Nem Mulheres, Nem Negrxs, Nem Queer of Colour (Qoc) Na Liderança Do Futebol Brasileiro!: a Interseccionalidade No Esporte
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTI-INSTITUCIONAL EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO INEILDES CALHEIRO DOS SANTOS NEM MULHERES, NEM NEGRXS, NEM QUEER OF COLOUR (QOC) NA LIDERANÇA DO FUTEBOL BRASILEIRO!: A INTERSECCIONALIDADE NO ESPORTE Salvador 2021 INEILDES CALHEIRO DOS SANTOS NEM MULHERES, NEM NEGRXS, NEM QUEER OF COLOUR (QOC) NA LIDERANÇA DO FUTEBOL BRASILEIRO!: A INTERSECCIONALIDADE NO ESPORTE Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação Multi- Institucional em Difusão do Conhecimento, para obtenção do título de Doutora em Difusão do Conhecimento. Áreas de Concentração: Modelagem da Geração e Difusão do Conhecimento Linha 3 – Cultura e Conhecimento: transversalidade, interseccionalidade e (in) formação. Orientador: Prof.º Dr. Ivaldo Marciano de França Lima. Salvador 2021 SIBI/UFBA/Faculdade de Educação - Biblioteca Anísio Teixeira Santos, Ineildes Calheiro dos. Nem mulheres, nem negrxs, nem queer of colour (QOC) na liderança do futebol brasileiro! : a interseccionalidade no esporte / Ineildes Calheiro dos Santos. - 2021. 215 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Ivaldo Marciano França Lima. Tese (Doutorado em Difusão do Conhecimento) - Programa de Pós- Graduação Multi-institucional em Difusão do Conhecimento, Salvador, 2021. 1. Discriminação nos esportes. 2. Futebol. 3. Gênero. 4. Raça. 5. Mulheres negras. 6. Sexismo. 7. Teoria queer. 8. Futebol - Mulheres. 9. Futebol - Liderança. I. Lima, Ivaldo Marciano França. II. Programa de Pós-Graduação Multi-institucional em Difusão do Conhecimento. III. Título. CDD 796.334 - 23. ed. INELDES CALHEIRO DOS SANTOS Nem mulheres, nem negrxs, nem queer of colour (Qoc) na liderança do futebol brasileiro!: a interseccionalidade no esporte Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Multi- Institucional em Difusão do Conhecimento, como requisito para obtenção do título de Doutora em Difusão do Conhecimento. Áreas de Concentração: Modelagem da Geração e Difusão do Conhecimento. Linha 3 – Cultura e Conhecimento: transversalidade, interseccionalidade e (in) formação. APROVADA EM: 13/04 / 2021 BANCA EXAMINADORA: DEDICATÓRIA Aos meus pais, em memória: Seu Justino e Dona Rocha (Laurinda). Realizo o meu sonho, tornar-me doutora, apesar de me esbarrar com o racismo, não sendo um percurso tranquilo. E também, ultrapasso a realização do modesto sonho do meu pai (com 12 filhos/as), ver uma de suas filhas professora. Além de ter um grande significado para ele, em sua experiência de vida negra era o máximo que uma mulher negra alcançava. Sei que ele não sabia o que era mestrado e doutorado, para quem tornar-se professora já era tudo. Não tão satisfeito com minha graduação, pois, apesar de ter realizado o sonho de ter um dos filhos com nível superior, não me via na classe social correspondente, porém, sentia orgulho de mim, falando aos amigos que tem uma filha professora. Cardiopata, o velho não velho se foi aos 72 anos de idade, meses depois que iniciei o mestrado, em 2014. Meu pai, de estatura pequena e franzino, nunca apresentou fraqueza. Trabalhou sem parar e nunca o ouvi dizer que estava cansado. Mas, o racismo lhe perseguia. Certa vez, ao voltar do trabalho, uma mulher no ônibus disse que ele a roubou. Foi detido, ainda jovem e já casado. Foi liberado ao comprovar com seus materiais de eletricista que era pai de família e trabalhador. Eram adeptos da Igreja adventista do Sétimo Dia, aliás, eles pregavam em público, protagonizavam. Minha mãe, cuidadora do lar, nunca falou em inferioridade física, empoderada, falava alto e forte, comandava a pequena instituição filial, a igreja da favela, em um comunidade próxima, ensinando-me e oportunizando possibilidades mais amplas do que aquelas que estavam dispostas para meus semelhantes na comunidade. Ainda adolescente comecei a pregar, falar ao público; cantar em solo e em grupo, protagonizar peças teatrais, dominar o microfone, perder os medos, obter autonomia, força e empoderamento - elementos imprescindíveis para a minha caminhada na academia. Dois anos após a partida do meu pai para o Orun, defendo o mestrado e adentro ao doutorado. Também presencio o enfraquecimento de minha mãe, em decorrência da perda do companheiro desde sempre, casada aos 15 anos de idade (com quem teve 11 filhos), partindo ao seu encontro, em janeiro de 2017, meses após minha entrada no doutorado. E, igualmente parte com 72 anos de idade. Como diz Zibia Gaspareto: “nada é por acaso!”. Como também não é por acaso o não convencimento do laudo médico sobre a causa do óbito. Pois, tratava-se de uma matriarca negra, que nunca sentiu sequer dor de cabeça, mas, o tratamento do hospital público, por dias largadas no pátio no setor de emergência, à sua própria sorte, sem direito ao internamento e acompanhamento médico. Isso sim, deu dor de cabeça em todxs nós, filhos/as, amigos/as e os tantos de gente que lhe queria bem e entre nós. Dona Rocha se foi, vítima do abandono do Estado – o racismo institucional, mas que não dá no laudo. Por fim, mas é o começo, encontrando forças entre uma perda e outra, além do enfrentamento ao racismo, o sexismo e outras violências que não vale á pena citar, essa tese é resultado de muitas vitórias e superações, construída à base de muita força, sobretudo, apoiada na força vital, a ancestralidade vivida no próprio corpo. Portanto, esse doutorado é merecidamente dedicado aos meus pais. Dona Rocha e seu Justino. AGRADECIMENTOS À CAPES, sinto-me honrada em ter sido contemplada por esta renomada instituição de fomento de Pesquisa, contribuindo para a minha permanência no curso. Às colaboradoras, interlocutoras da pesquisa: Rosana Vigas, Dilma Mendes, Lívia Ferreira, Laura Rodrigues e a ativista militante do MNU Ana Célia da Silva. Às professoras e ao professor da banca Examinadora, (doutoras) Ana Célia da Silva, Ludmila Mourão, Ileana Wenetz, Débora Abdalla Santos e Alex Costa, por aceitarem compor a banca de defesa, pela leitura e avaliação, contribuindo com as sugestões. À minha extensa família, pelo carinho e apoio, em especial às minhas irmãs, me acolhendo aos fins de semana, espairecendo-me com boas lembranças familiares e comidas gostosas. Ao meu sobrinho-neto, Kevin, que nasceu junto com este doutorado, suprindo a lacuna da perda da minha mãe, reconstruindo minhas energias, dando-me alegria e força para seguir – simbolizando caminhos prósperos. E ao mais novo sobrinho, Raique, nascido na pandemia, simbolizando nova caminhada e boas energias nascentes. À minha sobrinha, jornalista e escritora Amanda Julieta de Souza, a quem devo muito, continuamente comigo colaborando nas leituras do texto, transcrição das falas e auxílios tecnológicos, bem como à sua mãe (minha irmã) Jociene Calheiros pelo apoio em meio as dificuldades nessa pandemia, e à sua (nossa) neta, Laura Yasmim de 7 anos de idade, quem, fazendo-me dançar junto me ensinou que “Jesus é um Deus grandão!”. E, de forma especial, agradeço aos meus pais e aos guias espirituais, estes que estiveram (e estão) cotidianamente tirando as pedras e limpando o caminho para que eu pudesse passar. Essa tese teve amplas contribuições, e em termos oficiais-acadêmicos, foram três grandes mestres/a (doutores/a): Suely Messeder, Eduardo David Oliveira e Ivaldo Marciano. Respectivamente: gênero, feminismo/sexualidades; cultura/tradição; e, modernidade. É com carinho que vos agradeço. Grata ao professor Duda (Eduardo), e com o carinho que sai do âmago, à professora Suely Messeder, orientando-me no mestrado com afeto e generosidade, contribuindo na construção do meu caminho social, acadêmico-intelectual, sobretudo concernente a gênero e feminismo, sugerindo-me a “interseccionalidade no esporte”, imprescindível para que esta tese pudesse ser esta. Por fim, agradeço enormemente ao orientador Ivaldo Marciano França, pelo seu carinho, paciência e apoio para além da sua competência profissional e intelectual, a quem tenho apreço, admiração e com quem tenho aprendido muito. Obrigada a todxs! Poema: corpo-lugar De volta a “casa”, caderno sem capa Se tem comida, não sei, mas sei que tem baba, A pelada na rua, árvore, muro pra saltar jogar descalçx, o chão, os pés na pedra furar, comer a dor para o jogo fluir jogo e corpo, corpo é jogo, tudo que se tem E o samba toca, corpo dança tam-(tão)bém jogando e dançando, dançar resistência amanhã que não vem tesoura, chapa, voadora, ca-be-ça-da O tempo ócio, capoeira convém carrinho, cabeceio, bicicleta no ar a simbiose em-pre-ga-da está Trabalhar cedo lavar carro de branco, vender amendoim pau da polícia, baculejo violento experimento ruim E mulher negra? roupa de ganho, doméstica, babá, eis a sina que há Desviantes ganha a rua e aprende a jogar. Duro processo ”brincante”, corpo-negro a dri-blar gingar no mundo, no futebol estrear força, ginga, drible, finta, é o corpo o lugar Brancx vem de outro mundo? privilégio provar Biológico, gene, natureza, assim justificar Nada compreende, como subjetivar? E essx negx danadx, não pode ir muito longe A colonialidade no jogo, o modelo, padrão E qual é a modelagem? Corpo ginga esconde. Poema da autora/pesquisadora (Ineildes Calheiro). SANTOS, Ineildes Calheiro dos. Nem mulheres, nem negrxs, nem queer of colour (QOC) na liderança do futebol brasileiro!: a interseccionalidade no esporte. 215f. 2021. Tese (Doutorado Multiinstitucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2021. RESUMO Esse trabalho, intitulado “Nem mulheres, nem negrxs, nem queer of colour (QOC) na liderança do futebol brasileiro!: a interseccionalidade no esporte”, baseou-se na hipótese de que não há mulheres, pessoas negras e sujeitxs (caracterizadas como) queer/s (LGBTQI) nas funções de mando, liderança, poder, no futebol brasileiro, consistindo esse problema em resistência para tais inclusões e fortalecendo, assim, a desigualdade de gênero, racial e a heterossexualidade como norma neste setor. Como forma de mostrar esses aspectos, observando as influências, motivações e persistências, esse trabalho, de abordagem qualitativa e descritiva, se apoiou na interseccionalidade e interdisciplinaridade e contou com análise documental (relatórios, recortes de jornal e da web), entrevistas, além de revisão de literatura específica.