Leonardo Toguia Coelho

A DITADURA MILITAR PELA OBRA DE

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO ARAÇATUBA 2018

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Leonardo Toguia Coelho

A DITADURA MILITAR PELA OBRA DE RAUL SEIXAS

Trabalho com a finalidade de conclusão de curso na área de História e disciplina de Pesquisa e Prática Pedagógica sob orientação do Prof. Cledivaldo Aparecido Donzelli

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO ARAÇATUBA 2018

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A ditadura militar pela obra de Raul Seixas

Leonardo Toguia Coelho1 Cledivaldo Aparecido Donzelli2

RESUMO

O artigo tem como objetivo a compreensão da ditadura militar no Brasil nos aspectos políticos, sociais e econômicos através da Obra de Raul Santos Seixas. Levando em consideração o contexto das inúmeras formas de manifestações utilizadas em oposição ao Regime Militar apresentando os movimentos estudantis, as guerrilhas e a manifestação artística dando enfoque nas figuras de linguagem e as metáforas utilizadas por Raul Seixas, que foram necessárias num período turbulento no que se diz a respeito da liberdade de expressão.

Palavras-Chave: censura, Raul Seixas, ditadura militar

ABSTRACT

The article aims to understand the Brazilian military dictatorship in the political, social and economic aspects through the Raul Santos Seixas’s work. Assuming the context of the numerous forms of manifestations used in opposition to the Military Regime, which was present in the student movements, the guerrillas and the artistic manifestations that were focused on figure of speech and metaphors used by Raul Seixas, it was necessary in a turbulent period in which says about the freedom of speech.

Key-Words: censure, Raul Seixas, military dictatorship

1 Graduando em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Toledo de Ensino; e-mail: [email protected] 2 Titulação mais alta, cargo na faculdade; e-mail: [email protected] 3

MOVIMENTOS ESTUDANTIS

O Regime Militar instaurado no Brasil a partir de 1964 quando, por meio de um golpe civil militar, destituindo o Presidente João Goulart. Os partidos de oposição ao governo de Jango, como a União Democrática Nacional, UDN, e o Partido Social Democrata, PSD, acusaram- no de planejar um golpe de esquerda, visando a implementação do comunismo. Nelson Werneck Sodré afirma que “o anticomunismo, foi assim e, sempre, o caminho para a ditadura” (1984, p.91) No contexto da guerra fria, o comunismo era visto como uma ameaça e um grande perigo incipiente nos países latino-americanos, como também em alguns países da Europa e nos Estados Unidos – que impunha sua política imperialista em toda a América. Em 1º de abril após a marcha da Vitória, em comemoração a instauração do regime militar, tem início as formas de resistência à ditadura civil militar, principalmente aquelas vinculadas aos movimentos estudantis e organizações, como exemplo, a União Nacional dos Estudantes, UNE, que através da Rádio Nacional defendia o governo de João Goulart junto com os estudantes, que tiveram papel fundamental na luta pela redemocratização do Brasil. Em março de 1968, o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto foi morto pela polícia militar no /RJ durante um protesto, o fato que causou comoção popular e marcou o início de intensas mobilizações contra o regime. E por meio dos seus discursos apoiaram uma greve geral em diversos setores, todavia o governo ditador cassou os deputados e as organizações que eram contra o governo também foram postas na ilegalidade.

O movimento estudantil brasileiro, através de suas inúmeras manifestações que veio a travar uma luta aberta e grandiosa em favor de uma democracia ampla e ilimitada, posicionando-se, desta forma, contrários às medidas adotadas por muitos representantes do regime militar (COSTA, 2008)

Ainda em 1964, houve a Lei Suplicy - do ministro da educação Flávio Suplicy de Lacerda - que proibiu as atividades políticas nas organizações estudantis e colocou na ilegalidade a UNE e as UEEs3. Uma tentativa do governo de dar um basta nas manifestações contrárias ao governo.

3 União Estadual dos Estudantes (UEE) realiza atividades regionais, de acordo com cada realidade, assim como fortalece a pauta nacional de lutas do movimento estudantil. 4

A lei suplicy, é a lei da mordaça estudantil, o fim da liberdade nas faculdades. Essa é a sua gravidade, ela aparenta ser uma lei ingênua que simples organiza os diretórios estudantis. Porém ela significa rigorosamente o fim da organização política dos estudantes, ou seja, fim da UNE e de outros centros acadêmicos (MARÉS, 2014).

Todo o espírito de resistência, a partir de 1966, começou a aumentarem decorrência da concentração de riqueza e o empobrecimento dos trabalhadores. O regime autoritário não dava espaços para os manifestantes protestarem fazendo com que as formas de resistência sejam muitas e com variados tons ideológicos. Havia liberais que se arrependeram de apoiar o regime e escreviam críticas aos militares, até mesmo alguns radicais mais jovens que tinham viés de esquerda e que pretendiam participar da luta armada contra o governo. É preciso salientar que essas organizações não se davam muito bem, único motivo em comum era a crítica ao regime. A sociedade brasileira viveu dois grandes ciclos de protestos públicos contra o governo militar, catalisando e amplificando o sentimento de resistência, com grandes manifestações nas rua, envolvendo vários setores do país, mas que quase sempre começavam pela iniciativa do movimento estudantil. Em 26 de junho de 1968, ocorre a Passeata dos Cem Mil4, no Rio de Janeiro, desafiando a ditadura e levando a nova geração de estudantes a militarem e lideraram as frentes universitárias da década de 1970, tendo pela frente o árduo trabalho de reconstruir as organizações estudantis. Em 1974, começaram a surgir os primeiros sinais de que o movimento estudantil ressurgiria, apesar da repressão, a UNE continuou a promover passeatas, às quais várias pessoas aderiram a mobilização como, por exemplo, intelectuais, religiosos, professores, entre outros.

MOVIMENTOS DE GUERRILHA

Os movimentos de guerrilha no Brasil apareceram na década de 1930, mas somente ganharam força após o golpe civil militar em 1964, como forte oposição ao regime, já que os grupos de guerrilha intensificaram sua força após o ano de 1967, com o

4 Cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro e realizaram o mais importante protesto contra a ditadura militar até então. A manifestação, iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, pretendia cobrar uma postura do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento crescente com o governo; dela participaram também intelectuais, artistas, padres e grande número de mães. 5

Ato Institucional Nº 5 -AI5-e, conseqüentemente, o aumento da repressão por parte do regime. Houve diversos partidos e grupos de guerrilha que se opuseram ao governo, um deles era o Partido Comunista do Brasil, PCB, que a principio tinha viés pacifista. A ALN5 era a organização mais estruturada da guerrilha urbana e também a que, proporcionalmente, tinha o maior número de mulheres vinculadas à organização. A guerrilha de Três Passos cujo seus objetivos eram acabar com o regime ditatorial antes que os militares “comemorassem” o primeiro aniversário do novo sistema de governo, ou seja, em 31 de março de 1965, restabelecer a democracia no país para realizar as Reformas de Base, pregado por Jango e Brizola6. Após alguns meses de planejamento, os guerrilheiros iniciaram a tomada da cidade de Três Passos/RS, tendo como parte do processo convocar os nacionalistas, trabalhistas, socialistas e comunistas a derrubar do regime imposto.Os militantes foram presos em uma emboscada realizada na cidade de Capitão Leônidas Marques/PR sendo levados para o 1º Batalhão de Fronteiras, em Foz do Iguaçu/PR e ali passaram por torturas e posteriormente todos foram condenados e cumpriram suas penas em Curitiba/PR. A guerrilha que não aconteceu pelo grupo Movimento Nacionalista Revolucionário, MNR, mas ficou conhecido como Guerrilha do Caparaó/MG por ser este o local em que os guerrilheiros atuavam. O Parque Nacional do Caparaó/MG situa- se entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Seus integrantes, aproximadamente de 16 pessoas, eram militares de baixa patentes e civis que apoiaram as Reformas de Base de Jango. Os guerrilheiros, antes de realizarem a ocuparem na Serra do Caparaó/MG, foram treinados em Cuba com apoio obtido por Leonel Brizola, entretanto os militantes enfrentaram diversas dificuldades, tais como a escassez de alimentos, o clima frio da região e a falta de diálogo com a população ao redor, que passou a denunciar o grupo. Apesar do treinamento em Cuba, o grupo não compreendeu um dos aspectos básicos para ter sucesso na guerrilha rural que seria se integrar à população, buscando ganhar seu apoio e tornar-se progressivamente parte dela, por conseqüência, no dia 31

5 A Aliança Nacional Libertadora foi uma frente de esquerda composta por setores de diversas organizações de caráter antiimperialista, antifascista e anti-integralista. 6 Leonel Brizola, político brasileiro opositor ao Regime Militar. 6 de março de 1967 foram presos outros oito integrantes do movimento sendo surpreendido por policiais em sua base. A guerrilha do Araguaia ocorreu durante o governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e representou o período de maior repressão, arbitrariedade e prepotência de todo o ciclo militar (GASPARI, 2002). O movimento teve início no final da década de 1960, no Araguaia, situado na divisa de terras entre Tocantins e Pará, todavia somente em 1972, houve os confrontos armados entre os guerrilheiros, composto majoritariamente por integrantes do Partido Comunista do Brasil, e as Forças Amadas Brasileiras. Os combatentes foram influenciados pelos revolucionários cubanos e chineses que sucedidos em suas missões. Em decorrência das vitórias cubanas e chinesa, realizadas com apoio dos camponeses, e a vitória do Vietnam, em cima dos Estados Unidos, foram motivadores para que a população local, presente próxima ao Araguaia, comprassem a ideia de tomar o país pela luta armada, levantes armados mostravam através desta perspectiva que era possível socialismo na América. Houve três ofensivas militares para impor o fim da guerrilha, operação papagaio, sucuri e marajoara.

[…] a guerra de guerrilhas por si só não era suficiente para infligir ao inimigo uma guerra decisiva e assegurar a tomada do poder. Na verdade, não competia à guerrilha vencer, apenas desgastar as forças oponentes, obrigando-as a lutar campanhas longas e inconclusivas – bastava não ser derrotada. Ao mesmo tempo em que desempenhavam um importante papel na conquista do apoio da população, os grupos guerrilheiros, acumulando pequenos sucessos, expandiam continuamente sua estrutura organizacional, até o último estágio, sem perder algumas das qualidades essenciais de manobras, iniciativa, liberdade de ação, apoio da população e conhecimento do terreno, as unidades irregulares transformavam-se em tropas convencionais capazes de lutar e vencer grandes batalhas (GASPARI, 2002, p.453).

Como tudo que aconteceu na ditadura a mídia e/ou a população em geral não sabia o que estavam acontecendo no Araguaia e até hoje existem muitos segredos que não foram revelados de acontecimentos ocorridos naquela operação devido aos arquivos que desapareceram. Foram no governo de Médici7 e, com menor ênfase no governo do General Ernesto Geisel (1974-1979), os grupos que se identificavam com as guerrilhas urbanas e rurais foram sendo progressivamente eliminados.

7 Emílio Garrastazu Médici foi um militar e político brasileiro, se tornando o 28° presidente do Brasil, atravessou os anos chumbos da ditadura, sendo um dos governos mais repressivos, 1969 até 1974. 7

MOVIMENTOS ARTÍSTICOS

Outra forma de resistência que ganhou muita força no período de 1960 e 1970 foi os compositores e cantores como Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso, Raul Seixas e Gilberto Gil que subiram o patamar da música brasileira a níveis antes nunca testados. Durante períodos com ampla censura a criatividade e a inteligência precisavam estar afloradas. Quando os militares tomaram o poder, os movimentos populares que cresciam desde o final dos anos 1950 foram sendo massacrados gradualmente e as manifestações artísticas, porém, ainda respiravam, mesmo que fosse por meio de aparelhos. O Tropicalismo foi certamente um dos movimentos mais representativos desse período tendo como objetivo político se posicionar criticamente à ditadura e de pensar a formação de uma identidade nacional. Os movimentos de revoltas se afloram durante a década de 1960 e em boa parte do mundo, as marchas pacifistas ocorridas no mesmo período, nos Estados Unidos, levaram milhares de jovens a protestarem contra a Guerra do Vietnã trazendo para o mundo uma mudança nos rumos da sociedade conservadora. O Maio de 19688 despertou na juventude ocidental um sentimento de contestação e de luta por uma sociedade diferente daquela que se vivia até o momento em boa parte dos países capitalistas. Aqui no Brasil, os jovens foram contaminados‖ por esse movimento contestatório, por meio das músicas de Raul Seixas, em especial a ideia de viver em uma sociedade alternativa era deslumbrante e uma parte da juventude foi às ruas brigar pelos seus direitos de liberdade e pela democracia dos brasileiros. As músicas de Raul Seixas trouxeram um novo cenário cultural para o Brasil e consigo vieram as transformações sociais, conseguindo atender as demandas da população do país. Raul alcançou os pontos distintos da sociedade brasileira, sendo ouvido desde populares a intelectuais. Sendo neste sentido que o cantor se desponta na década de 1970, inspirando os jovens a tomarem uma atitude e não serem “parasitas” como o próprio Seixas se referia a eles.

8 Os Estados Unidos estavam mergulhados na guerra no Vietnã e se agitaram com o assassinato do líder negro Martin Luther King Jr. A Europa entrou no furacão das revoltas estudantis. E o Brasil, com o endurecimento do regime militar, entrou numa fase de censura política e dura repressão policial. 8

Com a explosão do rock’n’roll no final dos anos 1950, o novo estilo musical começou a ter dentro da rebeldia jovem um importante aliado para o novo ritmo que surgira já que o surgimento do rock foi de início, uma forma de contestação. Durante os anos de 1970, a sociedade brasileira estava reprimida pela ditadura civil militar, devido ao AI-5, instaurado em 1968, que restringiu o direito à liberdade de expressão da população. Uma parte da sociedade, em especial os artistas, buscava uma saída para os brasileiros e utilizavam o campo cultural da música como forma de manifestar a ânsia da população que via sua liberdade ser privada pelo governo civil militar. A música foi muito utilizada dentro da história da ditadura civil militar, se tornando uma das poucas fontes de protesto, deste modo os artistas que lutavam pela redemocratização encontravam nas canções grandes aliadas para a luta já que atingia todas as camadas da sociedade, segundo Emília Saraiva Nery (2008), estudiosa das canções de Raul Seixas. No repertório cultural brasileiro da segunda metade do século XX, Raul Seixas é visto como um artista que atingiu, ao mesmo tempo, públicos distintos e heterogêneos sendo ouvido por populares em botecos, bem como por intelectuais. Ao mesmo tempo em que Raul Seixas atingiu boa parte da sociedade, ele conseguiu se transformar em mito dentro de sua época e, principalmente, no período posterior aos pertencentes à sua geração. Segundo Frans (2000), o idealismo forte com convicções geniais era colocado por Raul Seixas em suas obras com uma linguagem erudita, pois mesmo com sua aparência popular consegue atingir seu público tornando se um verdadeiro fenômeno da música brasileira.

TANTO PÉ NA NOSSA FRENTE QUE NÃO SABE COMAND

Raul Santos Seixas nasceu no dia 28 de Julho de 1945 na cidade de Salvador, capital do Estado da Bahia. Sua família era de classe média e cresceu numa casa que havia uma grande extensão de livros que abordavam assuntos filosóficos. Desde criança ele já questionava assuntos como o fim do mundo. Teve contato com o rock´n´roll quando ainda ele era jovem, pois morava ao lado do consulado norte- americano na Bahia. Com isso, Raulzito, como era chamado, começou a se interessar por esse ritmo que lhe agradara muito.

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Assim começou a observar críticas do quadro social, o próprio encabeçou o dever de instigar a população a se questionar através de suas canções, sendo um exemplo disto à canção Ouro de tolo, onde os indivíduos estariam libertos da imposição do dever das convenções sociais e hierárquicas, onde o cantor sugere que cada um mensurasse os próprios ideais de realização, de acordo com seus desejos e necessidades.

“Para Marcuse, portanto, a libertação começa quando desfazemos o nó da dominação social” (ROSZAK, 1972, p. 125). Analisar Raul Seixas na década de 1970 é uma tarefa um tanto quanto perigosa, pois esse ofício consiste em direcionar o olhar para um sujeito que viveu intensamente seu período e foi um verdadeiro experimentador social, colocando em discussão assuntos anteriormente pouco ponderado pela sociedade e também, inserindo na sociedade várias discussões políticas e culturais, como a vida em comunidades alternativas.

Raul Seixas foi um sujeito sonhador e contestador, desde o início de sua carreira. Ele colocava em prática os seus pensamentos referentes aos problemas políticos brasileiros e foi, para a década de 1970, um artista muito renomado e com um grande público, que o colocou como um defensor dos sentimentos e vontades dos brasileiros. Nessa luta contra o capitalismo, o cantor usa suas canções para combater o monstro sist9.

Raul Seixas mostra esse embate que tentou travar contra o sistema capitalista, como se verifica neste fragmento da letra da música As Aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor

[...] O monstro SIST é retado E tá doido pra transar comigo E sempre que você dorme de touca Ele fatura em cima do inimigo A arapuca está armada E não adianta de fora protestar Quando se quer entrar Num buraco de rato De rato você tem que transar

Essa canção que tem como ritmo o baião, o cantor contesta a forma em que o capitalismo age em determinadas situações. Nesse trecho, o que ele está enfocando é a

9 Essa expressão é usada por Raul Seixas para definir o sistema capitalista, pelo qual ele tratava como um monstro.

10 questão da indústria cultural, que ele retrata como monstro sist. Isso se deve ao crescimento que o próprio cantor estava tendo e questionando ao mesmo tempo. Esse crescimento da indústria cultural aconteceu devido às músicas com apelo popular caírem no gosto da sociedade brasileira da década de 1970. Outro fator muito importante para entendermos a indústria cultural brasileira é que no início dos anos de 1970, a censura que a ditadura civil militar impôs. Sob essa nova condição, os artistas que anteriormente já tinham seus trabalhos voltados para o campo comercial, obtiveram uma notoriedade ainda maior em seus trabalhos musicais voltados para o campo cultural nessa época, pois esse período foi propício para tal fortalecimento. O comercial sempre existiu no meio do campo musical. Poucos artistas não dependiam do comércio de suas obras, sendo assim, é importante destacar que, de certa forma, mesmo as músicas de alguns artistas engajados na luta também contribuíam para o fortalecimento do comércio industrial.

Ainda na mesma canção, a que aludimos acima, o cantor também questiona os rumos que a juventude estava levando quanto às discussões políticas da época. Ele chama a atenção principalmente para as lutas de esquerda e direita. Para Raul Seixas, a indefinição das questões que a esquerda levara fez com que ela perdesse um pouco sua identidade.

[...] Eu já passei por todas as religiões Filosofias, políticas e lutas Aos 11 anos de idade Eu já desconfiava da verdade absoluta. Hoje a gente já nem sabe De que lado estão certos cabeludos Tipo estereotipado Se é da direita ou da traseira Não se sabe mais lá de que lado.

A esquerda brasileira passava por um momento em que os grupos dissidentes estavam cada vez mais se fragmentados e, assim, o sentido da luta que os militantes estavam travando desde 1964 contra o governo da ditadura militar se perdia. Suas canções se utilizavam de metáforas, trocadilhos, assuntos da mídia que saía sobre o período para colocar em pauta suas ideias e tentar, junto a outros artistas também engajados na luta, alertar os brasileiros sobre os malefícios da ditadura. Além

11 dos questionamentos que faz o artista baiano também demonstra sua perspectiva sobre as verdades absolutas, que ele tanto combatia desde pequeno. Neste trecho, o próprio cantor demonstra uma de suas vocações, que foi sempre a busca por uma própria verdade. Os questionamentos que o cantor faz em torno de assuntos como o capitalismo, a indústria cultural e o rumo da luta política brasileira, o inserem na discussão sobre a contracultura.

Com esses questionamentos, Raul Seixas mostrou para os brasileiros nos anos de 1970 que a luta poderia sim acontecer. Ele tentava mostrar que não podia se calar diante da situação. A luta perpassava além da causa da época, a ditadura civil militar, pois se relacionava também aos princípios econômicos, do capitalismo, e o medo que o monstro sist passava para a população em geral. Quando digo medo, me refiro à acomodação repressiva que o sistema proporcionava para uma grande parte da população.

A mosca na sopa, um clássico de Raul, trás uma metáfora em que a mosca representaria o povo e a sopa ilustraria a ditadura militar, e também remete a um conceito difundido por Schopenhauer que seria o de morte-renascimento:

E não adianta Vir me dedetizar Pois nem o DDT Pode assim me exterminar Porque você mata uma E vem outra em meu lugar

Se a mosca, que agora zumbe em torno de mim, morre à noite, e na primavera zumbe outra mosca nascida do seu ovo, isso é em si a mesma coisa. Então de maneira simples, Raul dizia que sempre haveria oposição, apesar de torturas, exílios e até mortes a oposição não ia se calar.

No mesmo álbum que trouxe A mosca na Sopa, Raul também compõe uma canção chamada Cachorro Urubu. A canção homenageia o pajé da tribo com o mesmo nome da canção, que sozinho declarou guerra ao então presidente dos Estados Unidos, Nixon.

O que houve na trança Vai mudar nossa dança Sempre a mesma batalha Por um cigarro de palha. [...]

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Eu sou índio Sioux Eu sou cachorro urubu Em guerra com Zéu!

Nestes versos podemos observar duas palavras que foram trocadas para que não fossem censuradas, “O que houve na trança/vai mudar nossa dança” fazia uma referência à França, cuja população em maio 1968 se opôs ao regime totalitário, houve diversas manifestações e revoltas. E no final da canção ele cita “ZEU” fazendo referencia aos Estados Unidos - EUA- e sua forma de governo imperialista. Raul também satiriza a situação do país em relação aos Estados Unidos na música Aluga-se,criticando a enorme divida deixada pelos investimentos americanos durante o milagre econômico e depois cita que a solução do país seria alugar para os gringos.

ANARKILÓPOLIS: UM FLERTE COM ANARQUISMO

Raul Seixas sempre buscou a filosofia em suas músicas, temos como exemplo disto as canções Sociedade Alternativa, Novo Aeon, O Carimbador Maluco, Paranóia e O Dia em Que a Terra Parou se embasando em conceitos anarquistas difundidos por Proudhon e Stirner. O professor alemão Max Stirner (2009) explicou a corrente ideológica que ficou popular como anarquismo individualista podendo ser encontrada na obra O Único e a sua Propriedade. A música Paranóia traz um personagem amedrontado pelo temor em relação ao divino:

Quando esqueço a hora de dormir E de repente chega o amanhecer Sinto a culpa que eu não sei de que Pergunto o que que eu fiz? Meu coração não diz e eu... Eu sinto medo! Tinha tanto medo de sair da cama à noite pro banheiro Medo de saber que não estava ali sozinho porque sempre... Eu estava com Deus! Minha mãe me disse há tempo atrás Onde você for Deus vai atrás Deus vê sempre tudo que cê faz Mas eu não via Deus Achava assombração, mas...

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O título da canção já demonstra o estado alterado da consciência decorrente do uso de algumas substâncias psicoativas, que provocam a impressão de perseguição. Raul Seixas não só questiona a paranóia quanto também esse temor da onipresença divina embutido nas crianças para ter um domínio em relação a elas.

A música Eu sou Egoísta também está vinculada à perspectiva de Stirner e à sua crítica quanto à necessidade de haver um medo divino às crianças, como pode ser visto nesta frase “Onde eu tô não há bicho-papão”.

Em Dr. Pacheco, Raul Seixas mantém um foco na linha contestatória das obrigações e deveres do agir, novamente fazendo um paralelo com o anarquismo. “Em sua primeira e mais incompreensível forma a moralidade se apresenta como hábito. Agir de acordo com os usos e costumes do país é a isso que se chama agir moralmente.” (STIRNER, 2009, p. 89).

Lá vai nosso herói Dr. Pacheco Com sua careca inconfundível A gravata e o paletó Misturando-se às pessoas da vida Lá vai Dr. Pacheco O herói dos dias úteis Misturando-se às pessoas que o fizeram Formado, reformado, engomado Num sorriso fabricado pela escola da ilusão

Dr. Pacheco foi à primeira música que conseguimos identificar o toque de Raul Seixas já que é uma sátira bem humorada que remete a um personagem que é um estereótipo da figura patética do sujeito criado pelo capitalismo, um sujeito alienado, sem traços de autenticidade. Conseguimos traçar um paralelo com a obra de Marcuse

Os homens não vivem sua própria vida, mas desempenham tão sós funções preestabelecidas. Enquanto trabalham, não satisfazem suas próprias necessidades e faculdades, mas trabalham em alienação. O trabalho tornou- se geral, assim como as restrições impostas à libido. O tempo de trabalho que ocupa a maior parte da vida do indivíduo é um tempo penoso, visto que o trabalho alienado significa ausência de gratificação, negação do princípio do prazer. (2009, p. 58).

A finalidade de manifestar-se em suas canções com ideias, princípios e questões anarquistas era de certa forma um grito à liberdade, de maneira coerente e inteligente. Em um de seus maiores sucessos, O Carimbador Maluco, Seixas conseguiu transformar um texto anarquista, escrito por Proudhon, em um sucesso infantil e nacional

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Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado, predicado, controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude (...). Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, roubado; e depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis a justiça, eis a sua moral! (2004, p. 17).

Raul Seixas estava há cerca de dois anos sem nenhuma gravadora ou estúdio, não participava mais de apresentações na TV ou em shows por conta de vários problemas causados pelo alcoolismo. Então, em 1983, Vanucci, diretor da então Rede Globo, o fez o convite para promover um show infantil. Por conta disso, Raul foi alvo de diversas críticas que o acusavam de ter se “vendido” ao sistema com aquela música. Porém Raul faz fortes críticas ao sistema ditatorial e de toda burocracia que o país enfrentava.

UM PASSEIO PELO METRO LINHA 743

A censura atuou de modo assíduo em qualquer forma de expressão que pudessem de alguma maneira contrariar o poder dos militares, enquanto o regime civil militar vigente no país controlando os meios de comunicação para que nenhuma informação contrária ao interesse do governo pudesse chegar à população. Os militares, em alguns casos, censuravam os jornais horas antes de ir para a publicação, então eles colocavam receitas culinárias ou construções de linhas férreas. Também acontecia de falsas previsões como noticiado “tempo fechado” indicava que o jornal teria sofrido com a censura. Anne-Marie Smith (2000) ressalta que cada aspecto da censura era rigorosamente controlado e a emissão de ordens obedecia a um padrão rígido e proibições sem assinatura de notícias eram levadas por oficiais da polícia uniformizados a cada órgão da imprensa.

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Tendo este contexto, podemos analisar alguns trechos da música Metro Linha 743 como o primeiro verso da canção:

Ele ia andando pela rua meio apressado Ele sabia que tava sendo vigiado Cheguei para ele e disse: Ei amigo, você pode me ceder um cigarro? Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado Dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado

Raul Seixas apresenta na musica o personagem que demonstra medo de estar fumando um cigarro, pois poderia ser confundido com um militante de oposição, muito por conta da forte perseguição que acontecia naquele momento. A ditadura civil militar impôs através do Departamento de Ordem Política e Social, famigerado DOPS, a repressão aos intelectuais e artistas como será apresentado no trecho da música Trabalho em cartório, mas sou escritor que também faz críticas à patrulha do pensamento

Eu quero saber o que você estava pensando Eu avalio o preço me baseando no nível mental Que você anda por aí usando E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando Minha cabeça caída, solta no chão Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e última vez Metrô linha 743

Raul Seixas faz uma referência a George Orwell criando na canção uma polícia do pensamento, que vai investigar e mensurar o valor das suas ideias. Quanto maior o nível mental, maior seria o risco que representava para a sociedade de convocar e influenciar pensamentos de oposição. A maior genialidade da música está no título e sem frases soltadas ao final de cada verso que se encerra com Metrô Linha 743. Como já dito anteriormente, os jornais eram censurados, então neste trecho teria uma mensagem em oposição ao governo, contudo metrô linha 743... Outra canção que necessita de uma contextualização maior para podermos entender a dimensão de Raul Santos Seixas. Raul formou uma banda em Salvador, em 1967 foi formada Raulzito e os Panteras, banda que por serem inspirado por Chuck Berry, Beatles e tinham conhecimento musical pouco mais amplo dos que cantavam a bossa nova. Logo, foram convidados para tocar junto com os cantores da , como Jerry Adriani e Roberto Carlos. Tempo após shows em salvador, Jerry Adriani fez o convite para eles tentarem gravar e emplacar como artistas de

16 sucesso no Rio de Janeiro. Conseguiram gravar o LP, porém não obtiveram sucesso, e voltaram decepcionados para Salvador, tanto é que o LP só foi ter conhecimento amplo após o grande sucesso anos mais tarde de Raul, e os fãs começaram a procurar trabalhos antigos do cantor. Carleba (2015), baterista da banda afirma numa entrevista concedida a TV Brasil “Sofremos muito no Rio de Janeiro, passamos fome.”

Eu devia estar contente Porque eu tenho um emprego Sou um dito cidadão respeitável E ganho quatro mil cruzeiros por mês Eu devia estar alegre E satisfeito Por morar em Ipanema Depois de ter passado fome Por dois anos Aqui na Cidade Maravilhosa

Raulzito quando chega ao Rio de Janeiro pouco tempo depois, ele foi convidado pra ser diretor musical da então CBS, hoje Sony. Então, Raul começou a produzir diversos álbuns, um dos mais famosos foi o Jerry Adriani com o hit “Doce, Doce Amor”. Após uma demissão controvérsia na CBS, Raul Seixas foi trabalhar na Philips como produtor musical e teve amplo sucesso na área.

Eu devia estar sorrindo E orgulhoso Por ter finalmente vencido na vida Mas eu acho isso uma grande piada E um tanto quanto perigosa Eu devia estar contente Por ter conseguido Tudo o que eu quis Mas confesso abestalhado Que eu estou decepcionado

A carreira de Raul Seixas teve como primeiro sucesso a canção Ouro de Tolo, que é uma música com originalidade e traços que o cantor viria a seguir como a letra da música maior que a melodia, um estilo que não existia. Então com todo esse contexto, podemos analisar que a canção é um desabafo do cantor com a mediocridade do sucesso ou até mesmo uma falsa ilusão de sucesso. Numa profunda crise existencialista podemos traçar um paralelo com Jean Paul Sartre:

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O quietismo é a atitude daqueles que dizem: os outros podem fazer o que eu não posso. A doutrina que lhes estou apresentando é justamente o contrário do quietismo, visto que ela afirma: a realidade não existe a não ser na ação; aliás, vai mais longe ainda, acrescentando: o homem nada mais é do que o seu projeto; só existe na medida em que se realiza; não é nada além do conjunto de seus atos, nada mais que sua vida. (SARTRE, 1970, p.11)

Percebemos a crítica do Raul ao modo de vida de todo mundo, quando ele cita: "Eu devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida" O que seria vencer na vida para essa classe de pessoas? Vencer na vida para ela seria morar em Ipanema. É ter o carro do ano. É ter um emprego, ser um cidadão respeitável. E Raul demonstra não estar satisfeito com tudo isso, mesmo após passar fome. Pois tudo equivale a mundo totalmente material, e nossa felicidade plena está no espírito e não num mundo material. Praticamente todos os cidadãos têm como objetivo adquirir estes bens citados e ele mostram que isso não é o suficiente. O personagem da canção percebe que tudo isso é muito vazio, é ouro de tolo. Concluindo, a música é um enorme reflexo de seu título. Ouro de tolo, nome popular da pirita que de longe parece ouro, quando se tem uma visão superficial reluz como ouro, mas não é ouro e não tem o mesmo valor do ouro, é ouro de tolo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente estamos bem acostumados em dialogar sobre a ditadura militar que ocorreu no Brasil, e toda a repressão que nela se instaurou. Podemos dizer que a ditadura foi caracterizada principalmente pela falta de expressão da população, liberdades individuais e onde os indivíduos se viam nos cantores e artistas que tinham a coragem de compor contra o governo. Não só compor, mas estudar artimanhas necessárias para não ser pego na censura. Com os resultados podemos perceber que Raul foi fortemente influenciado pelos livros de filosofias e estudos anarquistas, e isso atuou fortemente em suas canções recheadas de metáforas, conceitos políticos e críticas ao quadro político, social e econômico. Raul Seixas deixa este legado para o povo brasileiro, o inconformismo, a valentia e o mais importante, que após mais de 20 anos após a sua morte, ainda consegue cativar e criar novos fãs.

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