica maravilhosa, em que passamos semanas após Beethoven Hero semanas admirando acordes isolados do Erlkönig [O Princeton University Press, 2000 Rei dos Elfos], de Schubert. Ele teve a palavra final em relação a minha não-carreira de compositor ao Pablo Neruda descrever minha Sonatina como “muito interessante...

Cem Sonetos de Amor e um tanto peculiar”. Ainda que não tenhamos voltado a conversar pessoalmente — uma vez eu o vi junto a L&PM, 1998 (tradução de Carlos Nejar) sua esposa, a mezzo soprano Lorraine Hunt, em uma multidão em Santa Fé, mas tive um ataque de timidez Alex Ross —, nós trocamos correspondências após a morte de O resto é ruído Lorraine. Quando lhe enviei uma cópia de meu livro Companhia das Letras, 2007 O Resto é Ruído, ele mandou-me, em resposta, o manuscrito de Canções de Neruda, que para mim será sempre um tesouro. Na edição de capa dura de O Resto é Ruído, faltou alguma menção à sua música, mas por ocasião do lançamento da edição de bolso, decidi inserir um comentário sobre Canções de Neruda, comparando-as às Quatro Últimas Canções, de Strauss. São agora a obra mais recente Internet mencionada no livro.

Alex Ross é crítico de música da revista The New Yorker e autor de O Resto é Ruído (Companhia das Letras, 2011) www.coplandhouse.org/ e Escuta só (Companhia das Letras, 2009). Trecho de post www.lvbeethoven.com publicado no blog therestisnoise.com na ocasião da morte www.beethoven-haus-bonn.det de Peter Lieberson. Tradução de Rodrigo Vasconcelos.

90 o monumental conjunto de sinfonias de Real do Concertgebouw. Tive a oportunidade de as- Beethoven, cuja conclusão com a celebérri- sistir a ensaios com grandes maestros, como Nikolaus ma Nona se imporia como um dos maiores Harnoncourt, Frans Brüggen e John Eliot Gardiner, marcos na história da música ocidental, a Sin- com quem pude conversar a respeito do que se con- Dfonia nº 4 é talvez a menos tocada. Foi escrita em 1805, vencionou chamar de performance histórica. Era algo mesmo ano em que nasceriam obras fundamentais com que eu estava bastante familiarizado, graças à mi- como o Concerto nº 4 Para Piano, os Quartetos Razumovsky nha prática com o violino barroco, e que teve grande e a Sonata Appassionata, além da Sinfonia nº 5. E, apesar importância na minha formação como regente. de muitas vezes ter ficado à sombra das demais, não há dúvida de que se trata de uma obra-prima. Quais são, na sua opinião, as principais contribuições Como propõe Italo Calvino em Por Que Ler os Clássi- dessa tendência? cos,1 um clássico nunca termina de dizer o que tem a di- Acredito que as pesquisas com instrumentos de zer. A recorrente classificação das sinfonias de Beetho- época e performance histórica são muito relevantes ven em ímpares e pares — com tendência a valorizar ainda hoje. Em muitos sentidos, as últimas duas ou mais as primeiras — vem sendo objeto de revisão por três décadas trouxeram uma verdadeira mudança em musicólogos como Scott Burnham, autor de Beethoven nossa concepção de história, — e não apenas na mú- Hero.2 A voga das interpretações com instrumentos de sica. Se pensarmos em cinema, por exemplo, é no- época também trouxe novos ventos para a compreen- tável como os filmes de guerra antes dos anos 1980 são da obra de Beethoven. Em entrevista exclusiva à tendiam a ser muito carregados de uma espécie de Revista Osesp, o maestro Lawrence Renes apresenta um romantismo, se comparados com o realismo de obras pouco de sua visão pessoal sobre a Quarta Sinfonia. como O Resgate do Soldado Ryan, de Spielberg. A contribuição dessas pesquisas é problematizar Quais são os desafios específicos de reger Sinfoniaa nº 4, de maneira positiva o trabalho das orquestras. Hoje de Beethoven? em dia, não basta encontrar um belíssimo som or- A música de Beethoven é realmente revolucionária questral e achar que com ele se poderá tocar todas as e isso aparece tanto nas obras mais célebres quanto em obras do repertório sinfônico, tanto Debussy quan- peças relativamente menos conhecidas como a Sinfonia to Beethoven. Uma orquestra precisa encontrar uma nº 4. Interpretá-la, para mim, é buscar os limites do linguagem específica para interpretar cada estilo. possível e, diria mesmo, tentar ir além. Já regi a Sinfo- nia nº 4 com pelo menos dez orquestras diferentes, em Quais as suas expectativas ao voltar a reger a Osesp? cerca de 25 performances. Sinto conhecer bastante É sempre muito estimulante reencontrar um grupo bem a partitura, mas, a cada apresentação, busco le- com o qual já se trabalhou. Já se conhece um pouco os var mais longe o desafio de encontrar uma maneira de músicos e se tem uma ideia melhor de como conduzir tocar que permita que o público ouça melhor as vozes o trabalho. Quando regi a Osesp pela primeira vez, internas, tão magistralmente escritas por Beethoven. em 2012, foi também minha primeira visita à Améri- ca do Sul. Guardo excelentes lembranças do alto nível Em que medida sente-se influenciado pelas interpretações dos músicos e será um grande prazer voltar a sua belís- em instrumentos de época? sima sala de concertos. Sinto-me desafiado a trabalhar Minha formação inicial foi como violinista, no final com os músicos, no curto tempo que teremos, para dos anos 1980, início dos anos 1990, e nessa época juntos descobrirmos quão longe poderemos ir. estudei também violino barroco. Vivendo em Amster- dã, frequentava regularmente os ensaios da Orquestra Entrevista a Ricardo Teperman.

1. Calvino, Italo. Por Que Ler os Clássicos (São Paulo: Companhia das Letras, 2007). 2. Burnham, Scott. Beethoven Hero (Londres: Princeton University Press, 1995).

91 LAWRENCE RENES REGENTE CHRISTIANNE STOTIJN MEZZO SOPRANO

Última Vez Com a Osesp em Outubro de 2012 Primeira Vez Com a Osesp Lawrence Renes estudou violino Nascida em Delft, a mezzo no Conservatório de Amsterdã, soprano Christianne Stotijn e regência no Conservatório estudou violino e voz no Real de Haia, onde se formou Conservatório de Amsterdã. com distinção em 1993. De Posteriormente, aprofundou 1994 a 1996, trabalhou como seus estudos de voz com Udo assistente de Edo de Waart na Reinemann, Jard van Nes e Orquestra Filarmônica da Rádio Dame Janet Baker. Recebeu os da Holanda. De 1998 a 2003, foi prêmios ECHO Rising Stars, regente titular e diretor artístico Borletti-Buitoni Trust Award da Het Gelders Orkest, em e Nederlands Muziekprijs. Arnhem, e, entre 2001 e 2006, Em 2007, foi eleita Artista da foi diretor musical do Teatro Nova Geração pela BBC. Já se de Bremen e da Filarmônica de apresentou com as orquestras Bremen. Lawrence Renes regeu Real do Concertgebouw e as as orquestras Staatskapelle sinfônicas de Boston, Chicago Dresden, as sinfônicas de e Londres, sob regência dos Gotemburgo, Melbourne, da maestros Bernard Haitink, Rádio da Baviera, Nacional da Claudio Abbado, Iván Fischer, Dinamarca, Alemã de Berlim, Esa-Pekka Salonen, Yannick e as filarmônicas de Bergen, Nézet-Séguin, Andris Nelsons, Londres, Los Angeles, Hong Gustavo Dudamel, Mark Elder Kong, Seul e da Radio France. e Jaap van Zweden. Em 2013, Desde 2012, é regente titular interpretou a estreia mundial de e diretor musical da Ópera Totentanz, de Thomas Adès, no Real da Suécia. festival BBC Proms, no Royal Albert Hall, em Londres. Sua gravação das canções de Tchaikovsky (Onyx, 2010) recebeu o prêmio BBC Music Magazine.

92 A FOLHA SEGUE A CENA CULTURAL QUE É A siga MINHA CENA. folha 93 Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo Desde seu primeiro concerto, em 1954, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo — Osesp — construiu uma trajetória de grande sucesso, tornando-se a instituição que é hoje. Reconhecida internacionalmente por sua excelência, a Orquestra é editora de partituras Criadores de Arthur Nestrovski como parte indissociável da cultura do Brasil, e a Academia de diretor artístico e do maestro paulista e brasileira, promovendo Música. As temporadas se francês Yan Pascal Tortelier como transformações culturais e sociais destacam pela diversificação de regente titular. Em fevereiro de profundas. Nos primeiros anos, repertório, e uma parceria com o 2011, o Conselho da Fundação foi dirigida pelo maestro Souza selo sueco BIS e com a gravadora Osesp anuncia a norte-americana Lima e pelo italiano Bruno carioca Biscoito Fino garante a Marin Alsop como nova regente Roccella, mais tarde sucedidos difusão da música brasileira de titular da Orquestra por um por Eleazar de Carvalho (1912- concerto. A criação da Fundação período inicial de cinco anos, a -96), que por 24 anos dirigiu a Osesp, em 2005, representa um partir de 2012. Tortelier continua Orquestra e desenvolveu intensa marco na história da Orquestra. com a Osesp como regente atividade. Nos últimos anos sob Com o presidente Fernando convidado de honra, 2012-13. seu comando, o grupo passou por Henrique Cardoso à frente do Também a partir de 2012, Celso um período de privações. Antes Conselho de Administração, a Antunes assume o posto de regente de seu falecimento, porém, Fundação coloca em prática associado da Orquestra. Neste Eleazar deixou um projeto de novos padrões de gestão, que mesmo ano, em sequência a reformulação da Osesp. Com o se tornaram referência no meio concertos no festival BBC Proms, empenho do governador Mário cultural brasileiro. Além das de Londres, e no Concertgebouw Covas, foi realizada a escolha do turnês pela América Latina de Amsterdã, a Osesp é apontada maestro que conduziria essa nova (2000, 2005, 2007), Estados pela crítica estrangeira (The fase na história da Orquestra. Em Unidos (2002, 2006, 2008), Guardian e BBC Radio 3, entre 1997, o maestro John Neschling Europa (2003, 2007, 2010, 2012, outros) como uma das orquestras assume a direção artística da 2013) e Brasil (2004, 2008, 2011), de ponta no circuito internacional. Osesp e, com o maestro Roberto o grupo mantém desde 2008 o Lança também seus primeiros Minczuk como diretor artístico projeto Osesp Itinerante, pelo discos pelo selo Naxos, com o adjunto, redefine e amplia as interior do estado de São Paulo, projeto de gravação da integral das propostas deixadas por Eleazar. realizando concertos, oficinas e Sinfonias de Prokofiev, regidas por Em pouco tempo, a Osesp abre cursos de apreciação musical para Marin Alsop, e da integral das concursos no Brasil e no exterior, mais de 70 mil pessoas. Indicada Sinfonias de Villa-Lobos, regidas eleva os salários e melhora as em 2008 pela revista Gramophone por Isaac Karabtchevsky. Em 2013, condições de trabalho de seus como uma das três orquestras Marin Alsop é nomeada diretora músicos. A Sala São Paulo é emergentes no mundo às quais se musical da Osesp e a orquestra inaugurada em 1999 e, nos anos deve prestar atenção, e mais realiza nova turnê europeia, seguintes, são criados os Coros recentemente (2012) tema de apresentando--se pela primeira vez Sinfônico, de Câmara, Juvenil e destaque em publicações como o — e com grande sucesso — na Infantil, o Centro de jornal The Times e a mesma Salle Pleyel, em Paris, no Royal Documentação Musical, os Gramophone, a Osesp iniciou a Festival Hall, em Londres, e na Programas Educacionais, a temporada 2010 com a nomeação Philharmonie, em Berlim.

94 Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo Academia da osesp diretora musical e regente titular HARPA VIOLINOS MARIN ALSOP Liuba Klevtsova Dan Tolomony Regente associado Gideoni Loamir Celso antunes FLAUTAS Monique dos Anjos CLAUDIA NASCIMENTO* VIOLINOS Fabíola Alves piccolo VIOLA Emmanuele Baldini spalla José Ananias Souza Lopes Everton Taborda Davi Graton spalla*** Sávio Araújo Natanael Ferreira Yuriy Rakevich Lev Veksler*** OBOÉS VIOLONCELO Adrian Petrutiu Arcádio Minczuk Matheus Mello Igor Sarudiansky Joel Gisiger Matthew Thorpe Natan Albuquerque Jr. corne inglês CONTRABAIXO Alexey Chashnikov Peter Apps Rafael Figueredo AMANDA MARTINS Ricardo barbosa Andreas Uhlemann FLAUTA Raul Menezes Camila Yasuda CLARINETES Ovanir Buosi Carolina Kliemann Sérgio Burgani OBOÉ César A. Miranda Nivaldo Orsi clarone Érico Marques Cristian Sandu Daniel Rosas Públio da Silva Elena Klementieva Giuliano Rosas Elina Suris CLARINETE Florian Cristea FAGOTES María del Mar Rábago Gheorghe Voicu Alexandre Silvério Patrick Viglioni Inna Meltser José Arion Liñarez Irina Kodin romeu rabelo contrafagote FAGOTE Katia Spássova Francisco Formiga Francisco Wellington Leandro Dias Marcelo Soares TROMPAS TROMPA Paulo Paschoal Dante Yenque Jessica Maria Vicente Rodolfo lota Ozéas Arantes Simona Cavuoto André Gonçalves TROMPETES Cristóbal Rojas Salinas Soraya Landim José Costa Filho Lucas Espindola Sung-Eun Cho Nikolay GENOV Luciano Pereira do Amaral Svetlana Tereshkova TROMBONES Tatiana Vinogradova Samuel Hamzem Eduardo Minczuk Ezequiel Silva Lima anderson farinelli* Hélio Góes MARCELA Sarudiansky* TROMPETES MONIQUE DOS ANJOS* Fernando Dissenha TUBA Gabriel Díaz Araya VIOLAS Gilberto Siqueira Horácio Schaefer Antonio Carlos Lopes Jr. PERCUSSÃO Marcelo Matos Maria Angélica Cameron Carlos Ferreira Peter Pas Flávio Gabriel* Andrés Lepage TROMBONES David Marques Silva Darcio Gianelli Éderson Fernandes Wagner Polistchuk Galina Rakhimova Alex Tartaglia Olga Vassilevich Fernando Chipoletti Simeon Grinberg Vladimir Klementiev TROMBONE BAIXO ALEN BISONIC* Darrin Coleman Milling DIEMERSON SENA* TUBA SARAH PIRES* Marcos dos Anjos Jr.** Luiz Ricardo Serralheiro* VIOLONCELOS TÍMPANOS JOHANNES GRAMSCH Elizabeth Del Grande Wilson Sampaio*** Ricardo Bologna Heloisa Meirelles Adriana Holtz PERCUSSÃO Bráulio Marques Lima Ricardo Righini 1ª percussão Douglas Kier Alfredo Lima Jin Joo Doh Armando Yamada Maria Luísa Cameron Eduardo Gianesella Marialbi Trisolio Rubén ZúÑiga Regina Vasconcellos TECLADOS Rodrigo Andrade Silveira Olga Kopylova RODRIGO DE SÁ OLIVEIRA* GERÊNCIA CONTRABAIXOS Joel Galmacci gerente Ana Valéria Poles Xisto Alves Pinto inspetor Pedro Gadelha Laura Padovan Passos Marco Delestre Max Ebert Filho Alexandre Rosa Almir Amarante Cláudio Torezan (*) músico convidado Jefferson Collacico (**) músico licenciado Lucas Amorim Esposito (***) cargo interino Ney Vasconcelos Os nomes estão relacionados em ordem alfabética, por categoria. Informações sujeitas a alterações

95 coro da osesp A combinação de um grupo de musicais, com ênfase nos séculos Estado de São Paulo em 1994, cantores de sólida formação xx e xxi e nas criações de passou a se chamar Coro da musical com a condução de uma compositores brasileiros, como Osesp em 2001. Em 2009, o das principais regentes brasileiras Almeida Prado, Aylton Escobar, Coro da Osesp lançou seu faz do Coro da Orquestra Gilberto Mendes, Francisco primeiro disco, Canções do Brasil, Sinfônicado Estado de São Paulo Mignone, Liduíno Pitombeira, que inclui obras de Osvaldo uma referência em música vocal João Guilherme Ripper e Villa- Lacerda, , no Brasil. Nas apresentações junto -Lobos, entre outros. À frente do Camargo Guarnieri, Marlos à Osesp, em grandes obras do grupo, Naomi Munakata tem Nobre, Villa-Lobos, entre repertório coral-sinfônico, ou em regido também obras outros compositores brasileiros. concertos a cappella na Sala São consagradas, que integram o Em 2013, lançou gravação de Paulo e pelo interior do estado, o cânone da música ocidental. obras de Aylton Escobar grupo aborda diferentes períodos Criado como Coro Sinfônico do (Selo Osesp Digital).

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REGENTE HONORÁRIA regente NAOMI MUNAKATA MARCOS THADEU

SOPRANOS TENORES SOPRANOS Anna Carolina Moura Anderson Luiz de Sousa Lais Assunção Eliane Chagas Carlos Eduardo do Nascimento Maria Medeiros Érika Muniz Clayber Guimarães Negravat Flávia Kele de Souza Ernani Mathias Tatiane Reis Jamile Evaristo** Fábio Vianna Peres CONTRALTOS Ji Sook Chang Jocelyn Maroccolo Ana Luiza de Oliveira Maynara Arana Cuin Luiz Eduardo Guimarães Carla Campinas Natália Áurea Márcio Soares Bassous monitor Caroline Jadach Regiane Martinez monitora Odorico Ramos Daniela Lamim Regina Ayres Paulo Cerqueira Emily Alves Roxana Kostka Rúben Araújo Thaís Schloenbach** tenores BAIXOS / BARÍTONOS Viviana Casagrandi Bruno Arrabal Aldo Duarte Isaque Oliveira CONTRALTOS / MEZZOS Erick Souza Marcus Loureiro Ana Ganzert Fernando Coutinho Ramos Miqueias Pereira Cely Kozuki Flavio Borges Clarissa Cabral Francisco Meira baixos Cristiane Minczuk Israel Mascarenhas André Rabello Fabiana Portas João Vitor Ladeira Fúlvio Lima Maria Angélica Leutwiler Laercio Resende Gabriel Calixto Maria Raquel Gaboardi Moisés Téssalo Luis Fidelis Mariana Valença Paulo Favaro Marcus Ouros Mônica Weber Bronzati Sabah Teixeira monitor Patrícia Nacle Silas de Oliveira PIANISTA CORREPETIDORa Léa Lacerda monitora Camila oliveira PREPARADOR VOCAL Silvana Romani Marcos Thadeu Solange Ferreira Vesna Bankovic PIANISTA CORREPETIDOR Fernando Tomimura

(*) músico licenciado GERÊNCIA (**) Em experiência no Coro da osesp Claudia dos Anjos gerente Os nomes estão relacionados Sezinando Gabriel de O. Neto inspetor em ordem alfabética, por categoria. Ana Claudia Marques da Silva assistente Informações sujeitas a alterações

CORO INFANTIL DA OSESP CORO JUVENIL DA OSESP

REGENTE REGENTE TERUO YOSHIDA PAULO CELSO MOURA

Allice Souza Diniz Priscila Cardoso Teixeira Alan Santos Rodrigues de Oliveira Ana Carolina da Costa Oliveira Rafaella Martins Silva Aline Thais Moraes Durán Ana Luiza Rosa Naves Renata Garcia Custódio Amanda Bispo Ferreira da Silva Camila Araújo Fonseca Renata Lahat Anaís Levin Camila dos Santos Brito Sara Helen da Silva Andressa Daniella Santos Catarina Akemi Lopes Kawakami Sofia Martins Ribeiro Coelho de Magalhães Beatriz Ribeiro Montin Catarina Pereira de Oliveira Monteiro Sofia Spassova Costa Bianca Carvalho de Almeida Cloe Perrut de Godoi Sophia Alfonso Frederico Carina Bispo Miranda Eduarda Marques Grolla Stéphanie de Fátima da Silva Vianna Carlos Henrique Bueno da Costa Fernanda Fernandes Quintanilha Victoria Beatriz Souza Niza Chiara Bistão Guttieri Fernanda Moreira de Carvalho Arantes Vitoria Costa de Sousa Diego Lourenço Barros de Souza Flávia Cordeiro da Silva Yohana Rocha Granatta Edgar Moises da Silva Baldoino Flávia Moreira de Carvalho Arantes Ysa Paula da Costa Oliveira Felicia Gomes Wahhab Francisco Krindges Geraldini Fernanda Loureiro Corrêa Gabriela do Nascimento Lopes dos Santos PIANISTA CORREPETIDORA Gabriel Ballaré Lima Giovanna Mello Camargo DANA RADU Gabriela Schleder do Carmo Gustavo Barraviera Rodrigues Giovanna Maria Silva Candida Hellen Cristina Souza Sabino Henrique Ibane Paim Ignacio Ingrid Santos Cle Cherun Henrique Silva Pedroso Irene Chapuis Fonseca Jessica Cancio de Oliveira Irina Alfonso Frederico Joseph Cristo Isabella Rossi Nicodemos Júlia Pissato de Almeida Prado Izabela Amoroso Cavalcante Juliana Lucca de Bittencourt Fialho Izabela Vieira Marciano Larissa Acelina Casimiro de Queiroz Jacqueline Ladeia Pereira Castanho Leonardo Oliveira de Lima Jennifer Anne Santana da Silva Luiza Sampaio Bento Costa Julia Corrêa Oliveira Lygia Polia Santiago Sampaio Julia Ribeiro Montin Maria Clara Perrut de Godoi Kelly Ibane Paim Ignácio Marina da Silva Martins Letícia Araújo Fonseca Myriam Bernardo de Sousa Santos Lohanna Souza Santos de Lima Nathan Viveiros Viana Luara Mascarenhas Nascimento Noemi Raquel Batista da Silva Lucas Shoji Paula de Castro Uzeda Luciana Guedes Germano Pedro Vinicius Vergara Silva Magalhães Luísa Lopes Petean Renato Fritz Hoefler Luiz Roberto Quinteros dos Santos Samuel Cesar Matheus Mariane Eloar Silva Camargo Sara Regina Vieira Antolini Marianne de Souza Prina Thalya Tiffany Chaves Marina Celani Guedes Thiago Constantino Marina Garcia Custódio Victória Andrezza Prado Perez Mina Chynn Ku Albuquerque Vinicius Costa Jaloto Monique Pereira Molina Yasmin Maria Amirato AFINE SEUS SENTIDOS. Nathalia Grillo Domingos TIVOLI SÃO PAULO - MOFARREJ Paula Caetano Leite PIANISTA Tivoli São Paulo - Mofarrej: Hotel Oficial da Temporada OSESP 2014 ALAMEDA SANTOS, 1437 | CERQUEIRA CÉSAR Paula Santana Schimit DANA RADU SÃO PAULO | SP | BRASIL F: 55 11 3146 5900 97 E: [email protected] PRAIA DO FORTE | SÃO PAULO | LISBOA | ALGARVE | COIMBRA | SINTRA www.tivolihotels.com Sinal Verde A Localiza apoia a OSESP e para a CULTURA diversos outros projetos culturais com o Programa Sinal Verde para e para você se emocionar com a a Cultura. Uma iniciativa que já Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. viabilizou milhares de eventos, levando entretenimento e arte a todos os cantos do país.

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98 Sinal Verde A Localiza apoia a OSESP e diversos outros projetos culturais Fundação Osesp para a CULTURA presidente de honra com o Programa Sinal Verde para FERNANDO HENRIQUE CARDOSO e para você se emocionar com a a Cultura. Uma iniciativa que já Conselho de Administração Diretoria Artística Marketing Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. viabilizou milhares de eventos, presidente DANNYELLE UEDA ASSISTENTE CARLOS HARASAWA diretor Fábio Colletti Barbosa planejamento artístico assinaturas vice-presidente Eneida Monaco coordenadora rafael santos levando entretenimento e arte Heitor Martins Flávio Moreira Maria Luiza da Silva conselheiros Thais oliveira de sousa a todos os cantos do país. Alberto Goldman Ana carla menezes* Antonio Quintella Festival internacional de inverno Captação Pessoa Física Eliana Cardoso de campos do jordão Rita Pimentel É a Localiza abrindo portas para Helio Mattar Fábio Zanon coordenador Artístico-pedagógico Gabrielle a. de oliveira Coelho* José Carlos Dias assistente Eventos a cultura e dando sinal verde Lilia Moritz Schwarcz átilla oliveira Mauren Stieven Manoel Corrêa do Lago Eliane Ribeiro Toldo de Oliveira para você se divertir. SÁVIO ARAÚJO thais yamaga* Jurídico Relacionamento parceiros Conselho de orientação Daniella albino bezerra gerente Carolina Bianchi Pedro Moreira Salles marina baraças figueiredo Relacionamento patrocinadores FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Natália Lima Celso Lafer olivia tornelli Horacio Lafer Piva Centro de Documentação Musical matheus ribeiro* José Ermírio de Moraes Neto e Editora Criadores do Brasil Antonio CARLOS Neves PINTO coordenador Conselho Fiscal Milton Tadashi Nakamoto Comunicação Jânio Gomes Heron Martins Silva MARCELE LUCON GHELARDI gerente Manoel Bizarria Guilherme Neto César Augusto Petená NATÁLIA KIKUCHI Miguel Sampol Pou Guilherme da Silva Triginelli artes gráficas LEONARDO DA SILVA ANDRADE Bernard William Carvalho Batista Conselho ConsultiVo Luciano Ramos Rossa IZABEL MENEZES Antonio Carlos Carvalho de Campos Roberto Dorigatti JULIA ARAUJO VALENCIA* Antonio Carlos Valente Tamiko Shimizu imprensa Reservas 24h: Antonio Prata Marina Tarateta Franco de Oliveira Alexandre Augusto Roxo Felix 0800 979 2000 Augusto Rodrigues Daniele Fieri silva**** Elder Magalhães* DENISE FRAGA Edimilla Silva Ferreira*** Mídias Digitais www.localiza.com Drauzio Varella Vinicius Antonio dos Santos Fabiana Ghantous Eduardo Giannetti Daniela Cotrim Eduardo Graeff LAURA BING* Eugênio Bucci Atividades Educacionais Publicações e impressos FÁBIO MAGALHÃES Rogério Zaghi coordenador Fernanda Salvetti Mosaner Francisco Vidal Luna Academia Beatriz yumi aoki* PF-0032-14 Lamina OSESP Filarmonica.indd 1 4/14/14 6:14 PM Gustavo Roxo Camila Alessandra Rodrigues da Silva publicidade Heloisa Fischer Juliana Martins Vassoler Ana Paula Silva MOnteiro Jac Leirner Dana Mihaela Radu pianista correpetidora Giovanna Campelo Jayme Garfinkel Educação Musical João Guilherme Ripper Helena Cristina Hoffmann José Henrique Reis Lobo Simone Belotti Controladoria José Pastore Daniela de Camargo Silva CRISTINA M. P. DE MATOS controller José Roberto Withaker Penteado Denilson Cardoso Araújo Alline Formigoni Rossi Lorenzo Mammì Coro infantil JeronYmo R. Romão Luiz Schwarcz Teruo Yoshida regente Mario Ferrari Fernandes dos Santos Monica Waldvogel Coro Junenil Rafael Henrique de Souza Aleixo Nelson Russo Ferreira paulo celso moura regente Paulo Aragão Brena Ferreira Bueno Pedro Parente CORO ACADÊMICO Contabilidade Pérsio Arida Marcos THadeu regente IMACULADA C. S. OLIVEIRA gerente Philip Yang Educação Patrimonial leonardo queiroz RAUL CUTAIT Renata Lipia Lima luimari rodrigues Ricardo Leal cAIO PASSADOR GARCIA vALÉRIA DE ALMEIDA CASSEMIRO Ricardo Ohtake carolina oliveira ressureição* ANA CAROLINA AZEVEDO* Sergio Adorno renata garcia cruz* Stefano Bridelli Tatyana ARAÚJO DE Freitas Financeiro Thilo Mannhardt FABIANO CASSANELLI DA SILVA gerente Vitor Hallack Vera Lucia dos Santos Souza William Veale Ailton Gabriel de Lima Jr Zélia Duncan Jandui Aprigio Medeiros Filho Vania Maria Alencar Diretoria Executiva assistentes Juliana Dias França Carolina Borges Ferreira

99 CARLOS JULIO CARLOS ARTUR XEXÉO FLAVIO GIKOVATE FLAVIO

Divisão Operacional GODOY JOSÉ

Divisão AdministrativA PASCOVICCI DEVA GIACOMO CHIARELLA gerente ANALIA VERÔNICA BELLI gerente FERNANDO GABEIRA DAN STULBACH DAN ANDRÉ SANCHES CARLOS ALBERTO SARDENBERG ALBERTO CARLOS CAROLINA BENKO SGAI Departamento Produção — Osesp indicadores JORGE LUCKI FERNANDO ABRUCIO Gustavo Paim Golçalves** Alessandra Cimino SABRINe FERREIRA GILBERTO DIMENSTEIN GILBERTO CRISTINA COGHI CRISTINA CIDRAL FABÍOLA CAROLINA MORAND ANDRÉ TRIGUEIRO SIQUEIRA ETHEVALDO ARNALDO JABOR CARLOS EDUARDO ÉBOLI EDUARDO CARLOS Rafael Lourenco Patricio RODRIGO MALUF RAMOS DA SILVA Ana Paula do Nascimento Gomes* JUCA KFOURI Sandra Aparecida Dias Ana Nely Barbosa de Lemos Anderson Beni serviço de voluntários LUCAS GOMES MARINHO MARTINS Brenda Koschel de Farias* Ana Claudia Marques da Silva Maylime Monteiro Dias de Abreu Bruno Guilhermino de França Silva serviços terceirizados Departamento de Operações DEBORA REGINA ARRUDA PARDO* Fernanda lé de Olivieira* Maria Teresa Ortona Ferreira MÔNICA CÁSSIA FERREIRA gerente Para os jornalistas da , tocar notícia é como fazer uma sinfonia. manutenção e obras Regiane Sampaio Bezerra Israel Dias de Lima* Daniela Viegas Marcondes gerente Angela da Silva Sardinha João Lucas Bressan* murilo sobral coelho Cristiano Gesualdo Larissa Baleeiro da Silva* OSVALDO DE SOUZA BRITTO Fabiane de Oliveira Araujo Marcia Sintia lins ribeiro* Marciel batista santos Guilherme Vieira MARCO AURELIO GIANELLI VIANNA DA SILVA* Felipe de Castro Leite Lapa Vinicius Goy de Aro Maria Jocelma A. R. Nishiuchi Maycon Roberto Silva* Vinicius Pimentel Teles** mariAna de almeida neves JOSÉ AUGUSTO SÃO PEDRO SIDNEY AUGUSTO DE OLIVEIRA MINGHIN** Natanael Agostinho Joaquinho RAIMUNDO HERMÍNIO DOS SANTOS TASSIANA DE SOUZA RODRIGUES* Departamento Técnico RECURSOS HUMANOS Karina fontana del papa gerente Leonardo Dutra Di Piazza gerente camareiras

Ednilson de Campos Pinto JUNG MÍLTON Ivone das Pontes PETRIA CHAVES MARA LUQUET

Eliana Valentini sasaki VIVIANE MOSÉ MAX GEHRINGER MAX MARIO MARRA marlene aparecida de almeida simão Erik Klaus Lima Gomides Maria do Socorro da Silva PEREIRA MERVAL

Sérgio Cattini KENNEDY ROSEANN Camila Santana de Araujo SERGIO ABRANCHES ELIEZIO FERREIRA DE ARAUJO MARCIO ATALLA MAURO HALFELD MAURO informática MEDINA GUSTAVO LUIZ

Marcelo Leonardo de Barros iluminação ALENCAR KENNEDY MARIO SERGIO CORTELLA MARIO ROBERTO NONATO ROBERTO Carlos Eduardo Soares da Silva KUBRUSLY MAURICIO

Geovanni Silva Ferreira MADUREIRA MARCELO WÁLTER MAIEROVITCH WÁLTER Gustavo Tadeu Canoa Morgado ABDIAS VICENTE DA SILVA JUNIOR Vanderlei Gomes da Silva* som compras e suprimentos EVANDO CARVALHO FERREIRA Deise Pereira Pinto Fernando Dionisio Vieira da Silva Jeferson Rocha de Lima MARIEL LOPES DE MENDONçA Maria de FÁtima Ribeiro de Sousa mauro santiago gois A CBN não toca música. roseli fernandes Renato Faria Firmino montagem almoxarifado Wilson rodrigues de barros Rodrigo Batista Ferreira Jorge Luiz Muniz Ferreira Benedito Junior Rodrigues Costa Os comentaristas são virtuoses da palavra e da informação jornalística. arquivo CARLOS HENRIQUE N. DOS SANTOS eduardo de carvalho Edgar Paulo da Conceição Mas a equipe de âncoras é afinadíssima. Isabel de CÁssia Crema Gonçalves EMERSON DE SOUZA SAYONARA SOUZA DOS SANTOS Gerson da Silva (*) estagiários José Carlos Ferreira (**) aprendizes recepção (***) licenciado Júlio Cesar Barreto de Souza alex de almeida alquimim (****) temporÁRIO Eunice de Falco Assis Paulo Alberto Correa Paixão fernanda helen de souza reinaldo roberto santos JESSICA BOLAINA SUYAMA controladores de acesso nagela gardene silva nogueira Sandro Marcello Sampaio Miranda Adailson de Andrade serviço de copa Emilio do Prado Rodrigues Lucileia Novais Jardim Humberto Alves Carolino Julio Cesar Rosa Leandro Vicente Svet luiz MARIO ALVES DA SILVA Nizinho Deivid Zopelaro Regivaldo Lopes de Souza Rodnei de Almeida Minghin Ronaldo de Lima Quirino Sandro Silvestre da Silva

100 Os comentaristassãovirtuosesdapalavra edainformação jornalística. Mas aequipedeâncoras éafinadíssima. A CBNnãotoca música. aao onlsa a , Para osjornalistasda

ANDRÉ SANCHES KENNEDY ALENCAR

LUIZ GUSTAVO MEDINA ANDRÉ TRIGUEIRO

MARA LUQUET ARNALDO JABOR

MARCELO MADUREIRA ARTUR XEXÉO

CARLOS ALBERTO SARDENBERG MARCIO ATALLA

CARLOS EDUARDO ÉBOLI MARIO MARRA CARLOS JULIO

MARIO SERGIO CORTELLA CAROLINA MORAND

CRISTINA COGHI MAURICIO KUBRUSLY tocar notíciaécomo fazer umasinfonia. DAN STULBACH MAURO HALFELD

DEVA PASCOVICCI MAX GEHRINGER ETHEVALDO SIQUEIRA

MERVAL PEREIRA FABÍOLA CIDRAL

MÍLTON JUNG FERNANDO ABRUCIO

FERNANDO GABEIRA PETRIA CHAVES

FLAVIO GIKOVATE ROBERTO NONATO

GILBERTO DIMENSTEIN ROSEANN KENNEDY

JORGE LUCKI SERGIO ABRANCHES

VIVIANE MOSÉ JOSÉ GODOY

WÁLTER MAIEROVITCH JUCA KFOURI Programa sua orquestra Daniel Bleecker Parke Helga Verena Leoni Maffei Daniel da Silva Rosa Helio Elkis Daniel Ricardo Batista Teixeira Henrique Huss Agradecemos a todos que contribuem Dárcio Kitakawa Henry Arima com o nosso programa de Daumer Martins de Almeida Herman Brian Elias Moura captação de recursos para os David Lawant Heryellen Leite Barreto programas educacionais da Osesp Debora Arns Wang Hilda Maria Francisca de Paula Deborah Neale Horacio Lafer Piva Abner Oliva Décio Pereira Coutinho Ideval Bernardo de Oliveira Abrahão Saliture Neto Demilson Bellezi Guilhem Ilan Avrichir Ademar Pereira Gomes Diana Vidal Ilma Adelina Cauduro Ponte Adhemar Martinho dos Santos Didio Kozlowski Ilma Teresinha Arns Wang Adriana Mazieiro Rezende Dione Maria Pazzetto Ares Ilvia Maria Berti Contessa Adriana Ravanelli Ribeiro Gilliotti Dirceu Lopes de Mattos Irene Abramovich Agueda Galvão Dora Maria Spirandelli Íris Gardino Alberto Cazaux Doris Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski Isabela Siscari Campos Albino de Bortoli Dorothy Soares Barbosa Maia Isis Cristina Barchi Alceu Landi Douglas Castro dos Reis Israel Sancovsky Alessandra Miramontes Lima Dulcidiva Paccanella Israel Vainboim Alessandro Contessa Edilson de Moraes Rego Filho Ivan Cunha Nascimento Alexandre Conti Marra Edith Lucia Miklos Vogel J. Roberto Whitaker Penteado Alexandre Jose Marko Edith Ranzini Jaime Pinsky Alexandre Leao Ferreira Edmundo Lucio Giordano Jairo Okret Alfredo José Mansur Edna de Lurdes Siscari Campos Janos Bela Kovesi Alida Maria Fleury Bellandi Edson Dezan Jayme Volich Alieksiei Martins Edson Minoru Fukuda Jean Marcel D`ávila Fontes de Alencar Alvaro Furtado Eduardo Algranti Jeanette Azar Ana Carola Hebbia Lobo Messa Eduardo Cytrynowicz Jefferson Ferraz Rodrigues Ana Carolina Albero Belisário Eduardo Fonseca Altenfelder Silva Jefferson Lima Matias Oliveira Ana Elisabeth Adamovicz de Carvalho Eduardo Germano da Silva João Caetano Alvares Anatoly Tymoszczenko Eduardo Mufarej João Cláudio Loureiro André Caminada Eduardo Piza Pereira Gomes Joao Lazaro da Silva Andre Guyvarch Eduardo Villaça Pinto João Luiz Dias André Luiz de Medeiros M. de Barros Eduardo Wense Dias Joaquim Vieira de Campos Neto Andre Rodrigues Cano Efrain Cristian Zuniga Saavedra Jorge Arnaldo Curi Yazbek Andre Xavier Forster Elayne Rodrigues de Matos Jose Adauto Ribeiro Andreia de Fatima Nascimento Elenice Salles Kraemer Jose Antonio Medina Malhado Anelise Paiva Csapo Eliana Ayako Hirata Antunes de Oliveira Jose Bilezikjian Anita Leoni Eliana Maria Daros Perini José Carlos Baptista do Nascimento Antonieta de Oliveira Elias Audi Júnior José Carlos Gonsales Antonio Ailton Caseiro Eliezer Schuindt da Silva José Carlos Rossini Iglézias Antonio Capozzi Elisabeth Brait Jose Cerchi Fusari Antonio Carlos Manfredini Eliseu Martins José Eduardo Thomé de Saboya Oliveira Antonio Claret Maciel Santos Ellen Simone de Aquino Oliveira Paiva José Estrella Antonio de Jesus Mendes Eloisa Cristina Maron Jose Hernani Arrym Filho Antonio Dimas Eloisa Thomé Milani José Luiz Caruso Ronca Antonio Marcos Vieira Santos Elza Maria Rocha Padua José Luiz de Araujo Canosa Miguez Antonio Quintella Ema Eliana Taricco de Fiori Jose Luiz dos Santos Antonio Roberto Luminati Emilio Eugênio Auler Neto José Luiz Gouveia Rodrigues Antonio Salatino Erick Figueiredo Rodrigues Jose Maria Cardoso de Assis Arnaldo Malheiros Erika Roberta da Silva Jose Quinto Jr Artur Henrique de Toledo Damasceno Erwin Nogueira de Andrade José Roberto Beneti Ava Nicole Dranoff Borger Esmeria Rovai Jose Roberto de Almeida Mello Barbara Helena Kleinhappel Mateus Etsuko Ikeda de Carvalho José Roberto Fornazza Bela Feldman - Bianco Eurico Ribeiro de Mendonça José Roberto Micali Bertha Rosenberg Evandro Buccini José Rubens Pirani Carlo Celso Lencioni Zanetti Fábio Batista Blessa José Sudá Pires Carlos Alberto de Moura Fabio Colletti Barbosa Judith Mireille Behar Carlos Alberto de Sá Leal Fabio de Oliveira Teixeira Juliana Akiko Noguchi Suzuki Carlos Alberto Mattoso Ciscato Fabio Rodrigo Vergani Cespi Juliana Benigna de Oliveira Correa Carlos Alberto Pinto de Queiroz Fátima Portella Ribas Martins Julio Milko Carlos Alberto Wanderley Junior Feliciano Lumini Junia Borges Botelho Carlos Eduardo Almeida Martins de Andrade Fernando Antonio Follador Karl Heinz Kienitz Carlos Eduardo Cianflone Fernando Antonio Rivetti Suelotto Koichi Mizuta Carlos Eduardo Mori Peyser Fernando Herbella Lafayette de Moraes Carlos Eduardo Seo Fernando José de Nobrega Larry G. Ludwig Carlos Inácio de Paula Fernando Luis Leite Carreiro Laura Paladino de Lima Carlos Macruz Filho Fernando Mattoso Lemos Layde Hilda Machado Siqueira Carlos Roberto Appoloni Fernando Octavio Mazza Baumeier Léa Elisa Silingowschi Calil Carlos Roberto Pereira Filipe Antonio de Coan Ramos Leila Teresinha Simões Rensi Carlota Thalheimer Filippe Vasconcellos de Freitas Guimarães Leonardo Kenji Ribeiro Kitajima Carmem Luiza Gonzalez da Fonseca Flavia Prada Leonardo Stelzer Rossi Carmen Gomes Teixeira Flávio Eduardo Pahl Leonardo Teixeira Cássio Dreyfuss Flávio Senerine Bertaggia Lia Bridelli Célia Marisa Prendes Francesca Ricci Lilian Rocha de Abreu Sodré Carvalho Celia Terumi Sanda Francisco Sciarotta Neto Liria Kaori Inoue Celinea Vieira Pons François José Ribeiro dos Santos Livio de Vivo Célio Corrêa de Almeida Filho Frederico Maciel Moreira Lucas de Lima Neto Cesar Augusto Conforti Friedrich Theodor Simon Luci Banks Leite Cesare Tubertini Gastão Jose Goulart de Azevedo Lúcia Machado Monteiro Chisleine Fátima de Abreu George Gustavo Mirocha Lucia Porchat Cauduro Christiano de Barros Geraldo Gomes Serra Luciana Cristina da Silva Cibele Riva Rumel Gilberto Labonia Luciano Gonzales Ramos Cid Banks Loureiro Gilceia Pechinho Hallack Luis Edmundo Pinto da Fonseca Cirilo Lemes de Castro Gina Maria Manfredini Oliveira Luís Marcello Gallo Clarice Bercht Gioconda da Conceição Silva Luis Marcio Barbosa Claudia Helena Plass Gizelda Maria Bassi Siqueira Luiz Antônio Pereira Claudia Serrano de Azevedo Gloria Maria de Almeida Souza Tedrus Luiz Augusto de Queiroz Ablas Cláudio Antonio Mesquita Pereira Gonzalo Vecina Neto Luiz Carlos Corsini Monteiro de Barros Cláudio Augusto de Medeiros Câmara Graciette da Silva Moreira Luiz Carlos de Castro Vasconcellos Claudionor Spinelli Guilherme Caobianco Marques Luiz Carlos Fernandes Clodoaldo Aparecido Annibal Gustavo Andrade Luiz Carlos Teixeira de Souza Junior Clovis Legnare Hamilton Bokaleff de Oliveira Junior Luiz Cesário de Oliveira Cristiano V. F. Miano Hans Peter Fill Luiz Diederichsen Villares Cristina Maria Mira Hedywaldo Hanna Luiz do Nascimento Pereira Junior Dalton de Luca Heitor Martins Luiz Eduardo Cirne Correa Dan Andrei Helder Oliveira de Castro Luiz Franco Brandão Luiz Gonzaga Marinho Brandão Paschoal Milani Netto Vera da Conceição Fernandes Hachich Luiz Gonzaga Pinto Saraiva (in Memorian) Paschoal Paulo Barretta Vera Lucia Peres Pessôa Marcel Pons Esparo Patrícia Gama Vera Papini de S. M. R. da Costa Marcelo Ancona Lopez Patrícia Luciane de Carvalho Verônica Heinz Marcelo Biffe Paulo Aparecido dos Santos Vicente Paiva Correia Lima Marcelo Hideki Terashima Paulo de Tarso Neri Vilma Pereira Rivero Vella Marcelo Junqueira Angulo Paulo de Toledo Piza Vitório Luis Kemp Marcelo Kayath Paulo Emílio Pinto Viviana Saphir de Picciotto Marcelo Penteado Coelho Paulo Menezes Figueiredo Wagner Niels Bojlesen Marcia Denise Francisco Schneider Paulo Roberto Caixeta Waldemar Coelho Hachich Marcio Augusto Ceva Paulo Roberto Porto Castro Waldemar Tardelli Filho Marcio Correa E Castro Peçanha Paulo Roberto Sabalauskas Wallace Chamon Alves de Siqueira Marcio de Souza Machado Paulo Sergio João Walter Jacob Curi Marcio March Garcia Pedro Lacerda de Camargo Walter Ribeiro Terra Márcio Massayuki Yochem Pedro Morales Neto Wander Azevedo Marco Aurélio dos Santos Araújo Pedro Ribeiro Azevedo Washington Kato Marco Tullio Bottino Pedro Sérgio Sassioto Wiliam Bassitt Marcos Alves de Olival Pedro Spyridion Yannoulis Wilma Partiti Ferreira Marcos Vinicius Albertini Percival Honório de Oliveira Wilmar Dias da Silva Maria Alexandra Kowalski Motta Peter Greiner Wilton Queiroz de Araujo Maria Augusta Sadi Buarraj Plinio Tadeu Cristofoletti Junior Yara Ap. dos Santos Maria Cecilia Perez de Souza E Silva Provvidenza Bertoncini Yoji Ogawa Maria Cecilia Rossi Rafael Golombek Yvan Leonardo Barbosa Lima Maria Cecilia Senise Martinelli Raphael Pereira Crizantho Zelita Caldeira Ferreira Guedes Maria Christina Carvalhal Raquel Szterling Nelken Zilda Knoploch Maria Elisa Dias de Andrade Furtado Rebeca Léa Berger Zilma Souza Cavadas Maria Elisa Vila Real Biffe Regina Helena da Silva Zoé Marsiglio Maria Emilia Pacheco Regina Lúcia Elia Gomes Zoroastro Cervini Andrade Maria Evangelina Ramos da Silva Regina Valéria dos Santos Mailart Maria Helena Leonel Gandolfo Reinaldo Morano Filho 121 ASSOCIADOS ANÔNIMOS Maria Hermínia Tavares de Almeida Remo Trigoni Júnior Maria Josefa Suárez Cruz Renata Kutschat RELAÇÃO DE NOMES ATUALIZADAS EM 24/07/2014 Maria Kadunc Renata Simon Maria Lucia Martorano de Rosa Renato Volpe de Andrade ASSOCIE-SE! Maria Lucia Pereira Machado René Henrique Götz Licht Maria Lucia Tokue Ito Ricardo Ansai Para outras informações sobre Maria Luiza Gaspar Bonozzi Ricardo Bohn Gonçalves o Programa Sua Orquestra, acesse: Maria Luiza Marcilio Ricardo Guilherme Busch www.osesp.art.br/suaorquestra Maria Luiza Pigini Santiago Pereira Ricardo Sampaio de Araujo ou entre em contato pelo telefone Maria Luiza Santarini Moreira Porto Ricardo Von Dollinger Martin 11 3367-9580 Maria Olga Soares da Cunha Rita de Cassia Barradas Barata Maria Paula de Oliveira Valadares Robert A. Wall Maria Sonia da Silva Roberto Castello Wellausen Maria Thereza Leite de Barros Jundi Roberto Goncalves Borba Maria Virginia Graziola Roberto Lopes Donke Mariam Arakawa Irie Roberto Moretti Bueno Mariluce de Souza Moura Roberto Sergio Sergi Marina Pereira Bittar Rogério Tabet de Oliveira Marina Pereira Rojas Boccalandro Rosa Maria Pessôa Rangel Mário Nelson Lemes Rosana Tavares Marjorie de Oliveira Zanchetta Roseli Rita Marinheiro Marlene Adame Garcia Rosicler Albuquerque de Sousa Masatake Haseyama Rubens Brito do Nascimento Mauricio Castanho Tancredi Rubens Pimentel Scaff Junior Mauricio Gomes Zamboni Ruy Bianchi Sartoretto Mauricio Yasuda Salvator Licco Haim Mauro Fisberg Sami Tebechrani Mauro Nemirovsky de Siqueira Sandra Maria Matta Maysa Cerqueira Marin Audi Sandra Ramos Filippini Borba Meire Cristina Sayuri Morishigue Sandra Souza Pinto Mercia Lucia de Melo Neves Chade Santo Boccalini Junior Messias Maciel do Prado Sarah Valente Battistella Michael Haradom Satoshi Yokota Michel Cunha Tanaka Selma Antonio Michele Sophia Loeb Chazan Selma S. Cernea Miguel Lotito Netto Sergio Paulo Rigonatti Miguel Parente Dias Sergio Rachman Miguel Sampol Pou Sergio Trevisan Miguel Vituzzo Filho Sidnei Fortuna Miriam de Souza Keller Silvia Cintra Franco Mônica Assumpção Pimentel de Mello Sílvia Regina Franceschini Monica Maria Gomes Ferreira Silvio Aleixo Mônica Mazzini Perrotta Silvio Antonio Silva Nadir da Gloria H. Cervellini Silvio Chebabi Teixeira de Vasconcelos Nancy Zambelli Silvio Partiti Napoleon Goh Mizusawa Solange Rigonatti Natalia Kruger Sonia Margarida Csordas Nataniel Picado Alvares Sonia Maria Leite Neli Aparecida de Faria Sonia Maria Schincarioli Nélio Garcia de Barros Sonia Ponzio de Rezende Nelson Andrade Stephan Wolynec Nelson de Almeida Gonçalves Sueli da Silva Moreira Nelson Merched Daher Filho Sueli Marino Nelson Pereira dos Reis Susana Amalia Hughes Supervielle Nelson Vieira Barreira Suzete Garcia de Moura Neusa Maria de Souza Tacio Lacerda Gama Nilton Divino D'addio Tarcísio Saraiva Rabelo Jr Noemia Pereira Neves Terezinha Aparecida Sávio Olavo Azevedo Godoy Castanho Therezinha Prado de Andrade Gomes Orlando Cesar O. Barretto Thomaz Wood Junior Oscar Windmüller Tomasz Kowaltowski Osni Aparecido Sanchez Toni Guede Pellicer Oswaldo Henrique Silveira Urbano Alencar Machado Otavio de Souza Ramos Valdir Rodrigues de Souza Otávio Roberti Macedo Valéria dos Santos Gabriel Oziris de Almeida Costa Valéria Gadioli Pablo Basilio de Sa Leite Chakur Vania Curi Yazbek

103 Revista Osesp AGOSTO/STEMEBRO 2014

O conteúdo das Notas de Programa é de responsabilidade de seus respectivos autores

ISSN 2238-0299

Edição finalizada em 23 de JULHO DE 2014 ediTOR RICARDO TEPERMAN

Preparação de Texto Ana Cecília Agua de Mello supervisão editorial fernanda salvetti mosaner beatriz aoki

Revisão Flávio Cintra do Amaral

Projeto Gráfico Fundação Osesp

Diagramação IZABEL MENEZES

Créditos:

Créditos Brad Mehldau and Kevin Hays Duo © divulgação Celso Antunes © Thomas Brill Christianne Stotijn © Marco Borgrreve Cláudio Cruz © Jefferson Collacico Coro da Osesp © Ana Fuccia Dmitry Mayboroda © DIVULGAÇÃO Fabio Martino © Friedrun Reinhold Frank Shipway © Clive Barda Giancarlo Guerrero © Chad Driver Isabelle Faust © Detlev Schneider Jean-Efflam Bavouzet © Paul Mitchell Lawrence Renes © Marco Borggreve Marin Alsop © Claudio Lehmann Natan Albuquerque Jr © Alessandra Fratus Quarteto Osesp © Desirée Furoni Timothy Mcallister © DIVULGAÇÃO Adams © Getty Images Ford Madox Brown © Domínio Público Grieg © De Agostini/A. Dagli Orti Delacroix © Domínio Público Ciclistas © Fundação Iberê Camargo Adams e McAllister © Jane Dempster/Sinfônica de Sidney Marina Rheingantz © Marina Rheingantz Ravel © De Agostini/Getty Images Oscar Pereira da Silva © Pinacoteca do Estado de São Paulo Celso Loureiro Chaves © Maciel Goelzer Sandra Cinto © Edouard Fraipont Beardsley © Getty Images Villa-Lobos © Museu Villa-Lobos Armando Albuquerque © Dulce Helfer/Acervo Agência RBS Tudo te é falso e inútil III © Fundação Iberê Camargo Sergio Assad © Divulgação Hopper © University of Arizona Museum of Art Neruda © Neil Libbert/Lebrecht Music & Arts

A Revista Osesp envidou todos os esforços para licenciar as imagens e textos contidos nesta edição. Teremos prazer em creditar os proprietários de direitos que porventura não tenham sido localizados.

Sala são Paulo Fundação Osesp Praça Júlio Prestes, 16 T 11 3367.9500

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104 AR Cada número da Revista Osesp traz na TE capa uma obra de artista brasileiro contemporâneo, do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

NA Os trabalhos foram selecionados pela curadora--chefe da Pinacoteca, Valéria Piccoli, juntamente com o diretor artístico da Osesp, CA cobrindo seis décadas de história da orquestra, seguindo cronologicamente o tema da PA Temporada 2014: "Na Paisagem dos Sessenta".

Mariannita Luzzati São Paulo, SP, 1963

Dalva, 1994 óleo sobre tela 274 x 400 cm

Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil. Doação da artista, 2006 Crédito fotográfico: Isabella Matheus

MarianNita Luzzati (São Paulo, SP, 1963) Mariannita Luzzati é desenhista, gravadora e pintora. Inicia sua trajetória artística nos anos 1980, frequentando o Istituto per L’Arte e il Restauro, em Flo-rença, Itália, e estudando mais tarde com Carlos Fajardo, Carmela Gross e Evandro Carlos Jardim. A pintura gestual e matérica dos Neue Wilde alemães e da transvanguarda italiana foram referências importantes em seu trabalho. Pouco a pouco, sua obra passa a privilegiar as pinturas a óleo, que têm a pai- sagem como tema. Em 1993, recebe o prêmio aquisição em mostra de gravu- ra no Machida City Museum, em Tóquio, e é convidada a integrar o Panorama da Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo. No ano seguinte, é selecionada para representar o Brasil na 22º Bienal Internacional de São Paulo, e fixa residência em Londres, onde vive e trabalha até hoje. osesp.art.br

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